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A comédia desclassificada de Martins Pena.

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Academic year: 2017

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A COMÉDIA DESCLASSIFICADA DE MARTINS PENA

Iná Camargo COSTA *

RESUMO: Após indicar o caráter ideológico e conceitos básicos habitualete mobilizados em análises a literatura dramática, este estudo tenta ostrar que é possível exergar mais longe quando nos livramos dos limites por eles impostos. Detectada a fudentação classista a história do teatro o Brsil, a luta ieológica parece como um reletor cpaz de ilumiar aspectos oralente obscurecidos ds cmédias de Martis Pea.

UNTERMOS: Teatro modero; drma; comédia e costmes; coédia draática; alta coédia; frsa; litertura drática; teatro épco.

1 . PRÓLOGO

A confusão conceitual existente no Brasil a reseio do atro mdeno já podia er observada no século pasado, emora seu conteúdo nem sempre eja o mesmo. Ela aparece, or exemplo, no aplauso de José de Alencar ao tearo Ginásio Dramático, dirigido elo francês Emile Doux. Conforme a avaliação do nosso omancista e tamém damaturgo, o Ginásio ea inrdzido no Rio de Janeiro a "verdadeira" escola mdea

*

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(Cf.

I, p.

3 1 -7). O repreenante da al ecola mdena era nada menos que Alexanre Dumas Filho, embora, para Alencar, Moliere, Beaumarchais e outros amém já zesem "tao meo".

Fzendo de maneira oblíqua uma avaliação do que teria sido o projeto luminene de fazer taro de acodo com a eno mdena escola parisiense ou, ra r nome aos ois, prduzir aqui dramas como os de Dumas Filho, que faziam grande sucesso de público, Vil ma Arêas descobre o grande mérito de Martins Pena: o abandono desse projeo em favor da comédia de costumes. Nas palavras de Vilma Aras, "volando-se paa o cotidiano brsileiro, Martins Pena deixa de ser 'mdeno' e se alva pra o futuro" (4, p. 1 10.). É ainda a ela que devemos a demonsaço da vanagem esética desa oção ela comédia de costumes no caso de Martins Pena. Para realizá-la, o comediógrafo voltou-se para o cotidiano das nossas classes populares, uma vez que o material isonível ("grnde" ciedade e eus hábitos cultuais) tinha racerísticas muio ouco popícis pra a elaoaço e rams. Pderamos crecenar que havia um abismo ene as exigências fomais do dama (dados os seus pressuostos sciis) e a matéria scil com que os candiaos a dramatrgo m trabalhr. Por isso o reincidene fracasso (ao menos de crítia) de quse toas as tenativas de criação do nosso "earo nacional" em chave drmáica, quano ese mesmo taro a endo feio em chave cômia. Daí a escie de mal-estr com que a intelectual idade contemorânea e mesmo óstera sempre viu o sucesso de público de cera comédia, empe relegada a um grau inferior na hierquia a e dramática. É com uma esécie de complacência que Joé de Alencar, or exemplo, "aplaude" Martins Pena, um dos fundadores do "teatro nacional", o mesmo que, na opinião de Alencr, aia estava por ser crio: "Dois ecritores ( . . . ) começm enre nós a escrever para o teao; mas a éca em que compuseram s suas bras devia influir sobre a sua escola. O primeiro, Pena, muito conhcido elas suas farsas gaciosas, pinava até cero onto os cosumes brasileiros; mas pinava-os em criicr, visava anes ao efeito moral; as suas obras são antes uma sátira dialogaa, do que uma comédia. Entretanto Pena tinha ese talento de obervação, e esa linguagem chistoa, que primm na comédia;· mas o desejo de aplausos fáceis influiu no seu espírito, e o escritor sacriIcou alvez suas idéias ao gosto ouco apurado da éca. Se tivesse vivido mais alguns nos, estou convencido de que, aciado dos eus triunfos, emprenderia uma obra mais elevaa, e inrduziria alvez o Brasil a ecola de Moliere e Beauírchais, a mais erfeia naquele temo" (2, p. 4).

Não é ouro, or sinal, o espírito com que Machado de Assis se referirá à obra do comeiógrafo: "Não falo do Pena, aleno sincero e original, a quem só faltou viver mais para aperfeiçoar-se e empreender obras de maior vulto" (9, p. 145). E quano à ermanência da idéia de que, se não o "teao ncional", elo menos a nosa literatura dramática ainda esperava por seu iniciador, veja-se a seguinte avaliação de José Veríssimo: "Sou dos que enam que temos obas dramáticas, que no ineresse de uma clssilcação e hisóia lieria deríamos mesmo falar num "tao brsileiro" em r à expressão senão um valor bibliográfico, mas que não seria veradeiro falar de uma "literatura dramática" basileira. E há muias causas a impedir-nos de er uma lieratura

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amática. sendo uma s principais, lm s puramene ciais, que o rama vive da idéia e da criação e aé hoje, lvo ma ou oua exceção que contrma a regra, a nosa literatura de tcção em proa ou vo é uma lieratura purmene emoiva ou descriiva" (15, p. 120).

Diga-se de passagem que o próprio Martins Pena partilhava dessa espécie de prcnceio contra a comia, como á mosrm Jaime Rrigus ( 1 3) e Vilma rs (4). Mas, antes que se eseleça um ério mal-entendido, é prcio escler m oco ese prcnceito e esringr o seu alcance. Como o prório exto e lenr acima cido indica, há, ou elo menos havia, um tio de comdia que tdos apciavam. Traa-e a chamada "ala coméa" ou, para usr o conceito mais precio de Lucs, da comédia dramática (8. p. 1 23) - o verdadeiro idal de nossa intelectual idade oitcentista que deejava intduzr no Brasil um imoante melhomento da vida mdena corrente na Eropa: o tao burguês em suas das vertentes, ou eja, o rama - idal mximo com o qual tdos sem exceção sonharam - e a sua versão humorística, or assm dizer, mais leve, que é a "ala coméia", da qual Moliere eria sido um dos maiores exenes, e cujo legítimo sucessor, na opinião de Alencar, era nada menos que Dumas Filho (não por acao, o seu próprio mdelo).

Não havendo nese momeno a nssidade e nos demormos sobre ee asco dos neios de nosa melhor inelctalidade, pa a demonsação e que o ideal de os, em se raando de comédia, volava-se para a comédia dramática. basa reprduzir algumas observaçes de Machado de Assis em emos de crítico teal. Num longo elogio a José de Alencar, trata de comprá-lo com Martins Pena. dando vantagem ao primeiro, e de mosrar que a eça Ro de Janeiro. verso e reverso dcumena uma fae de ansição em sua ramaturgia, exaamente no umo da alta comédia: "Verso e reverso deveu o om acolhimento que teve, não só aos eus merecimentos, senão amém à novidade da foma. Até então a comda basilera não prcuava os mdelos mais estimados; s obas do finado Pena, cheias de alento e oa veia cômica, prendiam-se intimamente às radiçes a fra ortuguea, o que não é desmerecê-las, ms detni-las; e o autor do Noviço vivesse, o eu lento, que ea dos mais auspiciosos, tria acompanhado o temo, e conociaria os rogessos a e mena s is de e clássica ( . . . ) Verso e reverso não era aina a la comédia, mas era a ciedade olida que enava o taro, ela mão de um homem que reunia em si a ftdalguia do alento e a fia cortesia do salão". E continua Machado de Assis: "A ala comédia apreceu logo deois, com O emônio familiar" (10. p. 21 1).

Este passo da crítica machadiana, além de dcumenar em termos lierais o que dizíamos, tem a vnagem de indir o conteúdo cial, mais preciamente, e classe do ieal dramático (o Basil como na Ero. diga-e). O problema do earo "nacional" (no cso, da comédia "do Pena") não estava nas suas ízes, ou nas ízes do eu mdelo, e sim no material selecionado elo drmaurgo: enqunto Mins Pena, na linguagem da comédia opular, punha no palco esatos das classs sublenas, inclusive ecravos, tdos lançados numa furioa luta ela sobrevivência - sempre de muito mau goso pra

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os coraçes "em fonados" -, José de Alenr, com os "poesos da e mdena", desconsiderava os usos e costumes "dessa gene" em favor dos problemas (mais "famlia") a "cieae olia" e, ainda or cima, cm conhcimento da "fma sia e slão". Em oucas palaras, ava-e de "elcionr melhor", com m ouco mais de "om gosto", f6nulas, temas, assuntos, etc., paa r ao aro feio or aqui a mesma "olidez" obervada por Alenar, ao correr da ena, nas atitudes da "gente bem" nos passeios, festas, comps, namoros, maneiras de vestir, de fr, ec. Enim, devolver a "chusma" a seu devido lugar - a aber, à plaéia, de onde oderia aprender "oas maneias" e "deliadezas de entimenos" com os exemplaes do ama e da comédia damáica que á vinam anuncds na p6a oa de Joé e Aler. Esa é uma fcea do prcesso ideol6gico da mdenização consevadoa em andamento naqueles emos, muito em insinuada or Flávio Aguir quando identiica o intuio "moralizador" da dramaturgia alencriana: "Alencr explica o nacimento da sua veia de dramaturgo em tenos moalisas ( . . . ): o estopim foi o fato de ver enhoras rrem dante de uma fra que, egundo ele, o pimava ela moalide e ela dcêcia da linguagem. Dí nceu­ lhe o impulso de fzer r em fazer cor; e dese, nceu sua primeira eça ( . . . ) Em tenos de repeenção, orano, esamos diante do mesmo impulso que leva Alenar a elogiar o Ginásio no Ao correr a pena: ele peza a circunsecção, a elegância na repreenaço, udo longe do vulgr" ( 1 , p. 38).

A tíulo de hióee proviória, demos dier que nas cs de 50 e 0 do século pasado a dramaurgia basileia, que ml comça a existr a ca nerior (é de 1 838 a sua pça inaugural, O poeta e a Inquisição. dama de Gonçalves de Magalhães), já enena em complea esigualde de condiçes a lua qe a Euopa durou ceca de dois sculos: a imosição do princípio burguês do dama ao preço da expulão, condenação, excomnho, erseguição, ec., ec., as "fons opulaes" o aro, que s6 começm a desertar novo interese, não or ao, no início dese éculo (como se se, Brecht, Maiak6vski e outros não reivindicavam nenhuma originaliade para o seu teatro; ao conário, ontavam suas fones no aro medievl, no orienal e ns várias fonas de diverão opular, inclusive os esetáculos de cabré, circo, ec.). Um problema que ó pdemos indicar, até porque o material necessário à pesquisa simplesmente não é disonível, é o resuldo real (artístico) de s as enaivs de imosiço do princípio burguês à práica brasileira. Se, or um lado, a simples identiicção dese problema e em xeque a oalidade s avaliaçes de noa rgia, or uo, a consideaço os "cssos" s tenativas de e crir o "drama bsileio", ou msmo de "scesos" como Os mineiros da esgraça de Quintino Bcaiúva, pa r apenas um exemplo, pasa necesariamene or um rabalho que squer de ser ensado em tenos de esforço individual. E o elogio qe Machado de Assis faz ao amigo a poósio o nde sceso da ça

(lO,

p. 1 62-9) esá longe e der er duzio a mea ça popagandística.

Uma consqência a adço do princípio drmático or nosa inelctalidae - cujo resuldo mais amáico (ou cômico?) em sido a cegueira pra o que há aqui - de er sentida, ainda hoje, até mesmo nos melhores estudos sobre a amaturgia no Brasil. O pr6prio descaso com que se tem traado da preservação ou a publicação de texos é

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expressão disso. Nossa dramaturgia nunca passou de "pima pobre" no conjunto da literatura e dos estudos lierários principlmene orque o eao que empre se fez no Basil insistia em ão coresonder àquele ieal io eueu, s simplesmene burguês, de circunspecção e elegncia, ermanecendo empre s volas com tios e emas "vulges" e de "mau goso" (elo menos é o que sugerem s avaliaçes corenes).

Mesmo patilhndo, com algumas restriçes, dese prconceito ou oção ieológica, o que á no mesmo, um rabalho como o de Vilma rs já aona a ossibilidade e sobretudo a ncessidade de suerá-lo. Este mérito da autoa é clamente indicado elo prof. cio, de lmeia do, o nosso melhor crítico tatral que, eneano, amém no está imune a ese preconceito, como se de obervr no asso a seguir: "Que proe a autra a refutar Joé Veríssimo? meiro, que o tao é enhr de eu espaço pÓprio, de sa autonomia, não e eixndo reduzir exclusivamente a termos liteios. Se Martins Pena foi um om ecritor de tearo, um escritor viável cenicamene, o mesmo emo que volado pra o que via o eu redor, isso já nos deve conenar e até surpreender, em se raando de um pioneiro em sentido quae absoluto. Segundo, que não há gêneros inferiores, nem mesmo os chamados primitivos, verdade que descobrimos com o mdenismo". E, mais adiane, continua o nosso autor: "A autoa evela que as frsas de Mns Pena, em vez de repesenarem o degrau mais baixo da ecala l basileia, ssenavam-se obre funamentos que cusamos a enxergar examene rque ecavm por completo ao âmbito literário. Constituíam-se elas não somente de entremezes portugueses - o que já se sabia - mas ainda de espeáculos de feira, de teatrinhos mcnzados, de crcos de cavalinhos, de números de a exremamente engenhosos. O livro contempla tdo esse subeao, não diremos com olhos entenecidos, que a anto não conente a objetividade acadêmica, mas com evidente simpatia, nascida de uma conceo menos icia e e qe coma a e esar no Bsil" (4, efcio).

Das ou tês informaçes dese pefácio eclmm algum comenário. A primeia z

respeito à sugesão de excluir o tearo do âmbito lierário, idéia que agraa anto a um certo tio de teóricos a literatura quano a uma forte corente (hoje eventualmente hegemônica) de teóricos das artes cênicas. Não deixa de ser uma boa solução conciliatóia, na medida em que, or ela, é ossível preservar ano as teorias tearais aoiaas nas fórmulas do playwrighting quanto as "conquisas" formais e tcnicas do taro mdeno sem preciar submetê-ls a qualquer tio de exame crítico. Posto o earo fora do âmbito literário, o texto toma-se apenas um elemento entre outros de um eseáculo, iando a sua nlie livre pa limir-e a uma simples enumeaço os seus elementos, na medida em que, como e cosuma dizer, ó inteessa o eseculo como um do, a r e sa ealização; sozinho o texto ão quer dizer nada.

a, essa vertene teórica é em mais ntiga do que fzem suor seus mais recentes adepos. O próprio José Veríssimo já a encampava, eno orém o cuidado de indicr sua mariz frncesa, como se pde obervar neste passo: "Assentemos primeiamente esa nção que me pce incontesável: Martins Pena é um ecritor de tatro e omente iso; quero dizer que as suas capaciades não vão além do necessio pra fzer uma peça

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representável e que ele, em nenhuma distinção escial de alento, ossui aenas esas capacidades. Uma l aptidão não indica por fona alguma qualidades artísticas e lieráris, nem bsa pa dar ao que a ossui foros de escritor e um lugr na lieratura. So que farte os exemplos citáveis em aono ao meu asseo, e pra lhe demonsar a exatidão bastaria rcordar não ó o nosso próprio meio, mas os ovos que como nós ossuem autores dramáticos sem erem tdavia uma literatura dramática. Os franceses disinguem naturalmene s das cois com a expesão 'ecrior de aro', que eles êm or cenenas, quando os que ralmente e incooram à sua literatura ão ouquíssimos. O tearo é uma e esecial, com a sua écnica e a sua estética próprias, oriundas das mesms exigêncis cênics e da naturea culiar do eu destino e do mdo or que o realiza. Vive talvez do seu próprio fundo como uma arte indeendente, e a sua hisória acidenalmente coincide com a da literatura. Esta observação, que é do ciado crítico francês, e me arce jusa, explicaria orque a existência de ecriores de taro, e o que e chama coletivamente 'earo', não implicaria a existência e uma literatura rmática ( . . . )" ( 1 5 , p. 120). Como e de ver, se Vilma Aêas discorda de José Veríssimo, não é neste onto.

A egunda infonço z reseito àquela "verdade" que teíamos descobeo com o mdenismo - a de que não há gêneros inferiores, nem mesmo os chamados pimiivos. Um estudo sobre os aspectos políticos da história do teatro moderno de mostrr resulados um ouco diferenes desa esécie de "constituição estética lierl", seguno a qual "dos os gêneros eriam iguais erante a lei". Nesa históia enconra-se ntes um longo prcesso de luta, que não disensou nem mesmo a inervenção olicial, pra não falar em massacre olítico, no qual um princípio historicmente suerior ao do drama conseguiu imor-se durane um curto erído, ms deois, em dcorência das vitórias burguesas, com suas novas alianças consolidadas no segundo ós-guera, foi obrigado a recuar para sobreviver degradado até hoje. É ssim que continua a haver uma hierarquia das formas teatrais. O que mudou foi o pressuposto político da valorização ou desvaloriação desa ou aquela fona nea escie de suenercado de fonas e gêneos em ampla liquiço que detenina a prdução cultural contemornea A suspenso do juízo, or sua vez, esá intimamente vinculada à estratégia aprentemente conciliatória aontada acima, que agoa, em emos de cpialismo rdio, expe com muia nitidez o seu caráter de hegemonia de clsse, pra falr como Gamsci. O próprio professr Décio de Almeida rado mantém implícia uma hierrquia das fonas teatrais ao chamar de subteatro os esetáculos opulares de que se utilizaram Mrtins Pena e dramaturgos . mdenos como Becht e Maiakóvski, paa lembr ens nomes bem conhcidos.

Finalmene, ao referir-se à simpatia els fonas de tearo opular, nascida de uma conceção menos aristocrática de e, nosso profesor á uma pista da funmentação classista que teve (ou tem) esse preconceito que mrcou decisivamente a história desfcada do eato o Brasil e que esá or tás de tas as proisses de fé nacionlisas em favor da criação do "eao nacional", quando esse mesmo tearo ia endo feito nas feirs, praças, nos circos e tatros que a intelctual idade evitava registrar em nome dos duvidosos criérios de om gosto, elegância e digniade alrdados por nossas classes

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dominanes. Pois em: é essa luta idológica o refletor com que pretendemos iluminar lguns actos nrmalmente obcucidos da coma de Mins Pea.

2. LEMBRANÇA DE MARTINS PENA

Como se ae, Martins Pena esreou no atro em 1 838 com a comédia O Juiz e Paz a roça, provavelmene ecria aos 1 8 anos. Em eguia ecreveu alguns drmas que são unanimemente repudiados ela crítica, anto a sua contemornea quanto a nossa. Seja rque eses dramas no obtiverm oa eceção de público, de críica ou a "clse", eja orque o próprio autor não se seniu satisfeio com os resultados alcnçados, o fao é que nos seus rês nos de maior prdutividade ( 1 844 a 1 846) ó escreveu comédis. Sae-e ambém que em 1 847 Martins Pena foi para Londres como funcionário do serviço diplomático e moreu tuerculoso em Lisoa, em dezembro de 148, aos 3 3 anos de iade. e mdo que sua crreira de comediórafo não foi inerompida aens ela more: as exigências do seviço público tamém concoream pra etiá-lo de nosa cena tatral.

É verdade que nosso autor deixou alguns manucritos interrompidos, tanto de dramas como de comédias, o que ermie rabalhr com a hióe de que o empego diplomáico não teria sido um imedimeno deinitivo à sua crreira artística. Aliás, o fao de ser m

drama o seu último manuscrito incompleto (de 1 847) é suiciente para sustenar essa hiótee e, mais que isso, pra r razão às aosas de José de Alencar e Machado de Assis sobre o seu futuro desenvolvimento. Acrescente-e a isso a descobeta de Vilma Aras: não esava fora dos seus planos a criação de uma ópera (4, p. 94), ois Mtins Pena, além de músico e crítico tal, foi gande aprcador do cano lrico.

Sas comédis tamém pduziram uma esécie de unanimidade da crítica: ó a partir de 1 844 teriam real mérito tearal e manteriam o mesmo nível literário, o que nos obrigaria a distinguir no conjunto elo menos três blocos, dos quais ó interesariam dois, a saer: o primeiro, constituído eas rês comédis compleas ecritas enre 1833 e 1 842 (O Juiz de Paz na roça, A família e a festa da roça e Os dous ou O Inglês maquinista); e o segundo, contando com s comédias dis de "ral mérito taal", enre as quais se enconram sucessos duradouros de público, como é o caso de O noviço, As desgraças e a criança e O Jas em sádo e aleluia. O eceiro blco reúne as eças aenas esçadas ou inacaaas, or isso mesmo de inerese menor, ainda que indiquem os rumos que Martins Pena estava tomando. Nossa discrepância em relação a essa unanimidade e exe na análie que egue.

Num enaio sobre as Memórias e m sargento e milias, de Manuel Antonio de Almeida, que constitui um marco histórico na crítica brasileira, como já demonsrou Roeto Schwaz (14), Antonio Candido assim e refere ao nosso comediórafo: "de 38 a 49 desenvolve-se a ativiade de Martins Pea, cuja conceção a via e da comosição literária se aproxima da de Manuel Antonio, com a mesma leveza de mão, o mesmo entido enetrnte dos raços típicos, a mesma susenão de juzo moral" (3, p. 73). Esta

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observação abre-nos uma pisa que ainda permance inexplorada, mesmo levando em cona o valioso trabalho de Vilma rs. Expliquemo-nos: Antonio Candido sugere o exame a obra e Mains Pena à luz a dialética a rdem e da desrdem - rincípio qe noou a comosiço as Meóris.

Com bae nese resulado, que pressue a radição crítia relativa anto a Manuel Anonio de Almeia quanto a Martins Pena, e levando em cona a incongruência enre eus maeriais e as exigêcs do pincípio o a u a ma ramáica, mobilido or nossos críticos e dramaturgos, deríamos enr examinar, a exemplo de Antonio Candido, as comédias de Martins Pena segundo critérios exigidos or elas mesmas, rivlie a fcl e ae:.

Aenas para mencionar algumas das informaçes que os estudos disoníveis sobre Martins Pena nos disensam de dealhr, enumeremos s seguintes: sua obra prende-e à radição dos enremezes ortuguees, onto nosso comediógafo vincula-e à já milenr história a comédia e dos esetáculos opulres; suas comdias, por isso mesmo, ão predominantemente faras, emora s vezes se aproximem daquilo que se chmou "ala comédia" na segunda metade do século XIX (quesão a er. desenvolvida em oura oportunidade); do ponto de visa sciológico, seus personagens provêm dos esratos intermediários da opulação (os homens livres numa ordem ecravcraa), com eventuais apariçes de escravos (ou do ema ecravidão); eu principal instrumento de abalho é o que se convencionou chamar observação de costumes; e, or último, but not least, Martins Pena ratou de colocar em nossos palcos, material e formalmente, traços fundamenais da incipiente ciabilie bsilea na rimeira mede o século asado.

Na mia em que a nosa radiço crítica. - or s sugeridas - esaelceu a qe

tol ausência de mritos artísticos (literios) na obra de Martins Pena, e uma vez que, nese conjunto, enas Vilma rs enta, or ssim dizer, "lvar" suas comédias desse veredicto, esa oragem icará limiada à icusão e elo menos um aseco que sua aboragem não elevou. Quando o princípio do drama norteia os julgamentos, a interpreação de algumas comédias ica prejudicaa, mas lança luzes preciosas sobre ouas.

3. RAPSÓDIAS CÔMICAS DE MARTINS PENA

A enativa de cncilr os elementos fomais da comia com um quado de costumes no qual se detecta um esoço de rama teria sido uma as causas dos "defeitos" das primeis comédas do nosso autr. Mas sua egunda ça, A/mla e a/esta a roça, já apresentaria um nítido amadurecimento técnico que se intensificaria nas comédias eguines. Esas o, sumarissimmente indicadas, algumas das incipais concluses as nálies de Vilma s nquilo que nos ineresa.

Mesmo questionndo alguns asectos da radição crítica, ais concluses preervam algums injustiças hisics cometias conra o comediógrafo. A mais grave - indicaa

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ela própria auora - aribui a Martins Pena uma doe inexplicável de burrice, mesmo para um esreante de 1 8 nos, e diz respeito ao episdio dos julgamentos ou à imorância do juiz na coméda O Jiz e paz a roça. Vejamos rês avliçes mais ou menos rcenes obe ea ç:

Wilson Martins: "na verdade, o juiz de pz é uma igura secundária e lateral,

induzida clmene elo pioeco; a inriga principal é a icia amoa ne Joé

e Anina, ilha do lavrdor Mnuel Jo" (pd 4, p. 1 14).

Barba Helida: "a cena a udiência do juz de paz é o auia amaiamene como prciosa como dcum

e

nário a éa" (5, p. 33).

Vilma Arêas lança mão de um curioso rcurso pra discordar desses autores, preservando um acordo mais profundo: "como o próprio título indica, o verdadeiro ineresse a comédia concena-e os julgmentos do juiz, que cupam a cea cenl (a mais impoante e a mais longa da eça); ora, numa obrinha ão cura (23 cenas), a condiço enre as ds çes deemia inecises qnto o veradeiro suj eito da ao ( . . . ) a caua da indecião é que, na

a,

herói e suj eito não se confundem; o pel do pimeiro é prenchido elo Juiz, o do egundo, r ninha" (4, p. 1 14).

Aenas pra lcalizar o leitor, rcapitulemos a ecinha: Aninha, filha de Manuel João, quer r-se com Jsé que foi "rcrudo" a lur cona os froupilhs no Rio Grnde. Manuel João, equeno poprieário que sonha com um om csamento pa a ilha, é mém membro da guarda nacional e or iso suordinado ao Juiz de Paz, de quem eceeu a incumência de levar o rcru/pisioneiro a a Corte. Como Joé e Aninha coneem e r s econdias, o az livra-e da convcação e a eça ermina com uma fesa na a do juiz. Tal rcpiulço, como e vê, á plea azo os cíticos de Mins Pena. ois nela o juiz é menciondo aenas lateralmene. Brbaa Helidoa teia, enão, rão o classiicar o episdio do julgmento como amaticmene gratuito. Pois é mesmo. Mas a explicação paa isso é simples: a eça foi qui "econsituída" de acoro com a receita mi. cujo pressuoso fundamenal é a preença de um sujeito que relia uma ção, nomalmente chmado proagonisa, herói, etc. Vilma Aras, or sua vez, distingue, na a, sujeio de herói oendo aos prceios a mesma clha Ea é uma foma de ao mesmo temo r e não dar rão aos críicos de Martins Pena, com a vnagem diciol e vr que indo o rincípio cnsutivo do ama

Vejmos, eno, como sa cmdia de er reconstituída a patir e ouro princípio, o épico - que é o dela mesmo -, e, ssim, de er lia com das as sus qides que aé hoje êm pasado or defeitos. Vilma Arêas esteve próxima dele quando, ene eses defeitos, mencionou a dispersão espacial, como se se ratasse de um roteiro cinematográico. assim como a "ligação dramaticamente gratuita" entre a iqueza de nfomao cnextl (dos imones a hisóra ncioal) e a "a" da ça.

Ao conio do dramático, o princípio épico não exige sujeitos, heróis, nem muito menos ação dramátia (dendo tamém ê-los e mais de um numa mesma

a)

quando o objetivo do damaturgo é conar uma hisória ou agmentos de histórias (lagntes da vida) no palco. O que tem sido até hoje tomao or objet> da ça - as aventuras de um

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casal de namorados -, traado tanto em chave de Comédia Nova quanto de um embrionário princípio dramático; não tem maior ineresse que os demais asectos da eça. Martins Pena esava ineressdo em miniatr a totale a situação o país. Como a própria Vilma s indica, eu objetivo é exor criticamente a maneira como funcionam as instituiçes, u seja. O exercício do rbírio e a violência desde o âmbito mais geral da "grande" olítica (a Guea dos Faaos) aé os dealhes aprentemene mais insigniicantes, como a dispua sbe a lcalizço e uma cera, ou delimiaço de propriades, pasando ela indefecível discrepância enre pretenses de pais e ilhos obre o mento (a família aé dia ainda o er, concientemente, a ce/ula mater da sciedde brasileia, ms os proprieários de teas, or menores que fosem, já abim muito bem disso). Não sendo a inriga amorosa o io condutor da eça, é preciso descobrir qual é a idéia que rganiza ou preside a disosiço dos seus materiais, ois, ao conrio do que ssenaram Sílvio Romero e Joé Veíssimo, o rabalho de sínee que uma comédia em um ao exige de um autor pressue muio mais relexão do que sonha a vã exigência de "idéias e relexes ilosóicas que sintetizem sitaçes" (Cf. 15, p. 120-2 passim e 12, p. 29). Idéias que presidem a organização de uma obra de arte não prciam er ilosóicas, já ensinava Hegel a eu temo. E, dndo fé à demonsação feia or Vilma Aras e que Martins Pena não era burro nem batizou a sua eça e O Juiz e

Paz a roça or decuio u disração, comcemos elo julgameno, a prtir da cea 9.

Esa cena é uma vante de monólogo na qual omos apreendos o juiz, que exe os primeiros ascos, os mais visíveis de sua condiço: em como auxilir um ecrivão que se atrasou orque deve esar eendo numa venda próxima; sua honestidade está ermanentemene sob suseia (or exemplo, preos domicilires dem fugr e deois "vo dizer" que ele comercia com a justiça), e assim or diane. Nese momento, o juiz rcee exaamente um peente, compnhao de uma cta na qual o remetente invca os termos as reformas na Constiuição que assegurm o direito de "cada um fzer o que quiser e mesmo de r reentes". O rremate da cea desmene as prcuaçes iniciais com as parências e juiz incrruptível: "o ceto é qe é om er juiz e paz cá ela rça.

e vez em qundo temos nosss presenes de linhs, bananas, ovos, ec". (11, p. 27) Com a ceada do ecrivo (cea 10) e a enaa dos litignes, tem início a audiência propriamene dia. O primeio co envolve o cal Iácio Joé e Joefa Joaquina cna o negro Gregório. Este, com uma umbigada, teria agredido a mulher. Por causa disso, o

l quer naa meos que a ea de ero a o ego, o que de imediato e em cena o cômico e o absrdo, cuja aiz está no arbítrio e na violência reinanes. É evidenemene cômico que alguém e dija a um juiz de az para reclamr de uma hioética umbigada

(in dubita pro réu, já que este repudia a acusção com vemência, alegando que no á umbiga em bruxas). O absurdo esá na desproorção enre crime e cstigo, o que dz muio sobre a nosa propalaa "demcrcia rcial" e ceramente faz rir desses brancos "jusiceios".

Antes de pasar para o veredicto judicial, conviria lembrr o prodígio de síntee exosa nesse litígio. Quem conhece um ouco da cultura negra ae que uma umbigada

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- movimento creoico m diveros tios de dança - o é examente uma ageão (deende muito das cicunstâncias), dendo, or exemplo, er expso pura e simples de interese exual, ois simoliza um rito de fecundação que, elo mnos em princípio, e enre iguais, está longe de ser agressivo. Por outro lado, na ótica, do branco, a umbigada em qualquer caso, ms sobretudo se se aar de manifesação evidente de interese exual, é aressiva, indeendentemente s circunstâncias. E Martins Pena carega nas cores da etição de Inácio José: "(o negro) teve o arevimento de r uma umbida em sua muler, na encuzilha o Pau-Gne, que que a fez aoar, da ql umbigda fez cair a dia sa muher de es pa o r" (11, p. 28). Joefa Joaquina, or sua vez, eixa evidene a cooaço (inrese exual) da umbiga o dclar que aquela não teria sido a primeia vez, ec. Está, ois, aera uma daquelas jnelas que a nosa história oicial rcurou mnter cuidadoamente fechadas: a das reaçes amoroas extra­ casmento e inter-raciais (como já observou Emília Viotti da Costa (Cf. 6), entre outros estudiosos, em "O mio da demcacia rcial no país''). Como indicdor da leveza de mão de Martins Pena, é de e nor que antes que venham à tona maiores "inconveniêncis", do onto de visa de uma certa moral ainda em constução e da qual o juiz já é um legíimo repreenane, ese inervém pra inteomer o bate-ca esçado, apziur os ânimos e - dealhe imortantíssimo - pra disciplinar reivindicaçes exorbiantes: "Está om, enhora, sossegue Sr. Inácio Joé, deixe-se dessas asneiras, r embigas não é crime classificado no cdigo .. Sr. Gregório, faça o favor de não r mais embigads na senhoa; quando não arrumo-lhe com s leis às cosas e meto-o na cadeia" (11, p. 28). Bem enendido, diciplinr as coiss, aqui, nada mais signiica do que deixr patente paa tdos o alcnce ilimiado do rbítrio do juiz. Se para os acusadores deve icar claro que uma umbigada não é crime, pra o cuado, um negro, ica a ameaça de que mesmo assim ele de acabr a cadeia. O agrante da contradição entre as declaaçes do juiz deve er computado entre os méritos da elaoração rtística, mais do que à simples obsevção de costmes.

Em enaio e grande interesse, Tania Brano prcra mosr o qanto Mins Pena está emenhado na consolidação de uma certa moral (Cf. 12), e a disosição esraégica desa pendência na sessão do julgameno ea em favor de sua ese. A intervenção do juiz, duplamente disciplinadora - anto dos excessos vingativos dos brancos quano das excessivas "impertinências" dos negros -, cona no conjunto da cena para ganhar a disosição do público em eu favor. Traa-e da coniguaço ística de uma ordem na qual o valor maior é preervar uma esutura conciliatória em que cada um conheça e respeite os seus limites, sob a égide de um oder, rbitrário sim, mas devidamente calcado no "om eno".

A endência, enretano, ainda não acaou. Nem Martins Pena vai icr nisso. Qando o juiz ordea que os liiganes e etirem com a adicional dcação "esão conciliados", o rremate fica or cona de Inácio Joé que ameaça Gregório com um sugestivo "lá fra me pagarás". Aqui estamos diante da já referia dialética da ordem e a desordem exaamente no lugar (sala de audiências) onde mais se prcura escondê-la: para os represenantes da ordem sa uma dclaração de que o assunto esá encerrado; já para os

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"dsrdeios", o conito ainda á e er eolvido e, como indica Marns Pea, na e da lei do mais foe. Ese dernjo fmal o episdio, longe de desmentir a tese de Tania

Bo, pe aonr a n roblema que eme incomou s paldinos a orem nese país: or razes que lhes parecem mais ou menos insonáveis, leis, decretos, dcises judiciais nem empe "pegam". Em oua fomulação: o "ovo" - lugar da deorem - eima em não se submeer à "ordem" ncessária o om ndamento da "vida civilada". É iso o que Mns Pena conigua qui, ms esa queso eá ablhada, a eguir, naquilo que ralmene ineesa, ou seja, em eu efeito lierário.

A segunda pendência, sobre ser a mais gave, à primea visa é aada ainda com maior leveza. Agora a quesão é a delimiação da propriedade de Manuel Ané, cuja meade é reivindicada elo vizinho. eixando de lado os asecos desfrutavelmene

cômicos s evenuais "zs do vizinho", compnhemos aens o nó desa qesto. O

ineesdo solicita a preença do juiz nos abalhos de demrcação, o que lhe prece er um meio de gantir eus direitos. E pa conar com o eu emenho, promete-lhe Jma popina. Mas o juiz, em e mosar ofendido quer a ins de cibiliae, cla que não terá tempo pra cuidar dese caso por andar muito cupado com sua própria planação. Diante do proesto e Manel Anré, o juiz ameaça-o com a cadeia. Qundo o litigante se defende brandindo seus direitos constitucionais, cai a máscara ão

cuidomne elinada o juiz qânime: .

"Juiz - A Constituição! . . . Está em! . . . Eu, o Juiz de pz, hei or em derogr a Constituição! Sr. Escrivão, tome emo que a Constituição esá derogada, e mande-me pender ese homem.

Manuel Anré - Isto é uma injustiça!

Juiz - Ainda fala? Suendo-lhe s gantis . . . nuel Ané -É deafoo . . .

Juiz, levantando-se - Brejeiro!. . . (Manel André corre; o jiz vai atrás) Pega . . .

Pega . . . Lá e foi . . . Que o leve o diao." ( 1 1 , p . 28).

Ese diálogo ápio, que prce vir apeas ao efeio cênico (obreudo qando a a é lida à luz de critérios dramáticos), de ser considerado como um reao em brnco e peto do país - objeto do comediógafo: dise de uma constituição que assegua aos cidadãos deerminados direitos, sobretudo aos poprierios. Mas eses direitos anto dem ser usupados, orqe os encrregdos de sua esria obervância "êm mais o que fazer", quanto simplesmente derogados, num evidente abuso da autoridade (uma s

formas mais execráveis de violência aos olhos da a moral burguesa), ela simples razão de que o "agente da lei", lagrado no abuo a autoriade or um ciaão que conhece os eus proplados direitos, invee a situaço e transforma-se de agressor em vítima. Traa-se, enim, do tristemente famoso e, pior ainda, erfeitamente atual "desacato à autoridade". Ms, ao contrário do que acontece hoje, obretudo devido à

ruculência dos "homens da lei" e ao estágio muito mais aciado da deconfiança em relação aos desclassiicados, o incidente corido ene Manuel André e o juiz não resulou a ião do "bejeio", que coneguiu fugir. Quno à demcaço de sus tes,

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ssim como correu n o pimeo liígio, aa-e de problema a ser resolvido or ele

mesmo. ovavelmente o repio a lei, ou segundo a lei do ais fore. Mtins Pena

deixa a questo em o, o que é m feito liio, como veemos.

Ds questes, uma de ordem formal, oura emática, já eso clrmente aonadas

neses dois equenos epidios. o onto de visa fomal, as s endências explicim

a natureza épica do julgamento (não foi por acao que uma das primeiras formas do modeno teatro épico a reaparecer no século XX tenha sido justamente o que e

convencioou chmr "tro ribunl"). Conriamente o que deois o ama pasou a

exigir, a comédia "opular" e obretudo a fa eso ermnentemente onando a

fora de si. Ou, pa dier a mesma coia, els contelualizam-se emetendo empre a

um antes e um depois. Por isso, a diserso; e no aens a espcial, que no drma é um ecdo mol, ois estói a sua unidade, na comdia - e a de Martins Pena -, longe de

ser um defeito é ão simplesmente um recro necesário à forma. É ssim que no Juiz

os acontcimentos que deram lugar às endências so sumariados ou reconsituídos

-numa palava, narraos - aavés do rcuro temático da leia da etição, habital nos

tribunais.

À

econstiuição dos faos egue-e o julgameno e, qui, e não uma novidade

inrduzida or Mins Pea, ems elo menos a frmaliação de um raço fundamenl na exeriência basileira: o enceramento formal da quesão elo juz em nenhum dos

csos signiicou a solução do poblema, ois os nós ermanceam. Aonndo paa um

epois, paafora da a, paa a vida ral, como e costuma dizer, nosso auor o mesmo

emo emnce no inerir de uma vela adiço e nia um taço da via bsilea

- o formalismo das insituiçes, que não interfere na vida dos desfavorecidos, a ão er pra pioá-la, desmentindo s sus exctativs. Por ouro lado, de-e dizer qe vêm e

longe as obervçes literis que derm e empica para as os do "Bsil real x

Basl oicial".

Ligada intimamente a esa quesão está a ovmene ataliada emática da cidadana, que já deixamos esbçada acima. e acordo com os materiais arranjados or Mrtins Pena, é ossível rir o lpite de que, a ele, al idéia esá complemene esctaa numa situação em que até mesmo o direito mais sagrado até numa "monarquia constiucional" - o de propriade - deende dos ons ou maus ofes de um agente do oder imerial (ou constitucional?). Ora, não havendo a base sobre a qual reoua a idologia do "indivíduo auônomo e livre, ob o iméio da lei", ou o ciaão, com eus direitos rconhecidos e respeiados, um dramaturgo conseqüente não se arriscaria a ecever dramaS (rico do qual, como aemos, Mins Pena não ecaou). Mas, elo menos nesta primeira eça, ao dr o devido desaque ao juiz de paz da rça (a forma "legal" de "inteioriação do deenvolvimeno"), ele ecou do risco de paticiar mais ativamene de nosa cmia idológica, jsamene rque a surrendeu esmando alguns e eus cos.

O litígio seguine mostra uma outa faceta do comediógafo, assim como um novo asco das ráicas "judicioas" do eu "heói". Será exerimenado um milear rcuro

qe caou se tndo dos mis fcunds na nosa aiço al - a ia - e chegou

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a render alguns ons achados na própria obra de Martins Pena. É o o de O diletante (próia muito divertida da Norma. ópera então populríssima) e Os ciúmes e um pedestre (pardia do Otelo. um dos cavalos de batalha do nosso João Caeano. aqui

oada na conceo a, e Ducis).

Neste cso. Matins Pena mém em um é na pópria dição da comdia, melhor dizendo, a fara, em que os mais variados litígios ão pretexo pra se ridicularizarem advogados, juzes e deosos de planto (enemos na mais antiga fara conhcida na França, a do Mesre Pathelin, do século XV). Mas a solução para o litígio aqui apeenado é uma prdia e episio bblico. Traa-e do incidente enre Tomás e Jão Smio, o qual o rimeiro alega que um leião, propridade do egundo, é seu rque furou a sua cerca e alimentou-se em sua hora. Em visa disso (e o leião está vivo é orque comeu seus legumes), Tomás considera-e no direito de eivinicar a proriade do animal, com o que Jão Sampaio, evidenemente, não concorda. Os dois agrrm-e

o leião, puxand-o a um a eu lado, quno tem lugr a "lomônica" inervenção do juiz:

"Juiz, levantano-se - arguem o obre animal, não o matem! Tomás - eixe-me, enhr!

Juiz - Sr. Escrivão, chame o meirinho. (Os ois apartam-se). Esere, Sr. Escrivão, não é prciso. (Assenta-se). Meus senhores, ó vejo m mdo de concilir esa contenda, que é arem os enhores ese leião a alguma essoa. No digo com isso que mo dêem." (11, p. 29).

Não é preciso dizer que mos concrdam imediaamene com a insinação. E o juiz, de queba, ainda consegue ser reentado (aós r feito a devia sugestão) com algumas ervilhs or Tomás. il, raava-se de faer "justiça" e este amém eria que cder alguma coisa. Desa vez o juiz consegue concilir os contendores fazendo paródia expícita do famoso julgamento de Salomão, mas com a saedoia própia de queno e interesseiro magistrado. O cômico da situaço esá nto na ração precupaa com o "obre animal", que remee a Salomo, quano na preeriço ostensiva (não digo que mo

m).

Se o juiz conseguiu conciliar eses contendores, dcemene constrangido a proprir­ se do pomo da dicórdia, nem or isso as conas icaram aceads, elo menos pra Tomás. Novamente, através de técnicas épicas, temos a remissão a acontecimentos pasdos e a ermanência da causa do problema Numa nova reivindicação exorbiane e or isso mesmo cômica, Tomás pede ao juiz que cite a Assembléia Provincial "para manar fzer ceado e espinhos em s s hoas":

"Juiz - Isto é impossível! A Asembléia Provincial não de cupr-se com essas insigniicâncas.

Tomás - Insignificância, bem! Mas os votos que Vossa Senhoria ediu-me pra aqueles sujeitos no em insigniicância. Eno me pomeeu mundos e fundos.

Juiz - Está om, vemos o que derei fer" (11, p. 29).

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Como se pde ver, são vários o s esos e medias. Quando s e rata de cidadãos proprimente ditos - os que, além de poprierios, dem voar -, o juiz pomete raar do co. Tão imonte qno a diferença de ameno dos ersonagens é a identiae do prcedimento do dramaturgo, a insistir na seguinte racterização do juiz: e sua presença não resolve os problemas dos cidadãos (qulquer que seja o seu estato coômico), a ossibiliae de lcupler-e re r a zo de sa existênci.

Desenvolvendo em outro sentido a pardia a justiça sIomônica, Martins Pena encerra a audiência do dia com uma dispua que, além de inrduzir mais uma noa relativa a costumes ão generalizados quanto programaticamente equecidos elos arquieos a nossa histria em verão idlica, ermite-lhe realizr um em sucdido jogo de consruçes com duplo sentido, graças s cracterísicas a língua ouguea. Por e ratr de jogo de palaras, vale a ena reprduzir anto a etião quanto o diálogo que a seue:

"Ecrivão, leo - Diz Frncisco Antônio, natural de Portugal, orém brasileiro, que tendo ele casdo com Roa de Jess, rouxe esa or oe uma égua 'a, coneceno ter a égua de minha mulher um Ilho, o meu vizinho José a Silva diz que é dele, só orque o dito ilho da égua de minha mulher saiu malhado como o seu cavalo. Ora, como os ilhos etencem s mes, e a prova diso é que a minha escrava Maria tem um Ilho que é meu, pço a V. Sa. mande o dito meu vizinho enregr-me o filho da égua que é de minha mulher'.

Juiz -É verdade que o enhor tem o Ilho da éga reso?

José a Silva -É verdade; porém o ilho me eence, pois é meu, que é do cavalo. Juiz - Terá a onade de enregr o filho a seu dono, ois que é aqui a mulher do enhor.

José a Silva - Mas, Sr. Juiz . . .

Juiz - Nem mais nem meio mais, enregue o ilho, senão, cadeia. Joé da Silva - Eu vou queixr-me ao esidente.

Juiz - Pois vá, que eu tomei a apelço. Joé a S ilva - E eu embrgo.

Juiz - Embrgue ou não embrgue, embrgue com trezentos mil diaos, e eu não concedeei revisa no auto do prcesso!

José a Silva - Eu lhe mosrrei, deixe estar.

Juiz - Sr. EsCivão, não dê anistia a ese eelde, e mnde-o agrar pra solado. José da Silva, com humildade - Vosa Senhoria não e rrenegue! Eu enregarei o equira". ( 1 1 , p. 29).

Não á de er aso esecebida a piez com que esa enência é resolvia, nda casualmente em favor do ortuguês. Ms no é este o ono imortante aqui, como não é a "impcialidade" com que o juiz ineprea o argumeno da aenidade.

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É

um lugr comum da crítica a exigêcia de que es enam om conhecimeno a língua. Já com relação a comediógrafos não se em regisros ão reqüenes dessa exigência. Ese episdio de Mins Pena mosra nto o eu erfeito omínio da lngua quano o agudo golpe de vista em relação ao efeito cômico procurado no nível da ambigüidae: ao ceder s meaças do juiz, or exemplo, Joé da Silva z que vai enregr o peqira -um adjetivo que tem o duplo entido criado elo requerimeno ois, a patir de seu signiicado original (do tupi, picua, pykya = equeno), uado para animais, signiica pequeno e, para essoas, sujeito insigniicane. Convenhamos que para um comedióafo a quem êm sio dicionalmene aribuídas qualidades negaivs tais como obevaço rivial ou suicial dos costumes, falta de aleno, oucos recuros (os mais desgastados ela comédia), leno aens pra foorafar insananamene o eu meio, e raço e linguagem ingênuos e sem comosição, e assim or diante, um achado como o referio, já na sua a de eséa, ao menos á direito ao enefício da susensão do jzo.

É

bem verdade que o conjunto da radição cômica opular tem sido vítima dos mesmos prconceitos, tidos como verde igulmente vlia pa as clsses dominas. Os mais comuns são a burice, ou inteligência limitada, a groseria ou grossura, a rusticidade ou fala de refinmento, o mau gosto, a vulgariade, a incultura, a falta de mdos ou de educação. Tdos eses "conceitos" ão sinônimos. Clro que anto oiados em "evidências empíricas" quanto rcorrentes, dado o seu signiicdo único: próprio de tudo o que esá excluído s elies, já que o eu contio, lvo as povidenciais exceçes que "conimm a regra", ó de ser enado a reseito dos membros a elie que os cunhou, ou seja, á ma escie de evidência que disensa demonsração de que aenas as elites ão cultivadas, delicaas, têm ino trato, om gosto, são inteligentes, êm agilidade de ensamento, etc., etc. Daí que or uma oeração simples de raciocínio tenha sido vada a comdiórafos provenientes a mlta a aribição de quliades is como der de sínese, capacidade de análise profuna de situaçes, agiliade no trato com a língua (privilégio de certos oetas) e tanas ouras que entretanto pdem ser facilmente obervadas já no jovem Mrtins Pena. E o que prevaleeu foi a idéia de que nosso autor "não fez sequer lieaa".

Não endo o caso de enverdr agora ela hisória do exme crítico desas caegorias classistas, nem muito menos o de repisar as mais que problemáticas rilhas do opulismo eóico, a inenção aqui é aenas evidencr um elemeno dcisivo em qualquer oba de cráer cômico: o rabalho intelctual (e agiliade de enamento) que pressue, or er sobretudo sínese. Uma capaciade que não deende a oigem scil do tista, r mais que as csses dominanes esaeleçam critéios classisas pa a sua mdia.

Mas voltando à pendência em que nos enconrávamos, a etição de Francisco Antônio, sempre no teritório do duplo sentido alcançado pela utilização ao mesmo temo coreta e viciosa da construção sintática, contém ainda uma infomação adicional sobre costumes nacionais, digmos que menos rcomendáveis paa certos padres de moral e hiprocrisia institucionalizada. Trata-se do argumento da paternidade, aprentemente irrefutável: "os ilhos etencem às mães e a prova diso é que Maria tem

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um ilho que é meu" - com o dealhe imorante de ser Maria uma ecrava. Lido à luz

das circunstâncis, o rgumento e desói, ois e s lhos das escavs erecem aos

senhores, enão não erencem a sus mães. ealhe isticmene da maior relevância quando e ae que mesmo deois de aprovada a Lei do Venre Livre muitos senhores contini a aoprir-e e Ilhos de escavas. Ms em sua ambigüidade delierda, o

gumeno ana ainda pa o outro ldo das os áias inter-ciais, a aer, a a

ossibilidade de Francisco Anonio er mesmo o pai desa criança, dendo declá-lo sem o menor constangimeno. Independenemente do seu conteúdo, este tipo de ambigüidade é um rcurso ão ntigo da comédia e da fara quano a represão a essas formas ou a seus "exageros", dos "vulgres" e de "mau gosto", et pour cause. A história dese combate, obetudo enre os sculos XV e XVIII, registra uma quantidade inacrditável de prises, mulas, exílios, ereguiçes, nto or pe das igrejas qunto dos demais pderes constituídos. Bsa lembrar o caso da commedia el/'arte e seus

prenes esalhados or tda a Euroa, num turismo al um no quano forçado.

No Brasil, a história não mudou muito, devidamente gurdaas as proorçes e as diferenças e fuo hoio. Como em ouras prças, médos viaos e domesicação dos maus mdos dos comedines e comeiófos form utiizdos. ede o emprego da pa e simples foça bua, aé a "lal" dispua a refeência do público no mecado, pasando, através dos mecanismos do favor, ela copação dos melhores encontrados na Ileiras "inimigas". O próprio Mins Pena conheceu s as áticas: fazia grande sucesso de público, foi violentamente censurado pelo Conservatório Dramático e, nada excepcionalmene, em se aando de artisa que "deu certo" no Brasil, amém ele foi cenr do mesmo Cnsevatrio Dramático.

Num roeço ípico de iniciantes, ara encerr sua audiência Matins Pena aina cria uma nova cena, esa sim gratuia, e não do onto de visa dramático, mas egundo qulquer critério: rata-se de uma óbvia pretenão de "fcho de ouro" que prima pela redundância, no qual uma mulher vem trazer ao juiz mais um preente. ra, o juiz já

havia mostrado à ciedade o seu grau de corupibilidade, a onto de induzir a niciativa

de suas vítimas. Na comédia, forma em que a rapidez tem peso máximo, a insistência sobe qualquer asecto caacteriza defeio lagrane. Neste caso, anto é expressão da imaturidade do auor quanto da relação que ele estaelece com eu público, ois, ao reiterr uma cracterísica de eronagem suicientemente esaelecida, ineviavelmene

õe um é na canoa do paternalismo. Eis noso comediógrafo inconscientemente s

volas com o mesmo problema que examina em seu ersonagem e aindo-e muito mal.

Antes de passar para as considerações finais a respeito dessa audiência "drmaticmente rtuia", um tema a ser deenvolvido em oua oortunidade e ficar esçado a partir do exoso: ao inspirr-e numa situação jrídica, na qual eronagens sem qualquer relação dramática entre si desilam seus problemas diante do público, Martins Pena não somente iaugurou a "coméia nacional", como quer a nossa trdição crítica, mas ainda aaptou pra as eduzidas dimenses do palco a forma épica o desile (ou da prcisão). Quanto à longevidade desa forma, nosa indústria cultural apresena,

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ainda hoje e com muito sucesso opular, uma versão degradada nos programas televisivos "raça Brsil" e "A praça é nosa", a r aens um exemplo, ois e raa da mesma conceço em emisoras difeenes. Um eenvolvimento real, e or iso em mais ineressane do ono de visa a estética, ão os desiles de escola de samba no aval.

eixamos para examinr agora a amaça feia elo juiz a José a Silva - mndá-lo para a Guera dos Faraos -, que ão rapidamente fez o calcirnte abandonar a sua osta, endo em visa a sa funço temtica de religr o epiio cenal a audiência o resante da peça. A refrência à Guera os Faapos tem função rcapitulativa, ois remete o escador o motivo dos problemas dos namorados Aninha e José. Este está preso e corre o rico de er enviado ao Rio Grande. Manuel João, o pai da mça, é resonável ela ecola o cua à cote.

Como o esecador amém há de esar lembrado, no início da cena 9, o juiz deixou clro que não queria ter o prisioneiro sob eus cuidados durane a noie, ec. Esa sua disosição para evir aorecimentos e maledicência "infunada" a seu reseito vai faciliar a vida dos jovens. Conduzido à casa de Mnuel João, or ordem do juiz, Joé conegue, com a ajuda de Aninha, escapar dessa prisão domiciliar e fugir com a namorada. Os dois de m s escondidas numa igreja próxima e às auoridades civis (o pai e o juiz) só resta abençoar a união (que livra José do recruamente forçado), providenciar uma vida diga para o caal e, clro, fesejr o cameno, que ninguém é de feo.

Tudo, oranto, muito leve e incente. Mas para além desa incência e leveza depramo-nos com o eo da violência reinante no país. Uma violência a que naa ecapa, nem os sonhos de vida mdesta mas desprecupada na core, acalenados elos jovens e pragmaticamente conidos elo penalismo dos mais velhos.

As outras as do jovem Martins Pena -Um sertanejo na corte e Afamaa e a festa na roça -, segundo icou estabelecido, mostrariam já indícios do que passa por amadurecimento técnico do comediógrafo. O que ainda não se sae é o preço dese amaduecimento. Após a apeenação desa úlima ( 1 840), Martins Pena dedica-se, sem sucesso, às tenaivas dramáticas. Volta, então, ao terreno da comédia já em 1 842 e, à ribalta, em 1 84, com O Juas em sábao e Aleluia e Os irmãos as almas. A prtir desa aa, o comediófo exibiria pleno conhcimento de eu oício.

Uma vez que o critério para deinir "amadurecimento técnico" envolve a idéia de adção do drama ou, o que dá no mesmo, descoea da comédia dramática, algumas carcterísticas começam a ser aplaudidas em Martins Pena. Desaquemos as duas mais imontes: desenvolvimento cuidadoo da trma, ou do enredo e dos conlios (empre em tomo de encontros e desencontros amorosos, é claro), e concentração no espaço. Realmene, a partir de Os dous ou O inglês maquinista, de 1 842, t� as suas comédias passam a ter como espaço cênico sempre uma sala de visitas, com uma exceção erfeitmene jusiicada, O Namorador ou Noite e São Joo.

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Poso o criério, ica naturalmente compuado enre os defeitos mais insistentes do comediógrafo o hábito de rconsituir, aravés dos diálogos dos eronagens, episdios inteiros ocorridos fora da cena, jusmente porque são narados e, poranto, pouco "tarais". Não é rcio ir que se criério aba qualiicndo aé mesmo meriais que concorem pra a cracteriaço scial e psicológia dos eronagens -is, uma "falha" habitualmente observada em Mrtins Pena é a fala de "aprofundamento psicológico". A equaço, no ennto, é clara: dequaliicados or "não dmáticos" os eus rcusos pa o deeno dos eroagens, de-se a egur cobrr examene a fala dese deenho. É o o, r exemplo, do eguinte epidio "dmaicmente rrelevante" na eça Os irmãos s almas. que ceros diretores contemoâneos não hesiarim em eliminr e uma eceaço auta elo "al":

"Entra Mra. oa os braços e Eria e e Sosa.

Mriana - Ai, quase mori . . . Tira-me esa mantilha (Luíza tira-lhe a mantilha). Ai (Senta-se). Muito obrigada, compadre.

Soua - Não á e quê. comdre. Esia - Acha-e melhor, mina mãe?

Mia - Um ouco. Se o compadre não estivesse lá à ora da igreja para tirar-me do aero, eu morria. ceamene.

Soua - Aquilo é um deaforo!

Marana -

É

assim, é. Ajuntam-e esses brejeiros nos coredoes das caacumbas para erem as velhas e arem elices s mças.

Soua - E nos rasgarem s ops e rem caçoleas. Erásia -

É

uma indecência!

ia - Espremeam-me de al modo, que ia ondo a alma ela ca a foa. Euása - E a mim deam um elicão que qe rnm a cne.

Mrina -

É

insuortável!

Sousa - Principalmente, comadre, em S. Francico de Paula.

aa - Esão horas ineias num vaivém, só a fzerem patifaris.

Eufrásia - A olícia não vê isso?

Mriana -i, estou que não osso, compare. dê-me licença que vou-me deir um

ouco" (1 1 , p. 1 19).

Se um Slvio Romero ceramene audaria esa página ela qantidade de informaçes sobre costumes opulares daqueles idos, nenhum crítico í encontia mérios literários. Mas esão presentes anto aquels qualiddes já aonaas (agilidade, der de síntese, nção aguda de temo), quanto os problemas que a "maturidade técnica" imôs ao conteúdo de Martins Pena. A zoeira do cemitério em dia de Finados realmene icaria mais "tearal" se apreentaa no momento em que s esreolias im acontecendo. Mas pra além dos limites de elenco (nenhuma companhia da éca, a ão er as lricas, eria condições financeiras para reunir o número de atores e comparsas necessário paa

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conigrr com m mínimo de relismo cênico a multião que acorre aos cemitérios nesse dia e, conseqüentemente, as situaçes constrangedoras a que se referem as eroagens), e Mains Pea optase ela solução "al", novamente prcia lançr mão dos ecuos que

á

aandora, ais como diseão esacial e eqüência de qadros. Iso a não falr nas coneqências que l oão eria em ermos de prejuízos pra o conteúdo em quesão, na medida em que oderia diluir jusamente o seu conflito mio . .

A idéia de Mrtins Pena, entreanto, é mais éia do que simplesmente mencionar

epiis piorecos coridos om sas eronagens, ou chamar a aenção paa asectos

a ia oplr lnnene; como ele quer anto mosrar s reenses de acenso cial exteiorizáveis em critérios de educação e comportamento elegante, quanto r aos

excdores motivos para r das aribulaçes das ersonagens negativas da eça (duas

mulheres que irnizm eu obe herói, Eufrsia, a esosa, e Mna, a soga), é prcio examinar o peso escíico do episódio em relação ao assunto, bem como os rcursos

disníveis pa dele raar adqamente. E parce que nese o esamos diante de n

exemplar daquilo que ó começará a fazer sentido quando e desenvolver o drama

converação - um dos capíulos a crie da forma do ma - sobretudo a Inglaera, e a

França, já neste século.

O que emos nesa breve cena-conversaço é a rconstituição de uma exeriência desagradável para os eronagens que foram ao cemitério homenagear os mortos em Finados. Uma ção duramente castigada or "brejeiros" que se proveiam de situaçes dese tio paa imortunr os incautos, sobretuo mulheres. Na qualiade de vítimas a siço, oano pcienes e não agents do corrido, que é o que ineesa, inclusive do pono de vista dramático, mas ao mesmo tempo sendo o foco a partir do qual os incidentes, além de cômicos, pssam a ser relevanes, tais ersonagens têm de ser os oradores (arautos) das ocorrências - seus naradores, enim. Se não houvese ouras razes para proor ouro tio de leitura, altenativo às correntes sobre a obra de Martins Pena, l proosa já se justiicaria elo que acaba de ser exoso. Em oucas palavras: mesmo nos momentos em que noso comediógafo coneguiu imor ao seu conteúdo o pincípio do drama, or mais deajeitada que enha sido esa imosição, aqueles asecos

que nomalmene o apreenads como "falhs técnis" dem, aliás, devem er vistos

cmo rcuros de que ele e utilia endo em visa anto a heterogeneiade entre coneúdo disonível e forma imoraa qanto as limiaçes desa mesma forma

Esamos, com isso, dando razão a José de Alencar e Machado de Assis: é em provável que se não morresse ão cedo Martins Pena acabaria escrevendo excelentes exemplres de alta comédia. Para isso eria ncessário que, entre outràs providências, muase o fco do eu olhar das camadas obes a opulo carica ara a riscrcia e a corte, já que ao morrer parecia estar de posse dos instrumentos adequados paa conigurr o que aina não vira muio em. O que não dá pa saer é se essa "oba de matuidade" maneria o mesmo vigor crítico as que deixou ou e aenas alimenria a nosa vsta comédia ideológica com mais alguns capítulos.

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COSTA, L C . - Martins Pena ' s classless comedy. Tran s/Form/Ação, São Paulo, 1 2 : 1 -22, 1 989.

ABSTRACT: After pomtmg out the ideologic character of basic concepts usually eployed in dramatic literature analysis, this study tries to show how we can see farther when free from their limitations. Once noted lhe classisl basis of theatre theories in Brazil, ideological ight arises as an useful spotlight to illuminate the regularly shadowed faces of Martins Pena' s comedies

KEY-WORDS: Modem theatre; drama, comedy of manners; dramatic comedy; high comedy; farce; drmatic literature; epic theatre.

REFERÊNCIAS BIBLI OGRÁFI C A S

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