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Exoftalmo unilateral por metástase orbitária de carcinoma de próstata.

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Academic year: 2017

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EXOFTALMO UNILATERAL POR METÁSTASE ORBITÁRIA

DE CARCINOMA DE PRÓSTATA

JOSÉ CARLOS CORRÊA BARBOSA

O exoftalmo ou proptose unilateral pode ser determinado por fatores

anátomofisiológicos e patológicos. Entre os primeiros podem ser

conside-rados o tamanho do olho, a profundidade da órbita, a quantidade de

gor-dura intraorbitária, o tono dos músculos extrínsecos, a drenagem venosa da

órbita e, segundo Birch-Hirschfeld

5

, a compressão direta da veia jugular e

a posição da cabeça. A proptose foi obtida por estimulação do tronco

sim-pático cervical em animais de experimentação (Claude Bernard

4

, Müller

1 1

,

Mac Callum & Cornell

1 0

e Landstrõm

9

) . Segundo Barraquer e Cafiadell

3

existiria, no soro de pacientes mixedematosos, um fator que, injetado no

Carassius auratus, variedade japônica, provocaria, ao fim de 4 a 8 aplicações,

exoftalmo unilateral. Experimentos de W a g n e r

1 4

e Turner

1 3

, mediante

es-timulação do simpático cervical em cabeças isoladas não provocaram

exof-talmo.

No que concerne à patologia, vários autores têm abordado o tema de

forma genérica, ou relatando entidades mórbidas intraorbitárias ou, ainda,

referindo causas extraordinárias.

Numerosas são, portanto, as causa da proptose unilateral,

consideran-do-se como anormalidade, diferença de protusão ocular acima de dois mm.

Corrêa Barbosa e Menezes, em 1964, apresentaram ao 1.° Congresso

Brasi-leiro de Neurologia (Ribeirão Preto, São Paulo), alguns casos raros

estu-dados no Instituto de Neurologia da Universidade do Brasil (Prof. Deolindo

Couto), de proptose unilateral causados por cisto sebáceo intraorbitário,

car-cinoma espinhoso de abóbada palatina, doença de Recklinghausen,

oligoden-droglioma frontal, cisto epidermóide intraorbitário, neurinoma do acústico,

fibrodisplasia orbitaria, miosite extraocular, perineurite e astrocitoma do

nervo óptico; dos restantes 32 casos apresentados naquela ocasião, nenhum

se referia a metástase orbitaria de carcinoma da glândula prostática. Na

literatura que pudemos compulsar, apenas Bard & Schulze

2

, Bonnet e

Pau-fique

6

e Harper

8

relatam a ocorrência de exoftalmo unilateral provocado

por metástase, na órbita, de câncer da próstata. A raridade desta

ocorrên-cia justifica o relato de um caso pessoal.

(2)

O B S E R V A Ç Ã O

M . J . S . , c o m 68 a n o s de idade, s e x o m a s c u l i n o , preto, internado n a S a n t a Casa de Misericórdia de J u i z de Fora, e m 16-12-1969 ( R e g . 234501), q u e i x a n d o - s e de e p í f o r a e p r o t u s ã o o c u l a r direita, d a t a n d o de 9 m e s e s . A p r o t u s ã o c o m e ç o u i n s i d i o s a m e n t e , a g r a v a n d o - s e p r o g r e s s i v a m e n t e , a c o m p a n h a d a por c r e s c i m e n t o indolor d a parede ó s s e a a d j a c e n t e . P o u c o t e m p o depois m a n i f e s t a r a m - s e e m b a ç a m e n t o d a v i s ã o e l i m i t a ç ã o dos m o v i m e n t o s o c u l a r e s n o olho a t i n g i d o . Q u e i x a v a s e t a m b é m de r e t e n ç ã o u r i n á ria n a época do i n t e r n a m e n t o . R e c e n t e m e n t e , c o m e ç o u a sentir dores n a p a r t e s u p e -rior da c o x a e s q u e r d a q u e d i f i c u l t a v a a d e a m b u l a ç ã o . N a d a digno de n o t a n o s a n t e c e d e n t e s p e s s o a i s e f a m i l i a r e s . A o e x a m e físico, o f a t o m a r c a n t e e r a e x o f t a l m o pronunciado à direita c o m a u m e n t o de v o l u m e d a porção ó r b i t o z i g o m á t i c a h o m o -l a t e r a -l ( F i g . 1 ) . Comparado c o m o esquerdo, o g-lobo o c u -l a r p r o t u n d i a 10 m m . Os m o v i m e n t o s o c u l a r e s e r a m l i m i t a d o s . A s p u p i l a s r e a g i a m d è b i l m e n t e à l u z e à a c o m o d a ç ã o . H a v i a perda d a c o n v e r g ê n c i a ocular, b e m c o m o precária v i s ã o de cores. A a g u d e z a v i s u a l à d i r e i t a p e r m i t i a a o p a c i e n t e d i s t i n g u i r v u l t o s . O fundo de olho r e v e l a v a a u m e n t o do r e f l e x o l u m i n o s o c e n t r a l e d i m i n u i ç ã o do calibre arteriolar. A g l â n d u l a tireóide n ã o e s t a v a a u m e n t a d a , n ã o h a v i a ruídos a u d í v e i s n o olho, c a b e ç a o u p e s c o ç o . O e x a m e c a r d i o l ó g i c o foi s a t i s f a t ó r i o . O e x a m e prosl.ático r e v e l o u h i p e r -trofia de g r a u médio, sendo a g l â n d u l a de c o n s i s t ê n c i a pétrea, p r i n c i p a l m e n t e n o lobo l a t e r a l direito. Exames complementares —• N o s a n g u e , 4 . 0 8 0 . 0 0 0 h e m á c i a s por m m3

. E x a m e s de u r i n a e fezes f o r a m n e g a t i v o s . T e s t e s de Kahn, K l i n e e V D R L p a r a l u e s , n e g a t i v o s . N o r m a i s a s p r o v a s de f u n ç ã o h e p á t i c a . D o s a g e m de f o s f a t a s e á c i d a t o t a l no s a n g u e ( B o d a n s k y ) 2,1 u n i d a d e s ; f o s f a t a s e á c i d a p r o s t á t i c a foi d o s a d a no s a n g u e a 1,6 u n i d a d e s B o d a n s k y . O e x a m e r a d i o l ó g i c o do t ó r a x m o s t r o u discretos s i n a i s de e s t a s e c i r c u l a t ó r i a bilateral, v e l a m e n t o do seio costofrênico direito e p e -q u e n o a u m e n t o do v e n t r í c u l o es-querdo. Os e x a m e s r a d i o l ó g i c o s s i m p l e s do f é m u r esquerdo, p e l v e , crânio, órbitas e c o n t r a s t a d o s do crânio m o s t r a v a m a l t e r a ç õ e s s u g e s t i v a s de m e t á s t a s e s ó s s e a s difusas. E x a m e do líquido c é f a l o r r a q u e a n o m e d i a n t e p u n -ção lombar m o s t r o u , de a n o r m a l , 12 c é l u l a s / m m3

(3)

C O M E N T Á R I O S

(4)

Embora não tenha sido possível extrair cirurgicamente a glândula por

oposição dos familiares, afirmamos que se trata de carcinoma, baseados nos

seguintes elementos: a) consistência pétrea em um dos lobos da próstata,

o que é quase patognomônico do carcinoma; b) metástases ósseas difusas,

comprometendo fémur esquerdo, pelve, calota craniana e órbita direita;

c) aumento da fosfatase ácida total no sangue, sinal de carcinoma de

prós-tata metastatizado (Barcells-Gorina

x

(5)

Se não fossem conclusivos os dados assinalados, bastariam os bons

resul-tados obtidos com a medicação específica (Honvan) que, além da prova

tera-pêutica, ocasionou razoável melhora dos distúrbios urinários e da dôr na

parte superior da coxa esquerda. Infelizmente, em 6 meses do evolver da

moléstia, ocorreu o êxito letal.

R E S U M O

É relatado um caso de exoftalmo ou proptose unilateral direita, causado

por metástase orbitária de carcinoma da próstata em paciente negro, na

6.ª década de vida, com evolução de 9 meses. O exame neuro-ocular revelou

acentuada diminuição da agudeza visual, perturbação para visão de cores,

perda da convergência, diminuição dos reflexos à luz e acomodação e

restri-ção dos movimentos oculares. O paciente apresentava discreta disbasia

es-querda por metástase no fêmur. Exames laboratoriais, radiológicos e a

biópsia confirmaram a etiologia carcinomatosa da manifestação ocular.

S U M M A R Y

Unilateral exophthalmos secondary to orbital metastatic

carcinoma of the prostate: a case report

A case of right unilateral exophthalmos secondary to metastatic

carci-noma of the prostate, in a 68 years old negro patient in which the ocular

manifestation lasted 9 months is reported The extrinsic movements of the

eye were limited. Pupils reacted slightly to light and accommodation. There

was no ocular convergence. The vision of the right eye was blurred and

there was mild color vision. The prostate was found to be petrous by touch

specially in the right portion. The laboratory findings pointed to a

pros-tatic carcinoma. Bone X-rays were strongly suggestive of metaspros-tatic tumour.

The histological examination of the orbital tumour showed prostatic tumour

cells.

R E F E R Ê N C I A S

1 . B A R C E L L S - G O R I N A , A. — L a C l i n i c a y el L a b o r a t o r i o . M a n u e l M o r i n e Cia., B a r c e l o n a , 1959-1961.

2 . B A R D , L. A. & S C H U L Z E , R. R. — U n i l a t e r a l p r o p t o s i s a s t h e p r e s e n t i n g s i g n of m e t a s t a t i c c a r c i n o m a of t h e p r o s t a t e . A m e r . T. O p h t a l . 5 8 : 1 0 7 , 1964. 3 . B A R R A Q U E R , J . & C A N A D E L L , J. M. — E l f a c t o r e x o f t a l m o g e n o d e l s u e r o .

R e v . E s p . O t o - n e u r o - o f t a l m o l . y N e u r o c i r . 1 5 : 4 3 7 , 1956. 4 . B E R N A R D , C. — Cit. p o r F U L T O N7

. 5 . B I R C H - H I R S C H F E L D , A. — Cit. p o r W A L S H1 5

.

6 . B O N N E T , P . & P A U F I Q U E , L. — L ' e x o p h t a l m i e u n i l a t é r a l e p a r t u m e u r d e l ' o r b i t e m e t a s t a s e d ' u n c a n c e r l a t e n t d e l a p r o s t a t e . B u l l . Soc. d ' O p h t a l m . ( P a -r i s ) 5 1 : 6 3 , 1939.

(6)

8 . H A R P E R , J . M. — U n i l a t e r a l e x o p h t h a l m o s s e c o n d a r y t o m e t a s t a t i c c a r c i n o m a of t h e p r o s t a t e ; c a s e r e p o r t a n d r e v i e w of t h e l i t t e r a t u r e . T. U r o l . 8 9 : 7 5 , 1963. 9 . L A N D S T R Ö M — Cit. p o r C O D E e E S S E X . In F U L T O N7 .

1 0 . M A C C A L L U M & C O R N E L L — Cit. p o r C O D E e E S S E X . In F U L T O N7 .

1 1 . M Ü L L E R , H . — Cit. p o r F U L T O N7 .

1 2 . O F F R E T , G. — L e s T u m e u r s P r i m i t i v e s d e l ' O r b i t e . M a s s o n e t Cie. P a r i s , 1 9 5 1 . 1 3 . T U R N E R , W . — Cit. p o r F U L T O N 7.

1 4 . W A G N E R — Cit. p o r F U L T O N7 .

1 5 . W A L S H , C. B . — C l i n i c a l N e u r o - O p h t a l m o l o g y . T h e W i l l i a m s a n d W i l k i n s Co., B a l t i m o r e , 1947.

Referências

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