GOVERN
COMPLEMENTARES
E O ERRO DO PT
O
partido governista não teve competência para investir na qualificação de
trabalhadores} ampliar a infraestrutura e conduzir as reformas estruturais.
Marcos Cintra *
O
PT se vangloria dizendo que a inclusão de 30 milhões de pessoas na classe média é obra exclusivamente sua . Po-liticamente, o partido tem colhido frutos com esse discurso. Cumpre dizer, porém, que a redução da pobreza nos últimos anos só foi possível porque tudo começou a ser preparado no início dos anos 1990, através de ações complementares de vários governos. Outro aspecto importante a ser colocado é que os petistas cometeram um grave erro ao não darem continuidade às reformas iniciadas vinte anos atrás e hoje isso está comprometendo seriamente acompetitividade da economia do país, colocando em risco os ganhos sociais dos últimos dez anos .
No governo Fernando Collor começou a abertura da economia brasileira. A históri a dos carros que pareciam "carroças" é emblemática. O país era muito fechado e isso desestimulava as inovações. Além disso, foi nessa época que começaram as privatizações . As estatais eram um poço sem fun -do que absorvia os recursos públicos .
de preços. O Plano Real eliminou a hiperinflação. No governo Fernando Henrique as priva -tizações continuaram. Medidas como a Lei de Responsabilidade Fiscal, o regime de metas de inflação, o câmb io flutuante e a política de su-perávit fiscal foram determinantes para a esta-bilização da econom ia.
O PT encontrou o cam inho pavimentado para im plement ar polít icas sociais de grande en-ve rgadura. No goen-verno Lula os benefícios das privatizações, da abertura externa e da política de estabilid ade macroeconômica dos anos an-teriores deixaram tudo pronto para um amplo programa de redistribuição de renda, a grande bandeira petista.
O desemprego em queda, a renda em alta e os programas de assistência social tiveram um efei-to político magnífico para o governo petista, que apenas preferiu curtir esse impacto.
Esse foi um momento decisivo para o país implementar uma nova rodada de mudanças estruturais como as dos anos 1990 vi sando a tornar a econo-mia mais competitiva. Mas, o partido não teve competência para investir na qualificação de trabalhadores, ampliar a infraestrutura e conduzir as reformas estruturais.
Como é possível melhorar a qualidade dos tra-balhadores com uma educação fundamental de péssimo nível como a brasileira? Em termos de
infraestrutura pouco foi feito . O PAC é um fiasco e as recentes concessões de aeroportos e na área de logística ocorreram por necessidades de mo-mento e não por conta de uma visão estratégica do governo . E as reformas tributária e trabalhista? Por que não foram feitas?
O PT defende um Estado "grande e forte " para dirigir o Brasil. Pois bem, essa visão deveria ter sido usada para dar cont inuidade às reformas iniciadas nos anos 1990. O partido deveria ter feito aq ui o que a Coreia do Sul fez há muito tempo invest indo pesado na educação. Deveria ter sido implacável na punição da corrupção que desvia dinheiro público para financiar políticos. Deveria ter gerido os projetos de infraestrutura buscando juntar eficácia com eficiência . Deveria ter feito uma reforma trabalhista acabando com o absurdo de um trabalhador custar para uma empresa mais de 1 00% do seu salá, rio , um dos custos mais elevados do planeta. Deveria ter tido a coragem de jogar duro em favor de uma reforma ampla e profunda em um sistema tribu -tário injusto e ineficiente que penali za a classe média e a produção .
*Marcos Cintra é doutor em Economia
pela Universidade Harvard (EUA),
pro-fessor titular e vice-presidente da Fun-dação Getulio Vargas. •