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A organização dos trabalhadores desempregados como mediação para a consciência de classe.

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Academic year: 2017

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A O

RGANIZAÇÃO DOS

T

RABALHADORES

D

ESEMPREGADOS COMO

M

EDIAÇÃO PARA A

C

ONSCIÊNCIA DE

C

LASSE

D e ise Lu iz a da Silv a Fe r r a z* Joã o Albe r t o M e n n a - Ba r r e t o* *

Resumo

O

bj et ivam os analisar as det erm inações econôm icas e polít icas que t ensionaram o m ovim ent o de const it uição de um a consciência de classe em um est rat o da população desem pr egada, m ediada pela form ação do Movim ent o dos Trabalhadores Desem pregados [ MTD] . Valem os-nos do debat e m ar xist a sobr e classes sociais ( CS) e consciência de classe, ut ilizando os est udos de I asi ( 2006) . A m et odologia ut ilizada é pr ópr ia da abor dagem dialét ico- m at er ialist a, que se assent a em t r ês pr essupost os: a cont radição, a t ot alidade e a hist or icidade. A condição de desem pr egados que im pulsionou o m ovim ent o de fusão do gr upo ( discussão sar t r iana) é r e-sult ant e da nova for m a de or ganização da pr odução a qual im plicou à classe t rabalhadora t ant o o m ovim ent o de r egr essividade na pr ogr essividade avançada quant o as possibilidades de or ga-nização para além das ent idades sindicais. As CS est ão inst it uídas ao m esm o t em po em que se inst it uem pela ação concr et a de seus suj eit os, de m odo que são necessár ias ao capit alism o, m as - e t ão som ent e - só se realizam enquant o m ediações prát icas, enquant o m ediações cont ingent es.

Pa la v r a s- Ch a v e : Classes sociais. Consciência de classe. Subj et ividade. Teor ia cr ít ica. Mat er ia-lism o- dialét ico

The Organization of Unemployed Workers as Mediation for Class Consciousness

Abstract

W

e aim t o analyze t he econom ic and polit ical det er m inat ions w hich have inst igat ed t he m ovem ent t owar ds a class consciousness am ong an unem ployed populat ion m ediat ed by t he for m at ion of a social m ovem ent , t he Unem ployed Wor ker s Movem ent ( MTD) . We use t he Mar xist debat e about social classes ( SC) and class consciousness using t he st udies of I asi ( 2006) . The r esear ch m et hod used in t he pr esent w or k is charact er ist ic of t he dialect ical- m at er ialist appr oach, w hich is based in t hr ee assum pt ions: cont radict ion, t ot alit y and hist or icit y. The condit ion of t he unem ployed w hich fost er ed t he m ovem ent for gr oup fusion ( Sar t r e’s discussion) , was t he r esult of t he new or ganizat ion of pr oduct ion t hat has caused bot h t o t he w or king class and t he m ovem ent of r egr essivit y in t he advanced pr ogr essivit y as r egar ds t he possibilit ies of or ganizat ion beyond t he Trade Unions. The SC ar e im posed at t he sam e t im e as t hey ar e im posed by t he concr et e act ion of t heir subj ect s, in a way w hich is r equir ed by ca-pit alism , but only t ake place w hile pract ical m ediat ions, w hile cont ingent m ediat ions.

Keyw ords: Social classes. Class consciousness. Subj ect ivit y. Crit ical t heory. Dialect ical- m at erialism .

* Dout or a em Adm inist r ação pelo Pr ogr am a de Pós- Gr aduação em Adm inist r ação da Univer sidade

Feder al do Rio Gr ande do Sul - PPGA/ EA/ UFRGS. Pr ofessor a do Pr ogr am a de Mest r ado e Dout or ado em Adm inist r ação da Univer sidade Posit ivo - PMDA/ UP e do Pr ogr am a I nt er disciplinar de Mest r ado em Or ganizações e Desenvolvim ent o da FAE- Cent r o Univer sit ár io - Cur it iba/ PR/ Br asil.Ender eço: Rua Pr of. Pedr o Vir iat o Par igot de Souza, 5300, Pr édio da Bibliot eca. Cur it iba/ PR. CEP 81.280- 330. E- m ail: deiseluizafer r az@gm ail.com

* * Bachar elando em Ciências Sociais do I nst it ut o de Filosofi a e Ciências Hum anas da UFRGS. E- m ail:

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Introdução

D

evido à cr ise fi nanceira que eclodiu em set em br o de 2008, a Or ganização I nt er-nacional do Trabalho [ OI T] est im ou que ingr essaram no desem pr ego, em t odo o m undo, ent r e 31 a 61 m ilhões de indivíduos. Est es som aram - se às 260 m ilhões de pessoas, aproxim adam ent e, que j á se encont ravam desem pregadas em países com o I t ália, França, Alem anha, Japão e China ( Fundo Monet ár io I nt er nacional [ FMI ] , 2009) . Esses núm er os são consideravelm ent e elevados, m as car ece acr escent ar m os a eles o núm er o de t rabalhador es sem em pr ego em países com o a Í ndia ( cer ca de 336 m ilhões de pessoas) e, ainda, os núm er os da Ar gent ina, Ur uguai, Brasil - em sum a, os países lat inos, onde cer ca de 2/ 3 da for ça hum ana t rabalha em condições pauper izadas pela falt a de em pr ego ( ANTUNES, 1999) .

A m undialização do desem pr ego em m assa, r efor çada por est a últ im a cr ise, dem onst ra que aos desem pr egados j á não é m ais possível acr edit ar na sociedade do pleno em pr ego nem m esm o onde ela um a vez foi concr et a; sobr et udo, por que, após a cr ise da década de 1970, as r elações est abelecidas ent r e o capit al e o t rabalho foram r eelaboradas. Tal r eelaboração m anifest ou- se com o um a ofensiva do capit al sobr e o t rabalho no âm bit o da pr odução ( ALVES, 2005) . A r eor ganização pr odut iva m ar cada pela int r odução de novas t écnicas de gest ão da for ça de t rabalho e de um a t ecnolo-gia de base m icr oelet r ônica alt er ou a com posição or gânica do capit al, aum ent ando a pr odut ividade do t rabalho vivo e depr im indo a dem anda por t rabalhador es.

Com o as ciências adm inist rat ivas são um a área do conhecim ent o, cuj o obj et ivo prim ordial é planej ar, avaliar e aprim orar t écnicas que visem o aum ent o da produt i-vidade do t rabalho, t em os, port ant o, a Adm inist ração colaborando para o fenôm eno do desem prego, por um lado, e, por out ro, isent ando- se de invest igar o que aj uda a criar em pregos e os possíveis desdobram ent os da consecução daquele obj et ivo. Nest e sent ido, est e est udo som a- se ao esforço de out ros int elect uais brasileiros, com o Faria, Misoczky, Goulart , Paes de Paula, Paço- Cunha, dent re out ros, que buscam quest ionar o at o de adm inist rar em sua form a het erogerida com o sendo a única possibilidade de organização do processo de t rabalho e de produção da riqueza social. Em sum a, t rat a- se de um esforço para desenvolver est udos em Adm inist ração que não est ej am a serviço da reprodução do sociom et abolism o do capit al, m as que visem à em ancipação hum ana. Ao nos depararm os, no Rio Grande do Sul, com um Movim ent o dos Trabalhadores Desem pr egados [ MTD] - que pr ofessa um a cr ít ica radical do capit alism o e pr opugna pela const r ução de novas r elações de t rabalho, negando as r elações vigent es, ao m esm o t em po em que r eclam a para si a condição de classe t rabalhadora, descar-t ando, assim , o r ódescar-t ulo de lúm pen- pr oledescar-t ár ios que cer descar-t a ver são de m ar xism o cosdescar-t um a at r ibuir aos “ sem ” - quest ionam o- nos sobr e o pr ocesso que per m it iu a em er gência desse Movim ent o, ou sej a, a for m ação de um a consciência de classe m ediada pela for m ação de um gr upo que, ao r eivindicar por em pr ego, encont ra na pr ópr ia r eivindi-cação a lim it ação para a superação da aut oalienação do t rabalho. O obj et ivo do ar t igo, por t ant o, é analisar o pr ocesso de const it uição de um a consciência de classe em um dado est rat o da população desem pr egada, m ediada pela for m ação de um m ovim ent o social que nega o capit al. Para a consecução desse obj et ivo, nos valem os do debat e m arxist a sobre classes sociais e consciência de classe, com o apoio dos est udos de I asi ( 2006) , os quais se ocupam da const it uição do gr upo subver sivo enquant o negação subj et iva da ( r e) pr odução obj et iva.

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e-sent ar em os nossa análise de alguns dados, buscando evidenciar as det er m inações polít icas e econôm icas, com o j á aludido. Em nossas considerações fi nais, pr opor em os um m ódico balanço sobr e as im plicações de nosso est udo face à t eor ia m ar xist a e aos est udos adm inist rat ivos.

Método

Os dados pr im ár ios que ser ão r efer idos r esult am de ent r evist as com int egran-t es do MTD, conquanegran-t o os secundár ios são or iundos de j or nais e banco de dados de ór gãos de pesquisa. Para obt enção dos dados pr im ár ios, ut ilizam os as t écnicas de ent r evist as sem iest r ut uradas, hist ór ia de vida, obser vação sist em át ica e análise docum ent al. Os dados foram colet ados ao longo do ano de 2007 e 2008, per íodo no qual foram ent r evist adas dez pessoas do m ovim ent o; ent r e elas há quem par t icipe desde 1995 dos debat es acer ca da or ganização dos desem pr egados e out r os que se agr egaram ao pr ocesso j á durant e a const it uição do m esm o ( anos 2000) . Alguns desses ent r evist ados int egram ou int egraram a dir eção est adual do m ovim ent o nos r efer idos anos, out r os ainda não par t iciparam de t al inst ância. As ent r evist as t iveram um a duração m édia de t r ês horas, via de r egra, dist r ibuídas em dois encont r os de novent a m inut os. Nelas, eles pont uaram as hist ór ias do m ovim ent o, seus dilem as e com o as superaram . Nosso obj et ivo aqui não é análise dos dilem as pessoais em face do colet ivo, m as os m om ent os de superação dest es no colet ivo. Em vir t ude disso, quando m encionam os nas análises que “ est a ou aquela organização agiu, pensou et c.” não est am os hipost asiando a or ganização, m as m encionando a pr áxis colet iva dos int egrant es que pr eponderaram , m om ent aneam ent e, no m ovim ent o de t ot alização, um a vez que acr edit am os não ser a or ganização um ent e, t al qual desej a grande par t e dos est udiosos, confor m e dem onst ra os t ext os de Tragt enber g ( 2004) , Far ia ( 2004) e Paço- Cunha ( 2010) .

Para pr eser var a ident idade dos par t icipant es dest e est udo, opt am os pela não divulgação de seus nom es; quando nos referirm os a eles no t ext o, opt am os por at ribuir-lhes pseudônim os. Foram ent r evist ados, t am bém , dois sindicalist as, am bos, quando da r ealização das ent r evist as ( 2007) , pr esident es dos sindicat os dos m et alúr gicos. Os dados secundár ios são pr ovenient es de est udos desenvolvidos por inst it uições com o o Depar t am ent o I nt er sindical de Est at íst icas e Est udos Socioeconôm icos [ Dieese] , o FMI e a OI T.

A or ient ação t eór ica adot ada baseia- se nos pr essupost os daquilo que se cos-t um a r efer ir por m acos-t er ialism o dialécos-t ico. Mar x ( 1996, p. 39) , na I ncos-t r odução à Cr ícos-t ica da Econom ia Polít ica, apr esent a o m ét odo dialét ico- m at er ialist a com o a m aneira de com pr eender, explicar e analisar a r ealidade sem r esvalar no r educionism o, nas t au-t ologias e nas absau-t rações r ealizadas pelos cienau-t isau-t as. Tr iviños ( 1987) m enciona que o m at er ialism o hist ór ico é a ciência fi losófi ca do m ar xism o, que “ est uda as leis socio-lógicas que caract er izam a vida da sociedade, de sua evolução hist ór ica e da pr át ica social dos hom ens, no desenvolvim ent o da hum anidade” ( TRI VI ÑOS, 1987, p. 51) .

Segundo Plekhanov ( 2008) , foram const r uídas difer ent es concepções sobr e a Hist ór ia depois que os int elect uais deixaram de com pr eendê- la apenas com o a des-cr ição de fat os e passaram a buscar r espost as para a seguint e quest ão: por que as coisas se passaram de t al m aneira e não de out ra? Da concepção t eológica da hist ór ia à m at er ialist a, m uit as t eses foram levant adas. De for m a bast ant e sucint a, podem os resum ir que o idealism o concebe o desenvolvim ent o hist órico sendo realizado por m eio das opiniões dos hom ens, ou sej a, que as m udanças hist ór icas ocor r em em função de m udanças nos cost um es e nas ideias de cada povo. A opinião gover na o m undo!

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ideias de um t em po pelo desenvolvim ent o do espír it o do t em po. Rom per com o ar gu-m ent o t aut ológico foi ugu-m a das grandes cont r ibuições de Mar x, ao superar a explicação do est ado social pelo est ado das ideias e o est ado das ideias pelo est ado social, pois encont r ou nas condições m at er iais de ( r e) pr odução da vida a or igem explicat iva do est ado social. Cont ra um a concepção idealist a da hist ór ia, Mar x e Engels ( 2007) m en-cionam que “ Não se t rat a, [ …] de explicar a pr áxis a par t ir da ideia, m as de explicar as for m ações ideológicas a par t ir da pr áxis m at er ial” ( MARX; ENGELS, 2007, p. 66) . As considerações r ealizadas r efer em - se ao fat o dos ideólogos t om ar em a consciência ( ent endida com o r epr esent ações, conceit os, pensam ent os) com o aut ônom a e com o gr ilhões da sociedade. Nesse sent ido, a lut a dos hom ens const it uir ia apenas com o um a lut a cont ra as ilusões da consciência.

Chauí ( 1980) adver t e:

A hist ór ia é a hist ór ia do m odo r eal com o os hom ens r eais pr oduzem suas condições r eais de exist ência. É a hist or ia do m odo com o se r epr oduzem a si m esm o [ ...] com o pr oduzem e r epr oduzem suas r elações sociais [ ...] . É t am bém hist ór ia do m odo com o os hom ens int er pr et am t odas essas r elações, sej a num a int er pr et ação im aginár ia, com o na ideologia, sej a num a int er pr et ação r eal, pelo conhecim ent o da hist ór ia que pr oduziu ou pr oduz t ais r elações ( CHAUÍ , 1980, p. 47) .

Por t ant o, t oda r elação social deve ser ent endida em sua hist or icidade, consi-derando o desenvolvim ent o hist ór ico e sua t ransfor m ação, o que incluí o m odo com o os hom ens int er pr et am racional e afet ivam ent e essas r elações. Considerar t ant o as condições m at eriais de reprodução da vida, com o t am bém a consciência que os hom ens possuem delas é fundam ent al para não pr oduzir nem um conhecim ent o cient ífi co ide-alist a, nem um conhecim ent o cient ifi co r eduzido ao econom icism o vulgar. Considerar as condições m at er iais e a consciência é fundam ent al para conhecer a concr et ude das r elações sociais de um a época.

Cont udo, não se pode per der de vist a que a consciência - que t am bém é con-cr et ude - , não é da m esm a nat ur eza que as condições m at er iais de r epr odução da vida, e que o cont eúdo daquela é condicionada por est a. Adver t im os, por t ant o, que ao discut ir m os a hist or icidade das r elações sociais, est am os aler t ando para a seguint e quest ão: as coisas passaram de t al m aneira e não de out ra em função da concr et ude das r elações sociais, que encont ra sua or igem nas condições m at er iais de ( r e) pr odu-ção da espécie hum ana, e que conhecer a concr et ude dessas r elações envolve t or nar obj et o da ciência t ant o as condições m at er iais quant o o que pensam e sent em os hom ens e m ulher es de det er m inada época. Far ia ( 2007, p. 17) m enciona que “ r esul-t anesul-t e da r elação enesul-t r e a m aesul-t ér ia e a consciência” é a pr áesul-t ica social; desesul-t acam os que est a som ent e é o que est á sendo. Eis a concr et ude da qual a ciência deve se ocupar.

Quant o à possibilidade de conhecer o concret o, Faria ( 2007) alert a que a ciência é “ pr oduzida pelos suj eit os” que est ão condicionados pela m at er ialidade- hist ór ica em que vivem ; dest e m odo, o m undo é r elat ivam ent e cognoscível. Concor dam os com o esse aut or, sobr et udo, em vir t ude de que as delim it ações são sem pr e pr oposições de um t odo- do- pensam ent o que não devem pr et ender subst it uir as pr át icas concr et as, com o assevera Mar x em Cont r ibuição à cr ít ica da econom ia polít ica ( 1996) .

Em Mar x ( 1996) , a t ot alidade é um a das cat egor ias fundant es do m ét odo de com preensão racional da realidade. Porém , diferent e da cat egoria fi losófi ca hegeliana, a t ot alidade não se m anifest a no desdobram ent o do int elect o uno r um o ao encont r o de si, m as na lim it ação cognoscível hum ana de apr eender as r elações sociais em suas m últ iplas det erm inações e desdobram ent os cont radit órios. Nest e sent ido, a t ot alidade é sem pr e um t odo- pensado, um a abst ração lim it ada do r eal, no qual o uno é o r esul-t ado de m úlesul-t iplas deesul-t er m inações, de m odo que a concr eesul-t ude das r elações sociais é um m ovim ent o cont radit ór io de t ot alizações.

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Mar x ( 1996) , a t ot alidade é una por ser o t odo do concr et o pensado das m ult iplici-dades do r eal ( de seus encadeam ent os) . Par t e- se do que “ se ofer ece” à obser vação, para per cor r er o pr ocesso cont radit ór io da const it uição r eal do que é m ais im ediat o e at ingir o concr et o “ com o um sist em a de m ediações e de r elações cada vez m ais com plexas e que nunca est ão dadas às obser vações” ( CHAUÍ , 1990, p. 48) . Dest e m odo, “ [ o] concr et o é concr et o por que é a sínt ese de m uit as det er m inações, ist o é, unidade do diver so” ( MARX, 1996, p. 39) .

A t ot alidade, por t ant o, não r evela em si e por si as ver dades essenciais do r eal, pois para Mar x ( 1996) , a ver dade não est á nem no pensam ent o ( no abst rat o) nem na coisa em si, m as nas r elações ent r e um a e out ra, na pr áx is das r elações sociais. Assim , ao discut ir a t ot alidade, out ra im por t ant e cat egor ia pr ecisa ser m encionada, t rat a- se da m ediação, pois com o apr esent ado, o t odo pensado não é apr eendido de im ediat o. A est r ut ura da coisa em seu pr ocesso de t ot alização efet ua- se por m edia-ções ( caso não fosse assim , pr escindir íam os da ciência) . A t ot alidade é um m om ent o, ex pr esso no t odo- pensado, do m ov im ent o de t ot alização e r elat ivam ent e cognoscível. Adem ais, a t ot alidade é cont radit ór ia, ist o é, a t ot alidade é a est r ut ura signifi cat iva abst rat a do m ov im ent o hist ór ico das pr át icas sociais de afi r m ação ( t ese) e de ne-gação ( ant ít ese) . Pensam os não ser necessár io alongar a discussão do desenvolv i-m ent o hist ór ico da pr ópr ia dialét ica, que t eve seus pr ii-m eir os pensador es ainda na Ant iguidade. Mas, m encionam os que as r efl ex ões de Hegel foram im por t ant íssim as para o desenvolv im ent o da dialét ica m at er ialist a, pois, de Hegel, “ Mar x conser va o conceit o de dialét ica com o m ov im ent o int er no de pr odução da r ealidade cuj o m ot or é a cont radição” ( CHAUI , 1980, p. 46) . Para Mar x ( 1996) , por ém , a cont radição não é do Espír it o ( Geist ) consigo m esm o, m as ent r e hom ens r eais em condições hist ór icas e sociais r eais.

Ressalt am os que, em Mar x, a cont radição se “ est abelece ent r e hom ens r eais em condições hist ór icas e sociais r eais e se cham a lut a de classes” ( CHAUI , 1980, p. 47) , sendo dela que der ivam os conceit os e suas validades; per cor r ê- la, por t ant o, é o cam inho que deve per seguir um cient ist a com pr om et ido com a necessidade hist ór ica de t ranscendência da aut oalienação do t rabalho.

Classes Sociais em Marx: por uma

leitura “despositivizante”

Das cat egor ias legadas pelos est udos de Mar x, classes sociais é, seguram ent e, um a das que m ais r enderam cont r ovér sias. O sent ido do uso de classes sociais por Mar x não pode ser apr eendido devidam ent e quando não se est á cient e da concepção ont ogenét ica da sociabilidade capit alist a que est e considerava. A seguir r evisar em os, m uit o resum idam ent e, um conj unt o básico de form ulações a respeit o da ont ologia social pr opost a pelo aut or ( para com ent ár ios m uit o m ais balizados quant o aos fundam ent os ont ogenét icos em Mar x, confer ir Lukács, 2010 e Mészár os, 2006) .

Para Mar x ( 2006) , o hom em ( aqui e doravant e no sent ido de hom o sapiens

sa-piens) se dist ingue de out ras espécies que habit am o planet a em virt ude de consciência

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pr odução dist r ibuídos ent r e difer ent es agent es) que, por sua vez, possibilit ou o capi-t alism o1, cr iando um conj unt o sist êm ico de const ant es ant r opológicas que som ent e

são possíveis em vir t ude de haver um grande est rat o hum ano que apenas consegue ( r e) pr oduzir sua exist ência à m edida que em pr ega sua capacidade de at ividade para valor izar os valor es possuídos por out r em - est rat o pequeno de grandes pr opr iet ár ios de valor es. Eis por que classes sociais são condição necessár ia do capit alism o, por que condição sine qua non.

Um a difi culdade quant o ao uso da cat egor ia de classes sociais em Mar x é a de que sua int erpret ação é m óvel de lut a polít ica. Se, por um lado, Marx est ipulou pressu-post os sociológicos clar os a r espeit o - concor dam os com Hirano ( 1974, p. 78) quando est e afi r m a que, para Mar x, sem dúvida, “ a classe é um a det er m inação de um a dada for m ação social, num dado m om ent o hist ór ico e num dado t ipo de pr odução social” - , por out r o, é ver dade que o cont eúdo pr át ico ( no sent ido de pr át ica sociológica) a ser r elacionado a seus t er m os não est á de t odo dado aí, e é obj et o de int ensa polêm ica t ant o ent r e os m ar xist as com o ent r e seus cr ít icos, pois o que est á em j ogo, em geral, é m uit o m ais que int enções exclusivam ent e exegét icas. É sem pret ensão de apolit ism o que discut ir em os, a seguir, a cat egor ia de classes sociais.

Classes sociais

At é a década de 1960, segundo Gurvit ch ( 1996, p. 11) , poucos aut ores negavam “ a exist ência das classes sociais na sociedade cont em por ânea ou a lut a das classes ent re si”. Mas, ao fi nal daquela década, um ciclo de confl it os polít icos em diversos países fundam ent ou um m ar co a par t ir do qual se passou a debat er a exist ência ou não das classes. Alguns decr et aram o fi m ou m or t e das classes ( GORZ, 1982) , e, desde ent ão, vár ios ar gum ent os foram elaborados para cor r oborar a cer t idão de óbit o pr opost a por alguns int elect uais. Por out r o lado, concor r ia um a r epr esent ação ext r em ist a de um a sociedade dividida em duas classes fi xas e inalt eradas ao longo da hist ória, sust ent ada, em grande par t e, em um a leit ura um t ant o quant o sim plist a dos escr it os de Mar x e Engels, que super est im ava o sent ido hist ór ico do Manifest o Com unist a, um panfl et o dest inado a discut ir a conj unt ura eur opéia de 1848, e não a de 1968.

Mar x elabor ou r efl exões sobr e as classes sociais em escr it os com o A ideologia

alem ã e A m isér ia da fi losofi a, e t am bém em As lut as de classe em Fr ança e O 18 do Br um ár io de Louis Bonapar t e . Os dois últ im os são exem plos de m anifest ações

his-t ór icas par his-t icular es das classes sociais em suas m úlhis-t iplas dehis-t er m inações. São nessas obras que Mar x apr esent a t er m os com o fr ação de classe, classe de t r ansição, m assa

indefi nida e desint egr ada, facções, set or es, pequena bur guesia, lum pem - pr olet ar iat

et c. Por sua vez, ao discut ir a r epr odução sim ples em O Capit al ( 1996) , r um ou a um m aior grau de generalização, por est ar t rat ando- o no âm bit o const it ut ivo do pr ocesso de pr odução e r epr odução do capit al “ e não da for m ação hist ór ica” par t icular ( I ASI , 2006, p. 56) , ou com o afi r m a Mészár os ( 2002) , por se t rat ar da análise do capit al e não do capit alism o.

Em seus est udos t eór icos, Mar x dem onst rava seus ar gum ent os pr ocedendo at ravés de abst rações que não cor r espondiam às m anifest ações par t icular es do pr o-cesso hist ór ico t al com o vivenciado por seus agent es ( franceses, ingleses, it alianos, alem ãs) - coisa da qual m uit os de seus leit or es descuidaram - ou sej a, de m odo al-gum est á em debat e o at om ism o ou o individualism o m et odológico. Assim , ao defi nir sint et icam ent e o bur guês com o det ent or dos m eios de pr odução e o pr olet ár io com o

1 Enquant o condição necessária, m as não sufi cient e por si, convém frisar. I nfelizm ent e, esse é um debat e

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aquele que t em por única pr opr iedade sua for ça de t rabalho, est am os operando num alt o grau de abst ração que, por sua vez, é possibilit ado e det er m inado pela est r ut ura social r eguladora das pr át icas pr odut ivas e dist r ibut ivas; m as nada est am os a dizer sobr e com o agem concr et am ent e num a det er m inada conj unt ura os m uit os pr olet ár ios e os poucos bur gueses, m enos ainda, est am os afi r m ando que est a ou aquela classe, de for m a det er m inist a, ser á isso ou aquilo.

Além do m ais, não se busca at ingir um “ conceit o essencial” ( essencialism o) , pois defende- se que nenhum a classe “ é um ser fi xo e dado de um a só vez” ( I ASI , 2006, p. 17) . Por out r o lado, é im por t ant e t er clar o, ainda, que não se pode pr et ender inst it uir a classe à r evelia de seus pr ópr ios agent es, aler t a de I asi ( 2006) bast ant e opor t uno. O fat o de, no capit alism o, ser em , ir r em ediavelm ent e, necessár ios alguns padr ões de m ediações que confi guram classes, não aut or iza supor que a com plexidade dessas relações sociais possam ser, de m aneira adequada, subsum idas a um esforço cognit ivo2.

A j ulgar pelo est udo de Hirano ( 1974) , que analisou, sist em at icam ent e, as obras em que Mar x discut e classes sociais, podem os concluir, de for m a sucint a, que, para esse aut or, exist em t r ês fat or es básicos que const it uem as classes: a) a est r ut uração econôm ica, b) os confl it os que se desenvolvem no cam po polít ico de acor do com dist int os int er esses cont ingent es e necessár ios das classes e c) a consciência desses int er esses, que são t ant o const it uint es quant o const it uídos pelos e nos em bat es ent r e as classes. Adem ais, é im por t ant e considerar que

As classes não se defi nem apenas pela posição obj et iva no seio de cer t as r elações de pr odução e de for m as de pr opr iedade, m as na concepção de Mar x, as classes se for m am e se const r oem em per m anent e m ovim ent o de negação, ora com o indiví-duos subm et idos à concor r ência, ora com o ór gãos vivos do capit al em seu pr ocesso de valor ização, ora com o per sonifi cação de int er esses de classes em lut a, ora com o aspect os subj et ivos da cont radição hist órica ent re a necessidade de m udar as relações sociais e a det er m inação das classes dom inant es em m ant ê- las ( I ASI , 2006, p. 17) .

At ent ar para os difer ent es m om ent os de m anifest ação da const it uição do ser

-classe e para a het er ogeneidade do m esm o não im plica, necessar iam ent e, conceder

ao desej o discur sivo do fi m das classes, t am pouco, concor dar com pr oposições de est rat ifi cação que se exim em de discut ir caract eríst icas est rut urais das relações sociais ( com o o fazem cer t os m odelos de est rat ifi cação por r enda, por consum o, por cat ego-r ia pego-r ofi ssional et c.) . Com o afi ego-r m a Faego-r ia ( 2004, p. 64) , “ não é o saláego-r io que defi ne a classe oper ár ia, pois o salár io é apenas um a for m a de dist r ibuição do pr odut o social, abrangendo as r elações de m er cado e as for m as de cont rat o de com pra e venda de for ça de t rabalho”. Considerar o que se cham a de “ m er cado de t rabalho” com o pa-r âm et pa-r o papa-ra defi nições das classes é não pepa-r cebepa-r que a ppa-r óppa-r ia het epa-r ogeneidade que caract er iza as r elações sociais nesse m er cado é det er m inada pela alienação do t rabalho obj et ivado com o t am bém a det er m ina, segundo r elações r ecípr ocas; é não per ceber que as for m as pelas quais se m anifest am a com pra e a venda do t rabalho det er m inam e são det er m inadas pela m anifest ação de classes em lut a.

O ser - classe é det er m inado m ult iplam ent e em vir t ude das r elações ent r e pr o-pr iedade e t rabalho. Em det er m inados m om ent os hist ór icos, o ser das classes m ani-fest a- se enquant o em bat e polít ico, quando os int er esses cont ingent es e os int er esses necessár ios da classe t rabalhadora e da classe bur guesa, r espect ivam ent e, t encionam alt erações na for m a de cont r ole do sociom et abolism o do capit al - eis os m om ent os em que as classes encont ram - se t ravando um a lut a de classes aber t a. Em out r os m o-m ent os, a classe parece est ar ausent e das relações sociais; t odavia, nesses o-m oo-m ent os em que o ser - classe- do- t r abalho est á subsum ido aos im perat ivos de acum ulação de

2 Por exem plo, quant o aos cr it ér ios obj et ivos que per m it em gener alização e abst r ação do ser - classe,

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capit al, pode- se per ceber as r elações ent r e as classes nas det er m inações cot idianas da vida social; por exem plo, são r elações que condicionam os indivíduos a m ant er em -se em concor r ência com out r os hom ens da m esm a clas-se. Essa fragm ent ação que, em m om ent os de concessão ao capit al, cr ia cisões int raclasse, pode t am bém at uar em seu devir com o elos de ident ifi cação de classe. O que est am os quer endo dizer é que, em vir t ude de int er esses cont ingent es ( com o r eaj ust e salar ial ou out r os) , a m o-bilização polít ica em pr ol dest es pode vir a possibilit ar o t ensionam ent o das r elações est abelecidas ent r e as classes sociais, desnat uralizando est r ut uras sociais e cr iando possibilidades da ident ifi cação com o t odo ant agônico da r elação capit al- t rabalho. A r upt ura com o que se pode cham ar lógica de ( r e) pr odução do sociom et abolism o do capit al passa por est ranhar, cr it icam ent e, o conj unt o de “ leis” que nos são im post as com o st at us de “ leis nat urais”, e t al é um pr ocesso de subj et ivação.

Salvo, t alvez, para os cr ent es na ont ologia social liberal, esse est ranham ent o não pode se aut opr oduzir m ist er iosam ent e no indivíduo; é um pr ocesso colet ivo. Por isso, est udiosos m ar xist as das classes sociais, com o Ant unes ( 1999) , Mészár os ( 2002) , Alves ( 2005) ou I asi ( 2006) sublinham as or ganizações m ediadoras ( sej am est as sindicat os, par t idos, m ovim ent os sociais et c.) enquant o lócus onde se efet iva a pr áxis do ser - classe, ou sej a, de m obilização de int er esses cont ingent es e neces-sár ios, pois, em sum a, o pr ocesso de desenvolvim ent o de um a consciência da classe

t r abalhador a est á, inexoravelm ent e, ligado à int encionalidade das ações e seu car át er

de gr upo. Aqui encont ram o- nos diant e de um a pr oblem át ica cara ao debat e m ar xis-t a: a subj exis-t ividade, que nesxis-t a xis-t radição cosxis-t um a ser discuxis-t ida enquanxis-t o pr oblem a de

consciência de classe.

Durant e m uit o t em po, a leit ura posit iv ist a dos escr it os de Mar x sot er r ou a discussão da subj et ividade, t rat ando- a com o aspect o não im por t ant e dos fenôm enos sociais. At é a década de 1950 ou 1960, poucos est udos de inspiração m ar xist a haviam se ocupado ser iam ent e de quest ões sobr e a subj et ividade. Um a vult uosa exceção foi

Hist ór ia e consciência de classe, de Györ gy Lukács, publicado em 1923. E m esm o

após os anos 1960, a or t odoxia do “ m ar xism o ofi cial” dos par t idos com unist as de out r ora m ant inha a discussão da subj et ividade apar t ada da cr ít ica ao capit alism o; no debat e quant o à consciência de classe não havia m uit a coisa a debat er - cada classe t inha um a consciência pr ópr ia e se est a não est ava se m anifest ando “ cor r et am ent e”, t rat ava- se apenas de “ desper t á- la” e pont o fi nal. Na cont ram ão desse ent endim ent o, I asi ( 2006) ar gum ent a cont ra a consciência com o essência, sej a lat ent e ou m anifes-t a, e anifes-t am bém duvida que a classe enconanifes-t ra- se insanifes-t ianifes-t uída à r evelia dos seus pr ópr ios agent es. Vej am os.

“As metamorfoses da consciência de classe”

Tal é o t ít ulo do est udo de I asi ( 2006) que se dedica j ust am ent e a t raçar r ot as de um a t eoria m arxist a da subj et ividade. Nele, seu aut or reafi rm a as considerações de Mar x e Engels r ealizadas na A ideologia alem ã a r espeit o da consciência de classe não poder ser com pr eendida sem apr eender m os com o as classes est ão m anifest ando- se concret am ent e, pois nenhum a classe é “ port adora m et afísica de um a ‘m issão hist órica’” ( I ASI , 2006, p. 26) , bem com o a consciência de classe não “ r eside” no indivíduo ou na sociedade - essa polar ização t ão equivocada quant o r ecor r ent e - , m as num conj unt o de “ m ediações que ligam as det er m inações par t icular es e genér icas do ser social” ( I ASI , 2006, p. 25) . Tem os em j ogo aí um ser social cuj a unidade de est rat ifi cação é um a classe. O que I asi quer dizer com ist o?

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cada pat am ar colet ivo obj et ivado. O ser e a consciência da classe, por t ant o, est ão m ais no pr ocesso de “ t ot alização” do que na “ t ot alidade” enquant o pr odut o [ …] pois aqui t am bém o pr odut o cost um a esconder o pr ocesso ( I ASI , 2006, p. 75) .

Dir íam os, por conseguint e, que o ser social é as r elações que os agent es prat icam , os m ovim ent os que m edeiam t raj et ór ias de indivíduos e de colet ivos - as “ m ediações que ligam ”, r efer idas há pouco. A classe é unidade sociológica pr ivilegiada para se apr eender os m ovim ent os do ser social, por que é ir r edut ível ao indivíduo ou à sociedade ( sej a lá o que signifi quem essas noções...) . A classe só exist e enquant o m ediação a ligar. E, no capit alism o, exist e enquant o necessár ia e enquant o m ediações cont ingent es. Reconhecer- se com o classe é condição m esm a de exist ir a classe, sendo que negá- la é j á r econhecer que ela exist e, por que nega que as r elações hom ológicas confi gur em um a classe ( m as o que ser ia um a classe, do pont o de vist a conceit ual, senão r elações de hom ologia?) .

Para const r uir um a com pr eensão da dialét ica da ( r e) pr odução subj et iva do ser

-classe, I asi ( 2006) m obiliza pr oposições de Fr eud, Elias e Sar t r e sem pr e dialogando

com Mar x. Vej am os isso em algum por m enor.

A “pr im e ir a for m a de con sciê n cia ” e a s “cá psu la s de in div idu a lida de ”

I asi m obiliza Fr eud por que est á int r igado sobr e “ com o se dá a t ransfor m ação das r elações sociais em funções psicológicas” ( I ASI , 2006, p. 134) . Fr eud desenvol-veu um a fam osa noção de dialét ica psíquica - cuj o vet or de r ealização é concebido em t er m os da t r íade id- ego- super ego - que I asi ( 2006) j ulga per t inent e à quest ão. O ar gum ent o, basicam ent e, é o de que pr ocesso da dialét ica psíquica inaugura um a pr im eira for m a de consciência, que se inst it ui m ediada por r elações de afet ividade vivenciadas por um neófi t o ainda incapaz de racionalizar sobr e o m undo que o cer ca. É a fam ília3 que const it ui o pr im eir o lócus m ediador por via do qual se dá a pr im eira

int er nalização do m undo ext er ior, a m ais fundam ent al para a sedim ent ação da psi-que. Est a pr im eira for m a de consciência é o que se m anifest a socialm ent e enquant o aquilo que cost um am os r efer ir por senso com um . A pr im eira for m a de consciência é pr é- ideológica, é m ais um a est r ut uração das possibilidades de pensar do que os pen-sam ent os pr opr iam ent e dit os. ( A r upt ura subver siva da or dem não se pr oduz apenas com bons discur sos, por t ant o.)

Essa quest ão da conver são da or dem social em valor es subj et ivos r em et e I asi ( 2006) a considerar os est udos de Elias, que se dedicou j ust am ent e a est udar pr o-blem as sociológicos im plicados em um a r elação ent r e est r ut uras sociais e est r ut uras de per sonalidade. Elias, em A sociedade dos indivíduos ( 1994) , com ent a a pr odução hist ór ica do ser social par t icular que conhecem os por indivíduo4. Para ele, o

dualis-m o sociedade- indivíduo decor r e da codualis-m pr eensão dat ada da dist inção do hodualis-m edualis-m edualis-m corpo- m ent e, possível graças ao processo de diferenciação das funções sociais ( divisão social do t rabalho) caract er izado por cr escent e com plexifi cação da int er dependência e debilit ação dos laços gr upais. Nest e desenvolvim ent o hist ór ico, o cont r ole social é int er nalizado com o aut ocont r ole e com o r epr essão dos im pulsos ( a dom inação é subj et ivada com o car ga afet iva) , visando opor t unizar um a r ealização do ideal de ego. O ideal de ego est á r elacionado ao pr ocesso hist ór ico de individualização, em vir t ude do qual o hom em deve exper im ent ar- se enquant o algo dist int o e independent e do seu gr upo, sendo esse pr ocesso de aut onom ização e difer enciação um a r ealização socialm ent e exigida. Devido ao pr ocesso de especialização não opor t unizar a t odos as m esm as possibilidades de r ealização, em er gem t ensões.

3 Convém fr isar as lim it ações da concepção de fam ília que Fr eud consider a - núcleo bur guês “ t r

adicio-nal” , com post o por pai, m ãe e pr ole. Hodier nam ent e, encont r am - se um a m ult iplicidade de for m as de confi gur ação fam iliar que dem onst r am não ser a fam ília bur guesa “ a” fam ília. Cont udo, cr em os que essa lim it ação não alt er a o sent ido do ar gum ent o de Fr eud, que é o de indicar o papel “ socializador ” do gr upo pr óxim o com que o neófi t o convive r egular m ent e em seus pr im eir os anos de vida.

4 O t em a é ext r em am ent e pr ofícuo em Elias, de m aneir a que não consider ar em os com m aior det alhe

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Out r o desdobram ent o da exigência de aut ocont r ole, que se int ensifi cou com o pr ocesso de divisão social do t rabalho, foi r efer ent e ao fat o de, se, por um lado, o indivíduo deve aut onom izar- se crescent em ent e, por out ro, seu grau de int erdependên-cia soerdependên-cial com plexifi cou- se e sua ident idade- nós esm aeceu, o que exige, por sua vez, m ais r eposição de aut ocont r ole. De m odo que, hodier nam ent e, assevera Elias ( 1994) , pr oduzem - se indivíduos encapsulados - no m om ent o hist ór ico em que vivem os, a for m a pr eponderant e de ser- e- est ar no m undo é a das cápsulas de individualidade. I asi ( 2006) indica que essa for m a par t icular de ser- e- est ar é generalizada pelas “ en-gr enagens do capit al” ao longo de um pr ocesso no qual a generalidade do ser social par t icular iza- se e a par t icular idade univer saliza- se. “A individualização do ser social é um a pr é- condição para que os livr es vendedor es de t rabalho se apr esent em ao m er cado, assim com o é essencial para a for m a pr ivada de apr opr iação dos m eios de pr odução” ( I ASI , 2006, p. 195) . Por isso, na sociedade das cápsulas de individuali-dade, “ a consciência im ediat a só pode assum ir a for m a de consciência do eu” ( I ASI , 2006, p. 207) , e um “ eu” que t ender á a ( r e) pr oduzir, cont inuam ent e, os par âm et r os da pr im eira for m a de consciência. O que pode par ecer paradoxal, m as som ent e à pr im eira vist a, é que a ( r e) pr odução social da consciência encapsulada na for m a do “ eu” não t em out ra m aneira de se pr ocessar senão colet ivam ent e.

I asi ( 2006) liga à sit uação de cápsulas de individualidade evidenciada por Elias a pr oposição de Sar t r e sobr e a ser ialidade, conceit o que denom ina um a confi guração da divisão social do t rabalho caract er izada por um a “ pluralidade de solidões” na qual est am os “ r eunidos, m as não int egrados” ( SARTRE, 1979 apud I ASI , 2006, p. 215) . Mas, na busca pela r ealização dos pr oj et os de vida const it uídos por via da r elação subj et iva do indivíduo com a obj et ividade alienada, há, t am bém , possibilidade do r om pim ent o com a pr im eira for m a de consciência desde o m om ent o em que foram int r oj et ados os valor es t ípicos da sit uação de ser ialidade. Est a é a possibilidade de um a cr ise na ( r e) pr odução subj et iva do senso com um , um a “ não- cor r espondência ent r e a ant iga visão de m undo e o m undo r eal em m ovim ent o” ( I ASI , 2006, p. 231) . Ora, se a sit uação de consciência encapsulada e ser iada pr ovém da int er nalização das r elações sociais obj et ivas, a inser ção em novas r elações sociais acar r et ar á novas int er nalizações, de qualidade difer ent e. E, se o pr ocesso sociom et abólico só se r ealiza enquant o m ediação pela via dos gr upos im ediat os, são est es os lócis fundam ent ais de consum ação de algum a r upt ura subver siva do senso com um , pois operam enquant o m ediações fundam ent ais de r ealização da obj et ividade.

Pr oce sso de t ot a liz a çã o m e dia do pe los gr u pos

Na sit uação de gr upo, o “ ser social t ransfor m ado em indivíduo vive [ …] a expe-r iência de se dissolveexpe-r novam ent e em seexpe-r social e, nest e pexpe-r ocesso, não poexpe-r acaso, os elem ent os de um a cer t a or dem de r elações sociais que funcionavam com o im posições r est r it ivas int er nalizadas se fragilizam ” ( I ASI , 2006, p. 271) , pois o gr upo “ apaga m o-m ent aneao-m ent e os t raços dist int ivos do indivíduo e pero-m it e ao ser social expressar- se [ …] int egrado com o os dem ais e não em r elação de r ivalidade com pet it iva” ( I ASI , 2006, p. 280) . Cont udo, a sit uação de gr upo não é, necessar iam ent e, sinônim o de livr e pr áxis. Há de se difer enciar gr upos de or ganizações e inst it uições. Gr upo é aquilo que est á ao nível da copr esença, da vida cot idiana, que é r egida por inst it uições; e, ent r e elas e os gr upos, a m ediação é operada pela for m a or ganizações, sendo que “ a int er dependência dos níveis assum e um car át er de r epr odução inst it ucional” ( I ASI , 2006, p. 283) .

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Figu r a 1 - Pr oce sso D ia lé t ico de Tot a liz a çã o M e dia do pe los Gr u pos

Font e: FERRAZ ( 2010)

A individualidade negada ( a im possibilidade da r epr odução do indivíduo ser ial) é o pont o que per m it e o devir da ident ifi cação posit iva com out r os indivíduos, cuj as possibilidades da ( re) produção da individualidade seriada t am bém est á sendo negada. O fat or que age na t ransfor m ação do colet ivo ser ial em gr upo é a “ im possibilidade da im possibilidade” que at ua em algum pont o essencial à ( r e) pr odução da vida, ou sej a, em algum m om ent o, a vida encont ra- se ser iam ent e am eaçada e a im possibilidade de alt erar a im possibilidade de viver leva os indivíduos r om pidos a cr iar em lócus de

práxis livre: t em - se o princípio do m ovim ent o rum o à fusão do grupo. O que det erm ina

a cont inuidade do m ovim ent o é a const it uição de r elações de int er dependência ent r e os m em br os do gr upo para a sust ent ação da coesão int er na cont ra o ext er no, sendo a coesão sust ent ada por aquilo que é colet ivam ent e negado. Com a int enção de se m ant er em negação, o gr upo em fusão elabora, ainda que não for m al e sist em at ica-m ent e, seu est at ut o enquant o poder difuso de j urisdição, o qual é, por Sart re, chaica-m ado de “ j uram ent o”. O est at ut o t ende a dem onst rar para os m em br os do gr upo que, por m eio da r ecipr ocidade da int er dependência ent r e eles, o m ovim ent o de negação da ser ialidade ( e suas r espect ivas possibilidades de novas pr áxis) pode per pet uar- se.

Se o gr upo j uram ent ado inst it uiu- se pelo est abelecim ent o de um est at ut o que o pr eser va enquant o gr upo em r elação à am eaça ext er na, qualquer negação desse est at ut o dent r o do gr upo cr ia um inim igo int er no - é o m ovim ent o da frat er nidade-t error. Esnidade-t e carrega consigo a am eaça im inennidade-t e da desagregação ao m esm o nidade-t em po em que int ensifi ca a frat er nidade r ecípr oca ent r e os m em br os. O inim igo int er no cum pr e a função de m ant er a t ensão no m ovim ent o r um o à t ot alidade. Esse t ensionam ent o pode t ant o levar à desagr egação e, por consequência, à volt a à ser ialidade, quant o à defi nição de pr áxis per m anent es, ou sej a, à for m alização do j uram ent o, ent endida enquant o especialização das funções e dist r ibuição de t ar efas; t em os, assim , depois do m om ent o da frat er nidade- t er r or, o gr upo or ganizado.

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est ranham ent o, eis o indivíduo- m em bro t ransform ado em indivíduo- inst it ucionalizado. O m ovim ent o do grupo t om a form a, nest e m om ent o, com o um a organização burocrát ica. I asi ( 2006) dest aca que Sart re vê aí o fi m do m ovim ent o sendo im post o pela negação da negação, ou sej a, pela criação de um a nova serialidade.

As alt erações subj et ivas que ocorrem nos indivíduos produzem obj et ivam ent e um a nova subjetividade; jam ais voltam os a ser o que éram os, contudo, ser algo com pletam ente diferent e pressupõe a criação de condições m at eriais t ot alm ent e novas, t arefa que t em os difi culdade de efet ivar, pois a superação dialét ica não é um recom eçar part indo do nada, m as de obj et ividades e subj et ividades j á apreendidas e, na m aioria das vezes, apreen-didas com o nat urais. Dest e m odo, a superação das cont radições pressupõe m ovim ent os concom it ant es de dest ruição do ant igo e const rução do novo. Quando os indivíduos seriais const roem com o novo a serialidade da organização burocrát ica, t em os a volt a da serialidade, m as não o fecham ent o de um ciclo, pois o m ovim ent o ocorre seguindo um curso espiral. Sob esse m ovim ent o, percebem os que a negação da negação possui duas possibilidades de m ovim ent o, quais sej am : avançar na progressividade, quando o grupo ident ifi ca- se com algum a classe, que t ranscende a im ediat icidade da sit uação de grupo; ou, regressar na progressividade, quando a serialidade da organização burocrát ica t orna-se perm anent e, coincidindo o processo de obj et ivação com o de alienação.

Segundo I asi ( 2006) , o que possibilit a o avanço na pr ogr essividade é a per-cepção dos m em br os do gr upo de que o com plexo das cont radições em que est ão envolvidos vai além do aut oint er esse ou dos int er esses im ediat os do gr upo, pois se t rat a das cont radições essenciais do cont r ole ant agônico do m et abolism o social. São as cont radições que pr oduzem a im possibilidade da im possibilidade de r epr odução da vida hum ana enquant o espécie, per m it indo a const it uição da consciência de classe necessár ia, a const it uição do gr upo hegem ônico dinâm ico com o a nova negação da ser ialidade pela com pr eensão do com plexo de cont radições - o m ovim ent o de classe em si e para si, a possibilidade de alt erar as inst it uições das form as inst it uint es. Porque nossa consciência t em por base fundam ent al nossa pr im eira for m a de consciência, não r om pem os em defi nit ivo com os valor es, nor m as do capit al, um a vez que, com o dest aca o aut or, cam inham os “ dent r o da or dem do capit al, ant es de ser cont ra ela e iniciar nossos passos além dela” ( I ASI , 2006, p. 353) .

A seguir, dem onst rar em os o pot encial de análise pr opiciado por t al paradigm a sobr e o pr ocesso de t ot alização m ediado pelos gr upos, analisando, sum ar iam ent e, a const it uição do Movim ent o dos Trabalhador es Desem pr egados enquant o pr ocesso de r upt ura com a ser ialidade e fusão do gr upo, m ovim ent os que cor r espondem aos pr im eir os est ágios do pr ocesso ilust rado sob a Figura 1.

De Desempregados-Assistidos à Movimento

dos Trabalhadores Desempregados

Para ilust rar m os o r om pim ent o com a ser ialidade e a for m ação de um gr upo de desem pregados crít icos da subm issão do t rabalho ao capit al, necessit am os considerar, m esm o que bast ant e sum ar iam ent e, a conj unt ura da década de 1990, que iniciou, no RS, sob os auspícios de graves cr ises econôm icas em vir t ude de alt erações cam biais que depr im iram as expor t ações.

A est abilidade econôm ica obt ida na pr im eira m et ade da década de 1990, via cont r ole da infl ação e par idade do Real com o Dólar Am er icano, causava, por um lado, a sensação de que o Brasil fi nalm ent e “ acer t ava o passo”, por out r o, induzia inst a-bilidades no set or das expor t ações. Est e é um dos fat or es que com põem a aber t ura acelerada da econom ia brasileira a par t ir do início da década e que condicionou sua cr ise, não est ando o Rio Grande do Sul a salvo5. A balança com er cial do est ado sofr eu

5 Segundo Mat t os ( 1998) , o Rio Gr ande do Sul vê am eaçada sua posição de est ado econom icam ent e

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oscilações em vir t ude da alt eração na r elação de com pet it ividade r esult ant e de um câm bio sobrevalorizado. Essa crise agrava a sit uação de desaceleração do crescim ent o do set or secundár io.

No per íodo de 1994 a 2004, event os im por t ant es ocor r eram na econom ia brasileira e gaúcha. [ …] cabe m encionar [ …] a r eest r ut uração da indúst r ia nacional em função da aber t ura com er cial, a sobr evalor ização do Real ( at é 1999) . Set or es com o o de calçados no RS, t iveram no fi nal da década de 90, um a das m aior es cr ises da sua hist ór ia. A indúst r ia de t ransfor m ação gaúcha com o um t odo est eve prat icam ent e est agnada no per íodo 1994 a 1996, com cr escim ent o m édio zer o ( KAPRON; LENGLER, 2006, p. 11- 12) .

Nos prim eiros anos da década de 1990, o poder execut ivo est adual encont rava- se sob o com ando do Part ido Dem ocrát ico Trabalhist a, na pessoa de Alceu Collares, m ais especifi cam ent e de 1991 a 1995. Em 1993, com a est abilidade da m oeda e a paridade do real, a classe capit alist a no RS, sobret udo os export adores, cont abilizou perdas. Um dos casos sint et izadores dessa crise é vivido pelo set or calçadist a, m as não é o único, a ele acrescent a- se o set or m et al- m ecânico. Muit as em presas faliram , e as que não en-cerraram suas at ividades, reest rut uraram - se adquirindo novos recursos t ecnológicos e dim inuindo seus quadros de t rabalhadores. Segundo Kapron e Lengler ( 2006) , som ent e no set or de calçadist a 33 m il ( m ais de 25% ) post os de t rabalho desapareceram - isso considerando apenas os t rabalhadores form ais, pois se sabe que nest e set or há ut ilização de m ão de obra inform al sob o m ant o do “ t rabalho em casa”. O invest im ent o necessário para t ais alt erações foi oport unizado via fom ent o est at al, sobret udo pelo Fundo Operação Em presa ( Fundopem ) . Por sua vez, esses expedient es de recuperação econôm ica não result aram em criação de novos post os de t rabalho em quant idade sufi cient e para at rair os que perderam o em prego nem para absorver os novos t rabalhadores que ingressaram em idade at iva, com o dem onst ra os indicadores de desem prego do período est udado.

Ser um indivíduo desem pregado possibilit a um a det erm inada subj et ivação dessa condição, especifi cam ent e, o t rabalhador per cebe que sua m er cador ia não t em m ais as qualidades necessár ias ao pr ocesso de pr odução e r epr odução do capit al, segundo det erm inadas especializações da divisão social do t rabalho que ainda necessit am est a-belecer cont rat os de com pra e venda da for ça de t rabalho segundo as r egras for m ais-legais. Assim , o car át er supérfl uo do t rabalho vivo é subj et ivado individualm ent e em vir t ude da não capacidade concr et a, do m odo de pr odução, de gerar um m er cado de t rabalho pleno e decent e ( segundo evidência os est udos da CEPAL, 2008) ; e, em um a sociedade de indivíduos encapsulados ( ELI AS, 1994) , o pr oblem a do desem -pr ego é um -pr oblem a social vivenciado individualm ent e. Cont udo, na per spect iva do sociom et abolism o do capit al, o conj unt o de t rabalhador es desem pr egados e sua for ça de t rabalho não são supérfl uas, pois eles são funcionais ao capit al m esm o quando est ão t em porar iam ent e sem exer cer algum t rabalho e na im inência de int r oduzir- se no exér cit o at ivo ( sendo super população fl uent e) ou t rabalhando na infor m alidade ( sej a com o exér cit o at ivo, sej a com o super população est agnada e ou consolidada) - confor m e discussões efet uadas por Fer raz e Menna- Bar r et o ( 2010) , sust ent adas nas r efl exões de Oliveira ( 2003) .

As at ividades laborais desenvolvidas pelos desem pr egados no set or infor m al da econom ia foi um a das form as encont radas pelos t rabalhadores da região m et ropolit ana de Port o Alegre que, na im possibilidade de prosseguir a venda da força de t rabalho por m eio da car t eira assinada, para sobr eviver em , passaram a fazer “ biscat es” e cont ar com auxílio de ent idades fi lant r ópicas, com o a Past oral Oper ár ia [ PO] .

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assist ent e diz: ‘m as não t á pr ecisando, t em at é dinheir o pra bat om ’. Aí se a gent e vai desaj eit ada, é cham ada de r elaxada, m as ganha a assist ência”.

A sit uação de “ t eat r o do desem pr egado” im plicava devir es de r esignação, de m aneira que os par t ícipes se encont raram em face de um cam po de possibilidades: negar o cam po iner t e - sit uação de assist ido e assist ent e - ou per pet uá- lo. Quant o aos desem pr egados, se, por um lado, as doações garant iam as condições de r epr odução biológica da vida, por out ro, os indivíduos assist idos, ao ( re) viverem sua “ t eat ralidade”, dest r uíam o que eles denom inam de “ ser gent e”. Essa dest r uição foi negada subj et iva e obj et ivam ent e por indivíduos assist idos que t om aram par t e no MTD. A negação da t eat ralidade, pr át ica social que m inim izava a pot encialidade dest r uidora da im possi-bilidade de alt erar a condição de desem pr egado, foi a obj et ivação que possibilit ou a cisão com a r epr odução do indivíduo- ser ial- desem pr egado- assist ido.

Já alguns m ilit ant es da PO, os assist ent es, debandaram em busca de out ro lócus de at uação, pois o que eles haviam subj et ivado acer ca das r elações sociais post uladas pela Teologia da Liber t ação, nas décadas pr ecedent es, ent rava em cont radição com a obj et ivação do t rabalho exigido pelos novos pr oj et os assist enciais da I gr ej a Cat ólica. A insat isfação desses m ilit ant es coadunou- se com indagações de alguns sindicalist as que podem ser r esum idas à fala de um dir igent e do sindicat o dos m et alúr gicos de um a cidade da r egião m et r opolit ana de Por t o Alegr e:

Aí o desem prego bat eu [ …] E agora? At é ont em vinha aqui com o em pregado, part icipava das lut as por aum ent o de salár io. E hoj e? Hoj e, aquele cara que foi m eu colega é um desem pr egado. Nós não sabíam os o que fazer com essa gent e t oda. Nós t ínham os as assist ências [ m édica e j ur ídica] , m as não era isso que eles pr ecisavam .

A negação das prát icas assist encialist as e as inquiet udes acerca do que fazer, im -pulsionaram m udanças na at uação de alguns m ilit ant es que se reuniram , em 1994, para discut ir o que era o desem prego para os desem pregados. Para t ant o, efet uaram um a pesquisa nos bairros periféricos de Port o Alegre e cidades adj acent es, na qual ent revist a-ram m ais de 2000 desem pregados. I nvest igaa-ram a percepção dos t rabalhadores acerca das origens do desem prego e inquiriram sobre a disposição do indivíduo de organizar- se para alt erar as condições em que viviam . Segundo a m ilit ant e Rosa, do MTD, as pessoas “ diziam que algum a coisa de concret o t inha que ser feit o. [ …] as pessoas est avam dis-post as ir para a lut a”. I niciou, assim , um processo de convergência para a ação ent re m ilit ant es insat isfeit os com as lim it ações de suas organizações e desem pregados; os prim eiros negavam a nova serialidade da inst it uição- burocrát ica; os segundos, a condição de desem pregado assist ido. I nquiet udes dist int as, m as que expressam a ( re) produção da universalização da m anifest ação part icular do indivíduo serial.

As condições concret as para o rom pim ent o com a prim eira form a de consciência est avam post as, m as seu r om pim ent o necessit ava, t am bém , da elaboração de um a nova int er nalização, par t ilhada pelo gr upo, que per m it isse r om per com os valor es subj et ivados afet ivam ent e que garant em a r epr odução do indiv íduo encapsulado e r esignado com um a vida de pr ivações. A nova subj et ivação encont ra espaço nas lut as polít icas que se apr esent aram ora na for m a de dem onst rações r eivindicat ór ias públicas, ora com o r euniões nos bair r os, os denom inados núcleos de base, onde são agit adas dem andas im ediat as que poder iam ser at endidas pelo Est ado sem a m ediação da iniciat iva pr ivada, t ais com o isenção das t axas de ener gia elét r ica e de abast ecim ent o de água. Em paralelo com o m ovim ent o de negação, foi necessár io que os desem pr egados não deixassem de ser assist idos, nem os assist ent es de par t i-cipar das ações da PO. Apesar de par ecer cont radit ór io, a sit uação de assist ido e sua negação não são, de im ediat o, aut oexcludent es, m as a pr im eira pode se m anifest ar com o um a possibilidade de efet uar a segunda, pois as doações t or nam - se m eio de alim ent ar os desem pr egados e suas fam ílias em m om ent os de pr ot est os, m om ent os em que est ão im possibilit ados de fazer os “ biscat es” que garant em a r enda. Por sua vez, são t ais m om ent os que possibilit am const it uír em - se, novam ent e, com o “ gent e”, com o suj eit os que fazem hist ór ia.

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de várias inst it uições povo desem pregado urbano. Est avam se const it uindo as

possi-bilidades do m ovim ent o de form ação de um a consciência de classe desse cont ingent e de desem pregados a part ir do rom pim ent o com a serialidade vivenciada at é ent ão.

A negação de assist ent es efet uada pelos m ilit ant es da PO é a m anifest ação par t icular de um descont ent am ent o que se espraiava em alguns set or es da esquer da brasileira após pr ocesso de r edem ocrat ização do país. Alguns fat os pot encializaram a r efl exão da pr át ica desses m ilit ant es, dos quais dest acam os a ofensiva do capit al, m ediado pela ação do gover no federal, t ant o na cam panha dos pet r oleir os ent r e os anos de 1994 e 1995, quant o o m assacr e dos Trabalhador es Rurais Sem -Ter ra em Eldorado dos Caraj ás, 1996.

Esses dois event os foram as condições concr et as que t ensionaram as cont radi-ções ent r e as subj et ividades dos m ilit ant es desenvolvidas por m eio das aradi-ções polít icas de m eados da década de 1980 e que pr oj et avam um det er m inado Brasil dem ocr át ico e a concr et ude das r elações sociais exper ienciadas na década pr ecedent e. Tais con-t radições alavancaram um pr ocesso de r efl exão pr ocon-t agonizado con-t ancon-t o por m ilicon-t ancon-t es descont ent es com o m ovim ent o de r egr esso na pr ogr essividade que t angenciava o Par t ido dos Trabalhador es, confor m e j á indicara I asi ( 2006) , quant o por m ilit ant es do Movim ent o dos Trabalhador es Rurais Sem Ter ra. Em 1997, O MST m obilizou um a cam inhada nacional, apoiada por inúm er os set or es de esquer da de out ras or ganiza-ções. As r efl exões durant e est a cam inhada concluíram que os r um os do país, após os episódios da dem ocrat ização, est avam a exigir reavaliações da conj unt ura e elaboração de novas t át icas polít icas que fi zessem convergir t rabalhadores urbanos e cam pesinos, a fi m de possibilit ar novas t ar efas est rat égicas de at uação em um a conj unt ura em que o capit al m anifest a- se t ant o em sua ofensiva na pr odução ( ALVES, 2005) , quant o em sua ver são neoliberal, m ediada por um est ado dem ocr át ico. Tal conj unt ura acar-r et ou peacar-r das paacar-ra a classe t acar-rabalhadoacar-ra, sej a de em pacar-r egos diacar-r et os, sej a de diacar-r eit os conquist ados ao longo do século XX no país, vide as inúm eras discussões sobr e as desr egulam ent ações das leis t rabalhist as.

Um a das iniciat ivas desses gr upos de m ilit ant es que r om piam , em par t e, com suas or ganizações de or igem foi a const it uição, no m esm o ano, da Consult a Popular [ CP] . O pont o com um nas r efl exões era o quest ionam ent o da inst it ucionalização da esquerda brasileira. Urgia, port ant o, reart icular os set ores m ais crít icos com a fi nalidade de consolidar um pr oj et o popular para o país. Disso, se concluiu que o desem pr ego confi gurava- se com o um a quest ão cent ral na conj unt ura cont em por ânea. Fazia- se, assim , necessár io conhecer m elhor esse fenôm eno que, para os sindicat os, apar ecia na for m a de dem issões [ o que t am bém passa a ser invest igado nas ciências adm inis-t rainis-t ivas ( CALDAS, 2000) ] ; para o m ovim eninis-t o cam pesino, m anifesinis-t ava- se no ingr esso de indivíduos desem pregados ( desej osos de m elhora nas condições de vida m ediant e o ret orno às at ividades no cam po) no MST; para as past orais eclesiais, na form a de cres-cent e dem anda por doações; para os par t idos, na for m a de per cepção sobr e o quant o pr om essas de com bat e ao desem pr ego eram pr opensas a conquist ar apoio eleit oral. Esse conhecim ent o int uit ivo das for m as de m anifest ação do desem pr ego det er m inou um a necessidade de int ensifi cação de ações j unt o aos desem pr egados, de m odo que se or ganizou um gr upo de t rabalho na CP que unia pessoas de difer ent es m ovim ent os sociais nacionais. Nesse gr upo, os m ilit ant es da PO que vinham at uando nos núcleos de base na r egião m et r opolit ana de Por t o Alegr e t om aram par t e e agr egaram o co-nhecim ent o const r uído nos t r ês anos de at uações nas per ifer ias das cidades. Durant e os anos de 1997 a 2000, o gr upo de m ilit ant es da CP int ensifi cou as discussões e sua at uação j unt o aos núcleos de base, apr ofundando r efl exões com os desem pr egados acer ca de suas dem andas e expandindo o núm er o de pessoas envolvidas.

No ano de 1999, desem pr egados de diver sos núcleos congr egaram - se em um gr upo para par t icipar do Gr it o dos Excluídos6. Essa par t icipação foi o m om ent o sínt ese

6 “ O Gr it o dos Excluídos const it ui- se com o um espaço de voz e pr ot agonism o dos excluídos e excluídas.

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de um a pr oblem at ização que se desenvolvia em am bos os espaços - núcleos de base e CP - , e defl agr ou a necessidade efet iva de for m ar um inst r um ent o de or ganização polít ica de desem pr egados que superasse as lim it ações dos núcleos, im post a pelas ações em nível local. Concr et izou- se, por t ant o, a necessidade de um m ov im ent o social ur bano que aglut inasse as r eivindicações desse cont ingent e populacional que não parava de cr escer - os desem pr egados or ganizados localm ent e. Encont ram os um m om ent o em que afl ora a necessidade concr et a da fusão do gr upo7, est a r esult ant e

de um pr ocesso de m obilização das subj et ividades que se encont ravam em t ensão com a r ealidade concr et a de r epr odução da vida.

O m om ent o sínt ese em que est e gr upo funda- se ocor r e em um a ação pública de pr ot est o no ano de 2000, quando conver gem as r ealidades negadas, condensadas em um só m om ent o: a inauguração de um a em presa de capit al est rangeiro, com sua nova for m a de or ganização do t rabalho ( dem andando um núm er o m enor de t rabalhador es do que nas sedes do ABC paulist a, para um a pr odução de igual m agnit ude) , sendo r ecepcionada pelo Par t ido dos Trabalhador es, que há um ano chefi ava o poder execu-t ivo esexecu-t adual e cuj as ações, segundo avaliação dos m iliexecu-t anexecu-t es, em pouco aexecu-t endiam aos int er esses necessár ios da classe t rabalhadora. Esse salt o qualit at ivo no m ovim ent o operado com e por desem pr egados t em por m ar co o dia 22 de m aio de 2000, quan-do ocuparam par t e quan-do pát io da General Mot or s, ainda não inaugurada, na cidade de Gravat aí, RS. Eis a ação concr et o- sim bólica que sint et iza um m ovim ent o de negação que ocor r ia desde de 1994 e culm inava com a for m ação do MTD, a fusão do gr upo.

Relevant e r essalt ar que a ofensiva do capit al na pr odução m anifest ada na uni-dade fabril em Gravat aí represent a a part iculariuni-dade de um m ovim ent o geral: o capit al pr ivado apr opr iando- se do fundo público para a per pet uação e aum ent o da t axa de exploração da for ça de t rabalho. Com o podem os aver iguar, os núm er os divulgados acer ca do cust o t ot al da im plant ação da GM no RS são cont r over sos. Há aut or es que m encionam um t ot al de invest im ent o de 550 m ilhões de dólar es ( ZAWI SLAK; MELLO, 2002) , e out r os cit am valor es que alcançam a casa dos 700 m ilhões ( NABUCO; MEN-DONÇA, 2002) . A discor dância: considerar ou não os 130 m ilhões de dólar es pr ove-nient es dos cofr es públicos com o par t e do m ont ant e fi nal? Além desses valor es, os gover nos locais concederam diver sos incent ivos fi scais. Sust ent ados nas discussões de Oliveira ( 1998) , m encionam os que o valor pr ovenient e da r iqueza pública em geral m anifest ada na for m a de r ecur so est at al, apesar de não ser capit al, não pode deixar de ser considerada, pois opera com o um elem ent o est r ut ural, det er m inando as t axas de lucr o difer enciais8.

O m ot ivo alegado para a pr ivat ização do público - invest im ent o est at al em um a única plant a pr odut iva com o não poder ia deixar de ser, era o com bat e ao desem -pr ego que, à época do anúncio da inst alação da m ont adora ( m ar ço de 1997) , at ingia aproxim adam ent e 13,5% da População Econom icam ent e At iva na região m et ropolit ana de Por t o Alegr e. Em 2000, quando as at ividades iniciaram - se, o índice de desem pr ego alcançou 16,8% . Nos dois anos subsequent es, houve quedas nesse indicador ao longo dos m eses, sendo que o m enor índice r egist rado ent ão foi a de 14,2% , super ior, por-t anpor-t o, aos 13,5% do m ês de m ar ço de 1997. Confor m e m encionam Zaw islak e Mello ( 2002, p. 119) , super est im aram - se os “ indicador es de r enda e de em pr ego para o Rio Grande do Sul”, pois est es foram pr evist os com base na m at r iz pr odut iva ant e-r ioe-r. Est udos dem onst e-ram que, em 1980, um t e-rabalhadoe-r pe-r oduzia 8,8 unidades em m édia. Esse quant il subiu para 15,9 em 1999, segundo Rodr igues ( 2002) . O que esse caso da GM ilust ra é a t endência at ual do desenvolvim ent o das for ças pr odut ivas, em que a ascensão de m aquinar ia t ecnologicam ent e sofi st icada libera for ça de t rabalho hum ana, ou sej a, dim inui a dem anda por t r abalho vivo, alt era a r elação or gânica do capit al. Esses dados cor r oboram análises ant er ior es, cuj as conclusões afi r m am que o pr oblem a do desem pr ego não se apr esent a com o um pr oblem a conj unt ural, m as

est r ut ur al, não sendo, por t ant o, r esult ado apenas de cr ises econôm icas, m as da

in-7 Esse pr ocesso de const r ução do MTD j á est á a ocor r er concr et am ent e em nove est ados br asileir os:

Rio Gr ande do Sul, Bahia, Rio de Janeir o, São Paulo, Minas Ger ais, Sant a Cat ar ina, Par aná, Cear á, Rondônia e Dist r it o Feder al.

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t r odução de novas for m as de or ganização do t rabalho e da pr odução que at endam às necessidades de aum ent o nas t axas de lucr o.

O processo de fusão dos desem pregados e m ilit ant es em um grupo denom inado Movim ent o dos Trabalhador es Desem pr egados, sint et izado na ação de ocupação da GM, visa pr oblem at izar o que a capacidade de pr oduzir m ais valor com m enos t raba-lhador es signifi ca: a im plant ação daquela em pr esa est á int r ínseca e ant agonicam ent e r elacionada à r edução da dem anda por t rabalhador es, à m anut enção do desem pr ego e, ainda, à vit ór ia dos pr opr iet ár ios do m eio de pr odução. Est es, se não conseguem elim inar t ot alm ent e os direit os dos t rabalhadores, a efet uam paulat inam ent e, sej a por m eio da or ganização da pr odução descent ralizada que per m it e o aum ent o da pr ecar i-zação das r elações do t rabalho ao longo da cadeia pr odut iva, via t er ceir izações, sej a pela pr ópr ia concor r ência ent r e os t rabalhador es que fragiliza o m ovim ent o sindical e abr e espaço para apr ovações de leis com o o banco de horas, o cont rat o por t em po det er m inado, dent r e out r os. Cont udo, há dist int as for m as de ler e escr ever a r elação ant agônica ent r e o capit al e o t rabalho. Vej am os com o ela foi nar rada pela m ídia à época e r econt ada pelos int egrant es do MTD nas ent r evist as.

Em 21/ 07/ 2000, o j or nal Zer o Hora not iciou - em vir t ude de r epor t agem sobr e inauguração da nova plant a da GM - a exist ência do “ Movim ent o dos Trabalhador es Desem pr egados, r ecém - cr iado” que “ invadiu um t er r eno da GM no m ês passado”. Opor t uno indicar que a r epor t agem est á publicada em duas páginas, sendo que ¾ da ár ea t ot al de um a delas é ocupado por grande anúncio publicit ár io da “ Rede Chevr o-let ”, r evendedora ofi cial dos veículos pr oduzidos pela GM. A alocação desse anúncio, em hipót ese algum a, pode ser considerada despr oposit ada. O veículo de com unicação m encionado, apoiado fi nanceiram ent e pela GM, vale- se da ant ít ese, enquant o fi gura de linguagem , para suscit ar a im agem r epr esent acional dos conceit os bom / r uim para o desenvolvim ent o econôm ico do est ado e, assim , ( r e) pr oduzir o núcleo r epr esent a-cional do que é benéfi co para o ideal de or dem e de pr ogr esso e do que não o é, ou sej a, fornecer cont eúdo ideológico à est rut ura psíquica const ruída efet ivam ent e, nossa prim eira form a de consciência. O ruim est á cont ido nas ações cont est at órias efet uadas por m ovim ent os sociais e par t idos polít icos que foram r elacionadas a palavras, com o “ guer ra”, “ confl it o”, “ t ensão”.

No r elat o j or nalíst ico, cont rapondo- se às ações de pr ot est o, est á a cam panha publicit ár ia, cuj o slogan, post o sobr e a fot o aér ea da nova plant a, é: “As m elhor es condições para inaugurar seu car r o zer o”, seguido logo abaixo pela frase “ enquant o a GM cor t a a faixa de inauguração, a Rede Chevr olet cor t a os pr eços”. Com t ais afi r m a-ções, r epr oduz- se a ideia de que há um a r elação dir et a ent r e o pr eço da m er cador ia e a localidade em que é pr oduzida, r ealim ent ando o senso com um da sociedade gaúcha que acr edit ava na possibilidade t ant o de adquir ir aut om óveis a um valor r eduzido, após iniciadas as at ividades pr odut ivas dest a plant a, quant o de conquist ar um em pr e-go na em pr esa ou em algum a out ra do sist em a m odular. Com o j á dest acavam Mar x e Engels, em 1846, na obra A ideologia alem ã, “ [ a] classe que dispõem do m eio de pr odução m at er ial dispõe, t am bém , dos m eios de pr odução espir it ual, o que faz com que sej am a elas subm et idas, ao m esm o t em po, as ideias daqueles que não possuem os m eios de pr odução espir it ual” ( MARX; ENGELS, 2007, p. 78) . As ideias da classe dom inant e pr esent es nessa ant ít ese, e que t endem a ser r epr oduzidas com o sendo, t am bém , as ideias dos dom inados, são as de que 1) j unt o à inauguração da GM nasce um m ovim ent o social que efet ua at os cr im inosos; e, 2) t al m ovim ent o cr im inoso se opõe ao desenvolvim ent o do est ado e aos int er esses dos consum idor es.

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Figu r a  1  -  Pr oce sso D ia lé t ico de  Tot a liz a çã o M e dia do pe los Gr u pos

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