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Escândalos políticos e o clima econômico dos países sul-americanos: evidências baseadas na confiança de especialistas

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Academic year: 2017

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FUNDAÇÃO GETULIO VARGAS

ESCOLA BRASILEIRA DE ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA E DE EMPRESAS MESTRADO PROFISSIONAL EM ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA

ESCÂNDALOS POLÍTICOS E O CLIMA ECONÔMICO DOS PAÍSES SUL-AMERICANOS:

EVIDÊNCIAS BASEADAS NA CONFIANÇA DE ESPECIALISTAS

KLAUS ALEXANDER DE FREITAS STIER

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KLAUS ALEXANDER DE FREITAS STIER

ESCÂNDALOS POLÍTICOS E O CLIMA ECONÔMICO DOS PAÍSES SUL-AMERICANOS:

EVIDÊNCIAS BASEADAS NA CONFIANÇA DE ESPECIALISTAS

TRABALHO DE FINAL DE CURSO APRESENTADO À ESCOLA BRASILEIRA DE ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA E DE EMPRESAS PARA OBTENÇÃO DE GRAU DE MESTRE EM ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA

ORIENTADORA: PROF. DANIELA CAMPELLO

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Ficha catalográfica elaborada pela Biblioteca Mario Henrique Simonsen/FGV

Stier, Klaus Alexander de Freitas

Escândalos políticos e o clima econômico dos países sul-americanos: evidências baseadas na confiança de especialistas / Klaus Alexander de Freitas Stier. – 2016.

56 f.

Dissertação (mestrado) - Escola Brasileira de Administração Pública e de Empresas, Centro de Formação Acadêmica e Pesquisa.

Orientadora: Daniela Campello. Inclui bibliografia.

1. Políticas públicas. 2. Indicadores econômicos. 3. Corrupção na política. 4. Confiança. I. Ribeiro, Daniela Campello da Costa. II. Escola Brasileira de

Administração Pública e de Empresas. Centro de Formação Acadêmica e Pesquisa. III. Título.

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Resumo

Qual o impacto dos escândalos políticos sobre o clima econômico dos países sul-americanos? O presente trabalho busca responder essa pergunta ao avaliar a confiança de especialistas na economia de sete países sul-americanos durante a ocorrência de escândalos políticos em um recorte temporal de 10 anos (de 2005 até 2014). Entendemos os escândalos políticos como sendo eventos noticiados pela mídia envolvendo os presidentes das repúblicas sul-americanas em episódios de corrupção ou abuso de poder. Já o clima econômico é medido a partir da avaliação da economia por especialistas regularmente consultados pela Sondagem Econômica da América Latina, uma pesquisa que gera a construção do Índice de Clima Econômico da América Latina. Evidências apontam a influência de determinantes políticos sobre a avaliação econômica realizada pelo público geral. Poucos estudos exploram o processo de formação da confiança econômica de especialistas. Utilizamos o modelo de regressão em painel para verificar a correlação entre escândalos políticos e o Índice de Clima Econômico. Nenhuma correlação pôde ser verificada quando adotamos um modelo relacionado à economia internacional. Surpreendentemente, encontramos uma correlação significante e positiva quando adicionamos variáveis econômicas domésticas à análise. Acreditamos que futuras contribuições para o tema devam levar em conta a importância do papel das instituições como elemento fundamental na confiança de especialistas.

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Abstract

What is the impact of political scandals on the economic climate of South American countries? The present work tries to answer this question through the evaluation of expert confidence in the economy of seven South American countries during the occurrence of political scandals in a period of ten years (from 2005 to 2014). We understand political scandals as news events disclosing episodes of corruption or abuse of power involving South American presidents. The economic climate is measured by the opinion of experts regularly consulted by the Latin American Economic Survey, a research that generates the Latin American Economic Climate Index. Evidences point out the influence of political determinants on the economic confidence of the general public. Few studies are focused on understanding the process through which experts derive their economic confidence. We use the panel regression model to verify correlations between political scandals and the Economic Climate Index. No significant correlations could be found assuming a model related to the international economy. Surprisingly, we find a significant and positive correlation when we add domestic economic variables into the analysis. We believe that future contributions for the theme should take into consideration the important role played by institutions as a fundamental element of the expert confidence.

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Agradecimentos

À minha mãe, Silvia, e ao meu pai, Hans, por todo apoio, sempre.

Ao meu irmão Ralph, pela amizade e importantes considerações apresentadas.

À professora e orientadora Daniela Campello, pelas estimulantes aulas e por fazer a diferença.

À Diretoria Internacional e ao Centro Latino-Americano de Políticas Públicas da FGV, em nome do prof. Bianor Cavalcanti e do prof. Marlos Lima, por todo apoio e consideração prestados ao longo do mestrado.

À professora Lia Valls e ao professor Paulo Afonso, pelo tempo disponível e pelas competentes e construtivas ideias que contribuirão para o meu desenvolvimento acadêmico.

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Índice

Introdução...10

1. Determinantes Políticos da Confiança do Público na Economia...12

1.1 A Confiança de Especialistas na Economia de seus Países...20

2. Desenho da Pesquisa...26

2.1 Dados e Métodos...26

2.1.1 Variável Dependente: O Índice de Clima Econômico...26

2.1.2 Variável Explicativa: Escândalos Políticos...28

2.2 Metodologia de Análise...30

2.2.1 Modelo de Dados em Painel...32

3. Resultados...34

3.1 Discussão dos Resultados...40

4. Conclusão...45

Referências...46

APÊNDICE A – Compilação de Escândalos Políticos Noticiados...50

APÊNDICE B – Codificação de Eleições Presidenciais e Ideologia do Presidente no Poder...54

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Lista de Tabelas

1 Quantidade de Escândalos Políticos por País e Ano...29

2 Modelo incluindo Índice GET e Variáveis Políticas (VP)...38

3 Modelo incluindo variáveis econômicas (VE) e variáveis políticas (VP)...39

Lista de Gráficos

1 Índice de Clima Econômico da Argentina, Eleições e Escândalos Políticos...34

2 Índice de Clima Econômico do Brasil, Eleições e Escândalos Políticos...35

3 Índice de Clima Econômico da Colômbia, Eleições e Escândalos Políticos...35

4 Índice de Clima Econômico do Equador, Eleições e Escândalos Políticos...36

5 Índice de Clima Econômico do Paraguai, Eleições e Escândalos Políticos...36

6 Índice de Clima Econômico do Peru, Eleições e Escândalos Políticos...37

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Introdução

Existe um consenso entre acadêmicos de que a opinião pública afeta em maior ou menor grau as políticas públicas. Ninguém acredita que a opinião pública sempre determine as políticas públicas. Poucos acreditam que a opinião pública nunca influencie as políticas públicas. Em geral, defensores de teorias democráticas reconhecem que governos às vezes ignoram o público. Da mesma forma, autores céticos com relação à influência popular sobre governos reconhecem que, ocasionalmente, governos seguem a opinião pública (BURSTEIN, 2003).

Teorias recentes atribuem importante papel da mídia na formação da opinião pública, afetando, inclusive, a forma como o público avalia a economia de seu país (ALSEM et al., 2008; SHILLER, 2002). A mídia, por sua vez, veicula informações econômicas fundamentadas pela opinião de especialistas (CARROLL, 2003; SHILLER, 2002). A forma como especialistas elaboram suas opiniões subjetivas a respeito da economia de um país é um tema pouco explorado e que gera opiniões divergentes na literatura. Aprofundar esse tema é importante, pois medir o sentimento econômico subjetivo de especialistas traz uma contribuição crítica para a compreensão de como esses sujeitos – formadores de opinião – avaliam o desempenho econômico de seu país.

Como forma de contribuir para os estudos envolvendo a economia política e as políticas públicas, o presente trabalho estuda o impacto de escândalos políticos sobre o clima econômico de sete países sul-americanos (Argentina, Brasil, Colômbia, Equador, Paraguai, Peru e Venezuela) em um recorte temporal de 10 anos (de 2005 a 2014). A ideia central é verificar se os escândalos políticos – eventos que afetam negativamente a imagem pessoal dos envolvidos – são eventos capazes de alterar a percepção subjetiva de um especialista a respeito da economia de seu país ou se esses especialistas elaboram suas avaliações econômicas com base exclusiva nos dados sobre o desempenho da economia real.

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situação geral, como, também, as expectativas futuras para a economia de cada país consultado.

A literatura recente enxerga no fenômeno da corrupção uma prática que vai de encontro ao desenvolvimento socioeconômico, gerando efeitos negativos sobre a eficiências de mercados, investimentos e crescimentos econômico (AIDT, 2009; GETZ; VOLKEMA, 2001; MAURO, 1995; SHLEIFER; VISHNY, 1993; TANZI, 1995). De fato, a partir da década de 90, há maior mobilização e compromisso da comunidade internacional e organismos multilaterais para a diminuição das práticas de corrupção, compreendidas e mesmo aceitas até então como uma forma de facilitar negócios em determinados contextos culturais (U.S. DEPARTMENT OF STATE, 2006). Como veremos, escândalos políticos afetam negativamente a imagem dos envolvidos e, em geral, são objeto de extensa cobertura midiática, tornando-se o centro das atenções do público e de especialistas em determinado momentos, o que justifica a escolha deste tema como evento-marco a ser correlacionado com a avaliação do clima econômico por especialistas.

Países sul-americanos são particularmente adequados para a realização do estudo, uma vez que se encontram em estágios semelhantes de consolidação democrática, apresentam sistemas presidencialistas de governo – com forte influência do executivo sobre a condução da economia – e possuem, de maneira geral, uma imprensa livre para divulgar escândalos políticos. Além disso, apresentam também características econômicas semelhantes, em especial, quando analisado à luz da correlação de suas economias domésticas com a economia internacional, destacando-se sua dependência face aos preços de commodities e à taxa de juros norte-americana (CAMPELLO;ZUCCO, 2016).

O presente estudo foi divido em quatro capítulos. O primeiro capítulo revisa a literatura sobre os determinantes políticos da confiança do público na economia de seu país, identificando os sujeitos responsáveis pela realização das avaliações econômicas

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1.

Determinantes Políticos da Confiança do Público na Economia

A avaliação que um indivíduo faz sobre a economia de seu país não resulta apenas da interpretação dos dados reais de desempenho econômico fornecidos regularmente por agências especializadas (CURTIN, 2007). Um fator determinante no processo de avaliação econômica é a confiança depositada pelo indivíduo na economia de seu país. A relevância do fator confiança na avaliação econômica revela um complexo processo pelo qual um indivíduo transforma a economia real em economia subjetiva. Para o presente estudo, definiremos a confiança na economia como sendo um amplo conjunto de avaliações subjetivas feitas pelo público a respeito do estado da economia (DUCH; KELLSTEDT, 2011).

Foi no final da Segunda Guerra Mundial que os economistas – em meio a fracassadas tentativas de prever as tendências da economia norte-americana no pós-guerra – atentaram para a importância da confiança como um termômetro para a avaliação do futuro da economia (KATONA, 1974). Desde então, acadêmicos passaram a estudar com mais profundidade a relação entre psicologia e macroeconomia como base para a compreensão do comportamento dos agentes econômicos. O estudo da relação entre a confiança dos agentes econômicos e o seu comportamento busca discutir o potencial preditivo que os índices de confiança podem ou não apresentar em termos de varáveis econômicas como o consumo, a poupança e o crédito (HOFMANN, 2012). A ideia por trás dos índices de confiança é aparentemente simples. O nível da confiança dos agentes econômicos revela a predisposição das pessoas ou empresas em gastar e investir, afetando a trajetória futura da economia.

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de Clima Econômico da América Latina, sondagem utilizada como referência no presente estudo.

Sabemos que a economia real, ou seja, as atividades relacionadas aos bens e serviços transacionados e ao mercado financeiro, é observada pelos agentes

econômicos (ÇELİK; ASLANOĞLU; UZUN, 2010). A literatura, em geral, afirma que

a realidade econômica estrutura a economia subjetiva, afetando a expectativa das pessoas. É natural, por exemplo, que as pessoas se sintam mais otimistas com o futuro quando o presente parece bom (DE BOEF; KELLSTEDT, 2004). Porém, existe no debate acadêmico uma lacuna em aberto entre a economia real e a formação da avaliação das pessoas sobre a situação econômica em que vivem. Alguns autores afirmam que apenas as condições econômicas são capazes de formar a opiniões subjetivas sobre sua economia (ERIKSON; MACKUEN; STIMSON, 2000), enquanto outros, apontam que a avaliação econômica pode ser influenciada também por eventos políticos e sociais como, por exemplo, eleições e a guerra (DE BOEF; KELLSTEDT, 2004; NORPOTH, 1996; VUCHELEN, 1995).

Parte do debate acerca dos determinantes da confiança das pessoas na economia passa pela compreensão da forma como as pessoas buscam e utilizam informações sobre condições econômicas para auxiliar o seu processo de tomada de decisão. Veremos, a seguir, algumas visões teóricas que nos ajudarão a compreender um pouco mais sobre a formação da economia subjetiva dos agentes econômicos.

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A denominada teoria econômica convencional (“standard economic model”) presume que as pessoas utilizam as fontes oficiais para buscar informações econômicas que as auxiliem no processo de tomada de decisão financeira. Segundo essa visão, os indivíduos possuem informações perfeitas e completas sobre os mais relevantes dados econômicos, sendo essas informações constantemente atualizadas de acordo com as novas publicações dos dados oficiais por agências governamentais. Essa teoria assume que os agentes não são apenas racionais, mas também compartilham crenças idênticas e corretas a respeito da estrutura da economia (CARROLL, 2001). Segundo Curtin (2007), porém, trata-se de uma formulação simplificada, pois essa visão ignora os custos relativos à aquisição, processamento, interpretação e relevância das informações contidas nos dados oficialmente publicados. Com base nos resultados de uma pesquisa, o autor verifica que a maioria dos norte-americanos desconhecem dados econômicos relevantes da macroeconomia, como, por exemplo, a taxa de desemprego, inflação e crescimento econômico.

As conclusões de Curtin (2007) se enquadram dentro de um ramo teórico que o autor denomina de forma abrangente como teoria econômica moderna (“modern

economic theory”). Esta se afasta da teoria convencional ao identificar dois padrões de

comportamento distintos que caracterizam a busca de informação e o processo de tomada de decisão dos indivíduos: a atualização escalonada e a relevância das informações.

Alguns autores afirmam que as pessoas não se atualizam a todo o momento com relação às condições econômicas em que vivem. Segundo essa visão, a maioria das pessoas apenas atualiza suas informações algumas vezes ao ano, por diferentes motivos e em diferentes condições (MANKIW; REIS, 2003; CARROL, 2003). Trata-se, portanto, de uma atualização escalonada de informações. Esse comportamento pode ser gerado por uma série de processos que encorajam ou desencorajam os agentes econômicos a atualizarem suas informações.

Parte dos autores que compartilham essa visão identificam os custos relacionados à aquisição e processamento de informações como um fator relevante para explicar a atualização escalonada. Indivíduos podem concluir que os custos associados à busca por informações perfeitas contidas em dados oficiais excede em certos momentos os benefícios em obtê-las. Esse comportamento baseado em cálculo de custo e benefício da informação é reconhecido por autores como “desatenção racional”

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O conteúdo da informação buscada também pode variar de acordo com a propensão individual para gastar mais ou menos com a atualização das informações. Para alguns autores, a atualização escalonada também explica as diferentes visões que as pessoas possuem sobre a economia em um mesmo período de tempo (MANKIW; REIS;WOLFERS, 2004). Outros autores imputam menos responsabilidade aos custos e mais à opinião de especialistas que pode, aos poucos, se espalhar lentamente pela sociedade, sendo a atualização escalonada responsável por explicar as díspares visões sobre a economia, uma vez que alguns indivíduos seriam mais rapidamente influenciados pelos especialistas do que outros (CARROLL, 2003).

Há autores, ainda, que associam a atualização escalonada às condicionalidades estabelecidas pelo clima econômico vigente. Em momentos de crise econômica as pessoas tendem a se preocupar mais com a economia do que em momentos de tranquilidade, tratando de se atualizar com mais precisão e regularidade (AKERLOFF; DICKENS; PERRY, 2000). Importante mencionar que o tom e a animosidade com que a mídia passa as informações econômicas afeta também a percepção dos indivíduos com relação às condições econômicas (SIMS, 2003).

Além da atualização escalonada, existe um outro fator responsável por guiar o comportamento dos agentes na busca por informação econômica para tomada de decisão: a relevância da informação econômica de acordo com as prioridades de cada indivíduo.

Nem todas as pessoas se utilizam das mesmas definições sobre dados macroeconômicos como inflação, desemprego e crescimento econômico. Variados grupos demográficos e profissionais enxergam de maneira diferente as condições econômicas. Pessoas idosas, por exemplo, se preocupam com a inflação de produtos e serviços de primeira necessidade, como os planos de saúde e remédios, não necessariamente acompanhando a taxa de inflação oficial. Da mesma maneira, o profissional de um determinado setor não necessariamente precisa acompanhar a taxa de desemprego nacional para saber como andam as condições de emprego em sua área específica (CURTIN, 2007).

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necessidades pessoais como base para a avaliação das condições econômicas. A formação da confiança das pessoas deve, portanto, estar associada tanto às experiências pessoais, como, também, aos dados econômicos relevantes dentro dos contextos em que os agentes econômicos estão inseridos.

Isso não quer dizer que a economia real e os dados oficias sejam superficiais nessa análise. Uma corrente da literatura representada pelos estudos de Erikson, Mackuen e Stimson (2000), afirma, por exemplo, que a economia real é a grande responsável pelas avaliações econômicas feitas pelo público. Segundo essa percepção, a avaliação econômica subjetiva enquanto mensurada em nível individual pode sim sofrer influência de fatores outros que a economia. Porém, quando medida em nível agregado, essas avaliações econômicas fornecem uma aferição confiável sobre o sentimento econômico do público, em especial, quando correlacionada aos níveis de aprovação presidencial. Essa corrente sugere que a economia real e a avaliação agregada da economia real devem estar correlacionadas.

Entretanto, Durr (1993) apresenta evidências que contradizem os resultados apontados por Erikson, Mackuen, e Stimson (2000). Sua conclusão revela, por exemplo, que a popularidade do presidente pesa na avaliação econômica agregada. Segundo o autor, dependendo dos níveis de popularidade do presidente (mais altos ou mais baixos) as avaliações econômicas apresentam níveis melhores ou piores do que esperado quando se tem em foco apenas os dados da economia real. Essa perspectiva põe em xeque a ideia de que o sentimento econômico medeia os impactos da economia real na popularidade presidencial. Segundo o autor, a popularidade presidencial joga um importante papel na avaliação do estado da economia realizada pelo público.

De fato, nenhum estudo subestima o peso da economia real sobre a avaliação econômica realizada pelo público. É evidente que a economia real em algum momento influencia as condicionalidades locais onde habitam, trabalham e interagem os indivíduos, afetando, consequentemente, suas avaliações sobre a economia em que vivem. O que parte da literatura confirma é que a formação da economia subjetiva deve estar associada às experiências pessoais. Nem todos se atualizam a todo o momento e nem todas as informações oficiais apresentam relevância para que as pessoas se atualizem.

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determinantes da confiança das pessoas na economia. Assim, se o peso das experiências pessoais é relevante para a formação da economia subjetiva, seria possível, por exemplo, que eventos políticos possam afetar a confiança das pessoas na economia? Ao aprofundar esse tema, buscamos compreender um pouco melhor como a literatura enxerga a política como um fator determinante da confiança na economia.

O peso do desempenho econômico sobre a política e, em especial, sobre a aprovação eleitoral vem sendo estudado de forma intensa ao longo das últimas décadas pelas ciências econômica e política, gerando uma série de teorias relacionadas ao ciclo econômico eleitoral (NORDHAUS, 1975), ao voto econômico (DUCH; STEVENSON, 2008), ao voto partidário (BARTELS, 2000) e aos determinantes da economia internacional nos resultados eleitorais (CAMPELLO;ZUCCO, 2016). Em geral, esses estudos partem da economia como um fator fundamental para explicar resultados políticos. O argumento típico afirma que as condições econômicas influenciam a confiança que, por sua vez, influencia as avaliações políticas e eleitorais (DUCH; KELLSTEDT, 2011). O que buscamos, porém, é a ordem inversa dessa equação, ou seja, como pode a política influenciar a confiança das pessoas, afetando a avaliação que elas fazem sobre as condições econômicas de seu país? A exploração desse tema nos ajudará a compreender se eventos políticos poderiam, à luz da literatura, influenciar a formação da economia subjetiva.

Não são muitos os estudos que se preocupam em descobrir as origens políticas da confiança dos agentes econômicos. De Boef e Kellstedt (2004) apresentam dois argumentos intuitivos em favor da política como fator determinante na confiança dos agentes econômicos. Segundo os autores, a confiança no futuro da economia – algo extremamente difícil de prever em um mundo crescentemente interdependente – deve estar, de alguma maneira, associada à confiança na liderança política do país. Assim,

“se as pessoas têm confiança nos líderes políticos que formulam a política econômica,

isso deve aumentar a confiança delas no futuro da economia. Em contraste, se as pessoas acreditam que seu líder político é incompetente, isso deve afetar negativamente

suas incertezas acerca do futuro da economia” (DE BOEF; KELLSTEDT, 2004). O

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Vuchelen (1995) confirma o impacto das eleições e da mudança de governos na confiança dos consumidores belgas. Seus resultados demonstram que a instalação de um novo governo sem a chamada de eleições reduz a confiança dos consumidores. A combinação de eleições inesperadas com o ingresso de um novo governo também afeta negativamente a confiança (embora de forma mais tênue). Dessa maneira, o autor chama atenção para a existência de uma relação direta entre eventos políticos, demanda dos consumidores e ciclos econômicos, observando, ainda, que os ciclos econômicos eleitorais podem não estar apenas relacionados às políticas econômicas expansionistas comuns em períodos eleitorais como forma de angariar votos, mas, sim, sendo gerados pelas expectativas dos consumidores.

Norpoth (1996) identifica três tipos de eventos políticos com possibilidades de afetar a expectativa de consumidores norte-americanos: as eleições, a guerra e os escândalos. Segundo o autor, as eleições são acontecimentos previsíveis, acontecendo regularmente segundo estipulado na constituição norte-americana. Em tese, sua capacidade de afetar as expectativas é grande, uma vez que o mercado é sensível a eventos políticos. Notícias de intenção de voto são capazes de alterar o humor dos mercados com facilidade, o que torna difícil ignorar as influencias políticas sobre a economia. Existem boas razões para crer que a guerra também afete os sentimentos econômicos com efeitos negativos sobre as expectativas, uma vez que guerra é associada ao sofrimento e ao desperdício de recursos. Da mesma forma, o autor sugere que grandes escândalos políticos também devem deteriorar a avaliação das condições econômicas, uma vez que os escândalos diminuem a confiança geral do público nas autoridades governamentais, incluindo a sua habilidade de lidar com questões econômicas.

Os resultados da pesquisa realizada por Norpoth (1996) revelam que a troca de partidos em eleições presidenciais norte-americanas vem acompanhada por uma melhora das expectativas econômicas, disfrutando o presidente eleito de uma lua de mel com o público nos primeiros meses de mandato. Segundo Norpoth (1996, p. 777)

“o evento que engatilha tanto a melhora das expectativas, como, também, da provação

política é a eleição”.

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Entretanto, com relação aos escândalos políticos, Norpoth (1996) não encontra evidências claras apontando a relação entre o escândalo de Watergate e a disseminação de pessimismo econômico. Tampouco a análise realizada com o escândalo Irã-Contras (1986) verificou qualquer diminuição na confiança dos norte-americanos em sua economia. Interessantemente, o autor conclui que a influência de escândalos políticos sobre as expectativas econômicas do público parece ser superestimada.

De Boef e Kellstedt (2004) complementam a análise de Norpoth (1996). Os autores confirmam que a conduta política joga importante papel como determinante da confiança dos consumidores sobre a economia. Segundo eles, porém, as eleições e a guerra não são os únicos aspectos políticos capazes de mover o sentimento dos consumidores. Políticas públicas, a administração da economia e as notícias veiculadas na mídia sobre a economia afetam a confiança do público no curto e no longo prazo. Em outras palavras, os autores concordam com Norpoth (1996), agregando à análise do autor os efeitos da popularidade presidencial e da rotina política sobre a confiança dos consumidores norte-americanos.

Assim, podemos concluir que existem duas correntes divergentes apontando diferentes pesos aos eventos políticos como determinantes da confiança do público na economia. Por um lado, Erikson, Mackuen e Stimson (2000), afirmam que apesar dos fatores não-econômicos influenciarem as avaliações em nível individual, avaliações econômicas em nível agregado correspondem a indicadores objetivos fornecidos pela economia real. Por outro, uma segunda corrente, ao mesmo tempo que reconhece as influências de indicadores objetivos sobre a confiança do público na economia, destaca uma desconexão entre as avaliações econômicas e a economia real, sendo esta desconexão induzida por variáveis políticas (DUCH; STEVENSON, 2005).

É importante ressaltar que os resultados apresentados nos estudos revisados são fruto de pesquisas realizadas em países específicos. Duch e Stevenson (2008), por exemplo, atentam para o fato da relação entre eventos políticos e confiança do consumidor estar condicionada ao contexto institucional e político existente em cada país. Como resultado, afirmam os autores, a confiança do consumidor pode responder de maneira diferente a eventos econômicos e políticos em diferentes contextos institucionais.

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eventos políticos. Estes, em função da frequência, relevância e publicidade que adquirem, podem tornar-se eventos que alteram o sentimento das pessoas sobre as condições econômicas em que vivem. Pelo que pudemos verificar até o momento, eventos políticos como eleições parecem possuir maior capacidade de impacto no clima econômico do que escândalos políticos envolvendo práticas de corrupção ou abuso de poder.

1.1 A Confiança de Especialistas na Economia de seus Países

Depois de realizada uma revisão geral sobre os determinantes políticos da confiança do público na economia, é importante concentrar o foco do estudo na análise dos sujeitos responsáveis pela avaliação do clima econômico dos países sul-americanos, tema central para a compreensão da confiança na economia dos países analisados à luz do Índice de Clima Econômico da América Latina. Cabe ressaltar que os aspectos metodológicos a respeito do índice serão tratados em capítulo posterior (dados e métodos), sendo o objetivo do atual segmento identificar os sujeitos responsáveis pela realização das avaliações econômicas e explorar como as particularidades desses sujeitos impactam a avaliação sobre o clima econômico que realizam.

O primeiro aspecto que se destaca nessa análise é o fato da Sondagem Econômica da América Latina – pesquisa que subsidia a construção do Índice de Clima Econômico – ser direcionada a profissionais com reconhecida qualificação para analisar cenários econômicos. Esses profissionais qualificados são denominados “especialistas”

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A primeira, de natureza comparativa, pois parte-se de um estudo cujo conteúdo analisado é constituído pela avaliação de indivíduos com semelhante grau de instrução atuando em diferentes países, sendo, também, aplicados os mesmos critérios metodológicos para obtenção das avaliações econômicas; e uma segunda vantagem, de natureza “substantiva”, pois parte-se de opiniões cujo embasamento técnico pressupõe

um saber “conservador”, ou seja, se até mesmo especialistas são afetados por

determinantes políticos em suas avaliações, podemos pressupor, por exemplo, que a opinião do público também o seja. Assim, destacaremos, a seguir, alguns aspectos importantes a respeito de avaliações econômicas realizadas por especialistas.

É intuitivo pensarmos que a opinião de especialistas deve ser provida de maior fundamento técnico e teórico do que as avaliações promovidas pela opinião pública. Isso não quer dizer que especialistas estejam sempre corretos em suas análises, mas corrobora a ideia de que suas análises apresentam atributos caracterizados pelo compromisso com a verdade. Milton Friedman (2007), em capítulo dedicado ao estudo metodológico da economia, sugere que o prestígio e aceitação do trabalho de especialistas não se dá apenas pela crença pessoal inerente à formulação de opiniões, mas, sim, nas evidências apresentadas nos trabalhos, no sucesso das previsões realizadas e nas conquistas que resultam da aplicação dos resultados apresentados. McCloskey (2007), problematiza as características objetivas apresentadas por Friedman ao adicionar à análise o peso da retórica como forma de convencimento. Segundo a autora, especialistas não apenas apresentam fatos e lógica, mas seus argumentos estão repletos de retórica na medida em que exercitam a persuasão como forma de convencimento. Nesse sentido, o domínio da arte das palavras e o dom da oratória representam elementos que contribuem para o prestígio e aceitação das opiniões divulgadas por especialistas.

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características importantes das opiniões emitidas por especialistas. Modelos baseados na epidemiologia das expectativas macroeconômicas foram formulados com o objetivo de demonstrar como as informações veiculados por especialistas na mídia vão, aos poucos, propagando-se pela sociedade, assemelhando-se ao processo de disseminação de uma doença (CARROLL, 2001, 2003)1.

Não pretendemos avançar muito no estudo do impacto da opinião de especialistas sobre a opinião pública, merecendo esse tema um estudo mais aprimorado. O que merece maior aprofundamento na presente seção é compreender um pouco melhor como se dá o processo de avaliação subjetiva realizada por um especialista. Vimos, na seção anterior, que existem determinantes políticos capazes de influenciar a confiança do público na economia de seu país. Seria possível estabelecer essa mesma correlação nas avaliações realizadas pelos especialistas? Em outras palavras, é possível que haja uma desconexão entre as avaliações econômicas dos especialistas e o desempenho da economia real? E se a resposta for positiva, poderiam, então, os escândalos políticos serem os responsáveis por adicionar um determinante político na confiança depositada pelo especialista na economia de seu país?

Em geral, os estudos partem do pressuposto de que os especialistas utilizam-se de abordagens estritamente racionais para chegar a seus resultados (CARROLL, 2003). A consequência dessa assunção é que poucos estudos se importam em compreender o comportamento dos especialistas e o processo de busca de informação, interpretação e elaboração de suas opiniões.

Levando-se em conta uma abordagem estritamente racional sobre a formação da opinião de especialistas, podemos desenhar dois cenários apresentado resultados opostos com relação à influência de determinantes políticos sobre suas avaliações econômicas. Por um lado, podemos pressupor que o grau de subjetividade das avaliações realizadas por especialistas tende a ser menor do que o grau de subjetividade encontrado em avaliações realizadas por não especialistas. Segundo essa visão, a

1 Christopher Carroll propõe modelos alternativos à teoria das expectativas racionais para

verificar empiricamente a formação das expectativas econômicas do público em relação à inflação e desemprego. Para isso, adota como referência o modelo Kermack-McKendrick (1927), elaborado por epidemiologistas para explicar formas de transmissões de doenças. O modelo consiste em um conjunto de premissas sobre quem está suscetível a se contagiar; quem entre os suscetíveis se

contagia, e se e como indivíduos se recuperam da infecção. Carroll adapta o modelo utilizando-se da premissa do contágio de informação econômica via notícias veiculadas na mídia e, também,

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correlação entre economia real e economia subjetiva tende a ser maior nas avaliações realizadas pelos especialistas, uma vez que estes encontram-se atualizados com relação aos dados oficiais apresentados, podendo, assim, formar opiniões com base em uma análise objetiva da situação econômica. Nesse sentido, determinantes políticos pouco influenciariam as opiniões de especialistas. Por outro lado, uma avaliação objetiva e racional sobre o cenário econômico feita por especialistas pode levar em conta percepções de riscos incluídas na divulgação de escândalos políticos. A percepção de risco tende a estar associada à desconfiança na liderança política, como sugerem De Boef e Kellstedt (2004). Assim, escândalos políticos podem associar-se à má administração da economia, gerando efeitos multiplicadores negativos sobre a atividade econômica, ou mesmo gerando impasses entre o poder executivo e legislativo. Esse cálculo realizado pelo especialista possui fundamento racional e pode gerar uma desconexão entre sua avaliação sobre a economia e o desempenho real apresentado pela economia.

Uma outra possibilidade em aberto para explorarmos esse tema parte da investigação de como a subjetividade pode afetar os julgamentos realizados pelos especialistas. Como mencionado anteriormente, é intuitivo assumirmos que as opiniões de especialistas sejam providas de maior fundamento técnico e teórico. Cumpre ressaltar, porém, que as avaliações realizadas por especialistas são também providas de uma subjetividade capaz de alterar o julgamento exclusivamente racional sobre uma determinada situação.

Shiller (2002), ao refletir sobre a formação de bolhas especulativas no mercado financeiro norte-americano, presta contribuição ímpar aos estudos envolvendo o julgamento e as avaliações realizadas por especialistas. Segundo o autor, houvesse estrita racionalidade nas avaliações sobre o mercado financeiro, bolhas especulativas não deveriam ocorrer. Se ocorrem, é porque existem elementos – limitações nas avaliações humanas – capazes de influenciar professores, analistas e administradores a guiarem-se por comportamentos menos perfeitos do que o comportamento racional

(“less-than-perfectly rational behavior”).

(25)

bons quanto é verdade a presença dos julgamentos subjetivos que elaboram as hipóteses sob as quais se orientam os modelos estatísticos.

Quais seriam então os elementos pertencentes ao julgamento subjetivo capazes de afetar as avaliações de especialistas sobre a expectativas de preços no mercado financeiro? Segundo Shiller (2002), uma série de elementos psicológicos tendem a influenciar o comportamento dos especialistas. Com base em evidências o autor chega à conclusão que julgamentos intuitivos jogam importante papel em processos de decisão. Outro elemento psicológico capaz de distorcer o comportamento racional é a atenção, aspecto fundamental da inteligência humana, e que pesa no momento de julgamentos. No caso apresentado pelo autor, a atenção dos especialistas é grande com relação ao brusco crescimento de algumas ações no passado. Essa lembrança do passado chama atenção e é também capaz de gerar distorções no julgamento dos especialistas no presente. Um terceiro elemento importante é a confiança e autoestima. Pessoas preferem tomar decisões e mesmo apostar em momentos de maior confiança e autoestima. Além disso, tendem a superestimar a probabilidade de sucesso quando se envolvem pessoalmente em associações, assim como torcedores de um time superestimam as probabilidades de seu time ganhar uma partida.

Como podemos perceber, elementos psicológicos e subjetivos pesam nos julgamentos realizados por especialistas. E não são apenas esses os elementos psicológicos capazes de alterar uma avaliação. Especialistas são inevitavelmente influenciados pela opinião de outros especialistas durante avaliações complexas. Apesar de estarem sempre atualizados, sintetizar todas as informações que recebem é uma tarefa impossível. Decidir, então, quem está certo e quem está errado é ainda mais complexo e envolve ainda mais subjetividade. Especialistas acabam assumindo que o que os seus colegas acreditam é verdade. E o erro nesta prática é presumir que algum especialista tenha em algum momento verificado com cuidado as conclusões aceitas.

O que se tem como aceito pelos especialistas, torna-se algo que Shiller (2002)

denomina “sabedoria convencional”. Esta é fortalecida pelo papel da mídia como

veiculadora de informações. A mídia não apenas reforça a sabedoria convencional, que é então reproduzida pela opinião pública e por especialistas como, também, gera eventos que viram o foco da atenção, o que, por sua vez, influencia o julgamento subjetivo dos especialistas.

(26)

menos perfeito do que o racional possa ser expandido para outras áreas da avaliação econômica. O julgamento subjetivo não se restringe às expectativas do mercado financeiro. O julgamento intuitivo, a atenção prestada em determinados eventos e a autoestima são elementos psicológicos capazes de influenciar as avaliações de qualquer indivíduo, inclusive os especialistas. As evidências apontadas por Shiller (2002) fundamentam as influências dos julgamentos subjetivos nas avaliações realizadas por especialistas, o que nos permite sugerir que as avaliações econômicas contidas no Índice de Clima Econômico da América Latina possam sofrer influências de eventos que ultrapassem o limites exclusivos da área econômica.

(27)

2. Desenho da Pesquisa

De acordo com o que vimos na revisão de literatura, a avaliação subjetiva da economia realizada pelo público geral pode sofrer influência de determinantes políticos. Eleições, por exemplo, aparecem como eventos políticos determinantes. Escândalos políticos, entretanto, podem não apresentar correlação tão direta quanto as eleições (NORPOTH, 1996). Não está claro, porém, se a avaliação de especialistas também está sujeita à mesma influência de determinantes políticos.

Sabemos que a subjetividade afeta a avaliação de especialistas, podendo, inclusive, levá-los a julgamentos descritos por Shiller (2002) como menos perfeitos do que o esperado de um comportamento racional. A distorção na avalição subjetiva de especialistas pode sofrer influência de fatores psicológicos como, por exemplo, eventos marcantes que atraiam suas atenções por algum período de tempo e permaneçam em sua memória.

Escândalos políticos veiculados pela mídia envolvendo presidentes da república são eventos que impactam negativamente a imagem dos envolvidos (CARLIN;LOVE;GALLARDO, 2015) e chamam a atenção do público, podendo servir como um evento-marco que atraia, também, a atenção de especialistas. Nesse caso, a influência política na avaliação econômica pode vir a ser explicada tanto como parte de

julgamento guiado por um “comportamento menos perfeito do que o racional”, como,

também, em função de uma avaliação racional que associa o escândalo político a uma percepção de risco econômico e desconfiança com relação à liderança política.

Dessa maneira, propomos a hipótese de que escândalos políticos afetam negativamente o clima econômico dos países sul-americanos avaliados por especialistas.

2.1 Dados e Métodos

O presente capítulo tem o objetivo descrever de maneira específica o processo de pesquisa realizado, apresentar os principais dados coletados e explicar a metodologia aplicada ao estudo.

2.1.1 Variável dependente: o Índice de Clima Econômico

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Maximilian e pelo Ifo Institute, um dos maiores institutos de pesquisa econômica da Alemanha, ambos baseados em Munique. Na América Latina, a Sondagem é publicada pela Fundação Getulio Vargas (FGV), por meio de seu Instituto Brasileiro de Economia (IBRE) .

A Sondagem Econômica da América Latina serve ao monitoramento e antecipação de tendências econômicas com base em informações prestadas trimestralmente por especialistas nas economias de seus respectivos países. A pesquisa é aplicada com a mesma metodologia – simultaneamente – em 16 países da América Latina, método que permite a construção de um ágil e abrangente retrato da situação econômica de países e blocos econômicos. Na região, uma média de 250 especialistas respondem a pesquisa a cada trimestre.

A pesquisa gera informações tanto de natureza qualitativa quanto quantitativa. O Indicador de Clima Econômico (ICE) é o indicador-síntese composto por dois quesitos de natureza qualitativa, o Indicador da Situação Atual (ISA) e o Indicador de Expectativas (IE), que tratam, respectivamente, da situação econômica geral do país no momento e nos próximos seis meses.

As respostas individuais são combinadas para cada país sem qualquer ponderação. Para se chegar ao valor médio de cada indicador, atribui-se nove pontos às respostas positivas, cinco às respostas indiferentes e um às respostas negativas. O ICE é uma média aritmética dos dois indicadores que o compõem.

Segundo critérios específicos da pesquisa, a fase do ciclo econômico em que se encontra o país no momento é determinada por uma combinação entre ISA e IE. Quando os dois indicadores superam o limite médio de cinco pontos, a economia está na fase de expansão. Quando ambos estão abaixo de cinco pontos, há recessão. A fase de piora ocorre quando o ISA é superior e o IE é inferior a cinco pontos. A fase de recuperação ocorre com o IE superior e o ISA inferior a cinco pontos.

A primeira questão do questionário encaminhado aos especialistas é responsável pela construção do ICE. A sentença encoraja o especialista a avaliar a

situação geral do país de acordo com a economia como um todo (“this country`s general

situation regarding overall economy”). Ela é dividida em duas partes: (a) Julgamento Presente (“Present Judgement”) e (b) De agora em diante: expectativa da situação no

final dos próximos seis meses (“From now on: expected situation by the end of the next 6 months”). Para cada uma das partes são possíveis três respostas objetivas, sendo elas

(29)

respostas possíveis são: boa; satisfatória e má. Para a segunda parte (De agora em diante: expectativa da situação no final dos próximos seis meses): melhor, nenhuma mudança e deterioração.

As respostas à questão (1) são responsáveis pela construção dos dois indicadores (ISA e IE) que dão origem ao Índice de Clima Econômico conforme a metodologia acima apresentada. As demais questões que compõem o questionário dedicam-se a avaliar as expectativas dos especialistas em relação a questões como: balança comercial; inflação; taxas de juros; e câmbio. Não serão, portanto, alvo de detalhada análise no presente estudo.

Podemos depreender pela descrição realizada que o ICE é importante tanto para o monitoramento da situação corrente, como, também, para antecipações de eventos futuros. Sendo a pesquisa realizada trimestralmente, a sondagem é capaz de produzir sinalizações de tendências econômicas com rapidez, sendo consultada regularmente por professores universitários, analistas financeiros, consultores e mesmo por funcionários de governos em busca de avaliações econômicas diferenciadas, livres de efeitos e padrões sazonais.

2.1.2 Variável Explicativa: Escândalos Políticos

Um elemento fundamental para a realização do estudo foi o desenvolvimento de uma pesquisa que culminou na identificação de escândalos políticos envolvendo os presidentes sul-americanos no período de 2005 até 2014. Para isso, definimos escândalos políticos como sendo eventos noticiados pela mídia envolvendo os presidentes das repúblicas sul-americanas em episódios de corrupção ou abuso de poder (PÉREZ-LIÑAN, 2007).

(30)

Para fins do presente estudo, trabalharemos com a definição de corrupção e abuso de poder mais recorrente na literatura. Esta compreende o fenômeno como sendo o abuso de cargo e/ou recursos públicos para benefício privado ou para fins não oficiais (AIDT, 2009; BARDHAN, 1997; GETZ; VOLKEMA, 2001; KAUFMANN; KRAAY; MASTRUZZI, 2010; TREISMAN, 2000).

A pesquisa foi realizada com base em notícias publicadas semanalmente no site latinnews.com. A Latin News é uma das principais empresas responsáveis pela divulgação de notícias sobre o cenário político, estratégico, econômico e de negócios da região latino-americana. É uma fonte utilizada frequentemente por funcionários de governos, executivos de empresas, comentaristas ligados à mídia e também como fonte de dados em pesquisas acadêmicas. Um dos serviços prestados pela LatinNews é o Latin American Weekly Report (LAWR), uma compilação semanal das principais notícias envolvendo os países latino-amerianos. Com base nessa fonte, portanto, passamos a identificar escândalos políticos envolvendo os presidentes das repúblicas sul-americanas no período 2005-2014.

Como resultado, foram encontrados um total de 25 casos registrados em sete países sul-americanos (Argentina, Brasil, Colômbia, Equador, Paraguai, Peru e Venezuela). Não foram encontrados escândalos políticos noticiados pelo LAWR envolvendo os presidentes do Uruguai, Bolívia e Chile, o que exclui os mencionados países do presente estudo. Na tabela 1, encontra-se a quantidade de escândalos políticos identificados por ano e país.

Tabela 1 Quantidade de Escândalos políticos por país e ano

País Quantidade de casos registrados por ano

2005 2006 2007 2008 2009 2010 2011 2012 2013 2014 TOTAL

Argentina 1 1 2 1 5

Brasil 1 2 2 5

Colômbia 1 1 2

Equador 2 1 1 1 1 6

Paraguai 1 1 2

Peru 1 1

(31)

Para fins de codificação dos escândalos políticos na base de dados, organizamos cada escândalo de acordo com o trimestre em que foi noticiado. No Anexo A encontram-se especificados cada escândalo identificado no período.

2.2 Metodologia de Análise

Tomando como base a literatura revisada, podemos definir o clima econômico como uma função de variáveis econômicas (VE) e variáveis políticas (VP). Dessa maneira, estabelecemos o Índice de Clima Econômico (ICE) como a variável dependente do estudo e as variáveis econômicas e políticas como as variáveis de controle. O que buscamos é verificar como as VE e VP se correlacionam com o ICE, identificando, consequentemente, o impacto dos escândalos políticos sobre o clima econômico avaliado pelos especialistas. Assim, definimos a seguinte função a ser verificada:

��� = � � , ��

Variáveis Econômicas (VE). Sabemos, por meio da literatura de voto econômico na América Latina, que indicadores econômicos tais como a taxa de inflação, taxa de desemprego e a variação no crescimento do PIB são, em geral, dados sensíveis para a o público e que apresentam grande correlação com o desempenho econômico (CARLIN;LOVE;GALLARDO, 2015). Levando-se em conta a exclusiva participação dos especialistas na avaliação de clima econômico, adicionamos, ainda, dois indicadores que julgamos importantes para a avaliação econômica da região sul-americana: a taxa de câmbio e o índice GET (Good Economic Times).

O índice GET, elaborado por Campello e Zucco (2016), é formado pela combinação de dois indicadores econômicos – preço de commodities e taxas de juros norte-americanas -, gerando um índice composto de variáveis exógenas capazes de explicar ciclos de crescimento das economias sul-americanas exportadoras de commodities. O índice GET é medido por meio de uma unidade. Valores mais altos

representam “bons tempos” (altos preços de commodities e baixos juros

norte-americanos) e valores mais baixos representam “maus tempos” para a região (baixos

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substituir as variáveis econômicas domésticas, respondendo pelo desempenho econômico que não depende das decisões de governos.

Os indicadores econômicos foram coletados no site tradingeconomics.com que compila os principais dados econômicos com base em informações diárias (taxas de câmbio), mensais (taxa de inflação e taxa de desemprego) e trimestrais (crescimento do PIB em preços constantes) obtidas em fontes oficiais das agências governamentais competentes de cada país. O índice GET foi disponibilizado por seus autores. Os dados econômicos foram então transformados em períodos trimestrais como forma de compatibilizá-los com o ICE, divulgado trimestralmente. Utilizamos um recorte temporal de 10 anos para a coleta dos dados (de 2005 até 2014).

Operacionalizamos as VEs como uma função dos seguintes indicadores referentes a cada um dos setes países sul-americanos incluídos no estudo: variação da taxa de crescimento do PIB �� , taxa de inflação , taxa de câmbio , taxa de desemprego e índice GET � � .

�� = ��, �, �, �, � �

Variáveis Políticas (VP). Seguindo a literatura apresentada sobre os determinantes políticos da confiança do público na economia e nosso interesse em identificar correlações entre os escândalos políticos e o ICE, identificamos a VP como uma função de três importantes elementos políticos: escândalos políticos (EP); as eleições presidenciais (E) e a ideologia do presidente no poder (ID).

A identificação de escândalos políticos seguiu de acordo com a pesquisa apontada na seção que versa sobre a variável explicativa do estudo (2.1.2). Sua identificação detalhada pode ser encontrada no ANEXO A. Para modelagem dos dados, transformamos os escândalos políticos em uma variável binária (dummy) – forma de introduzir características qualitativas em modelos econométricos,- utilizando o valor 1 (um) para identificar presença de escândalos políticos em um determinado trimestre e 0 (zero) para completar períodos com ausência de escândalos.

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encontram correlações entre períodos eleitorais e confiança do público na economia de seus países (DE BOEF; KELLSTEDT, 2004; NORPOTH, 1996).

Incluímos, ainda, a ideologia do presidente como um elemento que julgamos importante na avaliação por especialistas do clima econômico de países sul-americanos. Mercados reagem a declarações e posicionamentos políticos. Apresentam, dessa forma, reações diversas a depender das inclinações ideológicas e do discurso utilizado pelo candidato vencedor das eleições e sua predisposição em intervir mais ou menos na economia de seu país (liberal vs intervencionista). Para identificação da orientação ideológica do presidente no poder, utilizamos os conceitos apresentados por Campello (2014) que interpreta campanhas eleitorais e ideologias de governos a partir da alteridade “market-oriented” (liberais) vs “state-oriented” (intervencionistas). Utilizamos os critérios propostos por Campello (2014) para atualizar sua base de dados de ideologias dos presidentes sul-americanos. Codificamos as ideologias em variáveis binárias, sendo computado o valor 0 (zero) para presidentes intervencionistas e 1 (um) para presidentes liberais. No ANEXO B, encontra-se a codificação detalhada. A identificação dos posicionamento ideológicos dos presidentes se deu por interpretação de notícias veiculadas pelo LAWR.

Dessa maneira, apresentamos as variáveis políticas da seguinte forma:

�� = �, , �

2.2.1 Modelo de Dados em Painel

O interesse empírico do trabalho está na busca da possível correlação entre os escândalos políticos e o ICE. Para isso, é usado um modelo econométrico de painel que contém informações do país i no tempo t. Os países são Argentina, Brasil, Colômbia, Equador, Paraguai, Peru e Venezuela e o recorte temporal vai do primeiro trimestre de 2005 ao quarto de 2014.

O modelo do painel permite combinar séries temporais com dados de corte transversal. Segundo Gujarati (2006), os dados em painel proporcionam “dados mais

(34)

O modelo de regressão com dados em painel utilizado nessa metodologia, com n observações em T períodos e K variáveis pode ser representado da seguinte forma:

���= ��� � + ���

Onde ��é a variável dependente, ��� é um vetor 1 x K contendo as variáveis explicativas, é um vetor K x 1 de parâmetros a serem estimados e ��corresponde aos erros aleatórios. Os sub-índice i correspondem à unidade observacional (países) e o t ao período de cada variável.

O coeficiente encontrado de uma variável corresponderá ao seu efeito sobre o ICE, independente das variações das outras variáveis incluídas no modelo. Caso o p-valor encontrado seja superior a 0,05 não podemos rejeitar a hipótese de que o coeficiente estimado é diferente de zero (a um nível de confiança de 95%).

O modelo empregado utiliza efeitos fixos para o tempo e para os países. Os efeitos fixos-tempo ajudam a retirar do modelo a influência de ciclos econômicos comuns aos países selecionados. Ao utilizarmos o índice GET, no entanto, torna-se redundante adicionar os efeitos fixos-tempo, pois trata-se de uma variável exógena que determina em grande parte as flutuações da economia sul americana (Campello e Zucco, 2013).

(35)

3. Resultados

Apresentamos, a seguir, os gráficos que compõem o Índice de Clima Econômico dos países que integram o presente estudo, indicando, também, os momentos em que foram identificados escândalos políticos diretamente relacionados ao seus presidentes. Aproveitamos para apontar, ainda, períodos eleitorais representados nos gráficos pelo primeiro turno das eleições ocorridas em cada país ao longo dos dez anos compreendidos no recorte temporal do estudo.

Gráfico 1 Índice de Clima Econômico da Argentina, Eleições e Escândalos políticos

0,0 1,0 2,0 3,0 4,0 5,0 6,0 7,0 8,0 9,0 ja n /0 5 a b r/ 0 5 ju l/ 0 5 o u t/ 0 5 ja n /0 6 a b r/ 0 6 ju l/ 0 6 o u t/ 0 6 ja n /0 7 a b r/ 0 7 ju l/ 0 7 o u t/ 0 7 ja n /0 8 a b r/ 0 8 ju l/ 0 8 o u t/ 0 8 ja n /0 9 a b r/ 0 9 ju l/ 0 9 o u t/ 0 9 ja n /1 0 a b r/ 1 0 ju l/ 1 0 o u t/ 1 0 ja n /1 1 a b r/ 1 1 ju l/ 1 1 o u t/ 1 1 ja n /1 2 a b r/ 1 2 ju l/ 1 2 o u t/ 1 2 ja n /1 3 a b r/ 1 3 ju l/ 1 3 o u t/ 1 3 ja n /1 4 a b r/ 1 4 ju l/ 1 4 o u t/ 1 4 Argen na

Índice de Clima Econ mico

Esc ndalos Polí cos

(36)

35 2 – Índic e de Cl im a Ec onô m ic

o do B

(37)

36 abr/05 jul/05 out/05 jan/06 abr/06 jul/06 out/06 jan/07 abr/07 jul/07 out/07 jan/08 abr/08 jul/08 out/08 jan/09 abr/09 jul/09 out/09 jan/10 abr/10 jul/10 out/10 jan/11 abr/11 jul/11 out/11 jan/12 abr/12 jul/12 out/12 jan/13 abr/13 jul/13 out/13 jan/14 abr/14 jul/14 out/14 E q u a d o r Í n d ic e d e C lim a E co n m ic o E sc n d a lo s P o l í co s E le i ç e s P re sid e n cia is 4 – Ín dic e de Cl im a Ec on ôm ic o d o Eq ua dor , Elei çõe s e E sc ân dalo s pol ític os 5 – Índic e de Cl im a Ec onô m ic

o do P

(38)
(39)

Modelo 1

No modelo 1 foi usado o painel com todas as variáveis em diferença, controlando o efeito fixo país. Utilizando o índice GET (variável relacionada à economia internacional) controlamos o efeito fixo tempo, admitindo que o GET é a variável que explica os ciclos econômicos na América do Sul, sendo, portanto, o mesmo índice para todos os países. Aproveitamos, também, para estabelecer um modelo 1 B, segundo o qual o índice GET passa a ser codificado com um trimestre de antecedência em relação às outras variáveis (GET_Lag), ou seja, os efeitos produzidos pelas variações nos preços de commodities ou em uma mudança na taxa de juros norte-americana é percebida pelos especialistas no trimestre seguinte ao que ocorreu.

De acordo com o Modelo 1 A e B, não foi possível estabelecer uma correlação total entre os escândalos políticos e o ICE. Tampouco as demais variáveis políticas apresentaram qualquer correlação com o ICE. O índice GET, no entanto, como esperado, apresentou correlação positiva e significante com o ICE, o que nos permite afirmar que quanto melhor os tempos econômicos na América do Sul (altos preços de commodities e baixos juros norte-americanos), mais positivamente o ICE é avaliado pelos especialistas.

Vari veis A

(GET + VP)

B (GETLag + VP)

GET Coeficiente 0,270 0,221

SE 0,111 0,109

pvalue 0,015 0,043

Eleiç o Coeficiente -0,061 -0,062

SE 0,054 0,052

pvalue 0,258 0,238

Ideologia Coeficiente 0,021 0,023

SE 0,029 0,029

pvalue 0,463 0,416

Esc ndalos Coeficiente 0,028 0,037

Políticos SE 0,051 0,051

pvalue 0,574 0,462

Interaç o Coeficiente -0,022 -0,055

ideologia e SE 0,121 0,121

esc ndalo pvalue 0,856 0,651

(40)

Modelo 2

O Modelo 2 inclui na análise as variáveis econômicas domésticas de controle e as variáveis políticas. Havendo maior número de variáveis explicativas nesse modelo, para contrabalancear a perda de eficiência, substituímos o modelo em diferenças pelo modelo de diferença em relação à média, que também controlam os efeitos fixos país. Substituímos nesse caso o índice GET por variáveis utilizadas para controlar o efeito fixo tempo.

Além de rodar o Modelo 2A (variáveis econômicas e políticas), aproveitamos para testar as possíveis correlações apresentadas ao se estabelecer uma variável de PIB_Lag (Modelo 2B), em que os efeitos das variações no crescimento do PIB são percebidos no trimestre posterior à divulgação da taxa de crescimento e o ICE_LAG, em que os especialistas avaliam o estado da economia um trimestre após a divulgação dos dados econômicos, ou do acontecimento de eventos políticos.

Tabela 3 Modelo incluindo variáveis econômicas (VE) e variáveis políticas (VP)

Vari veis

A (VE + VP)

B

(VE - PIB_Lag + VP)

C

ICE_Lag (VE + VP)

PIB Coeficiente 0,166 0,175 0,188

SE 0,043 0,040 0,041

pvalue 0,000 0,000 0,000

Inflaç o Coeficiente -0,089 -0,089 -0,091

SE 0,014 0,014 0,015

pvalue 0,000 0,000 0,000

Desemprego Coeficiente -0,034 -0,013 0,088

SE 0,083 0,081 0,080

pvalue 0,683 0,869 0,271

C mbio Coeficiente 0,002 -0,001 -0,001

SE 0,001 0,001 0,000

pvalue 0,004 0,012 0,014

Eleiç o Coeficiente -0,150 -0,301 0,499

SE 0,290 0,288 0,280

pvalue 0,605 0,295 0,075

Ideologia Coeficiente 0,306 0,289 0,245

SE 0,138 0,137 0,133

pvalue 0,026 0,035 0,066

Esc ndalos Coeficiente 0,655 0,729 0,662

Políticos SE 0,299 0,295 0,288

pvalue 0,028 0,013 0,022

Interaç o Coeficiente -0,691 -0,502 -1,000

ideologia e SE 0,638 0,635 0,616

(41)

De acordo com o resultado previsto para uma avaliação de clima econômico, o Modelo 2 (A, B e C) apresentou significantes correlações entre variáveis econômicas domésticas e o ICE. O PIB apresentou correlação significante e positiva. A inflação apresentou correlação significante e negativa. O efeito da taxa de câmbio sobre o ICE também é significativo.

Vale ressaltar que em nenhum dos modelos rodados a taxa de desemprego apresentou qualquer correlação com o ICE. Isso nos sugere que os especialistas não estão olhando para o desemprego como variável econômica impactante nas avaliações de clima econômico. Essa característica pode indicar um perfil mais pró-mercado dos especialistas consultados.

As eleições que não apresentaram correlação significativa nos modelos 2A e 2B, passaram a correlacionar-se positivamente no Modelo 2C a um nível de confiança de 90%.

Interessante notar que no caso da variável “ideologia”, percebe-se que países

com governos “Market-friendly” são melhor avaliados do que países “State-Oriented”,

o que sugere que especialistas premiam governos que adotam políticas econômicas liberais, o que mais uma vez indica a possibilidade de um perfil mais pró-mercado dos especialistas consultados. Além disso, por mais que não haja correlação significante, o sinal da interação entre escândalos e ideologia é negativo, sugerindo que escândalos importam menos quando o governo é de direita.

Surpreendentemente, de acordo com o Modelo 2 (A, B e C) encontramos uma correlação direta significante e positiva entre escândalos políticos e o ICE. Essa constatação não apenas invalida a hipótese definida no trabalho, mas sugere o seu oposto. Na seção seguinte, procuraremos aprofundar um pouco o tema, buscando uma possível explicação para o resultado encontrado.

3.1 Discussão dos Resultados

Em nenhum dos modelos rodados pudemos confirmar a hipótese proposta segundo a qual escândalos políticos afetam negativamente o clima econômico dos países sul-americanos analisados. Logo, de acordo com os resultados apresentados, essa hipótese deve ser rejeitada.

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apresentou correlação significativa e positiva, o que nos permite afirmar que, de acordo com esse modelo, determinantes políticos não influenciam a avaliação do clima econômico realizada pelos especialistas.

O Modelo 1 nos indica, portanto, que especialistas respondem às condições dadas pela economia internacional em suas análises. Nesse caso, sua confiança parece derivar exclusivamente de determinantes econômicos. Esse modelo sugere que especialistas se utilizam de uma abordagem racional na formação de suas avaliações, ou seja, segundo essa visão, a correlação entre economia real e economia subjetiva tende a ser maior nas avaliações de especialistas do que nas avaliações do público-geral, uma vez que eles se encontram atualizados com relação às informações econômicas, formando opiniões com base em uma análise objetiva da situação econômica de seu país (vide seção 1.1).

O Modelo 2 nos impõem um quebra-cabeça para destrinchar. Se por um lado o Modelo 1 descarta a presença de determinantes políticos nas avaliações realizadas pelos especialistas, por outro lado, no Modelo 2, os determinantes políticos certamente ocupam espaço relevante. Nesse modelo, os escândalos políticos não apenas influenciam o clima econômico, como, também, o influenciam positivamente. Já as variáveis econômicas corroboram a ideia de que a economia real pesa significativamente em uma avaliação de clima econômico realizada por especialistas.

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configurando assim um evento capaz de alterar o foco de especialistas da análise exclusiva dos determinantes econômicos para uma abordagem que contemple também algum determinante político em suas avaliações.

O inesperado no Modelo 2 foi o resultado encontrado apresentando correlação significante e positiva entre o ICE e os escândalos políticos. Partindo do pressuposto já suficientemente abordado em relação às características diferenciadas das avaliações dos especialistas em função da qualidade de suas análises, podemos interpretar os resultados assumindo que especialistas possuam uma visão característica distinta em relação à ocorrência de escândalos políticos. Se para o público geral a veiculação em mídia de escândalos políticos pode trazer a percepção de aumento generalizado da corrupção, para um especialista, a mesma notícia pode ser interpretada como um avanço no combate às práticas de corrupção e abuso de poder na medida em que existe transparência para se veicular as notícias e instituições capazes de atuar no combate a essas práticas.

Nesse caso, a avaliação dos especialistas pode conter uma mensagem de premiação do clima econômico em função da associação dos escândalos políticos com a existência de instituições aptas a identificar práticas de corrupção ou abuso de poder que ocorrem no mais alto nível hierárquico da administração de um país. Na literatura, essa perspectiva coaduna-se com uma visão neo-institucionalista que atribui às instituições a qualidade de restringir determinados comportamentos humanos. Assim, Douglass North (1991), por exemplo, define as instituições como sendo restrições humanamente concebidas para estruturar a interação política, econômica e social. Elas consistem em restrições informais (sanções, costumes, tradições, tabus e códigos de conduta) e formais (constituições, leis, direito à propriedade), cujo principal objetivo é criar ordem e gerar maior previsibilidade entre indivíduos. Os fundamentos para o êxito do modelo de organização via instituições está na maior possibilidade de cooperação entre indivíduos que este modelo de organização possibilita em função da geração de um ambiente de repetição e livre fluxo de informações. Instituições que funcionam, restringem comportamentos humanos, aumentando assim a previsibilidade dos comportamentos em função de um maior fluxo de informações.

Imagem

Tabela 1  – Quantidade de Escândalos políticos por país e ano
Gráfico 1  – Índice de Clima Econômico da Argentina, Eleições e Escândalos políticos
Tabela 2  – Modelo incluindo Índice GET e Variáveis Políticas (VP)
Tabela 3  – Modelo incluindo variáveis econômicas (VE) e variáveis políticas (VP)

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