1 EsteartigoresultadepesquisarealizadanoCenterforYouth,Family,and CommunityPartnerships,UniversityofNorthCarolinaatGreensboro, aqualcontoucomoapoiodaCAPESpormeiodaconcessãodeuma bolsadeestudosparaestágiopós-doutoralàprimeiraautora.Asautoras agradecemaClaudiaCruzeJonathanTudgeporseuscomentáriose sugestões.
2 Endereço:UniversidadeFederaldoRioGrandedoSul,Institutode Psicologia, Rua Ramiro Barcelos, 2600, PortoAlegre, RS, Brasil 90035-003.E-mail:lfreitas@orion.ufrgs.br
AtençãoàPrimeiraInfâncianosEUAenoBrasil
1LiaBeatrizdeLuccaFreitas2
UniversidadeFederaldoRioGrandedoSul TerriLisabethShelton
UniversityofNorthCarolinaatGreensboro
RESUMO−Transformaçõesculturais,sociaiseeconômicastêmgeradooincrementodepolíticaspúblicasdeatendimentoà criançapequena.Nossadiscussãosobreessaspolíticasésimultaneamentehistórica(examinaconcepçõesdecuidadoeeducação aolongodotempo)ecomparativa(enfocapolíticasestabelecidasnosEstadosUnidosdaAméricaenoBrasil).Nossaanálise indicaqueaatividadedecuidartemsidodesvalorizadanoatendimentoàprimeirainfância.Discutimosporqueénecessário reconceitualizarocuidadoparaquesetransformeemfatoodireitodacriançaaocuidadoeàeducaçãoesugerimosaçõesem níveldaspolíticaspúblicas,dapesquisaedaspráticas.
Palavras-chave:criançaspré-escolares;cuidado;educaçãoinfantil;políticaspúblicas.
YoungChildren’sCareandEducationintheUSAandBrazil
ABSTRACT−Variouscultural,social,andeconomicchangeshaveledtotherapidgrowthofpoliciesdesignedtosupport youngchildren’scareandeducation.Ourdiscussionofthesepoliciesisbothhistorical(examiningthewaysinwhichnotions ofcareandeducationhavechangedovertime)andcomparative(focusingonhistoricaldevelopmentsincareandeducation policiesintheUnitedStatesofAmericaandBrazil).Ouranalysissuggeststhattheactivityof“takingcare”hasbeendevalued inthesepolicies.Wearguethatitisnecessarytoreconceptualizethisactivityifyoungchildren’srightstocareandeducation aretobecomereality.Wealsopresentrecommendationsforpolicy,research,andprofessionalpractice.
Keywords:preschoolchildren;care;earlyeducation;publicpolicy.
nãoé“(…)umprelúdioparaumperíododedesenvolvimento realmenteimportante”nem“(...)uminócuoperíodopara a aprendizagem do controle muscular básico, o qual nós esperamosqueocorraautomaticamente,namedidaemque asnecessidadesbásicassejamatendidas”(p.271).Pelocon-trário,nesseperíodo,importantesaquisiçõesacontecem(ou deixamdeacontecer)devidoàsrelaçõesqueseestabelecem entreacriançaeseumundo.ShonkoffePhillips(2000),po-rém,recomendamqueseeviteapassagemapressadadessas descobertascientíficasàssuasimplicaçõesparaocuidadoe aeducaçãodascrianças.Porexemplo,quantoàsextraordiná-riasdescobertasdasneurociênciassobreodesenvolvimento docérebro,elesafirmam:“éessencialdosaroentusiasmo proveniente das novas aprendizagens com a cautela que requeroslimitesdoquesesabeatualmente”(p.183).
Pesquisasnaáreaeconômicatêmsugeridoqueosprogra-masdestinadosàscriançaspequenasdevemserentendidos pelasociedadeemgeral,eparticularmentepelosgovernantes, comoumbominvestimento(enãocomodespesa)porcausa de seus amplos e duradouros benefícios. Por exemplo, o FederalReserveBankrealizouumapesquisacujosresultados indicaramquealocarrecursosnessesprogramasémelhorque “investiremarriscadosfundosdecapital,subsidiarnovas indústriascomo,porexemplo,aindústriabiotecnológica, construirnovosestádiosouproverincentivosfiscaisaem-presas” (National Institute for Early Education Research, 2003,p.13).EstudoslongitudinaisrealizadosnosEstados UnidosdaAméricaestimaramquecadadólarinvestidoem programasdequalidadeparaaeducaçãodecriançaspequenas pertencentesafamíliasdebaixopoderaquisitivopossibilitaa economiadesetedólaresemvirtudedareduçãodonúmerode Aspráticasdeatençãoàscriançassofrerammudanças
naculturaOcidental,namedidaemquesetransformaram asconcepçõesarespeitodacriança(Ariès,1962).Grandes pensadoresdoséculopassadochamaramaatençãoparaaim-portânciadosprimeirosanosdevidadoserhumano.Segundo SigmundFreudeJeanPiaget,porexemplo,osalicercesdas estruturasquepermitemoserhumanoconhecereinterpretar omundo(Piaget,1936/1977a;1937/1977b;1945/1994),amar (Freud,1905/1949;1920/1955)erelacionar-secomosoutros (Freud,1923/1961;Piaget,1932/1992)constituem-senesse período.Estejamosounãodeacordocomoconjuntodesuas idéias,fatoéque,hoje,umgrandenúmerodepesquisadores sededicaaestudarosprimeirosanosdevida.
criançasquenecessitamdeeducaçãoespecial,dosrecursos despendidosemprogramasdeassistênciasocialedastaxas decriminalidadenaspopulaçõesmarginalizadas.Estimativas quantoaosbenefíciosparacriançasprovenientesdefamílias demédioealtopoderaquisitivodevemaindaserrealizadas (NationalInstituteforEarlyEducationResearch,s.d.).
SegundodadosdaUNESCO3,aeducaçãoinfantilfoio
setor da educação com as melhores taxas de crescimento nessesúltimos15anosnaAméricaLatina.Namaioriados paísesdaEuropaedaAméricadoNorte,umgrandecontin-gentedecriançasnafaixaetáriadetrêsaseisanosfreqüenta serviçosfinanciadosporfundospúblicos;uminvestimento equivalente,porém,aindanãofoirealizadonoatendimentoa criançascommenosdetrêsanos.DeacordocomoNational InstituteforEarlyEducationResearch(2003),oaumentodo númerodemulheresnomercadodetrabalhoexplicaapenas parcialmente o aumento pela demanda de serviços. Nos EstadosUnidosdaAmérica,porexemplo,muitascrianças cujasmãesnãoestãoinseridasnomercadodetrabalhofre-qüentamcrechesepré-escolas.
Essessãoapenasalgunsdoscomponentesdeumcomple-xoconjuntodetransformaçõesculturais,sociaiseeconômicas quetêmgeradooincrementodepolíticaspúblicasdestinadas aoatendimentodascriançaspequenas.Aspolíticasimple-mentadasnoBrasilnestecampojáforamcomparadasade outrospaísesemdesenvolvimento(Rossetti-Ferreira,Ramon &Silva,2002)easpolíticasestabelecidasnosEstadosUni-dosdaAméricatêmsidocomparadasàquelasestabelecidas emoutrospaísesindustrializados,principalmenteempaíses Europeus (Bowman, Donovan & Burns, 2001; Howard, Williams,Port&Lepper,2001).Nesteartigo,porém,nós apresentamos uma análise das políticas de atendimento à criançapequenaestabelecidasnoBrasilenosEstadosUnidos daAmérica.Apesardasenormesdiferençaseconômicasque separamBrasileosEstadosUnidosdaAmérica,ambosos paísestêmdimensõescontinentais,umelevadonúmerode habitantesegrandediversidadecultural.Àculturadosíndios nativos,somaram-seaquelasdosimigrantesEuropeusedos escravosquevieramdaÁfrica.Posteriormente,ambosos paísesreceberamumsignificativocontingentedeAsiáticos. Em2000,osEstadosUnidosdaAméricatinham281.421.906 habitantes,sendo19.175.798(6,8%dapopulação)crianças pré-escolares(U.S.BureauoftheCensus,2000)eoBrasil tinha169.799.170habitantes,sendo23.141.413(13,6%da população) crianças pré-escolares (Instituto Brasileiro de GeografiaeEstatística,2000).4Nãoéumatarefasimples,
empaísescomessascaracterísticas,implementarpolíticas públicasqueatendamcomqualidadetodasascriançaseque, defato,respeitemadiversidadedeseutecidosocial.
Inicialmente,realizamosumabreverevisãohistóricadas políticasdeatendimentoàprimeirainfânciaestabelecidas nos dois países.Ao traçar um paralelo entre as políticas públicas dos Estados Unidos daAmérica e do Brasil, foi possívelconstatar,porumlado,umacrescentesemelhança e, por outro, importantes diferenças. Dentre as diferenças
encontradasdestacamosofatodeque,enquantonoBrasil ocuidadoeaeducaçãosãoatualmentereconhecidoscomo umdireitodacriançadesdeoseunascimento,omesmonão ocorrenosEstadosUnidosdaAmérica.Dentreassimilari-dadesressaltamosaexistência,desdesuasorigens,deuma diferençaentreosserviçosdestinadosàscriançasdascama-dassociaismaisbaixaseàquelasprovenientesdefamílias abastadas.Aanálisehistóricadaspolíticasdeatendimentoà criançapequenaindicaqueessadiferençaconstituiuasepa-raçãoentrecuidadoeeducaçãonessecampo.Emambosos países,tem-seinsistidonanecessidadedeintegrarcuidare educar.Nossaanálisesugere,contudo,queexisteumalacuna conceitualnessedomínio,aqualdeveriaserpreenchidapara quesetransformeemfatoodireitouniversaldacriançaao cuidadoeàeducação.
AtendimentoàCriançaPequenanos EUAenoBrasil:RaízesHistóricase
AlgunsAvançosRecentes
Políticasdecuidadoeeducaçãodacriançapequenanos EstadosUnidosdaAmérica
Asprimeirasorganizaçõesdestinadasaoatendimentode criançaspequenassurgiramnoiníciodoséculoXIXemfun-çãodosmovimentosmigratóriosedocrescenteprocessode industrialização(Howard&cols.,2001;Scarr&Weinberg, 1986).Naépoca,ascriançaseramvistascomo“oproduto dacompetênciaeatençãodeseuspais”(Howard&cols., 2001,p.56)eaelescabiaaresponsabilidadedeeducá-las paraquesetornassembonscidadãos.Nascidades,encon-travam-semuitascriançascujospaispassavamboapartedo dianotrabalhoetinhampoucotempoparadedicaraseus filhos.Aconvicçãodequeogovernodeveriaintervirnaedu-caçãodessascriançasfoiestimuladaporummovimentopara manteraintegraçãocultural.Emfunçãodisso,em1828,foi criadaaBostonInfantSchool,aqualatendia,especialmente, filhosdeimigrantesqueprecisavamtrabalharparagarantir asobrevivênciadesuasfamílias.
NasegundametadedoséculoXIX,surgiuumoutrotipo de serviço para crianças pequenas. Em 1856, Margaretha Schurz, uma imigrante alemã que havia estudado com FreidrichFröbel,abriuoprimeirojardimdeinfânciapara atenderacriançasdelínguaalemã.Apenasquatroanosmais tarde,ElizabethPalmerPeabody–inspiradanotrabalhode Schurz–fundouoprimeirojardimdeinfânciaparacrianças delínguainglesa.Osjardinsdeinfânciavisavamessencial-menteaodesenvolvimentomoralesocialdecriançascom trêsanosdeidadeoumaiseforamasfamíliasabastadasas queprimeirotiveramacessoaessetipodeserviço.
ApósaGuerraCivil(1861-1865),foramproduzidosdi- versosmanuaisparapaiscomointuitodeenfatizararespon- sabilidadedafamíliaemproverboaeducaçãoparaascrian-ças.Alémdisso,osserviçosdeatendimentoàscriançascujos paisprecisavamtrabalharexpandiram-serapidamentedevido aoapoiodeorganizaçõesfilantrópicas.Nestecaso,oobjetivo principalnãoeraodesenvolvimentodascrianças,masevitar queelasperambulassempelasruas.NoiníciodoséculoXX, essesserviçosdestinadosaassistirafamílias“patológicas” (Howard&cols.,2001),istoé,àquelasincapazesdeprover 3
EarlyChildhoodandFamilyPortal:http://www.portal.unesco.org/edu-cation/ev.php
adequadocuidadoasuascrianças,eramconsideradosum componenteimportantedobem-estarsocial.Oatendimento eraprestadoseletivaetemporariamenteatéqueospróprios paispudessemtomarcontadesuascrianças.
Aidéiadequealgunsserviçosservempara“guardar” ascriançasmaisqueeducá-lasprevaleceutambémaolongo desseséculo.Alémdisso,acriaçãodeprogramasparaatendi-mentoàscriançaspequenasfoimotivada,muitasvezes,mais porinteresseseconômicoscontingentesquepelasnecessi-dadesdascriançasedesuasfamílias.Porexemplo,nofinal dosanos1920,noperíododagrandedepressãoeconômica, surgiramoscentrosdeatendimentoàscrianças,umaforma convenientedeocuparadultosdesempregadosedealimentar crianças famintas. Durante a Segunda Guerra, o governo federalfinanciouoatendimentoa400milcrianças,porque suasmãeseramnecessáriasàindústriadaguerra(Scarr& Weinberg,1986;Tobin,Wu&Davidson,1989).
Paralelamenteaessesserviçosdestinadosaocuidadode criançaspobresedepaistrabalhadores,nosquaiselasper-maneciamtodoodia(eporissoforamchamadosday-care centers),desenvolveram-seascreches(nurseryschools)que visavamprincipalmenteàsocializaçãodascriançase,em geral,eramfreqüentadasdurantemeio-turno.Nosanos1920 e1930,ascreches–idealizadasporpsicólogos–serviam comolaboratóriosdeobservaçãoeestudodacriançae,ao mesmotempo,prestavamserviçosafamílias.Nasdécadasde 1940e1950,otrabalhorealizadonascrechesfoiemgrande parteinfluenciadopelopensamentodeautorescomoDewey, Montessori,FreudePiaget.Nessaépoca,ascrecheseramum luxoacessívelsomenteàscriançascujospaispodiampagar pelosserviços(Scarr&Weinberg,1986).
OlançamentodoSputnikpelaUniãoSoviética,em1957, foiconsideradoumgrandeavançotecnológicocomsigni-ficativas conseqüências industriais e militares. Este feito, emplenaGuerraFria,foiinterpretadocomoumdesafioao sistemaeducacionalamericano,oqualdeveriaserrevistopara fazerfrenteàprovávelsuperioridadecientíficadossoviéticos. Inúmeraspesquisasjáhaviammostradooimpactodaclasse social no desempenho dos indivíduos tanto nos testes de inteligênciaquantonaescola:ascriançasprovenientesde famíliascombaixopoderaquisitivocomeçavamaescolacom habilidadescognitivasmenosdesenvolvidasquecriançaspro-venientesdefamíliaseconomicamenteprivilegiadaseessas diferençasampliavam-seduranteoprocessodeescolarização. Énessemomentoquefloresceaidéiadaexistênciadeuma “privaçãocultural”paraexplicaressasdiferenças(Bernstein, 1962;Reissman,1962).
Em 1964, como parte da campanha de “Guerra à Pobreza” do Presidente Lyndon Johnson, foi lançado o projetoHead Start (Public Law 88-452), cujo objetivo primordialeraprepararascriançasprovenientesdefamílias debaixarendaparaaescola,atravésdeumacombinação deserviços:educação,alimentação,assistênciamédicae dentária,serviçosdesaúdementaledeassistênciasocial eeducaçãodepais.SegundoScarreWeinberg(1986),o tipo de atendimento oferecido a essas crianças não era, porém,omesmodaqueledascreches:“emcontrastecomas crechesdosanos50,amaioriadosprogramasHeadStart enfatizarammaisaeducaçãoqueodesenvolvimento”(p. 1143),priorizandootreinamentodehabilidadesrequeridas
noprocessodeescolarização,taiscomoprestaraatenção, seguirinstruçõeseobedeceràsnormas.
OprogramaHeadStartbásicoécentradoemumapré-escolaqueatendecriançasdetrêsacincoanos.Emgeral,as criançasparticipamdoprogramaemumturno,duranteum anoescolar,emboraalgumasparticipempordoisanos.No entanto,oHeadStartébastanteflexívelemsuasdiretrizes,o quepossibilitaoestabelecimentodeprogramassingulares,se-gundoumamploespectrodediferentesabordagens(Howard &cols.,2001;Zigler&Styfco,1993).Esseprograma,desde oseusurgimento,temgeradoinúmeraspolêmicas.Embora tenhamsidoencontradasdiferençaspositivasentreasperfor-mancesnaescoladascriançasqueparticiparamdoprograma eaquelasquenãoofizeram,essasparecemdesaparecerao longodoprocessodeescolarização(Bronfenbrenner,1974; Cicirelli,1969;Datta,1979).Maisrecentemente,McLoyd (1998)sugeriuqueaeficácialimitadadessetipodeprograma deve-seaofatodeque“(...)utilizaestratégiassecundárias paralidarcomproblemasprimários”(p.199),istoé,busca amenizarosefeitosdeletériosdoempobrecimentoedamar-ginalizaçãodepartedapopulaçãonodesenvolvimentodas criançasaoinvésdecombaterascausasdestes.Esseprogra-ma,porém,contribuiuparamudarospadrõesdeatendimento àcriançapequenanosEstadosUnidosdaAméricaeserviu paradespertarointeressedeinúmerospesquisadorespara aimportânciadosprimeirosanosdevida.Conformeassi-nalouHarden(2000),aspesquisasrealizadascomcrianças queparticipamdoprojetoHeadStarttêmsidoaprincipal fontedeinformaçõesdisponíveissobreascriançaspequenas pertencentesàsminoriasempobrecidasnessepaís.
Aindanosanos1960,foiestabelecidoumoutroprograma importantenoquedizrespeitoàscriançaspequenas.Trata-se doEarlyandPeriodicScreeningDiagnosis,andTreatment – EPSDT(Public Law90-248) comoum componentedo Medicaid(serviçodesaúdeoferecidopelogovernoameri-canoparaaspessoasquenãopodempagarserviçosprivados desaúde),oquepossibilitouqueproblemasdesaúdefísica oumentalfossemidentificadosprecocementetambémem crianças provenientes das camadas sociais mais baixas. Todavia,segundoPowell,FixseneDunlap(2003),menos deumterçodascriançasquedeveriamtersidobeneficiadas receberamumEPSDTcompletoeumnúmeromenorainda recebeuumaavaliaçãonoquedizrespeitoàsaúdemental. Segundo esses autores, isso se deve, provavelmente, às dificuldades que os pediatras enfrentam para identificar problemasdedesenvolvimento(emsuasváriasdimensões) emcriançaspequenas.
eainsuficienteregulamentaçãodosserviços,emníveles-tadual,têmsidoapontadascomoimportantesbarreiraspara agarantiadaqualidadedosserviçosparatodasascrianças (Brauner,Gordic&Zigler,2004;Cohen,1996).
NasúltimasdécadasdoséculoXX,porém,ocorreram significativasmudançasnalegislaçãoqueregulaaeducação decriançascomnecessidadesespeciais,asquaisbeneficiaram também as crianças pequenas. O originalmente chamado EducationforAllHandicappedChildrenActe,desde1991, IndividualwithDisabilitiesEducationAct(IDEA)reconhe- ceuascomplexasnecessidadesdascriançascomnecessida-desespeciaisedesuasfamílias,dandoorigemaumsistema transdisciplinardeserviçosemtodoopaís.Inicialmente,as escolas públicas foram chamadas a atender crianças com necessidadesespeciaisapartirdostrêsanose,desde1987, abriu-seapossibilidadedeatenderapartirdonascimento tambémcriançascomatrasosdedesenvolvimento(Ramey &Ramey,1998).Essasmudançasnalegislaçãopermitiram oacessoaosserviçosespecializadosdemilharesdecrianças comaparticipaçãodesuasfamíliasnatomadadedecisões (Simpson, Jivanjee, Koroloff, Doerfler & García, 2001), reforçando,assim,aposiçãodaquelesqueadvogamafavor deumsistemadeatençãoàprimeirainfânciacoordenado emnívelfederal.
Políticasdecuidadoeeducaçãodacriançapequenano Brasil
A “Roda dos Expostos”, uma instituição para educar criançascujospaisnãopodiamfazê-lo,foioprimeirotipo deatendimentooferecidoàscriançaspequenasnoBrasil.Em funçãodaaltataxademortalidade(cercade50%),houve umincentivoàcriaçãodecreches,nofinaldoséculoXIX, paraqueospaisnãoabandonassemseusfilhosna“Roda” (Montenegro, 2001).Apesar de terem ocorrido algumas iniciativasemanosanteriores,oanode1899podesercon-sideradocomoumprimeiromarconoquedizrespeitoao atendimentoàcriançapequena,poisnesseanofoifundado oInstitutodeProteçãoeAssistênciaàInfânciadoRiode Janeiroeaprimeiracrecheparafilhosdepaistrabalhadores dopaís,nessamesmacidade(Kuhlmann,1998).
Osprimeirosjardinsdeinfânciasurgiramantesdascre-ches,em1883.Tratavam-se,porém,deinstituiçõesprivadas e,comonosEstadosUnidosdaAmérica,ascriançasdefa-míliasabastadasforamasqueprimeirotiveramacessoaesse tipodeserviço.Comointuitodediferenciá-losdascreches –destinadasàscriançasdaclassetrabalhadora–empregava-secomfreqüênciaotermo“pedagógico”(Kuhlmann,1998). Emoutraspalavras,osjardinsdeinfância,paraascrianças ricas,visavamàeducação;ascreches,paraascriançaspobres, tinhamporobjetivoo“cuidado”.
AolongodoséculoXX,ocorreramváriastransformações nesse cenário.A partir da década de 1920, o processo de industrializaçãoprovocoumudançasestruturaisnasociedade brasileirasemelhantesàquelasocorridasnosEstadosUnidosda América.Todavia,duranteváriosanosogovernonãosepreo-cupouemregulamentarefiscalizarosserviçosdeatendimento àcriançapequena.Mesmoquandoalegislaçãotrabalhistado governodoPresidenteGetúlioVargas(1930-1945)estabeleceu aobrigatoriedadedacriaçãodecrechesparaabrigarosfilhos
demãestrabalhadorasduranteoperíododeamamentação,tal conquistalegalnãosetornourealidade.
Duranteoregimemilitar(1964-1985),porém,ogoverno encarregou-sedeconstruiralgumascreches.Emconsonância comaspolíticasamericanasdaépoca,oatendimentoàcriança pequenavisavaàpromoçãodeumaeducaçãocompensatória. NaLeideDiretrizeseBasesdaEducação–LDB(Lei5.692), de1971,aofertadeeducaçãoanterioràeducaçãoobrigatória (seteaos14anos)pretendiaprepararascriançasoriundasdas camadassociaismaisbaixasparaaalfabetização,afimde diminuirosaltosíndicesdefracassoescolar(Kramer,1984). Essamesmaconcepçãoestavapresenteemoutrosprogramas deatençãoàprimeirainfância,osquaisbuscavam“compensar carências” (nutricionais, sanitárias, afetivas e sociais). Em 1977,aLegiãoBrasileiradeAssistência(LBA)lançouo“Pro-jetoCasulo”quevisavaàcriaçãoeàmanutençãodecreches comunitárias.SegundoVasconcellos,AquinoeLobo(2003), atéesseprojetohaviaopredomíniodafunçãoassistencialista nas creches. “Acreditava-se em rígidas e inflexíveis etapas dodesenvolvimentoepriorizavam-seasquestõesligadasà saúde das crianças (alimentação, nutrição e medicação)” (p.244).Aindasegundoessasautoras,em1981,oMinistério daPrevidênciaeAssistênciaSocialpublicouumdocumento intitulado“VamosFazerumaCreche?”,noqualpropôsqueas crechesepré-escolasassumissem,alémda“funçãoguardiã”,a “funçãopedagógica”.Ditodeoutramaneira,pelaprimeiravez, apareceuapropostadesuperaçãodadicotomiaentre“cuidar” e“educar”presentetambémnaspolíticasdeatendimentoà criançapequenanoBrasil.
Comoprocessoderedemocratizaçãodopaíse,especial-mente, após a promulgação da nova Constituição (Brasil, 1988), o atendimento às crianças a partir do nascimento foi estabelecido como um direito da própria criança e de suafamíliaereconhecidocomoumdeverdoEstado,pela primeiraveznahistóriadopaís.Doisanosmaistarde,oEs-tatutodaCriançaedoAdolescente–ECAde1990(Brasil, 1991)reiterouodireitodecidadaniadacriança,definindo seusdireitosdeproteçãoeeducação.Finalmente,comaLei deDiretrizeseBasesdaEducação–LDB(Lei9.394),de 1996,aeducaçãodascriançasdezeroaseisanospassoua integrarosistemabrasileirodeensino.ALDB/96definea EducaçãoInfantil–destinadaàfaixaetáriadezeroaseis anos–comoaprimeiraetapadaEducaçãoBásicaeafirma queessa“temcomofinalidadeodesenvolvimentointegral dacriançaatéosseisanosdeidade,emseusaspectosfísico, psíquico,intelectualesocial”(art.29).Nestemesmoartigo, ficaestabelecidoqueosserviçosdeatendimentoàcriança pequena (creche e pré-escola) complementam a ação da famíliaedacomunidade.Estamesmaleitambémbeneficia ascriançaspequenascomnecessidadesespeciaisaodefinira educaçãoespecialcomoumamodalidadedaeducaçãoescolar quepermeiaatodososníveisdeensino.Oartigo58prevê aexistênciadeserviçosespecializadosnaescolaregulare o atendimento educacional a partir da Educação Infantil. ÉtambémdignodenotaquearesoluçãoCNE/CNBNº2 (Brasil,2001)propõeaparticipaçãodafamílianatomada dedecisõesquantoànecessidadeeaotipodeatendimento especialmaisadequadoàcriança(art.1ºeart.9º).
Oacompanhamentoeavaliaçãocontínuadocrescimentoe desenvolvimentopassaramasercompreendidoscomoum direitodacriançaeumdeverdoEstadoeforamdefinidos comoumadascincoaçõesbásicasdoprogramadeAssis-tênciaàSaúdedaCriança.Crescimentoedesenvolvimento passaram a ser compreendidos como indissociáveis, mas distintos:“enquantoocrescimentosedefinepormudançade tamanho,odesenvolvimentocaracteriza-sepormudançasem complexidadesefunções”(BibliotecaVirtualdoMinistério daSaúde,2001).Nesseprograma,compreende-seasaúde nãoapenascomoausênciadedoença,mascomoaqualidade devidaoferecidaàcriançaeconsidera-seimportantelevarem contaocontextoemqueelavive.OMinistériodaSaúdecriou o“CartãodaCriança”comoumdosinstrumentosnecessários paraimplementaressasações,alémdepromovercursosde capacitaçãoparaosprofissionais.Noentanto,
oúltimoinquéritonacionaldedemografiaesaúderealizado no país (PNDS, 1996) mostrou que, embora a maioria das criançastenhaoseucartãoeasmãesolevemquandovãoà consultanosserviçosdesaúde,menosde10%têmopesoda criançaanotadoemenorpercentagemaindatêmacurvade crescimentodacriançaanotadonocartão.Istodemonstraque osprofissionaisdesaúdetêmdadopoucovaloraocrescimento dacriança,poucofazendoemfavordobomdesenvolvimentoda
criança.(BibliotecaVirtualdoMinistériodaSaúde,2001)
Em nosso país, como nos Estados Unidos daAméri-ca, parece que os pediatras não dispõem de formação e instrumentos adequados para diagnosticar problemas de desenvolvimento.
SemelhançasediferençasentreosEstadosUnidosda AméricaeBrasil
Essabreveretrospectivahistóricadaspolíticasdeatenção àscriançaspequenasnosEstadosUnidosdaAméricaeno Brasilpermite-nosobservaralgumassemelhançasediferenças entreosdoispaíses,tantonoquedizrespeitoàsraízeshis-tóricasquantoaosavançosrecentes.Explicaroporquêdisso encontra-sealémdospropósitosdesteartigo,masgostaríamos dedestacaralgunsdadosquenoschamamaatenção.
Desdesuasorigens,percebe-seumadiferençaentreos serviçosdestinadosàscriançasprovenientesdefamíliasde paistrabalhadoreseàquelasdefamíliasabastadas.Paraas primeiras,osserviçostinham,principalmente,uma“função guardiã”(alimentar,protegeretc);paraassegundas,osser-viçosvisavam,sobretudo,aodesenvolvimentoeàeducação dascrianças,ambosentendidoscomopartedeumprocesso maisamplodepreparaçãoparaavida.Quandoa“função educativa”foiintroduzidanosprimeiros(quasesimultanea-mentenosEstadosUnidosdaAméricaenoBrasil),istofoi feitocomumobjetivocompensatóriode“carências”(nutri-cionais,sociais,culturaisetc)eobjetivava,principalmente,a preparaçãoparaaescola.Ditodeoutramaneira,aeducação foireduzidaàescolarização.
Nosdoispaíses,ocuidadoeaeducaçãodascriançaspe-quenasforam,inicialmente,compreendidoscomoumdever primordialdafamíliae,assim,ospaisqueprecisavamtraba-lharparagarantirasuasobrevivênciaeadeseusfilhoseram
consideradosincapazesouportadoresdealgumapatologia (Howard&cols.,2001).Todavia,enquantooEstadoamerica-noestevesempredealgumaformaimplicadonoatendimento àcriançapequena,houvepormuitotempoumaomissãodo Estadobrasileironoquedizrespeitoaesseassunto.
É interessante ainda observar que, embora haja uma distância de quase um século entre os primeiros serviços destinadosàcriançapequenanosEstadosUnidosdaAmérica enoBrasil,adistânciatemporalentreaspolíticasestabe-lecidaseosdesafiosaseremenfrentados,nosdoispaíses, diminuíram ao longo do século XX. Dentre as primeiras, gostaríamosderessaltar,alémdaeducação“compensatória” citadaanteriormente,aspolíticasdeeducaçãoespecialede avaliaçãocontínuadasaúdedacriança.Noquedizrespeito aossegundos,chamaatençãoasemelhançaquantoàsdifi-culdadesparaacompanharodesenvolvimentodascrianças eidentificareventuaisproblemas.
Quantoàsdiferençasrecentesentreosdoispaíses,gos-taríamosdeassinalarofatodeque,enquantonoBrasilos serviçosdecuidadoeeducaçãodascriançasdezeroaseis anosforamincorporadosaosistemadeeducação(desdea LDBde1996),nosEstadosUnidosdaAméricaapenasos jardinsdeinfânciaforamincorporadosaosistemadeedu-cação.Paraascriançasdezeroacincoanos,nãoexisteum sistemaúnico,masumavariedadedeserviços,critériosde elegibilidade,fontesdefinanciamentoediversasagências governamentais são responsáveis por sua regulamentação nosdiferentesestados(Bowman&cols.,2001;Cohen,1996; Lerner, Rothbaum, Boulos & Castellino, 2002; National Institute for Early Education Research, 2003; National PrekindergartenCenter,2004).
Cuidadoeeducação:integraroureconceitualizar?
Diversosautorestêminsistidonanecessidadedeintegrar cuidareeducarnoatendimentoàcriançapequena(Brauner &cols.,2004;Rossetti-Ferreira,1998;Scarr&Weinberg, 1986;Vasconcellos & cols., 2003).A inseparabilidade de cuidareeducarcomoumprincípiobásicoquedeveregeras políticaspúblicasdeatendimentoàprimeirainfânciaaparece tantonasdiretrizesestabelecidasparaaEducaçãoInfantil peloMinistériodaEducaçãodoBrasil(Brasil,1998a)quanto no relatório doCommittee on Early Childhood Pedagogy (Bowman&cols.,2001).
AspropostaspedagógicasparaasinstituiçõesdeEducação Infantildevempromoveremsuaspráticasdeeducaçãoecuida-dosaintegraçãoentreosaspectosfisicos,emocionais,afetivos, cognitivo/lingüísticosesociaisdacriança,entendendoqueela
éumsertotal,completoeindivisível.(Brasil,1998a,p.12)
Umapremissacentraldesterelatório,aqualemergedireta-mentedarevisãodaliteratura,équecuidadoeeducaçãonão podemserpensadoscomoentidadesseparadasquandosetrata decriançaspequenas.Ocuidadoadequadoincluioprovimento deboaestimulaçãocognitiva,ambientesricosemconversação eapromoçãododesenvolvimentosocial,emocionalemotor.Da mesmaforma,aeducaçãoadequadaparacriançaspequenas pode ocorrer apenas em contextos de bom cuidado físico e
Nossa revisão das políticas estabelecidas nos Estados UnidosdaAméricaenoBrasilindicaqueessadicotomia entrecuidareeducar,presentenahistóriadeambosospaíses, temorigemnadiferençadeserviçosoferecidosàscrianças dascamadassociaismaisbaixaseàquelasprovenientesde famíliasabastadas.ConformedisseCerisara(1999):
[a] dicotomização entre as atividades com um perfil mais escolareasatividadesdecuidadorevelaqueaindanãoestá claraumaconcepçãodeumacriançacomosujeitodedireito, quenecessitasereducadaecuidada,umavezqueeladepende
dosadultosparasobreviver.(p.16)
CompartilhamosaidéiadequeainclusãodaEducação Infantilnosistemadeensinobrasileirosignificaumavanço importantenoquedizrespeitoàspolíticasdeatendimento às crianças pequenas (Kramer, 1984; Kuhlmann, 1998; Montenegro, 2001; Oliveira, 1996;Vasconcellos & cols., 2003).NosEstadosUnidosdaAmérica,inclusive,algunsau-torestêmpropostoaintegraçãodosserviçosdeatendimento àcriançapequenaaosistemadeensinocomoumaformade superaradicotomiaentrecuidareeducar(Brauner&cols., 2004; Zigler & Finn-Stevenson, 1996). No entanto, essa inclusãotambémimplicariscos.Tantoautoresamericanos quantoautoresbrasileiroschamaramatençãoparaofatode queaEducaçãoInfantildiferedoprocessodeescolarização easescolas,tradicionalmentevoltadasparaesteúltimo,não estão adequadamente preparadas para atender às crianças pequenas(Cerisara,1999;Goldberg,Schultz&Piel,1996; Scarr &Weinberg, 1986;Vasconcellos & cols., 2003).A essapreocupaçãogostaríamosdeacrescentarmaisuma:a desvalorizaçãohistóricadocuidadonoatendimentoàcriança pequenaeaformavagacomotemsidodefinido.
Em1998,alémdeestabelecerasdiretrizesparaaedu-caçãoecuidadodascriançasentrezeroeseisanosdeidade (Brasil, 1998a), o Ministério da Educação publicou um documentodenominadoReferencialCurricularNacionalde EducaçãoInfantil–RCNEI(Brasil,1998b)paraauxiliarna implementaçãodeprogramasdeEducaçãoInfantilemtodo opaís.Essedocumentotemsidocriticadoporque:1)retorna àidéiadequeaeducaçãodacriançapequenavisacompensar deficiênciaseprepararacriançaparaaescolae2)nãoestá deacordocomasdeterminaçõeslegais.
Ao produzir um documento com formato curricular para a educaçãodacriançadezeroaseisanos,oMECdesconsiderou asdeterminaçõesexpressasnaatualLDB/96quantoaquem competeaelaboraçãodecurrículosequalopapeldaesfera federal.Além disso, a ampla divulgação do RCNEI, sem se fazermençãoaosdocumentoslegítimosquesãoasDiretrizes Curriculares Nacionais para a Educação Infantil (DCNEI),
desacata as determinações oficiais. (Vasconcellos & cols.,
2003,p.246)
Todavia, tão preocupante quanto isso, é a forma vaga comoocuidadofoidefinido.
Ocuidadoéumatoemrelaçãoaooutroeasipróprioque possuiumadimensãoexpressivaeimplicaemprocedimentos
específicos.(...)Paracuidaréprecisoantesdetudoestarcom-prometidocomooutro,comsuasingularidade,sersolidário comsuasnecessidades,confiandoemsuascapacidades.Disso dependeaconstruçãodeumvínculoentrequemcuidaequem
écuidado.(Brasil,1998b,pp.24-25)
ComodisseMontenegro(2001),ocuidadoéoaspecto “mais nebuloso” da Educação Infantil “como conceito e comoprática”(p.17).Emfunçãodisso,acreditamosque nãobastaintegrarcuidadoeeducação,maséprecisoque se estabeleça um conceito de cuidado no atendimento à criançapequena:umconceitoquenãoreduzaocuidarao atendimentodenecessidadesbásicas(alimentação,higiene, segurançaetc)nemsejaideológico(o“cuidado”éapenas paraospobres;comoseanecessidadedecuidadonãofosse inerenteàcondiçãohumana,massomenteospobrespreci-sassemsercuidados!).
UmConceitodeCuidado: UmaContribuiçãoaosDireitosdaCriança
Nossabreverevisãodaspolíticasdeatendimentoàcriança pequenanosEstadosUnidosdaAméricaenoBrasilmostrou uma crescente similaridade entre os dois países. Segundo Bowman e cols. (2001), os Estados Unidos daAmérica têmumalongatradiçãodepesquisanessaárea,oquetem possibilitadooestabelecimentodepadrõesdequalidadee aimplementaçãodeprogramasbaseadosemevidênciasde pesquisa. De fato, inúmeros pesquisadores, de diferentes disciplinas,têm-sededicadoaestudarosprimeirosanosde vidaegeradoumsignificativoacúmulodeconhecimentos. Essesconhecimentostêmproduzidoumacrescenteconsci-ênciadequeabordagenstransdisciplinareseacoordenação dediferentesserviçossãonecessáriasparadarcontadacom-plexidadedatarefadecuidareeducarascriançaspequenas (Campbell,2002;Raver,2002;Shelton&Stepanek,1994; Shelton&cols.,2000,Simpson&cols.,2001;Shonkoff& Phillips,2000).Outrasnações,inclusive,têmutilizadoesses conhecimentosnoestabelecimentodesuaspolíticasepro-gramas,conformesugerenossaanálise.NoBrasil,embora nãosetenhaessamesmatradição,aproduçãocientíficanessa áreatemcrescidonosúltimosanos(Rocha,1999).
éexigidoportodososestadosparaprofessoresdejardim de infância (kindergarten) e recomendado peloNational ResearchCouncil.
NoBrasil,odireitodacriança,desdeoseunascimento, ao cuidado e à educação foi estabelecido em lei (Brasil, 1988;1991;1996).Odireito,porém,estálongedeserum fato.Em2003,ummilhãoe200milcriançasfreqüentavam crechese5milhõese600milestavamempré-escolas(Ins-titutoNacionaldeEstudosePesquisasEducacionaisAnísio Teixeira,2004).Seconsiderarmososdadosdoúltimocenso (InstitutoBrasileirodeGeografiaeEstatística,2000),isso significaqueapenas29%dascriançasentrezeroeseisanos estavamsendoatendidas(aproximadamente9%dascrianças dezeroatrêsanosecercade56%dascriançasdequatroa seisanos).Alémdisso,osdadosapresentadosporRossetti-Ferreiraecols.(2002)indicamquehoje,comonoséculo XIX,ascriançasdasfamíliasdeclassemédiaemédia-alta sãoasprincipaisbeneficiadas.ComonosEstadosUnidosda América,nãosomenteaquantidade,mastambémaqualida-dedosserviçosémotivodepreocupação.Emnossopaís,o lema“atenderpobrementeapobreza”(Rossetti-Ferreira& cols.,2002)nãoéumprivilégiodaEducaçãoInfantil,mas perpassaoutrosníveisdeensino(Freitas,1988;2003;Silva, 1984)eestápresentetambémemoutrosserviços,conforme indicamosdadosdoMinistériodaSaúde(Crescimentoe Desenvolvimento, 2001). Isso nos leva a concordar com Goldbergecols.(1996)quandoassinalamqueaintegração doatendimentoàcriançapequenaaosistemadeensinopor sisónãogaranteasuaqualidade.
Evidentemente,umconceitodecuidadonãoésuficiente paratransformaroatendimentoàcriançapequena,sejanos EstadosUnidosdaAmérica,sejanoBrasil.Todavia,nossa revisão das políticas de cuidado e educação indica que o lema “atender pobremente a pobreza” não apenas subjaz as políticas neoliberais do Banco Mundial (Penn, 2002; Rossetti-Ferreira&cols.,2002),mastambémfazparteda históriadosdoispaísesetalvezporissoecoenoscoraçõese mentesde(alguns)nossosconterrâneos.Nessabreverevisão, observa-setambémadesvalorizaçãohistóricadaatividadede cuidar,tantoatravésdesuareduçãoaoatendimentodeneces-sidadesbásicasdacriançaquantomedianteasuavinculaçãoà pobreza.Nãobastampráticascriativas;énecessário(embora nãosejasuficiente)umprocessode(re)conceitualizaçãodo cuidadoparafazerfrenteaodiscursoeapráticade“atender pobrementeapobreza”.
Nesseprocesso,deve-searticularosresultadosdepes-quisasobreodesenvolvimentodacriança,apsicopatologia dodesenvolvimento,odesenvolvimentodocérebro,aspos-sibilidadeselimitesdosprogramasdeatendimentoàcriança pequena,poissãonessasáreasquesetemproduzidoconhe-cimentosquemostramqueascriançasnãoesperamentrarna escolaparaaprenderaconhecereinterpretaromundo,amar erelacionar-secomosoutros.Essaarticulação,porsuavez, deveocorreremtrêsdiferentesníveis:daspolíticaspúblicas, daproduçãodeconhecimentosedaspráticas.
1. Noníveldaspolíticaspúblicas–Ogovernofederal,em conjuntocomestadosemunicípios,devedefinirpolíticas articuladasparaainfância.Afaltadecoordenaçãoentre aspolíticasdesaúdeeeducaçãoéoutroaspectosugerido pornossarevisãodaspolíticasdeatendimentoàcriança
pequena (uma análise mais detalhada das políticas de saúdedeveaindaserfeita)etemsidoapontadacomoum obstáculoàqualidadedosserviçosprestados(Corsino, Nunes & Kramer, 2003; Shonkoff & Phillips, 2000; Simpson&cols.,2001).
2. No nível da produção de conhecimentos –Através do incentivo a pesquisas interdisciplinares, especialmente àquelasqueconstituamcamposdeintersecçãoentresaú-deeeducação,afimdequeseconstruaumconceitode cuidadonoatendimentoàcriançapequena:umconceito quenãoreduzaocuidadoaoatendimentodenecessidades básicasnemorestrinjaamedidasparacurardoenças,mas umconceitoqueviseàpromoçãododesenvolvimentoda criança,emsuasváriasdimensões.Talconceitodeveser sensívelàdiversidadeculturalsem,contudo,mascarar sobestetermoasdesigualdadessociaisexistentestanto noBrasilcomonosEstadosUnidosdaAmérica5(Tudge
&cols.,2004;Tudge,noprelo).
3. Noníveldaspráticas–Oestabelecimentodeparcerias entre profissionais das áreas de educação e de saúde. Opsicólogo,porexemplo,nãodeveserchamadopara “consertar as crianças problemas”, mas sim cooperar comosprofessores,paiseoutrosprofissionaisnabusca desoluçõesparaosdesafioscotidianosqueatarefade cuidar e educar nos impõe (Paulon & cols., no prelo; Shelton&cols.,2000).
Acreditamos que a discussão aqui apresentada possa auxiliarnacompreensãodeporqueosconhecimentossobre aimportânciadosprimeirosanosdevidaproduzidos,por exemplo, pela psicologia do desenvolvimento não foram ainda suficientemente incorporados ao atendimento à pri-meirainfâncianosEstadosUnidosdaAméricaenoBrasil. Esperamosquenossaspropostascontribuamparagarantir quetodasascriançassejampreparadasnãoapenasparaa escola,mastambémparaavida.
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Recebidoem17.11.2004 Primeiradecisãoeditorialem17.03.2005 Versãofinalem15.04.2005