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Assistência de enfermagem em saúde coletiva: entendendo o processo para a aplicação de um instrumento transformador da prática e da teoria.

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Academic year: 2017

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ASSISTÊNCIA DE ENFERMAGEM EM SAÚDE COLETIVA: ENTENDENDO O PROCESSO PARA A APLlCAÇÃO DE U M I NSTRUM ENTO

TRANSFORMADOR DA PRÁTICA E DA TEORIA.

Emiko Yoshikawa Egry "

Rosa Maria Godoy Serpa da Fonseca" Maria Rita Bertozzi""

RESUMO: As a utoras d iscutem a operaci o n a l ização do M étodo de Assistência d e E nfermagem em S a ú d e Coletiva (MAESC) , orientada p e l o m ateri a l ismo h i stórico e d ia lético . A bo d a m os temas rel ativos à perspectiva epistemológi ca ; a os pressu postos para a opera ci o n a l izaçã o ; à tota lidade e suas d i me nsões; às etapas; e fi n a l mente, à cond ução praxiológica . Concl u e m , i n stigando os pesq u isado res a se uti l i za rem d este i nstru mento, a b ri n d o , para ta nto , d ecod ifi cadores mais refi nados que se a p roximem d a rea l prática assisten ci a l de enfe rmage m n o n ível local d e atenção à saúd e .

ABSTRACT: T h e a uthors d iscuss t h e a p p l i cation o f t h e C o l lective H e a lth N u rs i ng Assistan ce , g ro u nded o n d i a l e ctical and h i storical materi a l ism . They expl a i n the issues concern i n g to epistem o l og i a l perspective, t h e presu pposit i o n to apply, the tot a l ity and its d i mensions, the lead i n g phasis a n d , fi n a l l y , t h e praxiological pro cesso

- _. - - - - - -

--UN ITERMOS: M et od o l og i a d e a ss istê n c i a d e e n fe rm a g e m S a ú d e co l et iva -Materi a l ismo h i stórico e d i a l ét i co .

1 . INTRODUÇÃO

A a presentação p ú b l i ca de um m étodo d e assist ê n ci a d e e n fe rm agem , com o ri e ntação basta nte d i sti nta d e o ut ros que estão sen d o adotados na enfermagem d ata d e 1 987, dentro d o 39° Cong resso B rasile i ro d e E nfermagem , em q u e foi divu lgado, como t e m a livre, o t ra ba l h o intitu lado

'Bases metodológicas para a assistência de en­ fermagem em saúde coletiva fundamentadas no materiaismo históico e dialético"13. Nele tentam os expl icar pela pri me i ra vez o métod o d e assistência de enfermagem baseado no referencial m aterialista h i stórico e d i a l ét i co . Procura m os d esta ca r as conce pções m a i s util izadas, e n i sso h ouve a preocu pação maio r d e a cl a ra r o ente n d i m e nto d o conceito d e sociedade seg u nd o esta visão d e

m u n d o . A l é m d i s s o , fo r a m d e s c r i t o s o s pressu postos e a forma de utilizaçã o , engloba nd o as eta pas e a m a n e i ra d e d esenvolvê- l o .

Dois a nos m a i s tard e , em u m evento reg i o n a l do estado d e S ã o Paulo foi colocado em d iscussão o texto "Sistematização da assistência de enfermagem em saúde coletiva orientada pelo materialismo histórico e dialético: em busca do hoizonte de unicidade entre o saber e o fazer"3.

I m potava , d esta vez, d estacar os pressu postos d essa ' assistência e u m a m e l h o r exp l icitação a parti rdeles, das eta pas d e d esenvolvi lento desse método.

A util ização i n é d ita d este i n strume nto pa ra a assistência d e e nfermagem à fa m íl i a , e n q u a nto foco privileg i ad o de recorte, foi rea lizado j u nto aos usuários das U n idades Básicas d e Saúde do

Enfermeira. Professora Doutorada do Depatamento de Enfermagem de Saúde Coletiva da Escola de Enfermagem aa

Universidade de São Paulo.

". Enfermeira. Professora Assistente do Depatamento de Enfermagem de Saúde Coletiva da Escola de Enfermagem da U niversidade de São Paulo.

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Município de Taboão da Serra, São Paulo, 4 e em Florianópolis, Santa Catarina6, revelando em ambos os estudos tanto suas possibilidades quanto suas limitações/contradições. Num outro recorte fenomênico, ARAÚJO 1 estudou a prática de enfermagem junto à mulher que amamenta, aplicando este métod o de assistência d e enfermagem . Neste, mais claramente q u e e m outros estudos, pode-se verificar concretamente a necessidade premente de se el ucidar as categorias analíticas que devem ser abertas para se aproximar do fenômeno, para poder dar prosseguimento ao processo de totalização social. Por se tratar de estudo que lida com a mulher, a categoria social central deveria sero gênero, entendido como sexo socialmente construído.

Para que esse método possa ser melhor compreendido, e portanto, passível deserutilizado n a prática assi ste n c i a l d e e nfe rm ag e m , ressaltamos, neste momento, algumas questões relativas ao entendimento do processo para a apliaçãodo método enquanto intrumento. Desde já, é necessário afirmar que não pretendemos esgotar todas as questões que esse método impõe à sua operacionalização, pois de acordo com o próprio elemento constitutivo dele, ou seja, do movi mento de tra nsformação , a própria operacionalização desdobrará outras questões que, neste momento, parecem estar ausentes.

2. A VISÃO DE MUNDO COMO PONTO DE PARTIDA:

A PERSPECTVA E PISTEMOLÓGICA DO MÉTODO

A adoção do referencial materialista histórico e dia lético e de suas leis e categorias pa ra fundamentar este método de assistência de enfermagem , pressupõe a superação da visão idealista de mundo. A visão de mundo pode ser entendida, de acordo col KRAPIVI NE 9 , como

"um conjunto de princípios, pontos de vista e convicções que determinam a atitude do homem em relaçlo à realidade e a si próprio, a orientaçlo da atividade de cada pessoa concreta, grupo social, classe ou sociedade em geral".

Duas visões de mundo podem serdestacadas: a idealista e a materialista histórica e dialética.

O ideaismo pate do princípio de que a con sciên cia o u qualquer das s u a s manifestações como o pensamento, a vontade ou qualquer coisa de ideal e . imaterial, é primário, fundamental e determinante. Por outo lado, a matéria, a

natueza, o mundo material, slo poduzidos por aqueles ou dele dependenteSS. Em opo siçlo a isto, o materialismo considera que o mundo é, ela sua natureza, material, o u seja, ele existe fora da consciência humana e independente dela, nlo sendo poduto nem do pensamento, nem de qualquer ser imaterial" 5.

Ainda, pressupõe que toda a matéria está em constante desenvolvimento e transformação, não de modo caótico, mas segundo determinadas leis.

A adoção desta visão de mundo requer, por conseguinte, a negação do reducionismo simplista do processo saúde-doença, superando o modelo unicausal da doença, o modelo multicausal que se

"limita a descobrir fatores causais na poduçlo de poblemas fáceis de atacar, com medidas baratas e que permitam implementar medidas coletivas de controle" 2 . Trata-se também de superar a tríade

ecológica de Leavell e Clarck, pois nele ignora-se a categoria social do Homem , transformando-o em fator eminentemente biol lgico 2.

Trata-se de ompreenderqueo pocesso saúde-doença

manifesta -se a tra vés de difere ntes fen6menos cuja frequência e intensidade variam com o tempo e espaço, expressos a nível de indivíduos, de classes ou grupos sociais e das formações econ6micas e sociais. Nos indivíduos manifesta-se com variações na frequência e intensidade entre pessoas ou grupos que se diferenciam entre si pelos seus atributos individuais, tais como: sexo, idade, etc .. . .) Nas classes sociais e nos grupos da populaçlo que compatem entre si simlares condições de vida e de rabalho manifesta-se como peis de saúde-doença diferenciais entre essas classes. A nível de formações econ6mico­ sociais e de grandes grupos de populaçlo que compatem o fato de estar vinculado a uma mesma estrutura e supeestrutura . .. ) o s fen 6 m e n o s de sa úde -do ença manifestam-se como peis de saúde­ doença peculiares destas formações econ6mico -sociais e como variações destes peis à medida em que variam os pocessos estruturais e superestruturais que as caracterizamB.

Tal forma de perceber o processo saúde­ doença advém da concepção de sociedade e

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homem coerente com a visão materialita e dialética de mundo. Da mesma maneira, as concepções de assistência à saúde col etiva , bem como a enfermagem, estão atreladas à mesma visão.

A assistência à saúde coletiva é conceituada co m o s e n d o a i nte rfe rê n ci a consci e nte (sistematizada, planejada e dinâmica) no processo saúde-doença d e u n a dada co letividad e , consideradas a s distinções dos grupos sociais, realizada pelo conjuntodostrabalhadoresde saúde com coletividade, objetivando a transformação do perfil de saúde-doença 1 3 .

Podemos prontamente perceber que esta concepção de assistência em saúde coletiva não se enonta oerando, expressivamente, na pátia, uma vez que também não se encontram operando as concepções a ela correlatas, ou seja, de sociedade e de processo saúde-doença . A visão idealista de mundo com as correspondentes conceptualizações, estão a i nda permeando fotemente a nossa prática em saúde.

A questão epistemológica se faz presente à

medida em que as concepções que permeiam a nossa prática são por sua vez mediadas e originárias de uma dada visão de mundo e que, neste momento, ao tentar tornar possível a lltilização do método dentro da visão materialista histórica e dialética, devem ser elas claramente expressas. Melhor dizendo, não se trata de entender somente as etapas e sim de buscar compreender porque, para que e com quem desenvolvertal proposta de método.

3. PRESSUPOSTOS DA OPERACIONALIAÇÃO DO

M ÉTODO: A Q U ES TÃO DAS AMARRAS ARTICUADS

Desde que a proposição deste método está explicitamente posta dentro de um referencial teórico-filosófico, há necessidade de recolocaros pressupostos e leis que fazem a articulação das pates, sem o que ele setorna mera alternância de fases, ou troca de denominações até então u t i l i z a d a s p o r outras proposi ções d e sistematiza

ç

ão d a assistência, embasadas em outros referenciais.

As leis que percorrem o método são as três leis fundamentaisda dialética, ou seja: a leida unidade e luta dos ontráios; a lei da transição de mudança quanitativa para a quaidade; e a lei da negação da negaç�o.

Subordinado a estas leis, ocore o processo de

desenvolvimento que a teoria materialista dialética sustenta como sendo:

1) o que desencadeia e impulsiona o de­ senvolvimento são as contradições intenas, ou seja, o choque de várias forças e tendências que são inerentes a um deteminado fenómeno; 2) há uma conexão indissolúvel e uma mútua dependência entre todos os aspectos dos fenómenos; 3) o processo de desen volvimento não é uniorme e gradual, mas apesenta episódios de reviravoltas, saltos e revoluções que se iniciam pela acumulação gradativa em quantidade para, em um dado momento posterior, seguir-se a passagem para uma n o va qua lida de; 4) o pro cesso de desenvolvimento não é linear, antes, pode ser comparado a uma espiral, porque os estágios podem parecer que são percoidos várias vezes, só que, a cada aparente repetição, retoma-se ao anterior, porém, num nível superior 5

Os pressupostos essenciais que aticulam o

método, de acordo com EGRY 3, são:

- Dinamicidade - que significa que toda a

realidade social está em contínua transformação, sofrendo sucessivas modificações no tempo e no espaço . A sociedade, o processo saúde-doença, assim como o processo assistencial não escapam desta dinamicidade.

- Historicidade -que advém do entendimento

de Engels, que designa uma visão do desenrolar da história, que procura a grande força motriz de todos os acontecimentos históricos impotantes no desenvolvimento econômico da sociedade, nas transformações do modo de produção e de troca na consequente divisão da sociedade em classes e na luta entre as classes.

- Paticipação - que é expressa no processo de

manifestação das vontades pessoais no contexto do grupo, para que estas (as vontades) sofram as ampliações que lhes impõem as contraposições das vontades alheias; com isto, as pessoas podem com preender as articulações entre as diferentes dimensões do objeto fenomênico e em conjunto construir alternativas de equacionamento das questões, agora dentro de perspectivas grupais. Ou ainda, como refere HENRIQUES7,

a paticipação está em estreita vinculação com o pocesso de consciência social. Os homens modelam a sociedade segundo sua consciência, porém, esta modelagem

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é mediada pela r6pia sociedae. enhuma transformaç!O social é um ato de um homem s6, resulta ela da verdadeira natreza da sociedade pelas parcelas das massas que as consttuem. Nas sociedades divididas em classes antagônicas (nosso caso), toda a superestrutura (o aparelho do Estado, suas in stituiçõe s jurídicas, religiosas, 6rgãos de representação, as universidades, os meios de comunicação, etc.) está, se considerada em seu conjunto, voltada para manter nas massas, a idéia de que a ordem social é justa, legítima ou até mesmo sagrada, a fim de que cada um cumpra as tarefas que lhes cabem e das quais depende a viabiidade da própria sociedade. Cabe ao rocesso paticipativo desmistiicar o interesse predominante na manutenção da ordem social vigente.

- Horizonte - é a a ntevisão da q u a l idade nova que se quer cheg ar, e n q u a nto l ug a r, conteúdo e processo; não sendo mera mente o bjetivo, ou meta , ele é cont i n uamente re-situado e re-di m ensionado no deco rrer do ca m i n h o pa ra o seu a lca nce . Aticu lado a o s pressu postos a nteriores, e l e é d i nâmico , h i stórico e form u lado e m conj u nto com os diferentes atores soci a i s q u e pa t i l h a m a i ntervenção no processo saúde doença .

4 . A APROXIMAÇÃO DA REALIDADE OBJ ETIVA ATAVÉS DSTRÊSDIMENSÕES DAREAUDADE: A QUESTÃO DATOTALlDADE

o ca ráter h i stórico , bem com o , a natu reza dialética do processo i nterventivo , exigem q u e se leve em consi d e ração o conj u nto de fen ô m enos que operam a realidade social , ou sej a , a totalidade, como a concebe LUÁCS 1 1 . De acord o com este a utor, a com preensão d i a l ético-materi a l i sta da totalidade com preende: em primeiro lugar, o caáter i nterativo da u n idade concreta de contrad ições existentes n u m a dada tota l idade; e m seg u nd o , o caráterde relativização d e posiçã o toda total idade contém total idades i nferi o res a ela subord i nadas e por sua vez , e l a está sobredeterm i n ada por uma outra de com p l exidade su perior; e e m terce i ro l ugar, o ca ráter da sua rel atividade h i stórica , o u sej a , d a m uta b i l id ad e , da l i mitabilidade espacia l e tem pora l de sua existênci a .

Para q u e s e possa a preender a total idade n a assistência d e e nfermagem , a rea l idade obj etiva , ou seja , o processo saúde-doença d a col etividad e ,

esta d e v e s e r a proxi mada desdobrando-se em três d i me nsões: a estrutu ra l , a particu l a r e a si ngu l a r.

A d i m e n s ã o e st ru t u ra l co m p re e n d e os processos de desenvo l v i m e nto d a capacidade prod utiva e do desenvo l v i m e nto das relações de prod u çã o , da formação eco n ô m i ca e socia l e das formas pol ítico-ideológ icas derivadas.

A d i m e n s ã o p a rt i cu l a r co m p re e n d e os processos de reprod ução soci a l , m a n ifestos nos pefis e pid e m i ológicos d e classe, i ntegrados pelo perfi l reprod utivo de classe e perfi l sa úde-doença , e formas especia i s d e prática e ideolog i a e m saúde.

MARX 12 explica a reprod u ção soci a l :

qualquer que seja a forma social do pocesso de repodução, ele tem de ser contínuo, deve repetir periodicamene as mesmas fases. Uma sociedade não pode deixarde poduzir, como não pode deixar de consumir. Potanto, quando visto como um todo interligado, e no luxo constante de sua renovação emanente, todo o pocesso social de podução é, ao mesmo tempo, um processo de repodução.

No processo de trabalho, a u n idade de produção e reprod ução pode ser tomada separada mente , correspond endo ao momento prod utivo aq uele no qual

o homem poduz os bens desgastando-se ao consumir sua força de trabalho, e o momento repodutivo durante o qual o homem consome os bens repoduzindo­ s e . (. . . ) C a da momento produtivo coresponde. a um momento repodutivo paticular, e da combinação de ambos dependem os padrões de desgaste­ repodução que oiginam o rocesso saúde­

doença dos grupos sociais 8 .

A d imensão sing u la r compreende os processos q u e , em última i nstâ n ci a , leva m a adoecer e a morre r o u , ao contrá ri o , a desenvolver o n exo bio­ psíq u ico dado pelo seu funcionamento , consumo­ trabalho i ndividual e pelas formas d e pa tici pação i n d i v i d u a l de o rg a n ização e consciência 1 3

Com esta aproxi mação, é possível descobri r a s i n ú m e ra s co n cate n a ç õ e s o c u l t a s q u e freq uentemente mascaram o objeto d e intervenção (processo saúde-doença d e u m dado g ru po socia l) conduzindo pa u l ati n a mente ao entend i m e nto/ apreensão da totalidade exposta d ia l eticamente 1 3 .

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ETAPAS D O M É TO D O : a q u e stão d a a rt i c u l a ção p a ra o p e ra c i o n a l i za ç ã o orientada pela materialismo h istórico e dialético

o método de assitência de enfermagem (nete referencial) é um instrumento do processo de trabalho, que permite intervir no objeto-processo saúde-doença da coletividade, mais diretamente referido à singulaidade, através de apoximações

sucessivas com a realidade objetiva - processo saúde-doença mais referido à paticularidade e à

estrutora4idade de dado grupo SOCtat -0 sentido de transfomá-lo qualitativamente.

As etapas propostas para o desenvolvimento do método, de acordo com QUEIROZ e EGRY 13, pesarde serem apresentadas sequencialmente para facilitar a sua compeensão, guardam entre si a relação de i nterpenetrabilidade, ou seja, cada

uma delas está fortemente a rticulad a e é

componente da mesma totalidade - a i ntevenção consciente (refletida, conseqüente e intencional) no processo saúde-doença .

No eu desenrolar obseva-se, entretanto, que as etapas revelam momentos hegemônicos de abodagem. Istoquerdizerque, em dado momento, uma delas está mais destacada do que as demais, para o aprofundamento de determinada fase. Da mesma maneira , as dimensões da realidade objetiva seão aproximadas, operando com ceta relevância uma ou outra . Impota neste percurso compreender que as dimensões fazem pate da mesma totalidade, estando fortemente aticuladas entre si e, que sem a visualização de todas, . mesmo em n íveis de destaque distintos, não se pode apreender a dada totalidade. Ressalte-se que a totalidade não é apreensível inteiramente, pois ela é móvel e mutável ,potanto, eta apreensão significa tão somente a realização de processos contínuos de totalização.

P ri me i ra eta p a : Captação da rea l idade objetiva

O conhecimento da realidade objetiva através das três dimensões, se faza patirdo levantamento d e d a d o s q u e perm ita m v i s u a l iza r a situa ci o n al i d ad e , o u sej a , com o o o bjeto fenomênico encontra-se posto neste momento, a sua concatenação com as transformações que se sucedeam (historicidade), e no modo como estas transformações ocorreram (dinâm ica). Deve

necessariamente ser um processo participativo, na medida em que impota con hecer como o sujeito do processo assistencial percebe a realidade em que se insere, e da forma como percebe.

Para com por, numa primeira instância, os dados da dimensão estrutural, é necessário que se recoloque: forma de organização social, po­ l íticas de saúde, destinação destas políticas e as instituições de saúde.

A com posição da d i me nsão particular é realizada atavésda explicitação da situcionalidade, dinâmica e h istoricidade do processo saúde­ doena nos diferentes grupos sociais, destacando­ se aqUele petencente ao sujeito da i ntevenção. Além disto, há que se considerar a dinâmica situacional e a hitoricidade dos efis reprodutivos de classe e das formas especiais de prática e de ideologia em saúde de distintos grupos sociais. As oganizações e movimentos populares são petinentes a esta dimensão. No Brasil, até este momento, osdados sobre motalidade e mobidade não estão discrimi nados por g rupos sociais (classes sociais) e isto acaba tomando-se o principal obstáculo para a compreensão mais apofundada desta dimensão, assim como para a correspondente interpretação e construção do pojeto de i ntevenção.

Adimensão singularé omosta pela dinâmia, h istoricidade e situcionalidade dos processos de sobrevivência e/ou aperfeiçoamento dos grupos sociais enquanto riscos e potencialidades mais proximais que afetam diretamente o nexo bio­ psíquico. Devem ser levantados dados relativos ao: trabalho (vinculação, remuneração, jornada, �mbiente físico , etc), habitação (ambiente físico, espaço, propriedade, localização, mobilidade, apare l h o u rba no, etc.), edu cação (acesso , educação formal/não formal , fontes de obtenção de temátia para reflexão, etc.), relaçõesfamiliares e grupais (qualidade, opotunidade, coesão, vida reprodutiva, etc.), alimentação (aesso, qualidade, produção, etc.) , corpo bio-psíquico (domínio, desgaste, sensações, funcionamento do corpo, tematização ou representação dos processos de sad--doença,etc.), prazer (quantidade, qualidade, paticipação individual ou grupal, etc.), transpote

(acesso, tempo gasto, propriedade, etc.) 13.

Segunda etapa: I nterpretação da realidade objetiva

As contrad ições existentes entre e inter d i mensões e seus g ru pos temáticos são

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evidenciados nesta fase. A i nterpretação da realidade objetiva subjaz à visão de mundo e por isso torna-se tão mais difícil quanto maior for a consciência ingênua dos patícipes, ou seja, a sua alienação. A alienação caracteriza-se, segundo LANE 1 0 ,

pela atibuição da naturalidade aos fatos sociais; esta inversão do humano, do social, do histórico como manifestação da natureza, faz com que todo o conheimento seja avaliado em temos de verdaeio ou also e de unversal; neste processo a consciência é reiicada,

negando-se como pocesso.

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Nesta fase de interpretação da realidade

objetiva , os conhecimentos teórico-práticos existentes até o momento são considerados, e à luz deles, é que se pode verificar, principalmente, a contradição teórico-prática. Desta forma, os lvanços tecnológicos, bem como novas maneiras de ompeendero pocesso saúde-doença, devem ser recolocados.

Terceira etapa: construção do Projeto de intevenção

o projeto de intevenção na realidade objetiva deve conter proposições que abaquem as três dimensões, hieraquicamente postas, mesmo que provisoriamente, dado que tal hierarquia é flexível e mutável a dependerdofoco proximal que se quer elucidar. Para tal hieraquização, os grupos temáticos devem sofrer rigoroso exame à luz da: vulnera b i l idade d e conteúdo, ou sej a , d a possibilidade concreta d e interver pelo saber/não saber existente; vulnerabilidade espacial e temoral, que é dada pela opotunidade, ou éoca, em que poderá haver o ponto de ruptura ; vulnerabilidade de forma, ou seja, da existência, ou não, de estratégias d e i ntervenção que possibilitem o rom pimento.

O pojeto de intevenção deve onter: objetivos, definição das responsabilidades dos patícipes e cronograma de execução com as respectivas estratégias.

De a c o rd o com os press u post o s metodológicos, o projeto é m utável, sofrendo substanciais modificações no desenvolver do processo, em decorrência de novos d ados captados, da reinterpretação dos dados e dos resultados da intevenção. O projeto deve ser continuadamente reelaborado, mesmo asim, em todas as versões há necessidade de se explicitar

claramente as proposições. Isto pemitiá captar a d i n â m i ca d a s t ra n sfo rma ções ocorri d a s decorrentes da reinterpretação continuada e aprofundada, revelando, porsi só, o movimento de consciência.

Quarta etapa : i nterve n ção na reali dade objetiva

Nesta etapa são executadas as proposições contidas no projeto. Inicialmente ode haver maior tendência em concentrar as ações dentro da dimen�o singular. Isto decorre com� p

d

uto de nossa formação profissional, onde há absoluta h eg e m o n i a d a s a ções b i o l og izantes, desconsiderando a inserção d o homem n a sociedade. E também, o resultado histórico dos invstimentosvaloativosque vêm endo realizados no ampoda saúde. Ainda que inicialmente assim proceda, o desenvolvimento do métdo exige que as demais dimensões sejam lidadas de modo que possibilite conatenar os temas, aticu ladamente, dentro da totalidade, sem o q u � tornaria apenas

.um "fator biológico", contrariando a natureza

dimensional da singularidade.

Quinta etapa: reintepretação da realidade objetiva

Tão impotante quanto as demais etapas, a reinterpretação possibilita a avaliação do alcance das proposições, a compreensão das facilidades e dificuldades no desenvolvimento do processo, bem como, a visualização da dinâmica que se instalou nele. O exame acurado da historicidade, da dinâmica, da paticipação e do horizonte, permitirá re-situar as proposições acrescidas de novos grupos temáticos que surgirão durante o processo assistencial.

A oeracionalização deste método exige que a totalidade seja gradativamente aproximada, ar­ ticulando-se fimemente as suas pates, ou sejam, as dimensões, com os pressupostos e as leis da dialética materialista.

6. O M ÉTODO COMO INSTRUM E NTO E COMO PROCESSO DE TALHO NA ENFERMAGEM: a questão da condução praxiológica

A i nterfe rê n c i a c o n sci e n t e (reflet id a , conseqüente e intencional) em uma dada realidade objetiva, não se dá apenas no momento da

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assistência, mesmo porque ela não pode ser isolada do contexto das relações que estabele­ cem os trabalhadores de saúde em geral, e paticularmente, osda enfemagem. Uma vez que o método exige a compreensão dos fenômenos sob determinada visão de mundo, os agentes sociais envolvidos no processo assistencial de enfermagem necessitam re-situar os conceitos e concepções presentes, compreendê-los dentro da totalidade e analisá-los na sua historicidade, dinamicidade, horizonte e paticipação. Há que se aclarar gradativamente ada uma das concepções e pressupostos à luz da vivência pessoal e profissional, num processo coletivo de reflexão acerca do seu trabalho.

Dessa maneira, a possibilidade de tornar operacional o método ora examinado pressupõe um processo continuado de reflexão acerca de nossa prática profissional, re-situados dentro da ótica materialista dialética e histórica de mundo. Nesse processo, as concepções mais presentes em nossa pofissão, tais como sociedade, homem, p rocessso sa ú d e-d o e n ça , e nfe rm a g e m , assistência d e enfermagem deverão ser re­ conceptual izados, através d e sucessivos movimentos que contemplem o repensar crítico sobre a realidade objetiva de nosso trabalho.

7 . CONCLUSÃO

A utilização correta do Método de Assistência de Enfermagem orientada pelo materialismo histórico e dialético, enquanto um instrumento do processo de trabalho assistencial, deve ser fotemente embasada na compreensão de suas raízes teórico-filosóficas, sem o que se torna um mero roteiro a ser seguido. Potanto, o caráter processual, praxiológico e totalizante deve ser minuciosamente elucidado, a fim de que, à sua operacionalização, não se caia na armadilha de desconectar os elementos constitutivos dos processos de trabalho, ou seja a Finalidade, os Meios e I ntrumento e o Objeto. Me�mo assim, na fase de reinterpretação, é preciso re-examinar, também, as contradições existentes no saber ideológico que orienta o processo de trabalho da assistência de enfermagem.

Ao aplicar o instrumento, cada pesquisador deve procurar elaborar decodificadores mais refinados, que possibilitem a intevenção no objeto, considerando-se as singularidades, tanto do processo saúde-doença, quanto do processo de produção dos seviços de saúde.

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Recebido para publicaçao em 1 °/8/94.

Referências

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