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Encontro de Panstrongylus megistus em ecótopo artificial: domiciliação ou mera visitação?.

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Academic year: 2017

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A doença de Chagas, primitivamente uma enzootia, passou a constituir-se em problema de saúde humana, a partir da domiciliação dos vetores. A degradação do ambiente natural, com o deslocamento de triatomíneos de seus ecótopos silvestres primitivos, é que determinou a transmissão domiciliar da doença. Além dos determinantes e c o ló gic o s, há aqueles de natureza econômica e social, expressos pelas más condições de habitação. É doença de espaços ab e rto s, naturais o u de c o rre nte s da aç ão antrópica, e é doença produzida pela pobreza. A epidemiologia da doença e as tecnologias disponíveis limitam o controle da transmissão natural à intervenção sobre os vetores, como alternativa prática, ações que evitem o contato do s me smo s c o m o ho me m no amb ie nte domiciliar, de um lado, o grande número de reservatórios silvestres e, de outro, a inexistência de drogas que possam ser usadas em larga escala, bem como a inexistência de imunizantes fazem impossível o controle na perspectiva de esgotamento das fontes de infecção. O ideal seria que houvesse uma melhoria dos padrões de habitação, que dificultasse ao máximo a domiciliação dos vetores.

O programa de controle de doença de Chagas no Brasil instituído, a partir de 1975, teve como prioridade o controle da transmissão primária vetorial e adotou como metodologia, o controle q uímic o do Tr i a to m a i n f e sta n s, o mais importante vetor. Os indicadores entomológicos de uso corrente revelam a virtual eliminação de T. infesta ns, espécie introduzida no país e estritamente domiciliada. Inquéritos sorológicos em grupos etários jovens confirmam o impacto sobre a transmissão. Dados de morbidade, e mesmo de mortalidade, são também fortemente s u g e s tivo s de q u e o c o n tro le ve to ria l determinou importante redução no número de casos e de óbitos atribuídos à doença de Chagas4. Como parte da rotina de operações deste programa em 1983, quando concluídos os levantamentos entomológicos, somente cinco espécies se julgava importantes na transmissão ao ho me m (T. i n f e sta n s, P. m e gi stu s, T. bra siliensis, T. pseudoma cula ta e T. sordida).

No Estado de São Paulo, a Superintendência de Controle de Endemias (SUCEN) considera que a transmissão da doença de Chagas pelo T. infesta ns(principal vetor da doença) tenha sido interrompida no início da década de 70. Se houve uma tra n sm issã o r e sid u a l, em níveis muito baixos, além desse período, ela deve ter ocorrido numa área restrita do Estado, que engloba municípios da região de Sorocaba. Os levantamentos sorológicos de prevalência de infecção humana realizados no Estado indicam que a doença de Chagas cessou antes de 19745.

Fato preocupante é o de que, nas áreas limpa sde T. infesta ns, podem permanecer as

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ENCONTRO DE

PANSTRONGYLUS MEGISTUS

EM

ECÓTOPO ARTIFICIAL: DOMICILIAÇÃO

OU MERA VISITAÇÃO?

Carlos Nascimento, Ana M. Marassá, Izilda Curado e Rox ane M.F. Piazza

No comba te à doença de Cha ga s no Bra sil, foi utiliza do como primeira medida o controle químico, erra dica ndo o Triatoma infestans, o ma is importa nte vetor, ta l comba te vem fa vorecendo o a pa recimento de vetores secundá rios, como Triatoma sordidaa nd Panstrongylus megistus, espécies que podem eventua lmente ser encontra da s no domicílio, como os tria tomíneos provenientes de Berna rdino de Ca mpos e Sete Ba rra s por nós exa mina dos que fora m encontra dos no domicílio e positivos pa ra o T. cruzi, sugerindo que, a pesa r da doença de Cha ga s esta r controla da no Esta do de Sã o Pa ulo, existe a necessida de de a primora r os conhecimentos sobre o comporta mento destes vetores pa ra que muda nça s na s medida s de controle seja m introduzida s.

Pa la vra s-cha ves: P. megistus. Domicilia çã o. Trypanosoma cruzi.

Laboratório de Imunoparasitologia e Laboratório de Entomologia, Instituto Butantan, São Paulo, SP, Brasil. Trabalho financiado pela Fundação Butantan.

Endereço pa ra correspondência : Drª Roxane M.F. Piazza. Laboratório de Imunoparasitologia/Instituto Butantan, Av. Vital Brazil 1500, 05503-900 São Paulo, SP, Brasil. Fax: (011) 815-1505. E. mail: roxane@usp.br. Recebido para publicação em 18/06/96.

Revista da Socieda de Bra sileira de Medicina Tropica l 30(4):333-336, jul-a go, 1997.

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Comunica çã o. Na scimento C, Ma ra ssá AM, Cura do I, Pia zza RMF. Encontro de Panstrongylus megistusem ecótopo a rtificia l: domicilia çã o ou mera visita çã o? Revista da Socieda de Bra sileira de Medicina Tropica l 30:333-336, jul-a go, 1997.

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espécies de T. sordida e P. megistus, que não apresentam a mesma suscetibilidade da primeira aos inseticidas normalmente usados no controle, podendo-se manter apenas níveis de infestação teoricamente incompatíveis com a transmissão. Esta situação tem sido motivo de preocupação por parte da SUCEN, diante da perspectiva de que o va z io e c o ló gic o determinado pela eliminação do T. infesta ns fosse ocupado por esses vetores6.

As informações acima descritas e o afluxo de indíviduos ao Laboratório de Entomologia do Instituto Butantan, trazendo exemplares de triatomíneos encontrados em seus domicílios em diferentes regiões do Estado de São Paulo e Minas Gerais para identificação, levaram-nos à presente comunicação, pois, nossos dados parecem corroborar os de Wanderley6 sobre do mic iliaç ão de ve to re s se c undário s. O s

exemplares foram identificados no período de 1991 a 1996 como P. megistus(52 exemplares), P. geniculatus (2 exemplares), T. sordida (4 exemplares), T. tibia ma cula ta (11 exemplares), Rh o d n iu s d o m e stic u s (3 exemplares) e T. vitticeps (1 exemplar). Após a identificação, todos aqueles que chegaram vivos foram investigados quanto à presença de formas flageladas nas fezes e urina.

Em o utubro de 1995 fo ram trazido s 14 exemplares de triatomíneos, adultos machos e fêmeas e ninfas, provenientes do município de Bernardino de Campos, distante cerca de 350km da capital e em abril de 1991 um exemplar desse mesmo inseto proveniente do município de Sete Barras, distante cerca de 230km da capital do Estado de São Paulo (Figura 1). Estes insetos foram coletados pelos proprietários das casas em que foram encontrados, sendo

Figura 1 - Ma pa do Esta do de Sã o Pa ulo indica ndo a s á rea s onde fora m encontra dos os tria tomíneos exa mina dos. Berna rdino de Ca mpos e Sete Ba rra s.

Bernardino de Campos

Grande São Paulo

Sete Barras

que o morador de B ernardino de Campos referiu-se à existência de um ninho de gambá n o te to da mo ra dia . To do s e le s fo ra m identificados como pertencentes à espécie Pa nstrongylus megistus.

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Comunica çã o. Na scimento C, Ma ra ssá AM, Cura do I, Pia zza RMF. Encontro de Panstrongylus megistusem ecótopo a rtificia l: domicilia çã o ou mera visita çã o? Revista da Socieda de Bra sileira de Medicina Tropica l 30:333-336, jul-a go, 1997.

335 O m a te ri a l o b ti d o p o r c o m p re s s ã o

abdominal, foi inoculado intraperitonealmente em camundongos Balb/C machos, com idade entre 4 e 6 semanas. A avaliação da evolução da parasitemia foi realizada 3 vezes por semana, utilizando-se o método descrito por Brener1. A análise microscópica das lâminas com sangue de camundongos inoculados com cada um dos isolados de Bernardino de Campos foi negativa para presença de parasitas em 3 experimentos independentes. Após 30 dias sem aparecimento de parasitas no sangue circulante dos camundongos, foi feita punção cardíaca em cada um deles. O sangue obtido

foi diluído em citrato de sódio 3,8%, sendo imediatamente semeado em meio LIT (liver infusion tryptose)2, onde após alguns dias foram encontradas formas tripomastigotas e epimastigotas morfologicamente iguais ao T. cruzi. Estes dados sugerem que tais isolados desenvolvem parasitemia sub-patente em camundongos.

Po r o utro lado , a ce pa de Se te B arras, apresenta um período pré-patente de 12 dias, c o m mo rta lida de de 1 0 0 % do s a n ima is inoculados e alta virulência (Figura 2). Tais dados mostram a importância do conhecimento

40

30

20

10

0

0 5 10 15 20 25 Dias de infecção

Figura 2 - Curva de pa ra sitemia obtida com 5 ca mundongos Ba lb/C ma chos inocula dos com 5000 forma s tripoma stigota s sa nguínea s da cepa Sete Ba rra s. Media na de 4 experimentos independentes.

dos vetores bem como das cepas de T. cruzi que estes albergam.O P. megistus, espécie que identificamos, poderia ser considerada hoje a mais importante espécie vetora da doença de Ch a ga s n o B ra sil, de vido à sua a mp la distribuição geográfica. Depois de T. infesta ns, esta é a espécie com maior capacidade de domiciliação. É um triatomíneo que apresenta diferentes comportamentos ecológicos nas regiões nordeste e sudeste do país. Essa espécie n ã o é fá c il de c o n tro la r p o r p ro gra ma s convencionais de aplicação de inseticidas. No controle de espécies que se colonizam no peri-domicílio, deve ser esperada menor resposta às ações de inseticidas, na medida em que este

ambiente propicia uma degradação mais rápida do produto, diminuindo o seu poder residual. Neste contexto a vigilância deve ser permanente, programando e estimulando a ação participativa d a p o p u l a ç ã o n a d e n ú n c i a d e f o c o s intradomiciliares6.

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Comunica çã o. Na scimento C, Ma ra ssá AM, Cura do I, Pia zza RMF. Encontro de Panstrongylus megistusem ecótopo a rtificia l: domicilia çã o ou mera visita çã o? Revista da Socieda de Bra sileira de Medicina Tropica l 30:333-336, jul-a go, 1997.

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freqüência por várias localidades do Estado. Além disto, verificamos que os camundongos in o c ula do s c o m a c e p a de Se te B a rra s, apresentaram paralisia do trem posterior bem como mortalidade de 100% destes animais. Desta forma, tais insetos, além de provavelmente estarem domiciliados, ainda foram capazes de albergar uma cepa classificada como de alta virulência como definido por Schlemper e cols3.

Assim sendo, apesar da doença de Chagas estar controlada no Estado de São Paulo, nossos dado s ale rtam para a ne c e ssidade de que sejam envidados esforços para que se obtenha um melhor conhecimento do comportamento dos vetores. Para tanto, é necessário reconhecer que o controle não pode ser reduzido ao combate químico, a fim de que possíveis mudanças que contribuam para o aperfeiçoamento do mesmo, possam ser incorporadas.

SUMMARY

As a first mea sure of Cha ga s' disea se control in Bra zil with chem ica l elim ina tion of the m ost importa nt vector of the disea se, Triatoma infestans

wa s r e m o ve d . Atte n tio n is n o w b e in g pa id to

Triatoma sordidaa nd Panstrongylus megistus. Tha t species ca n eventua ly be found inside houses, a s ha ppened with the specimens we exa mined from Berna rdino de Ca mpos a nd Sete Ba rra s, a ll of them infected by Trypanosoma cruzi. These da ta suggest tha t a better knowledge a bout the beha vior tha t species is needed to introduce cha nges in the control mea sures .

Ke y- w o r d s: Ch a g a s' d i se a se . P. me gistus

domiciled. Trypanosoma cruzi.

AGRADECIMENTOS

À Profª. Drª Judith K. Kloetzel pelas sugestões, críticas e revisão deste manuscrito e ao Manoel Machado da Cunha Neto pela arte gráfica.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

1. Brener Z. Contribuição ao estudo da terapêutica experimental da doença de Chagas. Tese de livre-docência, Universidade Federal de Minas Gerais, Minas Gerais, MG, 1961.

2. Camargo EP. Growth and differentiation in

Trypa n o so m a c ru z i: I. Origin of metac yc lic tr yp an o so me s in liq uid me dia. Re vista do Instituto de Medicina Tropical de São Paulo 6:93-100, 1964.

3. Schlemper Jr BR, Ávila CM, Coura JR, Brener Z. Cause of infection and histopathological lesions in mice infected with seventeen T. cruzistrains iso late d fro m c h ro nic p atie nts. Re vista da Sociedade Brasileira de Medicina Tropical 16:23-30, 1983.

4. Silveira AC, Rezende DF. Epidemiologia e controle da transmissão vetorial da doença de Chagas no Brasil. Revista da Sociedade Brasileira de Medicina Tropical 27 (supl III):11-22, 1994.

5. Wanderley DMV. Controle de Tria toma infesta ns

no Estado de São Paulo. Revista da Soc iedade Brasileira de Medicina Tropical 26 (supl III):17-25, 1993.

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