PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM PSICOLOGIA DOUTORADO EM PSICOLOGIA
TESE DE DOUTORADO
MARLI APPEL DA SILVA
Trabalho, Relacionamento Marital
e Saúde
Profa. Dra. Irani I. de Lima Argimon Orientadora
Agradeço, especialmente, à Profa. Dra. Irani I. de Lima Argimon, minha
orientadora, pelo estimado apoio à conclusão do meu Doutorado.
Agradeço à Profa. Dra. Maria Lúcia Tiellet Nunes pelo apoio aos momentos
difíceis de transição de orientador, auxiliando na conclusão do meu Doutorado.
Agradeço às pessoas que atuam na Secretaria de Pós-Graduação, em especial, a.
Inês e Cláudia, pela prontidão e presteza na prestação de informações e no apoio
requisitado.
Agradeço ao Alexandre Appel pelo carinho e compreensão dedicados para que
RESUMO
Esta Tese insere-se no Grupo de Pesquisa Avaliação e Intervenção Psicológica no Ciclo Vital, coordenado pela Profa. Dra. Irani I. de Lima Argimon. Foi elaborada com a finalidade de conclusão do Doutorado em Psicologia pela Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul. Apresenta como objetivo estudar as relações entre os fatores psicossociais do trabalho, o ajustamento marital e a saúde. Para tanto, compreende seis estudos: dois teóricos e quatro empíricos. O primeiro estudo objetiva discutir a respeito dos pressupostos lançados pela Teoria da Borda e Teoria do Limite na interface trabalho e família. O segundo, aborda os principais conceitos da Teoria dos Papéis Sociais a partir da abordagem interacionista simbólica, baseada em Erwin Goffman, avaliando a importância de tais conceitos para a Psicologia Social. O terceiro, avalia as relações entre as demandas psicológicas do trabalho e a satisfação com o relacionamento marital. O quarto, verifica as relações entre trabalho, relacionamento marital e saúde. O quinto, examina as relações entre o ajustamento marital e saúde em profissionais da empresa privada de grande porte, a partir de duas hipóteses: há diferentes características de ajustamento marital; e este se relaciona com a saúde geral. O sexto, apresenta como propósito estudar as relações entre a insegurança no trabalho e a saúde psicológica em pessoas incluídas no mercado de trabalho formal brasileiro, em grandes empresas privadas. A partir desses estudos, considerações finais são discutidas a respeito da importância da centralidade das variáveis estudadas para o ciclo vital do adulto.
ABSTRACT
The present thesis is inserted in the Research Group Psychological Evaluation and Intervention in the Vital Cycle, coordinated by Prof. Irani I. de Lima Argimon, PhD. It is submitted for the award of doctoral degree in psychology by the Pontifical Catholic University of Rio Grande do Sul. Its purpose is the study of the relations between labor psychosocial factors, marital adjustment and health. Therefore, it comprises six studies: two theoretical studies and four empirical studies, based on the relations between the variables studied and the theoretical aspects comprised by such variables. The first study is theoretical and aims at discussing the presuppositions established by the Border Theory in the work and family interface. The second study discusses the main concepts of the Theory of Social Roles from the symbolic interactionist approach, based on Erwin Goffman, assessing the importance of such concepts in Social Psychology. The third study, empirical, evaluates the relations between psychological demands at work and marital relationship satisfaction. The fourth study, also empirical, examines the relations between work, marital relationship and health. The fifth study examines the relations between marital adjustment and health in people in the formal labor market, who work in large companies, from two hypotheses: there are different characteristics of marital adjustment; and marital adjustment is related to general health. The sixth study aims at studying the relations between job insecurity and psychological health in people in the Brazilian formal market, who work in large private companies. The final considerations from these studies concern the importance of the centrality of the variables studied in the adult vital cycle.
Lista de Tabelas
Tabela 1: Percentuais de respostas nas variáveis sociodemográficas... 81
Tabela 2: Percentuais de respostas nas demandas psicológicas do trabalho ... 82
Tabela 3: Percentuais de respostas das dimensões da satisfação com o ajustamento marital . 83 Tabela 4: Percentuais de respostas nas questões sobre o consenso ... 85
Tabela 5: Percentuais de respostas nas questões sobre contentamento ... 86
Tabela 6: Percentuais de respostas nas questões sobre coesão ... 88
Tabela 7: Percentuais de respostas nas questões sobre expressão afetiva ... 89
Tabela 8: Relações entre as variáveis das demandas do trabalho e da satisfação com o ajustamento marital ... 90
Tabela 1: Percentuais nas dimensões dos fatores psicossociais do trabalho ... 115
Tabela 2: Percentuais nas dimensões do ajustamento marital... 116
Tabela 3: Percentuais nas dimensões da saúde geral... 116
Tabela 4: Regressão linear entre as variáveis dos fatores psicossociais do trabalho e da saúde ... 118
Tabela 5: Regressão linear entre as variáveis do ajustamento marital e da saúde... 119
Tabela 1: Percentuais de respostas nos dados sociodemográficos divididos por gênero ... 161
Tabela 2: Percentuais de respostas nas questões sobre insegurança no trabalho e gênero... 162
Tabela 3: Percentuais de respostas nas questões sobre a saúde geral ... 163
Sumário
Trabalho, relacionamento marital e saúde... 08
Introdução... 08
Modelos utilizados ... 13
Método Psicossocial de Copenhague (CoPsoQ) ... 13
Modelo de Ajustamento Diádico... 15
Método ... 17
Delineamento ... 17
Hipóteses ... 17
Participantes ... 18
Instrumentos ... 19
Procedimentos de coletas de dados ... 20
Procedimentos de análise de dados ... 21
Estudos realizados ... 21
Referências ... 24
Capítulo 1: Avanços às Teorias da Borda e do Limite na interface trabalho e família... 27
Introdução... 27
Teoria da Borda e do Limite... 31
Avanços à Teoria da Borda e do Limite ... 35
Bem-estar e exaustão emocional ... 35
Transição entre papéis: exaustão emocional e estratégias de facilitação ... 37
Bidirecionalidadeda interface trabalho-família ... 40
Apoio social: recurso de facilitação ... 41
Equilíbrio e ajuste entre os domínios ... 43
Fatores socioculturais ... 44
Ampliação da Teoria da Borda e do Limite ... 47
Considerações Finais ... 48
Referências ... 49
Capítulo 2: A Teoria dos Papéis Sociais interacionista na Psicologia Social... 55
Introdução... 55
Características dos papéis sociais ... 57
Aplicação da Teoria dos Papéis em estudos... 63
Considerações finais ... 71
Referências ... 71
Capítulo 3: Demandas do trabalho e satisfação com o ajustamento marital... 75
Introdução... 75
Método... 78
Resultados... 80
Características da amostra ... 79
Demandas psicológicas do trabalho ... 82
Satisfação com o ajustamento marital ... 83
Consenso... 84
Coesão ... 87
Expressão afetiva... 88
Demandas do trabalho e o ajustamento marital ... 90
Análise ... 90
Demandas do trabalho ... 91
Satisfação com o ajustamento marital ... 92
Demandas do trabalho e satisfação com o ajustamento marital ... 96
Considerações finais ... 100
Referências ... 101
Capítulo 4: Trabalho, relacionamento marital e saúde em pessoas inseridas no mercado de trabalho formal, em grandes empresas... 109
Introdução... 109
Modelos utilizados... 110
Método Psicossocial de Copenhague ... 110
Modelo de Ajustamento Diádico... 112
Método... 113
Resultados... 114
Fatores psicossociais do trabalho ... 115
Ajustamento marital ... 115
Saúde geral ... 116
Relações entre as variáveis ... 117
Fatores psicossociais do trabalho e saúde ... 117
Ajustamento marital e saúde ... 119
Fatores psicossociais do trabalho, ajustamento marital e saúde... 120
Análise ... 120
Fatores psicossociais do trabalho e saúde ... 120
Ajustamento marital e saúde ... 124
Fatores psicossociais do trabalho, ajustamento marital e saúde... 126
Considerações finais ... 128
Referências ... 130
Capítulo 5: Ajustamento marital e saúde em profissionais da empresa privada de grande porte... 135
Introdução... 135
Método... 138
Resultados... 140
Características da amostra ... 140
Relações entre as variáveis sociodemográficas, ajustamento marital e saúde ... 140
Diferenciadas características no ajustamento marital... 141
Relações entre o ajustamento marital e a saúde geral ... 142
Análise ... 1431
Considerações finais ... 149
Referências ... 150
Capítulo 6: Insegurança no trabalho e saúde psicológica no Brasil... 156
Introdução... 156
Método... 159
Resultados... 160
Saúde geral ... 163
Insegurança no trabalho e saúde geral... 165
Análise ... 165
Considerações finais ... 171
Referências ... 173
Considerações finais... 182
Anexos ... 184
Anexo A: Termo de Consentimento Livre e Esclarecido... 185
Anexo B: Instrumentos ... 187
Ficha Sociodemográfica ... 188
Escala de Ajustamento Diádico ... 190
Questionário de Copenhague ... 195
Trabalho, relacionamento marital e saúde
Introdução
Esta Tese insere-se no Grupo de Pesquisa Avaliação e Intervenção Psicológica
no Ciclo Vital, coordenado pela Profa. Dra. Irani I. de Lima Argimon. Foi elaborada
com a finalidade de conclusão do Doutorado em Psicologia pela Universidade Católica
do Rio Grande do Sul. Apresenta como objetivo estudar as relações entre os fatores
psicossociais do trabalho, o ajustamento marital e a saúde no ciclo vital do adulto. Esse
ciclo pode ser caracterizado como um período ao longo da vida que acontece quando as
pessoas não são mais dependentes do apoio parental e estabelecem um estilo de vida de
acordo com essa não dependência. As tarefas principais dessa fase são a inserção no
trabalho e sua manutenção, bem como o firmamento do relacionamento marital com a
finalidade de constituição familiar (Griffa & Moreno 2001).
Os fatores psicossociais são aspectos do contexto que interferem na saúde, física
e psicológica, por serem protetivas ou de vulnerabilidade. Inserem-se nesses fatores os
aspectos qualitativos e quantitativos do trabalho (Bültmann, Kant, Schröer, & Kasl,
2002).
Já o relacionamento marital é um subsistema do sistema familiar, que abrange
também o individual, família nuclear, família estendida, pertença à comunidade e
cultura (Parke, 2004; Snyder, Cavell, Heffer, & Mangrum, 1995). Esse relacionamento
pode ser definido como um processo dinâmico de ajustamento entre cônjuges que
O ajustamento marital significa como ocorre a interação entre o casal, se
adaptativa ou mal-adaptiva, gerando níveis de satisfação (Spanier & Thompson, 1982).
Desse modo, a satisfação pode ser compreendida como a avaliação individual cognitiva
de um objeto, de modo positivo, através da comparação entre objetos semelhantes
considerados com características aceitáveis ou boas (Wachelke et al., 2004).
O Código Civil brasileiro, editado no ano de 2002, considera como união
estável, oficializada ou não, o relacionamento entre duas pessoas acima de 18 anos que
se percebem unidas com o objetivo da convivência comum para a constituição familiar.
Portanto, é um relacionamento pautado na percepção subjetiva que depende do casal e
das pessoas que se relacionam com este casal (Carvalho Neto & Fugie, 2002).
Tanto os fatores psicossociais do trabalho como o ajustamento marital são
preditores da saúde (Aryee, Srinivas, & Tan, 2005; Butler, Grzywacz, Bass, & Linney,
2005; Cardenas, Major, & Bernas, 2004; Grzywacz & Butler, 2005; Hammer, Saksvik,
Nytro, Torvatn, & Bayazit, 2004; Luk & Shaffer, 2005; Mauno, Kinnunen, & Pyykko,
2005; Shumate & Fulk, 2004; Wallace, 2005). A saúde pode ser definida como o
sentido de bem-estar geral (Zarcadoolas, Pleasant, & Greer, 2006). Este como as
avaliações subjetivas das experiências (Diener, 1984).
Os prejuízos nas dimensões do trabalho e do relacionamento marital são
deletérios à saúde devido ao desencadeamento de estresse. Este ocorre em todos os seres
vivos e é um processo adaptativo do organismo ao ambiente percebido como ameaçador
ao bem-estar, quando apresenta exigências consideradas como perigosas, ou seja, acima
das condições satisfatórias para enfrentá-las. Em uma situação estressante, o organismo
sofre alterações químicas e fisiológicas, preparando-se para a fuga do perigo ou o
ataque. Em seres humanos, se o estresse é vivenciado com freqüência, ocorre a exaustão
Por causa disso, o estresse pode tornar a saúde vulnerável a significativo grau de
ansiedade e depressão, levando ao adoecimento (Johnson, Hayes, Field, McCabe, &
Schneiderman, 2000).
A constatação da importância da interface trabalho, relacionamento marital e
saúde bem como o interesse por estudar esse tema surgiram a partir dos resultados
encontrados na Dissertação O Executivo Pós-Moderno: transformações no trabalho e
subjetividade (Silva, 2001), efetuada pela pesquisadora. Essa dissertação objetivou
analisar os modos de subjetivação (pensar, sentir e atuar) de gestores de grandes
empresas privadas em relação às transformações do trabalho na pós-modernidade, ou
seja, na contemporaneidade. Os resultados mostraram uma realidade com uma rotina de
trabalho intensa, sobrecarga de tarefas, carga horária extensiva e pressão por resultados.
Nessa Dissertação, ficou presente o papel da família, em especial o do cônjuge,
para a manutenção do bem-estar dos gerentes entrevistados em relação às dificuldades
do trabalho. Os que relataram possuírem cônjuges mais apoiadores sentiram maior
disposição para enfrentarem os desafios do trabalho. Os gerentes cujos cônjuges eram
avaliados como menos apoiadores relataram maior sobrecarrega com as
responsabilidades do trabalho e da família. Os fatores citados por esses gestores como
fundamentais ao relacionamento marital foram: a qualidade do relacionamento afetivo e
a satisfação geral com o relacionamento.
Os gerentes entrevistados expuseram, também, um sentido de esvaziamento com
relação a um trabalho sem fim, incessante, em contínua transformação, com altas
exigências, em que o atingimento de um resultado levava a busca de resultados maiores.
Eles relataram pouco apoio social dos colegas de trabalho e das hierarquias superiores,
sintomas, tais como: fadiga crônica, vontade de chorar, falta de vontade de comparecer
ao trabalho, sentimento de vazio e poucas perspectivas pessoais.
Assim, apoiada nas informações obtidas nessa Dissertação, a pesquisadora
prosseguiu o Doutorado objetivando aprofundar aspectos da interface trabalho e
relacionamento marital e suas relações com a saúde. O delineamento da pesquisa
selecionado foi transversal, quantitativo, com levantamento de dados através de
questionários. A seleção da amostra foi intencional (Roldan, 1995), participando
pessoas que demonstraram interesse, indicadas pelas empresas contatadas e pelos que já
haviam participado do estudo. Os critérios para a seleção da amostra foram: ser homem
ou mulher na faixa etária de 26 a 65 anos (adultos própriamente ditos), nível superior
completo, atuante em grandes empresas há no mínimo um ano e possuidor de um
relacionamento marital de no mínimo um ano.
Inicialmente, optou-se por três instrumentos: o Job Content Questinnaire (JCQ),
para aferição dos fatores psicossociais do trabalho; a Escala de Ajustamento Diádico
(DAS), para mensuração do ajustamento marital; e o Questionário de Saúde Geral
(QSG-30), para avaliação da saúde geral.
Um primeiro estudo piloto foi realizado com 67 pessoas. Contudo, a adaptação
semântica do JCQ, para a população brasileira, realizada por outro grupo de estudos, de
outra universidade, em outro Estado, revelou-se não adequada aos objetivos deste
estudo. Não propiciou a compreensão e resposta por parte de quem não apresentava
liderança imediata pelo fato de utilizar o termo “chefia imediata” (por exemplo, cargos
de diretoria que possuíam conselhos consultivos como forma de liderança). Essas
pessoas foram excluídas da amostra desse primeiro estudo piloto.
Em seguida, optou-se por um novo instrumento: o Questionário Psicossocial de
tomando-se o cuidado com os termos respectivos à liderança. Portanto, um segundo
estudo piloto foi realizado com 127 pessoas. Nesse piloto, tanto o instrumento CoPsoQ
como o DAS demonstraram desempenhos satisfatórios (Cronα=0,94 e Cronα=0,93, p≤
0,01, respectivamente).
Com a alteração dos instrumentos e das subvariáveis estudas, a amostra foi
revista e passou para 220 sujeitos, ao invés de 180, pelo fato do CoPsoQ apresentar
mais duas dimensões (satisfação e insegurança com o trabalho). De acordo com Hair e
Tatham (1998, p. 166), para possibilitar o tratamento estatístico com a técnica de
regressão múltipla, o ideal são 20 sujeitos para cada variável independente com suas
subvariáveis. Este estudo contou com duas variáveis independentes e nove subvariáveis,
que compuseram as variáveis independentes.
Foram utilizadas ferramentas da estatística descritiva, bivariada e multivariada
com a regressão linear e múltipla (Hair & Tatham, 1998). Ademais, todos os
procedimentos éticos necessários para a pesquisa com seres humanos foram cumpridos.
Desse modo, o problema de pesquisa deste estudo é:
- quais são as relações entre os fatores psicossociais do trabalho, os fatores
psicossociais do relacionamento marital e a saúde psicológica dos trabalhadores
das empresas privadas de grande porte?
Com a finalidade de responder ao problema formulado, tem-se como objetivo
geral:
- analisar as relações entre os fatores psicossociais do trabalho, os fatores
psicossociais do relacionamento e a saúde psicológica em trabalhadores da
empresa privada de grande porte.
Portanto, para o cumprimento do objetivo geral, os objetivos específicos são os
- verificar as relações entre os fatores psicossociais do trabalho em relação à saúde
psicológica de pessoas que trabalham em empresas privadas de grande porte;
- averiguar as relações entre os fatores psicossociais do relacionamento marital em
relação à saúde psicológica de pessoas que trabalham em empresas privadas de
grande porte;
- comparar os índices da saúde psicológica na relação desta variável com os
fatores psicossociais do trabalho e do relacionamento marital de pessoas que
trabalham nas empresas privadas de grande porte;
Modelos utilizados
Os modelos utilizados nos estudos foram: o Método Psicossocial de Copenhague
(CoPsoQ) e o Modelo de Ajustamento Diádico (DAS). Esses dois Modelos serão
apresentados a seguir.
Método Psicossocial de Copenhague (CoPsoQ)
O Método CoPsoQ foi elaborado no ano de 2000, pelo Instituto Nacional da
Saúde Ocupacional, Copenhague, Dinamarca, e baseia-se na teoria geral do estresse
(Kristensen, Hannerz, Hogh, & Borg, 2005). Utiliza-se dos modelos:
Demanda-Controle-Apoio Social (DCS), de R. A. Karasek e T. Theorell; Esforço-Recompensa
(ERI), de J. Siegrist; e da teoria da “dupla presença” de J. Johnson e E. Hall. O Modelo
DCS foi o mais utilizado em pesquisas na área e apresentou evidências consistentes das
relações entre os fatores psicossociais do trabalho e a saúde (Instituto Sindical de
O Modelo ERI postula que a falta de recompensa no trabalho é uma das
principais causas do estresse e da vulnerabilidade da saúde. As recompensas são
consideradas as compensações oferecidas pelo trabalho e são compostas por: controle
do status, da estima e o salário. O controle do status representa a estabilidade no
trabalho, a perspectiva de promoção, de qualificação, de desenvolvimento, etc. A estima
diz respeito ao reconhecimento e ao trato justo (Siegrist, Junge, Cremer, & Seidel,
1990).
A teoria da “dupla presença” estuda as diferenças de gênero no trabalho e nas
relações destas com a saúde geral. Considera que as diferenças de gênero devem ser
necessariamente investigadas (Johnson & Hall, 1995).
O instrumento respectivo ao CoPsoQ foi traduzido para as línguas:
dinamarquesa, belga, sueca, inglesa, espanhola, alemã e brasileira (Instituto Sindical de
Trabajo, Ambiente y Salud — ISTAS, 2005). Nos países em que foi validado, o
CoPsoQ alcançou boa consistência interna e alpha de Cronbach geral acima 0,80
(Nübling, Stößel, Hasselhorn, Michaelis, & Hofmann, 2006). A escala do CoPsoQ foi
desenvolvida para qualquer tipo de trabalho e nível hierárquico (Instituto Sindical de
Trabajo, Ambiente y Salud — ISTAS, 2005).
Apresenta três versões: longa, média e curta. Para este estudo foi utilizada a
versão média, da edição de 2003 (nova versão foi lançada no final do ano de 2007).
Essa versão é composta por 95 questões com cinco respostas em formato de Likert.
Além dos fatores psicossociais do trabalho, o CoPsoQ contem uma escala que mensura
a saúde geral, pois esse método apresenta como foco o delineamento de um modelo
completo do estresse ocupacional (Kristensen, Hannerz, Hogh, & Borg, 2005).
As variáveis que compõem o instrumento CoPsoQ, segundo Kristensen,
quantitativas e qualitativas do trabalho; controle no trabalho - margens de decisão e
autonomia no trabalho, oportunidades de exercer e desenvolver habilidades, o sentido
aferido ao trabalho; apoio social – apoio da administração da empresa e dos colegas de
trabalho sobre as ações executadas no trabalho; insegurança do trabalho - precariedade e
incertezas em relação ao futuro do trabalho; e satisfação no trabalho - sentimento de
contentamento com as condições de trabalho.
Os significados das subvariáveis relativas à saúde psicológica são: bem-estar
geral - avaliação das condições da saúde como um todo; bem-estar psicológico:
sintomas ansiosos e depressivos; vitalidade - níveis de energia disponível ou de fadiga;
estresse geral - condutas relacionadas ao estresse, sintomas físicos (dores em geral) e
sintomas cognitivos do estresse (nervosismo, irritabilidade, etc.).
A validação semântica desse instrumento foi realizada para este estudo.
Ademais, o desempenho do instrumento respectivo apresentou-se satisfatório (alpha de
Cronbach=0,92, p≤ 0,01).
Modelo de Ajustamento Diádico (DAS)
Para o estudo do relacionamento marital, foi selecionado o Modelo DAS,
elaborado por Graham B.Spanier, no ano de 1976. Esse Modelo foi um dos mais
utilizados ao longo de mais de 20 anos para o estudo do ajustamento e da satisfação
marital e apresenta tendências preditivas significativas com a saúde psicológica (Busby,
Christensen, Crane, & Larson, 1995). Esse instrumento apresenta como proposta
mensurar o ajustamento marital e, assim, avaliar a satisfação geral com esse
De acordo com esse Modelo, o relacionamento marital é um construto
multidimensional cujas dimensões são: o consenso, a coesão, a expressão afetiva e o
contentamento. Essas quatro dimensões do Modelo são interdependentes,
interrelacionam-se e são perpassadas por vários fatores em comum (Spanier, 1976).
O consenso relaciona-se às negociações e aos acordos que os casais fazem em
relação aos vários aspectos da vida em comum, tais como ter filhos, escolha de amigos,
religião, gastos financeiros, divisão de tarefas, atividades recreativas, etc. (Spanier &
Lewis, 1980).
Outra dimensão do relacionamento marital, a coesão, significa o quanto cada
casal é vinculado ou separado um do outro, estimulando a intimidade (Spanier & Lewis,
1980). Esta surge a partir das afinidades entre o casal, do suporte de um cônjuge ao
outro (Ahlborg, Dahlof, & Hallberg, 2005).
A terceira dimensão do Modelo DAS, o contentamento, avalia os níveis de
conflitos, satisfação e felicidade com o relacionamento. O contentamento com esse
relacionamento está diretamente ligado à saúde psicológica, que é promovida a partir do
sentimento de bem-estar (Schafer, Wickrama, & Keith, 1998).
A quarta dimensão é a expressão afetiva. Esta é compreendida como a
capacidade de demonstrações e controle dos sentimentos e emoções (Spanier & Lewis,
1980). Essa dimensão também está relacionada à saúde psicológica e associa-se a
estados depressivos e ansiosos (Cramer, 2004).
Os escores totais desse Modelo permitem verificar o ajustamento marital, se
adaptativo ou mal-adaptativo, através de cortes na amostra, bem como a satisfação geral
com esse relacionamento (Spanier, 1976). Portanto, o relacionamento marital é um
sistema complexo e multifatorial. O insatisfatório ajustamento e a baixa satisfação com
O instrumento referente apresenta 32 questões, com seis ou sete respostas em
forma de Likert. A adaptação semântica desse instrumento foi realizada para este
estudo. As propriedades psicométricas do instrumento respectivo apresentaram-se
satisfatórias (alpha de Cronbach=0,90, p≤ 0,01).
Método
Nesta parte, será detalhada a opção de metodo desta pesquisa, a escolha da
população e amostra, os instrumentos a serem utilizados, os procedimentos para coleta
de dados e tratamento estatístico.
Delineamento
Este estudo foi quantitativo e tranversal. Caracterizou-se por ser um
levantamento realizado através de questionários. Foram verificadas as relações entre as
variáveis do estudo: fatores psicossociais do trabalho, ajustamento com o relacionmento
marital e saúde psicológica.
Hipóteses
H1: os fatores psicossociais do trabalho apresentam relações com a saúde psicológica.
H2: os fatores psicossociais do relacionamento marital apresentam relações com a saúde
psicológica.
H3: tanto os fatores psicossociais do trabalho quanto os fatores psicossociais do
Participantes
A amostra desta pesquisa foi composta por 220 pessoas. De acordo com Hair e
Tatham (1998, p. 166), para possibilitar o tratamento estatístico com a técnica de
regressão múltipla o ideal são 20 sujeitos para cada variável independente com suas
subvariáveis. Este estudo contou com duas variáveis independentes (fatores
psicossociais do trabalho e ajustamento marital) e sete subvariáveis (nos fatores
psicossociais do trabalho: demandas, controle, apoio social, insegurança e satisfação
com o trabalho; no ajustamento marital: consenso, contentamento, coesão e expressão
afetiva).
As pessoas foram escolhidas de acordo com os seguintes critérios: trabalhar em
empresas privadas de grande porte, ser homem ou mulher na faixa etária entre 25 a 65
anos, ter nível superior completo e possuir um relacionamento marital. As empresas de
grande porte, de modo geral, possuem alta demanda de trabalho, o que justificou a
escolha desse segmento. O critério do que seja uma empresa de grande porte adotado
nesta pesquisa foi por número de funcionários. No caso, no comércio e serviços, a
empresa de grande porte deve apresentar mais de 99 funcionários e, na indústria, mais
de 499 funcionários (SEBRAE, 2006).
A escolha da faixa etária entre 25 e 65 anos justificou-se à medida que essa fase
representa a adultez propriamente dita do desenvolvimento humano. De acordo com
Griffa e Moreno (2001), entre 25 e 30 anos ocorreria a vida adulta jovem, entre 30 e 50
anos seria a vida adulta média e entre 50 e 65 anos seria a vida adulta tardia. De modo
geral, a fase adulta seria quando “as estruturas intelectuais e morais atingem o auge (..);
diminuem as mudanças fisiológicas (..); há estabilização afetiva, ingresso na vida social
O nível de ensino foi estipulado com base na avaliação da complexidade dos
instrumentos, tanto em termos lingüísticos quanto de estruturação, e devido à
quantidade de questões (141) que exigiram disposição para a leitura.
A seleção da amostra foi por juízo (Roldan, 1995), ou seja, do cadastro
funcional das empresas participantes foram escolhidas pessoas que cumpriram os
critérios para a definição da população.
Participaram do estudo 43,2% de pessoas da área de serviços; 32,1%, do
comércio; e 24,7%; da industria, sendo 9 empresas do setor do serviço; 7, do setor do
comércio; e 5, da indústria, o que totalizou 21 empresas. Do total da amostra, 55,7%
ocupavam cargos administrativo-técnicos; 23,4%, cargos de gerência; e 20,8% cargos
de diretoria.
Instrumentos
Os instrumentos a utilizados nesta pesquisa foram: ficha para levantamento
sociodemográfico, Questionário Psicossocial de Copenhague (CoPsoQ), Escala de
Ajustamento Diádico (DAS), descritos a seguir.
Ficha para levantamento sociodemográfico. Foram levantados: o gênero, a faixa
etária, a escolaridade, o número de filhos, estado civil, o nível hierárquico, a faixa de
remuneração pessoal, o tempo de trabalho na empresa, o número de funcionários da
empresa e o ramo da empresa (comércio, serviço e indústria). As questões utilizadas
para a inclusão/exclusão de pessoas para a pesquisa foram: o relacionamento marital, o
tempo de trabalho na empresa (menos de um ano de trabalho) e o número de
Questionário Psicossocial de Copenhague (CoPsoQ). Foi utilizada a versão
média do CoPsoQ, composta por 95 questões com cinco respostas em formato de
Likert.
Escala de Ajustamento Diádico (Dyadic Adjustment Scale) (DAS). Essa Escal
avalia o ajustamento entre os cônjuges no relacionamento marital. Compõe-se de 32
questões com seis ou sete respostas em escala de Liket.
Procedimentos de coletas de dados
Nesta parte, serão apresentados os procedimentos necessários para a coleta de
dados referente a esta pesquisa.
Adaptação semântica dos instrumentos Questionário Psicossocial de
Copenhague e Escala de Ajustamento Diádico. Tanto as primeiras versões de cada
instrumento traduzidas do inglês original como as segundas versões traduzidas do
back-translation foram aplicadas em dez pessoas que estavam de acordo com os critérios da
população estudada para uma verificação da compressão gramatical dos instrumentos.
Aplicação dos instrumentos. As empresas que autorizaram a realização da
pesquisa foram contatadas por telefone e/ou e-mail para o agendamento de datas e
horários para a aplicação dos instrumentos. Do cadastro funcional dessas empresas,
foram selecionadas pessoas que cumpriram os requisitos definidos para a população
desta pesquisa. Essas pessoas foram convidadas a participarem da pesquisa e
responderem os questionários, a partir da explicação dos objetivos deste estudo. Para as
pessoas que aceitaram, foi solicitada a assinatura do Termo de Consentimento Livre e
Esclarecido. Elas foram agrupadas em uma sala nas dependências das empresas,
Os instrumentos foram aplicados por pesquisadores treinados, cumprindo as exigências
éticas necessárias.
Procedimentos de análise de dados
Nesta parte, estão descritos os procedimentos necessários para a análise de dados
referente a esta pesquisa.
Plano de análise dos dados. Foram utilizadas ferramentas da estatística
descritiva, bi-variada e multi-variada (Pérez, 2004). Entre as ferramentas multivariadas,
foi utilizada a regressão múltipla (Hair, & Tatham, 1998).
Estudos realizados
A partir da base teórica utilizada para o estudo da interface
trabalho-relacionamento marital e da hipótese adotada, seis estudos foram elaborados, compondo
os capítulos desta Tese. O primeiro capítulo, denominado de Avanços às Teorias da
Borda e do Limite na interface trabalho e família, é de natureza teórica e objetiva
discutir a respeito dos pressupostos lançados pela Teoria da Borda e Teoria do Limite
na interface trabalho e família. Essas Teorias foram primordiais para o desenvolvimento
dos estudos sobre essa interface. Assim, esse capítulo aborda conceitos respectivos a
essas teorias e pesquisas que as ampliaram.
O segundo capítulo, também teórico, intitulado de A Teoria dos Papéis Sociais
com enfoque interacionista: importância para a Psicologia Social, aborda os principais
conceitos da Teoria dos Papéis Sociais baseados na abordagem interacionista simbólica
Desse modo, considerou-se pertinente realizar um estudo a respeito, a fim de
demonstrar a importância dessa Teoria para a Psicologia Social.
O terceiro capítulo é empírico e denomina-se de Demandas psicológicas do
trabalho e satisfação com o relacionamento marital. Avalia as relações entre as
demandas psicológicas do trabalho e a satisfação com o relacionamento marital. Os
resultados indicaram que as demandas psicológicas do trabalho obtiveram relações
significativas com a satisfação com o relacionamento marital, pelas quais as demandas
do trabalho foram um dos aspectos contributivos ao diminuir os recursos de energia e
tempo para esse relacionamento.
O quarto capítulo, Trabalho, relacionamento marital e saúde em pessoas
inseridas no mercado de trabalho formal, é outro estudo empírico no qual as relações
entre todas as variáveis estudadas – trabalho, relacionamento marital e saúde – foram
analisadas. Os resultados desse estudo indicaram que os fatores psicossociais do
trabalho e a satisfação com o relacionamento marital formaram uma interface complexa,
expressiva para a adultez, obtendo relações significativas com a saúde geral, de igual
importância. Ambos os domínios revelaram mútua interferência, com fatores protetivos
e de vulnerabilidade para os próprios domínios, e para a saúde geral.
O quinto capítulo, Ajustamento marital e saúde em profissionais da empresa
privada de grande porte, estuda as relações entre o ajustamento marital e saúde em
profissionais da empresa privada de grande porte. Baseou-se em duas hipóteses: há
diferentes características de ajustamento marital; e este se relaciona com a saúde geral.
Os resultados desse estudo responderam as hipóteses estipuladas.
O sexto capítulo, intitulado de Insegurança no trabalho e saúde psicológica no
Brasil apresenta como propósito estudar as relações entre a insegurança no trabalho e a
grandes empresas privadas. Baseou-se em uma subvariável dos fatores psicossociais do
trabalho: a insegurança, devido à importância que esta apresentou em relação à saúde
(observa-se que a insegurança no trabalho e as demandas do trabalho foram as variáveis
mais significativas tanto para a saúde como para o ajustamento/satisfação com o
relacionamento marital). Nesse capítulo, foi considerada que a fragilidade nas relações
trabalhistas representou uma das características do desenvolvimento histórico do
mercado de trabalho brasileiro. Assim, a insegurança no trabalho passou a ser fator
presente, inclusive, para as pessoas em empregos institucionalizados.
Portanto, os capítulos, a seguir, apresentam dois estudos teóricos e quatro
empíricos. Todos baseados na abordagem teórica utilizada para o estudo da interface
trabalho e relacionamento marital, bem como nas relações entre as variáveis estudadas.
Devido à importância que o trabalho e o relacionamento marital apresentam na
vida das pessoas e o impacto social que prejuízos a essas dimensões podem ocasionar,
justifica-se a realização de estudos a respeito. O estresse, tanto ocasionado pelo trabalho
como pelo ajustamento marital, representa prejuízos diversos às empresas, ao sistema de
saúde do Estado, à qualidade de vida das pessoas e de suas família (Fontaine, Mascagni,
Mangelschots, Kittel, & Godin, 2006). Portanto, o trabalho e o relacionamento marital
são dimensões centrais para as pessoas e para as sociedades.
Considera-se que a aquisição de conhecimentos sobre os fatores psicossociais do
trabalho, do relacionamento marital e da saúde poderá contribuir com informações que
possibilitem uma melhor manutenção da saúde e do bem-estar a partir de políticas e
programas de Recursos Humanos que objetivem melhoria da qualidade de vida dos
trabalhadores. Igualmente, poderá contribuir, na área clínica, com a atuação com casais
Também poderá acrescentar ao conhecimento acadêmico existente, mesmo que em
pequeno grau, e gerar alternativas para novas pesquisas.
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Capítulo 1
Avanços às Teorias da Borda e do Limite na interface trabalho e família
Introdução
Este capítulo apresenta como objetivo discutir a respeito dos pressupostos
lançados pelas Teorias da Borda e do Limite, a fim de contribuir com avanços teóricos
sobre a interface trabalho e família (trabalho-família). Esta é uma área de estudo em
desenvolvimento que carece de formulações teóricas e pesquisas.
Embora a Teoria da Borda (Clark, 2000) e a Teoria do Limite (Ashforth,
Kreiner, & Fugate, 2000) apresentem diferenças representativas, estas possuem questões
em comum e são consideradas como complementares por alguns autores (Desrochers &
Sargent, 2004). Essas Teorias igualmente abordam os vínculos entre os domínios do
trabalho e da família, e como podem incidir no bem-estar. Este representa as avaliações
subjetivas que as pessoas fazem das suas experiências (Diener, 1984).
A partir desse enfoque, trabalho e família, para ambas as Teorias, são domínios
interligados, cada qual com características peculiares, modelando papéis sociais
distintos. Moreno (1974) definiu os papéis sociais como a “forma de funcionamento que
assume um indivíduo num momento específico em que reage diante de uma situação
específica na qual estão envolvidas outras pessoas e outros objetos” (p. V).
Desse modo, os papéis marcam posições sociais específicas que se esperam
comportamentos determinados, tais como o papel de médico, de psicólogo, de pai, de
papel social é denominado de agente de papel; e as pessoas que se relacionam a esse
papel, com expectativas a respeito do desempenho neste, são intituladas de expectadores
de papel (Goffman, 1989/1959).
Com o desenvolvimento industrial e o surgimento das empresas, os domínios do
trabalho e da família separaram-se, segmentaram-se, transformando-se em domínios
culturais diferenciados, ou seja, passara a apresentar valores, objetivos, linguajares,
sistemas, etc. distintos. Assim, os papéis sociais do trabalho e da família formam limites
entre estes. Tais limites são as “bordas” cognitivas, emocionais e físicas devido à
segmentação entre esses domínios (Clark, 2000, 2002). Por conseguinte, o trabalho e a
família apresentam papéis sociais próprios a cada domínio.
No trabalho, tais papéis abrangem uma série de atividades (quantidade de
trabalho, resultados, horário de trabalho, esforços físico, etc.), os relacionamentos
interpessoais (colegas, chefias e subordinados), a carreira e o desenvolvimento
profissional, entre outros. Na família, os papéis englobam o relacionamento marital, os
cuidados com os filhos, as tarefas domésticas, a manutenção material da família, etc.
(Boyar, 2002).
Pelo fato dos domínios do trabalho e da família apresentarem culturas
diferenciadas, os agentes de papel precisam fazer transições de uma cultura para a outra,
abdicando dos papéis de um dos domínios para ingressar em outros do outro domínio
(Clark, 2000, 2002). A transição entre esses domínios representa o movimento
psicológico (cognitivo e emocional) e, inclusive, físico de desprendimento ou saída de
um papel para se compromissar ou ingressar em outro (Desrochers & Sargent, 2004).
Por exemplo, as pessoas necessitam abandonar os papéis profissionais para assumirem
Entretanto, na contemporaneidade, com o avanço da tecnologia, esses domínios
tendem a maior integração e mistura, que significa o quanto cada domínio interfere em
outro (Clark, 2000, 2002). As pessoas da família podem telefonar para o trabalho, bem
como se tornou mais possível levar trabalho para casa devido à existência do
computador pessoal, por exemplo.
Assim, a integração acontece quando há maior permeabilidade e flexibilidade
nos limites entre esses domínios, bem como a segmentação quando há maior
impermeabilidade e inflexibilidade (Desrochers & Sargent, 2004). A permeabilidade é o
grau que um papel social possibilita a transição, no espaço e no tempo, para outro papel.
A flexibilidade diz respeito a quanto os comportamentos desejados para um papel
permitem margem de liberdade para a atuação, ou seja, a possibilidade de contínuas
negociações entre os agentes nos jogos de papéis, que são os processos de negociação
entre os agentes e espectadores (Ashforth, 2001).
O trabalho em casa seria o máximo de integração encontrado, pois apresenta alta
permeabilidade e flexibilidade (Ashforth, Kreiner, & Fugate, 2000). Nesse tipo de
trabalho, facilmente as pessoas podem abandonar as atividades do trabalho para
realizarem as do âmbito familiar, como, também, possuem maior liberdade de
executarem essas atividades como bem desejarem. Desse modo, a permeabilidade e a
flexibilidade demarcam a qualidade da segmentação e integração entre os domínios do
trabalho e da família (Frone, 2003).
Os papéis sociais dos domínios do trabalho e da família possuem exigências
discrepantes. A discrepância representa as diferenças entre papéis (valores e crenças,
tempo e espaço) (Ashforth, Kreiner, & Fugate, 2000). Um tempo de trabalho extensivo,
por exemplo, pode ser discrepante em relação ao tempo disponível aos cuidados com os
conflito de papel, que pode ser descrito como a tensão psicológica ocasionada pelas
contradições entre um papel e outro ou outros assumidos (Shaw & Costanzo, 1982).
Por causa do conflito, as pessoas buscam obter equilíbrio na interface
trabalho-família para preservar o seu bem-estar (Clark, 2000, 2002). O equilíbrio é o grau com
que as pessoas estão igualmente satisfeitas com cada um dos domínios (Greenhaus,
Collins, & Shaw, 2003).
A fim de conseguir tal equilíbrio, minimizando o conflito de papéis, há a procura
de fatores de facilitação, ou seja, recursos que permitam uma menor conflito entre os
papéis sociais entre os domínios (Grzywacz, 2002). As pessoas podem buscar, por
exemplo, o auxílio de parentes para deixarem seus filhos quando doentes e
impossibilitados de irem para a escola, com a finalidade de permanecerem no trabalho e
cumprirem as exigências deste domínio.
Portanto, os domínios do trabalho e da família podem ser mais segmentados ou
integrados entre si, formando limites, “bordas”, cognitivas, emocionais e físicas que
requerem a transição entre os domínios. As exigências discrepantes entre os papéis
sociais de cada domínio geram os conflitos de papéis. Entretanto, esses domínios
também apresentam recursos facilitadores que minimizam os conflitos e facilitam a
transição dos limites, auxiliando no equilíbrio entre os domínios.
A seguir, para maior compreensão das Teorias da Borda e do Limite bem como
das suas diferenças, os pressupostos básicos de cada uma serão citados. Posteriormente,
será realizada uma revisão de estudos recentes na área com o objetivo de acrescer
Teoria da Borda e do Limite
Com base na aproximação teórica dos papéis sociais, Clark (2000), no artigo
Work/Family Border Theory: A new theory of work/family balance, lançou os primeiros
pressupostos a respeito da Teoria da Borda, estabelecendo oito proposições a partir de
estudos realizados por ela. A primeira proposição diz que os domínios similares, com
limites mais frágeis entre os papéis sociais; bem como domínios muito diferentes, com
limites mais demarcados, promovem o equilíbrio entre a interface trabalho-família.
A segunda proposição coloca que um dos domínios - trabalho ou família - pode
apresentar exigências preponderantes. A identificação com o domínio preponderante
ocasiona menor nível de conflito. Por identificação compreende-se a internalização dos
valores e crenças, ou seja, da cultura de um determinado domínio (Baztán, 2002).
A terceira preposição estabelece que as pessoas detentoras de maior influência
em um determinado domínio possuem maior controle dos limites daquele domínio,
estabelecem com maior precisão os direitos e deveres desse domínio.
Conseqüentemente, como quarta proposição, as pessoas mais influentes e com maior
controle em ambos os domínios apresentam uma maior possibilidade de equilíbrio entre
os limites do trabalho e da família.
A quinta proposição rege que a alta consciência das responsabilidades de ambos
os domínios - trabalho e família - suscita a possibilidade de maior equilíbrio entre estes.
A menor consciência das responsabilidades, nos dois domínios ou em um dos domínios,
gera menor equilíbrio e maior conflito de papéis.
Na sexta proposição, é postulado que o maior envolvimento com os papéis, tanto
do trabalho como da família, leva a um maior equilíbrio na interface entre os domínios.
destinado para atuação em determinado papel. É composto por: assimilação do papel,
capacitação e habilidade para a execução das atividades e envolvimento espontâneo
com o papel (Lobel, 1991). Por outro lado, o menor envolvimento em ambos os
domínios ou em um dos domínios provoca maior conflito de papéis.
A sétima proposição enfoca a mistura (física, psíquica e emocional) entre os
domínios do trabalho e da família. Quanto maior a diferença entre esses domínios,
menor é a mistura entre eles. Entretanto, quanto mais próximos forem esses limites,
mais os dois domínios tendem a se misturar.
A última proposição refere-se ao apoio social em cada domínio, que são os
aspectos das relações sociais percebidos como benéficos para a saúde física e mental
(Brugha, 1995). O apoio preserva os limites entre os domínios do trabalho e da família.
No caso do trabalho, o apoio social pode ser prestado pelas chefias; e da família, o
cônjuge e os filhos, por exemplo.
Portanto, o maior equilíbrio (satisfação com os domínios) na interface
trabalho-família ocorre quando há: (a) maior influência das pessoas nesses domínios, gerando
maior controle destes; (b) identificação com os papéis desses domínios que leva a maior
consciência, propiciando maior envolvimento com os papéis; (c) apoio social nos
domínios; (e) e culturas mais similares ou mais diferenciadas, possibilitando maior ou
menor mistura entre os domínios, facilitando, em ambos os casos, a transição entre eles.
Consecutivamente, a Teoria do Limite, foi lançada no ano de 2000, a partir do
artigo All in a day's work: Boundaries and micro role transitions, de Ashforth, Kreiner
e Fugate. Para essa Teoria, os limites entre papéis são criados e mantidos com a
finalidade de simplificar e ordenar o contexto. Os limites são estabelecidos para
As pessoas apresentam a necessidade de compreenderem os domínios centrais às
suas vidas a partir de papéis sociais diferenciados, inclusive para demarcar posições nas
sociedades de pertença e definir seus direitos e deveres. Os limites entre os papéis
representam um construto cognitivo com o fim último da transição em diferentes papéis,
saindo de um conjunto de regras e valores respectivos e ingressando em outros
(Ashforth, Kreiner, & Fugate, 2000).
Por isso, essa Teoria distingue entre os macro e micro-papéis. Os macro-papéis
são os permanentes nas vidas das pessoas, tais como: a aposentadoria, o casamento, a
paternidade, etc. Os micro-papéis são os que as pessoas desempenham diariamente,
fazendo transições constantes entre estes, como, por exemplo, os papéis profissionais e
familiares (Ashforth, Kreiner, & Fugate, 2000).
Da assunção de um papel social surge a identidade de papel, que é a
identificação com os valores e crenças do papel, que sugestiona comportamentos
apropriados para ordenar os papéis que devem ser desempenhados. Portanto, a
identidade de papel leva a maior envolvimento com o papel respectivo, dificultando a
saída deste e o ingresso em outro, marcando maior segmentação entre os papéis
(Ashforth, 2001).
A segmentação e a integração dos papéis sociais do trabalho e da família
formam um contínuo (Ashforth, 2001). A maior segmentação amplia as discrepâncias -
valores e crenças - entre as identidades de cada papel social, ao inverso da integração
que diminui essa discrepância (Ashforth, Kreiner, & Fugate, 2000).
Devido às discrepâncias entre papéis, há a elaboração de estratégias para
minimizar a dificuldade das transições de papel. Uma das estratégias é a busca da
segmentação entre os papéis do trabalho e da família, resultando em maior quantidade e
O benefício da segmentação é a clarificação da natureza da transição entre os papéis
mais demarcados, entretanto, contando com maior dificuldade da saída e da entrada nos
múltiplos papéis sociais segmentados (Ashforth, 2001).
A maior segmentação possibilita a vivência mais integral dos papéis sociais em
cada domínio do trabalho e da família, permitindo menos emoções negativas levadas de
um domínio ao outro, menores interrupções nos desempenhos de cada domínio e a
evitação de expectativas discrepantes entre esses domínios. A segmentação diminui a
susceptibilidade à exaustão emocional (Ashforth, Kreiner, & Fugate, 2000). Esta pode
ser compreendida como o “esgotamento da energia dos recursos emocionais próprios”
(Silva & Carlotto, 2003, p. 143).
Outra estratégia é a busca da integração entre os papéis, diminuindo a
quantidade e freqüência das transições, porém com papéis menos definidos e limites
menos demarcados. A vantagem da integração é a maior facilidade na entrada e saída de
um menor número de papéis, porém com a possibilidade de criar confusão entre os
limites dos papéis sociais, tanto para os agentes como para os expectadores do papel
(Ashforth, 2001).
A maior integração permite maior acomodação dos múltiplos papéis
desempenhos, flexibilidade na administração das responsabilidades e dos problemas
surgidos entre os domínios do trabalho e da família. Desse modo, a maior integração
auxilia na diminuição da exaustão emocional que surge da transição de múltiplos papéis
(Ashforth, Kreiner, & Fugate, 2000).
Portanto, a Teoria da Borda prioriza o estudo dos fatores que levam ao maior
equilíbrio entre as dimensões do trabalho e da família; e a do Limite, as condições
Avanços às Teorias da Borda e do Limite
A hipótese central da Teoria da Borda e do Limite é de que os domínios do
trabalho e da família ocasionam limites entre os papéis sociais, pois, apresentam
culturas diferenciadas, requerendo transições que geram o conflito de papéis,
dependendo dos fatores de facilitação (Ashforth, Kreiner, & Fugate, 2000; Clark, 2000).
Pesquisas a respeito apoiaram a hipótese da existência de tal conflito entre essas
dimensões (Boyar, Keough, Maertz, & Pearson, 2003; Nordenmark, 2004b; Posig &
Kickul, 2004).
Ademais, o conflito de papel foi fator de vulnerabilidade da saúde psicológica
em estudos realizados. Esse conflito relacionou-se à saúde psicológica (Harkonmäki,
Rahkonen, Martikainen, Silventoinen, & Lahelma, 2006), ao bem-estar (Lapierre &
Allen, 2006), à ansiedade e à depressão (Griffin, Fuhrer, Stansfeld, & Marmot, 2003;
Middeldorp, Cath, & Boomsma, 2006), às queixas somáticas (Major, Klein, & Ehrhart,
2002) e ao abuso de álcool (Roos, Lahelma, & Rahkonen, 2006).
Devido à importância dos papéis sociais do trabalho e da família para a saúde
psicológica, vários estudos foram realizados. Alguns desses estudos serão apresentados
a seguir, a fim de corroborar com os pressupostos das Teorias da Borda e dos Limites,
ampliando-os.
Bem-estar e exaustão emocional
Ampliando o estudo sobre o conflito de papel, pesquisa de Kristensen,
Smith-Hansen, & Jansen (2005) indicou que os limites entre os papéis sociais desempenhados
tempo serem restritos. As demandas de um domínio retiravam a disponibilidade de
energia e tempo do outro, levando à exaustão emocional, quando um ou ambos os
domínios apresentavam altas demandas.
A pesquisa acima foi formulada com base na hipótese da escassez de recursos
que estipula que os recursos de energia e tempo são limitados e que as excessivas
demandas dos papéis sociais e/ou os múltiplos papéis reduzem esses recursos, gerando
exaustão emocional (Goode, 1960). Contrária a essa hipótese, surgiu a hipótese
expansionista, propondo que múltiplos papéis seriam favoráveis ao bem-estar (Barnett
& Hyde, 2001).
Pesquisa de Possatti e Dias (2002), que utilizou a hipótese expansionista com
mulheres brasileiras, profissionais e mães, encontrou que os múltiplos papéis se
relacionaram positivamente ao bem-estar. Entretanto, os resultados desse estudo
indicaram que a multiplicidade de papéis, quando permitiu altos graus de autonomia e
decisão, foi o que promoveu o bem-estar. Portanto, nessa pesquisa, foi a qualidade dos
papéis que contribuiu para o bem-estar e, não os múltiplos papéis desempenhados em si.
Corroborando com essa questão, pesquisas realizadas com a finalidade de
estudar a contradição entre as hipóteses da escassez e expansionista indicaram que a
qualidade dos papéis sociais relacionou-se ao bem-estar e, não a quantidade de papéis
assumidos (Greenhaus, Collins, & Shaw, 2003; Lee, Chung-Um, & Kim, 2004; Matud,
Hernandez, & Marrero, 2002; Nordenmark, 2004a; White, 1999).
No estudo de Fu e Shaffer (2001), a multiplicidade de papéis na interface
família-trabalho indicou ocasionar sobrecarga de papéis - quando há a assunção de
papéis com muitas exigências e expectativas ou em situações em que os jogos de papéis
são muito complexos (Biddle, 1979). As horas trabalhadas no trabalho e no lar bem
multiplicidade associada a sobrecarga de papéis relacionou-se positivamente à exaustão
emocional (Nordenmark, 2004b), que levou à depressão (Cannuscio, Colditz, Rimm,
Berkman, Jones, & Kawachi, 2004), à ansiedade (Nordenmark, 2002) e à diminuição do
bem-estar (Nordenmark, 2004a).
Ademais. segundo Clark (2000), a própria transição entre os domínios do
trabalho e da família geraria exaustão emocional por requer do agente de papel mudança
psicológica que consumiria energia física e psíquica. Apoiando essa proposição, Bailyn
e Harrington (2004), em um estudo qualitativo de caso, encontraram que a transição
entre papéis revelou-se fator gerador de exaustão emocional pela dificuldade emocional
de passar de um domínio para o outro.
Portanto, na interface trabalho-família, o bem estar foi favorecido quando: a
multiplicidade de papel associou-se ao alto grau de autonomia e decisão, ou seja, ao
baixo grau de conflito e sobrecarga de papel. Por sua vez, a exaustão emocional surgiu
quando houve: o conflito de papel – as exigências entre os papéis são discrepantes; a
sobrecarga de papel – as exigências dos papéis são excessivas ou muito complexas; e a
transição entre os domínios – dificuldade emocional de passar de um domínio para o
outro.
Transição entre papéis: exaustão emocional e estratégias de facilitação
A Teoria dos Limites pressupõe que existam as estratégias de segmentação e
integração para a facilitação na transição entre os limites do trabalho-família, o que
diminuiria a possibilidade de exaustão emocional. Pesquisas de Wilson, Butler, James,
que a maior parte das pessoas almejava separar os limites do trabalho e da família de
forma que fossem bem demarcados.
Estudo de Rothbard, Phillips e Dumas (2005) sugeriu que existiam pessoas mais
interessadas na segmentação dos domínios do trabalho e da família e outras mais
interessadas na integração. As pessoas mais interessadas na segmentação revelaram-se
menos satisfeitas e comprometidas com políticas organizacionais que privilegiaram a
integração desses domínios, e as mais interessadas na integração mostraram-se mais
satisfeitas e comprometidas. Esse estudo indicou a existência de diferenças individuais
quanto ao interesse em segmentar ou integrar tais domínios.
No entanto, Rau e Hyland (2002) desafiaram uma proposição popular de que o
trabalho flexível seria mais atraente para os trabalhadores. Utilizando-se da Teoria dos
Limites, os autores consideraram que a atratividade do trabalho flexível dependeria das
relações entre o trabalho e a família. Assim, eles encontraram que maior grau de
conflito de papel se relacionou com o trabalho mais flexível e, não com o trabalho mais
padronizado. A possibilidade de maior integração e de mistura entre os domínios no
trabalho flexível foi o gerador de maior conflito de papel.
Por sua vez, Shumate e Fulk (2004) estudaram as estratégias utilizadas para
minimizar o conflito entre a transição dos papéis profissionais e familiares. Os autores
encontraram o ritual (ações performáticas) e a rotina (ações habituais) de transição. Na
transição trabalho e a família e vice-versa as pessoas criaram comportamentos
ritualísticos e rotineiros, tais como o happy hour.
A fim de verificar estratégias usadas para reduzir a sobrecarga de papéis,
diminuindo a exaustão emocional, na interface trabalho e família, utilizando-se o
Modelo de Seleção, Otimização e Compensação (SOC Model), estudo de Baltes e
Com esta, elas diminuíram a quantidade de exigências do trabalho e da família através
de reformular suas metas e as formas de usar os recursos disponíveis no contexto. O
Modelo SOC postula que as pessoas utilizam, ao longo de seu desenvolvimento, como
estratégias: a seleção, que é a eleição de metas pessoais de acordo com os recursos
disponíveis no contexto; a otimização, que é a opção dos recursos para o atingimento
das metas; e a compensação, que é a reformulação das metas e/ou da escolha dos
recursos (Baltes, 1997).
Considerado como uma estratégia mal-adaptativa, o comportamento de retirada
(abstenções das responsabilidades profissionais e familiares no trabalho, tais como:
atrasos e faltas no trabalho, evitação de encontros com a família, etc.) foi estudado por
Hammer, Bauer e Grandey (2003), em casais de dupla-carreira (ambos trabalham). Os
resultados revelaram grau significativo de comportamentos de retirada, na interface
trabalho-família, associado à exaustão emocional. Apoiando os resultados dessa
pesquisa, estudo de Pasewark e Viator (2006) indicou tendências preditivas entre o
conflito de papel na interface trabalho e família com intenções de trocar o trabalho por
outro.
Outro estudo (Boyar, Keough, Maertz, & Pearson, 2003) sobre a intenção de
comportamentos de retirada associada à exaustão emocional indicou que: na família, o
comportamento de retirada relacionou-se à intenção de abster-se das responsabilidades
ligadas aos papéis familiares, marital e paternal; no trabalho, houve a intenção de faltar
ao trabalho. Esse estudo ainda sugeriu que a exaustão emocional ocorrida na família
levou a uma maior intenção de retirada do trabalho e vice-versa. Assim, a exaustão
emocional levaria a intenção de comportamentos de retirada no trabalho e na família.
Portanto, esses estudos apoiaram os pressupostos das Teorias da Borda e do
do trabalho e da família. Também, ampliaram tais pressupostos ao encontrarem outras
estratégias facilitadoras: adaptativas - o ritual, a rotina e a compensação; e
mal-adaptativas – comportamentos de retirada.
Bidirecionalidade da interface trabalho-família
Pesquisas anteriores à formulação da Teoria da Borda e do Limite mostraram
uma bidirecionalidade na interface trabalho-família, ou seja, os fatores do trabalho
geraram conseqüências para a família (sentido trabalho-família), e os da família, para o
trabalho (sentido família-trabalho) (Aryee, Fields, & Luk, 1999; Carlson, Kacmar, &
Williams, 2000). Dessa forma, Posig e Kickul (2004) estudaram a bidirecionalidade do
conflito trabalho-família, mostrando que as duas direções geraram exaustão emocional,
embora de maneiras diferenciadas.
Luk e Shaffer (2005) julgaram importante verificar essa bidirecionalidade da
interface trabalho-família na população chinesa por esta possuir uma cultura diferente
da ocidental em que os estudos anteriores se apoiaram. O estudo proposto indicou haver
diferença nessa bidirecionalidade também nessa população. No sentido trabalho-família,
o compromisso com o tempo/prazo e a expectativa com o papel profissional
mostraram-se significativos. No mostraram-sentido família-trabalho, as demandas parentais foram as que mostraram-se
apresentaram como expressivas.
Ainda sobre a bidirecionalidade, Aryee, Srinivas e Tan (2005) pesquisaram o
equilíbrio na interface trabalho-família em uma amostra de trabalhadores na Índia. Os
resultados evidenciaram diferenças no conflito e na facilitação na bidirecionalidade,