ARTIGO ORIGINAL
/ ORIGINAL
ARTICLE
INTRODUÇÃO
O termo constipação intestinal descreve dificuldades na defecação, seja pelo emprego de força, e/ou diminuição na freqüênciadapassagemdasfezes(14).Sintomasdeconstipação
sãoextremamentecomunsesuaprevalênciatemsidorelatada emtornode20%(2),emboraarealprevalênciasejadifícildeser
estimada,devidoàdificuldadeemsedefinirexatamenteoqueseja constipação(9).Existemváriosfatoresassociadosàconstipação.Idade,
sexofeminino,baixonívelsocioeconômico,baixaescolaridade, inatividadefísica,baixaingestãocalóricaeoestilodevidados paísesindustrializadossãoalgunsdessesfatores(3,9).
Aconstipaçãointestinal(CI)émaisprevalenteentremulheres(25,26).
EstudoepidemiológicorealizadonosEstadosUnidos(25),envolvendo
10.018participantesdeambosossexos,observouprevalênciade 16%deconstipaçãoentremulheres.Emoutroestudo,realizado naAustrália,verificou-seque42%amaisdemulheresidosas referiramconstipaçãoemrelaçãoaoshomens(26).Entreosfatores
quepodemexplicaressamaiorprevalênciaemmulherescitam-seosdanoscausadosaosmúsculospélvicosesuasinervações, decorrentesdepartosecirurgiasginecológicas,eosprolapsos genitais,maisfreqüentesapósamenopausa(4).
Amenopausaédefinidacomoaausênciademenstruação porpelomenos12meses,ocorrendogeralmenteentre45e55 anos(29).Nessafase,instala-seumquadrodehipoestrogenismo
associadoamudançasanatômicasefisiológicas,quecomprometem oassoalhopélvicoeosesfíncteres(18).
SãorarososestudosqueavaliaramaCIeosdistúrbiosda fisiologiaanorretalemmulheresduranteosanosclimatéricos. Em estudo de corte transversal,TRIADAFILOPOULOS et al.(27)compararamaprevalênciadesintomasgastrointestinais
emmulheresnapréepós-menopausa.Estesautoresverificaram que 38% das mulheres na pós-menopausa e 14% na pré-menopausa referiram alterações intestinais.Também o uso delaxativosaumentoude3,4%napré-menopausa,para9,4% apósamenopausa.Estudospopulacionaismostramclaramente
PREVALÊNCIAEFATORES
ASSOCIADOSÀCONSTIPAÇÃO
INTESTINALEM
MULHERESNAPÓS-MENOPAUSA
SimoneCaetanoMoralede
OLIVEIRA
1,AarãoMendes
PINTO-NETO
1,
JuvenalRicardoNavarro
GÓES
2,DélioMarques
CONDE
1,
Danielle
SANTOS-SÁ
1eLúcia
COSTA-PAIVA
1RESUMO–Racional-Aconstipaçãointestinalémaisfreqüentenapopulaçãofeminina,apresentandoaumentodaprevalênciacomopassardosanos. Existempoucosestudosqueestimaramsuaprevalênciaemmulheresnapós-menopausa.Objetivo-Investigaraprevalênciaeosfatoresassociadosà constipaçãointestinalemmulheresnapós-menopausa.PacienteseMétodos-Estudodecortetransversalcommulheresnapós-menopausaeidade superiora45anos.Foramincluídas100mulheresatendidasnoAmbulatóriodeMenopausadaUniversidadeEstadualdeCampinas,Campinas, SP,entremarçode2003ejaneirode2004.Avaliou-seaprevalênciadeconstipaçãointestinal,segundooscritériosdeRomaII.Foramestudadasas característicassociodemográficaseclínicas.Aseguir,realizou-seexamefísicoparaavaliaçãodedistopiasgenitaisedotônusdoesfíncteranal.A análiseestatísticafoirealizadapormeiodemédia,desvio-padrão,mediana,freqüênciasrelativaseabsolutaseatravésdarazãodeprevalênciacom intervalodeconfiançade95%eregressãologísticamúltipla.Resultados-Amédiaetáriadasparticipantesfoide58,9±5,9anos,commédiade idadeàmenopausade47,5±5,4anos.Aprevalênciadeconstipaçãointestinalfoide37%,sendoosintomamaisfreqüenteoesforçoaoevacuar (91,9%),seguidodasensaçãodeevacuaçãoincompleta(83,8%),fezesendurecidasoufragmentadas(81,1%),menosquetrêsevacuaçõespor semana(62,2%),sensaçãodeobstruçãoàevacuação(62,2%)emanobrasdigitaisparafacilitaraevacuação(45,9%).Aanálisebivariadamostrou comofatoresassociadosàconstipaçãootônusdoesfíncteranaldiminuídoeoantecedentedecirurgiaperianal.Apósanálisederegressãomúltipla, oantecedentedecirurgiaperianalassociou-sesignificativamenteàconstipaçãointestinal(razãodeprevalência:2,68;intervalodeconfiança95%: 1,18-6,11).Conclusões-Aprevalênciadeconstipaçãointestinalemmulheresnapós-menopausafoialta.Oantecedentedecirurgiaperianal associou-sesignificativamenteàconstipaçãointestinal,mesmoquandoseconsiderouainfluênciadeoutrasvariáveis.
DESCRITORES–Constipação.Climatério.Menopausa.Estudostransversais.
1DepartamentodeTocoginecologia,UniversidadeEstadualdeCampinas–UNICAMP;2DepartamentodeCirurgia–UNICAMP;3Campinas,SP.
aumentodaprevalênciadeCIemmulheresapósos40anos,quando comparadasamulheresmaisjovens(4,16).
A freqüência das disfunções da evacuação em mulheres na pós-menopausaépoucoconhecida.Estefatoimplicafalhadodiagnósticode CInessapopulação,oquesetornapreocupante,umavezque,sesevera, essapatologiapodepioraraqualidadedevidaelevaraoisolamento social(11),determinandoalteraçõesnobem-estarfísicoepsicológico(13).
Devidoasuaaltaprevalênciaesignificativamorbidade,aCIacarreta grandescustosrelacionadosasuaprevenção,diagnósticoetratamento(6).
Existempoucosestudosavaliandoespecificamentemulheresnapós-menopausa,períodoemqueaCIsemanifestacommaiorfreqüência eemqueháprogressivapiora.Considerandoqueaatençãoàsaúdeda mulherdemeiaidadedeveservoltadaparaamanutençãoouobtenção demelhorqualidadedevida,realizou-seesteestudo,cujoobjetivofoi conheceraprevalênciaeosfatoresassociadosàconstipaçãointestinal emmulheresnapós-menopausa.
PACIENTESEMÉTODOS
Realizou-seestudodescritivodecortetransversalemqueparticiparam 100mulheresatendidasnoAmbulatóriodeMenopausadaUniversidade EstadualdeCampinas,noperíododemarçode2003ajaneirode2004. Foramincluídasmulheresnapós-menopausa(mínimode12mesesde amenorréia)(29)ecomidadesuperiora45anos.Oscritériosdeexclusão
foram:menopausaprecoce(<40anos),antecedentepessoaldecâncer colorretalouginecológico,retocoliteulcerativaoudoençadeCrohn.A constipaçãointestinal(variáveldependente)foiavaliadadeacordocom oscritériosdeRomaII:menosquetrêsevacuaçõesporsemana,esforço aoevacuar,sensaçãodeevacuaçãoincompleta,fezesendurecidasou fragmentadas,sensaçãodeobstruçãoàevacuaçãoemanobrasdigitais parafacilitarasevacuações.Sãoconsideradosconstipadosaquelesque apresentemaomenosdoisdessescritérios,referidosempelomenos 25%dasevacuaçõesnosúltimos3meses.Aindadeacordocomesses critérios,nãosãoconsideradosconstipadosaquelesquereferemperda defezesaguadasoupastosasempelomenos25%dasevacuaçõesnos últimos3meses(7).
Dentreasvariáveisindependentesforamavaliadascaracterísticas sociodemográficas e clínicas: idade, classe socioeconômica, categorizadaemA,B,C,DeE(1),cor,estadomarital,antecedentes
obstétricos (número de abortos, cesáreas, partos fórcipes, partos normaisedomiciliares),incontinênciaurinária,cirurgiasginecológicas (histerectomia,perineoplastia,correçãodeincontinênciaurinária), idadeàmenopausa(excluídasmulhereshisterectomizadas),usode terapiahormonal(mulheresquefizeramusoporpelomenos1mês aolongodavida),tempodeterapiahormonal(TH),antecedentede cirurgiaperianal(hemorroidectomia,fístulectomiaefissurectomia), co-morbidades(diabetesmellitus,hipotiroidismo).Inicialmente,as participantesresponderamaumquestionáriopré-testadoeestruturado paraoestudo.Emseguida,elasforamsubmetidasaexamefísicopara avaliaçãodedistopiasgenitais(cistocele,retocele,roturaperineal), patologias perianais (hemorróidas, fissuras, fístulas) e tônus do esfíncteranal.Cistoceleeretoceleforamclassificadasemausentes ougrausI,IIeIIIeroturaperinealemausenteougrausI,II,IIIe IV(21).Otônusdoesfíncteranalfoiavaliadoatravésdetoquedigital,
sendocategorizadoemnormal,aumentadooudiminuído.
Utilizou-se o programa SAS, versão 8.2 (SAS Institute, Cary, NC,EUA)(20).Inicialmente,todasasvariáveisforamestudadasde
maneira descritiva, através do cálculo de freqüências absolutas e relativase,nocasodasvariáveiscontínuas,atravésdocálculoda média,desvio-padrãoemediana.Paraestudaraassociaçãodavariável dependentecomasvariáveisindependentes,utilizou-searazãode prevalência (RP). Estimou-se a RP da constipação intestinal para cadavariávelindependente.Estasrazõesforamcomparadasentreas respectivascategoriasdecadavariávelindependentecomintervalos deconfiançade95%(IC95%).Asrazõesdeprevalênciareferentes acadavariávelforamajustadassegundoasdemaisvariáveisatravés domodeloderegressãodeBreslow-Cox(22).NocálculodaRPparaa
constipaçãointestinal,aidade,idadeàmenopausaeotempodeTH foramcategorizadassegundoamediana.Aclassesocioeconômicafoi agrupadaemBeCeDeE.Asdemaisvariáveisforamconsideradas segundosuapresençaouausência.
EsteestudofoiaprovadopelaComissãodePesquisadoDepartamento deTocoginecologiaepeloComitêdeÉticaemPesquisadaFaculdadede CiênciasMédicasdaUniversidadeEstadualdeCampinas,SP.Todasas participantesassinaramoTermodeConsentimentoLivreeEsclarecido.
RESULTADOS
Caracterizaçãodaamostra
Asparticipantesapresentarammédiaetáriade58,9±5,9anose médiadeidadeàmenopausade47,5±5,4anos.Oitentaenoveporcento estavamusandoouforamusuáriasdeTH,comtempomédiodeuso iguala65,3±46,7meses.Das100mulheres,54%erambrancas,66% viviamcomcompanheiro,50%pertenciamàsclassessocioeconômicas BeCouDeE,nenhumapertenciaàclasseA.Onúmeromédiode abortosfoide0,6±1,1,departoscesáreas0,6±0,8,departosnormais 3,0±2,9,departosfórcipes0,2±0,5edepartosdomiciliares1,4±2,7. Trezeporcentodasparticipantesreferiramdiabetesouhipotiroidismo (tabelasnãoapresentadas).
Emrelaçãoàscirurgiasginecológicas,25%eramhisterectomizadas, 29%realizaramcirurgiaparacorreçãodeincontinênciaurináriae24% perineoplastia.Oitoporcentodasmulheresrelataramantecedentede cirurgia perianal. Das 100 participantes, 43% referiam incontinência urinária.Aoexamefísico,observou-secistocelegrausIIouIIIem18% dasmulheres,retocelegrausIIouIIIem11%,roturaperinealgrausII ouIIIem28%(nenhumaapresentouroturagrauIV),hemorróidaem 35%efissuraanalem9%.Otônusdoesfíncteranalestavanormalem 64%,aumentadoem10%ediminuídoem26%dasmulheres(tabelas nãoapresentadas).
Prevalênciadeconstipaçãointestinal
Aprevalênciadeconstipaçãointestinalfoide37%(Tabela1).O sintomamaisfreqüentementerelatadofoioesforçoaoevacuar(91,9%), seguidodasensaçãodeevacuaçãoincompleta(83,8%)efezesendurecidas oufragmentadas(81,1%).Manobrasdigitaisparafacilitarasevacuações foramreferidasporquasemetadedapopulação(Tabela2).
TABELA1-Prevalênciadeconstipaçãointestinal,segundooscritérios
deRomaII(n=100)
ConstipaçãoIntestinal n %
Presente 37 37
Ausente 63 63
Fatoresassociadosàconstipaçãointestinal.
Análisebivariada
Na análise bivariada, a idade, a cor, o estado marital, a classe socioeconômicaeaidadeàmenopausanãoseassociaramàCI(Tabela 3). Em relação às variáveis clínicas, uso e tempo deTH, diabetes, hipotiroidismo, incontinência urinária, bem como o antecedente de cirurgia para sua correção ou perineoplastia não se associaram à constipaçãointestinal,masoantecedentedecirurgiaperianalassociou-sesignificativamenteàpresençadeconstipaçãointestinal(RP:2,68; IC 95%: 1,18-6,11) (Tabela 4). Os antecedentes obstétricos não se associaramàprevalênciadeconstipaçãointestinal(Tabela5). Cistocele,retocele,roturaperineal,hemorróidaefissuraanalnão seassociaramàconstipaçãointestinal.Asparticipantescomtônusdo esfíncteranaldiminuídoapresentaramchancedeterCIduasvezese meiamaiorqueacategoriadereferência,representadaportônusdo esfíncternormal(RP:2,56;IC95%:1,13-5,81)(Tabela6).
Fatorassociadoàconstipaçãointestinal.
Análisemultivariada
A análise conjunta das variáveis através de regressão logística múltipla, mostrou que o único fator significativamente associado à constipaçãointestinalfoioantecedentedecirurgiaperianal(RP:2,68; IC95%:1,18-6,11)(Tabela7). DISCUSSÃO Oobjetivodesseestudofoiinvestigaraprevalênciaeosfatores associadosàconstipaçãointestinalemmulheresnapós-menopausa.A prevalênciadeconstipaçãointestinalfoi37%eofatorsignificativamente associadoàconstipaçãoapósanálisemultivariadafoioantecedente decirurgiaperianal. OsestudosqueavaliaramaprevalênciadeCIapresentaramestimativas entre2%e34%(10).Estavariaçãopodeserexplicada,entreoutrosfatores,
pelautilizaçãodediferentescritériosdiagnósticos,aplicadosapopulações decontextossocioculturaisdiversosetambémàamplafaixaetáriados pacientesavaliados.Sabe-sequeháumaumentodaprevalênciade CIcomoaumentodaidade(4).Estudodebasepopulacionalespanhol,
envolvendo349participantesdeambosossexoseidadeentre18e65 anos,verificouprevalênciadeCIde22%emmulheres(10).Emoutro
estudopopulacional,realizadonoCanadácom1.149participantes, observou-seprevalênciadeCIde21,1%napopulaçãofeminina(16).
TABELA3-Prevalênciadeconstipaçãointestinal,segundovariáveis sociodemográficas, resultados da análise bivariada (n=100) Variáveis Constipaçãointestinal Análisebivariada Presente (n=37) Ausente (n=63)
n % n % RP* IC#95%
Idade(anos) ≤58 >58 16 21 43,2 56,8 34 29 54,0 46,0 1,00 1,31 -0,69-2,52 Cor branca não-branca 22 15 59,5 40,5 32 31 50,8 49,2 1,00 0,80 -0,42-1,54 Estadomarital comcompanheiro semcompanheiro 25 12 67,6 32,4 41 22 65,1 34,9 1,00 0,93 -0,47-1,86 Classesocioeconômica BeC DeE 19 18 51,4 50,0 31 32 49,2 50,8 1,00 0,95 -0,50-1,81 Idadeàmenopausa(anos) ≤50 >50 19 12 61,3 38,7 28 16 63,6 36,4 1,00 1,06 -0,52-2,19
*RP=razãodeprevalência;#IC=intervalodeconfiança; †TH=terapiahormonal;‡IU=incontinênciaurinária
TABELA 4 -Prevalência de constipação intestinal, segundo variáveis
clínicas,resultadosdaanálisebivariada(n=100)
Constipaçãointestinal
Variáveis Presente(n=37) Ausente(n=63) Análisebivariada
n % n % RP* IC95%#
UsodeTH† nãousuárias usuárias 4 33 10,8 89,2 7 56 11,1 88,9 1,00 1,02 -0,36-2,88
TempodeTH†(meses) ≤48 >48 14 19 42,4 57,6 31 25 55,4 44,6 1,00 1,39 -0,70-2,77 Diabetes não sim 32 5 86,5 13,5 55 8 87,3 12,7 1,00 1,05 -0,41-2,68 Hipotiroidismo não sim 32 5 86,5 13,5 55 8 87,3 12,7 1,00 1,05 -0,41-2,68 Incontinênciaurinária não sim 23 14 62,2 37,8 34 29 54,0 46,0 1,00 0,81 -0,42-1,57 Cirurgiaperianal não sim 30 7 81,1 18,9 62 1 98,4 1,6 1,00 2,68 -1,18-6,11 CirurgiaparaIU‡ não sim 27 10 73,0 27,0 44 19 69,8 30,2 1,00 0,91 -0,44-1,87 Perineoplastia não sim 30 7 81,1 18,9 47 16 74,6 25,4 1,00 0,78 -0,34-1,78 *RP=razãodeprevalência;#IC95%=intervalodeconfiança;†TH=terapiahormonal; ‡IU=incontinênciaurinária TABELA2-Distribuiçãopercentualdossintomas,segundooscritérios deRomaII(n=37)
RomaII n %
Esforçoaoevacuar# 34 91,9
Sensaçãodeevacuaçãoincompleta# 31 83,8
Fezesendurecidasoufragmentadas# 30 81,1
Menosque3evacuaçõesporsemana 23 62,2 Sensaçãodeobstruçãoàevacuação# 23 62,2
Manobrasdigitaisp/facilitarevacuações# 17 45,9
AmbososestudosutilizaramparaodiagnósticodeCIoscritériosde RomaII,omesmoaplicadonapresentecasuística.Noentanto,nenhum destesestudosrelatouaprevalênciadeCIespecificamenteemmulheres acimade50anos,quandoseesperariaprevalênciaaindamaior.Em umoutroestudopopulacionalcanadensequeavaliouexclusivamente mulheres,verificou-seprevalênciadeCIde14,1%emmulheresjovens, 26,6%nameiaidadee27%emidosas,entretanto,ocritériodiagnóstico utilizadofoiaauto-avaliação(4).Adiferençadeprevalênciaobservada
napresentecasuísticaemrelaçãoaessesestudospodeserexplicada pelasdiferençassocioculturaisepelaadoçãodediferentespontosde corteparaaidade.Outrapossívelexplicaçãorelaciona-seaodesenho dapesquisa,enquantoaquelesestudoseramdebasepopulacional,a presentecoorteeraformadaporfreqüentadorasdeumambulatório especializadonaatençãoàsmulheresdemeiaidade. QuantoàprevalênciadesintomassegundooscritériosdeRoma II,verificaram-seresultadossemelhantesaosdaliteratura,excetopela altaprevalênciademanobrasdigitaisparafacilitaraevacuação:45,9% napresentecasuísticae28,4%emestudopopulacionalcanadense(16).
Noentanto,STEWARTetal.(25)tambémverificarammaiorprevalência
de manobras digitais em mulheres de meia idade, ressaltando que, apesar do seu uso para facilitar a evacuação não ser comum como os outros sintomas, tem sido reportada mais freqüentemente que o esperado,particularmenteemmulherescomidadesuperiora60anos. Provavelmenteousodemanobrasdigitaisreflitadiferençassocioculturais eobstétricas,comoamultiparidade.
Aaltaprevalênciadepartosnormaiseprincipalmenteafreqüência de29,7%departosdomiciliaresnapresentecasuísticapodemexplicar a freqüência observada de distopias genitais. De LILLO e ROSE(6)
referiramquealteraçõesanatômicascomoasdistopiasgenitaissão importantescausasdeCI.Danosaosmúsculospélvicos,queocorrem duranteospartos,associadosarepetidosesforçosevacuatóriospodem resultaremenfraquecimentodoassoalhopélvicoedesenvolvimento deprolapsosgenitais,ocasionandooupiorandoaCI(4).Apesardessas
considerações,nopresenteestudo,cistocele,retoceleeroturaperineal nãoseassociaramamaiorprevalênciadeCI.
Outrascaracterísticascomoaidadeeaidadeàmenopausanãose associaramàCI.Sabe-sequeaprevalênciadeCIaumentanameia idadeesemantémouseelevapouconaterceiraidade(4),oquepode
explicaressesresultados.OsantecedentesdeusoetempodeTHnão se associaram à CI. Na literatura, encontrou-se apenas um estudo pesquisandoessaassociaçãoeobtendoresultadosemelhanteaoobservado napresentesériedecasos(4).Apesardosestudosapontaremobaixo
nívelsocioeconômicocomofatorderiscoparaCI(19,24,28),talfatonão
foiobservadonessacasuística.Odiabeteseohipotiroidismonãose associaramàCI,oquepodeserexplicadopelabaixaprevalênciadestas patologiasnesseestudo.Aliteraturamostraassociaçãoentrediabetes, hipotiroidismoeconstipaçãointestinal. EmestudoepidemiológicorealizadonaAustrália,apresençade hemorróidafoisignificativamenteassociadaàCIemmulheres,embora existamnaliteraturareferênciasquantoàsdiferençasepidemiológicas TABELA7-Fatorsignificativamenteassociadoàconstipaçãointestinal. Análisemultivariada
Variável RPajustada* IC95%#
Cirurgiaperianal não sim 1,00 -2,68 1,18-6,11 *RP=razãodeprevalênciaajustadaportodasasvariáveis #IC95%=intervalodeconfiança TABELA6-Prevalênciadeconstipaçãointestinal,segundovariáveisdo examefísico,resultadosdaanálisebivariada(n=100) Variáveis Constipaçãointestinal Presente (n=37) Ausente (n=63) Análise bivariada
n % n % RP* IC95%#
Cistocele ausente/GI† GII/GIII† 28 9 75,7 24,3 54 9 85,7 14,3 1,00 1,46 -0,69-3,10 Retocele ausente/GI† GII/GIII† 33 4 89,2 10,8 56 7 88,9 11,1 1,00 0,98 -0,35-2,77 Roturaperineal ausente/GI† GII/GIII† 29 8 78,4 21,6 43 20 68,3 31,7 1,00 0,71 -0,32-1,55 Hemorróida ausente presente 19 18 51,4 48,6 46 17 73,0 27,0 1,00 1,76 -0,92-3,35 Fissuraanal ausente presente 32 5 86,5 13,5 59 4 93,7 6,3 1,00 1,58 -0,62-4,06 Tônusdoesfíncteranal normal diminuído aumentado 20 8 9 54,1 21,6 24,3 44 2 17 69,8 3,2 27,0 1,00 2,56 1,11 -1,13-5,81 0,50-2,43
*RP=razãodeprevalência;#IC95%=intervalodeconfiança;†GI,GII,GIII=grausI,IIeIII,respectivamente
TABELA5-Prevalênciadeconstipaçãointestinal,segundoantecedentes obstétricos,resultadosdaanálisebivariada(n=100) Variáveis Constipaçãointestinal Presente (n=37) Ausente (n=63) Análisebivariada
n % n % RP* IC95%#
naprevalênciadehemorróidaeconstipação(12,17).Nessemesmoestudo
australiano, a associação significativa entre paridade e constipação foi observada apenas em mulheres jovens.Aproximadamente um terçodasmulheresdemeiaidadehaviamenstruadopelaúltimavez nosúltimos12mesesenestegrupoaprevalênciadeconstipaçãofoi significativamentemaior.OusodeTHporpelomenos5anostambém seassociouàCIemmulheresdemeiaidade,masnãonasidosas(4),
fatonãoobservadonopresenteestudo.
Destacou-seaprevalênciadeantecedentedecirurgiaparacorreção deincontinênciaurinária(27,0%)equeixadeperdaurináriaaosesforços (37,8%),fatoquepodeserexplicadopelograndenúmerodemultíparas (≥2partos),quereferirampartosnãoassistidos(domiciliares).SOLIGO et al.(23) reportaram que 54% das mulheres com distúrbios do trato
urinárioapresentamsintomasintestinais,masapenas12,2%mencionam issoespontaneamente.Outroestudo,realizadoemTaiwan,incluindo 320mulheres,mostrouque31,5%daspacientescomsintomasdotrato urináriobaixoapresentamconstipação(15).Noentanto,nessaamostra
demulheresmenopausadasnãohouveassociaçãosignificativaentre incontinênciaurináriaeconstipação.
Na presente casuística observou-se associação entre tônus do esfíncteranaldiminuídoeconstipação.Aoseanalisaressedado,deve considerar-seatécnicaaplicadanaavaliaçãodotônusdoesfíncteranal, istoé,oexamedigital.Esteapresentalimitaçõesquandocomparadoà manometria.EstudorealizadonaAlemanhacomparouamanometriae oexamedigital,realizadoporexperientesproctologistas,naavaliação dotônusanal.Observou-sebaixacorrelaçãoentreessastécnicas,como examedigitalapresentandoapenas57%deespecificidadenodiagnóstico de esfíncter incompetente. Dessa forma, os autores concluem que mesmoexaminadoresexperientesnecessitamdemétodosauxiliares naavaliaçãodotônusanal(8).
Aanálisemultivariadamostrouoantecedentedecirurgiaperianal comooúnicofatorassociadoàconstipação.Ressalta-sequeforam incluídascomotendoantecedentedecirurgiaperianaltodasasmulheres
que referiram hemorroidectomia, fissurectomia ou fistulectomia. Possívelexplicaçãoparaessaassociaçãorelaciona-seaofatodessas patologias,hemorróidasefissuras,seremdescritascomoassociadasà constipação(4,5).Nopresenteestudo,aobservaçãodequeoantecedente
decirurgiaperianalquasetriplicouachancedeapresentarCI,destaca a importância deste antecedente para o reconhecimento de queixas intestinaisassociadasnãosóàCI,maspossivelmentetambémaoutras patologiascomoasíndromedocólonirritável,flatulência,diarréiae sangramentoretal(4).
Finalmente,considera-sequeesteestudofoiumdosprimeirosa avaliaraprevalênciadeCIemmulheresnapós-menopausa.Osresultados sãoderelevância,poisforamconsideradosfatoresreconhecidamente associadosàCI.Dentreestes,destacamososantecedentesreprodutivos eousodecritériodiagnósticoreconhecidointernacionalmente(Roma II). Por tratar-se de estudo de corte transversal, não foi possível verificarainfluênciadohipoestrogenismoassociadoàmenopausana CI.Outralimitaçãofoiaavaliaçãodeamostradefreqüentadorasde umserviçodesaúde.Seriaimportanteconhecerarealprevalênciade CInapopulaçãogeral,dadoesse,atéondesesabe,nãodisponívelna populaçãobrasileira.
Acredita-se que este estudo representa uma contribuição para o reconhecimento da importância da CI e de seus fatores associados.Estudosnacionaisqueincluamamostrasmaioreseque contemplemoutrasvariáveiscomo,porexemplo,hábitoalimentar, qualidadedevidaeatividadefísica,entreoutrassãonecessários. Estudosprospectivosavaliandomulheresdapréàpós-menopausa poderãodeterminararealinfluênciadohipoestrogenismosobre aconstipaçãointestinal.
AGRADECIMENTOS
NossossincerosagradecimentosàGislaineA.Fonsechi-Carvasan pelaanáliseestatísticadoestudo.
OliveiraSCM,Pinto-NetoAM,GóesJRN,CondeDM,Santos-SáD,Costa-PaivaL.Prevalenceandfactorsassociatedwithintestinalconstipationinpostmenopausal women.ArqGastroenterol2005;42(1):24-9.
ABSTRACT-Background-Constipationoccursmorefrequentlyinthefemalepopulationanditbecomesmoreprevalentwithincreasingage.Thereare fewstudiesthathaveassessedtheprevalenceofconstipationinpostmenopausalwomen.Aim-Toinvestigatetheprevalenceandfactorsassociatedwith constipationinpostmenopausalwomen.PatientsandMethods-Across-sectionalstudyofpostmenopausalwomenagedover45yearswasconducted.It included100womenwhosoughtmedicalattentionattheMenopauseOutpatientFacilityattheStateUniversityofCampinas(UNICAMP),Campinas,SP, Brazil,betweenMarch,2003andJanuary,2004.TheprevalenceofconstipationwasassessedaccordingtotheRomeIIcriteria.Sociodemographicandclinical featuresofthesepatientswerestudied.Physicalexaminationswereperformedtoevaluategenitaldystopiasandanalsphinctertone.Statisticalanalysiswas performedbyusingthemean,standarddeviation,median,relativeandabsolutefrequenciesandbyusingtheprevalenceratiowitha95%confidenceinterval andmultiplelogisticregression.Results-Themeanageoftheparticipantswas58.9±5.9yearsandthemeanagewas47.5±5.4yearsatmenopause.The prevalenceofconstipationwas37%,themostcommonsymptombeingexcessivestrainingwhendefecating(91.9%),followedbyafeelingofincomplete evacuation(83.8%),hardorlumpystools(81.1%),lessthanthreebowelmovementsperweek(62.2%),sensationofanorectalobstructionduringdefecation (62.2%)anddigitalmaneuverstofacilitatedefecation(45.9%).Bivariateanalysisshowedthatanalsphinctertoneandthehistoryofperianalsurgerywere factorsassociatedwithconstipation.Afterapplyingmultipleregressionanalysis,thehistoryofperianalsurgerywassignificantlyassociatedwithconstipation (prevalenceratio:2.68;95%confidenceinterval:1.18-6.11).Conclusions-Theprevalenceofconstipationinpostmenopausalwomenwashigh.Thehistory ofperianalsurgerywassignificantlyassociatedwithconstipation,evenwhentheinfluenceofothervariablesweretakenintoconsideration.
REFERÊNCIASBIBLIOGRÁFICAS
1. AlmeidaPM,WickerhauserH.OcritérioABA/ABIPEME–Embuscadeumaatualização. SãoPaulo:AssociaçãoBrasileiradosInstitutosdePesquisadeMercado;1991. 2. AmericanGastroenterologicalAssociationMedicalPositionStatement.Guidelines
onconstipation.Gastroenterology2000;119:1761-78.
3. AndreSB,RodriguezTN,MoraesFilhoJPP.Constipaçãointestinal.RevBrasMed 2000;12:53-63.
4. ChiarelliP,BrownW,McElduffP.ConstipationinAustralianwomen:prevalence andassociatedfactors.IntUrogynecolJ2000;11:71-8.
5. DelcòF,SonnenbergA.Associationsbetweenhemorrhoidsandotherdiagnoses.Dis ColonRectum1998;41:1534-41.
6. DeLilloAR,RoseS.Functionalboweldisordersinthegeriatricpatient:constipation, fecalimpactionandfecalincontinence.AmJGastroenterol2000;95:901-5. 7. DrossmanDA,CorazziariE,TalleyNJ.TheRomeIImodularquestionnaire.In:
DrossmanDA,editors.RomeII:thefunctionalgastrointestinaldisorders:diagnosis,
pathophysiology,andtreatment:amultinationalconsensus.2ndedition.McLean,VA:
DegnonAssociates;c2000.p.670-88.
8. EckardtVF,KanzlerG.Howreliableisdigitalexaminationfortheevaluationofanal sphinctertone?IntJColorectalDis1993;8:95-7.
9. FaigelDO.Aclinicalapproachtoconstipation.ClinCornerstone2002;4:11-21.
10. GarriguesV,GalvezC,OrtizV,PonceM,NosP,PonceJ.Prevalenceofconstipation:
agreementamongseveralcriteriaandevaluationofthediagnosticaccuracyofqualifying symptomsandself-reporteddefinitioninapopulational-basedstudysurveyinSpain. AmJEpidemiol2004;159:520-6.
11. IrvineEJ,FerrazziS,PareP,ThompsonWG,RanceL.Health-relatedqualityof lifeinfunctionalGIdisorders:focusonconstipationandresourceutilization.AmJ Gastroenterol2002;97:1986-93.
12. JohansonJF,SonnenbergA.Theprevalenceofhemorrhoidsandchronicconstipation. Gastroenterology1990;98:380-6.
13. MasonHJ,Serrano-IkkosE,KammMA.Psychologicalmorbidityinwomenwith idiopathicconstipation.AmJGastroenterol2000;95:2852-7.
14. Moore-GillonV. Constipation: what does the patient mean? J R Soc Med 1984;77:108-10.
15. Ng SC, ChenYC, Lin LY, Chen GD. Anorectal dysfunction in women with urinary incontinence or lower urinary tract symptoms. Int J Gynaecol Obstet 2002;77:139-45.
16. PareP,FerrazziS,ThompsonWG,IrvineEJ,RanceL.Anepidemiologicalsurvey ofconstipationinCanada:definitions,rates,demographicsandpredictorsofhealth careseeking.AmJGastrenterol2001;96:3130-7.
17. PolglaseAL.Hemorrhoids:aclinicalupdate.MedAust1997;167:85-8. 18. Rekers H, DrogendjikAC,Valkenburg HA, Riphagen F. The menopause,
urinaryincontinenceandotherssymptomsofthegenito-urinarytract.Maturitas 1992;15:101-11.
19. Sandler RS, Jordan MC, Shelton BJ. Demographic and dietary determinants of constipationintheUSpopulation.AmJPublicHealth1990;80:185-9.
20. SASsoftwareversion8.2.Cary,NC:SASInstitute;1999.
21. ShullBL.Clinicalevaluationofwomenwithpelvicsupportdefects.ClinObstet Gynecol1993;36:939-51.
22. SkovT,DeddensJ,Petersen,MR,EndahlL.Prevalenceproportionratios:estimation
andhypothesistesting.IntJEpidemiol1998;27:91-5.
23. SoligoM,LaliaM,CitterioS,ScainiA,PriscoLD,MilaniR.Spontaneousreporting ofbowelsymptomsinwomenwithurinarydisorders[abstract].IntUrogynecolJ PelvicFloorDysfunction2000;11(Suppl1):13.
24. Stewart RB, Moore MT, Marks RG, HaleWE. Correlates of constipation in an ambulatoryelderlypopulation.AmJGastroenterol1992;87:859-64.
25. StewartWF,LibermanJN,SandlerRS,WoodsMS,StemhagenA,CheeE,Lipton RB, Farup CE. Epidemiology of constipation (EPOC) in the United States: relationofclinicalsubtypestosociodemographicfeatures.AmJGastrenterol 1999;94:3530-40.
26. TalleyNJ,WeaverAL,ZinsmeisterAR,MeltonLJ.Functionalconstipationandoutlet delay:apopulationbasedstudy.Gastroenterology1993;105:781-90.
27. TriadafilopoulosG,FinlaysonMA,GrelletC.Boweldysfunctioninpostmenopausal women.WomenHealth1998;27:55-66.
28. WhiteheadWE,DrinkwaterD,CheskinLJ,HellerBR,SchusterMM.Constipation intheelderlylivingathome.Definition,prevalence,andrelationshiptolifestyleand healthstatus.JAmGeriatrSoc1989;37:423-9.
29. WHOScientificGrouponResearchontheMenopause.Researchonthemenopause inthe1990s.Geneva:WHO;1996.(WHOtechnicalreportseries,886).