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"'FUNDAÇÃO GETO{rOVARGAS'
A,MORTE DO ,FILHO
OBSE;RVAÇÃO PSICOL6GICA' DE
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DEC'RIANÇAS LEUCÊl4ICAS
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~TRE El-1
PSI'OOLOGIA
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"
Rió dê' JarleirO'j jl)~ho de 1981
,~
í
 Orientadora, Professora Monique Rose Aimeé Augras
por sua disponibilidade, pelos estímulos que me deu e pela amiza
de com que me incentivou a realizar esse trabalho.
 toda a equipe responsável pelo setor de
Hematolo-gia do IPPMG, Professora Lieselotte Laun, Cristina Maria Gomes
do Monte, Erivanea de Oliveira Rocha e colaboradores que
csntri-buíram na complementação de dado.s necessários ao estudo,
facili-tando ao máximo o co~tatb.COm·a5 famílias e que valorizam a abor
dagem psicológica junto ao atendimento médico.
 Diretoria do IPPMG, Professora Dra. Oalva Sayeg e
ao Diretor do Departamento de Pediatria Professor Or. Gerscn
Ca-rakushanskyque permitiram que tal trabalho fosse realizadc.
Ao Or. Professor Aderbal Sabrá que incentivou a rea
lização desse estudo.
As minhas amigas, psicólogas, Berenice Machado~,
Sara Angela Brito Fernandes e Angela Pequeno que me ajudar~~ na
árdua tarefa de revisão do texto com muita amizade.
 tia Odette pela datilografia provisória.
i i i
I
I~
I
~JI
Esse trabalho é um estudo descritivo de campo com
fins exploratórios que permitam situar a problemática da perda
do filho, em famílias de crianças leucêmicas, com o objetivo
de explicitar um atendimento psicológico para apoiar essas
fa-mílias.
Nesse intuito, procurou-se observar os padrões de
comportamento encontrados nessas famílias desde o
aparecimen-to da doença, as mudanças que surgiram devido à ameaça de
mor-te e o falecimento.
Estudos feitos por médicos, enfermeiras, psiquiatra~
assistentes sociais e psicólogos que trabalham com doentes gra
ves e p.acientes terminais, forneceram parâmentros para
nortea-rem o que foi observado em campo.
O estudo foi realizado no IPPMG, hospital-escola peE
tencente à UFRJ. Observou-se a situação de quatorze famílias
de crianças leucêmicas no decorrer da doença através de
entre-vistas individuais nao diretivas e observações no contexto da
Instituição.
Baseando-se em padrões de comportamento que foram
encontrados por vários autores em trabalhos com pacientes
ter-minais e também observados nesse estudo, levantou-se a
hipóte-se que a partir deshipóte-ses padrões de comportamento é possível
de-senvolver meios de acompanhamento psicológico para ajudar es
. '
.
•
filho.
Foi constatado que ·a própria equipe de saúde
tam-bém está vivendo essa crise e passa pelos mesmos padrões de
comportamento que a família. Assim sendo, seria necessário
ul-teriormente prever um trabalho com a equipe de saúde para que
essa·· possa lidar mais com as famílias e com o impacto da
morte.
v
•
..
This study is a descriptive field study, eXploring
the psychological situation created oy a child with leukemia
and its death in his family, in view of developing
a
psychological and clinicaI approach to deal with these
families. To achieve this, tne behavior patterns of these
families were studied from the onset of the disease to the
transformations that occured in the family when deathe became
a possibility and.later a reality.
. . .
This data rely on observatioI) per:formed by doctors,
psychoanalists, psychologists, nurses and social workers on
termi.nal or serious diseased patients to 'correlate wi
thour
findings.
This study was realized at thé IPPMG, school-hospital
belonging to UFRJ. We have observed fourteen fami'lies wi th
.l~ukemic
children. Individual non-directive interviews and
obServations at the Institute were used to study these
families during the evolution of the disease processo
Based on the characteristic patterns encountered by
~arious
researchers with terminal patients, and also supported
~by
this study, i t is shown that i t is possibJ,.e· to develop a
ps~c:hological
approach to prepare thesefamilies to live
through a period of crisis -
theloss of a··child •
I
,
..
j j
;
possible that a further preparation of the medi cal staff would
seem necessary to handle these specific families and, in
general, the impact of death.
vii
S U M Â R I O
Agradecimento i i i
Resumo ---.... .,...--- i v
Summary ---~--- vi
1. INTRODUÇÃO ---.---r 2. A CRIANÇA LEUC~MICA ---2.1. Definição de Leucemia ---2.2. Etiologia ---2.3. Diferentes Tipos de Leucemia ---2.4. Incidência ---~---2.5. Diagnóstico 2.6. Terapêutica 2.7. Prognóstico ---3. EXISTE PSICOLOGIA DA MORTE? ---3.1. Estudos Sobre a Morte ---3.1.1. A Criança e a Morte ---3.1.2. A Família 3.1.3. Hospital ---3.2. A Contribuição da Psicanálise ---01 09 09 10 11 12 13 14 16 18 24 24 29 42 51 3.3. O Enfoque Existencial --- 63
4. METODOLOGIA --- 70
4.1. Objetivo do Trabalho --- 70
4.2. Hipóteses de Trabalho --- 74
4.3. Variáveis Observadas --- 75
4.4. Populaç~o Observada --- 78
4.5. Instrumentos --- 79
4.6. Procedimentos --- 80
I
;~
t
!
I
5. O ESTUDO DE CAMPO ---~--- 82
5.1. A Situaç~o --- 82
5.2. As Entrevistas --- 89
5.2.1. Padrões Emocionais mais Frequentemente
Ob-servados --- 93
5.2.2. Reação Imediata ao Choque Inicial do
Diag-nóstico ---~--- 97
5.2.3. Reação dos Pais Durante o Tratamento ---104
6. CONCLUSÃO 136
..
Psicóloga trabalhando. em atendimento clínico em hos
pita I pediátrico, havia várias' possibilidades de escolha de as
suntos para
umtrabalho. Essas abrangiam desde a observação dos
motivos mais freqüentes de encaminhamento das crianças para o
setor de Psicologia na parte ambulatorial (tais como agitação,
agressividade, enurese, fracassos escolares ) até a
possibili-dade de observar problemáticas mais específicas (como o compoE
tamento da criança diabética face
à
dieta, obesidade, alopécia
ou dificuldade da família em lidar com a enfermidade crônica
dacriança). Poder-se-ia também fazer um estudo sobre as mães que
trazem seus filhos pará atendimentó, como um modo de pedir uma
ajuda para a família ou para elas mesmas ou, então,
escolher
outro tipo de trabalho sobre a problemática de internação
da
criança em geral. Mas o tema escolhido foi a perda do
filho.
Por que o terna da morte? Provavelmente porque é a situação que
mais assusta a todos, e é a
mai~assustadora, também,
dentro
de um hospital pediátrico. Não
é unicamente na hora da morte
que se tem que enfrentá-la, visto que a doença representa uma
ameaça de morte que é constantemente sentida rio meio hospi talar.E,ê.
sa é uma situação para a qual todos estão mal preparados,'seja
pacdente, médico, enfermeil:a, família, assistente social
ou
psicólogo. Uma outra maneira' de ilustrar á dificUldade
é-
des
-crever o clima que reina no hospital qUándo
é
preciso anUnciar
ã
família a morte de uma criança hospita1izada, ou presenciar
o
falecimento. Essas difíceis tarefas são freqüentemente evita
das. Não é raro ouvir-se um suspiro de alivió quando
u.'Ua
crian
acontece que o médico responsável nao possa anunciar o
faleci-mento
ã
fa~ília. O interno ou o médico de plantão parecemas-sustados com a idéia de enfrentá-la, devido
à
sua menor experiência de tais situações e por não saber ao certo o que ocorreu
com a criança. Nesses casos é o Serviço Social que geralmente
anuncia o falecimento da criança. Em algumas ocasiões, a
notí-cia é dada por telefone, a fim de que a familia já possa levar
para o hospital toda a documentação necessária para providen
-.ciar o sepultamento.
~ importante mencionar tais acontecimentos para
que notem que a morte causa um clima de constrangimento, de
mal estar, ela é um tabu não só no hospital como na própria so
ciedade. Como descreveu Mauksch (in Kübler-Ross, 31), a final~
dade do hospital parece ser a de curar, e assim, o paciente te!.
minal e sua família raramente encontram um lugar na institui
-çao e suas necessidades não são previstas na rotina hosDitala~
A dificuldade que se tem em encarar a morte é expressa nos
di-zeres de La Rochefoucauld
"nem o .6ol nem a mofLte. podem
MA olhado~ de.6Jte.n.te.".
Pode-se até mesmo observar como a morte é dura de serenfrentada nas pequenas coisas, como a dificuldade que se
en-contra para obter uma conceituação da morte. Na maioria das ve
zes ·os dicionários a definem literalmente como a cessação da
vida. Essa dificuldade parece refletir o desconhecimento, o me
do que todos têm da morte, de se colocar face a ela.
Encontra-se no Dictionnaire Français de la
Medici-ne et de la Biologie (37) uma definição da morte, ainda-que ex
tremamente geral, como:
paJtada comple.ta
e.de.6initiva da.6 6unçõe..6 vitai.6 de.
c~a 6unc~onat
e
de~t~u~ção p~og~e~~~vade
~ua~ un~dade~ t~~~ufa~e~
e
cetufa~e~~ (pag. 862)Schwartzenberg (58), m~dico cancerologista,
profes-sor agregado de cancerologia no hospital Paul-Brousse de
Villejuif, refere-se
à
mudança que houve na definição da morteno decorrer dos séculos e mostra que existe várias definições
possíveis: a biológica (quando todas as funções cessam), teoló
gica (o momento em que a alma deixa o corpo), legal (quando al
guem é eliminado dos registros por um julgamento). O referido
autor também relata que a morte pode ser considerada quando aI
guém desaparece da memória daqueles que o amavam, e que a
úni-ca imortalidade possível éa de continuar a viver na mente e no
coração de uma outra pessoa ou, como diriam outros autores,
a-través da obra que se deixou.
Os progressos da medicina e os questionamentos
so-ciais e econômicos levaram a vários movimentos, sendo um deles
o dos tanatólogos. Tanatologia é o estudo da morte (do grego
thanatos= morte, logos
=
estudoJ
i é uma disciplina origináriados meios filosóficos e teológicos.
o
trabalho dos tanatólogos promoveu nos Estados Unidos importante movimento de conscientização da morte, encon
trando vários adeptos nos centros criados para cuidar dos
pa-cientes em fase terminal. O movimento de conscientização
apoia-se na crença de que o indivíduo está perdendo o direito de dis
por de sua morte. Esse direito de dispor de sua própria morte
leva a várias questões a nível social, econômico, jurídico, mé
dico, teológico e psicológico, a respeito da eutanásia e dos
modernos processos para prolongar a vida por meio de técnicas
I
r ...
~.J
..
~
f~
I
.
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artificiais, que têm o poder de manter certos órgãos em funcio
namento, quando a pessoa vive unicamente uma vida vegetativa ,
desprovida de qualidade humana.o E" finalmente, o movimento
le-vantado pelos tanatõlogos questiona a própria definição da mor
te. A morte era declarada como a cessação do funcionamento car
díaco e pulmonar. Atualmente muitos consideram que é a parada
do cérebro que determina a morte do paciente. Por exemplo,
Schwartzenberg, em seu livro Changer la ~10rt (58), considerou
que a nova definição médica conceitua a morte como a perda
de-finitiva da consciincia,
"quando o
elet~oenee6alog~ama t~aç.aun,Leamente li.nha~ fl..eta~".
Cp.
2191Para desenvolver um trabalho de observação
psicolõ-gica de famílias que perdem um filho, escolheu-se a enfermaria
de Hematologia e nessa, famílias de crianças leucimicas. Essa
escolha justifica-se pelo fato de a leucemia ser uma doença que
apresenta uma porcentagem de mortalidade elevada, embora hoje
em dia o objetivo do tratamento, na leucemia aguda, mais comum
na infância, linfoblástica,seja o de obter a cura. Assim, asin
ternações de crianças são freqüentes, e a relação entre a equ!
pe de saúde, o paciente e a família são mais assíduas, o que
vem a facilitar um acompanhamento dos familiares e da criança,
durante a evolução do tratamento.
o
estudo foi realizado no Instituto de Pediatria ePuericultura Martagão Gesteira, pertencente
ã
UniversidadeFe-deral do Rio de Janeiro. Trata-se de um hospital-escola que r~
cebe todos os anos uma série de alunos de 59 e 69 anos de medi
cina, além de residentes, internos e mestrandos, que partici
Parale-lamente à atividade de 'ensino, a filosofia da 'instituição é dar
assistência médica
ã
população, sobretudo da Ilha doGoverna-dor e arreGoverna-dores, geralmente de um nível socio-econômico
médio-baixo e médio-baixo. Atende-se, principalmente, a seguradosdoINAMP~
mas, também, a alguns pacientes sem qualquer seguro, mediante
o pagamento de uma taxa, basea~do-se na renda familiar, no
nú-mero de filhos, na existência ou não de casa própria e no
re-gistro civil, oU,se necessário, gratuitamente. Considera-se um
nível socio-econômico baixo quando o chefe da família ganha sa
lário mínimo, muitas vezes sem ter carteira assinada, vivendo
assim de biscates. O hospital têm uma equipe fixa de profissio
nais como médicos, enfermeiras, auxiliares de enfermagem,
as-sistentes sociais, uma psicóloga e outros funcionários. Mas o
que prevalece é a população rotativa de estudantes de medicina
que efetua a maior parte dos atendimentos, supervisionados e
orientados pela equipe de médicos.
Há vários anos a morte vem sendo reprimida na socie
dade ocidental e isso tem se refletido na atitude dos profis
-sionais que lidam com a vida. Os médicos, de modo geral, sao
preparados no decorrer de seus estudos para curar, e, uma vez
que se deparam com a morte, sentem-se extremamente ameaçados .
Além disso, deparam-se freqüentemente com a exigência social e
algumas vêzes pessoal de curar, tendendo assim facilmente a
considerar a morte como fracasso profissional e institucional,
principalmente quando se trata de mortalidade infantilede hos
pital público. Embora a morte possa ser considerada como uma
advertência dos limites do conhecimento médico, ao invés de um
fracasso, isso parece não aliviar o clima de mal-estar gerado
.,
t
pela situação, levando então a um sentimento de nao se poderfa
zer mais nada pelo paciente e, conseqüentemente, criando a von
ta de de evitã-Io. De modo geral, o enfoque dado a todo o
aten-dimento médico é o de curar pela aplicação de uma
determinada
terapêutica, ou de manter a vida. Essa atitude tem sido
refor-çada em toda a sociedade ocidental que nega a morte como fazen
do parte da vida. Quando o paciente estã prestes a morrer,
o
que domina é a sensação de se haver fracassado, restando então
a esperança no futuro desenvolvbnento da ciência médica,
para
se poder salvar os próximos pacientes. Nesse hospital, também,
a morte permanece um tabu, uma vez que pouco se fala esponta
-neamente nos pacientes que morrem. Observou-se, em uma reunião
•
de médicos em que se discutia a validade de se anunciar ao
pa-•
I ' •
ciente e
à família a proximidade da morte, que a maioria
dos
médicos procurava justificar a necessidade de se ocultar a ver
dade, "mentira benéfica", ao invés de abordar as vantagens
do
contrãrio, ou seja, o anunciar a possibilidade da morte.
Tam-bém pareciam temer o desgaste de se envolverem com a famíliado
paciente e permitir que esses expressassem seus
sentimentos
pessoais. Acreditavam que, em permitindo a possibilidade de um
relacionamento mais próximo, perdiam o controle da situação e
que tal relacionamento podia prejudicar o atendimento profis
sional.
Nesse estudo a ameaça da morte, da perda do filho ,
é representada pela doença grave e por sua evolução. Na revi
-são bibliogrâfica não se encontrou nenhuma teoria psicológica
da morte, nem tão pouco para a preparação da família.
Deparou-se com vârias obDeparou-servações e estudos descritivos do problema da
,
doença fatal na criança e das diversas problemáticas
encontra-das por médicos, psiquiatras e alguns poucos psicólogos em
li-dar com essa criança, sua família e o corpo clínico, face a ,
morte, em contextos hospitalares especificos. Alguns desses tra
balhos serão citados no decorrer da revisão bibliográfica.
No hospital onde esse trabalho foi realizado, até
~
o presente momento, não há nenhuma abordagem psicológica
espe-cifica para lidar com as familias de crianças leucêmicas de ma
neira sistemática. De modo geral, o anúncio do diagnóstico ~
e
feito pela médica, chefe do setor de Hematologia. Sua
princi-paI preocupação é mostrar que se fará todo o possível, terapeu
ticamente, para manter a criança viva, mesmo que a morte seja
uma possibilidade real, visto que ainda não se obtém a cura p~
ra todos os casos de leucemia. Nunca se tira a esperança da fa
mIlia. O tratamento limita-se ao atendimento médico da criança
e se procura manter a família a par das diferentes fases do
mesmo e do estado de saúde do filho. No entanto, a família da
criança com doença letal enfrenta um aumento considerável de
tensões em todos os níveis: emocional, grupal, financeiro, ten
do assim uma verdadeira ruptura em seu ritmo normal de vida.
Face a todas essas mudanças, tem que enfrentar a doença do
fi-lho, dar-lhe assistência e encarar a perspectiva da perda da
criança.
Dentro do setor de Hematologia, o tratamento é de
senvolvido por uma equipe fixa de médicos, enfermeiras, auxi
-liares de enfermagem, assistentes sociais e médicos residentes.
A equipe médica também enfrenta toda uma série de tensões,que~
-sional. Os fracassos "terapêuticos, as exigências de aplicar
tr~tamentos dolorosos nos pacientes e o enfurecimento dos
pais
que procuram outros tipos de ajuda, provocam
freqüentementese~timentos de culpa nos membros da equipe, que têm uma menor
vi-vência desses problemas. Cria-se então um aumento de tensão nas
enfermeiras e auxiliares que passam a maior parte do tempo
em
"
contato com as crianças, estabelecendo assim laços afetivos e
participando com essas crianças de longos períodos de
recaída
da doença e lutos repetidos.
o
hospital se torna assim um lugar onde a
criança
é levada para ser curada, tratada e o lugar onde se desenrolam
os sofrimentos da familia e os conflitos da equipe médica. Mu!
tas vezes, devido a uma série de regras administrativas
~pro-prias ao funcionamento hospitalar e às tensões da equipe
médi-ca, a família acaba sendo evitada e não encontra um continente
para sua dor no hospital. Dessa forma, cada um se isola,
médi-cos, enfermeiras, pacientes, família, e evita lidar com os me
dos e os sofrimentos do outro, assustados com o que possam des
pertar em si mesmos.
o
propósito desse trabalho é compreender melhor o so
frimento e a necessidade dessas famílias durante a evolução da
doença de seus filhos, com o objetivo de propor um atendimento
psicológico adequado
à situação. Ulteriormente, poder-se-á
pr~ver um trabalho com a equipe médica, facilitando assim um
en-trosamento bio-psico-social, levando em consideração toda
a
problemática da família, para que essa possa ser atendida e as
sistida em sua dinâmica global, com fins preventivos.
2. A CRIANÇA LEUC~MICA
2.1. DEFINICÃO DE LEUCEMIA d
Nelson (45} descreve que o cancer mata mais
crian-ças nos Estados Unidos do que qualquer outra doença, sendo a
leucemia a forma mais comum d~ cancer na infância. ,.
A~ leueemia~ ~ão doença~ pnoli6enativa~
de
eun~opno
gne~~ivo
e
inneven~Zveldo
teeido
hematopoi~tieo. A~ e~lula~ leueêmiea~ ene~eem
ã.~ expen~a~ da~ e~lula~non
mai~, a~ quai~tenminam pon
.óub~tituin,levando
ã.
de-6ieiêneia e 6inalmente
ã.
6alêneia da medula
õ~.óea. E~ ta~ Q~lula~ leueêmiea~ ~ão qua~e ~empne libenada~ao
~angue
eineulante.
O
nitmo
de~talibenação vania eom
o
e~tâgioda doença
e
eom·o tipo
de leueemia.
A~ e~ lula~ leueêmiea~,penetnando no 6igado, baço
e
gân
-glio~,aZ pnoli6enam
em
gnau
vaniâvel,
detenminando
o
aumento
6Z~ieo de~te~ ongão~.Numa
6a~e mai~avan-çada,
e~ta~ e~lula~invadem
qua~e todo~ o~ teeido~doongani~mo.
Se o
ea~oenvolve de
modo natunal,eomo
~ueedia
no
pa~~ado,a monte
~obnev~mpela total
de~tnuição da medula
õ~~eanonmal. Cp.
269)Devido à complexidade, do assunto é interessantere
ferir-se também a uma definição mais acessível a leigos, para os
pais e as crianças. Nesse sentido,a Dra. Baker fez um interes
-sante trabalho publicando um livro dedicado às crianças
leucê-micas, You and Leukemia, mostrando aue não se conhece tudo
so-bre essa doença e é difícil explicá-la em algumas palavras. A
definição mais freqüentemente encontrada entre os pais de
cri-anças leucêmicas do Instituto de Puericultura e Pediatria Marta
gão Gesteira,
é
que se trata de cancer no sangue. Inevitavelmente,a expressa0 cancer no sangue traduz toda a ameaça da doença.
Cotter e Schwartz (11) observaram que geralmente não há um
ní-vel alto de negação em relação às palavras leucemia e cancer,
desde que elas são bastante conhecidas e a maioria das pessoas
Para uma maior compreensão do que é a leucemia,
ci-tar-se-á a explicação dada pela Dra. Baker (7) em seu livro:
. . . Leucemia l um cancen
no~ gl6bulo~ bnanco~do
~angue.
Cancen
é
quando um agnupamento de
cllula~não nunciZ
na com o
ne~todo conpo.
Ela~ ~e
tonnam
egoI~ta~.Elas não
~eguem a~negnas.
Ela~ ~e
dividem quando
t~mvontade,
genalmente não
é
quando deveniam.
Ela~
não nazem seu tnabalho de maneina conneta.
Ela~ ~obnecannegam a~ célula~ nonmai~,
e
a~ célula~nonmai~
também não podem tnabalhan bem.
Ela~
não
e~tãono ôngão ,
ela~lhe pentencem,
ela~
viajam em todo o conpo
e panam onde quen que
ela~queinam .
..
Pnovavelmente
ela~não
de~ejam cau~an pnoblema~ ma~o nazem, e pon
e~~anazão
~e
chamam "malIgnas".
Qualquen célula em
~euconpo pode
tonnan-~e malign~Se o~ glôbulo~
bltCti1.c0.6
do-Mngue
~ etonnam
maligno~,. a doenç.a
~echama leucemia.
Cp.
42)2.2. ETIOLOGIA
A causa da leucemia humana é desconhecida, ainda
que várias possibilidades venham sendo pesquisadas. Os :atores
estudados têm sido divididos em três grupos: o
genético,oambi-ental e o imunológico. Resumindo as descrições de Simone (55),
constata-se: uma associação entre doenças genéticas e leucemi~
crianças com síndrome de Down, síndrome de Bloom, síndrc~e de
imuno - deficiência congênita e anemia de Fanconi, têm maior
risco de desenvolver leucemia que a população em geral.-Um
ou-tro argumento em favor do fator genético é que, se a leucemia
11.
possibilidade de des'envolver leucemia maior que a população em
geral. Contudo, Simone (55) consi.dera que, embora essas asso
-ciações sejam de considerável interesse, ocorrem somente para
uma pequena fração de casos. Fatores ambientais (altas doses
de radiação ionizante, alguns produtos químicos, e viroses)
têm
sido relacionados com a leucemia. Esses fatores têm um ponto em
comum, ou seja, podem modificar a estrutura da A.D.N. ( ácido
desoxiribonuclêico). Finalmente, o fator imunológico também tem
sido considerado.
o
premio Nobel de medicina em 1975 foi dado aoscientistas que descobriram viroses que pareciam causar a leuce
-mia em animais. Mas os esforços realizados para identificar o
virus da leucemia humana têm falhado.
2.3. DIFERENTES TIPOS DE LEUCEMIA
Baker
á)
explica que a leucemia nao pode ser considerada como uma só doença. A leucemia é uma doença dos glóbu
-los brancos, e como existe mais de uma espécie de glóbulo bran
co , também existe vários tipos de leucemia. Há três tipos de
glóbulos brancos; granulócitos, que combatem os germes
chama-dos bactérias; monócitos, que combatem qualquer espécie de geE
mes e duas espécies de linfócitos: linfócitos B, que expelem
os germes e linfócitos T, que transmitem ordens a nível
químico para outros glóbulos branquímicos e destroem germes, principal
-mente viroses e "micoses". Baker (7) relata que as leucemiasse
subdividem em: linfocítica, indiferenciada e não- linf6cítica
I
!I
I
t
!
!(mielocítica ou granulocítica, monocítica, mielomonocítica, p~
granulocítica e eri troleucemial. As mais comuns são as
linfocí-ticas e granulocílinfocí-ticas, as outras são formas raras.
Oliveira (4G) refere que
all c..iallsi6.ic.aç.õell dLsponZveis paJLa a .ieuc.emi.a
.
~.6ao..
i~~natoJLias,pois são baseadas
em
c.aJLac.teJLes
c..iI-nic.os
e
c.itomoJLno.i~gic.Oll.Assim, sob um ponto
de Vill
ta c..iZnic.o, elltas c.ondi.ç.oell nOJLam c.aJLac.teJLizadall
c.o~mo aguda.õ
e
c.JLani.c.as. Vo
pon~ode
vista
c.itol~gic.o,
doi.õ gJLUpO.6 pJLinc.ipai.õ
tamb~mpodem seJL dineJLenc.ia
-dOll, a.õ 60JLma.6
.iinnoc.it~JLia.õe
mie.i~idell.E.õte.õ
doi.6
gJLUpOll llao .õubdivididoll, c.onnoJLme
o
gJLau
de
matuJLida
de
c.e.iu.iaJL,
em
nOJLma.6 i.matuJLa.õ, que têm
em
geJLa.i
uma
evo.iuç.ão "Aguda" e nOJLma.6 natuJLai-6, que tem pOJL
'.lua
vez
uma evo.iuç.ão "c.JLônic.a". Em uma pequena
pOJLc.enta-gem das nOJLmas di.ta.õ agudas não
~posslve.i .õa6eJL
a
qua.i .õilltema peJttenc.em as·
c.~.iu.ias,.õ e
mie.iõide ou un
n~ide.E.õta.õ nOJLmas são c.onsideJLada-6
indineJLenc.iada~.Cp.
273)2.4.
INCID~NCIASimone (55) mostra que a leucemia aguda ocorre em
qualquer idade, incluindo o período neonatal. Observou-se um
pico de incidência para a leucemia aguda entre dois e seis anos
de idade. A ocorrência anual nos Estados Unidos ~ de quatro c~
sos para cem mil crianças, abaixo de quinze anos de idade,
resultando em cerca de quatro mil novos casos por ano:. A inci
-dência observada ~ maior entre meninos do que nas meninas (1,3
para 1) e entre brancos do que em nãobrancos (2 para 1). En
-tre crianças brancas, no grupo de dois a seis anos de idade, a
maior incidência ~ a da leucemia aguda linfoblástica (AlI, a
mais comum). Na leucemia aguda mieloblástica não há pico de
incidência etária na infância e a incidência em brancos e
2.5. DIAGNOSTICO
Geralmente é feito baseando-se no quadro clínico.
Em se tratando de manifestações clínicas, Simone (55)
descreve que os sinais de leucemia aguda variam desde um iní
-cio explosivo até um insidioso, em dias ou meses de duração. O
número e severidade de sintomas diferem largamente de paciente
para paciente. O autor relata que alguns pacientes assintomáti
cos sao diagnosticados como tendo leucemia durante o exame de
rotina, enquanto outros morrem algumas horas após o
diagnósti-co diagnósti-com septicemia (infecção generalizada) ou hemorragia. Certas
manifestações devidas
à
diminuição das células sanguíneasnor-mais inclu~m cansaço, lassitude, palidez, febre, infecção,
he-morragias de pele (petequiasl, mucosas, ou vísceras. Dores
ós-seas
e
articulares, algumas migratórias, são manifestações deleucemia aguda na criança e freqüentemente são confundidas com
artrite reumatóide e febre reumática. Aumento do fígado e do
baço (hepatoesplenomegalia) pode resultar em aumento do abdo
-mem e desconforto. Gânglios linfáticos podem estar moderadamen
te aumentados. Simone (55) descreve que uma forma de apresent~
ção menos comum é o aumento das "glândulas salivares e lacri
mais, nódulos subcutâneos e aumento testicular. Também o envol
vimento do sistema nervoso central pode causar paralisia de
nervos cranianos, hipertensão intracraniana, sendo que os acha
dos oculares também incluem hemorragia e infiltração de ..retina
ou da camara anterior do olho. Infiltração de gengiva com
au-mento, ocorre em uma pequena porcentagem de casos e está
asso-ciada com leucemia mielóide aguda. Infiltração das amígdalas ,
adenóides ou apêndice podem levar
à
suspeita do diagnóstico deo
diagnóstico é feito pela história do doente, peloexame físico e pelos exames de laboratório (hemograma conum ,
contagem de plaquetas) e o exame de medula óssea é indispensá
vel para a confirmação do diagnóstico.
2.6. TERAP~UTICA
Nos últimos vinte anos foram descobertas drogas que
destroem as células leucêmicas. Algumas dessas drogas foramdes
cobertas em experimentos com animais e estão sendo testacas em
pessoas com leucemia. Tal tratamento é feito por uma combina
-çao de quimioterápicos. Atualmente, a finalidade do trat~~ento
é a de obter a cura. Baker (7) explica que remissão não éames
ma coisa que estar curado, mas é um estado em que se pode
man-ter o paciente por anos. O meio usado para conseguir que o
pa-ciente entre em remissão chama-se processo de indução. Du=ante
a indução usam-se várias drogas para tentar destruir o ~aior
número possível de células leucêmicas. Para isso deve-se ~ospi
talizar o paciente durante alguns dias ou semanas. Simone rela
ta que remissão completa é considerada quando não há leucemia
detectável no sangue, nem na medula óssea ou no líquido cére
broespinhal (líquor, líquido céfaloraquidiano). Simone des
-creve que uma vez a remissão obtida, coloca-se o paciente em
um programa de drogas, cuja finalidade é a de manter a
remis-são e chama-se terapia de manutenção. Essa terapia para a manu
tenção de remissão é dirigida para continuar a destruiçãó de
células leucêmicas invisíveis e manter um estado de remissão o
remissão, a criança recairá dentro de alguns meses, porque
cé-lulas leucêmicas permanecem vivas, embora elas sejam não detec
táveis pelos métodos atuais. Mostra que um aspecto atual impoE
tante da terapêutica da leucemia aguda é a profilaxia da leuce
mia do sistema nervoso central. Com o aperfeiçoamento da
tera-pêutica no tratamento da leucemia, a duração da remissão e
da
sobrevida tem aumentado. Tem sido observado que o sistema
ner-voso central aparece como o local inicial de recaída em aproxi
madamente metade das crianças. Simone (55) relata que a acaren
te razão para essa complicação é a falta de drogas
anti-Ieucê-micas para penetrar nas meninges, no líquido cérebro-
espi~halem concentrações efetivas. O tratamento preventivo aplicaco
p~ra combater as células leucêmicas no sistema nervoso central é
feito pela telecobalterapia
de crânio e a administração
si-multânea de Methotrexate intratecal. O autor mostra que
essa
terapêutica preventiva do sistema nervoso central é
associada
com efeitos colaterais tais como: perda de cabelo, meningisno,
dor nas costas, náuseas e dor de cabeça. A recaída, como
rela-ta Simone (55), é o reaparecimento da leucemia em qualquer
lu-gar do corpo. Atualmente, com a terapêutica que se dispõe,
na
maioria das vezes a recaída ocorre na medula óssea.
Ea cadare
caídapára-se a terapia de manutenção e se começa a indução
,
tornando-se cada vez mais difícil a obtenção de uma nova
ra~issão. As remissões ulteriores geralmente duram menos e há
uma
maior resistência do organismo
ã
terapêutica. A vigilância de
recaída se faz por hemograma semanal, punção lombar e da
medu-la óssea a cada três meses e consulta periódica. Miller (41),re
lata que uma criança com leucemia aguda linfoblástica pode ser
anos, depois que a terapêutica foi suspensa. Entretanto, podem
ocorrer recaldas at~ dez anos ap6s a suspensão da terap~utica.
Cp. 269).
Kobrinsky (28) descreve que, a despeito dos progre~
sos feitos na cura da leucemia aguda linfoblástica, na última
d~cada,o tratamento das outras formas de leucemia ~ ainda difí
cil e os resultados obtidos em relação
à
remissão e àsobrevi-da prolongasobrevi-da não são satisfat6rios.
2.7. PROGNOSTICO
Essa doença foi designada como uma entidade clínica
separada por Craigie, Bennett e Virchow em 1845 (in Maxwell
40). Segundo Simone (55), nos casos de leucemia linfoblástica
aguda, 90% das crianças alcança a remissão e 50% sobrevive
cinco anos ou mais livres de qualquer evid~ncia de leucemia,e~
bora não se disponha de uma forma acurada de prever qual evolu
çao a criança terá.
- Plano de tratamento das leucemias no IPPMG:
Embora o plano de tratamento seja mais ou menos uni
forme e desenvolvido segundo os progressos feitos sobre o co
-nhecimento da doença, citar-se-á brevemente um resumo do que e
feito no setor de hematologia em termos de terap~utica.
Ap6s o diagnóstico, inicia-se a indução de remissã~
com a criança hospitalizada, durando mais ou menos quatro sema
Ctele-qobaltoterapia de crânio e administração simultânea
de
Methotrexate intratecall, durando duas semanas e meia.
Quando
•
tudo corre bem,
envia~sea criánça para casa e continua-se
o
tratamento ambulatorialmente, com a terapêutica de manutenção
de remissão, fazendo-se consultas periódicas de três em
três
semanas, a punção de medula óssea e lombar de controle,a cada
três meses. Mantendo-se a remissão durante três anos, a medica
ção da manutenção
é
suspensa e a criança continua a ser acompa
nhada, sendo controlada nas consultas, com hemograma, punçãode
medula óssea e lombar realizadas com periodicidade mais
3. EXISTE PSICOLOGIA DA MORTE?
Nos últimos vinte anos, sociólogos, psicólogos e
médicos começaram a se defrontar com repercussoes
psicológi-cas e sociais ligadas
à
repressão da morte na sociedade.Des-de então, observa-se um ressurgimento Des-de interesse pelo assun
to.
Aries (3) e Geoffrey Gorer acham que
umag~a»de pa~te
da patologia
~oeial dehoje
te~ia~ua o~igem
na
expul~ãoda
mo~teda vida quotidiana,
eom a
inte~diçãodo luto
edo
di~eito de cho~a~ o~mo~to~. (p. 152).
No artigo de Aries (3) sGbre o doente, a família e
o médico, ele desenvolve uma descrição muito interessante de
uma etapa, por ele considerada como intermediária entre a
e-xaltação da morte na época romântica, que pode ser observada
nas obras de Balzac por exemplo, e o atual interdito da morte.
Analisa as novas características de lidar com a doença grave,
o doente e a morte que começam a aparecer no final do século
XIX e que lembram as situações atuais da morte no hospital.
Essas características também são bem analisadas por Aries na
obra de Tolstoi, a morte de Ivan Ilitch. O doente grave é
habituado a negar o seu estado e levado a pensar como os médi
-cos,
"a vida
de
Ivan Iliteh não e4tava
em
que~tão, ma~ t~atava-4e
de
um debate
ent~eo
~im de~loeadoe
a apendieite"
(p.163). O autor mostra assim que, a partir desse momento, Ivan
Ilitch deixa todo o ciclo familiar e suas implicações:
ilu-sões, resignação ou ansiedade, que sempre foi a atmosfera dos
Ve~de ~ua vi~ita
ao
m~dieo,a
p~ineipal p~eoeupaÇaode
Ivan Iliteh
e~aa
de
~egui~ e~t~itamente ~ua~~eeomendaçõe~ eonee~nente~
ã
higiene
ao~medieamen-to~,
e de
ob~e~va~atentamente, ou
~eja,objetiva
e
elinieamente,
~ua do~e
toda~ a~ 6unçõe~de
~eu o~gani~mo. o~ inte~e~~e~
de
Ivan Iliteh
~e eoneent~amna doença e na
~aüde. (p. 163)19.
Urna segunda característica que aparece é o isolamento no qual
o paciente se encontra por falta de possibilidade de comuni
-car suas vivências, urna vez que todos fingem estar otimistas,
f'
negando a gravidade da situação.
Aries (3) mostra o começo de um novo comportamento
em relação ao doente:
o
p~ineipal to~mentode
Ivan Iliteh
e~aa
menti~a,
e~ta menti~a
admitida, nao
~e ~abe po~que, po~to-do~,
de
que
e~tavadoente,
e
não
mo~~endo,e
que
t~nha
apena~que
6iea~ealmo e
t~ata~-~e pa~aque
tu-do
~e a~~anja~~e. Ao pa~~oque, bem
o ~abia, oque
que~
que
~e 6ize~~e, ehe9a~-~e-ia apena~a
~o6~imento~
ainda
mai~ te~~lvei~,e
ã
mo~te. (p. 164).-Quanto Ivan Ilitch se revolta, vira-se para a par~
de, e recusa a se comunicar, adotando assim a atitude denun
-ciada pelos sociólogos americanos, Glaser e Strauss, (in Aries,
3) e tão temida nos hospitais, a do moribundo pouco
cooperan-te. O autor mostra que urna outra característica é relativa a
..
maneira de tratar o doente corno se fosse urna criança, retiran
do-lhe suas responsabilidades, agindo corno se ele não tivesse
mais capacidade de refletir e decidir. Mas duas grandes
dife-renças permanecem entre a morte no tempo de Tolstoi e a de ho_
je em dia. Aries descreve que hoje em dia, a semelhança na
a-titude de lidar com a morte existe unicamente durante a
doen-ça grave até o começo da agonia. Aries (3) relata corno no
fi-nal do século XIX ainda se hesitava em privar o moribundo de
sua morte, e o direito de vivenciâ-la lhe era dado, mesmo que
:t
\
i
I , .
fosse o mais tarde pqssível. Isso é bem ilus.trado nas
exéqui-as de Ivan Ilitch quando um amigo pergunta
à
viúva se omari-•
do havia permanecido consciente: -
"Sim,
at~o
~ltimoin~tan-te, munmuna.
Ve~pediu-~ede
nô~um quanto
de hona
ante~do
6im ... "
(p. 165). Como expõe o autor, hoje em dia. ficar-se-iafeliz em poder dizer que o moribundo não sentiu que estavamor
rendo. A outra diferença assinalada é que no fim do século XIX
os ritos dos funerais e do luto tinham a mesma aceitação e p~
blicidade que nos séculos anteriores, e está sendo perdida
a-tualmente.
vê-se assim, através dos relàtos de Aries (3), que
parte do modelo contemporâneo da morte já estava esboçado nas
burguesiasdo século XIX, principalmente nas dificuldades que
surgiram em ,se admitir abertamente a morte, no isolamento
mo-ral do ~oribundo, na ausência de comunicação, no despojamento
do paciente. pela família, de toda sua responsabilidade, e p~
lo lugar crescente que vai ocupando desde então o médico e a
medicina. Referindo-se ao poder do médico e da medicina, va-
...
rios assuntos poderiam ser abordados, por exemplo, a
variabi-lidade da duração do períod6 terminal, sendo cada vez mai·s
fá
cil prolongar ou abreviar a vida em nossa sociedade.
Na cultura americana de hoje o morrer
é
tratado como alguma coisa separada da vida e trata-se também os moribun
dos e os vivos de modo diferente. Segundo Ziegler (67),
exis-te praticamenexis-te uma mudança de status social entre os vivos e
os mortos na cultura americana.
A
medida que se tenta pouparo moribundo dos sofrimentos relativos
à
doença e dos aconteci~
isolado num ambiente artificial, pelos que nao desejam lidar
com a realidade da morte. Todos esses cuidados citados por
Ziegler contribuem para ~anter a negação da morte nessa cultu
ra, levando a que a morte seja evitada como realidade e aumen
~
tando assim a culpa que se sente em deixar alguém morrer so.
E como mostra a literatura p~iquiátrica, as consequências
negação da morte e da repressão do sofrimento são inúmeras. da
Kübler-Ross (30) mostra, com o estudo das civiliza
çoes antigas dos povos, que a morte sempre foi objeto de
re-pulsa. Acha que muito provavelmente a morte nunca será vista
de outra maneira, baseando-se em considerações psicanalíticas.
Para o incQnsciente, a morte nunca parece possível no que diz
respeito a si mesmo e, havendo necessidade de admitir que a
própria vida acaba, esse fim será sempre atribuído a uma
in-tervenção maligna do exterior. Porque, para o inconsciente, a
morte por causa natural ou envelhecimento não é concebível, o
único meio de concebê-la é o de ser morto. Por isso, explica
Kübler-Ross, a idéia de morte em si é associada a uma má ação
ou a um acontecimento assustador, a uma vingança ou castigo.
Pode-se concluir que o medo da morte é universal e que as
ne-cessidades básicas face ao difícil momento da morte não
pare-cem ser diferentes entre os homens. O que parece ter mudado
e difere, é o seguinte: as maneiras que se usa para lidar com
a morte e com os moribundos nas diferentes culturas, as
dife-rentes explicações para a morte e seu significado para o
ho-mem em função da personalidade e de todo o aprendizado social,
que facilita ou dificulta a vivência pessoal face
à
morte.Professora de psiquiatria na Universidade do
Colo-i
22.
rado, Kllbler-Ross, psiquiatra americana de origem suiça, vem
se dedicando ao tema da morte. Levantou a hipótese de que e
...
dIficil aceitar a morte nessa sociedade porque ela nos ~ to
-talmente estranha. Mostra que evita-se que as crianças
parti-cipem das cenas de morte e de morrer, julgando-se assim prote
gê-las de algum mal. Parece que no s~culo XX, a morte
substi-tuiu o sexo como principal interdito. Nega-se a morte afastan
r
do-a do ambiente familiar, da vida quotidiana, evitando falar
no assunto ou presenciar o sofrimento de um moribundo, isola~
do os familiares. Dessa forma, a morte tornse ainda mais
a-meaçadora porque ela representa muitas vezes a doença, a soli
dão, o isolamento em um hospital. Os hospitais, por sua vez,
não podem atender às necessidades humanas dos que vão morrer.
A morte também ~ um tabu no hospital e não faz parte da roti
na hospitalar, que.tem como único objetivo a cura do paciente.
Enfim, toda a sociedade comporta-se da mesma forma: negaa.illOE
te, evita falar nela e exige um auto controle dos sentimentos
pela parte do paciente, fami liares, amigos e p:r-ofissionais que
lidam com o doente.
Kübler-Ross iniciou um trabalho pioneiro em 1960.
Interessou-se pelo problema da morte e começou a organizar s~
minários com os pacientes em fase terminal. Tornando a Tanato
logia uma especialidade acadêmica da ciência, ulteriormenteex
tendeu sua experiência organizando seminários e conferências
para m~dicos, psicólogos, enfermeiros e teólogos. Publicou o
relato de suas experiências em três livros, sendo o mais
co-nhecido "On Death and Dy;ing", publicado em 1969. Nesses
últi-mos dez anos, Kllbler-Ross limitou sua prática médica aos doe~
tes agonizantes e a suas famIlias. Kübler-Ross (30) observou
I :
I
ii;
I ·
I·
I
I
que as pessoas que vao morrer passam por 5 fases: negaçao, re
volta, barganha, depressão, aceitação. Coloca que essas rea
-ções não são válidas unicamente para o fenômeno da morte, mas
podem acompanhar toda espécie de perda e mudanças durante a
vida. Servindo-se dessas observações, ela tem preparado as fa
mílias para que possam compreender as reaçoes de seus doentes
e a equipe técnica para que possa aceitar melhor as reaçõesdas
famílias e do paciente. Ela analisa a atitude de recusa damor
te adotada freq~entemente pelo pessoal técnico, pela família
e pelo doente. Acha esse período importante para que eles po~
sam confrontar-se com a nova realidade, a morte.
Mostra que médicos e enfermeiros consideram que
sua função é a de curar e que o moribundo põe esse papel em
questão. Ela encoraja o corpo clínico a permitir que os
doen-tes abordem o tema da morte, se eles quiserem. Acha que
quando o paciente nao nega mais a morte, ele mesmo aborda o pro
-blema. Coloca que é importante a participação da família nas
últimas emoçoes do doente e que nao se guarde desnecessária
-mente o segredo da morte, impedindo o doente de lidar com
es-se acontecimento. Em sua prática, a autora acones-selha os
paci-entes a viver mais plenamente o tempo que lhes resta e
prepa-ra a família paprepa-ra compreender as necessidades finais de seus
doentes.
Kübler-Ross (31) lembra que
mo~~e~
e
al~oque
nõ~, ~e~e~ humano~, óazemo~eonti
nuamente, nao
apena~ao óim de
no~~avida
óZ~ieani6
~emundo. Se
voe~ pude~ en6~enta~e
eomp~eenden ~u~mo~te
ninai, talvez
po~~a apnende~a eneanan a
li-da~ lue~ativamente
eom eada mudança que
~e apne~enNesse trabalho estudar-se-á a ameaça da morte (peE
da de um filho) que
é
representada pela doença grave e porsua evoluç~o. Na revis~o bibliog~áfica n~o se encontrou
ne-nhuma teoria psicológica que abordasse o problema da
prepara-çao psicológica da famIlia~ Deparouse com estudos descriti
-vos de tais situações e observações de médicos, enfermeiras,
assistentes sociais e psiquiatras que lidam com a criança, a
famIlia e o corpo clinico em contextos hospitalares
especIfi-COSo
A seguir, serao abordados os seguintes pontos:
al-guns dos estudos e observações acima .mencionados referentes ao
papel da criança, da famIlia e da equipe médica na doença gr~
ve e em sua evoluç~o e as contribuições que a psicanálise e a
fenomenologia oferecem para a compreen~ão do problema da
mor-te.
.3.1.
ESTUDOS SOBRE A MORTE3.1.1.
A criança e a morteComo já foi visto, o homem nessa sociedade tem gr~
de dificuldade em lidar com a problemática da morte, projetan
do-a em forma de interditos ou negando-a. Muito ilustrativa a
esse respeito é a posiç~o em que os adultos colocam a criança
e a morte. Evita-se por todos os meios que a criança saiba do
falecimento de um membro de sua famIlia, que ela vã a velórios,
enterros, ou tenha algum contato com a morte. Também, nao se
fala de morte com as crianças, alegando-se que elas n~o ~om
-i:
iI·
r ! .
25.
preenderiam; o mesmo pretexto era dado há algum tempo atrás
a respeito da sexualidade.
Pelos estudos já realizados, pode-se observar que
as crianças não precisam de conceitos filosóficos para
abor-dar a morte, elas podem ver, imaginar, aceitar ou recusar
es-sa realidade. Por outro lado, também pode-se considerar que
existe diferenças quando se considera a morte na velhice e a
morte no jovem. A velhice pode ser considerada como o
encer-rar da vida, o velho teve a possibilidade de realizar sua exis
tincia, de viver, mas a criança ainda é todo um projeto nao
realizado, no qual se depositam, de alguma maneira, esperan
-ças e toda uma série de possibilidades a serem desenvolvidas.
Por isso mesmo a morte da criança pode tornar-se mais dificil
mente aceita pelo adulto.
Qual é o significado da morte para a criança e
co-mo ela lida com a problemática da co-morte?
Vários estudos psicológicos foram feitos sobre o
problema da morte na criança normal, isto é, sem doença
físi-ca específifísi-ca. Nagy (in Feifel, 44) estudou, do ponto de
vis-ta genético, os conceitos que as crianças de tris a dez anos
tim sobre a morte. Ela descreve tris estágios na aquisição do
conceito de morte: de tris a cinco anos, a criança não reco
-nhece a morte como um fato irreversível, atribui vida e
cons-ciincia ao morto; a morte é figurada pelo sono, consideradoco
mo 'um estado gradual e temporário. De cinco a nove anos, a
~
morte e personificada, ora como uma pessoa bem
individualiza-da, ora por identificação a um morto, e não é universal. A par
.
.
tir de dez anos, a morte é reconhecida como um processo uni
-versal e em acordo com certas leis naturais, urna delas sendo
a cessação das atividades corporais.
Outros autores corno Heuyer, Lebovici (in Rairnbault,
50) acham que a criança não teria, antes de dez anos, uma
i-déia abstrata da morte, mas faria algumas aprendizagens
rela-cionadas às suas experiências pessoais.
Trabalhos sobre o conceito de morte em criar.ças
doentes, geralmente com leucemia, foram realizados por
Natterson e Knudson, Vernick e Karon, Binger, Jean Alby e
Bernard.
As observaç5es de Natterson e Knudson (27)
coinci-dem com as de Nagy. As reações que as crianças hospitalizaaas
manifestam às tens5es ambientais, separação da mae, processos
traumáticos e mortes de outras crianças, representam a
ansie-dade de separação, mutilação e medo da morte.
Para os autores a evolução desses medos parece
es-tar relacionada à idade, portanto, à maturação do
conhecimen-to: as reaç5es de separaçao sao mais intensas em crianças até
cinco anos; para os processos traumáticos, de cinco a dez
anos e para o medo da morte, no grupo de crianças a partir de
dez anos.
Binger (8) e colaboradores também consideram que a
concepçao infantil de morte varia segundo a idade, sendo que
a ansiedade sobre a doença e o luto também estão relacionadas
Estudos que visam saber corno a criança lida com a
morte foram feitos por Vernick e Karon (65). Observaram em
crianças leucêmicas que elas têm 'conhecimento da gravidade de
sua doença. Entrevistaram crianças a partir de nove anos e
mostram que para ajudar a criança a lidar com os problemas da
doença grave, é necessário desenvolver um meio no qual ela se
sinta livre para manifestar seus sentimentos, fazer perguntas,
e que tenha confiança em receber urna resposta honesta.
Subli-nharam também o papel terapêutico de se conversar o diag~ósti
co com ~criançase o fato de que elas o aceitam muito bem.
Encorajam os pais a conversar o diagnóstico com a criança,se~
do que a maneira de contar varia segundo a idade e o
"back-ground11
• Muitos temem que, dizendo a verdade, a criança se
prejudique em seu estado emocional, mas essa não foi a experi
ência de Vernick e Karon. Na prática, consideram que a qual
-quer criança que tenha idade para fazer uma pergunta, se deva
dar uma resposta honesta.
Solnit e Green (59), acham que desde cinco anos as
crianças fazem perguntas aos adultos sobre sua própria morte.
Alby e colaboradores (5) também observaram que cri
anças leucêmicas têm consciência da gravidade de seu estado.A
lucidez e a angústia da criança são particularmente difíceis
para os adultos. Notaram que até quatro e cinco anos as rea
çoes são as mesmas que se vêm em todas as crianças
hospitali-zadas por doença grave. Na segunda infância, acham que existe
uma rápida tomada de consciência da gravidade da doença e da
angústia familiar. Consideram que a criança adquire uma
.
.
diz respeito
ã
doença, aos elementos de prcgnósticos e tera-pêuticas. Acham que isso
é
favorecido pelo agrupamento de crianças leucêmicas em centros especializados.
Raimbault e Royer (51) estudaram a temática da ~or
te em crianças com doenças graves e prognóstico eventualmente
fatal. Observaram que a idéia da morte preocupa todas essas
crianças que dão uma definição precisa da morte desde cinco a
nos. A evocação da morte se acompanha da descrição dos aÍetos
dos sobreviventes, do moribundo e a procura de uma causa. A
criança evoca a própria morte em relação direta com a doe~ça.
Para a maioria, a morte se situa logicamente no destino das
crianças doentes que vão ao hospital e não se curam. Nas
ob-servações de Raimbault e Royer, a criança doente parece
rea-gir de maneira muito mais precoce do que a criança sã, a ~~r
te do outro e descreve os efeitos psicológicos. Enfim, ac~a
ram em seus resultados que as reaçoes expressas pela cri~!ça
face ao tema da morte, testemunha uma tentativa de liberar a
angústia que lhe é conexa. Essas tentativas se expressam de
várias formas: ritos, mentiras, negações, deslocamentos, i~de
pendentes da idade da criança.
Vários autores como AlbYi Raimbault e Kübler- Ross
mostram que a criança tem medo de ficar ainda mais doente,
i-solada ou de sofrer. Um dos únicos meios de ajudá-la, exclui~
do os sedativos, é o contato corporal e a verbalização expre~
sa por ela, do que se pode conhecer de seu sofrimento e deseu
3.1.2. FAMíLIA
Mudanças na estrutura" familiar e no relacionamento
entre seus membros durante a doença grave e após a morte de
4 um deles, foram observadas em estudos de diferentes autores.
•
•
•
Ajuriaguerra , Andrea Farkas, Kübler-Ross, Alby,
Caim, Steinhauer e Mushin notaram que a aparição de uma
doen-ça grave modifica inteiramente a vida familiar. Cria um aumen
to de tensão, angústia e medo face aos primeiros sintomas, a
necessidade de internação da criança e a expectativa do escla
recimento do diagnóstico. Acarreta também um aumento de res
-ponsabilidade para os pais, alteração na rotina familiar, tais
como: maior ausência da mãe que dá assistência
à
criança doe~te, preocupação constante do casal com o filho doente que
le-va os outros filhos a reagirem em função da mudança na
atmos-fera familiar e do aumento de tensão .
Steinhauer e Mushin (63) estudaram os fatores que
influenciam as reações dos pais e as modificações na
atmosfe-• ra familiar. Quanto mais a doença é debilitante, e o
prognós-tico ruim, particularmente em uma criança que era saudável
maior será a tensão familiar. Nesses casos os pais sentem am~
tantemente a ameaça de perda do filho, representada pela doe~
ça. Os autores também observam que, se a doença é congênita
ou adquirida, os sentimentos parentais de culpa e de respons~
bilidade se intensificam. Um outro fator que foi visto como
influenciando a reação dos familiares é a idade de apariçãoda
doença e o diagnóstico. Observaram que se a doença aparece