ESOCIEDADECIVIL
AdriánGurzaLavalle
PeterP.Houtzager
GrazielaCastello
riosaerigorosamenteàanálisedofuncionamentodarepre-50
sentação política, e dos processos de sua transformação, poucotêm-sepreocupadocomaqualidadeereformada democraciaou,nomelhordoscasos,têm-nofeitodemodo muitorestritivo.Deoutrolado,autoresdebruçadossobreo aprimoramentodaqualidadedademocraciae,nessesenti-do,orientadosparaadefiniçãodeumaagendadereforma, poucaatençãotêmprestadoàquestãodarepresentação,a nãoserparadenunciarsuasmazelasoulimitaçõesevalori-zarademocraciaparticipativa.Empalavrasmaissintéticas, emborademodobrutalmenteesquemático,quempensaa representaçãopolíticatematentadopoucoparaareforma dademocraciaevice-versa.
Essasliteraturasparecemmanifestarreaçõesdiferen-tesdiantedeumdilemacrucial:adespeitodasmudanças generalizadas nas relações entre partidos, candidatos e eleitores,emalgradoofatodenovasinstânciasdeinter-mediação – como a mídia e miríades de atores societá-rios–estaremadesempenharaquiealhuresfunçõesque acusamalteraçõesdeenvergaduranogovernorepresen- tativo,inexistemmodelosconsagradoshistóricaouanali-ticamenteparaproblematizartaisfunçõesemtermosde representaçãopropriamentepolíticaouparasepensarem novasmodalidadesdemocráticasdeconexãoentrerepre-sentanteserepresentados.Assim,osestudiososdedicadosa esquadrinharastransformaçõesdarepresentaçãooferecem interpretações de uma reconfiguração em curso ao nível dosistemapartidário,noqualestariaseredefinidoarela-çãoentrerepresentanteseleitosecidadãosrepresentados1.
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Dessa perspectiva, a representação está integralmente condensada nos processos eleitorais e, no limite, pode serfavorecidapeladivisãodopoderdentrodoEstadoe doaparatoburocrático;porestemotivo,nemsequercabe cogitar eventuais funções de representação política fora doscircuitostradicionaisdapolítica.Jáosestudiososdo aprofundamentodademocraciatêmenfocadoinovações institucionaisquevisamaacolherdiversasformasdeparti-cipaçãonodesenhoeimplementaçãodepolíticaspúblicas, massemprestaratençãoàproblemáticadarepresentação. Isto,apesardeacompreensãodasdinâmicasderepresen- taçãopolíticapresentesnointeriordasociedadecivilcons-tituirfronteiracríticaparaodebatecontemporâneosobre oaprofundamentodademocracia.
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ecapazdeunificarumamiríadedeatoressocietáriosdiver-sosdentrodeumalógicacomum.
Independentementedeosefeitoseventualmenteposi-tivos ou negaIndependentementedeosefeitoseventualmenteposi-tivos das transformações da representação para a reforma da democracia aguardarem ainda diag- nósticoscabais,parecedifícilnegligenciarofatodeseme-lhantesdiagnósticosrequererem,antes,umarevisãocrítica dospressupostosquealicerçamanossacompreensãoda representaçãopolítica.Situadoemespaçointermediário entreasabordagensmaistradicionaisdaciênciapolítica e as literaturas sobre aprofundamento da democracia, e mediantebalançodoestadoatualdodebate,esteartigo visaailuminaraconexãoentreareformadademocracia eastransformaçõesemcursonarepresentaçãopolítica; transformaçõesnosentidodapluralizaçãodosatorescom investidurapararealizá-laedadiversificaçãodoslugares emqueéexercida.
edosprocessosreaisdeinovaçãoinstitucionaldemocráti-53
caocorridosnasúltimasdécadas.Porfim,aponta-separa umaagendadereflexão.Commaiorprecisão,sustenta-se que o fenômeno do alargamento da representação polí-tica, em andamento aqui e alhures, guarda semelhanças relevantescomaidéiade“representaçãovirtual”,cunhada porEdmundBurke.Procuramosmostrar,naúltimaparte doartigo,queoresgatecríticodessacategoriainsinuaum horizonteanalíticosugestivoparareelaborararelaçãoentre ampliaçãodademocraciaerepresentaçãopolítica.
Estatutodualdarepresentaçãoelimitesdaseleições
A representação foi originariamente figura do direito privadoenesseâmbitosemanteve,inclusivecomoexpe-dientederepresentaçãopolítica,duranteomedievo:os representantesjuntoaopoderrégioerammandatários, embaixadores ou agentes autorizados de interesses pri- vados,agindoemnomedosseuscontratantesparainter-cedercominstruçõesespecíficasperanteoRei(Galvão, 1971; Pitkin neste volume [1989]: 15-47)2. Guardadas
todasasressalvasdevidas,lógicasemelhantefoipreserva-danasdiversasfigurasdarepresentaçãonodireitocivil moderno:nasprocuraçõescomoinstrumentodecessãode poderescommandatoclaramentedelimitado;nodireito derepresentaçãoemmatériadesucessões,particularmente quandoosherdeirosnãosãojuridicamentequalificados paraagirsemintermediários;ounasdiferentesrepresen-taçõesexoficiumestabelecidasporlei,como,porexemplo, emcasodeincapacidade(Galvão,1971:3-11;45-47).Do pontodevistadodireito,arepresentaçãoprivadaoucivil
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fluênciadeummandatoimperativo–instruçõesquantoà matériadarepresentação–comaresponsabilizaçãople-nadorepresentantequepodeseracionadojuridicamente pelorepresentadoemcasodequebradomandato.Assim, osdilemasdarepresentatividadenãoafetamarepresenta-çãonomundoprivado.Nelearepresentaçãoseesgotana normaenocontratoqueautorizamaprocuraçãodeinte- ressesemassuntosnitidamentedelimitados;orepresen-tanteémandatáriosemautonomiadecisória,possuium mandatoimperativo.Poroutraspalavras,acoincidência entreavontadedorepresentadoeasdecisõesdorepre-sentante,graçasaomandatoimperativo,cancelaoutorna carentedesentidoaquestãodarepresentatividade.
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partes–própriadatradiçãoanglo-saxônica–,coincideno planodarepresentaçãocomopapeldo“bemdanação” ou“vontadegeral”característicosdoracionalismofrancês (Rosanvallon,1992:137-167).Doisanosapósarevolução francesa,aConstituiçãode1791especificou,paraerradicar quaisquermal-entendidos,que“osrepresentantesnome-adosnosdepartamentosnãoserãorepresentantesdeum determinadodepartamento,masdanaçãointeira”(citado por Sartori, 1962: 19)3. Sabe-se que disposições políticas
semelhantestornaram-secomunsàsConstituiçõesmoder-nas(Manin,1995).
Dooutrolado,éconsensualqueresponsabilizaçãodo representantenodireitocivil–suaimputabilidade–ape-nas encontra na representação política correspondên- cialaxacentradanaresponsividadeeprestaçãodecon-tasentreorepresentanteeleitoeorepresentado4.Com
maiorprecisão,aseleiçõesconstituemummecanismode sançãosobreosrepresentantes(accountability)etendem aestimularasensibilidadedestesperanteasdemandase necessidadesdosrepresentados(responsiveness ).Naspala-vrasdeHannaPitkin(1967:213),“[...]orepresentante devevisaraointeressedosrepresentadosdemaneirapelo menospotencialmenteresponsivaaosseusanseios,e[...] oconflitoentreelesdeveserjustificávelemtermosdesse interesse”5.
3.Sartori(1962:19-29)argumentaquearepresentaçãopolíticaabandonasua matrizprivatísticaaproximadamenteumséculoantesdarevoluçãofrancesa.A disposiçãodaConstituiçãoFrancesaeinclusiveafamosafórmuladeBurkeex- pressariam,assim,umaconcepçãoeumapráticaamplamentedifundidasecon-solidadas.
4.Paradiversasexpressõesdesseconsenso,ver,porexemplo,ostrabalhosdeMa-nin,PrzeworskieStokes(1999a);Przeworski(2002);Arato(2002);Sartori(1962: 47-57).Paraumaexposiçãointrodutóriadopapeldaresponsividadenarepresen-taçãopolítica,verotrabalhodeCampilongo(1988).
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Destarte,arepresentaçãopolíticasupõeumadualida-deconstitutivaentrerepresentaçãoerepresentatividade, entre representante e representado. Diversos desdobra-mentosdestadualidadetêmdominadoahistóriapolítica eintelectualdarepresentaçãopolíticanomundomoder-no:aautonomiadorepresentanteversusomandatodos representados;ocomponenteinstitucionallegalouformal darepresentaçãoversusoseucomponentesubstantivoou deformaçãodevontade;opesodadelegaçãoouelemento fiduciárioversusopesodaautorizaçãoouelementodocon-sentimento;asoberanianacionalouprimaziasimbólicae políticadotodoversusasoberaniapopularouprimaziados reclamoseexigênciasdoseleitores;asposturasmajoritá-riasquantoàcomposiçãodoparlamentoversusasposturas proporcionais;semesquecer,éclaro,aoposiçãomaisgeral entrelegalidadeoufacticidadeelegitimidadeouvalidade. Emboraacompreensãodanaturezadessesbinômiosadmi-tacertacontrovérsia6
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vanamedidaemqueaconstruçãopolítico-institucionale aconceituaçãoteóricaoupráticadarepresentaçãopolíti-capassam,oraporassumirumatensãoindissolúvelentre ambosospólos,oraporconferirprevalênciaaumdeles, sem,noentanto,cindi-losporcompleto.Preservaranalitica-menteapenasosdiversosdesdobramentosdeumououtro pólo dessa tensão, conforme mostrado com parcimônia porSartori(1962)ePitkin(1967),éocaminhomaiscurto paraesvaziararepresentaçãopolítica:seprivilegiadoopólo formal-institucionaldorepresentanteperde-seoconteúdo substantivodarepresentaçãocomoatuaçãoparaointeresse oubenefíciodorepresentado;seprivilegiadoopólosubs-tantivodeformaçãodevontadedorepresentado,perde-se oconteúdopolíticodarepresentaçãoenquantocristaliza-çãoinstitucionalarquitetadaparaorganizarogovernodae sobreasociedade.Assim,seaautonomiapolíticadorepre- sentantenãopodeserperseguidaapontodeesgarçardefi-nitivamentesuarelaçãocomoeleitorado,ofortalecimento darepresentatividadetampoucopodeserbuscadoàscustas deanulartalautonomia.
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nafórmula“governorepresentativo”,estabelecedefinições claras quanto a quem representa (o político), mediante quemecanismoséautorizadoarepresentareaquetipode sançãooucontrolesestarásubmetido(aseleições),quem érepresentado(oeleitor),edealgumaforma,aindaque muitovaga,qualoconteúdooumandatoaserrepresenta-do(programa,promessasdecampanha).
Semdúvida,amontagemdeumprocessoderepresen- taçãopolíticasubmetidaataisespecificaçõesdefineumsis-temaempíricodefuncionamentoe,aumsótempo,projeta umnúcleonormativomínimo,asaber,“[...]atuaremfavor dointeressedorepresentado”(Maninetal.,1999:2)7.Esse
núcleonormativopermiteavaliararepresentaçãopolítica dopontodevistadasuarepresentatividadesemlançarmão deparâmetrosexternos–sempredefinidosporumtercei- ro–,centrandoaatençãoapenasemdeterminadoscrité-riosdecongruência docomportamentoedecisõesdorepre-sentanteeleitoemrelaçãoàsnecessidades,preferênciase anseiosdorepresentado8.
Porém,emalgradoograudeespecificaçãodoscompo-
nentesdarepresentaçãopolíticamoderna,hásériascontro-7.Pitkin(1967:209)apenasacrescentariaumelementopontualaessenúcleo mínimo:“atuaremfavordorepresentadodemodoresponsivo”.
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9.“Críticastécnicas”conformeadenominaçãoutilizadaporDahl(1956:38-44), emborapareçamaispertinentecolocá-lasnoplanodométodo.
10.Hámaisdemeioséculo,aoinverteradireçãodovetor“soberaniapopular =>preferênciasdepolíticas=>política”,JosephA.Schumpeter(1980:293-376 [1942])identificouqueoscandidatospropunhampolíticasparase(re)eleger emvezdeseremeleitospararealizarpolíticasdefinidaspelapopulação;contudo, amídiaeosavançosdosestudosdeopiniãoincorporadosàcomunicaçãopolítica reduziramconsideravelmenteocomponentedeliderançaeinovaçãoassociadoà visãoschumpeterianade“proporpolíticas”.Nossistemaspartidáriosfortemente competitivos,aestratégiadiscursivadecampanhaencontra-sefortementepre-figuradapelacomposiçãodeumcampoestruturadoemtornodapolaridade situação/oposição(Figueiredo,2000);poroutrolado,oespaçoparadiscursos centradosemclivagensideológicastem-seencolhidoconsideravelmente(Cer-vellini,2000).
vérsiaseressalvasquantoàcapacidadedaseleiçõesdetor-nargovernosrealmenterepresentativos.Primeiro,embora oprincípiodamaioriaequacioneadefiniçãodaquiloque devaserefetivamenterepresentado–“interessegeral”ou “vontadedamaioria”–,desdeasreflexõesdoMarquêsde Condorcet(1785),hásólidorepertóriodecríticastécnicas oudemétodoquantoàimpossibilidadedeseproduzirdiag-nósticos ou maximizações desse “interesse geral” a partir daagregaçãodevotos(Arrow,1951)9.Segundo,mesmose
admitindoque,narepresentaçãopolítica,aresponsividade substituiaresponsabilidade–responsabilizaçãodorepresen-tante–,ovotoestimula,medianteaprestaçãodecontas,um controleextremamentelaxosobreasdecisõesdospolíticos eleitosefrancamentenulosobreasburocraciasencarregadas deimplementá-las(Przeworskietal.,1999).Terceiro,nocon- textomidiáticodasdemocraciascontemporâneas,osconteú- dosgenéricosdomandatorepresentativo,conformeexpres-sos nos programas e promessas de campanha, obedecem antesàlógicadocálculoestratégicoconjunturalarespeito dos humores do eleitorado do que a compromissos subs-tantivoscomdeterminadoscursosdeaçãopolíticaaserem efetivamenteseguidos(Gingrass,1998;Ferryetal.,1992)10.
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serefetivamenterepresentado,ousearepresentaçãopolítica podeserreputadacomorealmenterepresentativa,équestão espinhosamesmonocontextodasdemocraciaseemsetra-tandodeinstituiçõesplenamentecristalizadas,comtradição secularesustentadasporamploconsensosocial.
Eleiçõesdemocráticaserepresentatividadedistamde sersinônimosnãoapenasdevidoaesseseoutrosfatores aventados na literatura, mas, sobretudo, pela existência delimitesestruturaisinerentesàprópriaconfiguraçãoda representaçãopolíticanogovernorepresentativo.Arepre- sentaçãopolíticamodernacumpresimultaneamentefun-çõesdelegitimidadeefunçõesdegoverno:deumlado,é representaçãoperante opoder,querdizer,defronteoEsta-doeogoverno(poderexecutivo),evisaafazervaleravoz einteressesdorepresentadojuntoae,seforpreciso,con-traessasinstâncias11;dooutro,trata-sederepresentação
nopoder,ouseja,éconstituídacomogovernooucomo umapartedeleparamandarsobreapopulação,embora issopossaserfeitoemnomedo“governodopovosobre opovo”12
.Assim,medianteovotosãoescolhidosrepresen-tantes da população perante o poder, para controlá-lo, moderá-lo e orientá-lo nas decisões conforme as expec-tativasdoseleitores;entretanto,ovototambémconstitui os representantes como um poder sobre a população, munidocomfaculdadesparatomardecisõesvinculatórias eparaobrigarasuaobediência.GiovanniSartori(1962: 28)éenfáticoaesserespeito:arepresentaçãotemfunção
11.Arepresentaçãoperanteopoderpodeserdolegislativoperanteogoverno (executivo)ouperanteoEstado,oudopróprioexecutivoperanteoEstado;entre-tanto,normalmenteremeteàrelaçãoentreexecutivoelegislativo.
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dupla,“[...]nãoapenasadetutelarosinteressesdosman-dantes,masaomesmotempoadegoverná-los[...]Éesta araizdetodososproblemasqueagitamossistemasparla-mentaresdonossotempo”–éelaquesubjazàsdualidades assinaladas13.
Nalinguagemdaciênciapolíticacontemporânea,de matrizanglo-saxônica,diagnósticoidênticosobreoslimi-tesestruturaisdarepresentaçãoépassíveldeexpressãona seguintefórmula:comocidadãoconstituoumagenteque, aomesmotempo,émeuprincipal14.
Há,todavia,outralimi- tação,cujapertinênciadependedeseassumirumacom-preensãodarepresentaçãoprópriadomodelodoagente e do principal, no qual a relação entre representante e representadoéanalisadacomoumarelaçãoentredoisindi-víduos:ummandanteeummandatário,oeleitore“seu” eleito15.Dessaperspectiva,ovototambéméummecanismo
utilizadocomfunçãodupla,oqueimpedeaformulaçãode ummandatounívocoouaexpressãodealgumavontade claraaserrepresentada.Deumlado,oeleitorempregao votocomoummecanismodesanção(accountability)sobre
13.Sartoricontinua(1962:28):“Istoporqueosparlamentosoperamemcondi-çõesdeequilíbriodelicadíssimo.Assumem-seemdemasiaopontodevistados governados,corremoriscodeatrofiareparalisarogoverno.Ese,pelocontrário, procuramabsorvê-losdemaisnoEstado[...]nestecasocorre(sic)oriscodenão preenchermaisasuafunçãorepresentativa”.
14.Naverdade,talformulaçãopodeserbemmaiscrua:“Apeculiaridadedarela-çãoentreagenteeprincipalnarelaçãoderepresentaçãopolíticaéqueosnossos agentessãoosnossosgovernantes:indicamo-loscomoagentesparaquenosdigam oquefazereaindadamos-lhesautoridadeparanosforçarafazê-lo”.(Maninet al,1999a:23-24)
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a administração em gestão, avaliando retroativamente o desempenho;dooutro,ovotosinalizapreferências(man- dato)sobrepolíticaseoptaentreaspropostasdeimple-mentaçãofuturaapresentadaspelasituaçãoepelaoposição (Maninetal.,1999).Assim,emboraaseleiçõestendama induzir comportamentos responsivos dos representantes, pelomenosemalgumgrau,einstitucionalizemprestações decontasperiódicas,aambigüidadeinerenteaovotoacusa seuslimitesintransponíveiscomomecanismodeexpressão depreferências.
Representatividade:falsoproblemaouincontornável?
Oslimitesestruturaisdomecanismoeleitoralparapromo-veronúcleonormativomínimodarepresentaçãopolítica, bemcomoastensõesinerentesaoconjuntodedualidades arroladas nos parágrafos anteriores, apenas questionam aquelesqueassumemocaráterconstitutivodessenúcleo normativoouaquelesqueacreditamnaviabilidadedealgo semelhanteàrepresentatividadedasinstituiçõesdemocrá-ticas.Emboratalafirmaçãopareçaumtruísmo,naverdade hácompreensõesdarepresentaçãoàesquerdaeàdireita doespectropolíticoparaasquaisaquestãodarepresen-tatividadeconstituiumfalsoproblema.Grossomodo ,épos-sívelidentificardentrodessaposturaperspectivascomoo positivismojurídicoeabordagenscentradasnodiretocivil, certominimalismoextremo,einterpretaçõespós-modernas edemocrata-radicaisdarepresentaçãopolítica.
taisefuncionaisconsagradasnaleiedeprocessosinstitu-63
cionaisdeautorizaçãodevidamentesancionados16.Nesse
sentido,quaisquerindagaçõesarespeitodacongruência dasdecisõesdorepresentanteemrelaçãoaosinteressesdo representadosãoexpulsasdoterrenolegaleinstitucional darepresentaçãoemsi,eremetidasaoplanodosmotivos subjetivospelosquaiscadaindivíduosesenterepresenta-do,deslocandoaproblemáticadarepresentatividadepara oterrenodapsicologia17.Arepresentaçãoexisteporque
seufulcroéumanormapositiva,masofatodeelaserem maioroumenormedidarepresentativaéumjuízosubjeti-voemoralalheioàpróprianorma.Tambémnoterrenodo direitofoicomumrecusararepresentaçãopolíticacomo meraficçãoquetomavaemprestadoonomeeosentidoda representaçãoprópriosdodireitocivil,semcontar,toda-via,comalicercesjurídicosequivalentes:responsabilização ouimputabilidadedorepresentanteemandatoimperati- voouinstruçõesquantoàmatériadarepresentação(Sar-tori,1962:9-86).Nessestermos,arepresentaçãopolítica seriaumaficçãoideológicasemquaisquerfundamentos jurídicos.
Concepçõesminimalistasextremastambémreduzem arepresentaçãopolíticaapenasaosseuscomponentesins-titucionais,masfazem-nopormotivosdiferentes.Trata-se de“salvar”arepresentaçãodepurando-adosseuscompo-nentes normativos, mesmo se concebidos como núcleo normativomínimo.Taloperaçãoobedeceaointuitode
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separaraquestãodalegitimidadedaquestãodadefinição eexistênciaderepresentaçãopolíticaemsi;querdizer, desvencilhadaarepresentaçãopolíticadoseunúcleonor-mativomínimo,suadefinição“...defatonãoimplicaatuar parafavorecerosinteressesdealguémesequeraexistên-ciadequalquermecanismo‘apropriado’deautorizaçãoe prestaçãodecontas”(Rehfeld2000:2).Dessaperspecti-va,arelaçãoentrerepresentanteerepresentadoexistede fato,independentementedeelaserounãorepresentativa, peloqueaquestãodarepresentatividadedeveserexpulsa doplanoanalíticodarepresentaçãoemsieserreintro-duzidaapenasemumateoriadalegitimidade,opçãoque reputamosincorretaporesvaziaradualidadeconstitutiva da representação política moderna, condensada no seu núcleonormativomínimo.
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socialapontariamcomoúnicaalternativaparaarepresen- taçãodadiferença,ou,melhor,dadiferenciaçãocomopro-cessoemqueapenassetornapossívelrastrearosvestígios deumaunidadedorepresentável(Derrida,1982).
AconhecidacríticadeRousseau(1982[1762]:14-30) àrepresentaçãopolíticacomoumadelegaçãodavontade geral,porprincípioinalienável,éamostraemblemáticado quãoirreconciliáveléarepresentaçãocomconcepçõesradi-caisdademocracia,sejamelasrepublicanas,comunitárias, socialistas,libertáriasouversõesenfáticasdedemocraciapar-ticipativa18.Dessaperspectiva,arepresentaçãoestásempre
muitoaquémdesatisfazerexigênciasderepresentatividade, pois inevitavelmente produz uma deturpação da vontade políticaaserrepresentadadevidoàcisãoentrerepresentan-teerepresentado(Tenzer,1992;Keane,1988).Poroutras palavras,edemodogeral,invocandooargumentoerradoda escalanuméricaegeográficadassociedadescontemporâne-as,ademocraciaindiretaéreduzidaaumsimplessucedâneo defeituosodaverdadeirademocracia,queédiretaeconsubs- tanciaoidealdoautogoverno,ou,nopensamentorepublica-no,asoberaniadocorpopolítico(Araujo,23-24)19.Vistoque
representarsupõetornarpresentealguémoualgomediante
18.ComobemlembraBobbio(2000[1984]:60-61),pertencemàtradiçãodo pensamentosocialistaascríticasàproibiçãodomandatoimperativo,àrepresen-taçãodeinteressesgeraisemvezderepresentaçõesfuncionaisouorgânicasde interessesdedeterminadascategoriassociais,eàirrevogabilidadedomandato. Poroutrolado,vistoqueovalordaparticipaçãoécompatívelcomademocracia liberalecomapresençadepartidoscomoprincipaisatoresdoprocessopolítico (Macpherson,1978:113-138;Bobbio,2000[1984];SantoseAvritzer,2003),torna-seprudentequalificardeenfáticasascompreensõesdademocraciaparticipativa queconferemàrepresentaçãooestatutodeummal-necessário.
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afiguradealgumintermediário,nãoexistealgosemelhan-tea“auto-representação”,que,naverdade,éapresentação oupresença-participação.Odéficitderepresentatividadeé resolvido,assim,cancelandoaprópriarepresentação.
Paraessasposturas,aquestãodarepresentatividadeé umfalsoproblema,oraporquearepresentaçãoexisteese constituideformaplenanoplanomeramenteinstitucional, oradevidoaseucaráterficcionalouàimpossibilidadede resolveressaquestãoenquantoformantidaadelegaçãoque separarepresentanteerepresentado.Arigor,tambémcare- ceriadesentidopensaremumasupostacrisedarepresenta-çãonasdemocraciascontemporâneas–anãosernoplano dapercepção–,poisquaisquermudançaseventualmente responsáveisporela,apenasevidenciariamparasegmentos amplosdapopulaçãoaquiloquejáeraconhecidonocam-podosespecialistasacadêmicos,asaber,aimpossibilidade deassegurarouestreitarovínculoentrerepresentantee representado.
Porém,aoperaçãoanalíticaprudenteparanãosupri- mirascaracterísticastipicamentemodernasdarepresenta-çãotemsido,pelomenosdesdeaformulaçãocanônicade Burke(1942[1774]),preservaronúcleonormativomínimo darepresentaçãodemodoquesegarantaaindependência dorepresentantesememancipá-locompletamentedocon-troledorepresentado(Pitkin,1967:1-13,209-240;Sartori, 1962:19-29,47-57;Bobbio,2000[1984]:53-76;Przeworski etal.,1999:2-3).Istoé,arepresentatividadedasdecisões políticas–ou,poroutraspalavras,se,emalgumamedida, orepresentanteageembenefíciodorepresentado–,conti- nuaaserumproblemaincontornáveldateoriademocráti-ca,inclusivepararenomadosdefensoresdecompreensões minimalistasdaprópriademocracia20.
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Transformaçõesdarepresentaçãoeademocracia
AlongodoúltimoquarteldoséculoXXtornou-selugar comum a afirmação de que a vitalidade e qualidade da democraciaacusavamosefeitoscorrosivosedespolitizado-resdastransformaçõesestruturaisacontecidasnoplanoda economiaedoEstado,comprometendoacapacidadede representaçãodeinteressestalcomoforacristalizadapela consolidaçãodademocraciadepartidosedosindicalismo comoexpedientederepresentaçãofuncional.Assim,àscrí-ticascontra-culturaisdosanos1960,eàstentativasanalíticas coevasdealargarparticipativamenteademocracia(Pate- man,1970)paraalémdoseufigurinoliberal,foiacresci-do,nosseguintesdecênios,umconjuntodetransformações estruturaisqueopensamentoacadêmicoepolíticosigni-ficarammedianteamultiplicaçãodovocábulo“crise”:dos partidos,dapolítica,dademocracia,darepresentação.
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dademocracia,dapolítica,edospartidosconstituemmani-festaçõesdeumprocessodereconfiguraçãodarepresentação que,hojecomooutrora,nãoapenasnãocomprometeas instituiçõesdogovernorepresentativo,masasrepõepermi-tindosuacontinuidadeplena.
Avolatilidadedoeleitorado,aquedanospatamaresde comparecimentonasurnas,odescréditogeneralizadodas instituiçõespolíticas,bemcomooutrasmúltiplasexpressões dodefinhamentodospartidosdemassas21
,recebemconfir-maçãonessaleitura,porém,noquadrodeumprognóstico controverso:areconfiguraçãodarepresentaçãoemcurso incorporariafeiçõesmuitopróximasdomodeloparlamen-tarliberal,respeitandointegralmentetodososprincípiose característicasinstitucionaisbásicasdarepresentaçãopolíti- camoderna.Issoporqueafiguradocandidatoeseusvín- culosreaisousimbólicoscomoseleitoresteriamrecupera-doaimportânciaperdidapelaemergênciadospartidosde massasedasgrandesclivagensprogramáticaseideológicas, semcolocaremxequeasprópriaseleições,nemosdireitos políticosbásicosdacidadaniaesequeromandatorepresen-tativoouautonomiadosrepresentantesperanteosdesejos dosrepresentados.Emúltimaanálise,emergeamídiacomo elementopreponderantena“emancipação”doscandidatos emrelaçãoàsestruturaspartidárias,graçasasuacapacidade deligá-lossimbolicamentecomoseleitoresdispensandoa manutençãodascustosasestruturasdeenraizamentoemobi- lizaçãodospartidosdemassas.Porisso,arepresentaçãopolí-ticacaracterísticadademocraciadepartidosestariaaceder
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passoaumarepresentaçãopolíticaprópriadademocracia depúblicos(audiencedemocracy)(Manin,1997:218-234).
Nãosetratadediagnósticoúniconoquedizrespeitoà propostadeequacionarasupostacrisedarepresentaçãoem termosdeumareconfiguraçãohistórica.Porexemplo,em termossemdúvidamaispolêmicos,MarcosNovaro(2000) confereaoretornodeliderançascarismáticasnoexecutivo federaloestatutodepeça-chavedareconfiguraçãodarepre-sentação.Ocrescentepluralismosocialeadiversificação dascategoriassocioeconômicasteriamlevantadoenormes dificuldadesparaoprocessamentodedecisõesvinculantes eparaaconstruçãodepercepçõescoletivamentecomparti- lhadasacercadeprioridadespolíticasedosmeiosadequa-dosparaatingi-las.Perantetaisdificuldades,eexplorando emregistropositivoaquiloqueBourdieu(1987)chamara de“fetichismopolíticodarepresentação”22,oautordefende
queliderançasplebiscitáriasdesempenhariam,hoje,afun-çãodepersonificaraunidadedavontadesocial;unidade porcertoinatingívelmedianteasinstituiçõescorporativas epolíticasqueespelharamecontribuíramparacristalizar asgrandesclivagenssociaisbaseadasnomundodotrabalho fordista.Partidosesindicatosteriamperdidoacapacidade decosturaridentidadesamplase,noseulugar,aslideranças tenderiamcadavezmaisaexpandirseupapeldeautoridade paraassumirfunçõesdecriaçãodeidentidades23.Opapel
dasliderançasplebiscitáriasnareconfiguraçãodarepresen-taçãoteriaadquiridoparticulardestaquenaconjunturada
implementaçãodasreformasestruturaisdasúltimasdéca- 22.Noseuconhecidoartigosobreofetichismodarepresentação,Bourdieuapon-taparaumaespéciedeparadoxodadelegação,segundooqualcoletivosamplos nãopreexistemàrepresentação,antes,aoenfrentaradisjuntivaentre“calarou seremfaladosporoutrem”,passamaseconstituirapenasapartirdomomentoem quesedotamderepresentante(Bourdieu,1987:158-172).
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das;reformasprecedidaspeloquesitodaconstruçãodecon-sensossociaisamplos24
.Vistoqueapersonalizaçãodapolíti-caemescalamassivarequerossuportestécnicosfornecidos pelosmeiosdecomunicação,tambémnestecasoamídia,e, emparticular,umasériedefenômenosestudadosnocampo dacomunicaçãopolítica,emergemcomoalicercesdopro-cessodereconfiguraçãodarepresentaçãopolítica.
Assim,nosseusdiagnósticosacercadastransformações darepresentação,Manin,Novaroeoutrosautores(Miguel, 2003a; 2003b; Thompson, 2002) confluem ao apontar o papel preponderante da mídia como fator subjacente à reconfiguraçãoporelesanalisadas.Nessesentido,incorpo-ramàreflexãoacercadarepresentação–temáticaquase exclusivadaciênciaefilosofiaspolíticas–umrepertório deargumentoseconhecimentosavançadosnocampoda comunicaçãopolítica,emquesetematentadodemodo insistenteparaarelevânciadeumespaçopúblicomidiático capazdeelaboraradifícilauto-representaçãosimbólicada sociedadeearelaçãodestacomomundodasinstituições políticas(Ferry,1992;Touraine,1992;Wolton,1992e1998; Thompson,1998;Miége,1998).Arepresentaçãopolítica (reconfigurada)seriaaindapossívelnamedidaqueacons-truçãodepercepçõescomunsacercadeprioridadessociais e a conexão simbólica entre sociedade e governo, entre políticosecidadãos,contamcomamídiacomonovains-tânciademediaçãoadesempenharparcialmenteumpapel outrorareservadoapenasaospartidoseaoutrasinstâncias deunificaçãocoorporativacomoossindicatos.Assim,con-traleituras“apocalípticas”dosefeitosdamídianapolítica (v.gr.Debbor,1998;Sartori,1997),autoresengajadosnesse
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debate,ecomelesManineNovaro,optamporequacionar osmeiosdecomunicaçãonãocomosubstituiçãodapolíti-ca,mascomoumadassuascondiçõesdepossibilidadeno mundocontemporâneo25.
Porém,permaneceempéumaquestãocentral.Embo-rasejaumavançonotávelmostrarqueaschamadas“crises” dademocracia,dapolíticaedospartidosconstituem,na verdade,interpretaçõesimprecisasdetransformaçõesem curso–graçasàsquaisarepresentaçãopolíticaestariaase reconfigurar,permitindoofuncionamentodasinstituições dogovernorepresentativoedademocraciasobnovascon- diçõeshistóricas–,cabeindagarosefeitosdessastransfor-maçõesparaademocracia.Quais,afinal,asconseqüências dessastransformaçõesparaaqualidadedademocracia,que erodemacentralidadedospartidospolíticoscomoorde-nadoresdarelaçãoentrerepresentanteserepresentados, introduzindo a mídia e seus vínculos “intimistas” como novasinstânciasdemediação?Poroutraspalavras,érele-vanteresponderseasinstituiçõesdademocraciaserãomais oumenosrepresentativasemdecorrênciadareconfigura-çãodarepresentação.
EmManin(1997),asinstituiçõesdademocraciarepre- sentativasobrevivemvigorosas,masdissonãoderivanenhu-manotíciapositivaacercadeeventuaisavanços,mesmoque mínimos, na representatividade da própria democracia. Quiçáacompreensãodoautorquantoaogovernorepresen-tativocomoummododegovernoaristocráticocontribuaa explicaradesproporçãoentresuaeloqüêncianodiagnósti-codareconfiguraçãodarepresentaçãopolíticaeosilêncio quantoàssuasconseqüênciasparaademocracia.EmNova-ro(2000:265-275),emboraapersonalizaçãodapolíticana figuradaliderançaplebiscitáriapermitaprocessardecisões
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queaglutinamumavontadepolíticasobreomundo,tam- poucoháquaisquermotivosparaesperarqueodecisionis-motorneademocraciamaisrepresentativa.Aindaassim, paraposturasoutrasquenãoaquelasquereputamaquestão darepresentatividadeumfalsoproblema,ararefaçãodos játênuesvínculosdecomunicaçãoecontroleentrerepre- sentanteserepresentadosconstituiumdesafioparaapró-priademocracia.OprópriopensamentodeManin(1999; enestevolume:105-138),emparceriacomSusanStokese comumsólidodefensorminimalistadademocraciacomo AdamPrzeworski26,éaesserespeitobastanteelucidativo.
Deumlado,apósanáliseexaustivadaspossibilidadesefe-tivasdeescolhaecontrolepermitidaspelovoto,osautores concluemqueaseleiçõesconstituemumvínculodesanção eorientaçãosobreosrepresentantesparticularmentefraco (Maninetal.nestevolume:105-138);deoutro,cientesdos custosdeumfococentradoexclusivamentenovoto,eles aceitamqueas“[...]eleiçõesnãosãooúnicomecanismoquepode induzirgovernosaatuardemodorepresentativo”(Maninetal., 1999:19;destaquenosso),introduzindonasuaanáliseaava-liaçãodeeventuaisefeitosdecorrentesdadivisãodepoder naestruturadegoverno.Osresultadosdetaloperação,em quetambémparticipamoutrosespecialistas(Przeworskiet al.,1999),sãodiscrepanteseinconclusivos.
Malgradoaimpossibilidadedeverificarquaisquerefei- tosdadivisãodepodernamaiorcapacidadedoeleitora-doparasancionarouorientarasaçõesdosgovernantes,e plausivelmentecomointuitodeevitareventuaismal-enten-didos derivados da ausência de notícias promissoras na suaanálise,osautoresexplicitamseucompromissocomo aprimoramentodademocracia:“Essenãoéumargumento
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contraademocracia,masporumareformaeumainova-çãoinstitucional.Nósnecessitamosdeinstituiçõeseleitorais queaumentematransparênciadaresponsabilidadeefaci- litemparaoscidadãosrecompensaroupunirosresponsá-veis[...]precisamosinstituiçõesqueforneçaminformações independentessobreogoverno[...]”.(Maninetal.,neste volume:133).Tambémconsideramnecessáriaamultiplica-çãodeagênciasgovernamentaisdecontrole(accountability agencies ),independentesesujeitasaocontroledapopula-ção(Maninetal.,1999:24).
Na postura dos autores cabe destacar duas questões relevantesquantoàrelaçãoentrereformadademocracia, deumlado,etransformaçõesedesempenhodarepresenta-çãopolítica,dooutro.Ambasparecemsignificardemodo emblemáticoosalcanceseimpassesdasabordagenstradi- cionaisdaciênciapolítica–centradasdemodoquaseexclu-sivonasinstituiçõesdosistemapolítico–paralidarcom a problemática da representatividade das instituições da democraciaecomadefiniçãodeumaagendadereforma dademocraciapreocupada,precisamente,comaabertura de horizontes para a inovação institucional. Simultanea- mente,ambasasquestõesconstituemdeslocamentosanalí-ticosquesinalizamoespíritodotempo.
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umhorizontedereflexãoeinovaçãoarespeitodemecanis-mosdecontroleeinduçãooutrosquenãoosatreladosàs eleiçõeseseusatores–partidos,candidatosecidadãos.Ade- mais,econseqüentemente,sugere-sequeadivisãoeorga-nizaçãodatomadadedecisões–divisãodopoder–pode induzirgovernosaatuaremdemodorepresentativo;divisão, porcerto,passíveldeserdesenhadademodoquesemelho-reouseconstruarepresentaçãopolítica.Daíapertinência deproporagênciasdeprestaçãodecontasindependentes.
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27.Paracaracterizaçõesdessasreformasdestinadasaampliaroespaçodapartici-paçãosocialnohemisfériosul,verostrabalhosdeGrindle(1999),Santos(1998e 2002b),PereiraeGrau(1988).ComomostradonotrabalhodeGaventa(2004)e deFungeWright(2003),asreformastambémpenetraramohemisférionorte.
representantesdedeterminadossegmentosouinteressesda população(GurzaLavalleetal.,2005;2006)27.
acessoàpolítica.Talveznãosejamefetivas,massãoigua-76
litárias”(Przeworski,2002:81).Seeleiçõesconstituemum mecanismoreconhecidamenteimpotenteoulimitadopara evitarumadistensãoexcessivaentrerepresentanteserepre-sentados,talcomosustentadoporeleeporboaparteda literatura,encerrarodebateacercadopapeldasociedade civilparaofuncionamentodademocraciaargüindoaíndo-lemaisigualitáriaeuniversalistadessesmecanismosresulta umaopçãopoucosensívelàspossibilidadesdaquiloaqueo autordissevisar:ainovaçãoeexperimentaçãoinstitucional paraareformadademocracia.
Democraciaparticipativa:earepresentação?
Aexploraçãoanalíticadehorizontesdeexperimentaçãoins- titucionalparaareformadademocraciatemsidopreocupa-çãomuitomaisincisivaepersistenteemoutraconstelaçãode autoreseagendasdepesquisa,emgeralnãocentradosnas instituiçõespolíticas,masnascapacidadesdeinfluênciae racionalizaçãodasociedadesobreopoderpolítico.Osesfor- çosporidentificarexpedientescapazesdemoldarosconte-údosproduzidospelasinstituiçõesdademocraciademodo quesetornemmaispróximosdosanseiosenecessidadesda populaçãotêmperfiladodistintasagendasdepesquisaatre- ladasaumnúcleocomum:oaprofundamentodademocra-ciaou,sesequerdemaneiraaltissonante,ademocratização dedemocracia(Santos,2002).Decertaforma,essasagendas debruçam-sesobreumaproblemáticadelimitadaporduas grandesbalizas:deumlado,oabandonodasutopiasrevo-lucionáriaseaconvicçãonormativadovalordademocracia comomarcoinstitucionalparaprocessaramudançasocial; dooutro,acríticaaodomíniodascompreensõesmeramen-teinstitucionaisdademocraciaeoempenhodereintroduzir questõessubstantivasnocampodateoriademocrática.
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amplas:naparticipaçãodapopulação,nasociedadecivil enaúltimageraçãodeinovaçõesinstitucionaisque,pro-movidaspelomundoafora,visamaacolherdiversasformas departicipaçãoemarcabouçosinstitucionaisdedesenhoe implementaçãodepolíticaspúblicas.Nostrêscasos,éclaro, háumaperspectivasocietáriaouumaapostanaspotencia-lidadesdecontroleetransformaçãogradualde“baixopara cima”.Assim,asinovaçõesinstitucionaissãopensadas,nor- malmente,apartirdasperspectivasanalíticasdaparticipa-çãoedasociedadecivil.
Curiosamente,essasagendascentradasemdinâmicas societáriasparapensarareformadademocraciatêmpresta- dopoucaounenhumaatençãoàstransformaçõesdarepre-sentação,e,emgeral,têm-lhespassadodesapercebidoo papel dos atores da sociedade civil enquanto atores que realizamfunçõesderepresentaçãopolítica.Isso,adespeito deasinovaçõesinstitucionaisparticipativasteremestimula- do,naprática,oengajamentodediferentesatoresdasocie-dadecivil,cujaparticipação(representandoalguém)não raroéjuridicamenteestatuídaemtermosderepresentação (Houtzageretal.,2004).Adespeitodacomplementaridade entreparticipaçãoerepresentação–pelomenosemcom- preensõesnãoextremasdovalordaparticipação,aausên-ciadasegundaproblemáticanessesdebatesésistemáticaa pontodecausarespanto28.Sãorarasasexceçõesquetêm
formuladoexplicitamenteumaconexãoentretransforma- çõesdarepresentaçãoenovasfunçõespolíticasderepre-sentaçãoassumidasporatoressocietários29.
28.Vernotas18e19.
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30.Paraaliteraturadeaprofundamentodademocracia(deepeningdemocracy),ver ostrabalhosdeHeller(2001enoprelo),Fung(2004),FungeWright(2003),e Santos(2002b);paraasabordagensdetransparênciaecontrolessociaisdasins-tituiçõespolíticas(socialaccountability),verArato(2002),PeruzottieSmulovitz (2002);paraoenfoquedefortalecimentodacapacidadedeaçãoeparticipação dasociedadenagestãopública(empoweredparticipation),verFungeWright(2003); paraaperspectivadademocraciadeliberativa,verHabermas(1993,1995e1998), GutmanneThompson(2004),eostrabalhosemBohnmaneRehg(2002)eem Elster(1998).Aliteraturadasociedadecivilémuitomaiore,porvezes,também associadaacríticasradicaisdademocracia(v.gr.Keane,1992),masaquiremete fundamentalmenteaotrabalhodeCoheneArato(1992),edeacadêmicosvin-culadosaessaperspectivanaAméricaLatinacomoAvritzer(1994,1997),Olvera (2003),Panfichi(2003).Aindadentrodaliteraturadasociedadecivil,masem perspectivahabermasiana,tambémostrabalhosdosanos1990deCosta(2002).
Diversosmotivospodemanimaressedescuido.Quiçá ofatodearepresentaçãopolíticaestaratreladahistorica- menteàsinstituiçõespolítico-eleitoraistenhainduzidocer-tacautelaouhermetismodeabordagenscentradasemuma perspectivasocietária.Difícilnãoreparar,deoutrolado, que a questão da representação introduz interrogações espinhosasacercadarepresentatividadedosatoresdasocie-dadecivil,peloque,evitaraprimeira,porcerto,permite esquivarassegundas.Sejacomofor,osmotivosqueaqui interessamsãodecaráterconceitual,istoé,dizemrespeito aoscustoscognitivosemmaioroumenormedidaassocia-dosadeterminadasescolhasanalíticas;especificamente,à idéiadeparticipação,eacertacompreensãodaidéiade sociedadecivilaltamenteestilizadaeunificadora.
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existemdiferençasdeênfases,focosedistinçõesanalíticas nessasagendas;todavia,éfácilidentificartraçoscompar-tilhadosque,conectadosàidéiadeparticipaçãoeacerta compreensão da sociedade civil, exercem efeitos de blo- queiosobreapossibilidadedeseconceberaaçãodosato-ressocietárioseasdinâmicasparticipativasemtermosde representaçãopolítica.
Primeiro,asagendasvoltadasparaareformadademo-cracia descansam, em maior ou menor medida, em con-cepçõesestilizadaseunificadorasdasociedadecivil,não raro obliterando tanto diferenças internas relevantes no terrenodosatoressocietáriosquantointeraçõespresentes nasinterfacesentreasinstituiçõespolíticasetaisatores31.
Nessaconcepção,asociedadecivil,revigoradaemdiversos contextosregionaisdomundonoúltimoquarteldoséculo XX,compareceriaaoencontrocomoEstadocomoagente deracionalizaçãodaaçãopúblicaededemocratizaçãodas decisõespolíticas;agenteque,porsinal,estariaguiadode mododialógicoecomcapacidadeseconvicçõespreviamen-tedefinidasporqueemanadasdoseuarraigogenuínono
Dealgumaforma,tambémotrabalhomaisrecentedeAvritzer(2003),centrado naidéiadepúblicosparticipativos.
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tecidosocial.Introduz-se,assim,opressupostodeumacerta continuidadeouconexãonaturalentreumblocodeatores societárioseasociedadeoualgunssegmentosdela–isto é, entre sociedade civil e sociedade –, tornando descabi-dasindagaçõesacercadosprocessosderepresentaçãoque vinculamambos.Bastalembraraesserespeito,comPitkin (1967:60-91),querepresentação,pordefinição,supõedife-rençaedistância,nãoidentidadeecoincidência,entrea representaçãoeaquiloqueérepresentado.
Segundo,asagendasdepesquisaedeintervençãovol-tadas para a reforma da democracia se encontram forte-menteatreladasàidéiadeparticipação,oracomopresença diretadaspessoaseventualmenteafetadasoubeneficiadas por decisões públicas, ora como deliberação face-a-face. A participação de grupos e camadas da população tidas comosuboumal-representadasnoslócusdarepresentação políticaconstituiria,assim,expediente-chaveaestimularo melhorfuncionamentodasinstituiçõespolíticas.Defato, parapartesubstancialdaliteraturaadiferençacrucialentre participaçãodecidadãoseparticipaçãodeassociaçõestem passadodesapercebida,ocultandoaproblemáticadarepre-sentaçãoinerenteaosegundotipodeparticipação32.Se,às
vezes,aprópriaidéiadeparticipaçãoparecesobrecarregada deexpectativasquantoaosseuseventuaisefeitospositivos paraaprimoraraqualidadedademocracia33,elatambém
revela-secognitivamenteempobrecedoraquantoàpossibi-lidadedesepensarnarepresentação.Aparticipaçãosupõe
32.ParaumacríticaàausênciadetaldistinçãonaliteraturaverHoutzageretal. (2003e2004)
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oenvolvimentodiretoouapresençadosujeitodessaparti-cipação–indivíduos,cidadãos,trabalhadores–,enquanto arepresentação,nomelhordoscasos,éummomentopos-terioràparticipação,doqualficamincumbidasinstituições deagregação.Assim,umavezassumidooregistrodapar-ticipação,parasepensarnoaprimoramentodasconexões entreinstituiçõespolíticasedinâmicassocietárias,tornam-secarentesdesentidoperguntasacercadarepresentação exercidaporatoressocietários.Afinal,conformejáadver- tido,participaçãoéauto-apresentação,enquantorepresen-taçãoremeteaoatodetornarpresenteporintermédiode outremalgooualguémausente(Pitkin,1967:8-9).
Aforçadosefeitosdebloqueioderivadosdessasduas escolhasanalíticastorna-sepatenteseconsideradooquan-todinâmicasderepresentaçãopolíticaestãopresentesem fenômenosnormalmenteestudados,pelasagendasdeapro- fundamentodademocracia,sobaóticadaparticipação.Bre-veexemplopermitirámostrarcomeloqüênciaaquestão. Emdiversospaíses,mudançasfavoráveisàintroduçãode controlessociaisnagestãopúblicatêmabertonovoscanais de participação a cidadãos e de representação política a atoressocietários,emboratalrepresentaçãoraramenteseja examinadaenquantotal.OBrasiltornou-sereferênciado debateinternacionalacercadoaprofundamentodarefor-madademocracia,precisamente,graçasàondadenovas experiênciasparticipativasnadefiniçãodeprioridadesou nodesenhodepolíticaspúblicas,enquadradasinicialmente naConstituiçãode1988ouemadministraçõesmunicipais sobocomandodoPartidodosTrabalhadores,notadamente conselhosgestoreseorçamentoparticipativo34.Osconselhos,
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mentáriasparafinanciarprojetoseimplementarsuaspró-priasdecisões;noentanto,naestruturafederativacompete aosexecutivosfederal,estaduaisemunicipais,bemcomoao Congresso,àsAssembléiaslegislativaseàsCâmarasdeVere-adores,sancionaraspeçasorçamentáriasanuais.Assim,as inovaçõesinstitucionaisparticipativasesuaregulamentação instituíramprincípiosefunçõesconcorrentesderepresen-taçãopolítica,suscitandoconflitosquando–comoacontece comfreqüênciaelargueza–aspropostasdosconselhossão modificadaspelospoderesexecutivoelegislativo35.
Nosconflitosentrerepresentantes,ouseja,entrecon- selheiroselegisladores,ambasaspartescontamcomlegiti-midadeprópria,emanadaoradasurnas,oradosprocessos deescolha–inclusiveeleições–definidospelasrespectivas leisdecriaçãodosconselhos.Aindaqueemproporções ecomabrangênciamuitodiferentes,tambémemambos oscasosadeterminaçãodeprioridadesorçamentáriasfaz partedasatribuiçõeslegaisquedelimitamoâmbitoecom- petênciasdarepresentaçãolegalmenteinstituída.Ocon- flitolegalmenteinstituídoentreprincípiosderepresenta-çãoevidencia,paradizê-locomDagnino(2002:290-293), oquantoossentidostradicionaisdarepresentaçãopolítica aparecem sistematicamente deslocados. Por outras pala- vras,osprocessosdetransformaçãodarepresentaçãopolí-ticavivenciadosnopaísnosúltimosanostransbordaram parcialmenteasfronteirasdaseleições,enveredandopara ocontroleerepresentaçãosociaisnasfunçõesexecutivas
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do governo, especificamente em determinadas áreas de políticaspúblicas.Nessedeslocamento,osatoressocietá-riosdesempenham,defacto ,funçõesderepresentaçãopolí-ticaconsagradasdejure,emborapermaneçamincógnitas acercadoseventuaiscritériosquealicerçamalegitimidade dessasfunções.
Adespeitodeconflitossemelhantessemultiplicarem (Gomes da Silva, 2003; Laisner, 2005), são literalmente excepcionaisosestudosque,sedesvencilhandodoregistro daparticipaçãoecontornandoseuscustoscognitivos,vis-lumbramopapelderepresentaçãopolíticaexercidopelos atores societários com cadeira nos conselhos e levantam questõesacercadosdilemasdarepresentatividadeenfren- tadosporessesatoresepelosprópriosconselhos(v.gr.Pin-to,2004)36
.Pareceóbvioquearepresentaçãopolíticarea-lizadaporatoressocietáriosconstituifronteiracríticapara pensarareformadademocracia,e,porconseguinte,para odebatecontemporâneotravadopelasliteraturasvoltadas paraoaprofundamentodademocracia;contudo,eembora pormotivosdiferentesaosdaliteraturadareconfiguração darepresentação,taisliteraturassãopoucopropíciaspara refletirnasfunçõesderepresentaçãopolíticaexercida,pre-cisamente,poratoresdasociedadecivil.
Representaçãovirtual,pluralizaçãoediversificação
Há dois fenômenos no processo de transformação da representação que não parecem passíveis de compreen-sãocabal,dopontodevistadassuasconseqüênciasparaa
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denamentodeelementosprópriosàsinstituiçõesclássicas da representação política. Tampouco é possível explorá-lossatisfatoriamenteapartirdepropostasdereformada democraciacentradasnaidéiadedemocraciaparticipativa. Oprimeiroéaemergênciadenovasinstânciasdemedia-çãoentrerepresentanteserepresentados:amídia,éclaro, masnãosó,tambémconstelaçõesdeatoresintermediários nãomaisordenáveispelasgrandesclivagensideológicase socioeconômicas das democracias de partidos de massas esuasgrandescentraissindicais.Osegundo,maisrecente ecominterfacescomoprimeiro,éamultiplicaçãodeins-tânciasdeparticipaçãocidadãederepresentaçãocoletiva incumbidasdadefiniçãodeprioridadespúblicasedodese-nhoesupervisãodepolíticas.Àmargemdacentralidade adquiridapelamídia–queexigiriaumaanáliseespecífica–, nainterseçãoentreessesdoisfenômenos,ouseja,entrea proliferaçãodeatoressocietárioseaaberturadeespaços participativos,vêmocorrendoprocessosinéditosdeexperi- mentaçãoinstitucionalqueiluminamohorizontederefor- madademocracia,apontandoparaapluralizaçãodosato-rescominvestiduraprópriaaodesempenhodefunçõesde representaçãopolítica,eparaadiversificaçãodolócusem queelaéexercida37.
Novosmediadoresestãoaexercerdefactoedejure fun- çõesderepresentaçãopolíticaemnovoslugaresderepre-sentação38.Emlatitudesasmaisdiversas,atorescoletivos
37.Apluralizaçãodosatoreseadiversificaçãodolócusdarepresentaçãopare- cemseinscreveremumatendênciamaisampladepolicentrismo(verHoutza-ger,2003).
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têmdemandadoe/ouGovernostêmpropostoepassadoleis destinadasaampliarosmecanismosdedemocraciadireta –iniciativapopular,referendum,plebiscitos–eaintroduzir aparticipaçãodeatores(representantes)dasociedadecivil nosprocessosdeformulaçãodepolíticas39.Aquiealhures,
comalcanceseefeitosdiferentes,essesatorestêmamplia-doconsideravelmentesuacapacidadedeinterlocuçãocom governossubnacionaisenacionais,bemcomocomagên-ciasmultilateraiseorganizaçõesinternacionais.Paraalém dadiversidadedepaísesemqueeleocorre,aimportância dessefenômenovemàtonaquandoobservado,nasuainsti- tucionalizaçãoparcialedaperspectivadareformadademo-cracia,comoumacomposiçãodediversoslugaresoupisos derepresentaçãoqueprefiguramtraçosdeumademocra-ciaerepresentaçãopolíticapós-liberais,paradizê-locom Schmitter (2005). Pós-liberais não porque orientadas a substituirospartidoscomoinstânciasdemediaçãoentre representanteserepresentados,nemovotocomomecanis-modeautorizaçãoesanção,masporqueapluralizaçãoe diversificaçãodarepresentaçãoalevamaondeaseleições eseusatoresacusamlimitesestruturais40–notadamenteo
controlesobreasburocraciasearepresentaçãocoletivaou degrupossemexpressãonuméricasuficienteparapesarem nalógicadapolíticaeleitoral.
Com maior precisão, a representação exercida por atoresdasociedadecivilécoletivaeocorreatravésdeum conglomeradoheterogêneodeorganizaçõescivisqueatu- amemnomedesubpúblicose/ouminicomunidades,dife- rindodarepresentaçãodeinteressespessoaisoudeindiví-duos,própriadademocracialiberal,semcorresponder,no extremooposto,comarepresentaçãodobemcomumou
39.Vernota27.
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41.Éclaroqueossindicatosrealizaramecontinuamarealizarfunçõesderepre-sentaçãoperanteoEstado,porexemplo,parapressionarpeloaumentodosalário mínimoouemcontextosdecorporativismodeEstado;contudo,atenta-seaqui apenasparaainexistênciadeumanegociaçãoentrepartesprivadasnocasodos novosespaçoseatoresdarepresentação.
danação,característicadatradiçãorepublicanaedecom- preensõesnãoliberaisdaprópriarepresentaçãoedosinte-ressesmedianteelasalvaguardáveis(Pitkin,1967:168-208). Semdúvida,ossindicatossãooexemplomaisnotávelde representaçãodegrupoaolongodoséculoXX,maspou-coounadacoincidemcomofenômenodediversificação dolócusepluralizaçãodosatoresdarepresentaçãopolíti-caacontecidonosúltimosanos:emvezdeumanegociação entreagentesprivadosnomercado(empregadoreempre- gado),mediadapelalegislaçãotrabalhista(Estado)e,quan- donecessário,porinstânciasdearbitragem,arepresenta-çãoéefetuadaprincipalmentejuntoaosórgãosdecisórios –executivos–doEstado41
;emvezdeummodeloorganiza-tivoúnico(sindicato),munidocomespecificaçõesquanto aovínculocomosrepresentados(filiação)eaosdispositivos deprestaçãodecontasesanção(eleiçõesinternas,desfilia-ção),asentidadescivispossuemformatosorganizacionais osmaisvariadoserelaçõescomseuspúblicosnemsempre explícitasouclaras,porvezes,apenassimbólicas.