• Nenhum resultado encontrado

Assistência médica e cidadania: ações integradas de saúde como política de universalização dos serviços de saúde

N/A
N/A
Protected

Academic year: 2017

Share "Assistência médica e cidadania: ações integradas de saúde como política de universalização dos serviços de saúde"

Copied!
131
0
0

Texto

(1)

/S

R55J5TÊI'JCIR IVIEDICR E

CIDRDRIlJIR-RCÕES INTEGRRDR5 DE SRÚDE

ONMLKJIHGFEDCBA

C O M D

POLíTICR DE

UNIVERSRLIZRCRD

D O S

SERVICOS DE SRÚDE

fedcbaZYXWVUTSRQPONMLKJIHGFEDCBA

'" \ /

/

L U IZ F E R N A N D O N IC Z

(2)

1198701064 .fedcbaZYXWVUTSRQPONMLKJIHGFEDCBA

I 11111111111111111111111111111111"'1/111

..•.hgfedcbaZYXWVUTSRQPONMLKJIHGFEDCBA_- ..

,..zyxwvutsrqponmlkjihgfedcbaZYXWVUTSRQPONMLKJIHGFEDCBA

ESCOLA DE ADMINISTRAÇAO DE EMPRESAS DE SAO PAULO

DA

FUNDAÇAO GETOLIO VARGAS

\ ,

LUIZ FERNANDO NICZ

ASSISTENCIA MEDICA E CIDADANIA - AÇOES INTEGRADAS DE SAODE COMO

POLITICA DE UNIVERSALIZAÇAO DOS SERVIÇOS DE SAODE

,

i ,.

-.ONMLKJIHGFEDCBA F u n d a ç ã o G e t u lio V a r g a s , E & c o la d e A d m in is t r a ç ã o

.,GV d e E m p m s a s d e !!S iloP " U lo ~ B ib lio t e c a

J ,

Dissertação apresentada ao Curso';

~e P6s-Graduação da EAESP/PGV

como requisito para a obtenção

do título de mestre em Administração;

Area de Concentração~ Hospitais

e Sistemas de Sa~de.

Orientador: Prof~Lupercio de SouzaCort~z Junior

,

SAO PAULO

(3)

I

s c o la d e A d m ir::~ tra ç ã OONMLKJIHGFEDCBAd e

;5E m p re s a s d o _ a o P a u lohgfedcbaZYXWVUTSRQPONMLKJIHGFEDCBA

'- - ': ; : I ; ; .-I· ... 0 a s ( ; h a m a d i 6 ) 4 . . 2

0 3 . 0 " 1 - ( 81)

_.. -~ -~ --- .. NC JO O \ .,

N .o V o lu m e

R e g istra d o p o r

J O b '- { f ? r ~

3 2 : 6 P :./6 lL j ( ~ » )

0 '- 1 . 2 : ~ ~ ) . 8~ 6 ( 8 J )

(4)

, ! l' - ,hgfedcbaZYXWVUTSRQPONMLKJIHGFEDCBA

~ o , ~ o 'o o '

-o 0 .

0 ti!zyxwvutsrqponmlkjihgfedcbaZYXWVUTSRQPONMLKJIHGFEDCBA

ASSIST~NCIAZYXWVUTSRQPONMLKJIHGFEDCBAMEDICA E CIDADANIA

-AÇOES INTEGRADAS DE SA~DE COMO POLITICA DE

UNIVERSALIZAÇAO DOS SERVIÇOS DE SA~DE

Banca examinadora

Prof.Orientador

---Prof.

(5)

- 1 1 1 -zyxwvutsrqponmlkjihgfedcbaZYXWVUTSRQPONMLKJIHGFEDCBA

NICZ, Luiz Fernando. Assistência Médica e Cidadania - Ações Integr~

das de SaGde como pOlítica de universalização dos serviços de saQ

de. São Paulo, EAESP/FGV, 1985. 120 p. (Dissertação de Mestrado

apresentada ao Curso de Pós-Graduação da EAESP/FGV, ~rea de

Con-centração: Hospitais e Sistemas de SaGde).

RES~MO: Conceitua saGde como direito de cidadania. Identifica as

!

~

Ações Integradas de SaGde (AIS) como política de saGde que visa

atender tal conceituação. Analisa a evolução histórica das

políti-cas de saGde da Previdência Social. Analisa os planos de saGde

for-mulados pelo Ministério da SaGde. Estabelece as características

principais de tais políticas e planos, e confronta-os com as polítl

cas de saGde do Governo da Nova RepGblica. Conceitua Ações

Integra-das de SaGde (AIS),analisa suas diretrizes, identifica os

obstácu-loshgfedcbaZYXWVUTSRQPONMLKJIHGFEDCBAà sua viabilização, revê a questão do financiamento do setor

saGde. Indica perspectivas das Ações Integradas de Saúde.ZYXWVUTSRQPONMLKJIHGFEDCBA

PALAVRAS CHAVES: Serviços de SaGde - Cidadania - Políticas de

SaG-de - Assistência Médica Previdenciária - Planos de Saúde - Ações

Integradas de SaGde - Universalização - Diretrizes - Perspectivas

-Financiamento - Setor Social - Setor SaGde - Prática

Institucional-Discurso Oficial - Proposta Conservadora - Proposta Modernizant~Pri

vativista - Proposta Racionalizadora - Questões Político-Institucio

(6)

àzyxwvutsrqponmlkjihgfedcbaZYXWVUTSRQPONMLKJIHGFEDCBAminha esposa Edith, pela

compreensão, aos nossos filhos

Fernanda, Rodrigo Otávio e

Pedro Felipe,pelo estímulo que

(7)

A Carlos Gentile de Mello, me~

tre que descobrihgfedcbaZYXWVUTSRQPONMLKJIHGFEDCBAà distância

através de seus textos simples

e didáticos, quando ainda me

iniciava nos caminhos da

Admi-nistração de Saúde, depois am!

go e companheiro mais velho de

jornada, meu p te ito de saudade!fedcbaZYXWVUTSRQPONMLKJIHGFEDCBA

/ ' {

/ I

(8)

- VI -ZYXWVUTSRQPONMLKJIHGFEDCBA

AGRADECIMENTOS

Agradeço a todos os que me incentivaram na realização do

Curso de Mestrado e na elaboração desta dissertação.

Quer tenha sido principalmente antes, como o meu amigo e

conterrâneo Haino Burmester, velho companheiro de Faculdade.

Quer tenha sido principalmente durante, como meus colegas,

meus professores e pessoal administrativo do PROAHSA.

Quer tenha sido principalmente agora, na fase de

elabora-ção e conclusão da dissertação, como o meu amigo e orientador Prof.

Lupercio de Souza Cortez Junior.

Agradeço, de forma especial, o capricho, a paciência e a

dedicação da Soeli do Rocio Daguetti na datilografia destas

pági-nas.fedcbaZYXWVUTSRQPONMLKJIHGFEDCBA

(9)

- VII -ZYXWVUTSRQPONMLKJIHGFEDCBA

lNDICE

Página

AGRADECIMENTOS VI

INTRODUÇAO 01

CAP!TULO I - SAGDE: DIREITO DO CIDADAO 03

CAP!TULOfedcbaZYXWVUTSRQPONMLKJIHGFEDCBA1 1 - AS POL!TICAS DE SAGDE DA PREVIDENCIA SOCIAL 09

1. EVOLUÇAO HISTORICA DA ASSISTENCIA MEDICA

PREVIDENCIARIA BRASILEIRA

2. PREVIDENCIA SOCIAL: A DETERMINAÇAO DE SUAS

POL!TICAS DE SAGDE

O PESSOAL OAS EQUIPES DE SAGDE

O PESSOAL MEDICO EXTERNO A PREVI

DENCIA SOCIAL

A TECNOBUROCRACIA MEDICA PREVIDEN

crARIA

2.2 AS EMPRESAS DE PRESTAÇAO DE SERVI

2.1 2.1.1 2.1. 2 2.2.1 2.2.1.1 "

ÇOS DE SAGDE

AS EMPRESAS HOSPITALARES

EVOLUÇAO HISTORICA DAS EMPRESAS

HOSPITALARES

2.2.1.2 O SURGIMENTO DA FBH

2.2.1.3 CONSOLIDAÇAO 00 PODER DAS EMPRESAS

HOSP.JTALARES

2.2.2 AS EMPRESAS DE PRE-PAGAMENTO

10 23 24 25hgfedcbaZYXWVUTSRQPONMLKJIHGFEDCBA 2 6 29 31 32 34 3 6 39 3. CARACTERtSTICAS ATUAIS DOS SERVIÇOS MEDICOS

DA PREVIDENCIA SOCIAL 43

3.1 OS SERVIÇOS PROPRIOS 43

3.2 OS SERVIÇOS CONTRATADOS (CREDENCIADOS)49

(10)

l

zyxwvutsrqponmlkjihgfedcbaZYXWVUTSRQPONMLKJIHGFEDCBA 3.3.1 3.3.2 ~3~3~3 .3.3.4 3.3.5 3.3.6

- VIII -ZYXWVUTSRQPONMLKJIHGFEDCBA

Página

AS EMPRESAS DE MEDICINA DE

GRUPO CONVENIAD~S

AS COOPERATIVAS M~DICAS

CONVE-NIADAS

53

56

OS SINDICATOS URBANOS CONVENIADOS 56

ORGAOS GOVERNAMENTAIS CONVENIADOS 57

HOSPITAIS DE ENSINO CONVENIADOS 58

CONvENIOS RURAIS 58

CAPITULO 111 - AS POLITICAS DE SA~DE DO MINIST~RIO DA SA~DE 60

1. O PLANO SALTE 60

2. O PLANO DE ASSISTENCIA MEDICA AOS

MUNICI-PIOS

3. O PLANO NACIONAL DE SA~DE

4. O PIASS

5. O PREV-SA~DE

61

62

63

65

CAPITULO IV - REFLEXOES SOBRE AS POLITICAS DE SA~DE

1. AS POLITICAS SOCIAIS (E AS DE SA~DE) NOS

PLANOS DE DESENVOLVIMENTO 68

2. ANALISE DAS POLITICAS E PLANOS DE SA~DE 73 67

2.1 AS CARACTERISTICAS DOS PLANOS DE

SA~DE 73

2.2 O PLANO DE SA~DE "IDEAL" 75

2.3 AIS E O PLANO "IDEAL" DE SA~DE 76

CAPITULO V - AÇOES INTEGRADAS DE SA~DE: POLITICA DE SA~DE

DO GOVERNO DA NOVA REP~BLICA 79

1. A HISTORIA RECENTE DA INTEGRAÇAO DAS

AÇOES DE SA~DE 79

2. AS PRiNCIPAIS DIRETRIZES DAS AÇOES INTEGRA

(11)

l

zyxwvutsrqponmlkjihgfedcbaZYXWVUTSRQPONMLKJIHGFEDCBA

- IX -ZYXWVUTSRQPONMLKJIHGFEDCBA

Página

3. AS PRINCIPAIS DIFICULDADES A VIABILIZA

ÇAO DAS AÇOES INTEGRADAS DE SA~DE

4. AÇOES INTEGRADAS DE SA~DE E A QUESTAO

DO FINANCIAMENTO DOS SERVIÇOS DE SA~DE 89

86

5. PERSPECTIVAS DAS AÇOES INTEGRADAS DE

SA~DE COMO POLITICA DE UNIVERSALIZAÇAO

DOS SERVIÇOS DE SA~DE 97

99 5.1 A PROPOSTA CONSERVADORA

5.2 A PROPOSTA MODERNIZANTE/PRIVATI

VISTA 102

5.3 AIS COMO PROPOSTA RACIONALIZADORA 104

CAPITULO VI - COMENJARIOS:FINQIS 107hgfedcbaZYXWVUTSRQPONMLKJIHGFEDCBA

L AIS: O AMBIENTE EM QUE SE DESENVOLVEM 107

2. AIS: AS QUESTOES POLITICO-INSTITUCIONAIS 110

3. AIS: AS QUESTOES ORGANIZACIONAIS 110

4. AIS: AS QUESTOES T~CNICO-OPERACIONAIS 111

5. AIS: CONCLUSOES FINAIS 112

TABELA 1

TABELA 2

TABELA 3

TABELA 4

TABELAS

- ASSISTENCIA M~DICA NA PREVIDENCIA SOCIAL

(CLIENTELA URBANA) - BRASIL - 1984

- ASSISTENCIA M~DICA NA PREVIDENCIA SOCIAL

(CLIENTELA URBANA) - ESTADO DE SAO PAULO-1984 45 44

- ASSISTENCIA M~DICA NA PREVIDENCIA SOCIAL

(CLIENTELA URBANA) - EVOLUÇAO HISTORICA

-BRASIL - 1974/1984

- ORÇAMENTOS COMPARADOS: INAMPS e MINIST~RIO DA

SA~DE - S~RIE HISTORICA - BRASIL - 1979/83 92

(12)

GRAFICOSzyxwvutsrqponmlkjihgfedcbaZYXWVUTSRQPONMLKJIHGFEDCBA

- ASSISTENCIA MEDICA NA PREVIDENCIA SOCIAL

(CLIENTELA URBANA) - EVOLUÇAO HISTORICA

BRASIL - 1980 a 1984 - CONSULTAS MEDICAS

EM PROPRIOS, CONTRATADOS, CONVENIADOS

- ASSISTENCIA MEDICA NA PREVIDENCIA SOCIAL

(CLIENTELA URBANA) - EVOLUÇAO HISTORICA

BRASIL - 1980 a 1984 - INTERNAÇOES HOSPITALARES

EM PROPRIOS, CONTRATADOS, CONVENIADOS 48

GR~FICO 111 - EVOLUÇAO HISTORICA DAS DESPESAS COM BENEF!CIOS TABELA 5

TABELA 6

GR~FICO I

GR~FICO 11

.~..fedcbaZYXWVUTSRQPONMLKJIHGFEDCBA

- X

-Página

- DEMONSTRATIVO DA DESPESA PER CAPITA NA

ASSISTENCIA MEDICA E SANIT~RIA DO

INAMPS-1984

- PERCENTUAIS DE DESPESA DE ASSISTENCIA MEDICA

E SANIT~RIA 00 INAMPS - 1981-84

93

100

47

E COM ASSISTENCIA MEDICA DA PREVIDENCIA

(13)

INTRODUÇAOzyxwvutsrqponmlkjihgfedcbaZYXWVUTSRQPONMLKJIHGFEDCBA

o

setor saGde no Brasil, como parte do setor social, tem

sofrido os impactos do tipo de desenvolvimento econômico e

políti-co do País.

vários analistas, através de livros, ou publicações em r~

vistas especializadas, ou mesmo como produto de dissertação de Mes

trado ou teses de Doutoramento, têm enfocado o desenvolvimento his

tórico do setor saúde em nosso País, sob um ponto-de-vista crítico.

Com este material como pano de fundo, procuro analisar as

políticas atuais de saGde, que tentam colocar em prática o que até

aqui vinha sempre colocado como proposta, e vislumbrar suas

pectivas frente ao ambiente político e momento histórico em

são formuladas.

per~

que

Esta dissertação, assim, constitui-se em "dissertação de

análise teórica, tipo I", conforme classificação da 'Coordenadoria

do CMA/EAESP/FGV, que a define como: "simples organização coerente

de idéias, originadas de bibliografia de alto nível, em torno de

um tema específico".

No desenvolvimento da mesma, procuro mostrar, no Capítulo

I, as relações entre assistência médica e cidadania, e conceituar

o acesso a serviços de saGde como direito de cidadania.

No Capítulo 11, analiso a evolução histórica das

políti-cas de saGde da Previdência Social, explícitas ou não como tal,ofi

cialmente.

No Capítulo 111, 'analiso as políticas de saGde

originá-rias da instituiçãohgfedcbaZYXWVUTSRQPONMLKJIHGFEDCBAà qual ,legalmente, compete a formulação de

(14)

2

-No Capítulo IV, faço uma reflexão crítica sobre as polítl

cas e planos de saúde analisados nos dois Capítulos anteriores,bu~

cando uma tipologiaEDCBAideal para um plano de saúde, e verifico se

as pOlíticas atuais, as Ações Integradas de Saúde (AIS),

encaixam-se em tal tipologia.

No Capitulo V, analiso especificamente as AIS como politl

ca de universalização dos serviços de saúde, verificando quais suas

principais diretrizes, quais os principais obstáculoshgfedcbaZYXWVUTSRQPONMLKJIHGFEDCBAà sua

viabi-lização.

No Capitulo VI, que encerra esta dissertação, apresentoas

conclusões sobre as perspectivas das AIS, ou seja,sobre as perspe~

tivas de universalização dos serviços de saúde, em atendimento à

(15)

- 3 -ZYXWVUTSRQPONMLKJIHGFEDCBA

CAP1TULO I

SAODE: DIREITO DO CIDADAOzyxwvutsrqponmlkjihgfedcbaZYXWVUTSRQPONMLKJIHGFEDCBA

o

período pOlítico que ora atravessamos no Brasil, o da

redemocratização do País, reforça a discussão de questôes cruciais

que aguardam respostas apropriadas à presente fase histórica de

nosso desenvolvimento.

Entre estas questôes, o acesso a serviços de saGde (1) co

mo direito de todo e qualquer cidadão, e a garantia de tal acesso

como dever do Estado, emerge como uma das mais importantes a serem

incluídas na nova Constituição e garantidas pelas políticas

so-ciais (2) do Governo da Nova RepGblica.

Pois, em que pese a inclusão do direito à saGde como um

dos direitos fundamentais previstos na Declaração Universal dos Di

reitos do Homem, aprovada pela maioria dos países no período

pós-guerra imediato, em 1948, e da qual o Brasil é signatário,aqui tal direito ainda não está estendido a toda a população, não se consti

tui em "direito de cidadania".

(1) Usarei o termo Serviços de SaGde como conceituado por:

SINGER, Paul

&

CAMPOS, Oswaldo

&

OLIVEIRA, Elizabeth M. de. Prevenir e Curar: o controle através dos serviços de saGde . Rio de Janeiro, Forense-Universitária, 1.981. 166 p.

"Consideramos Serviços de SaGde os que tratam do exercíciole gitimado da medicina, da odontologia e outras atividades cu= jo fim explícito é preservar ou restaurar a saGde da

popula-ção. Não estão compreendidas nesta categoria: a) a 'medicina popular' (não-legitimada); b) a indGstria produtora de 'bens de sa~de', como a farmacêutica, de equipamento hospitalar;c) atividades que, embora ·influam fortemente sobre a situaçãode sa~de da população, como por exemplo os serviços de saneamen

to, não fazem parte dos Serv iças de saúce p rop riamente ditos".fedcbaZYXWVUTSRQPONMLKJIHGFEDCBA

p • 9 .

(2) Ver relação das políticas SOCIaIS, em especial as previdenciá-rias, com os direitos de cidadania em:

(16)

4

-Está certo que evoluímos bastante, desde a promulgação da

primeira lei previdenciária, em 1923, no sentido de dar cobertura,

através de serviços médicos, a parcelas crescentes da população,em

especialhgfedcbaZYXWVUTSRQPONMLKJIHGFEDCBAà crescente população urbana. Está certo também que a

as-sistência médica previdenciária; ao ser prestada sem guardar

pro-porção com o valor da contribuição, tende a agir no sentido de pr~

mover a equidade (diferente dos benefícios previdenciários, que

guardam estreita correspondência com o valor da contribuição). Há

certas evidências, no entanto, de que o consumo de serviços médicos

previdenciários tem características de regressividade (3), ou

se-ja, consome mais serviços médicos previdenciários,especialmente os

mais caros, quem tem melhores condições econômicas. O que contraria

a noção de equidade.

Estou entendendo aqui o conceito de equidade tanto como

"o ideal de reduzir ou extinguir desequilíbrios sociais" (4), por

parte do Estado, quanto, genericamente, a igual oportunidade de

obter bens e serviços (pelo menos os básicos), por parte do

cida-dão (5).

A equidade é o objetivo principal das pOlíticas sociais

constituindo estas, "em sociedades como a nossa ... tentativa de

minimizar na esfera da distribuição, problemas que são originados

na esfera da produção. Fosse o sistema produtivo organizado em ou

(3) A discussão sobre regressividade do financiamento do setor Sa~ de é encontrada em:

VIEIRA, César. Apontamentos para a análise do financiamento das políticas nacionais de saude. Brasília, mimeo, agosto de 1984. 39 p.

(4) SANTOS; W.G. Cidadania e Justiça. p. 16.

(5) Conforme o conceito de equidade implícito na interessante dis-cussão a respeito dos paradigmas "libertário" e "igualitário" na administração de cuidados médicos,em:

DONABEDIAN, Avedis. Aspects of MedicaI Care Administration:

(17)

- 5 -zyxwvutsrqponmlkjihgfedcbaZYXWVUTSRQPONMLKJIHGFEDCBA

tras bases, talvez grande parte dessas políticas sociais perderiam

sua razão de ser" (6).

NO que diz respeito à evolução das políticas sociais, de

que a política previdenciária brasileira é um bom exemplo, "é

usual afirmar-se que, uma vez i~iciada a interferência do Estado

na regulação social, deflagra-se inexorável tendência à expansão

do escopo dessa interferência, ainda que em ordem e ritmos

variá-veis de país a país, levando a uma convergência na produção

esta-tal, mais ou menos uniforme, de uma política de bem-estar, indepe~

dente dos atributos pOlíticos dos diversos países, embora

vincula-da à variação em seus re~pectivos níveis de riqueza" (7).

"Aparentemente, a tendência universal da política de

bem-estar é iniciar com programas relativos a acidentes de trabalho,e~

pandindo-se para a cobertura de velhice, invalidez e dependentes ,

depois, doença e maternidade, alargando-se para abonos familiares

(salário-família e salário-educação, por exemplo) para chegar,

fi-nalmente, ao seguro-desemprego" (8).

Na realidade, no Brasil, o direito à assistência médica

está garantido apenas na Previdência Social, ou seja, apenas aos

cidadãos contribuintes da mesma, inseridos no mercado de trabalho

formal. Desta forma, o indivíduo tem direito à assistência médica

não por ser cidadão, mas por ser um cidadão contribuinte da

Previ-dência Social. Em outras palavras, não se trata do exercício de

um direito de cidadania, mas de direito adquirido pela

contribui-ção financeira mensal e obrigatória para a ~revidência Social.

(6) VIEIRA, C. Apontamentos para a análise do financiamento das po líticas nacionals de saude. p.l.

(7) SANTOS, W.G. Cidadania e Justiça. p.16.fedcbaZYXWVUTSRQPONMLKJIHGFEDCBA

(8 ) . Cidadania e Justiça. p.16 e 17.

(18)

6

-Os cidadãos não contribuintes da Previdência Social, e

sem recursos financeiros, ficam à mercê da caridade do Estado, ou

de entidades filantrópicas e beneficientes.

Tal situação é reforçada pela Constituição vigente, onde

"a proteção da sa~de, apesar de ser indispensável para uma vida

normal e para a própri~ sobrevivência das pessoas, só aparece como

um direito no capItulo referente aos trabalhadores e ainda assim

de modo insuficiente ... não se pode dizer que o direito à proteção

da sa~de esteja assegurado às pessoas na Constituição brasileira (9).

Nestes meses iniciais do Governo da Nova Rep~blica, a un!

versalização dos Serviços de Sa~de, implIcita na frase "sa~de é di

reito do cidadão e dever do Estado" (10),EDCBAvem sendo colocada como

objetivo prioritário da polItica de sa~de, através do reforço à es

tratégia das Ações Integradas de Sa~de (AIS).

Ao mesmo tempo, as discussões preliminares sobre os

pon-tos a serem contemplados na próxima Constituição, no capItulo refe

rente à proteção da sa~de, tem sempre colocado a universalização dos

Serviços de Sa~de como item obrigatório e prioritário.

Apesar de prioritária na polItica de sa~de do Governo da

Nova Rep~blica e nas discussões sobre a Nova Constituição, a

uni-versalização dos Serviços de Sa~de é dificultada na prática, por

alguns fatos concretos:

(9 ) DALLARI, Dalmo de Abreu. O que são direitos da pessoa.S.Paulo, Brasileira, Coleção PrimeIros Passos, nº 49, 5ª ed. ,1985.P. 57 e 58.

(10) Ver a este respeito a transcrição, nos jornais da época (mar-ço de 1985), do discurso de posse do Ministro da Sa~de Deputa do Carlos Santana; ver também documentos de seminários inter~ nos promovidos pelos Ministérios da Sa~de, e Previdência e Assistência Social, sobre Ações Integradas de Sa~de (AIS) no mês de agosto de 1.985.

(19)

7

-- a organização pluralista da assistência médica no Brasil,

mas com forte predomínio da assistência médica previdenciária;

- e, por consequência, a diversidade de fontes de financi!

mento da assistência médica, mas com forte predomInio das contribui

ções para a Previdência Social.

Vemos assim que a simples definição, pelo Governo, da

uni-versalização dos serviços de saúde através das AIS, como o objetivo

maior de sua política de saúde, não constitui garantia

de que o mesmo será alcançado.

suficiente

~, aliás, o qu~ nos ensina a análise dos planos de saúde

oficiais até aqui formulados, como veremos maishgfedcbaZYXWVUTSRQPONMLKJIHGFEDCBAà frente.

Pois, como diz Luz (11):

"Política de Saúde é a forma histórica mais ou menos explí

cita como o Estado conduz o problema das condições de sanidade da

população. Esta condução varia conjunturalmente e comporta um

con-junto de divergências, incoerências e mesmo oposições internas. Des

te ponto-de-vista, qualquer Estado tem uma política de saúde, por

menos explícita em programas que ela seja, e por menor importância

política que tenha a saúde no conjunto dos setores do Estado, isto

é, por menor que seja seu papel na estratégia de hegemonia".

Ou seja, temos que tentar apreender em que ambiente, em

que momento histórico de nosso desenvolvimento, sob a pressão de

que forças e grupos de interesses, tal política está sendo

formula-da.

(20)

8

-o

que nos leva a procurar na evolução histórica de nosso

setor Saúde, o significado das políticas explicitadas ou não como

tal, suas consequências, antes de nos determos em análise mais

es-pecífica das AIS.

Para isso, veremos primeiramente, e com destaque especial,

a evolução da assistência médica previdenciária, quais suas

polí-ticas, e consequentes características de seus serviços nos dias

atuais. Depois, veremos as políticas oficiais de saúde,emanadas do

(21)

- 9 -ZYXWVUTSRQPONMLKJIHGFEDCBA

CAPITULO 11

AS POLITICAS DE SAODE DA PREVIDENCIA SOCIAL (12)

A assistência médica previdenciária hoje é muito forte e

importante no País, domina o setor SaGde e determina suas políti

caso

Os interesses de ordem econômica e política daí

decorren-tes, ao mesmo tempo em que constituem pré-requisito indispensável_hgfedcbaZYXWVUTSRQPONMLKJIHGFEDCBA

à universalização da assistência, objetivo maior da política

ofi-cial do Governo da Nova RepGblica, pode ser considerável obstáculo

na sua viabilização.

Veremos, neste capítulo, como a Previdência Social

assu-miu esta posição hegemônica no setor SaGde, quais os fatores e gr~

pos de pressão determinantes de suas políticas, quais as consequê~

clas no perfil atual de seus serviços.

(12) Este capítulo se baseia em:

(22)

- 10 -ZYXWVUTSRQPONMLKJIHGFEDCBA

1. EVOLUÇAO HISrORICA DA ASSISrENCIA M~DICA PREVIDENCIARIA BRASILEI

RA

Podemos dividir, com alguns autores (13), o histórico da evolução da assistência médica da Previdência Social brasileira em

pelo menos quatro períodos distintos.fedcbaZYXWVUTSRQPONMLKJIHGFEDCBA

a ) 1923 - 1930

Na esteira da agitação social das duas primeiras décadas

deste século e que culminam nas greves gerais de 1917 e 1919, con-sequente às péssimas condições de trabalho do incipiente operariado

urbano, é sancionado o Decreto Legislativo nº 4.682, de 24 de jane!

ro de 1923, a "Lei Eloy Chaves", marco inicial da Previdência So-cial brasileira.

(13) Ver a respeito:hgfedcbaZYXWVUTSRQPONMLKJIHGFEDCBA

~ n ,M 3 r i a Ca::íliaFerro.~1edicina e Sociedade: o médico e seu

mer-cado de trabalho. são Paulo, pioneira, 1975. 174 p.

LUZ, Madel Terezinha. SaGde e instituições médicas no Brasil. In GUIMARAES, Reinaldo: Saude e MedICIna no Brasil: contri-buições para um debate. p.I57-74 .

. As instituições médicas no Brasil: insti -..,-t-ui-ç'""'ã-o-e-e-s..,-t-r-a-rt-.é-gia de hegemonIa. R. de .J a n e Lr o , Graal, 1979.

292 p.

FLEURY TEIXEIRA, Sonia Maria. Complexo Previdenciário de As-tência Médica. Rio de Janeiro, dissertação de Mestrado ao IUPERJ, mimeo, 1979.

POSSAS, Cristina Albuquerque. SaGde e Trabalho - a crise da Previdência Social. Rio de Janeiro, Graal, 1981. 324 p.

BRAGA, José Carlos S.

&

GOES DE PAULA, Sergio. SaGde e Previ-dência - estudos de política social. São Paulo, Cebes-Hucitec,

1981. 224 p .

COHN', Amélia. Prev idência Social e Processo Político no Brasil. São Paulo, Moderna, 1981. 237 p.

(23)

11

-A criação da primeira Caixa de Aposentadoria e Pensões

de-ve ser entendida assim, no contexto das reivindicações operárias do

início do século, como resposta do empresariado e do Estado à

cres-cente importância da questão social. Igual à primeira lei

previden-ciária de que se tem notícia, a 'do período de Bismarck na Alemanha

de 1881, o seguro social é implantado no Brasil como instrumento

neutralizador de tensões políticas e sociais existentes.

"No que diz respei to à assistência médica, a Lei Eloy Chaves

prevê a prestação de serviços médicos aos filiados às Caixas, sem

porém estipular o 'quantum' de recursos que podem ser destinados pa

ra esse fim. Em 1931, esse 'quantum' será fixado em 8% do total de

recursos disponíveis, não podendo ultrapassar esse percentual"(14).

Pelo menos na Legislação, a assistência médica é igualada

aos demais benefícios, os quais são referidos na seguinte ordem: as

sistência médica, inclusive aos familiares, medicamentos a preços

especiais, aposentadoria, pensão.

Em 1930, o sistema já abrange 47 Caixas, com 142.464

segu-rados ativos, 8.006 aposentados a 7.013 pensionistas (15).

b) 1930 - 1966

A Revolução de 1930, que coloca Getúlio Vargas no poder,

representa uma modificação nos setores de sustentação do Governo. AEDCBA

(14) COHN, A. Previdência Social e Processo Político no Brasil.p.6.

(24)

12

-crescente' massa assalariada urbana passa a se constituir no ponto

de sustentação política do novo Governo, através de um regime

cor-porativista. Já em 1930 é criado o Ministério do Trabalho,

Indús-tria e Comércio, para atuar como "instrumento de tratamento da

questão social" (16).

"O conjunto de reformas e alterações no aparelho de Estado,

a legislação trabalhista elaborada nos anos 30 e reforçada no

Estado Novo contemplou desde logo a feitura de um aparelho de

ser-viços centralmente controlado e pretendendo estender ao conjunto

dos assalariados urbanos os benefícios da previdência. Os IAP's,a~

sim, cumprem esta nOva função, não sendo um produto da evolução das

Caixas, cuja estrutura, aliás, nem é de imediato desmontada.

Diferentes da estrutura e funcionamento das CAP's os IAP's

apresentam ( ... ) características próprias" (17).

Em 1933 é criado o primeiro Instituto, o de Aposentadoria

e Pensões dos Marítimos (IAPM), em 1934 o dos Comerciários (IAPC)e

dos Bancários (IAPB), em 1936 o dos lndustriários (IAPI),

instala-do somente em 1938 após instala-dois anos de organização por Comissão para

tal especialmente designada, e em 1938 o dos Estivadores e

Trans-portadores de Cargas (IAPETEC).

Além de servir como importante mecanismo de controle

so-cial, os IAP's têm, até meados da década de 50, papel fundamental

no desenvol~imento econômico deste período, como "instrumento de

(16) POSSAS, C.A. Saúde e Trabalho - a crise da Previdência Social. p.200.

(25)

13

-captação de poupança forçada" (18),através de seu regime de capitalização.

As seguintes crises financeiras dos IAP's, e mesmo o surgi

menta de outros mecanismos captadores de investimentos

(principal-mente externos), fazem com que progressivamente a Previdência

So-cial passe a ter importância muito maior como instrumento de ação

politico-eleitoreira nos Governos populistas de 1950-64,

especial-mente pela sua vinculação clara ao Partido Trabalhista Brasileiro

(PT8).hgfedcbaZYXWVUTSRQPONMLKJIHGFEDCBAE a fase áurea do "peleguismo" s~ndical.

Até o final dos anos 50, a assistência médica

previdenciá-ria não é importante. Os técnicos do setor a consideram secundária

no sistema previdenciário brasileiro, os segurados não fazem dela

parte importante de suas reivindicações.fedcbaZYXWVUTSRQPONMLKJIHGFEDCBA

E a partir principalmente da segunda metade da década de

50, que o maior desenvolvimento industrial, com consequente

acele-ração da urbanização, e assalariamento de parcelas crescentes da

população, gera maior pressão para assistência médica via

Institu-tos, e viabiliza o crescimento de um complexo médico hospitalar p~

ra prestar atendimento aos previdenciários, respaldado em normas

que privilegiam abertamente a contratação de serviços de terceiros

e, posteriormente, o repasse de recursos às Empresas, como veremos

mais à frente (19).

(18) COHN, A. Prev idência Social e Processo politico no Brasil. p. 116. (19) A respeito da privatização da assistência médica

previdenciá-ria, sob um ponto-de-vista critico, ver especialmente os tra-balhos e artigos de Carlos GENTILE DE MELLO reunidos em seus livros:

--~~---'~--~~~r--.

Saúde e Assistência Médica no Brasil.São Paulo, Cebes-Hucitec, 1977. 273 p.

O Sistema de Saúde em Crise.São Paulo, Cebes-Hucitec, 1981 .

. A Medicina e a realidade brasileira

(26)

14

-Não se deve negligenciar o importante papel desempenhado

no final d~sse período pela Assóciação Médica Brasileira (AMB),que

por várias vezes interfere na defesa dos princípios liberais da

profissão, posicionando-se desta forma favoravelmentehgfedcbaZYXWVUTSRQPONMLKJIHGFEDCBAà compra de

serviços de terceiros pela Previdência Social.

Em 1949, as despesas com assistência médica representam

apenas 7,3% do total geral das despesas da Previdência Social, em

1960 já sobem para 19,3%, e em 1966 já atingem 24,7% do total

ge-ral das despesas (20), confirmando a importância crescente da

as-sistência médica previdenciária.

Para Braga e Goes de Paula, "nos dez anos que vão de 1956

a 1966, este setor já se configura na forma que hoje se aprese~

ta (... )" (2l).

o

Movimento Militar de 1964, ao intervir nos IAP's, abre

caminho para a unificação dos mesmos, há muito reclamada pelos té~

nicos do setor, e sempre rejeitada pelos segurados e pelos

políti-cos que davam sustentação aos Governos populistas.

"1964 vai representar um corte no quadro político mais g~

ral do País, com intensos reflexos sobre a Previdência. O regime

que então se instala entre nós, com sua natureza autoritária, vai

mostrar-se menos preocupado do que anteriormente com as funções p~

líticas de cooptação e de legitimação que a Previdência exerce. A

representaç~o dos segurados é diminuída e depois eliminada, dando

(20) B~AGA, J.C.S. & GOES DE PAULA, S. Saúde e Previdência - estu-dos da pOlítica social. p. 71 e 72.

(27)

- 15 -hgfedcbaZYXWVUTSRQPONMLKJIHGFEDCBA

à gestão previdenciária um caráter mais 'tecnocrático'. E,além di~

so, os mecanismos menos diretos de pressão por parte dos segurados

(Parlamento, Sindicato, Imprensa, etcJ passarão a ter uma eficácia

muito menor como porta-vozes dos interesses dos trabalhadores,

da-do o contexto repressivo geral do periodo em questão.

Como contrapartida dessa diminuição da influência dos

se-gurados sobre os rumos da Previdência Social, vai crescer a

in-fluência de interesses junto aos órgãos de direção das instituições

previdenciárias, por parte basicamente de três grupos:

1) proprietários de hospitais e clinicas credenciadas (ou

aspirantes a credenciamento);

2) os empresários das grandes companhias;

3) os proprietários das 'empresas de medicina de grupo'"(22).

c) 1967 - 1977

Em 1967 nasce o Instituto Nacional de Previdência Social

(INPS), produto da fusão dos IAP's, e sob forte influência dos téc

nicos oriundos do maior deles, o IAPI. Estes técnicos, que passam

à história conhecidos como "os cardeais do IAPI", de tendências

abertamente privatizantes, criam as condições institucionais nece~

sárias ao desenvolvimento do "complexo médico-industrial", caracte

ristica marcante deste periodo.

De 1967 até meados de 1974, época que praticamente coinci

de com a do "milagre econômico", o INPS passa por uma fase de

aco-modação e adaptação à sua nova estrutura burocrática, e o

cresci-menta de seus serviços não é tão expressivo.

(28)

16

-Mas a consolidação dos princípios gerais que nortearão

suas atividades futuras ~ muito importante nesta fase (23).

o

ano de 1974 assiste ao fim do "milagre econômico", ~

~poca de' enfrentar suas consequências: a insatisfação popular se

manifesta nas urnas com a vitória eleitoral da oposição. E,enfim,

~poca de crise político-econômico-institucional, e também é época

de crise de nossas instituições sanitárias, com o nível de sa~de

da população caindo a níveis muito baixos, após ter se assistido

a uma epidemia de meningite no Estado mais rico da Nação ,SãoPaulo,

no ano de 1973.

Surgem assim, com o Governo Geisel, propostas de reform~

lação da política social contidas no 11 PND, e consubstanciadas ,

na prática, entre outras, pela criação do Conselho de

Desenvolvi-mento Social (COS) e do Minist~rio da Previdência e Assistência

Social (MPAS), ambos em 1974, e pelas diretrizes emanadas destes

novos órgãos.

A criação deste Minist~rio ajuda a consolidar a

hegemo-nia da Previdência Social no setor Sa~de, que deste então não

mais ~ refutada.

A nível de discurso institucional, no entanto, a formul~

ção da política de sa~de continua sendo atribuição do Minist~rio

da Sa~de. A-Lei 6.229, de 17.07.75, que cria o Sistema Nacional de

Sa~de, ~ produto de tal atribuição.

(23) Ver as características desta fase em:

(29)

17

-A nível de prática institucional, porém, as políticas de

saúde (24) são as determinadas pela Instituição mais importante do

setor, vale dizer a Previdência Social, e são manifestas pela com

pra de serviços à rede de empresas privadas médico-hospitalares

com consequente privatização da .assistência médica previdenciária

em expansão.

o

instrumento legal que dá apoio às políticas de saúde da

Previdência Social nesse período é o Plano de Pronta Ação (PPA),de

setembro de 1974 (25). O PPA, apesar de estabelecer prioridade à

ampliação dos serviços pr6prios e à articulação com os demais

ser-viços oficiais, normaliza também as contratações de serviços de

terceiros e os convênios-empresa, que acabam sendo altamente priv!

legiados na sua aplicação prática, como veremos mais à frente.

Com a aplicação do PPA entramos na segunda fase deste

pe-ríodo, que corresponde aos anos de 1975 e 1976, que assiste a um

crescimento nunca visto dos serviços médicos da Previdência

So-cial, especialmente através da contratação (ou credenciamento) da

rede privada para atendimento ambulatorial comum e de urgência, e

hospitalar.

Tal crescimento dos serviços médicos traz consigo, eviden

temente, crescimento dos gastos médicos previdenciários, e, pela

primeira vez no período em análise, o INPS f~cha seu balanço anual

p~aticamente deficitário, dependendo do dinheiro da arrecadação re

(24) utilizo o conceito de "políticas de saúde" como expresso em: LUZ, M.T. Saúde e instituições médicas no Brasil. In: GUIMARAES,

R. ~aúde e Medicina no Brasil: contribuições para um debate.

(30)

18

-tido na rede bancária por 45 dias, praxe então consagrada, para sal

dar seus débitos com a rede privada contratada.

o

ano de 1977 constitui a terceira fase deste período,

cu-jas características moldam. até hoje as diretrizes da administração

previdenciária:

- tentativas de contenção dos gastos da rede credenciada ,

estabelecendo-se "metas físicas", "índices", "parâmetros";

- os credenciamentos são sustados, tanto para atendimento

ambulatorial como hospitalar; são autorizados somente em "casos

ex-cepcionais ", e diretamente pelo Ministro;

- é introduzido o Sistema Nacional de Controle e Pagamento

de Contas Hospitalares, através do qual as contas passam a ser

pa-gas após confrontadas com um "gabarito" para cada tipo de

procedi-mento, via computadores da Dataprev (Empresa de Processamento de

Dados da Previdência Social);

- são aperfeiçoados os mecanismos de controle quantitativo

(principalmente) e qualitativo dos prestadores de serviços

creden-ciados.

d) 1978 e anos seguintes

o

crescimento expressivo da assistência médica previdenci!

ria~ o risco permanente de natureza financeira que tal fato gera no

siste~a previdenciário, aliados ao "gigantismo" administrativo e fi

nanceiro do INPS, criam as condições propícias a que mais uma refor

ma se processe no interior da Previdência Social brasileira.

Cria-se, em 1978, o Sistema Nacional de Previdência e

As-sistência Social (SINPAS), que reorganiza o setor em órgãos de acor

do com súas atividades finalísticas. O Instituto Nacional de

Assis-tência Médica da Previdência Social (INAMPS) é o órgão criado para

(31)

19

-No fundo, a criação do INAMPS reafirma a hegemonia da

as-sistência médica previdenciária em nosso setor Saúde.

Ao largo, o INAMPS herda os problemas de seu antecessor

INPS, os quais tenta enfrentar com os instrumentos que listei há

pouco. Mas os problemas financeiros vão se agravando.

Em 1980, comento a respeito (26).

"( ... ) Em época em que os especialistas da área econômica

já falam abertamente em recessão, desrespeitada pelos próprios

ór-gãos oficiais, que não recolhem devidamente seus encargos sociais(...)

e 'cercado de fraudes por todos os lados' (... ) tal sistema de

Pre-vidência corre sérios riscos de insolvência. Especialmente se acre~

centarmos a este quadro de menor arrecadação, o consequente aumento

de pressão no setor de concessão de beneficios, tendo como pano de

fundo uma inflação incontrolável com queda do poder aquisitivo das

classes trabalhadoras, e suas óbvias consequências. Em tais circuns

tâncias, a assistência médico-hospitalar da Previdência Social

ten-de a funcionar ainda mais como 'tampão', no sentido ten-de diminuir as

tensões de um nada justo Sistema Social".

1981 é o ano em que o Governo finalmente assume a situação

de insolvência da Previdência Social. Entre afirmações discrepantes

sobre o exato montante do déficit e suas causas (assistência médica

para o Ministro do Planejamento, aumento dos percentuais das aposen

tadorias para o Ministro da Previdência) ,surgem as soluções.

Um velho especialista em Previdência Social brasileira

Barro~o Leite, assim as antevê (27).

(26) NICZ, L.F. A falência do Sistema Previdenciário. Curitiba, Ga-zeta do Povo, 09 e 16~06.80.

(32)

- 2 0 -zyxwvutsrqponmlkjihgfedcbaZYXWVUTSRQPONMLKJIHGFEDCBA

,,(... ) Os planos conhecidos e os responsáveis por elesafir

mam que o reforço virá de outra~ fontes, porém, assim como o faleci

do José América de Almeida talvez tenha perdido o Governo porque

disse que sabia aonde estava o dinheiro, às vezes perco um pouco o

sono porque sei, nessas questões, de onde ele costuma vir".

Ele está certo.

Ap6s ter o Legislativo aprovado a "Lei de taxação dos

pro-dutos supérfluos", o Executivo, considerando-a também supérflua, e

in6cua para cobrir o déficit previdenciário, dispõe sobre a matéria.

~ uma vez mais dos bolsos do contribuinte que virá o dinheiro neces

sário para saldar os débitos previdenciários.

~ certo que as empresas também têm suas alíquotas de

con-tribuição aumentadas em 25% e que o aumento das alíquotas dos

segu-rados é diretamente proporcional a seus rendimentos, o que atenua

em parte o impacto sobre a renda dos segurados de mais baixos

salá-rios. Mas, explicam Braga e Goes de Paula (28), a carga tributária

recai, de qualquer forma, sobre os segurados.

"Em suma, nem a União nem a capitalização tem sido o supor

te financeiro da medicina previdenciária, que está, isto sim, apoi~

da na receita tributária do INPS, integrada pela contribuição de

empregados e empregadores.

Poder-se-ia argumentar que os empregadores suportam a

maior parte dos gastos com medicina previdenciária. Nada mais falso.

(33)

21

-De fato, somente as contribuições dos empregados podem ser

cansideradas um tributo direto. A parcela paga pelas empresas deve

ser considerada como custos relativos a encargos sociais ecomo tal,

transferidos aos consumidores sob a forma de aumento no preço dos

produtos ou serviços".

A crise financeira da Previdência Social traz a necessi

dade de racionalização de seus gastos, em especial em sua área mais

crítica e vulnerável, a assistência médica.

Deste modo, para estabelecer as diretrizes gerais de uma

assistência médica organizada de uma forma mais racional, é criado

o Conselho Consul tivo de Administração da Saúde Previdenciária (CONASP )

(29).

Em que pese sua natureza de "órgão consultivo", o CONASP

acaba se portando, na prática, como o órgão determinador das

dire-trizes do INAMPS, ocupando o lugar de outros órgãos já existentes

tanto no Ministério da Previdência como no INAMPS. Por isso se fala

que sua criação, na realidade, teve o caráter de "intervenção

bran-ca" na área de assistência médica da Previdência Social.

(29) O CONASP é criado pelo Decreto nº 86.328, de 2 de setembro de 1981, que, em seu art.2, diz:

(34)

22

-Assim, em 1982, o CONASP divulga seu "Plano de

Reorienta-ção da assistênciahgfedcbaZYXWVUTSRQPONMLKJIHGFEDCBAà saGde no âmbito da Previdência Social"(30)~ue,

após incorporar em sua redação as principais criticas até então

di-rigidas à assistência médica previdenciária, lista várias estraté

gias de alteração do modelo assistencial vigente. Três linhas

bási-cas de ação compõem o Plano:

- racionalização dos gastos com serviços contratados na

área hospitalar privada, através da implantação de um "novo"

(aper-feiçoamento burocrático do anterior) modelo de controle e pagamento

de contas hospitalares - "Sistema de Assistência Médico-Hospitalar

da Previdência Social";

- reorganização dos serviços ambulatoriais próprios(Postos

de Assistência Médica) e contratados (médicos/clinicas credenciados),

hierarquizando-os, através da implantação do "Projeto de

Racionali-zação da Assistência Ambulatorial - INAMPS/credenciados";

- maior e melhor utilização da rede p~blica de serviços bá

sicos de saGde, através da implantação do "Convênio Trilatera~MPAS/

MS/SES", substituido posteriormente pelas "Ações Integradas de SaG

de" (AIS).

o

Plano do CONASP passa a ser executado já em fins de 1982,

especificamente nos dois primeiros itens acima; no caso especifico

das AIS, os primeiros convênios são assinados em meados de 1983.

o

Governo da Nova RepGblica, ao assumir em março de 1985,

faz das "Ações Integradas de SaGde" (AIS) a sua politica oficial de

saGde, rumo à universalização da assistência médica, e apressa a

assinatura de novos convênios com as Secretarias Estaduais e

Muni-cipais de SaGde, englobando assim, a quase totalidade dos serviços

pGblicos de saGde como conveniados da Previdência Social.

(30) BRASIL, Ministério da Previdência e Assistência Social,CONASP. Reorientação da Assistência à SaGde no âmbito da Previdência

(35)

23

-2.ZYXWVUTSRQPONMLKJIHGFEDCBAPREVIDENCIA SOCIAL: A DETERMINAÇAO DE SUAS POL1TICAS DE SAODE

o

"Programa de Ação 1977 - INPS" (31) enfatiza (e portanto

reconhece) a existência de "quatro grandes setores influentes nas

decisões em relaçãofedcbaZYXWVUTSRQPONMLKJIHGFEDCBAà assistência médica: as empresas de prestação

de serviços de saúde, a indústria farmacêutica, a indústria de equi

pamentos, e o pessoal das equipes de saúde".

Landmann (32) chama o conjunto destes quatro setores de

"complexo médico-industrial", e ainda o sub-divide em "médico-indus

trial indireto" (indústrias farmacêuticas e de equipamentos) e

"mé-dico-industrial direto" (empresas de prestação de serviços de saúde,

e pessoal das equipes de saúde).

DevidohgfedcbaZYXWVUTSRQPONMLKJIHGFEDCBAà sua maior importância na determinação das

políti-cas de saúde da Previdência Social, analisarei aqui somente o

"com-plexo médico-industrial direto" (33).

(31) BRASIL, Ministério da Previdência e Assistência Social - INPS. Programa de Ação 1977 - INPS. p.ll.

(32) LANDMANN, Jayme. Evitando a saúde e promovendo a doença. Rio de Janeiro, Achlame, 1982. p.30.

(33) Não se trata aqui de sub-estimar o papel das indústrias farma-cêuticas e de equipamentos na determinação das políticas de saúde previdenciárias. A "maior importância" que atribuo às em presas de prestação de serviços de saúde e ao pessoal das equT pes de saúde está muito relacionada com sua maneira contínua

e

direta de exercer pressão sobre a Previdência Social.

Análise crítica da atuação das indústrias farmacêuticas em nos

so País, pode ser vista em:

-CORDEIRO, Hésio A. A Política de Medicamentos. In: GUIMARAES,R. Saúde e Medicina no Brasil: contribuições para um debate. p.

253-65. .

(36)

- 24 -ZYXWVUTSRQPONMLKJIHGFEDCBA

2.1 O PESSOAL DAS EQUIPES DE SAUDE

o

profissional mais importante e influente das equipes de

sa~de é o médico, e porisso analisarei aqui as pressões exercidas

pelos médicos na formulação das 'políticas previdenciárias.

Estas pressões podem ser exercidas de uma posição externahgfedcbaZYXWVUTSRQPONMLKJIHGFEDCBA

à Previdência Social, através de suas vinculações com a mesma, ou

o médico pode exercê-las de uma posição interna à Previdência

So-cial, por fazer parte da tecnoburocracia médica previdenciária.

GIOVANI, Geraldo. A questão dos remédios no Brasil. São Paulo,Polis, 1980. 148 p.

PACHECO, Mario Victor de Assis. IndGstria Farmacêutica e Segurança Nacional. Rio de Janeiro, Civilização Brasileira, 1968. .

. A Máfia dos Remédios. Rio de Janeiro; -":=;C~i-v""'i""'l-'i-z-a-ç""'ã::-o---'B~r-a-·

s r r s r

-r-a-,--"-1":=;9-=;7=8.

KUCINSKY, Bernardo

&

LEDOZAR, Robert. Fome de Lucros. São Paulo,Br! siliense, 1977.

BRAGA, J.C.S.

&

GOES DE PAULA, S. Sa~de e Previdência - estudos de política social.

Ver ainda em:

BRASIL, Diário do Congresso Nacional, Suplemento. Relatório da CPI do Consumidor. Brasília, 12.05.77.

BRASIL, Congresso Nacional. Relatório Final da CPI da Ind~stria Far macêutica. Brasília, mimeo, 1980.

Análise da atuação da Associação Brasileira das Ind~strias Farmacêu tica (ABIFARMA), na defesa de seus interesses, pode ser vista em:

NICZ, Luiz Fernando. A Instituição Médica e a Ind~stria Farmacêuti-ca no Brasil - o papel da ABIFARMA.fedcbaZYXWVUTSRQPONMLKJIHGFEDCBAsão Páulo, PROAHSA,mimeo~ 1981.22p.

São muito poucos os trabalhos que analisam o setor de ind~striasde equipamentos médicos no Brasil; alguns dados a este respeito podem ser vistos em:

(37)

- 25 -ZYXWVUTSRQPONMLKJIHGFEDCBA

2.1.1 O PESSOAL MfDICO EXTERNO A PREVID~NCIA SOCIAL

Já me referi anteriormentehgfedcbaZYXWVUTSRQPONMLKJIHGFEDCBAà influência da Associação Médl

ca Brasileira (AMB), fundada em 1951, no favorecimento da

contrata-ção de serviços de terceiros pela Previdência Social nas décadas de

50 e 60.

Atualmente, a nova conformação do mercado de trabalho médi

co, que aponta inexoravelmente para o assalariamento, tem tornado

importante a atuação dos Sindicatos Médicos na defesa dos

interes-ses da categoria.

Landmann aponta a heterogeneidade econômica hoje existente

na classe médica, e a divide em A,B e C, de acordo com seu modo

principal de trabalho e renda daí decorrente (34).

No mercado de trabalho, o médico se relaciona com a

Previ-dência Social através das seguintes formas (pura ou combinadas)prin

cipais:

- é seu empregado, atendendo em Postos ou Hospitais do

INAMPS um n~mero determinado de pacientes, em 4 horas de trabalho

por dia, e ganha por salário;

- é empregado de Secretaria Estadual ou Municipal de Sa~de,

atendendo em Centros/Postos de Sa~de um n~mero determinado de

pa-cientes, em 4 horas de trabalho por dia, e ganha por salário;

- é seu credenciado em consultório e/ou hospital,

atenden-do geralmente um n~mero determinado de pacientes por dia no

primei-ro caso, e atendendo sem limitaçôes no segundo; o ganho é por ato

médico realizado,cujo valor é estabelecido nas Tabelas de Procedimentos da

Previdência Social.

(34) Ver detalhes desta classificação em:

(38)

- 2 6 -zyxwvutsrqponmlkjihgfedcbaZYXWVUTSRQPONMLKJIHGFEDCBA

- é empregado de empresa de medicina de grupo, atendendo

um n~mero determinado de pacientes por dia na sua jornada de

traba-lho, ganhando por salário;

- é membro de cooperativa médica, atende em seu

consultó-rio os pacientes que o procuram, ou em hospital, ganha proporcional

mente à sua participação na produção da receita da cooperativa (na

realidade, de suas "sobras" - ou lucro).

Esta conformação atual do mercado de trabalho médico, vale

dizer do mercado de trabalho da Previdência Social, explica a

hete-rogeneidade dos interesses e das reivindicações da categoria médica,

manifesta pela ambiguidade das posições assumidas por seus órgãos

representativos, que não demonstram ter algum projeto definido, ou

pelo menos esboçado, no sentido de reorganização dos serviços de

sa~de previdenciários.

Por outro lado, setores mais criticas no interior da

cate-goria médica não conseguiram definir, com mais detalhes, qualquer

projeto de reorganização do setor, a partir de suas entidades, e

porisso mesmo seu discurso é ainda muito genérico, e por vezes

con-traditório.ZYXWVUTSRQPONMLKJIHGFEDCBA

2.1.2 A TECNOBUROCRACIA M~DICA PREVIDENCIARIA

A criação do INAMPS, em 1978, dá oportunidade aos médicos

de assumirem integralmente a administração da assistência médica

previdenciária, até então subordinada, de alguma forma e em maior

ou menor grau, à tecnoburocracia não médica do então INPS.

Isto pode satisfazer a nós, médicos, mas não necessariamen

te tem sido bom para a Previdência Social.

Explico: substitui-se uma tecnoburocracia não médica, mas

(39)

- 2 7 -zyxwvutsrqponmlkjihgfedcbaZYXWVUTSRQPONMLKJIHGFEDCBA

médica, de modo geral incompetente em administração e Previdência.

Vejamos as características principais da

médica previdenciária.

tecnoburocracia

o

médico burocrata previdenciário típico é aquele que vem

atuar na área de "papéis" por estar "cansado de atender doentes no

Posto", por estar aguardando merecida aposentadoria, por não poder

atrapalhar seus outros compromissos - geralmente consultório

parti-cular - com um horário de trabalho no INAMPS (na área burocrática

sempre se pode arranjar um horário mais flexível, e, além disso,não

há doentes esperando), ou ainda, para atender o convite irrecusável

de um colega já burocrata (nos tempos atuais, o convite pode partir

de um político). Poucos são os médicos jovens que se dispõem a

dei-xar seus lugares nos Postos, onde, além do atrativo do exercício

diário da profissão, têm o atrativo muito mais forte dos pacientes

que encaminham para eles mesmos atenderem nos hospitais, ganhando ,

como já vimos, proporcionalmente aos atos médicos realizados.

Assim, o perfil dos médicos que compõem a tecnoburocracia

previdenciária pode ser descrito: formado há pelo menos 20 anos em

Faculdade tradicional, especialista, trabalha em tempo parcial no

INAMPS ("com sacrifício") pois seu interesse maior continua em seu

consultório particular ou no trabalho hospitalar, geralmente mantém

vínculo com o próprio INAMPS como "credenciado".

Com este perfil, coerentemente, a tecnoburocracia médica

previdenciária é defensora ~o sistema de credenciamento de serviços

particulares, pagos por serviços realizados, que acredita ser a

mo-dalidade de assistência médica previdenciária mais condizente com

seus arraigados ideais de prática médica liberal (ou com seus

(40)

28

-Muita da condescendência crônica da Previdência Social em

relação às denúncias constantes de fraudes e mau atendimento nos

serviços credenciados pode ser explicada por esse perfil de sua

tecnoburocracia médica. Assim como o não prestigiamento dos

servi-ços próprios e órgãos estataii. E ainda, a expansão limitada dos

convênios-empresa com a participação das empresas de medicina de

grupo, consideradas mercantilistas.

~ este perfil que explica a aliança explícita ou não que

se estabelece entre a tecnoburocracia médica previdenciária e os

órgãos representativos dos serviços credenciados pela Previdência

Social, em especial com o mais expressivo destes, a Federação

Bra-sileira de Hospitais (FBH) (35).

Mudar este perfil da tecnoburocracia médica

previdenciá-ria, ou alterar sua composição qualitativa e quantitativa,não cons

titui tarefa fácil.

Mas há esperança. E também indícios de mudanças.

Assim, os médicos que têm sido designados para os

princi-pais cargos da Direção Geral do INAMPS, a partir do final de 1981,

não se encaixam no perfil traçado para a tecnoburocracia médica

previdenciária.

(41)

- 2 9 -zyxwvutsrqponmlkjihgfedcbaZYXWVUTSRQPONMLKJIHGFEDCBA

Mais ainda, neste início de Governo da Nova República,qu~

se todos os cargos de confiança mais importantes da Direção Geral

do INAMPS e de suas principais Superintendências Regionais,ou

se-ja, os cargos que constituem o nível político da instituição,estão

sendo ocupados por médicos oriundos da área de Saúde Coletiva(36).

Estes dirigentes assumem a estratégia de melhoria e

am-pliação dos serviços próprios, e de convênios com as Secretarias

Estaduais e Municipais de Saúde, como altamente prioritária na

reorganização da assistência médica previdenciária.

Mas, note-se bem, os cargos de carreira, ou os cargos

co-missionados de importância menor a nível administrativo da

insti-tuição, exclusivos de médicos do quadro de pessoal, continuam

sen-do ocupasen-dos por profissionais cujo perfil está muito próximo ao

traçado anteriormente.ZYXWVUTSRQPONMLKJIHGFEDCBA

2.2. AS EMPRESAS DE PRESTAÇAO DE SERVIÇOS DE SAODE

Constituem, tradicionalmente, o setor mais importante e

influente junto aos órgãos decisórios previdenciários.

Este setor pode ser sub-dividido em:

- empresas hospitalares (além de clinicas,laboratórios de

análises clínicas, serviços de radiologia, e outros, todos ou

qua-se todos particulares com fins lucrativos); a relação característi

ca com a Previdência Social se faz através de credenciamento, com

pagamento por serviços prestados, de acordo com Tabela;

(42)

30

-- empresas que atuam no sistema de pré-pagamento, com a

participação financeira da Previdência Social através de um valor

"per-capital' segurado: medicina de grupo, e cooperativas médicas.

Antes de passarhgfedcbaZYXWVUTSRQPONMLKJIHGFEDCBAà análise desses sub-setores, vejamos

co-mo documentos oficiais da pr6pria Previdência Social historiam os

fatos que propiciam e criam um ambiente altamente favorável ao

de-senvolvimento das empresas de prestação de serviços de sa~de (37).ZYXWVUTSRQPONMLKJIHGFEDCBA

"Em 1960, ano em que foi sancionada a Lei Orgânica da Pr~

vidência Social, todos os Institutos de Aposentadoria e Pensôes

prestavam assistência médica a seus beneficiários, porém o maior

deles (IAPI - LFN) s6 assistia aos segurados, e ainda assim, s6 o

fazia depois de decorridos os primeiros quinze dias de doença. Ao

ampliar esta prestação de serviços, optou pelo que designou como

'grande risco', isto é, assistência hospitalar.

Esta orientação resultou, como seria de esperar, em

gran-de n~mero gran-de internaçôes por condiçôes que poderiam ter sido

ade-quadamente tratadas em ambulat6rio, se a assistência médica houves

se sido oportuna.

A orientação da assistência médica da Previdência Social

para os grandes riscos, ou seja, para a hospitalização em detrimen

to da assistência ambulatorial, foi mantida durante os primeiros

anos de funcionamento do Instituto Nacional de Previdência Social

(INPS). Esta pOlítica levou o Instituto a credenciar a grande mai~

ria dos hospitais existentes,incentivando a instalação de pequenos

hospitais comerciais, criados quase exclusivamente para receber be

neficiários do INPS.

(43)

31

-Essa corrente de pensamento prevaleceu durante alguns

anos na Previdência Social, antes, durante e depois da instalação

do Instituto, e foi:

_ a principal responsável pela não aplicação dos

disposi-tivos do Regulamento da Previdência Social em sua redação de 1960,

a qual recomendava a aplicação preferencial de medidas preventivas

na proteção da sa~de dos beneficiários; tais dispositivos foram su

primidos na nova redação do Regulamento, elaborado ap6s a revisão

da Lei Orgânica da Previdência Social, em 1966;

_ ~ responsável pela quase paralisação do crescimento dos

serviços pr6prios da Previdência Social, que permanece hoje quase

igual ao que era em 1967 ao ser instalado o INPS, embora o n~mero de beneficiários tenha aumentado em mais de 12 milhôes;

_ a propugnadora da tese de transferência para as

empre-sas,mediante um convênio em que o Instituto lhes devolve parte da

contribuição previdenciária, dos encargos assistenciais e

peri-ciais médicos; a coincidência da expansão das atividades

económi-cas, aumento dos lucros empresariais e estagnação dos serviços

mé-dicos do INPS levaram ao rápida surgimento dos grupos médicos,

pa-ra contpa-ratar a prestação da assistência que o Instituto transferia

às empresas".

Feita esta digressão hist6rica, pertinente ao tema em aná

lise, passemos agora a estudar cada sub-setor separadamente.ZYXWVUTSRQPONMLKJIHGFEDCBA

2.2.1 AS EMPRESAS HOSPITALARES (38)

Tratarei aqui somente das empresas hospitalares,devido à

sua importância destacada dentre todos os serviços de sa~de creden

(38) A análise que aqui será feita sobre as empresas hospitalares se baseia em:

NICZ, Luiz Fernando. O papel dos hospitais na determinação das políticas de sa~de. são Paulo, PROAHSA, mimeo, 1982. 18 p.

(44)

32

-ciados pela Previdência Social.

Para -efeitos puramente didáticos, separo três tópicos

pa-ra análise: evolução histórica das empresas hospitalares, contexto

em que surge a FBH, e consolidação de seu poder.ZYXWVUTSRQPONMLKJIHGFEDCBA

2.2.1.1 EVOLUÇAO HISTORICA DAS EMPRESAS HOSPITALARES

o

surgimento das primeiras Caixas de Aposentadorias e

Pensões, e, logo depois, dos Institutos, vai encontrar o atendime~

to hospitalar realizado através das Santas Casas de Misericórdia ,

modelo herdado do colonizador português.

Os Institutos têm pouca influência no crescimento dessas

instituições hospitalares até meados da década de 50,

aproximada-mente, quando as condições econômicas gerais do País viabilizam o

aumento do nGmero de leitos e a criação de novos hospitais que pa~

sam a ser contratados para prestar assistência médica aos previde~

ciários.

Vejamos como técnicos da Previdência Social descrevem

es-tas contratações (39).

"As contratações de hospitais nos antigos IAP's já foram

feitas por concorrência pGblica. O IAP fazia edital anunciando os

serviços hospitalares que pretendia para seus beneficiários, os

hospitais interessados inscreviam-se propondo seus preços e a

con-corrência era julgada, concluindo em geral pelos menores preços

oferecidos ..

Na prática, isto levou a um baixo padrão de atendimento ,

porque para aumentar os lucros com preço baixo, diminuíam-se os

(45)

- 33

-gastos na alimentação, nos medicamentos e nos recursos técnicos.Pos

teriormente, surgiu o primeiro contrato-padrão com preços fixos

pa-ra as taxas hospitalares, pelo qualhgfedcbaZYXWVUTSRQPONMLKJIHGFEDCBA0 S hospitais eram contratados

desde que aceitassem e oferecessem as condições técnicas que eram

exigidas pelos Institutos. Esse contrato evoluiu até o

contrato-pa-drão vigente( ... )".

Em 1945, dos 124.992 leitos hospitalares existentes no Brasil, 44,4% pertencem ao Estado; do total restante pertencente à

rede privada, apenas 14,2% são hospitais particulares com fins lu-crativos (40).

Em 1965, dos 228.545 leitos hospitalares existentes no

Brasil, 37,0% pertencem ao Estado; a participação da rede privada

passa a 63,0% do total (40), mostrarldo que o crescimento a partir de meados da década de 50 Sg faz principalmente às custas dos hospi

tais particulares.

Em 1980, dos 473.738 leites hospitalar~s que e~istiriam no

P8ís, apenas 31,6% sáo p~blicos; do total restante pertencentefedcbaZYXWVUTSRQPONMLKJIHGFEDCBAà re

de privada, já 45,2% são hospitais particulares com fins lucrativos.

O setor particular lucrativo é o que tem maior n~mero de hospitais,

a ele pertencendo 2.242 (ou 42,9%) do total de 5.224 hospitais exis tentes (41).

A predominância do setor privado lucrativo na rede hospit!

lar é pouco comum na maioria dos países ocidentais, onde os

hospi-tais são geralmente comunitários, não lucrativos. Na América Latina,

(40) BRAGA, J.C.S.

&

GOES DE PAULA, S. Sa~de e Previdência - estudos de política social. p. 75.

(46)

34

-com exceção do Brasil, a maioria dos leitos existentes pertencem a

hospitais p~blicos. A existência de um forte setor privado, e

nes-te,a predominância numérica de hospitais lucrativos, é uma

caracte-rística que praticamente s6 existe no Brasil. A meu ver, isto tem

muita relação com os problemas atualmente vividos pela assistência

médica previdenciária brasileira.ZYXWVUTSRQPONMLKJIHGFEDCBA

2.2.1.2 O SURGIMENTO DA FBH

Num contexto altamente favorável, no período de pré-unif.,!.

cação dos IAP's, é que surge a Federação Brasileira de Hospitais

(FBH), para defender os interesses da já crescente rede de

hospi-tais privados com fins lucrativos, financiada pela Previdência 50

cial.

Desde sua criação, em 1966, a importância da FBH como

fa-tor de pressão juntofedcbaZYXWVUTSRQPONMLKJIHGFEDCBAà Previdência Social é diretamente

proporcio-nalhgfedcbaZYXWVUTSRQPONMLKJIHGFEDCBAà importância da assistência médica previdenciária (42). Ou se

ja, cresce na mesma proporção.

(42) Para conhecimento das posições defendidas pelos empresários hospitalares reunidos na FBH ver, além dos artigos inseridos em sua publicação oficial, a revista "Vida Hospitalar", espe-cialmente:

FERNANDES, Aloisio. Os erros fatais da Previdência Social. Sé rie de quatro artigos publicados em abril de 1980 em "O Es tado de São Paulo";

a transcrição das posições defendidas pelos dirigentes da FBH Angel Del ARROYO e Aloisio FERNANDES, em mesa-redonda promovi da pelos Jornais "O Estado de São Paulo" e "Jornal da Tarde ..-sobre o Prev-Sa~de, no "Jornal da Associação Médica Brasilei-ra (JAMB), nºs 1038 e 1039, de 21.10.80;

MELO, Humberto Gomes de. Custo da assistência médico-hospita-lar no Brasil. Documento apresentado ao 4º Encontro Nacio-nal de Dirigentes Hospitalares, Canela - RS, mimeo. 1980;

. A crise da Previdência Social no Sis --7t-e~m-a~M~é~d~i~c-o--~H~0-s-p-l~·t~a~l-ar.Brasília, mimeo.1982. 31 p.

FEDERAÇAO BRASILEIRA DE HOSPITAIS. A realidade da rede hospitalar privada brasileira no Sistema Nacional. Rio de Janeiro, mimeo,junho de 1985.16p.

(47)

35

-Pois, como diz Landmann (43).

liA expansão dos serviços do INPS refletiu-se por abandono

progressivo da pOlítica de construção de hospitais próprios e pela

adoção de uma' outra de contratação de serviços a terceiros. O INPS

procurou atender à demanda oferecendo a bandeja da internação à em

presa privada, que passou a multiplicar a criação de hospitais e

casas de saGde, em condições de flagrante violação no que concerne

a instalações, funcionamento e faturamento".

Com todo este ambiente a seu favor, a FBH se organiza

pa-ra cumprir seu papel:

- dá apoio e reforça as estruturas das Associações

Esta-duais de Hospitais, para que estas atuem eficientemente como

ór-gãos de pressão a nível regional;

- monta um ágil sistema de informações, necessariamente

ligado a setores internos da burocracia previdenciária, Gnica

ma-neira de explicar o fato de portarias, normas e ordens de serviço

baixadas pela Previdência Social chegarem, na maioria das vezes,às

suas Associações Estaduais antes mesmo do que ao INAMPS regional;

_ cria um eficiente mecanismo de influência junto à

gran-de imprensa, de modo que suas posições são veiculadas sem

dificul-dades em privilegiados esp~ços de jornais, ou horários

informati-vos;

- passa a representar os interesses deste sub-setor priv!

do da economia junto às grandes entidades patronais brasileiras, em

cujas diretorias por vezes até mantém representantes;

(43) LANDMANN,· J. Racionalização da Assistência Médica no Brasil. Revista Paulista de Hospitais, São Paulo,XXVI (5),maic . de

Imagem

TABELA 5 TABELA 6 GR~FICO I GR~FICO 11 .~ .. fedcbaZYXWVUTSRQPONMLKJIHGFEDCBA-X -Página- DEMONSTRATIVODA DESPESAPER CAPITA NA
TABELA fedcbaZYXWVUTSRQPONMLKJIHGFEDCBA 3
TABELA 4 fedcbaZYXWVUTSRQPONMLKJIHGFEDCBA

Referências

Documentos relacionados

F REQUÊNCIAS PRÓPRIAS E MODOS DE VIBRAÇÃO ( MÉTODO ANALÍTICO ) ... O RIENTAÇÃO PELAS EQUAÇÕES DE PROPAGAÇÃO DE VIBRAÇÕES ... P REVISÃO DOS VALORES MÁXIMOS DE PPV ...

insights into the effects of small obstacles on riverine habitat and fish community structure of two Iberian streams with different levels of impact from the

As análises serão aplicadas em chapas de aços de alta resistência (22MnB5) de 1 mm de espessura e não esperados são a realização de um mapeamento do processo

Nesse contexto, o presente trabalho tem como objetivo realizar testes de tração mecânica e de trilhamento elétrico nos dois polímeros mais utilizados na impressão

The challenges of aging societies and the need to create strong and effective bonds of solidarity between generations lead us to develop an intergenerational

The focus of this thesis was to determine the best standard conditions to perform a laboratory-scale dynamic test able to achieve satisfactory results of the

Na apropriação do PROEB em três anos consecutivos na Escola Estadual JF, foi possível notar que o trabalho ora realizado naquele local foi mais voltado à

Este questionário tem o objetivo de conhecer sua opinião sobre o processo de codificação no preenchimento do RP1. Nossa intenção é conhecer a sua visão sobre as dificuldades e