CADERNOS DE
ADMINISTRACÃO PÚBLICA -
61
FRANK P. SHERWOOD
o
AUMENTO DO PREÇO
DO AÇO DA C. S. N.
ESTUDO DE UM CASO
FUNDAÇÃO GETÚLIO VARGAS
(I
\'1 L \lJl·.R:\OS IlI' \\HIl\,hTICV,'\O l'lflLie\
ca~()s. por dcfÍnÍc;;io trabalhos ~lICilltoS (embora alguns aI inpm as dimensões de UIII livro). tornam possíveis a produção de 111-forma<.·6{'s importantes c úteis em lempo relativamente curto,
Além disso. por v;írÍo, motivo" não ,e de\'(~ pensar ser coisa. fácil a elaboração de IIlIl GtSO, Em primeiro lugar, um bom caso. bem elaborado. bem pesquisado c bem redigido exige lima
consider<Ível dose de habilidade (' energia. Em segundo lugar,
é preciso não pensar que, sendo mais curtos (' mais fáceis de elaborar que os hnos, os casos sejam por isso inferiores àqueles. ApelJas sfio diferentes e servem a objetivm diversos.
OlltlO pcinto - êstC' refletindo UlIla idéia pessoal nos~a ... (>
que os GI'iOS nfio podem ~ubstituir outras formas de literatllra
no en,illo da Adrnilli~traç'fio Pública, Os entusi,lstas do métodtl do caso às vêlt~s acham difícil encontrar outro~ lllétridos para UJlI ;:5sunto. O (jue querelllos dizer c': que o me':todo do Ct~1l se pn:sta admirüvelmente para suplementar ou complementar outros
mé-todos. Ch casos podem plOporcionar llO":!S e m;Ji~ ampla~ pers· pectivas mas. pelo menos enquanto nfio dispusermos de milha-res de casos e Plldcnn()~ (omcc:ar a fazer deduçôcs gcneraIÍLacla" não poderão êles comtituir base ,tdcfJuada para () exame de
um t[ma, O que se fal necess;irio {- a prodnclo de lima litera-tura diversificada de boa qualidade,
Foi rcconhecendo essa neccssi(Ltdc q lIe a FUllda<Jio FOl d. em 1!J6L resolveu conceder ,1 EBAP uma doação destinada a e;;ti· mular a pesquisa e a produção de obras originais hrasileiras no campo da Administração Pública, Dc acôrdo com ci contrato firmado serão produzidos nos próximos cinco anos quinze livl'O~
básicos, dezoito monografias sôbre a~sulltcis mai, ou menos e~pe
cialilados e vinte e quatro casos.
() Alil\lENIO IJO I'!U(~() DO \(;0 \lA C.S.N. Vll
Tendo obsen'ado profunda e inteligentemente o funciona,· mento das instituições políticas e administrativas brasileiras duo rante ~lIa permanência no Brasil. e sendo, ainda. um especia. lista no método do caso, o Professor Frank P. Sherwood pôde
reunir l' organizar de maneira extremamente interessante os da· d()~ relati\"()s àqueles dois fatos. apresentando-~e de forma ta I (jllC podem ser u!ililados no ensino de v:írias disciplinas de urll;1 E'cola de .\dlllillistra~·iio.
Bf,\ noz ,\1. Di': SOIZA "',\lIRLlUI
A RESPEITO DO AUTOR
Frank P. Sherwood é, atualmente, Professor da Escola de Administração Pública da Universidade do Sul da Califórnia, em Los Angeles. Dentre seus muitos títulos, destaca-se o de Doutor em Filosofia (Ph. D) pela mesma Universidade, na qual já exer-ceu, também, as funções de Diretor da Escola de Administração Pública, Coordenador do Programa Brasileiro, Consultor do Pro-grama Iraniano e Diretor do ProPro-grama de Pós-Graduação em Planejamento Urbano. Serviu, ainda, como Consultor Especial dos Govêrnos da Turquia e dos Estados de Califórnia e Nova Iorque.
Entre 1961 e 1963 passou dezoito meses no Brasil, inicial-mente como membro e, mais tarde, como Chefe da Missão de Professôres norte-americanos da Universidade do Sul da Califór-nia que prestaram assistência técnica à Escola Brasileira de Admi-nistração Pública da Fundação Getúlio Vargas.
Como Professor, Frank P. Sherwootl tem-se destacado espe· cialmente pela aplicação dos mais modernos métodos de ensino. cujas técnicas inovadoras se baseiam na partici ração ativa do estudante, fazendo-o identificar-se com a dinâmica da
adminis-tração através da observação e análise de problemas atuais e objetivos. Quer utilize as preleções tradicionais, o método do caso e do incidente, as visitas ou a discussão de problemas, o Pro-fessor Sherwood obtém êxito com igual facilidade. Exige - (J'
x
Como pesquisador, tem-se interc~sado pelos problemas admi-nisLI;J tÍvos e sociais de drios países, cuja cultura tem procurado compreender e penetrar, dando, assim, uma nota de grande au-tenticidade aos trabaJho~ com qm' rem ('nriquecido a Jiteralura administ rativa dêsses país('~,
}', autor de ,';irias obras, de~t;tlando-,c. clltre outras, as ,('-guintes: SIlPervisory Mf'thods in i\ilunicijJal Administration. Ar!,
ministritive Organization, An 11lventory aluI Cla:5sification of
Cases for Use in Public Administraiian, Cifies in han - Nofr's
0/1, Theír problems and Grrcernance, Teachíng and Research in
?llblic Administratiorl, Essays 011 lhe Case Approach, Tem prOll
lo para o prelo um trabalho intitulado "Brazil's llJunicipalities
- A (;oml'aralive Vicw", em que analisa, sob ângulo inteira,
;
INDICE
A !JH's(:lllllíÜO
.1 H"s!lI'ito do A IItor
( ::IJ)íLlllo
C;qlÍlldo Ir ... .
(;ajlítlllo III
(;apítulo IV
(:apíllllo V ..
Capítulo Vl ... .
Clpítulo \'11
V
IX
10
17
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,1'(
o
AUMENTO DO PREÇO
DO AÇO DA
C. S. N.
Volta Redonda não t~ sómellLe a maior u~illa siderúrgica da América do Sul. f: o símbolo e, sob muitos aspectos, o guia
do-progresso econômico brasileiro. Sua importância é
compreensí-vel por duas razões: em primeiro lugar, representa, na verdade (desde o início da usina em ]~Hl), a libertação de Ullla situação
de dependência complda da importação de produtOs manufatu-I aJos fundamentais. Isto demonstra, de maneira inso[ismá\'(~L
as mudanças que se H'\m processando no Brasil. Em segundo !lr
gar, a nova emprtsa encapou a responsabilidade de impulsion;Jl
::t induslrialização além dos seus interêsses imediatos, tornando-s·~.
assim, uma fonte de assistência técnica, financeira e também
t'"
apoio moral para outras emprê'sas_
Em cOIlseqüênci;l, Volta Redonda é freqüentemente cham;ld t a "Usina -:\Ialer" do Brasil. Seu advento foi considerado com() "lIlll marco 110 desenvolvimento nacional" e "uma afirmaçftn ,b clpacidade brasileira".
0:a realidade, Volta Redonda é apenas a IIsma de <1(,'0 (1(,
um complexo muito mais vasto, que constitui a Companhia Si-derúrgica Nacional. Ela opera emprêsas subsidi{trias, explorJ dr-pósilOs minerais no Estado de l\Iinas Gerais, utiliza carvão do
sul do b,tado de Santa Catarina e opera uma frota de set'."
navios. O produto que lhe proporciona maior rendimento
(-o aço de Volta Redonda; entretanto, a empr{~sa também veJl(I"
(~arvão de suas minas e processa seus derivados. O ;1<:0 de Volt I Redonda, no entanto, representou cêrca de 85% da renda da Companhia Siderúrgica 1\' acionai em 1961; menos de 5%
CADERl\'OS DE .\D~lINISTRAÇ.\O Pl:BLlCA
Desde o início em 1 9<fl , a Companhia Siderúrgica Naciol1élJ vem operando como uma sociedade de economia mista. Êslc
CAPíTULO I
o
conceito de emprêsa de economia mista é relativamen-te simples. É a tentativa, por uma série de razões. de unir investimentos públicos e priva-dos. A emprêsa que surge des-sa combinação opera segundo o Direito Privado. sendo de es-perar que possua a mesma au-tonomia que qualquer outra emprêsa não governamental. Nos últimos anos êsse tipo de organização tem sido grande-mente utilizado nos países me-nos desenvolvidos do mundo. Os governos de tais nações acre-ditam em geral que de\"em for-necer a maior parte do capital investido; em conseqüência, há um desejo natural de partici-par na fixação das diretrizes das emprêsas assim organizadas. O ~istema de sociedades de eco-nomia mista é também fre-qüentemente favorecido pelaesperança que tem o govêrnu de que, oportunamente, os par· ticulares venham a adquirir um número cada vel maior de ações da emprêsa. Assim, na companhia bem sucedida, a participação do govêrno pode-ria vir a desaparecer.
(i
No Bra~il tem havido uma (rescente utilização da fórmula de emprêsa de economia
mis-t a nos últimos vinte anos; c isto vem ocorrendo em todos os nh'eis de govêmo: federal, estadual e municipal, A Com-p,lIlhia Siderúrgica Nacional é lima dentre as 21 emprêsas de economia mista que aparecem num organograma elaborado pelo Departamento Adminis-trativo do Serviço Público
(DASP), em abril de 1962; o Indicador de Organilação Fe-deral, publicado pelo me~mo
ôrgão em 1956, registra apenas 17. Em outros níveis de govh-110, especialmente no Estado da Guanabara, o aumento do número de emprêsas de
enmo-mia mista tem sido consideLI-"cImente mais acelerado.
A Companhia Siderúrgica Nacional {> uma das mais all-t igas sociedades de economi a mista do Govêrno Federal, sen-do precedida apenas pelo Ban-co do Brasil, o Instituto de Res-seguros do Brasil e a Comp;l-nhia ]\ acionaI de ,\lcalis.
O E<;tatuto da Companhia Siderúrgica Nacional foi apro-\ado pelo Decreto-lei n.o 3.002, de 30 de janeiro de I!Hl. Os
recursos para iniciar a grande iI'ientura provieram, em sua maior P;lrlC, de entidades go-vernamentais: o Tesouro Na-cional e os Institutos de Previ-dência Social. O Govêrno dos Estados Unidos também con-tribuiu com alguma ajuda fi-nanceira.
Em 1%:;, as ações da Compa-nhia Siderúrgica Nacional esta-vam registradas em várias
bôl-sas de valúres, e aproximada-mente 45 mil pessoas tinham investido na emprêsa. Enttanto, êsses investimentos re-presentam menos de
10%
do total. Os Institutos de Previ-dência Social e as Caixas Eco-nômicas detêm tllelas as aeões preferenciais da Companhi:l creceberam, em dividendos, 67 milhões de cruzeiros - em I !l61 - pagos à razão de
6%
do va-lor das ações. Em 1961, oTe-~ouro Nacional detinha ... B, El9 . 213 das ações COllllms e os particulares 1. 67.~. 787, Os dividendos do Tesouro N a-ciona!, pagos à raôo de 7,5'::"
destinaram-se ao Banco Nacio-nal de Desenvolvimento Eco-nrmlÍco (BNDE). De um total de 552 milhões pagos em 1961,
o AUJ\lE:'-iTO DO PREC,:O DO AC,:O DA C. S . N . 7
milhões de cruzeiros), foram recebidos pelos acionistas par-ticulares como dividendos (à razão de 10%) .
O Relatório de 1961 da Com-panhia Siderúrgica Nacional demonstra um investimento de capital da ordem de 19 bilhões de cruzeiros. De acôrdo com
a tabela de cámbio livre que prevaleceu durante a maior parte do ano de 1961 (Cr$ ... 250 por dólar), o valor da Companhia era, no mínimo, de
76 milhões de dólares. É fora de dúvida, entretanto, que o seu valor real ultrapassava, de muito, aquela cifra.
A política de financiamentos da Companhia Siderúrgica Na-cional complicou-se posterior-mente, pelo seu papel de
"Usi-na Mater". Em 1961, por exemplo, ela possuía ações de dezoito diferentes companhias, mui tas delas também atuaf1te~
no campo da siderurgia, como ;l Companhia Siderúrgica
Pau-lista (COSIPA) e a Usina
Si-derúrgica de Minas Gerais (USIMINAS) . A C.S.N. tam-b('1l1 subscreveu ações da Simca Allwmóveis do Brasil. O ba-lallço geral, no fim de 1961,
mostrava que tais investimen-tos eram avaliados em aproxi-madamente Cr$ 800.000.000
(oitocentos milhões de cruzei-ros), ou seja, cêrca de US$ f L 000 .000 (três milhões de dó-lares) ; argumentou-se então que a diversificação de fundos em tais empreendimentos tinha prejudicado a expansão de Volta Redonda.
A Companhia Siderúrgica ?lJacional é dirigida por unu Assembléia-Geral de acionistas, os quais, além de estabelece-rem as diretrizes gerais, ele-gem a Diretoria, para um pe-ríodo de um ano. O Presiden-te da Companhia, entretanto, é nomeado pelo Presidente da República, e demissível a~
fllltUtn.
Já
que o govêrno,através do Tesouro Nacional, também possui a maior parte elo capital votante, seu contrô-le real sôore a Companhia é completo. O organograma pre-parado pelo Departamento Administrativo do Serviço PÚ-blico (DASP) também repre-senta a Companhia Siderúrgica 1'\ acionaI como uma entidade do go"êrno, ao assinalar uma
L\IIERMh m: .\ll:\ll'\hIR\<;.\O I't'BI.ICA
A nomeação do Presidente executivo da Companhia pelo Presidente da República deixa a sua administração exposta às variações do ambiente político da nação. No turbulento ano de 1961, por exemplo, quando houve três Presidentes da Re-pública, a Companhia Siderúr-gica Nacional teve quatro pre-sidentes. Um serviu até o fim do período presidencial de Jus-celino Kubitscheck; um segun· do, em caráter interino, por cêrca de quatro meses; o
tercei-ro foi nomeado pelo Presideu-te Jânio Quadros; e o quarto. pelo Presidente João Goulart. Assim, evidencia-se ser a Pre-sidência da Companhia Side-rúrgica Nacional cargo de con-fiança do Presidente da Repú-blica. É igualmente claro que o sistema permite um contrôle imediato e direto pelo Pre~i
dente da República.
Apesar do entu~ia,mo brasi-leiro pelas realizaçôes da indús-tria do aço, V01t~1 Redonda
tem sido objeto de numerosas críticas. Ary Pimen tel Gomes. escrevendo no matutino cario-ca Diário de Noticias, atacou especialmente a descontinuida-de administrativa e o empre-guismo da Companhia. 1.
Ou-tros têm criticado principal-mente a ineficiência da emprê-sa. Parece também ser opinião generalizada entre o público, que a Companhia Siderúrgica N acionaI é excessivamente ge-nerosa com seus servidores. não sómente em têrmos de salário. mas também. em relação a
gra-tjficaçõe~. Dá-se que a Com-panhia possui lima das mais altas médias salariais do Bra~il.
levando-se em conta os benefí-cios adicionais. De fato, a CSN orgulha-se dos benefícios que proporcIOna aos seus em-pregados, dos quais 12.000 se acham em Volta Redonda. Conforme se acentua em um dos relatórios da CSN, "o êxi-to social da emprêsa traduz-se nos inúmeros benefícios que
s;io proporcionados aos 15.000
() /\1 \ll·.:"d() DO I'REc,;() Il() A<,:() n.\ C.S.:\.
ti abalhadores, inclusive parti-cipação nos lUCfos"2.
Em Volta Redonda, a vanta-gem mais significatin talvez seja a relativa à habitação. Mais de 5.000 unidades são alugadas pela Companhia a preços bastante reduzidos. Além
disso, sào proporcionados ser-viços de assistência médica, ali-mentar, educacional e outros. O relatório de 1961 especificou o custo anual dessas várias ali· "idades, que, excluindo a ha-bitação, chegava a 237 milhões de cruzeiros.
CAPiTULO 11
A significação de Volta Re-donda para o país ser;Í melhor compreendida, na realidade, se relacionada com o problema geral da produção de aço. A industrialização requer aço; e as usinas de aço ainda são dos empreendimentos mais cm,to-sos. O Plano Trienal, elabora-do em 1962, dizia: " ... dado o grande emprêgo do aço, que req uer produção em larga es-cala, a indústria siderúrgica absorve, tanto nos países imllls-trializados como naqueles em vias de industrialização, uma parcela considerável dos inws-timentos nacionais B. N esta~
condições, os países em desen-volvimento enfrentam a difícil larefa de conseguir recursos pa-ra financiar a expansão da si-derurgia que, por sua vef, tra-rá o incremento da ri<pleza.
Talvez no aço, mais que eru qualquer outro produto, possa-mos evidenciar a diferença en· tre os países desenvolvidos e subdesenvolvidos. Os países ti picamente industrializados pro· duzem mais de 300 kg. anuais
l)cr (apita. A Suécia, comd lí-der, em 1960, produziu 545 kg., seguida da Alemanha Ociden-tal com 525 kg. e dos Estados Unidos com 501 kg. Em con-traste, o México produziu. no mesmo período, 50 kg., o Brasil
41 kg. e a Índia II kg. O BrasiL como () México t' a índia, mostrou um real gresso no volume de aço pro-dmido desde 1948. Naquele ano, sómente 483.100 tonela-das vieram de usinas brasilei· ras; em 1962 o volume global aumentou para 2.557.000 to-Ileladas. Em ba,e jJer ("aPita.
3) Presidência da República, Plano Trienal de Desenvolvimento
o Al'ME"TO DO PREÇO DO AÇO DA C.S.N. li
C1Itretallto, O aumento não foi tão significativo. Com o au-mento da população, o Brasil nccessitay" incrcIllcntar sua pro-dllção consideràvelmente, a fim de manter o mesmo índice PC1' mpita. No período de ]953-1 !]953-155 êle estava produzindo FI,15 kg. per capi ta, por volta de 19!i2, aquêle total havia
au-mentado para 33,97 kg.. No mesmo período, a grosso modo, () México e a Índia
duplica-ram a sua produção de aço.
1)('1' (a!Jita. Um deficit
contí-nllo \las disponibilidades de
<l\'O, forçou o Brasil a
continu-ar lima política de importaç·ão. Em l%!i, por exemplo, foram importadas 3,39.000 toneladas: em 19GO a importação subiu a 508.7U0 toneladas: o nível mais alto a que chegou a im-portação foi em ]959, com
fi.IJ I . ,WO toneladas. A
importa-<:ão de aço repl'esenta uma san-gria consider<lveI na balança GlmbiaI. Em 1961 a
Compa-nhia Siderúrgica Nacional in-formou que vendera aço impor-tado no valor de 50 milhões de dólares, representando 300.000 toneladas. f: prováwl, então, que o custo total do aço im-portado tenha sido da ordem de 75 milhões de dólares. 4
l'\esta situação, Volta Redon-da rcpresentou um elemento yital. Nos seus 15 anos de ope-rações a produção subiu verti-ginosamente. Em pouco mais de quatro anos conseguiu pro-duzir seu milhão de toneladas de aço; a usina processou seu 110no milhão em apenas dezes-seis anos. Nos primeiros anos
foi responsável pela maior par-I e da prod ução nacional de <Iço. Mais recentemente, sua participação na produção na-cional estêve pouco abaixo de !i() 'J~. Em 1961 a CSN produ-tiu 1.129.900 toneladas de um lotaI de 2.1'16.000; em ]%2 as cifras eram de 1.151.000,
4'
o
Plano Trienal estimou, pelos fins de 1962, que o BrasilI~
de um toull de 2.557.000 1.0-IIeIadas. O valor da produção de Volta Redonda em J 961 foi de aproximadamente 115 mi-lhões de dólares (Cr$ ... . 28.398.702.787) .
O montante das vendas da Companhia Siderúrgica Nacio-nal diz bem da natureza do desenvoh'imento industrial do Brasil. Em J 961 o escri tóno de S50 Paulo vendeu 57
%
da produção e o Rio. 28%.
Os demais escritúrios exi~tentes no país venderam a penas 15 ()~ do total. Uma parte comider;ível da produção da CSN, aproxi-madamente 80%'
foi vendida diretamente a grandes consumi-dores, e Il,io a través de distri-buidores. Como seria de espe-rar, as vendas diretas ao g-ovêr-no e aos g-randes consumidores concentraram-se na área Rio-São Paulo, enquanto que 80%
do aco vendido no resto do país, 'foi atra\'{~s de distrihuido-res.N a realidade. o problema de Volta Redonda não era, de mo-do algum, o das vendas. O
grande problema era distribui, sua produção cle aço em base tão equitativa quanto pOS'ií-veI. Visto como o custo de aço importado era consideràvel-mente mais alto, a utilização do
aço de Volta Redonda não era apenas questão de conveniên-cia, mas, de vantagem econômi· ca. Corno observou a CSN, ela enfrentou o problema da dis-tribuição "num mercado ávido de seus produtos" . ~ Com o ob-jetivo de solucionar essa difi-culdade, a CSN informou ter utilizado "critérios estabelecidm de acôrdo com as característi-cas de cada área de consumo c
de cada cmprêsa em particular. tendo sempre em mente <lS ne-cessidades básicas do país". 1\ Assim, parece que a CSl':
de-via proporcionar fa vores C<)JI~i
deráveis em bases altamente subjetivas. ~ã() é de admirar, portanto, que o :lSS1Into vies,,(' à baila quando das <liscussC):'s a respeito do preço do aço.
Em agôsto de 19G1, a Com-panhia Siderúrgica Xacional instituiu o sistema de preço único, "por determinação do
5) Companhia Siderúrgica Nacional, relatório da Diretoria, 1961.
pág. 17.
() AI \1 EXI!) DO PRE<iO DO AÇO IH C. ~." .
gO\érno federal". A idéia era permitir às indústrias fora do eixo Rio--São Paulo comprar aço tão barato quanto aquelas
~ituadas no cor~ção industrial do país. Em conseqüência, as industrias localizadas perto de Volta Redonda passaram a
su bsidiar o transporte do aço para as fábricas mais distantes, meeliante o pagamento ele uma taxa ele 1,5
%
elo valor do aço adquirido_Porém, o problema real era
o futuro _ Em lugar de dimi-nuir, a sêde do Brasil por aço crescia. N a analise de dezem-bro ele 1962 estimava-se que as necessidades brasileiras em aço
~altariam. em 1965, para .... !"i. 400.000 toneladas, das quais esperan-sc que 4.780.000 to-nebdas fôssem produzidas por usinas então em construção. I\'estas condições, o deficit pre-visto para 19G5 era til' 600.000 toneladas. Na estimativa da produção total. esperava-se que a CSN conseguisse um aumen-to de produção da ordem de 30
%
sôbre 1962, que atingira 1 .500.000 toneladas. A estima-).iva, p:ll-a as demais usinas, em1965, era: Belgo :Mineira, ... !"iRO O()O: {lsiminas, !J!JO. 000:
Cosipa, 500. OO(); Mannesmalln 330.000; lafet, 300.000; Aliper -ti, 180.000; Acesita, 150.000; Barra Mansa 150.000, e outrai, -140.000 (Ver quadro na
pági-na seguinte). O problema bá-sico, naturalmente, era prosse-guir nos planos e proporcionar
o financiamento necessário para a consecução dos objetivos. Como frisava o Plano Trienal, é necessário um razoável
perío-do de tempo para que se destn-\'()lva a indústria siderúrgica. Informava-se, por exemplo, que grandes somas deveriam ser in-vestidas no período de 1962-65, com o objetivo de expandir a
produção para além de 1965. Depois de 19iO, segundo esti· mativas feitas, o Brasil necessi-taria o correspondente a uma nova Volta Redonda aos níveis de 196 J , todos Os anos, para que fôssem atendidas as suas lJecessidades crescentes.
tonel:t-QUADRO
Do Jornal d(l Comércio. 18 dI' junho de 191i l)
C~.PACIDADE DE PRODUÇÃO DAS USINAS SIDERÚRGiCAS E.'.\ FINS DE 1965
C. S. t~AClONAL
BELGO-,\',!NE,RA
US',VdNAS
COSiPA
MANNE~MftN
JAFET
AlIPERTI
ACESITA
BARRA MANSA
OUTRAS
EM MiL TONELADAS DE L;NGO~ES
11500
IS80
1550
1500
G2J
-"'GiJ
[;]
~
1,50
I
() AU",IL:\TO no I'RJ<;ÇO DO AÇO DA C. S. N . 1~
da~ em 1965, era de IOO
bi-lhões ck cruzeiros, aos preços vigentes no fim de 1962, soma essa correspondente a cêrca de 225 milhões de dólares. Acres-centa-se a isto mais 300 mi-lhões de dólares para o desen-volvimento da capacidade adi-óonal para os anos de 1966-70.
Assim chegou-se ao dIculo as-tronômico de 500 milhões de dólares (aproximadamente 225 hilhões de cruzeiros) para o investimento necess,írio " in-dustria do aço no período de
1%?'-6S.
Pelo quadro descrito. o pa-pel da Companhia Siderúrgica N acionaI era de certa mancá" ,ingular, Ullla vez que se
espe-rava que financias~e o seu pró-prio desennllvimento até 19!i5.
calculado em 20 bilhões de cruzeiros (44 milhües de
dóla-res). O programa, que tinha
recebido aprovac;ão geral. pedia utilização mais intensa das
ins-tala~'ões atuais e o aumento da produtividade. ambas através
dn aperfeiçoamento da técnica c de uma admini,tra~'ão mais
dicaz:
o
programa foi explic:tdo dn ,eg'uinte modo:Produzir mais aço
pa-ra o Bpa-rasil é o dever que se impõe à Companhia Side-rúrgica Nacional, de vez que
a indústria automobilística
já está exigindo. a esta altu-ra, cêrca de 500 mil tonela-das de aço em lingotes; a in-dústria ele construção naval. dentro de um ano irá neces-sitar de outras 100 mil tom:-ladas; a indústria de produ-tos alimentícios, finalmente. requer um suprimento de
m-lha-de-flandres, que corres-ponde ao dôbro daquantida-de que a produção nacional pode oferecer, no momento. E a Companhia Siderúrgica N acionaI, ciente e consciente
de seu papel de produlir
mais aço para o Brasil. não poder;í falhar.
Está em marcha () plano de expans:,,) imediata da prodm;;10 ele Volta
Re-donda, ('om o objetivo de atingir 1.500.000 toneladas por ano em lingotes de aço. f:ste plano, já aprovado pe-lo gon~'rno federal, consiste essencialmente no
incremen-to da produtividade do atual equipamento. eliminando-se
cstrangu-I!) L\IlJ- R!\"OS m: All:\IL\ I~'I R,\(,:ÃO l'(KLlC\
lamentu e introduzindo-se aper-feiçoamentos técnicos que irão permitir melhoria da produ-ção, como seja a utilização de petróleo nos altos-fornos, e de oxigênio nos fornos de aço, bem como o emprêgo de motores de maior potência no trem de car-ga da usina. A regulariza-ção do transporte de maté-rias-primas irá assegurar o su-primento da usina para essa
produção adicional". 7
Caracterizando ainda o pro-grama de desenvoh'imento a
longo prazo da CSN, três item de caráter geral foram mencio-nados: (a) maior índice de na-cionalização; (b) aperfeiçoa-mento sistemático do pessoal;
(c) atualização da administra-ção. O objetivo da maior na-cionalização deveria ser atingi-do por meio da compra de pro-dutos locais em maior escala. Particularmente n(i que se
rc-fere ao uso do can'ão, espera-va-se que se pudesse contar em maior grau com slIprimentm nacionais para a produ<;ão do roque metalúrgico. No campo do aperfeiçoamento de pessoal,
a Companhia Siderúrgica N a-cionaI estava mais interessada em desenvolver a competência dos engenheiros, interêsse de há muito existente. Os seus 200 engenheiros faziam da CSN ;l
possuidora do maior quadro de
engenheiros do Brasil, c !ta\ ia
grande inter(,sse em proporcio-nar assistência técnica a outras emprêsas. No setor da atuali-zação da aclministraç:io, a CS1\:
fixou seu objeti"o em tornar-se, nada mais nada menos, que uma emprêsa estatal modêlo
Além de ,eus planos imedia-tos, a companhia ressaltava que esta"a sendo considerada ;1 maior expansão de Volta Re-donda para 2.500.000 ou ... " 3.000.000 de toneladas anuais. A CSl\ estava também estudan-do a possibilidade de c()n~truir
1ISinas em outras localidade.,.
Desta forma parece claro q lll'
a Companhia Siderúrgica N a-cionaI considera \ a-se em plena expansão, e não esta,"a dispos.
ta a abdicar de suas respon,a· bilidades de "usi na ma ter de>
Brasil"' .
CAPíTULO 111
o
ano de 1962 foi particu-larmente difícil para a econo-mia brasileira. Com sérios pro-blemas de instabilidadepolíti-1:a, o gm'êrno pouco poderia
fazer para conter a situação de hiperinflação. Os índices ofi-ciais do custo de vida mostra-vam um aumento de cêrca de 60);. durante o ano; entretan-to. o impacto da inflação sô-bre alguns setores foi conside-ràvelmente mais elevado. O valor do cruzeiro no mercado
in ternacionaI caiu no decorrer do ano. de Cr$ 350 para
Cr$ 750 por dólar.
A Companhia Siderúrgica N acionaI procurou solucionar tais problemas com uma série de medidas, que fizeram elevar-;,e grandemente o preço do~
seus produtos em um período
de doze meses, tendo a última elevação ocorrido em outubro. Podemos citar como exemplo o caso das fôlhas-de-flandres utilizadas na fabricação de re-cipientes de produtos alimen-tícios. F ôlhas vendidas em abril de 1962 por Cr$ 5.300 a caixa, custavam em junho. .. Cr$ 6.900; em julho Cr$ 7.940 e, em outubro, Cr$ 9.930. 8 O
aumento médio dos preços da CSN em 1962 foi de 56%, en-quanto que em 1961 fôra de ]5% e em 1960 apenas de 8%.9
No dia 6 de janeiro realizou-se um plebiscito nacional a respeito da forma parlamentar de govêrno, adotada no Brasil em agôsto de 1961; com uma vitória esmagadora a favor da volta ao regime presidencialis-ta. Prevendo que tal fato
ocor-8) Correio da Manhã, 22 de fevereiro de 1963
18 CAlJIRNOS DE ADMINISTRAÇÃO PÚBLlC\
reria, O Presidente João Gou-lart havia nomeado o Sr. Cel-so Furtado para Ministro sem pasta, encarregando-o de pre-parar um plano de trt'-s anos para o govêrno, coincidindo
com o tênno do período
presi-dencial em 1965. O PlallU Trienal, .FI citado anterior-mente, foi concluído em três meses e apresentado ao Presi-dente pouco antes do N ai a I
de 1962.
Muito embora o Plano Trie-nal jamais tenha sido aproYa-do em sentiaproYa-do formal pelo Congresso, tornou-se claro que
l' Presidente Goulart, restabe-lecidos seus plenos podêres pe-la volta ao Presidencialismo, seguiria suas diretrizes. Um
nôvo Ministério foi constituí-do em 23 de janeiro, com o Dl'. San Thiago Dantas como 1\Ií-nistro da Fazenda, responsá\d pelo Pbno Trienal e pela COIl-tenc;:ío da inflação. ]mecli;;w· mente após assumir a past.a, (J
Professor San Thiago DantJs começou a aconselhar a popu-lação a restringir suas compra~,
pois os preços iriam baixar. A impres'iJ.o de papel-moeda es-tava virtualmente parada. Ta!-yez a medida
antiin[]acion;í-ria mais significati"a d('SIC
pc:-ríodo tenha sido a retirada d():~subsídios cambiais para a im-prensa, produtos de petróleo (:
~rigo. f:sses produ tos tinham sido favorecidos pelo privi1(:· gio de compra do dólar a
Cr$ 275 até Cr$ 350, enquanto () \"alor oficial era, na época, Cr$ ,160. A conseqüência da re-tirada dêsses subsídios foi uma tremenda subida nos preços dêsses produtos. A gasolina, por exemplo, quase dobrou de preço; e isto com repercussão nos transportes em geral e na navegação. Soube-se que Volta Rec!<jJl c! a, inclusiw, enfrentou um aumento nos seus custos de Cr$ I. 200 . 000 (cêrca de ... 250.0000 dólares), em virtude de alteração nos subsídio~
cambiais.
-\ retirada dos subsídim.
,'11-I' Ctàl1tO, era parte essenCIal da
Folítica de rontel1~'ão da in(Ja· rão. O w)\{~rno sómente pode· ria satisfazer essas P'~s;lt!a'
obriga~:õcs emitindo mais pa-pcl-Illo(?da, o que, por sua \'C./,
o "t 'tE",TO DO PREÇO DO AÇO DA C o S o No
Olltros setores. Os seniJOl'r:s pú blicos, com o seu poder aqu;sitivo grandemente ft~dUli
do, foram informados de que os salários não seriam
aumen-t.ados antes de abril e, i<ssim mesmo, na base de 40%, me-lIOS do que o nível inflacioná-rio de 1962. Houve pressões, com o objetivo de conter o ní-vel dos preços. Antonio Balbi-no, conselheiro íntimo do Pre-sidente Goulart e Ministro da Indústria e Comércio, tomou a liderança de s s a campanha, concentrando-se principalmen-te nas emprêsas automobilísti-cas. Nomeou um grupo de tra-balho para estudar os custos de produção na indústria privada, tendo declarado naquela 0<::1-5ião:
"O govêrno deseja uma anú-lise l'Úpida e objetiva ..1 os ClIstos de produção de cami-nhões, tratores, automóveiS, geladeiras, liquidificador~s,
dtlios, bicicletas e outrm produtos inclustri:tis de con-sumo direto, cujos preços es-tão se afastando do nível de acesso do consumidor nacio-nal. O govêrno nfío perlltiti-rá de forma alguma que as
dificuldades da hora pres(~lI·
te sejam aproveitadas por
uns poucos em detrimento
da coletividade ... " 10
Foi nesta situação que a Companhia Siderúrgica N acio-naI publicou uma circular, da-tada de 14 de fevereiro de 1963, e assinada pelo Diretor de Vendas, Jesus Soares Pereira, aumentando os preços em 20%.
O comunicado que propullha o primeiro aumento desde outubro, colocava em vigor a
nova tabela de preços a partir de 18 de fevereiro. Não homoe reação imediata por parte do govêrno: e os consumidores de aço que fizeram suas compras em 18 de fevereiro, o fizer~lln
pelos novos preços. Entre~an
to, estava claro que as pres5õcs contra o aumento se estava de-senvolvendo. Nessa ocasião, um comitê de "usu<írios Jo~
produtos da Companhia Side-rúrgica Nacional" emitia pcL: imprensa uma nota dc prote~
to contra os aumcntos. Real-çava-se que os proclu tos de :H;') e fôlhas-dc-flandres já haviam sol"rido três aumentos succs-siyos num período relativamen- o te ClIrtO. A nota nào continJu
20 CADERNOS DE AI>l\t1NISTRAÇÃO Pl;BLlCA
os nomes dos usuários, paLl evitar um corte em seus forne--<:imentos por parte da CSN. 11
Assinalava-se que a indústri;l automobilística, quase total-mente localizada em São Pall-lo, consumia 500.000 tonelad<ls de aço por ano.
Enq uanto os industriais lan-çavam o seu protesto, o Presi-dente João Goulart instruia o General Albino Si In para en-trar em contato com a Compa-nhia Siderúrgica Nacional e ordenar a suspensão dos alI-mentos. "No momento em que o govêrno dirige apelos à in-dústria para que os preços não sejam elevddf)~", dizia o Presi-dente Gouh.rt - "não se coG!-preende q uc uma emprêsa do govêrno eleve os preços de s'2u~
produtos, com repercussões ime· di<ltas e prejudiciais sôbre o {'usto de vida". 12
O Ministro Antonio Balhino informou q11e a CSN agira sem consulta prévia. De fato, se-gundo disse o Ministro, êle nem sequer fi;!a inform.HJo.
n
Ministro Balbino declarou que () aumento Vier:, em m(l. hora,
justamente 'i uanclo ê.l: reco· mendava insistentemente às emprêsas privadas que não a+ mentassem ,eus preços,
Não se (o:l1preende muito bem porque l i Presiden[e GOII' lart utilizou (I General Aibillo
Silva, Chefe úo Gat'mete Mili-tar, para o de~empenh,) (!c tal missão. O 'Ministro l~alb.ino,
igualmente ligado ao Presiden-te, parecia uma escolhI. mais lógica. Entretanto, parece que o Ministro participara na to-mada de decisão, enquanto (jue a tarefa do General era apenas transmitir a Olelem au Almi-rante Lucia Meira. Prcs:dente da CSN. O Almirantl~ Meira fôra indicado pelo Presidente da República, e ocupav" o car-go de Presidente da Compa-nhia desde novembro deI glil . A participação elo Gennal Al-bino Silva em assunto~ não mi-litares não era nova~ (~h: tinha ido a Cuba na quaIrdade
(1<:-emissário pessoal do Pre,idcntc-nos tensos dias da crise E.U.A.-Cuba em 1962. Mais tarde fô-ri! designado Chefe do "Grup" Executivo do Arroz",
o AUMENTO DO PREÇO DO AÇO DA C. S . N .
do da ingrata tarefa de reo'ula-. b nzar o abastecimento de um dos alimentos princinais dos brasileiros. Em junho Ide 136:>,
cieix~u êle o Gabinete presi-denCIal para assumir a presi. ciência da PETROBRÁS.
Um outro fator que pude ll:r contribuído para <li escolha do General Albino Silva foi odes-<:ontentamento do Presidclot,_, com a lentidão com que pare-ciam agir muitos dos ministros. Tratando do problema do pr('-t;0 do aço, o jornal última Ho·
m dizia: ... o Presidente tem demonstrado sinais de
impaci-(~ncia, quando os órgãos buro-<ráticos adiam a tomada de de-cisões ou o fornecimento de informações. r.le já advertiu que todos os ministros devem acompanhar o ritmo de traba·
lho do Planalto, porque o país não pode descuidar-se nesse período". 13 A referência a
to-mada de decisões e fornecimen-to de informações parece ron-1 cr uma clara alusão ;1 CSi\',
As palanas do Presidente llansmitidas pelo Gal. Albino
Siln parece terem sido sufi· cientes. Não havia dúvidas quanto ao direito do Presideu-te de ordenar a suspensão do aumentá dos preços, nem quan-to à necessidade de obedecer às suas ordens.
_ Além da ordem para suspen-,;10 do aumento dos preços, (l Presidente tomou duas outra~
medidas, ambas com o objeu,
\'~) de atenuar as
conseqüêp-(ias de um aumento futuro. A
primeira foi a criado de um Comitê no MinistÚio da In-dústria e Comérci'J, com a in-cllmbência de estudar a neces-sidade de alterar os preços da Companhia ~iderúrgica Natio-nal. A se~uuda, talvez if),11S importante. fOI a leCOmen(!J-<;ão para que a CSN vendesse todos os sem produtos direta-mente ao consumidor. O Che-le do Gabiu'.!te Ci\;l da Pre~i
dência, Evandro Lin~. inf0r-mou que alguns distribuidore~
auferiam lucros de 100% nos produtos da Siderúrgica; daí ter o Presidente aceitado a su-gestilo do seu auxiliar f.O
22 C\IlERNOS DE AD;\H:'IiISTRAÇÃO PÚUL!CA
tido das vendas diretas. Foi também aprovada ~t aberturJ. de uma agência da CS l\ em Recife, tendo o Presidente manifestado seu interêsse em que se fizessem estudos para a criação de novas agências, no
mais breve prazo possível.
O re~surgimento da histó· ria dos lucros alcançados pelos distribuidores parecia ser uma boa política. Parecia sugu jr um meio que permitisse à CS~
enfrentar o aumento dos custO'i sem aumentar os pre~'os para () consumidor. Entretanto, out1':l era a realidade,. uma vez que a Companhia já estava vendendo 80% da sua produção direta· mente ao consumidor. 14 Por
outro lado, não era esta a pri. meira vez que as acusações de lucros demasiados da parte dos distribuidores levavam um Pre· sidente a pedir vendas diretas. .Tânio Quadros, no inicio do seu govêrno, em 1961, preten-deu também eliminar os inter-meddri05.
(ou-se que eram mais vendedores.
Entretanto, verifi· os distribuidores financiadores que
l~ I e s forneciam
14) Relatório de 1961.
nédiw a 50.000 pequenos consumidores, possibili tando, assim, à Companhia, operar na base de pagamento à vista. Se a CSN tivesse que assumir mais essa responsabilidade além de todos os CllStOS decorrentes da instalação de uma cadeia (Ie agências de vendas, ver-se-ia frente a um investimento de grandes proporções. Naquela ocasião, o total foi calculado em cinco bilhões de cruzeiros (cêrca de vinte milhões de dó-lares) . 15
J
ânio Quadrosnão-levou o assunto avante.
O público reagiu favoràvel-mente à ordem de "redução". A atitude geral parecia ser a de que o aumento dos preços da CSN estava divorciado dos es-forços do govêrno no sentido de conter a marcha da
infla-~·ão. Enquanto qualquer gran-de emprêsa pogran-deria ser ataca-da de maneira semelhante, a CSN parecia estar em posi-çfío particularmente vulnerá-vel, porque o grande público
já percebera: (1) que a Com-panhia era realmente uma UnI-dade do govêrno; (2) que ~ra,
o AUMENTO DO PREÇO no AÇO DA C. S . N . 23
de fato, o "termômetro" da ati-vidade industrial do país.
t
'preciso não esquecer, aliás, quesomente os preços da CSN fo-ram mantidos nos níveis afltj· gos; as demais companhias. produtoras de mais de 50% dI) áço nacional. receberam apenas apelos para cooperar.
Os uSlt;Íl'ios do aço muito agradeceram ao Presidente. A indústria de construção civil foi tida como havendo exerci· do o papel ati\"o nas pressõc:~
para a redução; e os il1llm-triais de São Paulo enviar:nn imediatamente um telegrama ao Presidente, com cópias para os Ministros da Fazenda e da Indústria e Comércio. Dizia o telegrama:
"Acusamos o recebimento d:l comunicação de que os pre-ços dos produtos de Volta Redonda não serão aumenta-dos, evitando-se assim a re-percussão nos setores da in-dústria metalúrgica e outros ramos da economia nacional. Agradecemos a comunicação e nos congratulamos com
V ossa Excelência por esta me· diua de caráter não inflacio-n:írio, que merece os maiores aplausos da indústria, empe· nhada, como estão os seus ór-gãos representativos, em pre~
lar ao góvêrno federal ~ua
melhor colaboraç:ão". Hi
O jornal última Hora, cuja
linha era de apoio ao govêrno. além de refletir a orientação do Partido Trabalhista, lançou lima nota de aprovação geral. Di/ia o jornal:
.. . .. () Presidente recobrou autoridade para as medidas que vem tomando em defe~a
da economia popular, satis-fazendo. desta maneira, a vi-gorosa mensagem do referen-dum de janeiro, quando a nação confiou à sua lider~\Il
ça a bandeira da reforma e
;10 saneamen to financeiro". ;,
Somente a Tribuna da Im.-prensa pareceu expressar dúvi.
das quanto à ação do Presiden-te. Ela considerava a muda,\ça pOSI uva, mas assinalava que nJo resolvia os problemas dos
21
aumcntos dc custos da CSN. Era necessário, observava o jor-nal, proceder a uma rigoro~a
investigação das operações da Companhia, de modo a escla-recer o problema de uma vez por tôdas. O espectro dos sub-sídios, que já havia atingido proporções astronômicas no se-lor das ferrovias e da navega· ção, voltou à discussão. A Tri-buna as,inalava que não ha"ia nenhuma vantagem se o govêi--no simplesmente suprisse a CSN com os fundos provenicl:-tes da imprensa.
A despeito de~sas observa-ções, o movimento pareceu fa-Hl) ccer a figura do Presidente como lüier positivo. A difmão de t ,11 imagem era importante,
1\ ( período de govêrno
parIa-r,lcntar no Brasil. o própri,) Presidente classificara a situ',-t:;ão de falha em matéria de li-derança. A partir de fi de ja-nellO, as rédeas voltaram :l~
mãos do Presidente Gouhrt, sendo então necessário mostrar realizações. O problema vinha ;; calhar para a intervel1(}:o presdencial. A grande tareia era controlar a inflação; e a deserção de um membro: da
fa-mília presidencial parecia tre-mcndamente onerosa.
Por outro lado, o processo de tomada de decisões em si pró-prio parecia levantar. no míni-mo, ciDra questões. Nada evi-denciava a existência de pc~
quisa c-Il1 que a decisão se hou-vc"se ba~eadd. Parecia que o govêrno tinha tomado conheci-mento do auconheci-mento dos prl:!ços atfavt:s das queixas dos conSll-1.11idorcs l' tomara a decisão ba-seada naquele fato de acôrdo com o Ministro Balbino; COlll-petia à CSN pronr a neces-sidade dos aumentos. Em ~e·
gundo lugar, é interessante no-tar que o Presidente se viu compelido a expedir instruções sôbre o sistema da distribuição da CSN, chegando até a
o AI' \lE:\TO DO PRF(}() IJO AÇO !lA C. S." .
apesar de haver a Companhi,\ elevado seus preços três vêzcs, no ano anterior.
O Ministro Balbino conti. nuava a demonstrar seu des'l-grado pela falta de consult;'3 (' informes por parte da CSN. Em quarto lugar, cumpre lembrar que a ação era dirigi-da somente à CSN. Não era parte de uma política geral UC' contrôle de preços, nem mesmo dos preços da indústria sidc· nírgica. Isto, evidentemem'.? muito nos esclarece a respeito da verdadeira posição das
em-prêsas de economia mista no
~istema político do Brasil. Es-tava claro que o povo em ge-ral via a CSN como uma enti-dade governamental, com a prerrogativa presidencial de in-tnvir claramente estabelecida. É óbvio também que o poder
~c encontrava nas mãos do Pre-sidente Goulart. A rápida aceitação de sua ordem indic,l-va que a CSN estaindic,l-va direta-mente suhordinaua à Presidên-cia da Repú blica .
Finalmente, seria interes-sante observar os personagens dessa decisão. Foi o Mimstro tIa Indú~t!ia e Comércio quem primeiro pediu que a indús-tria mantivesse os seus preços. Entretanto, quando o Presidpn-te anunciou a decisão de rerIu-ção dos preços da CSN, Balbi-no não era figura central. (I
General Albino Silva, Chefe do Gabinete Militar, foi esco· lhido para levar a notícia ao Presidente da CSN. Evandro Lins, Chefe do Gabinete Civil, foi o responsável pela introdu-ção da velha idéia da venda di-reta por parte da CSN. N atu-ralmente, há várias razões para que essas pessoas estivessem envolvid,ls no caso. Não tlhs·· tante permanece a indagaçãu sôbre se, nos movimentados dias da administração do Pre-sidente Goulart, os seus auxi· liares diretos c os seus Minis-tros estavam suficientemente articulados para dar·lhl~ um máximo de apoio nas suas
CAPíTULO IV
Um dia após a ordem presi dencial, a 20 de feyerciro, cu-meçou a batalha da propa-g-anda.
o
Ministro da Indústria eComércio tomou duas decisõe~:
A primeira foi diri~ir um:l
comunicação aos dirigcnt':'s dl' v:írias emprêsas estatais, inclu-~ive a CSN, no sentido (lp n:'íll serem alterados os preço', an tes
que fôssem plenamente
juslifí-c:adas as Illudanças, perant(' o l\fmistl'O, O despacho r~alça va, mais uma vez. que o <jo,êr-no considerava a Compaulu<t com uma das suas Ilnidad(~s, /\ instrução dizia, em parte:
.. . .. Tôdas as altera(;ões do., preços dos produtos indw;-(riais dessa entidade de,"em
ser, a partir de hoje. prcvía mente submetidos ao exame
do Ministro do Estado. SÓ-mente depois de ter analis:l-do as razões que forçam a~ a!tera(,:ões nos preços. é que o r,finistro poderá aprm;!l' ou desaprovar sugestões que lhe tenham sido dirigida~. () i\linistro determina i~u;tl mente que a direção de cada entidade prepare uma ampla explicação ao público, tôda~ as vl:l.es que se fizerem
neces-sárias alterações nos prc
Ç05." 1&
A utilização da palavra
"su-gestões" parecia realçar, parti-culanllente, a subordinação da CSN ao 'Ministério da Indústria (' Comt:rcio.
o AUMENTO DO PREÇO DO AÇO DA C. S. N .
27
A segunda decisão do Minis-tro, foi constituir a comissão en-<.:arregada de examinar os mo-t i VOs da s alterações dos preços na CSN e de apresentar reco-mendações sôbre as necessida-des do aumento. Sidnei Lati-ni, Secretário de Indústria, foi nomeado Presidente da Comis· são de três membros. Os ou-tros dois eram representantes da CSN e da indústria
automo-bilística. Com a notícia da (fiação da comissão, um nôvo aspecto da decisão presidencial parecia ter sido introduzido. O aumento dos preços foi sim-plesmente adiado por 15 dia~,
aguardando a deliberação da Comissão, conforme noticiou :1
última Hora. 19 Além do
pro-blema dos preços da CSN, a Comissão estava também encar-regada de estudar os proble-mas de distribuição. O relató-rio da Comissão deveria ser eu-(aminhado ao Ministro BalO[-no, a quem caberia decidir sô-bre (j assunto.
Seg"undo a imprensa, o Sr. Latini estava satisfeito com o apoio dado pelo Almirante
Lu-cio Meira, Presidente da CSN, que apresenta "sugestões espe-cíficas para a solução do pro-blema" .
Entretanto, o ambiente d(~
cordialidade que o Sr. Latini descrevera, teria, cedo, que en-frentar dificullbdes; apesar da "estreita" colaboração, a CSN só teve conhecimento da nov;-; Instrução ministerial pelos jor-nais. Confor1"t logo se evi-denciou, tal violação da cor-tesia burocrácca causou gran-de consternaçac na CSN. A
reação mais Yiülenta veio em uma carta, escnta reI-:> Diretor de Vendas,
J
.:sus Soafes PereI-ra, ao PresidtIlte da Compa-nhia, Almirante Mein e enca-minhado à Imprens<J. Nessa carta, além de expressar sua irritação pela maneira como a Instrução fôra comunicada, o~r. I">ereira apontava ~.erias de-r;uénuas na organização e n.l administração da emprêsa.
Na carta, o Sr. Pereira in-sava. 19ualmePle, seu patriotis-mo e sua consciência dá neces-sidade de tornar públicos (:sses
CAIWR:\O, DF \n"I:'I:ISTRAc,:ÃO PílIlLICA
plObkma,. Lida corri <' tenção a carta é em si própria uma acusação bastante grave ao fun· óonamento da CSN. Parti· cularmente importantes foram as afirmações de que havia constante política de
subven-~ão ao mercado de consumo;
de que por anos a fio se verifi-cou um sistema de preços de favor; de que ainda estavam
"Senhor Presidente,
por resolver deficiências admi-nistrativas; de que seus prede-cessores tinham assumid:l
rom-promissos de venda superiore~
ao volume do aço produZId\', e que o Sr. Pereira, em quase um ano de gestão, não inha
conseguido encontrar uma
so-lução "racional" para m'liros dêsses problemas.
Segue-se um trecho da carta:
21 de fc"erei ro de 1963
Acabo de tomar ciência, pela publicação feita no Corrl'ÍlJ
da Manhã, das determinações baixadas pelo Exmo. Sr.
Mi-nistro da Indústria e Comércio, relacionadas com ~i venda de
produtos desta companhia e a observânc;a, pelos distribuido-res, dos preços tabelados.
2. Após certificar-me de que o texto divulgado (; autêntico e conquantO essa Presidência ainda não tenha recebido qual-quer solicitação pertinente ao assunto nêle tratado, julguei conveniente adotar desde logo as seguintes medidas, para aten-dimento das recomenclaçôcs ministeriais no menor prazo po~
sivel:
,'. elaboração de um quadro das distribuições da CSN. com as especificações disponíveis. Como é de conhecimentn de V. Sa., êsse quadro permanente pràticamente inalterado des-de que assumi a Diretoria des-de Vendas da CSN, em 16 des-de maio do ano findo;
pro-o AUMENTO DO PREÇO \)0 AÇO DA C. S. N . 29'
dução da CSN pelo mercado consumidor de aço (grande e pequena indústria privada, entidades públicas ou paraesta-tais e distribuidores comerciais a pequenas emprêsas), tendo, em vista a alta demanda interna ainda não satisfeita e a per-sistência da política de favores, em vigor há vários anos.
:~. Considerando os assuntos da competência desta Diretoria, em tênnos dos Estatutos da CSN, foram êles objeto de minha maior atenção, durante meses. O fato de meus Fredece~sores
terem atribuído à indústria e ao comércio cotas trimestrais cujo montante ultrapassava a produção efetiva da Usina Pre-sidente Vargas, ao lado da persistência da política de subsÍ-dios ao mercado consumidor de aço, por parte da CSN, além das até agora insuperadas deficiências administrativas, impos-sibilitarem-me de encontrar, em dez meses de esforços, a so-lução racional ...
. . .. Por isso, tomei a iniciativa de enviar uma cópia desta carta à imprensa, que tem procurado, insistentemente, a obten-ção de informes sôbre a posiçã(j da CSN ante as medidas go-wrnamentais em andamento no campo da comercialização, no Brasil". 20
Por que terá o Sr. Pereira escrito a carta? E por que terá permitido a sua publicação? Estas perguntas permanecem sem resposta. Evidentemente a imagem da CSN como uma em-prêsa administrativa de manei-ra eficiente, não estava en-grandecida; nem podia o Mi-nistro da Indústria e Comércio olhar com simpatia as
alega-çôes do Sr. Pereira. A única pessoa que parece ter-se bene-ficiado com a carta foi o Pre-sidente da República. Dificil-mente poderia êle ser respon-sabilizado pela embaraçosa co-municação ministerial; e os ataques à ineficiência da CSN fizeram, na realidade, que sua intervenção parecesse
30 CAIH:R:,OS DE ADl\II:"IIS1RAÇÃO PÚBLICA
na. A carta do Sr. Pereira po-deria dar a impressão de nfLO
ser espontânea, pois rêle não era um simples administrador
1963, de que resultou o afasta-mento dos ministros, o Sr. Pe-reira, segundo constava, fôra insistentemente indicado não só para o Ministério da Viação, de grande importância polít i-ra, mas também Ministro Sem Pasta para o Planejamento Econômico. 21
de vendas. Considerado como "um dos criadores da PETRO-BRÁS", emprestavam-lhe cre-denciais políticas. Na queda do Gabinete em junho de
'21, Além de exercer cargo de confiança do govêrno, era o Sr. Pe-reira também considerado um economista de alto gabarito. Ante-riormente, durante o período parlamentarista, o Presidente Gou-lart tinha proposto o Sr. Pereira, classificado pelo Jornal do Bra-sil como "socialista declarado", para o cargo de Presidente do Ins-tituto Brasileiro de Geografia e Estatística. Entretanto, o General
Amaury Kruel, Chefe do Gabinete Militar do Presidente, opôs-se à
nomeação em nome das Fôrças Armadas, tendo o Presidente reti-rado a indicação. Durante o mês de junho de 1963, quando da composição do Gabinete, o nome do Sr. Pereira surgiu muito tarde para o Ministério da Viação, como concessão aos "nacionalistas radicais", como a Tribuna da Imprensa os identificava. Ainda mais, a Tribuna relatava que os militares tinham vetado o Sr. Pere:ra, sob a alegação de que êle era comunista. O mesmo jornal, entretanto, dizia ser o Sr. Pereira "um técnico de excelente repu-tação"; e a última Hora, de orientação nacionalista, dizia que a indicação do Sr. Pereira para Ministro do Planejamento era uma tentativa de manter a or:entação não partidária daquele cargo.
o .\t:ME)iTO DO PREÇO DO AÇO DA C. S . N . 31
De qualquer modo a carta de 21 de fevereiro pareceu sig-nificar o fim do interêsse pú-blico pelo assunto. O Sr. Pe-rt:ira não obteve resposta do Ministro e o Presidente da CSN, Almirante Lúcio Meira, nada teve para dizer. Os jor-nais trataram de dois assuntos básicos: a) a nação precis:n:a de maior quantidade de aço r nada deveria ser permitido que dificultasse o desenvolvimento da produção necessária; b) ha-via algo de errado com o sis-tema administrativo que u~I!j
zava a imprensa como veiculo de comunicação.
Nos cinco dias de contenda, J CSN tinha sofrido prejuízos consideráveis. Em primeü'o lugar, houve fortes pressões no sentido da redução dos preço:., particulanncnte por parte do govêrno e dos consumidores paulistas de aço. Além disto. o público em geral aprovava qualquer tentativa de reduzir os preços. Não obstante, foi nos temas que yieram a
públi-m na companhia que a CSN encontrou seus maiores prohle-n\as. Um foi a acusação de
incficil-lIcia da Companhia; o segundo foi a imposição de preços pelos distribuidores. Dos dois. o primeiro foi evi-dentemente o de maior impor-tfmcia. Embora os brasileiros de modo geral se mostrem or-gulhosos das contribuições da CSN para o desenvolvimento nacional, o Sr. Pereira não foi o primeiro a cri ticar o seu fun-donamento.
Houve críticas quanto à qua-lidade de aço produzido, bem como reclamações quanto ao uso ineficaz dos recursos. Como {oi salientado anterior-mente, o grupo de São Paulo denunciava (j aumento do nú-1I1ero de empregados de 15.000
para 18.000 em dois anos. As cifras publicadas mostravam que as faturas da Companhia orçavam em cêrca de 6 bilhões de cruzcÍros mensais, enquanto os custos eram de 3 bilhões. Assim, diziam os industnúi, havia recursos disponíveis pa-ra que a CSN pudesse dimi-nuir seus preços, contintnndo em condições de promoH'r sua própria expansão. 22
Havia, entrctanLO, um outro aspecto do problema "eficiên-cia" que parecia tcr particular
a tração. A CSN orgulhava-se de suas avançadas práticas Ül-dustriais, especialmente com relação aos benefícios a 3l:'rvi-dore3. O grupo de São Paulo calculava a média salarial em Volt" Redonda, incluinco to-dos ')5 benefícios, em 65 mil cruzeiros por mês, ou seja, cêr-ca de três vêzes o salári,) mí-nimo. Comentava-se que a TJ~i
na Presidente Vargas de Volta Redonda pagava os :nai5 ele-vados ~alários da indústria em todo o Brasil. Muitos dos bra-sileiros invejavam o ajustamen-to do cusajustamen-to de vida de cada três meses e a moradia. cujo aluguel chegava, às vêzes, a Cr5 200 por mês. Assim, para o brasileiro médio, lutando para que a despesa não ul-trapasse a receita, a vida em Volta Redonda mrgia COmo extremamente agradável. Os empregados de Volta Redonda. afinal, poderiam também, fa-zer alguns sacrifícios pelo bem-estar geral.
l'inalmente, havia o proble-ma dos distribuidores. lndubi-tàvelmente havia alguns <]ue,
com a perene escassez de açtl do Brasil, tinham auferido lu-cros excessivos. Com a exigêll-cia dos jornais por uma mora-lização da distribuição, apre-sentava-se um forte argumento a favor de fazer com que tais csfoços antecedessem a c~t\'a dio dos preçm.
Defendendo-se de tais
ata-que~, a Com{YtI'hia poJerLl Ler apresentado fortes argu-l:1('ntos, como: a) sua !eng'! política de auxílio ao desen-volvimento social e educacio-nal dos empregados; b) cresci mento de sua produção em cêr-ca de 15~ entre 1960 e 1962:
c) cêrca de 20% dos empre-gados da CSN não eram lota-dos na produção de aço, em Volta Redonda; d) somenlí: cêrca de 20% da produção (k Volta Redonda era vendidl através de distrihuidores _ En· tretanto, nada foi dito. th preços reduzidos permanece-ram em vigor. O Preside;1; U:: Goulart e seus assessôres pa n~
cíam ser os vitoriosos.
o AU:\IE:'\"JO DO PREÇO DO AÇO nA C:.s.:'\. 33 dade significava; e aqUl &ão
necessárias algumas comi dera-ções sôbre o esquema teórico dentro do qual a CSN opera.
Trata-se de uma emprêsa de economia mista, regida pelo Direito Privado, que espera obter lucros. N a verdade, a Companhia se orgulha de te· rem sido pagos anualmellte, desde 1948, os seus dividendos. Mas, não apenas os dividendos deveriam ser pagos; o Plano Trienal mandava também que a CSN financiasse cêrc.l de 30% da expansão no período
1963/65, Para atender a êste fim, 'um investimento de 20 hi-Ihões de cruzeiros foi antecipa-do. Assim, sem considerar os problemas de ineficiência na emprêsa, muitas coisas depen-diam do estabelecimento clt· preços suficientemente
elev3-dos para saldar essas obriga-ções. Teoricamente, também. a idéia das sociedades de eco-nomia mista era desconcenuar as dt"'\iidade~
uo
govêrno e de!· xar tais ent~d'~des lines p;i!'a alcançar seus objetivos sem In-terferência política, Entret:lI1-to, os cinco dias de luta n10 rewlaram qualquer preocupa-ção com êsses problemas, A CSN foi olhada como uma par-cela pouco importante do f~ovêrno, Suas necessidades fica-ram subordinadas à orientação geral do go\'êrno, de~crminada
diretamente pelo Presidente; aSSIm, a política de prCç;)5 101-l)Ou-se objeto de decisõ:", Jlolí-tiras, N,: opinião púb:tca, ()S
argumentos em favor da inde-pendência da CSN pareciam
CAPITULO V
Como conseq üência da re-dução de preços de Volta Re-donda, o Ministro da Indústri:l e Comércio, Antonio Balbino, viu aumentada a sua fôrça para manter esta linha de con-duta na indústria automobilí~
tica e de autopeças. No dia 3 de março, enviou êle uma car-ta à companhia Volkswagen solicitando, "por ordem do Presidente", que fôssem apre-sentadas, em cinco dias, expli-cações sôbre os aumentos pro-cedidos pela emprêsa. Dois dias depois, foi feita idêntica solicitac;ão à Companhia Ford. a respeito do aumento dos pre-ços dos caminhões. F oi notada a correlação com o acontecido na CSN. A Tribuna da Im-prensa dizia:
"De acôrdo com informação obtida no Gabinete do Mi-nistro da Fazenda, o govêrno federal está disposto a fazer frente ao aumento de preçns da indústria automobilística e, por êste motivo, sust;!(l () aumento dos preços dI, a(:o
de Volta Redonda, mesmo reconhecendo que a Compa-nhia Siderúrgica N aciona I precisa equiparar seus
ple-~'os aos do mercado." 28
Depois de vários dias de dis-cussão, em março, o govêrno conseguiu obter uma promessa, por parte da indústria automo-bilística, de manter os preços inalterados por um período de 90 dias, de 1.0 de março a l." de junho. As duas
o A lJMENTO DO PREÇO DO AÇO DA C. S . N . 35.·
nhias, que não haviam aumen-tddo seus preços durante o m(~s
de fevereiro, Vemag e Fábrica N acionaI de Motores, também concordaram em mantê-los fi-xos até 1.0 de junho. Assim, a estratégia geral do govêrno t5-tava funcionando. Tendo man-tido o preço em sua emprêsa, podiam as autoridades gover-namentais impor contrôle no setor industrial mais estratégi-co da nação.
Ne&~e ínterim, entretaI!~O, m prob1em,1s da companhia
fu-ram-se tc.rnando mais I~viden
tes. No dia 5 de março come-çava-se a noticiar que o Gru-po de 'l'lai'Alho designado pe-lo Mmistru Antonio Balbino para estudar o problema, da-ria parecer favorável ao mento de preços da CSN, au-mento êsse que deveria ser imediato. Então, a 7 de março, dia em que a informação foi divulgada, a Tribuna da Im-prensa dedicou tôda uma
pá-gina ao problema. As manche-tes diziam que "a política do aço nega o desenvolvimento" e "Volta Redonda está amea-çada de colapso". O govérno foi acusado de demagogia, en-quanto o jornal passava cm
rc-vista a política da produção, de aço no Brasil. Além disso" fazia-se uma vigorosa afirrna,,:ão em apoio à necessidade de au-mento dos preços.
Alguns trechos mostram a posição lo jornal:
do artigo adotada
pe-" ... E, dentro de tôda a se-riedade demagógica com que vem tratando o problema lh inflação - seriedade e espí-rito cristão, porque na base de apelos contra a ganância
desenfreada o govêrno
achou que a justiça devia co-meçar em casa; sustou o au-mento dos preços do aço de Volta Redonda. Imediata-mente foi aplaudido por aquêles que enriquecem à custa do contribuinte. pelos que têm aço fornecido por Volta Redonda a preço infe, rior ao do mercado, à custa de ';u'lsí,llOS. E como Vnila Redonda não abastece todo o mercado naciemal, conclui-se fàcilmente, que o govêrno est{t ajudando certos grupos, industriais à custa do povo, numa injustiça flagrante a outros grupos que são obri-gados a importar aço 50(í~
.36 CAllU{NOS I>E ADl\llNISTRAÇ.:\O PÚRI.ICA
A sustação dos novos preç()~
de Volta Redonda é uma
de-ma~ogia que pode resultar muito cara para a poupança de divisas.
F expansão de Volta
Redon-,da não tem acompanhado as necessidades do mercado bra-sileiro do aço. ~lesmo na produção nacional sua parti-,(ipação tende a decrescer.
A propalada prosperidade de Volta Redonda é falsa. É estimulada pelos consumido-res de seus produtos, benefi-ciários dos preços de favor,
is-1.0 é. l)reçoS em nível mu;to inferior
;im
de importaçàp. Enquanto o mercado se ex-pande, Volta Redonda che-gou a um ponto em que nãotem capacidade para enfren-tar o aumento dt' consum", A demagogia do govêrno em
~ustar-Ihe o aumento de pre-<,:os. resultará na perda de seu
equilíbrio financeiro ... ", 24
A H de março o relatório do 'Crupo de Trabalho foi apre-sentado ao Ministro Balbino, 'Confirmava a necessidade de a
Companhia Siderúrgica ~a(io
nal aumentar os seus preço~,
indo mesmo além. Expressava dt'lVidas sôbre se o aumento de 20% seria suficiente para satis-fazer a expansão pedida no Plano Trienal. Ficou também claro que aquêles que compra· vam aço de Volta Redondà constituíam um grupo privile-giado na sociedade, uma vez que gozavam de preços cêrca de 50% inferiores aos do mer-cado,
Reconhecendo esta dura rea-lidade. o Grupo de Trabalhr) não estava servindo aps inte rêsse;; políticos imediatos no govêrno. Não é de adminr. portanto, que o rela~ório não tenha sido distribuído à im-prensa. Sómcnte um mês mais tarde seus têrmos vieram a pú-hlico.
Dêste modo surgiram os C01l· tornos de um nôvo dih ma pre-sidencial. Estavam sendo eml-cluídas com sucesso as negocia-ções para congelamento dm preços na indústria :mtomobi-lística, A indústria têxtil ck-monstrara real espírito de