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A globalização dos movimentos sociais: resposta social à Globalização Corporativa Neoliberal.

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Academic year: 2017

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A globalização dos movimentos sociais: resposta

social à Globalização Corporativa Neoliberal

The globalization of social m ovem ents: the social

response to the Corporate Neoliberal Globalization

1 Department of Work Environment, University of Massachusetts, Lowell. One University Avenue, Lowell, MA 01854 USA. carlos_siqueira@uml.edu 2 Centro de Estudos de Saúde do Trabalhador e Ecologia Humana, Cesteh/Ensp/Fiocruz. Fundação Oswaldo Cruz, Núcleo de Epidemiologia 3 Universidade Estadual de Feira de Santana.

Carlos Eduardo Siqueira 1

Hermano Castro 2

Tânia Maria de Araújo 3

Abstract T his article initially presents pro-posed definitions for the expression Corporate N eoliberal Globalization or neoliberal global-ization. N ext it discusses the m ain problem s and im pacts of the neoliberal globalization identified by social m ovem ents and intelectu-als who lay out alternatives to the global ne-oliberal m odel, known as anti-globalization movement, “globalization from below” or “grass-roots” globalization. These social m ovem ents have often organized them selves as global net-works of social m ovem ents. To account for the appearance of such networks, the article re-views argum ents put forth by scholars of the structures and dynam ics of social networks. The article concludes with suggestions for ele-m ents of an alternative prograele-m to global ne-oliberalism .

Key wo rds Globalization, N eoliberalism, So-cial m ovem ents

Resum o Este artigo apresenta, inicialm ente, definições propostas para o term o Globaliza-ção Corporativa N eoliberal ou globalizaGlobaliza-ção neoliberal. Em seguida discute os principais problemas e impactos da globalização neolibe-ral identificados pelos movimentos sociais e in-telectuais que propõem alternativas ao m ode-lo neoliberal gode-lobal, conhecido como movimen-to antiglobalização, “globalização por debai-xo” ou das bases (“grassroots” globalization). Esses m ovim entos sociais se organizam , com freqüência, com o redes de m ovim entos sociais articulados globalm ente. A abordagem acerca do surgim ento dessas redes é feita a partir de um a breve revisão das proposicões feitas por estudiosos das estruturas e dinâm icas de redes sociais. O artigo é concluído com sugestões de elem entos para um program a alternativo ao neoliberalism o global.

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Introdução

Este artigo começa definindo o que chamamos de globalização corporativa n eoliberal. Este term o é um a tradução literal da expressão em in glês corporate neoliberal globalization, fre-qü en tem en te u sada – de form a com pleta ou parcial na literatura internacional e por m ovi-m en tos sociais de oposição ao capitalisovi-m o do fim do século 20 e início do 21 – como globali-zação n eoliberal ou globaliglobali-zação corporativa. Mais do que apenas definições semânticas, tra-taremos também de alinhavar como surge e se desen volve o uso da palavra globalização e os diferen tes sen tidos que diversos autores pro-gressistas lhe têm atribuído.

A seguir discutiremos os principais proble-m as e iproble-m pactos da globalização n eoliberal identificados pelos m ovim entos sociais e inte-lectuais que propõem altern ativas ao m odelo neoliberal global, conhecido com o m ovim en-to antiglobalização, “globalização por debaixo” ou das bases (“grassrootsglobalization), ou glo-balização dos m ovim entos sociais. Esse m ovi-m en to social global con tra o n eoliberalisovi-m o tem se organizado com características multifa-céticas, flexíveis, in ovadoras e em con stan te m ovim en to, su gerin do qu e a tran sform ação econ ôm ica, política, cultural, e social, gerada pelo capitalism o neoliberal em nível m undial, já en con tra a sua con traparte n um n ovo cau-dal mundial de movimentos populares. Apesar de recentes, não é exagero considerar que mui-tas das táticas e plataformas de luta desses mo-vim en tos, freqü en tem en te vin cu ladas ao u so da In tern et com o form a de articulação de re-des horizon tais en tre gru pos e organ izações não-governam entais (ONGs), se desenvolvem rapidamente e começam a formar o arcabouço de u m n ovo m u n do possível, com o su gere o lem a do Fórum Social Mundial.

A chamada batalha de Seattle, que ocorreu nos Estados Unidos em 1999 durante o encon-tro da Organ ização Mun dial do Com ércio (OMC), tem sido considerada por diversos au-tores am erican os e europeus um m arco rele-van te para um a n ova fase, en quan to o Fórum Social Mun dial, realizado por três an os em Porto Alegre, seria o in ício da lon ga m archa para a criação e con solidação de altern ativas dem ocráticas e populares ao neoliberalism o.

O que é a Globalização Corporativa Neoliberal (Corporate Neoliberal Globalization)?

De acordo com o dicionário do Aurélio, a pala-vra globalização é derivada de globalizar + ção, proveniente do inglês globalization, com os se-guintes significados:

1. Ato ou efeito de globalizar; 2. Processo típico da segu n da m etade do sécu lo 20 qu e conduz à crescente integração das economias e das sociedades dos vários países, especialmente no que toca à produção de mercadorias e servi-ços, aos m ercados fin an ceiros, e à difusão de informações. As novas tecnologias de comunica-ção e de processamento de dados contribuíram e-normemente para a “globalização”(Novo Auré-lio, 2003).

Apesar de o uso da palavra globalização ter sido intensificado nos anos 90, sua origem re-monta aos anos 60 do século passado. O termo quota globalizada apareceu em 1959 na revista inglesa The Economiste se referia a quotas para carros im portados para a Itália. A palavra glo

-balizationjá aparece no dicionário am ericano

Merriam W ebster's New International Dictionary

em 1961. Muitas outras fontes tam bém a usa-ram duran te os an os 60, torn an do-a com um por volta de 1965 (WordOrigins.org, 2003).

Segundo Chom sky (2003) o term o globali

-zation … is not well-defined enough to be a synonym for anything (nor is “capitalism” at all well-defined: Sm ith and Ricardo, for exam ple, would turn over in their graves to see how the term is used now). Used neutrally, “globalization” just m eans international integration – specifi-cally economic. In its propaganda usage, it refers to a specific form of such integration, roughly the "W ashington consensus” ideology. Portanto, pa-ra Chom sky, o term o globalização n ão é bem definido o suficiente para ter sinônimo e pode ter uso neutro, como integração econômica in-ternacional, ou ideológico, como ideologia neo-liberal.

Herman (1999) parece concordar com a vi-são de Chomsky sobre o aspecto ideológico da palavra e a associa com a expansão das corpo-rações (daí o em prego do adjetivo “corporate

globalization). Em sua concepção:

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ideo-logy, whose function is to reduce any resistance to the process by making it seem both highly benefi-cent and unstoppable.

A su posta in evitabilidade da globalização n eoliberal decan tada por Margaret Thatcher nos anos 80 levou a que se cunhasse esta ideo-logia com o TINA (abreviação para as in iciais de There Is No Alternative, em inglês). Santos (2000) prefere denominá-la de globalitarismo, a que define da seguinte maneira:

Entre os fatores constitutivos da globalização, em seu caráter perverso atual, encontram -se a forma como a informação é oferecida à humani-dade e a emergência do dinheiro em estado puro como motor da vida econômica e social. São duas violências centrais, alicerces do sistema ideológi-co que justifica as ações hegem ônicas e leva ao império das fabulações, a percepções fragmenta-das e ao discurso único do m undo, base dos no-vos totalitarismos – isto é – dos globalitarismos a que estam os assistindo.

Fiori (1997) argum enta na m esm a direção de Santos e sugere a incorporação de outras di-mensões ao termo ao postular que … a globali-zação, apesar de ser um neologismo muito pouco preciso, aponta para um processo de transforma-ções cujas origens e conseqüências são m uito m ais com plexas, por envolver inúm eras dim en-sões não-econômicas num intrincado processo de decisões privadas e públicas tom adas na form a de sucessivos e inacabados desafios e ajustes.

Marcuse (2000), por outro lado, discute as diversas facetas do term o. Para ele um n ãocon ceito n a m aioria dos usos, que m ais lem -bram um catálogo de tudo que parece diferente desde 1970: avan ços em tecn ologias de in for-mática; uso disseminado de transporte de car-ga aérea; especulação em moedas, aumento dos fluxos de capital além de fronteiras nacionais; efeito estufa; en gen haria gen ética; poder das corporações m ultin acion ais; n ova divisão in -tern acion al do trabalho, m obilidade in -tern a-cional do trabalho; poder reduzido dos estados nacionais, pós-modernismo, ou pós-fordismo. Segun do o m esm o autor, a falta de clareza e em prego vago do term o perm ite con vertê-lo em algo com vida própria e em uma força cuja existên cia tran scen de a von tade dos seres hu-m an os, o que o torn a in evitável e irresistível, questão tam bém abordada por Druck (1999). A maior contribuição de Marcuse para explici-tar o significado da globalização situa-se na ca-racterização da globalização n ão com o algo novo, m as com o um a form a particular do ca-pitalismo, uma expansão das relações

capitalis-tas no nível de largura (geográfica) e profundi-dade, atingindo cada vez mais aspectos da vida humana, e na distinção entre dois aspectos di-ferentes do desenvolvimento das relações capi-talistas pós-1970.

Muitos an alistas favoráveis à globalização (Friedm an, 2000; Tabb, 2001) confundem fre-qüen tem en te estes dois aspectos com o se fos-sem um só: o desenvolvimento de novas tecno-logias e a concentração global do poder econô-mico. De fato os avanços nas tecnologias de in-formação (microprocessadores), transporte (in-termodalidade entre meios de transporte), e te-lecomunicações (satélites e fibras óticas), deri-vados da in form atização da sociedade capilista, tornaram possíveis a automatização de ta-refas rotineiras e a flexibilização da produção, constituindo-se em elementos essenciais para o crescim en to substan cial da con cen tração de poder econômico.

Esta discutível terceira revolução técn ico-científica, baseada na microeletrônica e no mi-croprocessam ento, deu luz à globalização tec-nológica que estamos presenciando nas últimas décadas e form a a base m aterial da sociedade in form acion al an alisada por Castells (1997):

… el término informacional indica el atributo de una form a específica de organización social en que la generación, el procesamiento y la transmi-sión de inform ación se convierten en las fuentes fundam entales de la productividad y del poder, debido a las nuevas condiciones tecnológicas que surgen en este período histórico. Porém , ainda segundo Marcuse, a distinção entre os dois as-pectos nos levaria a pensar como estes avanços tecnológicos poderiam ser usados de forma diferen te, sem levar n ecessariam en te à con cen -tração de poder em m ãos de u m a m in oria de países e indivíduos. E ainda nos perm ite inda-gar que outras possibilidades existiriam se es-tes dois aspectos estivessem separados. Assim como aqueles que discordavam do modelo so-viético de socialism o criaram a expressão “socialism o real” para caracterizálo, caberia en -tão, seguindo a mesma lógica, chamar a globa-lização corporativa neoliberal de “globagloba-lização real, ” que se opõe a uma possível globalização alternativa.

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recolonização, e Era da Inform ática em vez de especulação financeira. Segundo Petras: Actualm ente, a diferencia del pasado, el poder im -perialista penetra en todas las áreas geográficas y en todos los aspectos de la vida socioeconóm ica. Las corporaciones m ultinacionales y los bancos dom inan no sólo los m ercados de com m odities y financieros, las principales redes com erciales lo-cales e internacionales, sino tam bién la elabora-ción genética de alim entos, la producelabora-ción y co

-m ercialización -m asivas de "productos" cultura-les. Las fuerzas militares de los países están diri-gidas por generales de los cuarteles euronortea-m ericanos. La euronortea-m arca del "éxito" cultural y edu-cativo debe ser "certificada", "reconocida" y fi-nanciada por los líderes culturales en los centros culturales del im perio euronorteam ericano. El imperialismo es un fenómeno multifacético.

Portan to, segun do Petras a globalização equivale a imperialismo, opinião compartilha-da por Amin (2001). Curiosamente, este silên-cio sobre o termo imperialismo, que esteve fo-ra do discu rso político aceitável n os círcu los dominantes do mundo capitalista, foi recente-m en te quebrado e parece que acabou. A elite intelectual e política am ericana abraçou aber-tamente a grande missão civilizatória dos Esta-dos Un iEsta-dos, que só poderia ser corretam en te caracterizada como imperialista ou neo-impe-rialista, particularm ente depois dos atentados de 11 de setembro de 2001 e a “Guerra contra o terrorismo” proposta pelo governo Bush (Fos-ter, 2002). Entretanto, o uso dos termos impe-rialismo e neo-impeimpe-rialismo por essas elites su-põe o papel ben ign o dos Estados Un idos n o mundo e enfatiza os aspectos militares e políti-cos ao m esm o tem po que evita o caráter eco-nôm ico do m esm o. Nada m elhor para confir-mar esta análise que os discursos do presidente Bush para justificar a invasão do Iraque, eufe-misticamente chamada de guerra, nos quais ja-m ais ja-m encionou os interesses do capital aja-m e-rican o em dom in ar as fon tes de petróleo do mundo árabe ou a ameaça do euro ao dólar co-mo razões para o conflito (Smith, 2003).

Depois de rever análises sobre o uso do ter-mo globalizationfeitas por alguns autores, cabe aprofundar o significado da globalização como n eoliberalism o, aludido por Chom sky, que é talvez o com ponente central da expressão glo-balização corporativa neoliberal proposta aci-ma. Chomsky (1999) postula que o termo “neo-liberalism o” sugere um sistem a de prin cípios qu e são n ovos e baseados n as idéias liberais clássicas de Adam Sm ith. O neoliberalism o

o-r igin ou-se n a Euo-ropa e Am éo-rica do Noo-rte n o p er íod o p ost er ior à II Gu er r a Mu n d ial, ba-seado nas idéias de Friedrich H ayek e prom o-vido n os an os 70 por Milton Fr iedm an em Chicago. Constitui-se com o um a intervenção teórica e política contra o estado intervencio-nista e de bem-estar defendido por Keynes, na década de 1930, para fazer face à depressão ex-perimentada na Europa e Estados Unidos.

Este sistem a doutrinário é tam bém conhe-cido como Consenso de Washington, que é um conjunto de princípios de reordenam ento dos m ercados desenhado pelo governo am ericano e p elas in stitu ições fin an ceir as m u ltilater ais as quais controla, como o Fundo Monetário In-tern acion al (FMI) e o Ban co Mun dial. Druck (1999) argumenta que o Consenso de Washing-ton ganhou este nome a partir de expressão cu-n hada pelo ecocu-n om ista Johcu-n William socu-n do Institute for International Economics e ...pode ser resum ido em três objetivos principais: a) es-tabilização da economia (corte no déficit público, combate à inflação), em geral, tendo por elemen-to central um processo, explícielemen-to ou não, de dola-rização da economia e sobrevalodola-rização das moe-das nacionais; b) reformas estruturais com redu-ção do Estado, através de um programa de priva-tizações, desregulação dos mercados e liberaliza-ção financeira e comercial; c) abertura da econo-m ia para atrair investiecono-m entos internacionais e retomada do crescimento econômico.

Estas políticas foram aplicadas nas duas úl-tim as décadas em qu ase todos os países da América Latina e África, e com menor intensi-dade na Ásia, com resultados desastrosos para a gran de m aioria deles, o qu e verem os com mais detalhe na próxima seção deste artigo.

Os franceses utilizam o termo “mundializa-ção” n eoliberal para caracterizar este projeto econômico, político, ideológico e social para a globalização capitalista, que foi descrito por u m represen tan te de u m dos m aiores gru pos europeus com o la libertad para que su grupo pueda im plantarse donde quiera, para producir lo que quiera, aprovisionándose y vendiendo donde quiera, y teniendo que soportar la m enor cantidad de limitaciones posibles en cuanto a de-recho del trabajo y convenciones sociales(H ar-necker, 2000).

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periféricos pelo capital financeiro transnacio-nal, seja indiretam ente através de seus agentes institucionais como o Banco Mundial, o Fundo Monetário Internacional e a Organização Mun-dial do Comércio, entre outros, ou diretamente através dos cham ados technopols(elite tecn o-crática neoliberal que administra o Executivo) e das cham adas elites ou n ú cleos tran sn acio-nais (Ahumada, 1996).

Para com pletar as posições revistas acim a resta agora discutir brevem ente o papel do es-tado nacional no capitalismo globalizado. Com relação a este aspecto, podemos identificar pelo m en os duas posições distin tas. Por um lado, existem os que crêem que o Estado nacional já n ão cum pre papel im portan te n o capitalism o atual por estar fraco e subordinado às gigantes-cas e poderosas corporações m ultin acion ais e seus aliados m un diais. Esta parece ser a visão con ven cion al da globalização e supõe que a tendência natural do desenvolvim ento capita-lista, particularm en te a sua in tern acion aliza-ção, subm erge o Estado-n ação. Segun do este ponto de vista quanto m aior a internacionali-zação ou globaliinternacionali-zação do capital, m ais restrito o papel do Estado n acion al. Por outro lado, existem aqueles que discordam desta posição por entender que o Estado ainda é fundam en-tal para a defesa dos interesses dos grupos do-m inantes e corporações do-m ultinacionais, prin-cipalm en te n os países ditos desen volvidos ou do Prim eiro Mun do (Tan zer, 1995; Meiskin s, 1999).

Chom sky (1999) utiliza a expressão really existing market capitalism(capitalismo de mer-cado realm ente existente) para caracterizar as doutrin as seguidas pelo govern o Reagan e os ideólogos neoliberais nos anos 80, que glorifi-cavam as virtudes do m ercado para os pobres, en quan to se gabavam orgulhosam en te para o m un do dos n egócios de que Reagan forn eceu m ais su bsídios à im portação para a in dú stria am erican a que qualquer outro de seus prede-cessores em m ais de m eio século. Carchedi (2002) e Dum énil & Lévy (2002) argum entam que o capitalismo do final do século 20 é o ca-pitalism o m onopolista dom inado pelo Estado imperialista americano – o “hegemon” global – por seu s com petidores organ izados n o bloco de estados dominantes da União Européia (Ale-manha, Inglaterra, França), e pelo Japão. Estes “Estados fortes” e n ão m ín im os organ izam seus blocos com erciais e acordos de livre co-mércio, como o Tratado de Livre Comércio da Am érica do Norte (TLCAN) e a Un ião

Euro-péia, para alargar e fortalecer o poder financei-ro e com ercial das “suas m ultin acion ais” n a disputa por lucros e controle dos países depen-dentes e periféricos, eufemisticamente denomi-n ados “em desedenomi-n volvim edenomi-n to.” É denomi-notório que, neste processo, o papel dos Estados-nações em prover o bem-estar social, o controle ambiental e o interesse democráticos dos povos, sem dú-vida alguma, diminuiu (Herman, 1999).

A globalização dos movimentos sociais

Os propon en tes da “globalização por cim a” prom etem um m undo m ais justo para todos e apregoam que a maré do desenvolvimento “le-vantará todos os barcos,” isto é, todos os países e classes sociais se ben eficiarão com o cresci-m ento da produtividade e da prosperidade do capitalism o n eoliberal (ICC, 2000). Porém , apesar desta permanente promessa, que já dura m ais de vinte anos, não tardou m uito, em ter-mos de tempo histórico, para que um pujante e vibrante m ovim ento social internacional sur-gisse em resposta aos inúmeros impactos nega-tivos da globalização corporativa n eoliberal, como por exemplo (Brecher et al., 2000): 1) A crescen te poluição da água, ar e solos, fruto das cham adas extern alidades da produ -ção de químicos tóxicos sem controle ambien-tal e social.

O efeito estufa e a redução da cam ada de ozônio seriam as ameaças mais sérias da enor-m e crise ecológica qu e afeta o plan eta, cu jos variados impactos afetam a biodiversidade (co-mo o desaparecimento recorde de espécies ani-mais e vegetais), a sustentabilidade (por exces-so de con sum o de m atérias-prim as n ão ren o-váveis), e até a sobrevivência de cidades e “Es-tados-ilhas,” como as ilhas do Pacífico Samoa e Tuvalu (Mann, 2002). Ao mesmo tempo cresce “a corrida para baixo” n os padrões e leis de controle da poluição ambiental e ocupacional, visível por exem plo nas m ás condições de tra-balho e de ambiente das maquiladoras do nor-te do México e das cham adas sweatshopsda Ásia e América Central.

2) Crescimento acelerado da pobreza e da de-sigualdade em quase todos os países do mundo, com exceção de casos raros como a China.

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dis-so, o mesmo relatório revela que a renda líqui-da dos 200 in divídu os m ais ricos do m u n do aumentou de 440 bilhões de dólares para mais de 1 trilhão de dólares entre 1994 e 1998. Weis-brot et al. (2000) avaliaram os efeitos da globa-lização nos últimos 20 anos, com base em indi-cadores fornecidos pelo Banco Mundial, e con-cluíram que houve declínio nas taxas de cresci-mento econômico em quase todos os países do m u n do; qu e o crescim en to da expectativa de vida se reduziu em 4 dos 5 grupos de países es-tu dados e qu e progressos n a dim in u ição da m ortalidade in fan til e n as taxas de alfabetiza-ção e escolaridade tornaram-se mais lentos pa-ra a maioria dos grupos de países estudados. E mais, o desemprego mundial ronda a cifra de 1 bilhão de pessoas e os em pregos se torn aram tem porários, in seguros, flexíveis e in form ais, acarretando graves conseqüências para a saúde e bem -estar dos trabalhadores (Siqueira et al., 2003).

Nas relações trabalhistas constata-se perda de direitos conquistados pelos trabalhadores no pós-guerra. De acordo com Atílio Boron (Seoa-ne, 2001), um relatório da OIT m ostra que as-salariados da Am érica Latin a e Caribe traba-lh aram em 2000 u m a m édia de 2.100 horas, en qu an to assalariados eu ropeu s trabalharam 1.500 horas, por um salário m uito superior. Outro dado im portan te relatado por Boron é que atualm en te há m ais crian ças trabalhan do em con dição de servidão em todo m un do do que escravos no apogeu da escravidão. 3) Volatilidade e instabilidade financeira cau-sada pela desregulação financeira global defen-dida pelo neoliberalismo.

Mais de 1,5 trilhões de dólares circulam pe-lo mundo diariamente nos mercados financei-ros, podendo entrar e fugir de países em ques-tão de dias e levar economias nacionais inteiras a recessões agudas, como as que ocorreram no México, Brasil, Argentina, Coréia do Sul, Tai-lândia, Indonésia (estes três últimos vítimas da chamada “crise asiática” do final dos anos 90), Turquia, entre outros.

4) Erosão da democracia pela enorme concen-tração de poder nas mãos de pequeno número de indivíduos e corporações, fazendo com que os poderes públicos se tornem verdadeiras ca-deias de transmissão destes interesses.

Ao m esm o tem po dim inui a possibilidade de que governos locais resistam às pressões de lobistas do grande capital contrárias a políticas sociais de interesse dos povos. Conseqüente-mente, o poder dos governos para proteger suas

econ om ias con tra o dom ín io legal do gran de capital multinacional, disfarçado de “acordos de livre-com ércio” regulam entados pela OMC, tem sofrido contínuo enfraquecimento. Um pe-queno número de pessoas tem tomado decisões que afetam bilhões de cidadãos m un do afora. Segundo um de seus burocratas, “a OMC é o lu-gar on de govern os fazem con chavos privados con tra o in teresse dos seus grupos de pressão domésticos” (Brecher et al., 2000).

Assim, o neoliberalismo agudiza problemas existentes no desenvolvim ento capitalista nos an os 70 e 80, com o os dan os am bien tais, que no final do século 20 assum em proporções de catástrofes m undiais, com o Chernobyl e Bho-pal. De acordo com San tos (2002) produz-se um efeito de entropia das em presas globais, na m edida em que, para m elhor funcionarem , tais em presas criam ordem para si m esm as e desor-dem para o resto. A tendência do capital de ul-trapassar fron teiras e territórios acaba por transpor barreiras, sem se dar conta que os seus limites podem comprometer a própria sobrevi-vência hum ana. Justifica-se, assim , a agressão ao homem e ao meio ambiente rumo ao desen-volvimento a qualquer preço. Sustentando esta possibilidade, H ardt & Negri (2001) referem que ...essa m udança torna perfeitam ente claro e possível o atual projeto capitalista de unir o po-der econômico ao popo-der político, para materiali-zar, em outras palavras, uma ordem capitalista.

No Brasil, as diferenças no desenvolvimento regional, com elevada concentração de renda e tecnologia na região Sudeste, funcionam como um campo fértil para possibilidades de investi-m entos industriais e agrícolas. Entretanto, a globalização neoliberal privilegia mercados ex-ternos e utiliza o território apenas como celeiro espoliativo, sem o necessário retorno de capital, contribuindo ainda mais para aprofundar as di-ferenças regionais. Da mesma forma que a globalização acentua as diferenças m undiais, au -mentando a concentração de capital em poucos países, o mesmo acontece no Brasil com os ter-ritórios. Im plem entação e crescim ento desor-denados, com im plantação de m odelos de de-sen volvim en to superados e n ão susten táveis, são colocados como salvação em determinadas áreas não privilegiadas, como o Nordeste. Tais modelos levaram à poluição do solo, do ar e das águas, deixando as populações expostas sem o devido controle ambiental e atenção à saúde.

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que exista infra-estrutura adequada de escolas, serviços de saú de e san eam en to básico para dar con ta das n ecessidades da população tra-balhadora atraída por estes empreendimentos. Adem ais, este processo de expan são desorde-n ada tam bém gera idesorde-n versão do poder local, on de o poder econ ôm ico su pera, através de mecanismos não democráticos, o poder políti-co e este se ren de ao capital em n om e da globalização. Sob am eaça de transferência da in -dú stria para ou tro país e fu ga de capital, o controle social e as ações de vigilância sanitá-ria e ambiental não são efetuadas.

As redes contra a globalização corporativa neoliberal

Depois de abordar alguns dos pontos centrais da plataform a de lu ta do m ovim en to social global, passem os em seguida a discutir com o este movimento vem se organizando para lutar contra os impactos destrutivos da globalização neoliberal.

Segundo Santos (2000), a política na socie-dade global neoliberal se desenvolve nos m er-cados, onde os atores são as em presas globais, sem nenhum a ética. A lógica das disputas e da sobrevivência retira qualquer possibilidade al-truísta de ação. Resta à sociedade retom ar o conceito de solidariedade e ajuda mútua. As re-des se in serem n este con texto de disputa da globalização do capital especulativo e predató-rio. Este autor, no entanto, propõe um a outra globalização e embora não mencione o concei-to de rede, lança as bases filosóficas para que tal acon teça. Para ele, as m esm as bases m ateriais que sustentam a ação das em presas globaliza-das, calcadas n a com un icação e in form ação, podem servir a outros objetivos, desde que co-locadas a serviço de u m a ou tra con sciên cia e fundamento, como as redes em construção pe-los movimentos sociais.

Capra (2002) tende a vislum brar nas redes a essência da vida quando afirm a que uma das principais intuições da teoria dos sistem as foi a percepção de que o padrão em rede é com um a todas as form as de vida. Onde quer que haja vi-da, há redes. Ainda segundo este autor … O pa-drão em rede é um dos padrões de organização m ais básicos de todos os sistem as vivos. Em to-dos os níveis de vida – desde as redes m etabóli-cas das células até as teias alim entares dos ecos-sistemas – os componentes e os processos dos sis-tem as vivos se interligam em form a de rede. A

aplicação da com preensão sistêm ica da vida ao dom ínio social, portanto, identifica-se à aplica-ção do nosso conhecimento dos padrões e princí-pios básicos de organização da vida – e em espe-cífico, da nossa com preensão das redes vivas – à realidade social.

Embora oriundos de disciplinas totalmente diversas, Capra e Castells parecem sugerir que no final do século 20 a sociedade global só po-de ser entendida a partir do novo paradigma da estrutura de redes e da compreensão sistêmica da sociedade capitalista. Brecher et al. (2000) argum entam que enquanto os de cim a se glo-balizam para avançar suas agendas, “os de bai-xo” organizam a sua resistência através da “glo-balização por debaixo”.

Com eçando com a em ergência da rebelião dos zapatistas no Sul do México (1994) e conti-nuando com as batalhas de Seattle (1999), Was-hington, D.C. e Praga (2000), Quebec (2001), Gênova (2002) – estas por ocasião de protestos duran te reun iões de cúpula da OMC, do FMI ou Banco Mundial – aparece em cena uma no-va forma de luta popular contra a globalização: as redes mundiais de movimentos sociais anti-globalização (Arquilla & Ronfeldt, 2001). Estes autores definem o que chamam de “netwar” co-m o u co-m co-m odelo eco-m ergen te de con flito social em que os protagonistas utilizam formas de or-gan ização em rede e dou trin as, tecn ologias e estratégias afin adas com a era da in form ação. Estas redes são com postas de ONGs dispersas, indivíduos e pequenos grupos que se com uni-cam , coorden am e con duzem suas ações por meio da Internet. Segundo os mesmos autores, a revolta dos zapatistas contra o Estado m exi-cano, denominada a primeira rebelião pós-co-m unista ou pós-pós-co-m oderna por Fuentes e Casa-nova, embora originada numa área pobre e iso-lada do México, gan hou gran de n otoriedade internacional graças ao trabalho em rede de vá-rias ONGs mexicanas e internacionais para di-vulgar via Internet os pronunciamentos do Co-m andante Marcos sobre os objetivos do Exér-cito Zapatista de Liberação Nacional (EZLN).

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Este n ovo m odelo de m ovim en to social e “guerra de rede” tem as seguintes característi-cas (Arquilla & Ronfeldt, 2001):

• Organ iza-se de form a policên trica ( m u i-tos líderes ou centros de liderança), segmentar (com posta de m uitos diferentes grupos) e em rede ideologicam en te in tegrada (segm en tos e líderes in tegrados em sistem as reticu lares ou redes através de con exões estruturais, in divi-duais e ideológicas – a abreviação para tal com-bin ação de características em in glês é SPIN –

segmentary, polycentric and integrated network). Os líderes deste movimento tendem a ser caris-m áticos ao in vés de burocráticos, e in spiracaris-m seus liderados principalmente pela sua capaci-dade de in fluen ciá-los e in spirá-los e n ão por sua capacidade organizativa ou política. • Tem flexibilidade, fluidez, e autonomia. Os nós da rede estão em constante expansão e mo-vim ento e se com unicam pela Internet de for-m a horizon talizada, torn an do for-m uito difícil a identificação e repressão de lideranças ou insti-tuições burocráticas respon sáveis pelas ações empreendidas e propostas políticas defendidas. Os in tegran tes das redes estabelecem relações n ão hierárquicas e com partilham suas iden ti-dades, seu en ten dim en to do in im igo, e suas propostas para com batê-lo on-line. Por outro lado, qualquer membro da rede é livre para as-sociar-se ou disas-sociar-se dela e as redes podem expandir-se e contrair-se rapidamente. Os par-ticipantes das redes podem tam bém construir relações pessoais, de am izade, de vizin han ça, ou apen as se en con trar periodicam en te em even tos especiais com o con ferên cias, assem -bléias ou m anifestações de rua.

• Utiliza táticas de luta que incluem a blitze a guerrilha estilo “en xam e de abelhas” (swar

-m ing) sobre objetivos negociados e pré-deter-m in ados e o ofu scapré-deter-m en to da distin ção en tre ofensiva e defensiva. Por exemplo, um ator so-cial pode atacar em n om e de su a au todefesa, como foi o caso dos zapatistas.

• Desafia os limites e separações entre o Esta-do e a sociedade, o nacional e o internacional, o público e o privado, o legal e o ilegal, e tende a criar confusão nas instituições do Estado na-cion al respon sáveis pela lei e ordem , com o a polícia e a justiça. Burocracias governamentais hierarquizadas e verticalizadas não têm facili-dade n em agilifacili-dade para m obilizar recursos e pessoal para enfrentar movimentos descentra-lizados e em con stan te m ovim en to (exem plo claro desta questão é a dificuldade encontrada pelos Estados nacionais para combater o

tráfi-co in tern acion al de drogas, cuja estrutura or-ganizativa se assemelha a uma rede decentrali-zada e dinâmica de cartéis).

Quanto a sua tipologia ou estrutura (Figura 1), as redes podem classificar-se com o redes “cadeias” (chain ou line networks), “estrelas” (star

ou hub networks), ou “canal múltiplo” ( all-chan-nel or full m atrix networks). Cada nó da rede pode in cluir um in divíduo, um a organ ização (partido político, igreja ou sindicato), um gru-po, parte de um grugru-po, ou até mesmo um Esta-do; os nós podem se ligar de maneira frouxa ou coesa, representar m uita ou pouca gente, e ser inclusivos ou exclusivos. Pode ocorrer também híbridos que incluam redes e outras formas de organização hierárquicas, em que alguns dos nós

Figura 1

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da rede seriam na verdade burocracias tradicio-nais. Muitas configurações podem se form ar para operações táticas ou de lon go prazo de acordo com as necessidades da rede.

Klein (2002) usa uma metáfora da Internet para caracterizar os m ovim en tos an tiglobali-zação não como uma teia (web) mas sim como m ovim entos de núcleos e raios (hubs and spo-kes), nos quais os núcleos constituem os centros de atividades e os raios os “grupos afins,” que se ligam a outros grupos autônomos interligados. Um a pergun ta fun dam en tal que cabe res-ponder a esta altura é: O que faz com que uma rede alcance sucesso e êxito, funcione efetiva-mente, se fortaleça e permaneça unificada? Ar-quilla e Ronfeldt (2001) propõem cinco níveis de análise para avaliar uma rede: nível organi-zativo (o desenho organiorgani-zativo); nível narrati-vo (a história que se conta); nível doutrinário (as estratégias colaborativas e m étodos); o ní-vel tecn ológico (sistem as de in form ação); e o n ível social (os laços pessoais qu e assegu ram lealdade e confiança mútua). As redes mais for-tes correspondem àquelas que funcionam bem nestes cinco níveis. Nas redes exitosas o dese-nho organizativo se sustenta por um a história vencedora e uma doutrina bem definida; todos os níveis se sobrepõem a sistemas comunicati-vos avançados e descansam sobre laços pessoais e sociais fortes nas bases. Cada nível e o dese-n ho geral da rede devem se bedese-n eficiar da re-dundância e diversidade, porque as caracterís-ticas de cada n ível provavelm en te afetam as dos outros níveis.

Talvez o maior exemplo da nova configura-ção dos m ovim en tos sociais an tiglobalizaconfigura-ção como redes contra-hegemônicas ou contrapo-deres tem ocorrido n o Brasil, on de se realiza-ram três fóruns sociais mundiais em Porto Ale-gre. A Carta de Princípios do Fórum Social o si-tua com o ...espaço aberto de encontro para o aprofundamento da reflexão, o debate democráti-co de idéias, a formulação de propostas, a troca li-vre de experiências e a articulação para ações efi-cazes, de entidades e movimentos da sociedade ci-vil que se opõem ao neoliberalismo e ao dom ínio do m undo pelo capital e por qualquer form a de imperialismo, e estão empenhadas na construção de uma sociedade planetária orientada a uma re-lação fecunda entre os seres humanos e destes com a Terra(Fórum Social Mundial, 2001).

Segundo Whitaker (2003), espaço e m ovi-m en to con stitu eovi-m con ceitos diferen ciados. Espaço diferen cia-se de m ovim en to vez que não tem líderes, é horizontal e funcional como

u m a praça sem don o qu e serve de pon to de en con tro para os que queiram usá-la para al-gu m tipo de in teresse com u m . Adotan do a perspectiva de espaço, o Fóru m n ão defen de n en hu m a estru tu ra piram idal de decisão ou hierarquia de poder entre os que dele partici-pem . O Fórum se con verteu, em curto prazo, em um enorme espaço mundial de troca de experiên cias, um a verdadeira in cubadora m un -dial de movimentos e idéias, articulando gran-de variedagran-de gran-de in iciativas e lu tas con tra os m ais variados aspectos do neoliberalism o, co-mo sugere o slogan Um outro mundo é possível. Em síntese, o Fórum Social adotou a estrutura de “rede de redes” como alternativa ao modelo neoliberal centralizador e concentrador de po-der anualmente avaliado e refinado em Davos, Suíça, e com o in strum en to de aglutin ação de movimentos sem constituir-se em movimento ou em “movimento dos movimentos.” Ainda é cedo, n o en tan to, para avaliar até qu e pon to esta praça perm itirá a construção de platafor-m as coplatafor-m u n s de lu ta e u n idade en tre setores sociais e grupos políticos com propostas polí-tico-ideológicas distintas e muitas vezes diver-gentes.

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Redes ecológicas m un diais con seguiram pressionar numerosos governos a assinar o Tra-tado de Kyoto con tra Gases Poluen tes da At-mosfera (greenhouse gases), a eliminar o uso de Químicos Orgânicos Persistentes (persistent or-ganic pollutantsou POPs) e o uso de am ian to na Europa (Ban Asbestos Network). Redes de direitos hu m an os con segu iram aprovar a Con -ven ção In tern acion al pelo Ban im en to de Mi-nas de Terra (International Convention to Ban Landm ines – ICBL) e recentem ente m obiliza-ram milhões no mundo inteiro pela paz e con-tra a invasão do Iraque. Entretanto, muito ain-da resta a fazer.

O m ovim en to m un dial con tra os Acordos de Livre Comércio patrocinados pela OMC, co-m o o General Agreeco-m ent on Trade in Services (GATS), conseguiu retardar por alguns anos a iniciativa do governo americano em colocar na pau ta deste acordo a privatização de serviços públicos essenciais como saúde, educação, for-necimento e tratamento de água e esgoto. Con-tudo, ainda não está claro qual será o desfecho deste processo. Situação semelhante parece es-tar ocorrendo com o Acordo de Livre Com ér-cio das Américas (Alca) comentado em detalhe por Druck e Franco neste número. De um lado, o govern o am erican o e algun s poucos aliados nas Américas tratando de acelerar a “anexação” das Américas ao seu mercado, como afirmou o presiden te Lula recen tem en te, sob a égide do “livre mercado”. De outro, a crescente resistên-cia nacional e popular ao Alca, particularmente na Venezuela, Argentina, Brasil e Equador (Ju-bileu Sul Brasil, 2003).

A construção de um programa alternativo

As redes m undiais de m ovim entos sociais têm explicitado claram ente sua oposição ao neoli-beralism o por m otivos ecológicos, éticos, reli-giosos, ideológicos, políticos, econ ôm icos e culturais. Não parece haver dúvidas sobre as questões concretas que mobilizaram os partici-pan tes destes m ovim en tos, m esm o que exista u m a cacofon ia de vozes e reivin dicações n as passeatas, plebiscitos, greves, e m an ifestações de rua organizadas nos últim os anos. Mais di-fícil, porém, se coloca a caracterização e visua-lização de programa alternativo à globavisua-lização corporativa neoliberal, ou em outros termos, a favor de que se m obilizam estas redes e m ovi-mentos?

Brecher et al. (2000) propõem um a síntese inicial do que os movimentos pela globalização por debaixo defen dem , basean do-se em sete princípios gerais orientadores:

1) Nivelamento “por cima” de direitos huma-nos, ambientais, e sociais para impedir a “cor-rida para baixo” das leis, direitos e proteção social.

Este n ivelam en to para cim a pode ocorrer através de cam pan has por salários dign os, da pressão sobre m ultinacionais para que respei-tem padrões globais m ín im os de direitos tra-balhistas e proteção am bien tal, da in corpora-ção de um piso mínimo para direitos trabalhis-tas e ambientais nos acordos de livre-comércio, e da inclusão de leis e regulamentos globais nas legislações nacionais.

2) Dem ocratização das in stitu ições desde o nível local até o global pelo estabelecimento de diálogo e negociação transparente sobre o fu-tu ro da econ om ia global, da dem ocratização das in stituições fin an ceiras e de com ércio in -ternacionais, do estabelecimento de códigos de con du ta para as corporações m u ltin acion ais, da participação cidadã nas decisões sobre política econ ôm ica, da pu n ição dos crim es am -bien tais corporativos, e da elim in ação do do-m ín io do din heiro sobre as eleições e parla-mentos.

3) Construção de processo de tomada de deci-sões o m ais próxim o possível dos in divíduos afetados por elas, através da expansão da eco-nomia solidária, do controle local das corpora-ções m ultinacionais, da proteção da capacida-de capacida-de capacida-desenvolvim ento econôm ico nacional e local, e do estabelecim ento de pactos contra a competição predatória entre cidades, regiões e países.

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5) Conversão da economia global para susten-tabilidade ecológica pela tran sform ação dos padrões de produção e consumo dos países “er-radam ente desenvolvidos” (wrongly developed countries), do cumprimento de acordos ecoló-gicos internacionais, e do fim da destruição dos recursos naturais promovida pelo Banco Mun-dial e FMI.

6) Criação de prosperidade pela satisfação das necessidades humanas e ambientais através do encorajamento do desenvolvimento econômi-co – não da austeridade – da promoção da pro-dução agrícola voltada para as necessidades lo-cais, da utilização de técnicas de planejamento do desenvolvimento, de investimentos a longo prazo, e do reestabelecim en to de políticas de pleno emprego.

7) Proteção contra a volatilidade global gerada por expan são dem asiada seguida de recessão através do controle do fluxo de capitais pelo es-tabelecimento de impostos sobre investimentos especulativos de curto prazo como o “imposto Tobin.” Ademais, faz-se necessária a coordena-ção da demanda nas maiores economias, a ga-rantia de liquidez global por Direitos Especiais de Saque duran te períodos em que países en -frentem crise econômica aguda, a estabilização das taxas de câmbio internacionais, a penaliza-ção dos especuladores quando sofrerem perdas derivadas de especulação com ativos financei-ros, o estabelecim ento de m ecanism os perm a-nentes de resposta à insolvência de países endi-vidados, e o desenvolvimento de regulamenta-ção do sistem a m onetário internacional.

Embora os pontos acima, de forma alguma, esgotem o conjunto de propostas debatidas em nível internacional para enfrentar as crises

po-líticas, sociais, ambientais e econômicas vividas por grande parte dos povos do m undo, consi-deram os qu e se trata de im portan te sín tese e resum o do que seria um program a alternativo ao implementado pelos “de cima.”

Conclusão

Amin (2001) sugere que os novos movimentos sociais, com o o Movim ento dos Sem Terra n o Brasil ou a luta de assalariados e desem prega-dos em alguns países europeus, representam a nova fase da luta social, marcada por uma plu-ralidade de m ovim entos sindicais, ecológicos, de movimentos de mulheres e pela democracia. Se esta caracterização de Am in estiver correta, en tão tam bém n os parece correto o que ele aponta como a questão central deste novo mo-m ento pós-Seattle e Fóruns Sociais Mundiais: definir qual será a relação entre os vários confli-tos entre as diversas classes dom inantes e seus Estados e os conflitos sociais por elas gerados.

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