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getuliomaio 2010 maio 2010
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o advogado e ex-presidente da Comissão de Valores Mobiliários
luiz leonardo Cantidiano fala sobre os livros fundamentais do
direito societário e o gosto pelos clássicos brasileiros
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u me formei em 1972 na Uni-versidade do Estado da Guana-bara, hoje Universidade do Es-tado do Rio de Janeiro (UERJ). E foram os clássicos do Direito que inluenciaram minha formação acadêmica. Entre eles destaco o livro do professor Hermes Lima Introdução à Ciência do Direito, e a coletânea deClóvis Beviláqua, Teoria Geral do Direi-to Civil e a obra de Manuel Inácio
Car-valho de Mendonça em Direito Comer-cial. No Direito Administrativo, fui um admirador de Miguel Seabra Fagundes. Durante o curso, chamaram muito mi-nha atenção os livros sobre sociedade anônima. O autor do decreto-lei 2627, que dispunha sobre as sociedades por ações, Trajano de Miranda Valverde, escreveu um livro especíico sobre as S.A. Eu também apreciava as obras do jurista Pontes de Miranda, mais as de Direito Civil e Direito Público.
Mas foi a Sociedade Anônima a área pela qual eu desenvolvi maior interes-se, então li muitos trabalhos de Rubens Requião, Rui Guimarães e Túlio Asca-relli – um autor italiano que morou em São Paulo e publicou alguns livros no Brasil sobre Direito Comercial. Em Processo Civil fui inluenciado pela lei-tura da obra de Sergio Bermudes e José Carlos Barbosa Moreira. Seguramen-te, o interesse pela área que segui, o Direito Societário, decorreu de algum tipo de experiência que tive, além da atração que sentia por Direito Empre-sarial, o funcionamento das empresas, o mercado inanceiro.
Em 1976 iz estágio em um escritó-rio em Londres. Lá tive oportunidade de acompanhar o funcionamento do mercado inanceiro inglês, e isso tam-bém me estimulou. Naquele época, estava mudando a lei da Sociedade Anônima no Brasil e foi criada a
Co-missão de Valores Mobiliários (CVM), isso me entusiasmou e iz meu primei-ro concurso público para advogado da CVM. Passei em primeiro lugar, no ano de 1978, mas não quis assumir a função, permanecendo na iniciativa privada. Mas tudo isso acabou me levando para essa área. Além do in-teresse, a vivência lá fora consolidou meu desejo de trabalhar com isso para mudar as coisas aqui no Brasil.
Biblioteca empresarial
Alguns livros ajudam muito a com-preender o Direito Empresarial e re-comendo O Papel do Estado na Regu-lamentação do Mercado de Capitais,
de Nelson Eizirik. Há também artigos e pareceres sobre Direito Societário e questões de mercado. Alguns excelen-tes autores são Alfredo Lamy Filho, José Luiz Bulhões Pedreira e Fábio Konder Comparato. José Alexandre
Por Luiz Leonardo Cantidiano
Tavares Guerreiro escreveu junto com Egberto Lacerda Teixeira – falecido re-centemente – o excelente Das Socie-dades Anônimas no Direito Brasileiro.
É bom não esquecer os bons artigos publicados nas revistas de Direito Mercantil, de Mercado de Capitais e da CVM, muitos deles escritos por esses autores.
Em resumo, creio que o maior mé-rito desses autores é que eles conhe-cem o sistema, pois uma lei é fruto de algo sistematizado. Para alguém poder escrever, é necessário entender como é aquilo funciona, além da capacida-de capacida-de transmitir esse entendimento, analisando problemas especíicos que surgem no dia a dia à vista de todo esse sistema já montado. E a grande virtude desses autores é não apenas conhecer o sistema mas saber analisar os casos concretos, as dúvidas e questões, de forma didática para que o leitor con-siga absorver as lições.
Dois desses autores considero muito especiais. Um é o Alfredo Lamy Filho, que além da expertise no Direito Co-mercial e nas origens das SA, é uma pessoa extremamente simples, não é rebuscado no que escreve: objetivo, prático, não faz loreios. O outro é Bu-lhões Pedreira, dono de uma excelente formação nas ciências necessárias para quem opera no Direito Empresarial, como o conhecimento de contabilida-de e noções contabilida-de economia. Com isso, re-aliza uma abordagem multidisciplinar em sua obra, que é encantadora.
Literatura brasileira e portuguesa
Gosto muito de ler romances. Apre-cio os clássicos brasileiros, de Machado de Assis, Guimarães Rosa a José Lins do Rego. Menino de Engenho é um dos
meus livros favoritos. Admiro muito a poesia de Carlos Drummond de An-drade, Vinicius de Moraes e Manuel Bandeira. Entre os poetas portugueses, Fernando Pessoa é meu preferido. É o tipo de autor que li e às vezes releio. Costumo ler muito à noite e princi-palmente nos ins de semana, são os momentos em que tenho mais tempo disponível. Às vezes preciso ler sobre assuntos técnicos e o tempo acaba i-cando ainda menor. Mas quando sobra, preiro literatura.
Gosto também da icção
portugue-sa. Tenho lido alguns autores mais re-centes. Um deles esteve no Brasil há pouco tempo, Miguel Sousa Tavares, que escreveu o livro Rio das Flores. É o segundo romance dele, eu li recen-temente. Ele reconstrói a atmosfera política, social e cultural de Portugal e do Brasil entre os anos de 1915 e 1945 na cidade de Rio das Flores, no Rio de Janeiro, narrando a saga de uma família de latifundiários portugueses, em que faz um belo painel histórico e uma crí-tica aos totalitarismos da época.
No momento, leio A Guerra das Privatizações, escrito pelo Ney
Car-valho, que não é propriamente um romance: ele historia a estatização da economia brasileira e mostra desde os primórdios o programa de privatização do governo, fazendo uma análise. É um depoimento interessante sobre uma etapa muito importante aqui no país, e que eu vivi e participei: a privatização. Conhecer detalhes dos bastidores ou relembrar o que foi vi-vido é bastante interessante. Também estou lendo outro livro, muito grande:
a história de Warren Buffett, grande investidor americano, um dos homens mais ricos do mundo. O título é Bola de Neve. Uma espécie de biograia,
fala sobre sua formação, o interesse do personagem pelo mercado inanceiro, os primeiros trabalhos que fez e retrata principalmente sua ilosoia de vida, sempre procurando garimpar boas ações para comprá-las. A obra tam-bém mostra a trajetória proissional de Buffett, trabalhando como analista, como corretor, até chegar ao estágio em que ele se encontra hoje, como um dos grandes bilionários e maiores in-vestidores do mundo. Recentemente, investiu US$ 26 bilhões no gigante de ferrovias Burlington Northern Santa Fe. O livro conta um pouco da vida dele e o modo como ele encara a vida. Como eu moro no Rio de Janeiro, mas passo a maior parte do tempo em São Paulo, então deixo um lá e o outro está aqui. Compro e vou lendo aos peda-ços. Pelo menos sempre tenho uma leitura [risos].
Alfred Hitchcock e James Bond
Gosto muito de cinema, mas vou pouco, por falta de tempo. Vejo mui-tos ilmes em DVD em casa e às vezes minhas ilhas me levam ao cinema, mas não é nada muito relevante. Ge-ralmente assistimos a comédias, ilmes leves, mais para distrair. Costumava ir muito ao cinema quando era jovem, na época de colégio, na faculdade. Dos grandes ilmes que vi naquele pe-ríodo, destaco alguns brasileiros, como
Menino de Engenho, Vidas Secas, O Padre e a Moça, Todas as Mulheres do Mundo e O Homem Nu, uma
adapta-ção do livro de Fernando Sabino. Há grandes ilmes estrangeiros que apre-cio, como o francês O Guarda-Chuva do Amor, de 1964, dirigido por Jacques
Demy. Gosto também dos ilmes do Jacques Tati, como Meu Tio e As Aven-turas de Sr. Hulot no Tráfego Louco.
Casablanca, estrelado por Ingrid
Bergman,é um dos clássicos preferi-dos. Também gosto dos suspenses de Alfred Hitchcock, especialmente Dis-que M para Matar e Janela Indiscreta.
Os ilmes do James Bond também me agradam e vi todos. Costumo assistir ilmes de faroeste em DVD, são coisas que distraem bem.