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Transferência de tecnologia na indústria de processo contínuo

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Academic year: 2017

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(1)

-André Luís de Castro Moura Duarte

(2)

DE PROCESSO CONTÍNUO

Banca Examinadora

Prof Orientador José Carlos Barbieri

Prof(a) Eva Stal

(3)

ESCOLA DE ADMINISTRAÇÃO

DE EMPRESAS DE SÃO PAULO

ANDRÉ Luís DE CASTRO MOURA DUARTE

TRANSFERÊNCIA DE TECNOLOGIA NA INDÚSTRIA

,

DE PROCESSO CONTINUO

Dissertação apresentada ao Curso de

Pós-Graduação da FGV/EAESP

Área

de

Concentração:

Produção

como

requisito para obtenção de título de mestre em

Administração.

Fundação Getulio Vargas

ESÇ()1a de Adminiskação , de Empresas de São Paulo : Biblioteca .

1200102392

Orientador: Prof. José Carlos Barbieri

SÃO PAULO

(4)

apresentada ao curso de Pós-Graduação da EAESP/FGV, Área de Concentração: Produção)

Resumo: Este trabalho trata da transferência de tecnologia na indústria de processo contínuo com estudos de caso na indústria vidreira e na indústria de papel e celulose. Define a transferência de tecnologia, caracteriza a indústria de processo contínuo e aponta fatores condicionantes de sucesso, dificuldades e os efeitos da transferência de tecnologia neste tipo de indústria. Por fim, gera recomendações para projetos deste tipo ..

(5)
(6)

Ao Prof. José Carlos Barbieri, pela paciência, pelos ensinamentos e imprescindíveis

discussões sobre o tema desta pesquisa.

Ao meu irmão Francisco José pelo incentivo e pela força nos momentos em que eu mais

precisei.

Aos profissionais que me auxiliaram e me abriram portas fundamentais na realização desta

pesquisa.

A todos os meus amigos que me auxiliaram direta ou indiretamente na realização deste

trabalho.

(7)

LISTA DE FIGURAS 8.

LISTA DE TABELAS ..:...•... 9

INTRODUÇÃO 10

1.1. Introdução 10

1.2. Objetivos do Trabalho ...•...• 17

1.3. Limitações do Trabalho ...•... 18

1.4. Estrutura do Trabalho 19

CONCEITOS BÁSICOS: CIÊNCIA, TECNOLOGIA E INOVAÇÃO 22

2.1. Ciência e Tecnologia 22

2.2. Tipos de Tecnologia · 26

2.3. Configuração da Tecnologia ...•....•... 29

2.4. Inovação ...•... 34

2.5. Fases da Inovação

.

:...• 37

TRANSFERÊCIA DE TECNOLOGIA 40

3.1. Definição · , 40

3.2; Transferência de Tecnologia e seu Caráter Multidisciplinar 43

3.3. O Processo de Transferência de Tecnologia ~ 47

3.3.1. Fontes de Tecnologia 54

3.3.2. Modos de Transferência de Tecnologia 56

3.4. Os Efeitos da Transferência de Tecnologia ...•...• 59

3.5. Fatores Determinantes de Sucesso para Transferência de Tecnologia ...•... 64

3.6. Análise Crítica dos Fatores Levantados na Literatura ••.•..•.•.••..•.••..••...•.•..••.•..•..•...•..•74

CAPACITAÇÃO TECNOLÓGICA 79

4.1. Capacitaçãe Tecnológica 79

4.2. Características Setoriais do Processo de Acumulação Tecnológica ••....••..•..•.•••...•.•••..••81

4.3. Acumulação Tecnológica nos Países em Desenvolvimento .•.•.••.••.~..•..•.••..•.••..•••...••..••..••..91

A INDÚSTRIA DE PROCESSO CONTÍNUO 94

(8)

S.2. Características da Indústria de Processo Contínuo 97

5.2.1. Características Tecnológicas 97

5.2.2. Características Econômicas 99

5.2.3. Características da Organização do Trabalho :.. 100

5.3. O Risco de Paradas na Indústria de Processo Contínuo ...•~ 102

5.4. O Futuro da Indústria de Processo Contínuo l04

METODOLOGIA 106

6.1. Classificação da Pesquisa 106

6.2. Pesquisa Bibliográfica : 108

6.3. Estudo de Caso 109

6.4. Desenvolvimento do estudo de caso 111

6,4.1. O problema a ser estudado 111

6.4.2. A escolha dos casos , 111

6.4.3. Coleta de dados 113

6.4.4. Análise dos Dados 115

ESTUDO DE CASOS 117

7.1. ESTUDO DE CASO 1: O Caso da Indústria Vidreira 118

7.1.1. A Indústria Vidreira 118

7.1.2. Análise do Setor Vidreiro ...•... ' : 120

7.1.3 ..A Transferência de Tecnologia para a Indústria 8rasileira 121

7. 1.4. A Empresa Analisada : '...•... 122

7.1.5. A Fábrica Analisada e o Processo Produtivo , 123

7.1.6. O-Processo de Transferência de Tecnologia 125

7. 1.7. Os Resultados Alcançados ; 129

7. 1.8. Análise dos Fatores Determinantes 136

7.2. ESTUDO DE CASO 2: O Caso da Indústria de Papel e Celulose ...•... 139

7.2.1. A Indústria de Papel e Celulose 139

7.2.2. Análise do Setor de Papel e Celulose 141

7.2.3. A Empresa Analisada : 143

7.2.4. O Processo Produtivo 144

7.2.5. O Processo de Transferência de Tecnologia l45

7.2.6. Os Resultados Alcançados : 148

7.2.7. Análise dos Fatores Determinantes 154

7.3. Conclusão Geral dos Casos 157

ANÁLISE FINAL E CONCLUSÃü , 161

(9)

LISTA DE FIGURAS

Fig.1.1. Curva de implantação de uma nova tecnologia... 12

Fig.I.2. Estrutura do trabalho... 21

. Fig.2.I. Os tipos de tecnologias 28 Fig 2.2. Tecnologia maior, mais autonomatizada e mais integrada muda a ênfase de controle para projeto 33 Fig.2.3. A matriz produto- processo relaciona o perfil do produto da operação a sua tecnologia de processo ~... 33

Fig.2.4. A dinâmica da inovação 38 Fig.3.I. Os atores do processo de transferência de tecnologia 47 Fig.3.2. Níveis de Transferência de Tecnologia 49 Fig.4.1. Acumulação tecnológica: termos e conceitos básicos 80 Fig.4.2. Rotas para capacitação tecnológica , : ,... 87

Fig.4.3. Diagrama de fluxo ilustrando as atividades no processo de incorporação de uma tecnologia : :... 90

Fig.5.I. Continuum Volume-Variedade, Tipos de Processo em Operações de Manufatura... 104

Fig.7.1. Rendimento de Produção - Linha B2 130 Fig.7.2. Índice de Reclamação dos Clientes 130 Fig.7.3. Índice de Quebras no Armazém 131 Fig.7.4. Taxa de Turn Over... 135

Fig.7.5. Índice de Acidentes de Trabalho... 135

Fig. 7.6. Quantidade Produzida - Máquina C2 (toneladas/mês)... 149

Fig.7.7. Rendimento Global- Máquina C2

(%)...

150

Fig. 7.8. Número de horas de máquina parada (C2) mensal... 151

Fig.7.9. Gastos de Manutenção :... 152

(10)

LISTA DE TABELAS

Tab.3.1. Balanço de pagamentos de Tecnologia: países da OCDE

selecionados (1998; em US $ Milhões) 42

Tab.3.2. Fatores de sucesso no processo de transferência de tecnologia 74

Tab.3.3. Barreiras e Facilidades nos processos de transferência de tecnologia .. 75

Tab.4.I. Padrões Setoriais da Tecnologia 86

Tab.7.1 Diferenças entre o processo de transferência de tecnologia para os

(11)

..

CAPÍTULO 1

INTR9DUCÃO

1.1. Introdução

A sobrevivência num ambiente cada vez mais competitivo e a busca para elevar os

índices de produtividade fazem com que grandes investimentos sejam executados na

implantação de novas tecnologias. Constata-se, porém, que nem sempre as empresas

conseguem desenvolver ._estas tecnologias internamente, com a eficácia e a rapidez

necessária. Isto acaba por gerar uma relação entre aqueles que desenvolvem e/ou detêm a

tecnologia com aqueles que irão utilizá-Ia. Esta relação se dá pelo processo de transferência

de tecnologia.

A transferência de tecnologia sempre foi um elemento importante do comércio

internacional e, de um modo mais amplo, das relações entre os diferentes países. A história

mostra que diversos países alcançaram seu desenvolvimento industrial através da

importação de técnicas produtivas de outras nações. Os países em desenvolvimento

utilizam-se freqüentemente da importação de novas tecnologias para modernização de seu

parque industrial e conseqüente melhoria de seus índices de produtividade.

A este respeito, o relatório da SOBEET (Sociedade Brasileira de Estudos das

Empresas Transnacionais e da Globalização Econômica) sobre o comportamento

tecnológico das empresas transnacionais em operação no Brasil tem a seguinte afirmação:

"É consenso que as empresas transnacionais operando em países emergentes, embora não realizem atividades inovadoras

stricto

sensu,

necessitam acompanhar, de perto, os padrões tecnológicos de seus pares internacionais. Por isto, realizam despesas em algumas atividades inovadoras complementares e adquirem externamente as tecnologias mais de ponta." (SOBEET, 2000, p.ll)

As atividades inovadoras

stricto sensu

são aquelas realizadas nos centros de

pesquisa e desenvolvimento das empresas transnacionais, normalmente localizados nos

(12)

transferidas para. outras unidades ao redor do mundo que deveriam se encarregar de fazer

pequenas melhorias e adaptar estas tecnologias às condições específicas da unidade através

de atividades inovadoras complementares.

O Brasil, segundo o mesmo relatório, alcançou em 1998 o oitavo lugar no ranking

mundial de investimentos diretos estrangeiros com US$156,8 bilhões. Das 500 maiores

empresas globais, 405 estão em operação no Brasil, o que leva a um grau de

internacionalização da economia brasileira em torno de 20% do Produto Interno Bruto

(PIB). Em 1996 este número era de 13,9% do PIB, demonstrando que a internacionalização

da economia do país tem se expandido.

Isto constata que, embora certos países em desenvolvimento tenham tido nos

últimos anos uma rápida acumulação e diversificação de suas capacidades produtivas, este

processo não foi acompanhado de uma capacitação tecnológica que possibilitasse gerar

inovações strictu sensu a partir da tecnologia adquirida. A maioria destes países, sem o

conhecimento necessário para conceber certos tipos de tecnologia, importantes para seu

desenvolvimento industrial, optou pela transferência da tecnologia dos países

desenvolvidos industrialmente, sem. conseguir incentivar o desenvolvimento de tecnologias

próprias. A compra da tecnologia parecia ser a saída mais rápida e efetiva para que suas

empresas se mantivessem competitivas e em sintonia com as empresas pares em outras

partes do mundo.

Embora a transferência de tecnologia seja uma atividade muito antiga e freqüente,

observa-se que muitas das tecnologias importadas não atendem as expectativas dos

compradores, nem as da sociedade em geral. Uma das origens de tantas decepções pode

estar ligada à não utilização de uma metodologia adequada no processo de transferência de

tecnologia. São negligenciadas entre outras, características e particularidades do país

comprador, da empresa compradora, do setor produtivo, do tipo de processo produtivo, das

pessoas que lá trabalham e das operações que estas executam.

Muitas vezes, após a implantação da nova tecnologia, demora-se muito tempo para

se alcançar os resultados esperados sendo necessário investir em ajustes e adaptações não

previstos para garantir um funcionamento satisfatório da tecnologia importada. A Figura

1.1 abaixo mostra que, normalmente, logo após a implantação de uma nova tecnologia as

(13)

série de ajustes necessários para que' a nova tecnologia funcione da maneira esperada.

Existe também a influência do aprendizado por parte dos funcionários que passam a lidar

com uma nova tecnologia que ainda não está, em termos operacionais, totalmente

dominada. Após algum tempo a expectativa é de que a nova tecnologia comece a dar os

resultados esperados. O sucesso deste processo é avaliado pela rapidez com que a empresa

alcança estes resultados.

Figura 1.1: Curva de implantação de uma nova tecnologia

Desempenho I I

---+

I I I

Pode-se observar na figura acima que após a implantação da nova tecnologia o

desempenho cai ao nível R2, levando um período (T2 - TI) para recuperar o desempenho

normal anterior à transferência de tecnologia. Após o período T3 o desempenho volta a se

estabilizar em R3 conforme metas estabelecidas pela empresa para a nova tecnologia.

Sendo assim, o sucesso de uma transferência de tecnologia pode ser medido pelo tempo (T3

- TI) em que a empresa demora para alcançar suas metas previstas e, também, pela mínima

queda no desempenho (R2) apresentada no momento da implantação da nova tecnologia.

Sintomas bastante comuns em empresas que passaram por processos de

transferência de tecnologia são: atrasos nos start-ups, baixa qualidade de produção, pouca R3

I

: Implantação

I I I

_____________

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I I

: tecnologia: I

I I I

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I I

I I

RI

R2

TI T2 T3

(14)

flexibilidade e interrupções constantes da produção com inevitável perda de produtividade,

entre outros.

Todas estas conseqüências estão normalmente ligadas a uma baixa taxa de

utilização dos equipamentos (devido as constantes interrupções de trabalho); à não

disponibilidade de peças de reposição; ao manuseio inadequado de máquinas e

equipamentos; à manutenção insuficiente; à insuficiente formação de pessoal; ao

absenteísmo e às altas taxas de turn-over de certas regiões, normalmente atribuída à baixa

qualidade das condições de vida da população.

São vários os casos de transferências de tecnologias que não alcançaram os

resultados esperados inicialmente. Um estudo da OIT - Organização Internacional do

Trabalho e da OMS - Organização Mundial de Saúde citado por SANTOS et aI. (1997)

apresenta o caso deuma mina de extração de sulfato implantada no Iraque. De acordo com

os autores, a tecnologia desta usina foi adquirida de um país do norte da Europa. Ela foi

projetada inicialmente para o clima do país exportador e instalada sem qualquer

modificação no país importador. O. projeto original não apresentava nenhuma precaução

para reduzir o calor exigido para conforto térmico dos trabalhadores naquele ambiente. A

altura das chaminés era inadequada ao tipo de vento da região pois este soprava os gases

para cima da usina. Observou-se um nível de manutenção pobre resultando na rápida

degradação dos equipamentos e em constantes vazamento de gases. Constatou-se ainda,

que os manuais de manutenção não foram adaptados à língua local, os equipamentos de

proteção individuais utilizados não eram adequados às condições climáticas da região e, por

último, mas muito importante, o insuficiente treinamento técnico dado aos operadores e

gerentes locais.

Um segundo exemplo mostra que este problema não é exclusivo de transferências

internacionais de tecnologia, o mesmo pode ocorrer dentro de um mesmo país. Num caso

estudado, ABRAHÃO citado por SANTOS et ai. (1997, p.8l), comparou o funcionamento

de duas destilarias de álcool de cana de açúcar idênticas localizadas uma na região de

Ribeirão Preto, interior de São Paulo, e outra numa pequena cidade do interior de Goiás.

Apesar de possuírem a mesma capacidade nominal de produção, a usina de Ribeirão Preto

produz 40% mais que a usina do interior de Goiás. O estudo demonstra que a

(15)

de obra qualificada, influi significativamente nestes resultados. Além disto, observou-se

que, enquanto na usina de Ribeirão Preto há uma grande flexibilidade na execução das

tarefas e no trabalho realizado pelos operadores, na usina de Goiás segue-se estritamente a

descrição do funcionamento tal como está nos manuais tornando-se uma organização

bastante burocrática com baixa comunicação entre setores e entre pessoas de diferentes

níveis hierárquicos.

MOUSTAFA (1990), em seu estudo sobre gerenciamento de transferência de

tecnologia em países em desenvolvimento, relata que as empresas se preocupam mais com

os aspectos técnicos das máquinas e equipamentos e somente mais tarde reconhecem a

necessidade de um melhor gerenciamento da tecnologia a fim de evitar problemas na sua

implantação e no decorrer de suas operações. Estes problemas, segundo ele, podem ter

origem na própria cultura da empresa (resistência a mudança), nos estudos de viabilidade,

na escolha de uma tecnologia inadequada, nas políticas governamentais, nos fatores de

infra-estrutura (energia elétrica, atendimento hospitalar, mão de obra qualificada, rede de

transportes) e na disponibilidade dos recursos naturais.

Desta maneira pode-se considerar que, além dos aspectos técnicos de uma .

transferência de tecnologia, existem também os de caráter administrativos, tais como os

sistemas de controle, a divisão do trabalho, o planejamento e controle da produção, as

formas de incentivos aos trabalhadores, a gestão de custos, as estratégias para atender as

necessidades dos clientes, a maneira de comercialização, as questões mercadológicas, os

fatores logísticos e muitos outros.

WISNER (1982) sugere que os processos de transferência de tecnologia são na

maior parte das vezes transferências parciais. Os equipamentos são importados, mas a

organização, os serviços de manutenção, a formação dos operadores ou técnicos e a

documentação que acompanha os dispositivos técnicos são inadequadas ou incompletas.

Quando a transferência se restringe apenas às máquinas e instalações, observa-se um

desempenho inferior no novo ambiente, caracterizado pela baixa produtividade, má

qualidade. dos produtos, rápida degradação das máquinas, alto índice de acidentes e outros

fatores negativos que não são observados no ambiente no qual foram concebidas as

(16)

-

Desta forma é fundamental que toda transferência de tecnologia passe por um processo de reconcepção, ou seja, uma adaptação à realidade organizacional,

administrativa, tecnológica e social da unidade produtiva receptora da tecnologia.

No caso da indústria de processo contínuo, como a indústria vidreira, a indústria de

papel e celulose, as siderúrgicas e as petroquímicas, os fatores negativos citados acima

podem ser agravados devido suas próprias características e particularidades.

Neste tipo de indústria o bom andamento da produção depende de que todas as

etapas do processo estejam funcionando de acordo com o especificado em projeto. Devido

a interdependência e continuidade do processo produtivo, se uma etapa deste processo

estiver apresentando problemas, todo o fluxo de produção será afetado e a produtividade e

qualidade serão penalizadas. O reparo em uma válvula, por exemplo, pode parar toda uma

linha de produção. Estas paradas podem ser extremamente caras e perigosas,

principalmente em indústrias com alto-fomos como é o caso da indústria vidreira e da

indústria siderúrgica. Na indústria vidreira, mais especificamente, uma longa parada na

produção, sem um controle adequado, pode gerar um superaquecimento do vidro

ocasionando um vazamento no fomo, gerando. com isto enormes prejuízos. Da mesma

maneira o seu resfriamento pode provocar trincas nos refratários comprometendo a vida úti]

do fomo.

Além disto, trata-se de uma indústria de capital intensivo, com equipamentos de alta

tecnologia, funcionamento ininterrupto e baixa flexibilidade de processo. Outro aspecto

importante levantado por TOLEDO et aI. (1989), mostra que a indústria de processo

contínuo representa o estágio mais avançado da automação industrial. A produtividade

deste tipo de trabalho depende menos do ritmo de trabalho dos operadores e mais do

rendimento global das instalações. A intervenção humana se restringe basicamente às

atividades de monitoração , controle e manutenção das máquinas, equipamentos e

dispositivos, além de algumas atividades de apoio. Seu desempenho é avaliado pela taxa de

utilização da capacidade instalada. Desta maneira, qualquer interrupção na produção para

que sejam feitas intervenções de ordens técnicas (manutenção de equipamentos ou

introdução de novos equipamentos) podem representar riscos e custos elevados, além de

comprometer. a qualidade final do produto. Muitos dos riscos associados à indústria de

(17)

minérios; e outros que podem ser prejudiciais às pessoas e ao meio ambiente) e também às

condições de processamento (altas temperaturas, pressões, volumes, etc.) .

Os processos de produção em massa, que normalmente trabalham com o

lay-out

em

linha como é o caso das montadoras de automóveis, também apresentam uma continuidade

e dependência nas etapas de seu processo produtivo, porém, uma parada neste tipo de

indústria normalmente representa riscos menores, custos menos elevados e pouco afetam a

qualidade final do produto.

Já numa indústria de processo discreto, como a de autopeças e a de equipamentos

eletrônicos, a parada de uma etapa de produção, mesmo provocando prejuízos, pode ser

contornada momentaneamente com a subcontratação dos serviços de um fornecedor

capacitado sem ter necessariamente que interromper ou afetar as outras fases do processo.

Neste tipo de processo, uma parte do sistema produtivo pode ser desviado, permitindo que

o processo de introdução de uma nova tecnologia possa ser feito sem maiores riscos de

comprometer a qualidade do produto final, até que a nova tecnologia esteja adequadamente

dominada.

Deve-se ressaltar ainda que. autores como STALK (1988) colocam a questão do

tempo como um dos elementos de competitividade mais importantes nos dias atuais. Desta

forma, toma-se importantíssimo que os processos de transferência de tecnologia, em

especial nas indústrias de processo contínuo, sejam conduzidos com uma metodologia

adequada para que se consiga alcançar, o mais rapidamente possível, os índices de

qualidade e produtividade planejados, e ainda, provar num curto espaço de tempo que os

investimentos foram bem realizados e estão dando retomo.

Neste trabalho pretende-se estudar os processos de transferência de tecnologia na

7-indústria de processo contínuo, com um estudo de caso na 7-indústria de vidro e outro n~

indústria de papel e celulose. Espera-se, com isto, gerar recomendações para o

gerenciamento de projetos de transferência de tecnologia tendo em vista reduzir os custos e

recursos necessários para se atingir os objetivos estratégicos, quantitativos e qualitativos

(18)

1.2. Objetivos do Trabalho

Para LAKATOS

et al

(1987), o objetivo geral do trabalho está ligado a uma visão

global e abrangente do tema. Relaciona-se com o conteúdo intrínseco quer dos fenômenos e

eventos, quer das idéias estudadas. Está vinculado diretamente à própria significação do

projeto proposto. Os objetivos específicos apresentam caráter mais concreto, têm função

intermediária e instrumental, permitindo de um lado, atingir o objetivo geral, e, de outro,

aplicar este a situações particulares.

Esta dissertação tem como objetivo geral contribuir para o entendimento do

processo de transferência de tecnologia em especial na indústria de processo contínuo.

De modo específico esse estudo procurará:

a) Compreender o processo de transferência de tecnologia como um mero de

capacitação tecnológica em empresas de processo contínuo;

b) Caracterizar a indústria de processo continuo; .

c) Identificar dificuldades, conseqüências e condicionantes de sucesso num

processo de transferência de tecnologia na indústria de processo contínuo;

d) Gerar recomendações para o gerenciamento de projetos de transferência de

tecnologia em indústrias de processo contínuo.

Buscou-se alcançar estes objetivos através:

a) De uma ampla revisão bibliográfica sobre o tema transferência de tecnologia,

bem como os assuntos tratados no decorrer desta dissertação como tecnologia,

(19)

b) De dois estudos de caso de transferência de tecnologia, um ocorrido numa

indústria vidreira e outro numa indústria de papel e celulose.

1.3. Limitações do Trabalho

Em primeiro lugar, este trabalho foca no

receptor,

no usuário da tecnologia

adquirida e não no desenvolvedor da tecnologia. Comenta-se a relação entre estes dois

agentes mas a visão estudada é a da empresa receptora da nova tecnologia.

Uma segunda limitação deste estudo refere-se á complexidade e abrangência do

tema transferência de tecnologia. O estudo proposto não abordará a escolha da tecnologia e

nem seus aspectos juridicos, políticos ou de viabilidade econômico-financeira. Este estudo

se restringe aos aspectos organizacionais, operacionais e técnicos da

implantação

da nova tecnologia;

A terceira limitação está relacionada ao método do estudo de caso utilizado neste

trabalho. Esta limitação refere-se à'dificuldade de generalização dos resultados obtidos.

Segundo GIL (1996), pode. ocorrer que as unidades escolhidas para investigação sejam

bastante anormais em relação à muitas de sua espécie ~, consequentemente, os resultados

da pesquisa tomar-se-ão bastante equivocados. A escolha por apenas dois estudos de caso

se dá em função da natureza da pesquisa. As empresas aqui analisadas precisavam ter

passado por uma grande transformação de seu processo produtivo, via uma transferência de

tecnologia internacional. Além disto, seria necessário ter o histórico dos seus índices

durante e após o processo de implantação da nova tecnologia. Por último, seria importante .

que o processo de transferência de tecnologia já estivesse terminado pois, assim, poderia

ser avaliada a evolução de alguns índices alcançados pela empresa.

Uma quarta limitação deste trabalho ocorre pelo próprio fato do pesquisador ter

vivenciado o processo de transferência de tecnologia descrito em um dos estudos de caso, o

da indústria vidreira. Esta vivência poderia ter levado o pesquisador tirar suas próprias

conclusões, ou seja, a ser parcial nas suas análises e conclusões. A utilização de fatos,

evidências e dados concretos foram alguns dos cuidados tomados para se evitar a

(20)

1.4. Estrutura do Trabalho

o

presente trabalho esta organizado em oito capítulos mais as referências bibliográficas, cuja estrutura é mostrada na Figura 1.2. O trabalho é dividido em introdução,corpo teórico (com 4 capítulos), metodologia, estudos de caso e conclusão.

O Capítulo I apresenta uma introdução geral ao assunto a ser analisado, justifica e

apresenta o tema de pesquisa.

É

neste capítulo que se conhece quais os objetivos desta dissertação e quais suas limitações de análise.

O Capítulo 2 apresenta conceitos básicos sobre ciência, tecnologia e inovação, suas

definições, tipos, diferenças e inter-relações. Diferentes autores analisam e contribuem para

um entendimento mais amplo destes conceitos .básicos auxiliando a compreender a

complexidade do processo de transferência de tecnologia .

. O terceiro capítulo analisa a fundo a questão da transferência de tecnologia, sua

importâricia no mundo atual, seus conceitos, modelos, etapas, e seus diferentes tipos e

fontes. São apresentadas diversas áreas que tratam do tema, da administração, passando

pela engenharia,

.

sociologia e economia, cada uma delas enfocando ufl? ponto de vista ..

diferente, porém, importantes para o entendimento do assunto estudado. São tratados os

efeitos e as dificuldades de uma transferência de tecnologia se conduzida de maneira

inadequada. Por fim, são apresentados alguns autores que estudaram diferentes fatores

condicionantes para o sucesso de uma transferência de tecnologia. Uma análise conjunta

destes autores permite encontrar pontos em comuns que serão mais tarde confrontados com

o estudo de caso analisado. Este capítulo propõe uma classificação, baseada na literatura, de

fatores detenninantes nos processos de transferência de tecnologia.

O Capítulo 4 procura contextualizar os processos de capacitação e acumulação

tecnológica nos países em desenvolvimento como o Brasil. Estes processos são

fundamentais para se entender a importância da transferência de tecnologia para os países

em desenvolvimento. O processo de acumulação tecnológica pode ser realizado de

diferentes maneiras pelas empresas, dependendo do tipo de processo e do setor em que

atuam. Dentre estes setores, definidos por BELL e PA VITT (1993), destaca-se as empresas

(21)

o

quinto capítulo define e caracteriza a indústria de processo contínuo. Neste

capítulo compreende-se que algumas peculiaridades da indústria de processo contínuo

devem ser consideradas na condução de projetos de transferência de tecnologia.

O sexto capítulo faz explanações a respeito da descrição do estudo e da metodologia

de pesquisa empregada. O objetivo deste capítulo é deixar claro como foi desenvolvida esta

pesquisa. Um ponto importante deste capítulo é esclarecer como foi conduzido o estudo de

caso realizado numa indústria vidreira.

! .

No Capítulo 7 inicia-se a discussão e descrição dos estudos de caso objetos de nosso

estudo. Para cada estudo de caso, é feita uma análise do setor e das empresas estudadas. A

seguir, é feito uma descrição do processo de transferência de tecnologia e os objetivos

esperados. Por fim, são apresentados os resultados alcançados e as dificuldades enfrentadas

por engenheiros e técnicos nos ajustes e adaptações necessárias à nova tecnologia

adquirida.

Por fim, o último capítulo procura contemplar as informações conclusivas desta

dissertação, colocadas em relação aos objetivos definidos e às contribuições científicas

(22)

Figura 1.2: Estrutura do Trabalho

Can. J

Introdução Formulação do problema

Objetivos do trabalho Limitações do trabalho

+

CORPO TEÓRICO

,

Cao.2 Cao.3 Can.4

Conceitos Básicos Transferência de Teenología Capacitação Tecnológica

.

Ciência e Tecnologia Definição Definição

Tecnologia ' O Processo (modos e fontes) Características Setoriais

Inovação Os Efeitos da TI Acumulação tecnológica nos

Tecnologia e Competitividade Fatores de Sucesso países em desenvolvimento

Análise Critica dos Fatores

Can.S ,

.

A Indústria de Processo

.

Contínuo

.

Definição

Características Tecnológicas

Características Econômicas

Características Organizacionais

Riscos de Parada

Can. 6 ~

r

Metodologia Classificação da Pesquisa

Pesquisa Bibliográfica Estudo de Caso

Cao.7

t

Estudos de Caso Caso I: T. de tecnologia

na indústria vidreira Caso 2: T. de tecnologia

naindústria de papel e celulose

Cao. 8

+

(23)

CAPÍTULO 2

CONC'EITOS BÁSICOS: CIÊNCIA, TECNOLOGIA E INOVAÇÃO

2.1. Ciência e Tecnologia

É·da natureza do homem buscar novos métodos, processos, materiais e ferramentas

que possam lhe trazer beneficios, seja através da

minimização

de seus esforços na produção

de bens e serviços, seja para trazer conforto, segurança e bem estar. Este processo de

evolução é muitas vezes decorrente da ciência e tecnologia.

Ciência e tecnologia são palavras muitas vezes usadas com um mesmo significado.

Na verdade, as duas palavras divergem em muitos aspectos embora os limites que as

separem sejam muitas vezes arbitrários ou dificeis de serem estabelecidos na prática.

MARCOVITCH (1978) mostra que, enquanto a ciência busca o conhecimento do

meio em que o homem vive, a tecnologia cuida dos instrumentos que o homem desenvolve

para manipular seu ambiente. Mais do que isto, ambas devem ser observadascorno partes

inseparáveis, dependentes e complementares em que o- avanço tecnológico decorre do

conhecimento científico acumulado e fornece a base material para que este evolua e se

perpetue.

Para BARBIERI (1990) a ciência refere-se a uma forma específica de

conhecimento, o conhecimento científico. Um aspecto característico do conhecimento

científico é o de ser fundamentado ou sujeito a alguma forma de verificação. O autor ainda

faz a distinção entre ciência básica e ciência aplicada. Na ciência básica, pura ou

fundamental, a preocupação em adquirir novos conhecimentos não está subordinada a

objetivos práticos e imediatos, na ciência aplicada, pelo contrário, essa preocupação é

dominante e os conhecimentos são buscados para serem utilizados na solução de problemas

identi ficados.

Diferenciar ciência básica de tecnologia é relativamente fácil, pOIS enquanto a

primeira busca conhecimentos sem se preocupar com sua utilização prática imediata, a

segunda é uma forma de conhecimento essencialmente utilitária, voltada exclusivamente·

para atuar na natureZa. Porém, entre a ciência aplicada e a tecnologia existem muitos

(24)

e identificados. Embora seja uma diferença tênue, é possível distinguir os dois casos. A

ciência aplicada busca, através de uma metodologia científica, conhecimentos para explicar

a natureza, seja ela fisica, biológica ou social de determinados fenômenos; já a tecnologia

utiliza os conhecimentos' científicos disponíveis, mas não se reduz a eles.

Viu-se ser possível separar ciência e tecnologia, porém, conforme afirmam alguns

autores a interação entre ambas existe e é fundamental. Normalmente as duas caminham

lado a lado, sendo conseqüência uma da outra. Da mesma forma que a tecnologia auxilia no

desenvolvimento da ciência, é a ciência a grande responsável pelos avanços tecnológicos.

A definição de tecnologia todavia não é tão simples como pode parecer. Diversos

autores da literatura nacional e internacional definem a palavra tecnologia à sua maneira.

Alguns visualizam a tecnologia apenas como um processo transformacional.

ABDALLA '( 1985) a define como um conjunto de elementos que permite, a partir

de conhecimentos básicos e de fatores disponíveis, chegar-se àprodução de bens e serviços.

PERROW (1976) a encara simplesmente como a forma com que a organização

transforma insumos (materiais. humanosjem produtos (bens e serviços).

FREEMAN (1982); sugere que a tecnologia é simplesmente' um corpo de

conhecimentos sobre técnicas. Contudo. ela é freqüentemente utilizada, para abranger

ambos, o próprio conhecimento e a parte tangível daquele conhecimento incorporado num

sistema operativo que utilize equipamentos de produção.

Outros autores incluem não só os conhecimentos técnicos e científicos, mas também

os conhecimentos práticos obtidos no exercício diário das tarefas onde eles se aplicam.

MANSFIELD (1969), por exemplo, inclui além dos conhecimentos relativos aos

fenômenos químicos e fisicos utilizados pela indústria, também os conhecimentos quanto

suas aplicações práticas e conhecimentos quanto ao dia-a-dia da produção. Da mesma

maneira, ROSENTHAL e MOREIRA (1992) destacam a origem destes conhecimentos,

que podem ser em grande parte científica, mas que abrangem uma importante parcela de

experiências e conhecimentos práticos, adquiridos e acumulados no exercício da atividade à

qual se refere.

Pode-se ainda entender como tecnologia não somente um acervo de conhecimentos

genéricos, mas como um conjunto de conhecimentos específicos e ordenados, resultado de

(25)

a tecnologia é o conjunto ordenado de conhecimentos empregados na produção e

comercialização de bens e serviços, .e que está integrada não só pelos conhecimentos

científicosprovenientes das diversas ciências (exatas, biológicas, sociais e humanas), mas

igualmente pelos conhecimentos empíricos, que resultam de observações, experiências,

atitudes específicas, tradição oral ou escrita e outras. LONGO (1977), por sua vez, reúne

em sua definição de tecnologia, além do conjunto ordenado dos conhecimentos científicos e

empíricos também os conhecimentos intuitivos empregados na produção e comercialização

de bens e serviços.

WALLENDER III (1979) define tecnologia simplesmente como um conjunto de

conhecimentos. No entanto este autor classifica este conhecimento em cinco categorias

diferentes:

Conhecimento Geral: conhecimento público disponível na sociedade através de livros e universidades. Também conhecido como fundo comum de

conhecimento.

Conhecimento Específico da Indústria: conhecimento técnico comum a empresas de um mesmo tipo de indústria.

É

o conhecimento necessário para

produzir um produto e/ou gerenciar um processo de uma determinada indústria.

Conhecimento' Específico do Sistema: conhecimento e know-how específico necessário para a produção de um produto específico. Este conhecimento é

adquirido no desenvolvimento de certas tarefas ou. projetos relacionados ao

produto em questão. Empresas que produzem produtos similares podem possuir

conhecimentos semelhantes.

Conhecimento Específico da Firma: conhecimento ou know-how único e específico de uma determinada empresa. Este tipo de conhecimento não está

necessariamente ligado à produção de um produto específico, mas deriva das

atividades peculiares de uma determinada empresa. É aquele conhecimento

desenvolvido internamente e próprio de uma determinada empresa. Outras

empresas que produzem produtos similares não têm acesso.

(26)

_.

experiência é importante e necessária para resolução de problemas produtivos de

maneira contínua.

DOSI (1984) sugere uma definição de tecnologia ainda mais abrangente, para ele a

tecnologia é um conjunto composto por conhecimento (prático e teórico), "know-how",

métodos, procedimentos, experiências de sucesso e fracassos e também objetos físicos e

equipamentos. Assim como os objetos físicos podem incorporar os avanços tecnológicos

em determinado campo, a tecnologia tem aspectos não incorporados, representados pela

capacitação, pela experiência de tentativas e soluções do passado, pelo conhecimento e

pelas conquistas do estado-da-arte.

Numa tentativa de sistematizar este conceito, LORENTZEN, citado por

SHAHNA VAZ (1991), define tecnologia como um conjunto dos seguintes fatores: técnica,

conhecimento, organização e produto. A técnica consiste nos instrumentos (máquinas e

ferramentas), materiais e a

maneira

de operá-los durante o processo produtivo. O

conhecimento é formado por três categorias fundamentais: conhecimentos científicos.

habilidades práticas (experiência) e intuição, cada um deles em proporções variav '-"1'

dependendo das caracteristicas do ambiente em questão. Para que a técnica t.' t) conhecimento sejam produtivos, é necessário que sejam organizados. A organização.

envolvendo as práticas e os processos administrativos, sendo resultado da cultura e da

estrutura social da sociedade ou da empresa em que trabalham. A técnica, o conhecimento e

a organização acabam por culminar no produto, objetivo final destes três fatores. O

produto reflete a tecnologia usada para sua fabricação e a sociedade que irá consumi-lo.

Uma das mais precisas e esclarecedoras explicações para tecnologia foi encontrada

no TECHNOLOGY ATLAS TEAM (1987). Este conceito inclui não somente máquinas e

produtos mas, também, as formas de conhecimento e habilidades requeridas para

utilizá-los. Assim a tecnologia é a junção do tecnoware (a máquina, equipamento ou produto em

si), humanware (experiência, habilidades, técnicas, criatividade dos indivíduos), infoware

(sistemas de informação e documentação) e organware (práticas organizacionais e

administrativas das instituições envolvidas.

Por um lado a tecnologia é um ingrediente da produção e de todo o processo

(27)

o qual a converte em mercadoria ou objetos de transação econômica. Éimportante destacar

a complexidade de se considerar a tecnologia como um bem econômico, ou seja, uma

mercadoria quê, como tal, tem um valor de troca e pode ser comercializada por aqueles que

a detém. Como conseqüência, o comércio da tecnologia, como forma de transferência de

tecnologia, pode até mesmo constituir um mecanismo de controle e dependência para

algumas empresas, principalmente multi nacionais onde isto é mais freqüente. Neste

aspecto, BARBOSA (1984) destaca a relação da tecnologia com o poder econômico,

indicando que o controle sobre uma tecnologia é um poder sobre este mercado. Para ele a

tecnologia é um conjunto ordenado de conhecimentos e experiências que toma seu valor

como resultado das relações de um certo mercado.

As definições para o termo tecnologia são muitas, e como. pôde ser observado,

algumas se restringem mais especificamente a questões físicas, enquanto outras são mais

abrangentes e envolvem aspectos culturais, sociais e econômicos. Neste trabalho a visão

utilizada para definir a tecnologia recorre aos aspectos teóricos como os conhecimentos

científicos e técnicos; aos aspectos práticos

não

materiais como o conhecimento tácito,

oriundas da experiência e dos con~ecimentos intuitivos dos trabalhadores; aos aspectos

práticos materiais como as máquinas e as ferramentas; aos aspectos organizacionais e

administrativos como procedimentos, normas, formas de se executar, orientar e incentivar o

trabalho das pessoas. Por fim, é fundamental para este trabalho, não se esquecer do caráter

econômico da tecnologia que a faz ser tratada como uma mercadoria" e como tal pode ser

comercializada.

2.2. Tipos de Tecnologia

BARBIERI (1990) apresenta dois tipos de tecnologia, a moderna e a tradicional. A

tecnologia baseada apenas em conceitos empíricos, produzida ao longo de gerações, e

através da prática reiterada das próprias pessoas é chamada de tradicional. Sua transferência

é feita por meio do aprendizado nos diversos ofícios e dentro de um ambiente pouco

formal. Já a tecnologia moderna é baseada na ciência, enfatizando a aplicação sistemática

(28)

A produção do vidro, como exemplo, iniciada por volta do ano 3000 AC, foi

durante séculos inteiramente artesanal, e seu processo de fabricação era essencialmente à

base do sopro. Sua transferência se fazia através do aprendizado ao longo de gerações, e

por um longo período não foi constatada nenhuma mudança notável no seu modo de

produção. Somente, a partir do final do século XIX e início do século XX que se tem

notícias de um maior desenvolvimento tecnológico com a introdução significativa dos

processos mecânicos. Hoje, se trata de uma industria madura, que aplica constantemente

conhecimentos de base intensiva em ciência na modernização de seu processo produtivo.

BARBIERI (1990) ainda faz a distinção entre dois tipos de tecnologia, a

incorporada e a não incorporada. A tecnologia incorporada seria o conjunto organizado de

conhecimentos de natureza variada que constitui uma dada tecnologia incorporada em

máquinas, instalações e matérias-primas. Já a tecnologia não incorporada ou explícita se

refere aos conhecimentos tecnológicos inerentes aos indivíduos através do saber intelectual,

habilidades, experiências e documentos, como patentes, normas técnicas, desenhos e

outros. O conjunto das tecnologias incorporada e a não incorporada constitui um pacote

tecnológico. Assim, conceitua-se um pacote tecnológico como um determinado arranjo de

componentes diversos formando um produto completo" capaz de atender necessidades

específicas de produção e comercialização.

FARIA (1992) apresenta uma outra classificação, distinguindo dois tipos de

tecnologia: a de processo e a de produto conforme Figura 2.1. A tecnologia de produto refere-se à tecnologia embutida no bem físico como bens de consumo, bens de capital e as

peças que compõem estes bens. A tecnologia de processo, por sua vez, compreende a

tecnologia envolvida no processo de fabricação do produto. A tecnologia de processo está

subdividida em tecnologia física (equipamentos e instalações envolvidos o processo

produtivo) e a tecnologia de gestão. Esta última é o conjunto de técnicas, instrumentos ou

estratégias utilizadas pelos administradores para controle e otimização dos recursos do

processo de produção em geral. O autor subdivide a tecnologia de gestão em técnicas. de

(29)

Figura 2.1: Os tipos de tecnologias

Gestão pela Qualidade Total Gestão Participativa Gestão por Pbjetivos_

Desenvolvimento Organizacional Brainstonning

Mecanismos de Motivação e Interação

MTM - Estudo de Tempos e Movimentos OEM - Organizações, Sistemas e Métodos Sequência de Etapas de Produção

Layout Físico e de Processo Kanban

MRP, QFD, Análise do Valor

Fonte: FARIA, 1. H. Tecnologia e processo de trabalho. Curitiba: UFPR, 1992. 125p.

SLACK (1997) ressalta as diferenças existentes entre as tecnologias de processo e

de produto e/ou serviço. Em operações de manufatura, por exemplo, a tecnologia de um

videocassete é a forma como ele converte sinais de TV de maneira que a imagem possa ser

transferida para a fita, a forma como controla o movimento da fita e a forma como lê as

informações gravadas na fita e as converte em imagens de TV. Por outro lado, a tecnologia

de processo consiste nas máquinas e ferramentas que fizeram e montaram os componentes

do videocassete. Observa-se pelo exemplo que existe uma forte relação ente as duas

tecnologias apresentadas. Decisões tomadas durante o projeto do produto ou serviço terão

certamente um impacto sobre o processo que os produz e vice-versa. Apesar da separação

teórica, na prática, muitas vezes as' duas tecnologias são desenvolvidas de maneira

simultânea. Uma das razões para isto é o reconhecimento crescente de que o projeto de

produtos tem um efeito importante no custo de sua produção (por exemplo escolher o

material a ser utilizado, as tolerâncias e o modo como os componentes são fixados). Uma

segunda razão está relacionado ao tempo que decorre entre a concepção inicial do produto e

seu lançamento no mercado. SLACK (1997) chama projeto interativo o ato de fundir o

projeto de produtos/serviços com o projeto dos processos. Uma das principais práticas

(30)

mercado de um novo produto ou serviço, é a chamada engenharia simultânea. A engenharia

simultânea procura otimizar o projeto do produto e do processo através da integração e da

simultaneidade na condução das atividades de desenvolvimento dos projetos. Busca-se com

isto, além da redução do tempo, ganhos em qualidade e redução de custos.

SLACK (1997) além de diferenciar a tecnologia de processo e de produto/serviço

também subdivide a tecnologia de processo em outras três:

(I) Tecnologia de Processamento de Materiais: inclui a forma pela qual metais,

plásticos, tecidos e outros materiais são processados e transformados (novas tecnologias

cortadoras, conformadoras, moldadoras, formadoras, etc.)

(2) Tecnologia de Processamento de Informação: inclui qualquer dispositivo que

colete, manipule, armazene ou distribua informação. Essas tecnologias incluem

computadores e periféricos, dispositivos transmissores e receptores, telecomunicações,

redes de cabos ópticos, etc.

(3) Tecnologia de Processamento de Consumidor: inclui aqui todas as atividades em

que o cliente faz parte do processo, tais como serviços médicos, de transportes, hoteleiros,

etcEsta última, mais relacionada com operações em serviços e não em manufatura.

2.3.

Configuração da Tecnologia

Se compararmos diferentes indústrias, como a indústria farmacêutica, a indústria

automobilística e a indústria de alimentos, podemos verificar que empregam tecnologias

diferentes. Normalmente a tecnologia do processo define a natureza da operação. SLACK

(1993) sugere três dimensões para a configuração e escolha de uma tecnologia de processo:

a) Tamanho: não o tamanho fisico, mas a escala de sua capacidade;

b) Grau de Automação: o equilíbrio entre intensidade de capital e mão de obra; c) Grau de Integração: como ela é conectada a outros equipamentos e processos.

Com relação ao tamanho da tecnologia, ou mais precisamente à escala de capacidade produtiva, algumas tecnologias de processo como o refinamento de

(31)

-

beneficiam-se da escala de suas operações. e por isto sua capacidade normalmente é elevada. Outras tecnologias como por exemplo as empregadas na fabricação de aviões e

navios têm escalas e capacidades limitadas.

Grandes máquinas têm diversas vantagens, a mais aparente e mais utilizada para

justificativas de investimento são as economias de escala. Os custos da tecnologia em si, os

custos de instalação, de suporte e de operação serão provavelmente menores por unidade

produzida. Porém, se os custos são as melhores justificativas para equipamentos de grande

capacidade, a flexibilidade de mix e volume são justificativas para a utilização de

equipamentos menores. Quatro máquinas podem fazer quatro produtos diferentes

simultaneamente significando estoques mais baixos e produção mais contínua. Há ainda

duas vantagens adicionais para se escolher máquinas de menor porte. Primeiro a robustez.

ou seja, se uma máquina quebra ainda existem outras três para executar o trabalho, o

mesmo não se pode dizer quando se trabalha com uma única máquina de grande porte.

Segundo, investimentos progressivos podem ser feitos no sentido de acompanhar

°

aumento da demanda. No caso de máquinas de grande 'porte, é necessário que se invista

uma grande soma de dinheiro baseado em pr~visões de demanda que nem sempre :--,,'

concretizam. Nesta decisão, deve-se levar em consideração

°

custo de ociosidade e o ri '''.('

de nào se alcançar a demanda prevista no período determinado. Porém, excess. \ de

capacidade produtiva pode ser considerado como uma barreira de entrada a novos

concorrentes.

O grau de automação de uma máquina é a razão entre o esforço mecânico que ela emprega e o esforço humano necessário para operá-la. Nenhuma tecnologia é

completamente independente, toda a fábrica e equipamento precisa de algum tipo de

intervenção humana. Podem ser mínimas como na grande maioria das indústrías de

processo contínuo, como podem ser elevadas no caso de um operador de um tomo

mecânico. Os principais beneficios provenientes do aumento da automação são a redução

do custo da mão-de-obra direta e a redução da variabilidade no processo produtivo, ou seja,

a automação regula e padroniza o fluxo, tomando a operação mais previsível. Porém, não

se deve acreditar que uma empresa ou um processo produtivo só irá melhorar(em termos

(32)

automatizados e intensivos em capital. Há beneficios consideráveis a serem ganhos com a

melhoria dos métodos de produção e uma boa administração.

Por último, o grau de integração tecnológica significa o número de funções distintas conectadas e formando uma parte integrada de uma fábrica ou de um sistema. Os

beneficios da integração vêm dos efeitos da combinação de diversas máquinas,

equipamentos e/ou funções em um todo simples e sincronizado. Os objetivos da integração

são principalmente obter um rápido fluxo de informação e materiais, como conseqüência da

velocidade de fluxo a redução dos estoques em processo uma vez que não há lacunas entre

as operações. Outra conseqüência da integração é o fluxo simples e previsível; é mais fácil

rastrear partes quando elas atravessam menos estágios.

A tecnologia integrada, porém, tende a ser mais cara, complexa e arriscada. São

necessárias maiores habilidades para mantê-la. Quando ela quebra ou para, todo o sistema

provavelmente parará, tomando, neste sentido, a fábrica integrada mais vulnerável.

As três dimensões da tecnologia utilizadas por SLACK (1993) estão fortemente

relacionadas. Quanto maior a escala de produção, maior a probabilidade de ser intensiva em

capital em vez de intensiva em mão de obra, o que dá mais oportunidade para integração de

.

suas várias funções, A flexibilidade, neste caso, tende a ser menor pois há menos espaço

para manobras e menos ambigüidades devido ao menor número de opções abertas-no

dia-a-dia da administração do processo.

Um outro aspecto interessante de se notar é a implicação das dimensões da

tecnologia em termos de quais tarefas são chaves para o bom caminhar das operações no

seu dia-a-dia, conforme mostra Figura 2.2. No extremo do aspecto da tecnologia que representa equipamentos de maior escala, integrada, automatizada e menos flexível, maior a

necessidade de se fazer uma ótima escolha e implantação da tecnologia. A indústria de

processo contínuo, objeto deste estudo; se encaixa perfeitamente na descrição acima. Neste

tipo de operação qualquer erro será extremamente dificil de ser superado, uma vez que a

tecnologia está comprometida com a capacidade e natureza da sua estrutura. A ênfase aqui

deve ser dada ao projeto da operação produtiva, ou seja, neste tipo de indústria é muito

mais importante o acompanhamento do projeto, etapa anterior à implantação, pois é onde se

tomam as principais decisões que irão influenciar toda a operação propriamente dita. Por

(33)

e manuais, o fluxo de materiais através do sistema é intermitente e a ocupação de cada uma

das (muitas) partes da operação muda freqüentemente. As ordens percorrendo o complexo

sistema podem estar em qualquer lugar, de modo que devem ser monitoradas e controladas.

A ênfase no projeto da operação é alterada para a ênfase no controle e monitoramento da

operação produtiva.

SLACK (1993) ainda sugere que a tecnologia deve ser adequada ao perfil do

produto a ser produzido em termos de variedade e volume de produção. A Figura 2.2, chamada de matriz produto-processo, mostra que tecnologias de pequena escala e não

integradas, devido sua flexibilidade, correspondem

à

alta variedade de produtos. Já

tecnologias de grande escala, automatizadas e integradas são ideais para produção de

grandes volumes de produtos padronizados onde a flexibilidade é de pouca importância. Na

matriz da Figura 2.3, a idéia

é

que uma tecnologia de processo de uma manufatura deveria ser determinada pela sua posição na diagonal da matriz produto-processo. Desta forma, na

medida que o perfil de produtos da. empresa muda, o mesmo deveria ocorrer com a

tecnologia utilizada no processo produtivo.

Este modelo proposto por SLACK (1993) será de grande importância para

(34)

Figura 2.2: Tecnologia maior, mais automatizada e mais integrada muda

a ênfase de controle para projeto

Intensiva em

mão-de-Pequena obra Separada

Ê~àseÍ1o· controle da ;

operação ctI

...•

01 o Õ s::: <.) 11) E-Ênfase no projeto da operação

Grande Intensiva Integrada

em capital

Fonte: SLACK, N. Vantagem Competitiva em Manufatura: atingindo competitividade nas operações

industriais. São Paulo: Editora Atlas, 1993. 198 p.

Figura 2.3: A matriz produto-processo relaciona o perfil do produto

.da operação a sua tecnologia de processo. .

Intensiva em

mão-de-Pequena obra Separada Volume Crescente

:>

, Fora da Diagonal

ctI ctI ctI '51 '51

.-

o o

01

-O o Õ

-

o

fi

s:::

C)

fi

11) 11)

E- E-~ ctI "O Alta flexibilidade Capacidade redundante Altos custos Baixa flexibilidade Capacidade insuficiente Altos custos

: Fora da Diagonal

Grande Intensiva Integrada

em capital

<variedade

Crescente

Fonte: SLACK, N. Vantagem Competitiva em Manufatura: atingindo competitividade nas operações

(35)

2.4. Inovação

o

avanço da tecnologia nada mais é do a constante busca do homem pela inovação.

O homem moderno percebe no seu cotidiano a contínua introdução de inovações à

velocidade com que a tecnologia se desenvolve nos mais variados campos. A inovação é

fruto da incessante busca humana pelo seu desenvolvimento e pela melhoria de suas

condições de vida. É inegável a importância que algumas inovações têm tido ao longo da

história da humanidade. O rádio, a televisão,

°

telefone, a pílula anticoncepcional, a

geladeira, o avião e mais recentemente a Internet têm sido propulsionadores de grandes

mudanças na sociedade, redefinindo papéis, valores, hábitos e costumes.

A tecnologia como fator crucial para a sobrevivência e o crescimento das empresas,

é um tema atual e de grande interesse. A aceleração das evoluções tecnológicas permitiu às

empresas inovadoras vantagens competitivas na conquista de novos mercados. Este novo

ambiente levou algumas empresas a desenvolverem estratégias que privilegiassem a

valorização tecnológica, e despertou o interesse de acadêmicos e estudiosos pelo papel da

tecnologia nas empresas e na sociedade em geral. "

Na discussão sobre "a natureza do processo inovativo, DOSI (1988) comenta que o

crescente interesse pelo estudo dos mecanismos de inovação é decorrente tanto de fatores

relacionados coma dinâmica da disciplina econômica, como com a grande evidência

empírica da importância dos fatores tecnológicos sobre a competitividade e o crescimento

das empresas.

A busca pela competitividade leva a empresa a agregar valor a seus produtos, para

que sejam reconhecidos e recompensados pelos seus clientes. A criação de valor é um dos

objetivos da tecnologia empregada pelas empresas. A empresa deve buscar constantemente

novas formas, métodos e processos que inovem e rejuvenesçam seu processo produtivo e

seus produtos, de modo a torná-los sempre competitivos e atraentes.

A palavra inovação, dependendo de sua área de estudo, pode apresentar vários

significados conforme relata BARBIERI (1997). Na área mercadológica, por exemplo,

inovação pode ser qualquer modificação percebida pelo usuário, mesmo sem ocorrer

qualquer modificação fisica no produto, já nas áreas produtivas, inovação é a introdução de

novidades materializadas em produtos, processos e serviços, novos ou modificados. O

(36)

completo, desde a idéia, incluindo a invenção, passando pelas diversas etapas como

pesquisa, desenvolvimento, produção. e marketing, até a venda final de um produto ou

serviço.

Enfatizando as inovações de origem tecnológicas, MARQUIS (1976) identificou

três tipos de inovações: (1) as inovações complexas, tais como redes de comunicações,

sistemas de armamentos.e a missão lunar entre outras, são inovações pouco comuns, levam

anos de pesquisas e exigem recursos vultuosos; (2) as inovações de ruptura, são aquelas que

quebram certos paradigmas de um setor, modificando' completamente o caráter do mesmo,

são exemplos conhecidos deste tipo de inovação o motor a jato, a xerografia e o som

estereofônico; e (3) as inovações de curto prazo são aquelas voltadas mais especificamente

para melhoria de produtos, redução de custos, controlede qualidade, expansão da linha de

produtos e outras desta ordem. As inovações deste terceiro tipo são mais modestas e mais

comuns, porém, são essenciais para a competitividade das empresas.

Ainda do ponto de vista tecnológico, diversos autores entre eles KRAJEWSKI e

RITZMAN (1998), separam as inovações pelo grau de impacto ocasionado no mercado .

.

Desta forma as inovações podem ser incrementais (menores) e radicais ou de ruptura

(maiores). As primeiras tratam de racionalizações ou modernizações de tecnologias já

existentes. As segundas são novas formas de tecnologias capazes de gerar uma ruptura no

mercado em que atuam - embora sejam mais raras, um exemplo recente que vem afetando

toda uma sociedade é a

internet.

TEECE (1988) relaciona dois tipos de inovação quanto sua abrangência:

a-autônoma

é o tipo que pode ser introduzida sem modificar outros componentes do

equipamento ou do sistema; e a sistêmica, que requer ajustes significativos em outras

partes do sistema. Um exemplo de inovação sistêmica é a fotografia instantânea, que

implica num novo projeto não só para o filme, mas também para a câmera. A inovação _

autônoma é independente de outras partes do sistema, por exemplo, um microcomputador

não precisou ser reprojetado para utilizar um microprocessador mais rápido.

Um importante conceito para este -trabalho, é apresentado por BARBIERI (1997).

Ele apresenta o conceito de inovação tecnológica pioneira e inovação relativa. A inovação

pioneira é o processo realizado pela empresa para introduzir produtos e processos que

(37)

-

empresa a introduzisse. Neste Caso trata-se de uma inovação tanto para a empresa como

para o setor produtivo globalmente considerado. A inovação relativa é a introdução por

uma empresa de soluções já conhecidas ou.utilizadas por outras. Neste caso, a novidade é

relativa

à

empresa inovadora, pois as mudanças tecnológicas já estariam incorporadas em

outras unidades produtivas. Inovações deste tipo podem ser entendidas como difusões de

tecnologias que uma vez adotada com sucesso por uma empresa passa a ser adotadas por

outras. O processo que permite esta difusão tem sido denominado transferência

de

tecnologia.

As inovações, independente de serem relativas ou absolutas podem apresentar-se,

segundo BARBIERI (1997), das seguintes formas: (1) novo processo produtivo ou

alteração do processo existente, com objetivo de reduzir custos, melhorar a qualidade ou

aumentar a capacidade de produção; (2) modificações no produto existente ou a

substituição de um modelo por outro que cumpra a mesma função algumas vezes acrescidas

de outras complementares; (3) introdução de novos produtos integrados verticalmente aos

já existentes, ou seja, fabricados a partir de um processo produtivo comum ou afim;

(4)

introdução de novos produtos que exigem novas tecnologias para a empresa.

No estudo de caso apresentado neste trabalho, será abordada uma inovação do tipo

relativa vivenciada por uma indústria de processo contínuo, mais especificamente uma

indústria vidreira. Estas inovações, como será visto adiante, se deu na forma de alteração do

processo produtivo existente, com o objetivo de reduzir custos e melhorar a qualidade das

operações produtivas.

Para finalizar, algumas peculiaridades interessantes que auxiliam no entendimento

do processo de inovação são apresentadas por DOSI (1988):

a) A incerteza que é inerente ao processo de inovação, pois é impossível saber

a

priori

quais os resultados técnicos e comerciais da inovação;

b) O crescente apoio dado aos avanços do conhecimento científico, que tem

proporcionado novas oportunidades tecnológicas;

c) A formalização organizacional das atividades de pesquisa e desenvolvimento,

(38)

d) O conhecimento tácito, ou' seja, o conhecimento originado do aprendizado de

quem faz ou usa determinada tecnologia. Este conhecimento entendido como inteligência

prática é ainda responsável por uma grande parcela das inovações;

e) O desenvolvimento tecnológico apresenta caráter cumulativo, pois normalmente

é condicionado ao estágio atual das tecnologias em uso.

É interessante destacar ainda, que as atividades de inovação dentro das empresas

tendem a ser altamente seletivas, direcionadas e cumulativas. Desta forma as empresas

normalmente procuram desenvolver e diversificar sua tecnologia em novas áreas a partir de

uma base tecnológica existente, ou seja, o futuro e o desenvolvimento de novas tecnologias

é bastante condicionado ao que já foi feito no passado. Isto será melhor explicado neste

trabalho juntamente com o conceito de paradigma tecnológico e trajetória tecnológica.

2.5. Fases da Inovação

Para um melhor entendimento do conceito de inovação vale fazer a distinção entre

inovação e invenção. Segundo BARBIERI (1990) invenção significa qualquer atividade

mental destinada a criar algo novo, é a criação tecnicamente factível de novos produtos e

processos, além disto, é a concepção de alterações tecnicamente viáveis de produtos e

processos já conhecidos para dotá-los de outras características técnicas, funcionais ou

estéticas. Invenção é o resultado da críação de algo novo, que ainda não existia antes de ser

inventado por alguém. A invenção é a primeira fase de um processo de inovação, porém,

nem todas as invenções se transformam em inovações. Geralmente uma dada invenção

somente chega a se transformar numa inovação depois de passar por inúmeros

aperfeiçoamentos na sua concepção básica. É o caso da lâmina de barbear, inventada por

Gillete em 1895 que levou 9 anos sendo aperfeiçoada para se tomar uma inovação pela

firma Gillete Safety Razor Co. em 1904, ou ainda a lâmpada fluorescente, inventada por

Becquerel em 1859 e que se tomou uma inovação 78 anos depois pela G.E. e Westinghouse

(ROSEMBERG, 1976, p.69). BARBIERI (1990) explica que a demora entre a concepção

de uma idéia e a sua primeira aplicação se deve ao fato de que a empresa deve adquirir mais

conhecimentos para operacionalizar tecnicamente a invenção e, além disto, certificar-se de

(39)

Preocupado em caracterizar as etapas do processo de inovação, UTTERBACK

(1994) considera três fases distintas deste processo, conforme mostra

Figura

2.4, fase

inicial (jluid phase), fase de transição e·fase específica.

Na primeira fase as inovações são maiores em produtos do que em processo. Nesta

fase predomina uma alta taxa de inovação do produto estimulada por informações dos

usuários, necessidades de mercado além dos avanços técnicos. Nesta fase pouca atenção é

dada para o processo de fabricação do produto. A grande preocupação desta fase é a

aceitação do produto pelo mercado.

Na fase de transição o processo começa a ganhar importância estimulado pelo

aumento da produção, pela busca da redução de custo, pela padronização de produtos, pela

automação de alguns subprocessos e pela entrada de novos competidores. Nesta fase. as

inovações de processo superam as inovações de produto.

Figura 2.4: A dinâmica da inovação

Fase Inicial Fase de Transicão Fase Esnecífica Taxa de

Inovacão

Fonte: UTTERBACK, J. M. Mastering the dynamics of innovatton: how companies can seize

opportunities in the face of technological change. Boston: Harvard Business School Press, 1994

A última fase, chamada de fase específica, ocorre quando os produtos já se

encontram num estágio maduro e a concorrência se toma mais intensa. Nesta fase, a

indústria está extremamente focada. em custo, qualidade, volume e capacidade. As

inovações no produto e no processo ocorrem de maneira simultânea, porém a uma taxa

(40)

sistema produtivo mais rígido, no qual produto e processo se tomam tão estreitamente

integrados que qualquer alteração num deles exige ajustes no outro.

A indústria de processo contínuo, em especial a indústria de vidro e a indústria de

papel, tratadas neste trabalho, se encontram neste último estágio do modelo de

UTTERBACK (1994). Nestas indústrias, as inovações ocorrem em taxas mais baixas e

buscam principalmente a redução no custo do processo e a melhoria da qualidade do

produto. As inovações do produto implicam em inovações no processo de maneira

simultânea e integrada.

A análise do estágio de sua posição tecnológica permite

à

empresa avaliar um

conjunto de fatos associados

à

sua competitividade tais como: riscos e incertezas quanto

à

competitividade dos produtos, expectativas de resultados de certos produtos ou serviços,

possíveis ações de 'concorrentes, possibilidade de melhor gerenciamento das expectativas

da empresa e dos acionistas, planos estratégicos de tecnologia melhores apurados, planos

Imagem

Figura 1.1: Curva de implantação de uma nova tecnologia Desempenho I I -------------+ I I I
Figura 1.2: Estrutura do Trabalho Can. J Introdução Formulação do problema Objetivos do trabalho Limitações do trabalho + CORPO TEÓRICO ,
Figura 2.1: Os tipos de tecnologias
Figura 2.2: Tecnologia maior, mais automatizada e mais integrada muda a ênfase de controle para projeto
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Referências

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