REVISTA
BRASILEIRA
DE
ANESTESIOLOGIA
PublicaçãoOficialdaSociedadeBrasileiradeAnestesiologia www.sba.com.brARTIGO
CIENTÍFICO
Avaliac
¸ão
da
genotoxicidade
induzida
pela
administrac
¸ão
repetida
de
anestésicos
locais:
um
estudo
experimental
em
ratos
Gisele
Alborghetti
Nai
a,∗,
Mariliza
Casanova
de
Oliveira
b,
Graziela
de
Oliveira
Tavares
c,
Laís
Fabrício
Fonseca
Pereira
c,
Nádia
Derli
Salvador
Lemes
Soares
de
Patrícia
Gatti
Silva
daDepartamentodePatologia,UniversidadedoOestePaulista,PresidentePrudente,SP,Brasil
bUniversidadedoOestePaulista,PresidentePrudente,SP,Brasil
cFaculdadedeOdontologiadePresidentePrudente,UniversidadedoOestePaulista,PresidentePrudente,SP,Brasil
dFaculdadedeMedicinadePresidentePrudente,UniversidadedoOestePaulista,PresidentePrudente,SP,Brasil
Recebidoem16demaiode2013;aceitoem25dejulhode2013
DisponívelnaInternetem31deoutubrode2014
PALAVRAS-CHAVE
Anestesia; Genotoxicidade; Testesde mutagenicidade; Testespara micronúcleos; Prilocaína
Resumo
Justificativaeobjetivos: Estudosanterioressobreosefeitosdealgunsanestésicoslocais suge-riramqueessesagentespodemcausaralterac¸õesgenéticas.Noentanto,essesagentesnãosão testadosparagenotoxicidaderelacionadaàadministrac¸ãorepetida.Oobjetivodesteestudo foiavaliaropotencialgenotóxicodeanestésicoslocaisapósrepetidasadministrac¸ões. Métodos: 80ratosWistarmachosforamalocadosem:grupoA---16ratosreceberaminjec¸ãopor viaintraperitoneal(IP)decloridratodelidocaínaa2%;grupoB---16ratosreceberaminjec¸ão IPcommepivacaínaa2%;grupoC---16ratosreceberaminjec¸ãoIPdearticaínaa4%;grupoD
--- 16ratosreceberaminjec¸ãoIPdeprilocaínaa3%(6mgkg−1);grupoE---oitoratosreceberam
injec¸ãosubcutâneaemdoseúnicadeciclofosfamida;grupoF---oitoratosreceberaminjec¸ão IPcomsoluc¸ãosalina.OitoratosdosgruposdeAaDreceberamumadoseúnicadeanestésico noDia1daexperiência;osratosrestantesforamdosadosumavezpordiadurantecincodias. Resultados: Amedianadonúmerodemicronúcleosnosgruposcomanestésicoslocaisexpostos porumoucincodiasvarioude0a1;nogrupoexpostoàciclofosfamidafoide10enogrupo controlenegativonoprimeiroequinto diasfoide1e0,respectivamente(p<0,0001).Uma diferenc¸asignificativafoiobservadanonúmerodemicronúcleosentreogrupociclofosfamida etodososgruposcomanestésicoslocais(p=0,0001),masnãoentreogrupocontrolenegativoe osgruposcomanestésicoslocais(p>0,05).
Conclusão:Nenhumefeitodegenotoxicidadefoiobservadoapósaexposic¸ãorepetidaa qual-querumdosanestésicoslocaisavaliados.
©2013SociedadeBrasileira deAnestesiologia.PublicadoporElsevierEditoraLtda.Todosos direitosreservados.
∗Autorparacorrespondência.
E-mails:patologia@unoeste.br,gica@muranet.com.br(G.A.Nai).
KEYWORDS
Anaesthesia; Genotoxicity; Mutagenicitytests; Micronucleustests; Prilocaine
Evaluationofgenotoxicityinducedbyrepetitiveadministrationoflocalanaesthetics:
anexperimentalstudyinrats
Abstract
Backgroundandobjective: Previousstudiesregardingtheeffectsofsomelocal anaesthetics havesuggestedthattheseagentscancausegeneticdamage.However,theyhavenotbeen tes-tedforgenotoxicityrelatedtorepetitiveadministration.Theaimofthisstudywastoevaluate thegenotoxicpotentialoflocalanaestheticsuponrepetitiveadministration.
Methods:80maleWistarratsweredividedinto:groupA---16ratsintraperitoneallyinjected withlidocainehydrochloride2%;groupB--- 16ratsIPinjectedwithmepivacaine2%;groupC---16 ratsintraperitoneallyinjectedwitharticaine4%;groupD---16ratsIPinjectedwithprilocaine3% (6.0mg/kg);groupE---8ratssubcutaneouslyinjectedwithasingledoseofcyclophosphamide; andgroupF---8ratsintraperitoneallyinjectedwithsaline.EightratsfromgroupsAtoDreceived asingledoseofanaestheticonDay1oftheexperiment;theremainingratsweredosedoncea dayfor5days.
Results:Themediannumberofmicronucleiinthelocalanaestheticsgroupsexposedfor1or 5daysrangedfrom0.00to1.00,inthecyclophosphamide-exposedgroupwas10.00,andthe negativecontrolgroupfor1and5dayswas1.00and0.00,respectively(p<0.0001).Asignificant differenceinthenumberofmicronucleiwasobservedbetweenthecyclophosphamidegroup andalllocalanaestheticgroups(p=0.0001),butnotbetweenthenegativecontrolgroupand thelocalanaestheticgroups(p>0.05).
Conclusion:Nogenotoxicityeffectwasobserveduponrepetitiveexposuretoanyofthelocal anaestheticsevaluated.
©2013SociedadeBrasileiradeAnestesiologia.PublishedbyElsevier EditoraLtda.Allrights reserved.
Introduc
¸ão
O desenvolvimento de agentes anestésicos locais seguros e eficazes foi umdos mais importantes avanc¸os da ciên-cia odontológica ao longo do século passado. Os agentes odontológicos disponíveis atualmente são extremamente segurose atendem à maioria dos critérios de um anesté-sico localideal. Esses agentesanestésicos locais induzem mínimairritac¸ãodotecidoeapresentamriscobaixode indu-zirreac¸õesalérgicas.1
Um anestésico local é usadocom mais frequência em
odontologiaparacontrolarador,alémdeseramplamente
usado em outros campos da medicina. Entre as várias
formulac¸õesdeanestésicoslocais,ostiposmaisusadossão
ossaisanestésicosdelidocaína,mepivacaínaeprilocaína.2
A combinac¸ão de vasoconstritor e anestésico local foi
usadapelaprimeiravezem1901,quandoBraunadministrou
simultaneamenteadrenalinae cocaína.3 Devidoàs
propri-edades vasodilatadorasdamaioria dos sais anestésicos, a
durac¸ãoda anestesia nemsempre é adequada e ilustra a
necessidade de administrac¸ão concomitante de um
vaso-constritor.Algumasvantagensdaadministrac¸ãocombinada
devasoconstritoreseanestésicossãoalentaabsorc¸ãodosal
anestésico(oquereduzatoxicidadeeaumentaadurac¸ão
daanestesia),areduc¸ãodaquantidadedeanestésico
neces-sáriapara anestesiar o paciente e o aumentoda eficácia
doanestésico.2 Os vasoconstritoresmais comumente
usa-dos em combinac¸ão com anestésicos locais pertencem ao
grupodasaminassimpatomiméticas,queincluiadrenalina,
noradrenalina,levonordefrina,fenilefrinaefelipressina.2
Osagentesgenotóxicosafetamnegativamentea
integri-dade do material genéticode uma célula e sãodefinidos
como qualquer substância ou produto químico que
dani-fique o DNA. Embora a capacidade de uma substância
para danificar o DNA não a torne automaticamente um
perigo para a saúde, o que preocupa é saber se a
substância pode ser potencialmente mutagênica e/ou
carcinogênica.4
Algunsanestésicoslocaisnãoforamtestadospara
carci-nogenicidadeougenotoxicidade.Prilocaínaéumanestésico
localquefoianalisadopeloProgramaNacionalde
Toxicolo-gia(NTP,EUA),desdeoutubrode2007.5
Otestedemicronúcleoséamplamenteusadoparaavaliar
a capacidade de uma substância para quebrar
cromosso-mas(asuaclastogenicidade)ouafetaraformac¸ãodeplaca
metafásica e/ou fuso mitótico, ambos capazes de levar
à distribuic¸ão desigual de cromossomas durante a divisão
celular.6Otestedemicronúcleosgeraresultadoscomforte
apoioestatístico;portanto,éamplamenteusadocomouma
ferramenta de triagem para determinar a seguranc¸a de
muitassubstânciaseclassificarosagentescomo
canceríge-nosounãocancerígenos.7 Afacilidadedefeituradoteste
demicronúcleoslevou asuaadoc¸ãogeneralizadaem todo
o mundo como um teste padrão de genotoxicidade para
monitorizaraseguranc¸adeagentesparausonapopulac¸ão
humana.8
Deacordo comnossapesquisa, nãohá estudosna
lite-ratura sobre o potencial genotóxico do uso repetitivo de
anestésicos locais. Os anestésicos locais são amplamente
usadosemodontologiaemedicinaeosestudosqueavaliem
o risco daexposic¸ãorepetitiva aessassubstâncias podem
contribuirparaumamelhor compreensãodosseusefeitos
potencialmente tóxicos sobre o material genético e seus
O objetivo deste estudo foi investigar com o teste de
micronúcleos o potencial genotóxico do uso repetitivo
deanestésicoslocais.
Métodos
EsteestudofoiaprovadopelaComissãodeÉticanoUsode
Animais(Protocolon◦.930/11).
Para este estudo, 80 ratos Wistar machos com
12 semanas de idade e peso entre 200 e 250g
recebe-ramanestésicoslocais.Osratosforamalocadosemgrupos
de quatro e colocados em grandes caixas retangulares
(49cm×34cm×16cm), apropriadas para acomodar até
cincoratosadultos.Osratosforamcolocadosemviveirocom
temperaturaeumidadecontroladas,equipadocomumciclo
deluzde12horasparaclaro/escuro.Antesdaadministrac¸ão
doanestésico,todososanimaisforampesadosparacalcular
adosagemadequada.
Os animais foram alocados em seis grupos: grupo A
---16 ratos receberam injec¸ões por via intraperitoneal (IP)
de cloridrato delidocaína e fenilefrina (Novocol® 100, SS
White, Rio de Janeiro, Brasil) em dose de 4,4mg.kg-1;
grupoB--- 16ratos receberaminjec¸õesIP demepivacaína
a 2%(mepivacaína, DFL, Jacarepaguá, Brasil) em dose de
4,4mg.kg-1; grupo C ---16 ratos receberam injec¸ões IP de
epinefrinae articaína a 4% (Septanest® 1:100.000,
Septo-dont,Bruxelas,Bélgica)emdosede7mg.kg-1;grupoD---16
ratosreceberaminjec¸ãoIPdeprilocaínaa3%efelipressina (Cytanest®,Astra,SãoPaulo,Brasil)emdosede6mg.kg-1;
grupoE---oitoratosreceberaminjec¸õesporviasubcutânea
comdoseúnicadeciclofosfamida(Genuxal®,Baxter
Onco-logyGmbH,Halle/Westfalen,Alemanha)(50mg.kg-1)noDia
1doexperimento(grupocontrolepositivo);8grupoF---oito
ratos receberam injec¸ões IP de0,5mL de soro fisiológico
(grupo decontrole negativo). Como umrelatório anterior
demonstrouaformac¸ãodemicronúcleosemrespostaauma
dose de50mg.kg-1 de ciclofosfamida,essa dose foiusada
paraogrupocontrolepositivo.8
Oito ratos dos grupos de A a D receberam uma dose
de anestésico noprimeiro dia do experimento. Os outros
animaisdessesgruposreceberamumadosediáriade
anes-tésicodurante cincodias. Osratosdo grupoF receberam
administrac¸ãodesorofisiológicodemodosemelhante.
OitoratosdosgruposdeAaD,quatroratosdogrupoF
etodososratosdogrupoE foramsubmetidos aeutanásia
24horasapósaadministrac¸ãodoanestésico.Osanimais res-tantesdosgruposA,B,C,DeFforamsacrificadoscincodias
maistarde.Aeutanásiafoifeitacompentobarbitalsódico
(Syntec,Cotia,SãoPaulo,Brasil)emdosede100mg.kg-1por
viaIP.
Amostras damedula ósseaforamcoletadasa partir do
fêmurdecada ratonomomentodosacrifícioeduas
lâmi-nasforampreparadasporanimal.8Aslâminasforamcoradas
com Giemsa (Dolles, São Paulo, Brasil). Dois mil
eritróci-tos policromáticos (mil por lâmina) foram contados para
cadaanimalcomumaampliac¸ãode400×comum
micros-cópio ópticoparadeterminaro númerodemicronúcleos.8
Micronúcleosforamdefinidoscomoestruturascomprováveis
halosemtornodamembrananucleareumvolumeinferior
aumterc¸odovolumedodiâmetrodonúcleoassociado; a
intensidadedacolorac¸ãodosmicronúcleosfoisemelhanteà
intensidadedonúcleoassociadoeambasasestruturasforam
observadasnomesmoplanofocal.9Aanálisedaslâminasfoi
feitadeformacegaporumaúnicapessoa(MCO)erevisada
porumasegundapessoa(GAN);ambososresultadosforam
concordantes.
Análise
estatística
Avariac¸ãona frequênciademicronúcleos nãoapresentou
uma distribuic¸ão normal quando analisada pelo teste de
Kolmogorov-Smirnov(p=0,0001)easvariânciasnãoforam
homogêneas(p=0,004)pelaanálisedotestedeLevene.
Por-tanto,optamosporusarotestedeKruskal-Wallis, seguido
decomparac¸õesmúltiplascomotestede
Student-Newman--Keulsparadeterminarasignificânciaestatística.Todosos
testesestatísticosforamfeitoscomoníveldesignificância de5%.
Resultados
Asmedianasdosnúmerosdemicronúcleosobservadaspara
cada grupo foram as seguintes: 1 e 0,50 para o grupo
lidocaína noprimeiro e quintodias deexposic¸ão,
respec-tivamente;1 parao grupomepivacaína tanto noprimeiro
quanto no quinto dia de exposic¸ão; 1 e 0 para o grupo
articaínanoprimeiroequintodiasdeexposic¸ão,
respectiva-mente;0paraogrupoprilocaínatantonoprimeiroquantono
quintodiadeexposic¸ão.Nogrupoexpostoàciclofosfamida
(controlepositivo),amedianadonúmerodemicronúcleos
foi10.Asmedianasdosgruposdecontrolenegativoparaos
diasumecincoforam1e0,respectivamente(p<0,0001) (figs.1e2etabela1).
O número de micronúcleos no grupo controle
posi-tivo (ciclofosfamida) diferiu significativamente daqueles
13
41
19 13
11
10
8
6
4
3
2
1
0
Contagem
Grupo Lido 1
Lido 5 MEPI 1
MEPI 5 ARTI 1
ARTI 5 Prilo 1
Prilo 5
Ciclo Controle 1
Control 5 49
73
Figura 1 Contagens de micronúcleos por grupo de estudo
(mediana e intervalo interquartil). LIDO, lidocaína; MEPI,
mepivacaína; ARTI, articaine; PRILO, prilocaína; CONTROLE,
controlenegativo; CICLO, ciclofosfamida (controle positivo);
1,exposic¸ãoduranteumdia;5,exposic¸ãodurantecincodias;
о,outlier;*,Ooutlierdooutlier;anumerac¸ãosobreooutlier
Figura2 Exemplos de eritrócito policromático com
micro-núcleos (seta maior) e eritrócito policromático normal (seta
menor);oanimalfoiexpostoàmepivacaína,durantecincodias
(colorac¸ãodeGiemsa,1000×).
observadosparatodososanestésicoslocaisestudados,tanto
no tipo de anestésico administrado quanto no tempo de
exposic¸ão(p=0,0001).Noentanto,nenhumadiferenc¸a
sig-nificativafoiobservadanonúmerodemicronúcleosentreo
grupocontrolenegativoeosgruposcomanestésicoslocais,
independentementedotipodeanestésicoadministradoou
dotempodeexposic¸ão(p>0,05)(tabela1).
Com excec¸ão do grupo ciclofosfamida, todos os
gru-pos foram iguais nas várias análises estatísticas. Porém,
diferenc¸as significativas nas frequências de micronúcleos
foramobservadasentreogrupoprilocaínanoquintodiade
exposic¸ãoeosseguintesgrupos:lidocaína noprimeiro dia
de exposic¸ão (p=0,0466), mepivacaína no primeiro
Tabela1 Medianaeintervalointerquartildafrequênciade micronúcleosparacadagrupo(n=80)
Grupo Mediana Intervalo
interquartil
Lidocaína---1dia 1,00a 3,00
Lidocaína---5dias 0,50a,c 2,00
Mepivacaína---1dia 1,00a 1,00
Mepivacaína---5dias 1,00a 2,00
Articaína---1dia 1,00a 2,00
Articaína---5dias 0,00a,c 1,00 Prilocaína---1dia 0,00a,c 1,00
Prilocaína---5dias 0,00c 1,00
Controlenegativo---1dia 1,00a,c 2,00 Controlenegativo---5dias 0,00a,c 4,00
Ciclofosfamidaa 10,00d 3,00
aControlepositivo.Osresultadoscomletrasdiferentes
dife-remdeformasignificativa(p<0,05).
(p=0,0437) e quinto (p=0,0460) dias de exposic¸ão
e articaína no primeiro dia de exposic¸ão (p=0,0364)
(tabela1).
Discussão
Os testes de genotoxicidade são importantes para
ava-liar a toxicidade celular e identificar potenciais agentes
cancerígenos e mutagênicos. Várias técnicas são usadas
paratestaraatividadegenotóxicadeumagente,incluindo
ensaios que determinam o coeficiente de ligac¸ão
cru-zadadoDNA/proteína,atividade enzimáticamitocondrial,
proliferac¸ão celular,reparac¸ãodequebras deDNA,índice
mitótico, tipo de dano sofrido, aberrac¸ões
cromossômi-cas, não disjunc¸ão cromossômica e níveis de apoptose e
necrose.8 O teste de micronúcleos tem sido amplamente
usado para testar a genotoxicidade de muitos
produ-tos químicos.Osmicronúcleos sãofacilmentevisualizados
em amostras de eritrócitos e são um forte indicativo de
aberrac¸õescromossômicas.6
Otestedemicronúcleos foirelatadopelaprimeira vez
em 1970 por Boller e Schmid e posteriormente foi usado
por Heddle em 1977.10 O micronúcleo é umnúcleo
adici-onal,separado donúcleoprincipaldeumacélula durante
a divisão celular e é composto por cromossomos inteiros
ou fragmentos cromossômicos que sobram de outros
cro-mossomos após a conclusão da mitose. Os micronúcleos
resultam demudanc¸as estruturaisespontâneas ou
experi-mentalmenteinduzidasnocromossomo,ouatravésdeerros
defusãocelular.São,portanto,excluídosdosnovosnúcleos
quesãoreformadosemtelófase.11
As vantagens doensaio de micronúcleos em relac¸ão a
outros testes usados para diagnosticar doenc¸ase
monito-rarcontaminantes ambientaisincluemaanálisesimplista,
alta sensibilidade dedetecc¸ão e precisão das perdas
cro-mossômicase eventos denão disjunc¸ão,a capacidade de
medir ocomprimento e aprogressão dadivisão nucleare
acapacidadededetectareventosdereparac¸ãoeexcisão.8
Essasvantagensnoslevaramaescolherotestede
micronú-cleosparaavaliarosefeitosgenotóxicosdaadministrac¸ão
repetitivadeanestésicoslocaisnesteestudo.
Uma desvantagem do uso de vasoconstritores em
combinac¸ãocomanestésicoslocaisficaclaracominjec¸ões
intravasculares,duranteasquaisasconcentrac¸õeselevadas
eosgrandesvolumespodemlevaràintoxicac¸ão.12Portanto,
o usodevasoconstritores nãoéaceitável em alguns
paci-entes, especialmenteem pessoas com diabeteou doenc¸a
cardíaca ou grávidas. Nesses casos, o sal anestésico mais
comumente usado na ausência de um vasoconstritor é a
mepivacaína.12Nesteestudo,usamosmepivacaínasemum
vasoconstritor.Nãohárelatosconhecidosnaliteraturaque
avaliamaac¸ãogenotóxicadevasoconstritores.
Prilocaínafoipreviamenterelatadaporexibiratividade
genotóxica em células somáticas e induzir recombinac¸ão
homóloga. No entanto, relatou-se que lidocaína e
arti-caína (Septanest®) não induziram mutac¸ão cromossômica
ourecombinac¸ão.13 Nãohouve associac¸ãoentre
genotoxi-cidadeequalquerumadasdrogasanalisadasnesteestudo.
Esses resultados estão parcialmente de acordo com a
literatura, diferem apenas do relatório anteriorde
Demonstrou-sequeaporcentagemdecélulascom
poli-ploidiae endorreduplicac¸ão aumentaapósa exposic¸ãoao
cloridrato de procaína e cloridrato de prilocaína, tanto
na presenc¸a quanto na ausência de ativac¸ão metabólica
exógena.14 Esses resultados indicam quetais agentes
quí-micos são potencialmente genotóxicos para as células de
mamífero.14 Contudo,esteestudonãomostrouac¸ão
geno-tóxicadeprilocaína,possivelmenteporquefoiusadanadose
recomendadaporquilogramadepeso.
A condensac¸ãoe afragmentac¸ãodacromatina nuclear
foram previamente observadas em células tratadas com
prilocaína.15 Afragmentac¸ão doDNAtambémfoiinduzida
portratamento comprilocaínadeformadose-dependente
etempo-dependente,comefeitosmáximosobservadosem
concentrac¸ãode5mMapós12-48horasdeexposic¸ão.15
Jun-tamentecomesseestudo,essesdadosmostramqueo uso
deprilocaínanadoserecomendada,porquilogramadepeso
corporal,nãopodecausardanogenético.
Lidocaína e prilocaína são metabolizadas
principal-mente no fígado e subsequentemente hidrolisadas por
ésteres de amida e libertam as aminas aromáticas
monocíclicas, 2,6-dimetilanilina (DMA) e 2-metilalanina
(MA), respectivamente.5 Outros anestésicos que contêm
uma frac¸ão de DMA incluem bupivacaína, mepivacaína e
ropivacaína.5
Oprincipalmecanismocarcinogênicodasaminas
aromá-ticas, como DMA e MA, ocorre quando o citocromo P450
metabolizaessescompostosemderivadosdeN-hidroxila.5
DMAeMApodemserposteriormentemetabolizadasporsua
conjugac¸ão com metabólitos reativos. A lesãodo DNA foi
descrita para DMA, mas não para MA. Acredita-se que a
formac¸ão de aductos de DNA seja o possível mecanismo
peloqualessescompostos exercemalguns deseusefeitos
carcinogênicos.16
No entanto, a Agência Internacional para Pesquisa em
Câncer (IARC) não relatou efeitos cancerígenos de DMA
emhumanos,emboranãohajaprovassuficientesdesua
car-cinogenicidadeemratos.5Issopodeexplicaromaiornúmero
de micronúcleos observados no grupo lidocaína
(indepen-dentementedotempodeexposic¸ão),emcomparac¸ãocom
ogrupoprilocaína,eadiferenc¸asignificativaentreos
gru-posexpostosàlidocaínaporumdiaeàprilocaínaporcinco
dias(p=0,0466).Emboraafrequênciademicronúcleosno
grupoexpostoàlidocaínanãotenhasidosignificativamente
diferente daquela do grupo controlo negativo, a maior
frequência de micronúcleos no grupo exposto à lidocaína
(emcomparac¸ãocomogrupoprilocaína)podeestar
associ-adaaosefeitosdaDMA,umprodutometabólicodalidocaína.
Nãohárelatosnaliteraturasobreopotencialgenotóxico
oumutagênicodemepivacaína.Nesteestudo,mepivacaína
nãoexibiu genotoxicidade,independentemente dotempo
deexposic¸ão.Noentanto,o grupoexpostoàmepivacaína
porumecincodiasfoisignificativamentediferentedogrupo expostoàprilocaínaporcincodias(p<0,05).Mepivacaína
também contém uma frac¸ão de DMA,5 o que pode
expli-caromaiornúmerodemicronúcleosobservadonessegrupo,
emboraafrequênciademicronúcleosnãotenhasido
signi-ficativamentediferentenogrupocontrolenegativo.
Os estudos de mutagenicidade in vitro e in vivo não
revelaramqualquerpotencialgenotóxicodaarticaína(CAS
23964-58-1), até a dose máxima tolerada ser atingida.
De acordo com os dados deste estudo, outra preparac¸ão
dearticaína(Septanest® SP;4%articaína.HCleepinefrina
1: 100.000)17 não apresentou efeitos genotóxicos em um
estudo in vivo com a dose recomendada por quilograma
depeso. Embora a articaína pertenc¸aao grupo amidade
anestésicoslocais(quetambémincluilidocaína,prilocaínae
mepivacaína),émetabolizadapelacolinesterasenoplasma
emácidoarticaínicoviahidrólise.Oácidoarticaínicoéum
metabólitoinativo,parcialmentemetabolizadonorim em
glucuronidodeácidoarticaínico,emvezdeumaamina
aro-mática potencialmente genotóxica.18 Esse resultado pode
explicarparcialmenteaausênciadegenotoxicidadeapósa
exposic¸ãoàarticaína.Noentanto,ogrupoexpostoà
arti-caínaporumdia foisignificativamentediferentedogrupo
expostoàprilocaína porcincodias (p=0,0364).Isso pode
serdevidoàpresenc¸adeumoutliernogrupoarticaína,que
estavabemacimadafrequênciamédiaglobalde
micronú-cleos.
Conclusão
Nopresenteestudo, nãohouveaumentodafrequênciade
micronúcleosapós aexposic¸ãoa qualquerumdos
anesté-sicos locais testados (lidocaína, mepivacaína, articaína e
prilocaína)quandousadosnadoserecomendadapor
quilo-gramadepesocorporal,comumaúnicaexposic¸ãooucom
administrac¸ão repetitiva. No entanto, outros ensaios que
avaliamagenotoxicidadeemutagenicidadedevemser
fei-tos paradeterminar definitivamente que o uso repetitivo
dessesanestésicosnãoapresentaqualqueratividade
muta-gênicaougenotóxica.
Conflitos
de
interesse
Osautoresdeclaramnãohaverconflitosdeinteresse.
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