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3. Resultados

3.1 Discussão dos Resultados

Em nenhum dos modelos rodados pudemos confirmar a hipótese proposta segundo a qual escândalos políticos afetam negativamente o clima econômico dos países sul-americanos analisados. Logo, de acordo com os resultados apresentados, essa hipótese deve ser rejeitada.

No Modelo 1 não apenas os escândalos políticos não se correlacionaram com o ICE, como, também, não foi identificada nenhuma correlação das variáveis políticas com o clima econômico. No entanto, o índice GET – a variável econômica exógena –

apresentou correlação significativa e positiva, o que nos permite afirmar que, de acordo com esse modelo, determinantes políticos não influenciam a avaliação do clima econômico realizada pelos especialistas.

O Modelo 1 nos indica, portanto, que especialistas respondem às condições dadas pela economia internacional em suas análises. Nesse caso, sua confiança parece derivar exclusivamente de determinantes econômicos. Esse modelo sugere que especialistas se utilizam de uma abordagem racional na formação de suas avaliações, ou seja, segundo essa visão, a correlação entre economia real e economia subjetiva tende a ser maior nas avaliações de especialistas do que nas avaliações do público-geral, uma vez que eles se encontram atualizados com relação às informações econômicas, formando opiniões com base em uma análise objetiva da situação econômica de seu país (vide seção 1.1).

O Modelo 2 nos impõem um quebra-cabeça para destrinchar. Se por um lado o Modelo 1 descarta a presença de determinantes políticos nas avaliações realizadas pelos especialistas, por outro lado, no Modelo 2, os determinantes políticos certamente ocupam espaço relevante. Nesse modelo, os escândalos políticos não apenas influenciam o clima econômico, como, também, o influenciam positivamente. Já as variáveis econômicas corroboram a ideia de que a economia real pesa significativamente em uma avaliação de clima econômico realizada por especialistas.

O modelo 2, portanto, sugere que os especialistas consideram em suas avaliações tanto as variáveis econômicas, como, também, as variáveis políticas. Até aí, encontramos respaldo na literatura consultada sobre confiança do público na economia, sendo compreensível as possibilidades de um processo semelhante de formação de confiança ocorrer entre especialistas. Ao longo da revisão de literatura, e, mais especificamente, quando abordamos as características dos especialistas como sujeitos responsáveis pelas avaliações, assumimos a possibilidade de influência de determinantes políticos em suas avaliações. Nesse caso, os determinantes políticos encontravam fundamento tanto em uma abordagem racionalista, perspectiva segundo a qual especialistas adicionariam em suas avaliações a percepção de riscos associados aos escândalos políticos, como, também, sob a perspectiva do comportamento descrito por Shiller (2002) como menos perfeito do que o esperado de um comportamento racional. Nesse caso, elementos psicológicos teriam a capacidade de influenciar as avaliações dos especialistas. Assumimos na seção 1.1 que escândalos políticos, em função de suas repercussões, poderiam facilmente atrair a atenção de especialistas,

configurando assim um evento capaz de alterar o foco de especialistas da análise exclusiva dos determinantes econômicos para uma abordagem que contemple também algum determinante político em suas avaliações.

O inesperado no Modelo 2 foi o resultado encontrado apresentando correlação significante e positiva entre o ICE e os escândalos políticos. Partindo do pressuposto já suficientemente abordado em relação às características diferenciadas das avaliações dos especialistas em função da qualidade de suas análises, podemos interpretar os resultados assumindo que especialistas possuam uma visão característica distinta em relação à ocorrência de escândalos políticos. Se para o público geral a veiculação em mídia de escândalos políticos pode trazer a percepção de aumento generalizado da corrupção, para um especialista, a mesma notícia pode ser interpretada como um avanço no combate às práticas de corrupção e abuso de poder na medida em que existe transparência para se veicular as notícias e instituições capazes de atuar no combate a essas práticas.

Nesse caso, a avaliação dos especialistas pode conter uma mensagem de premiação do clima econômico em função da associação dos escândalos políticos com a existência de instituições aptas a identificar práticas de corrupção ou abuso de poder que ocorrem no mais alto nível hierárquico da administração de um país. Na literatura, essa perspectiva coaduna-se com uma visão neo-institucionalista que atribui às instituições a qualidade de restringir determinados comportamentos humanos. Assim, Douglass North (1991), por exemplo, define as instituições como sendo restrições humanamente concebidas para estruturar a interação política, econômica e social. Elas consistem em restrições informais (sanções, costumes, tradições, tabus e códigos de conduta) e formais (constituições, leis, direito à propriedade), cujo principal objetivo é criar ordem e gerar maior previsibilidade entre indivíduos. Os fundamentos para o êxito do modelo de organização via instituições está na maior possibilidade de cooperação entre indivíduos que este modelo de organização possibilita em função da geração de um ambiente de repetição e livre fluxo de informações. Instituições que funcionam, restringem comportamentos humanos, aumentando assim a previsibilidade dos comportamentos em função de um maior fluxo de informações.

Dessa forma, a revelação de escândalos políticos pode estar associada a uma maior transparência, independência e cumprimento de finalidades das instituições, sendo isso percebido pelos especialistas como uma evolução do estado institucional de um país, gerando reflexos positivos para o ambiente econômico. É importante ressaltar

que a transparência é um elemento fundamental para a livre circulação de informações, o que por sua vez eleva o grau de previsibilidade para os agentes econômicos, aumento potencialmente sua confiança na economia de um país.

Evidentemente, não podemos apenas nos basear na tese do fortalecimento institucional como forma de fundamentar os resultados encontrados no presente estudo. Essa tese possui fundamentos sólidos, mas sua verificação depende de futuros estudos que contemplem o papel das instituições na confiança dos especialistas. Dessa maneira, ressaltamos um outro ponto importante para a discussão dos resultados obtidos: a codificação e relevância dos escândalos políticos identificados.

No presente estudo, os escândalos políticos identificados foram codificados sem obedecer um critério de relevância e impacto dos mesmos sobre o ambiente político dos países. Isso significa dizer que independentemente do grau de importância alcançado por um determinado escândalo político, ele recebeu um mesmo peso no momento da codificação do escândalo na base de dados do estudo. Como explicado em capítulo anterior, a variável explicativa “escândalos políticos” foi transformada em uma variável binária, sendo apontado um ponto no trimestre em que foi identificado um escândalo político e zero quando não foi identificado nenhum escândalo. Assim, podemos dizer que por um lado o método utilizado consegue abarcar e contemplar uma série de escândalos políticos no universo temporal de 10 anos, mas, por outro, peca ao não realizar uma distinção em termos de relevância dos escândalos políticos.

Em seu estudo sobre o ambiente político latino-americano, Perez-Liñan (2007) identifica e codifica os escândalos políticos com a inclusão de diferentes pesos de acordo com a relevância dos escândalos. Assim, o autor classifica os escândalos políticos em quatro categorias: 1) Intervenção Militar; 2) Escândalos presentes ou parcialmente presentes; 3) Levantes populares contra o presidente; e 4) Escudo do Legislativo.

Observamos, porém, que a classificação utilizada por Perez-Liñan (2007) mostra-se mais adequada para pesquisas que abarcam longos recortes temporais e um maior número de países. Havendo um maior recorte temporal na pesquisa, é possível contemplar diferentes fases e momentos políticos vividos pelos países, categorizando a maior diversidade de eventos de acordo com seus diferentes impactos na vida política. Certamente uma intervenção militar sobre um governo democrático constitui uma ingerência mais forte na vida política de um país do que acusações de corrupção,

interferindo, possivelmente, de maneira mais profunda na avaliação do clima econômico pelos especialistas.

No caso do presente estudo, o universo temporal de 10 anos, a relativa estabilidade política vivida pelos países no período e o número limitado de países pesquisados exige uma seleção de escândalos políticos não menos criteriosa, mas de certa maneira mais abrangente para que se possa compilar um número expressivo de escândalos para serem contemplados pelo estudo quantitativo.

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