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Cultura tecnológica e redes sociotécnicas: um estudo sobre o portal da rede municipal de ensino de São Paulo.

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Academic year: 2017

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C u lt u r a t e c n o ló g ic a e r e d e s s o c io t é c n ic a s : u m e s t u d o

s o b r e o p o r t a l d a r e d e m u n ic ip a l d e e n s in o d e Sã o P a u lo *

Zulmira Medeiros

Paulo Cezar Santos Ventura

Centro Federal Tecnológico de Minas Gerais

R e s u m o

A realização dest e est udo deu- se a part ir da hipót ese de que as in st it u ições edu cacion ais ou redes de en sin o podem u t ilizar a int ernet para est abelecer uma nova f orma de cont at o administ ra-t i vo e pedagógi co den ra-t ro das su as com u n i dades escol ares. O ref erencial t eórico part e de element os como mudanças sociais, cult urais e t ecnológicas para, em seguida, sit uar em t al cont ext o o educador e sua apropriação da cult ura t ecnológica. Ao f inal, aborda a const it uição de redes sociot écnicas no meio educacio-nal, t endo a int ernet como element o f acilit ador. Para isso, t rat a t ambém de t emas como as redes sociais e os port ais educacio-nais. Em campo, buscou- se invest igar o processo de const it uição de uma rede sociot écnica em uma rede municipal de ensino. Por meio de observações, levant ament os, quest ionários e ent revist as, realizou- se um est udo de caso, no qual f oi possível acompanhar a criação, implant ação e ut ilização de um port al na int ernet , ca-ract erizado como um novo espaço de comunicação, de int eração e de t roca de inf ormações ent re a comunidade escolar. A invest i-gação con cen t rou - se n a f i gu ra do edu cador e su a percepção acerca desse espaço. Acredit ando que a relação ent re o homem e a t ecn ol ogi a en vol ve u m processo de apropri ação da cu l t u ra t ecnológica, que inf luencia diret ament e a sua at uação na socie-dade em rede, pôde- se concluir que port ais educacionais podem ser ut ilizados por inst it uições de ensino, de f orma produt iva e colaborat iva, ent re t odos os at ores da comunidade educacional, desde que em t al processo se leve em consideração, dent re out ros aspect os, a cult ura t ecnológica dessa comunidade.

P a l a v r a s - c h a v e

Cult ura t ecnológica — Rede sociot écnica — Educação. Correspondência:

Zulmira Medeiros

Rua Jacuí, 40, Bloco 9, apto. 201 31110- 050 – Belo Horizonte – MG e-mail: zulmira_medeiros@yahoo.com.br

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Te c h n o lo g ic a l c u lt u r e a n d s o c io t e c h n ic a l n e t w o r k s : a

s t u d y o f t h e Sã o P a u lo m u n ic ip a l s c h o o l s y s t e m w e b p o r t a l

Zulmira Medeiros

Paulo Cezar Santos Ventura

Centro Federal Tecnológico de Minas Gerais

A b s t r a c t

The poi n t of depart u re f or t hi s st u dy i s t he hypot hesi s t hat educat ional inst it ut ions and school syst ems can use t he Int ernet t o est ab l i sh a n ew f o rm o f ad m i n i st rat i ve an d p ed ag o g i cal co n t act w i t h i n t h ei r sch o o l co m m u n i t i es. Th e t h eo r et i cal f r am ew o r k i n vo l ves el em en t s su ch as so ci al , cu l t u r al , an d t echnological change, sit uat ing in t his cont ext t he educat or and his/ her appropriat ion of t he t echnological cult ure. It t hen deals w i t h t h e co n st i t u t i o n o f so ci o t ech n i cal n et w o r k s i n t h e educat ional environment , having t he Int ernet as a f acilit at or. In so doing, t he t ext also t ouches on t he issues of social net works an d edu cat i on al w eb port al s. The f i el dw ork i n vest i gat ed t he process of const it ut ion of a sociot echnical net work in a municipal school syst em. Observat ions, assessment s, quest ionnaires, and int erviews built a case st udy, in which it was possible t o f ollow t he creat ion, implement at ion, and use of an Int ernet port al as a new space f or t he communicat ion, int eract ion, and exchange of i n f orm at i on am on g t he school com m u n i t y. The i n vest i gat i on cent ered on t he f igure of t he educat or and of his/ her percept ion of t his space. Based on t he assumpt ion t hat our relat ionship t o t echnology ent ails a process of appropriat ion of t he t echnological cult ure, which direct ly inf luences our act ions in t his net worked societ y, we conclude t hat educat ional web port als can be used by schools in a product ive way, in collaborat ion among t he various agent s of t he educat ional communit y, once t his process t akes int o account , amongst ot her f act ors, t he t echnological cult ure of t hat part icular communit y.

K e y w o r d s

Technological cult ure — Sociot echnical net work — Educat ion.

Contact: Zulmira Medeiros

Rua Jacuí, 40, Bloco 9, apto. 201 31110- 050 – Belo Horizonte – MG e- mail: zulmira_medeiros@yahoo.com.br

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As t ransf ormações por que passa uma sociedade produzem mudanças nos seus sist e-mas de produção, nas relações sociais e, por con segu i n t e, podem provocar con f l i t os e o surgiment o de novos modelos cult urais. Essas mudanças cult urais muit as vezes represent am as p ró p ri as ad ap t açõ es d o s i n d i víd u o s ao seu meio. Segundo Laraia (2001), a t ecnologia é um dos principais f at ores desencadeadores de pro-cessos adapt at ivos, a part ir dos quais out ras mudanças adapt at ivas se ramif icam.

C u lt u r a e t e c n o lo g ia

Sabe- se que a cult ura é algo dinâmico, int rinsecament e relacionado às mudanças sociais, ou seja, um produt o colet ivo da vida humana, uma dimensão do processo social em const ant e mudança. Gohn (2001) ampara t al concepção ao afirmar que, nas pesquisas sociológicas, “ a cultura sempre aparece associada a processos de mudan-ça e t ransf ormação social, como mola propulso-ra de mudanças sociais” (p. 30).

Ao f alar- se em mudanças sociais e cul-t urais, é percul-t inencul-t e sinalizar para as duas ma-neiras em que podem se apresent ar. Algumas delas são result ant es de f at ores ext ernos ou do cont at o com out ros grupos sociais e cult urais. Out ras, conf orme dit o ant eriorment e, são pro-dut os da dinâmica int erna da própria socieda-de, grupo ou inst it uição, pois no dia- a- dia, os sujeit os vão se f ormando e t ambém produzin-do novos comport ament os e, assim, recrianproduzin-do a cult ura geral, numa via de mão dupla.

Acredit a- se, port ant o, que não se pode est udar a cult ura como algo pront o, est át ico, pois ao mesmo t empo, ela é condicionada e condiciona uma sociedade que, por sua vez, est á em const ant e t ransf ormação. Nem t ampouco se acredit a que a cult ura é expressa soment e como uma representação mais ampla da sociedade, mas que pode t ambém ser analisada a part ir de agru-pament os e suas diversidades cult urais.

Sob esse pont o de vist a, e por invest igar um art ef at o t ecnológico nest e est udo, f ez- se relevant e uma abordagem mais específ ica acerca

dos aspect os cult urais inerent es à relação en-t re o homem e as novas en-t ecnologias.

Segundo Cast ells (1999), o desenvolvi-m en t o t ecn ol ógi co e as t ran sf ordesenvolvi-m ações das soci edades est ão i n t i m am en t e rel aci on ados, embora “ a t ecnologia não det ermine a socieda-de e nem a sociedasocieda-de escreva o curso da t rans-f orm ação t ecn ol ógi ca” (p. 25), poi s exi st em muit os out ros f at ores que det erminam o resul-t ado f inal. Superando a idéia de que a resul-tecnologia seja at ualment e responsável por t oda e qualquer caract eríst ica social e cult ural, é necessário, no entanto, reconhecer que a tecnologia constitui- se num dos campos adapt at ivos da cult ura, a part ir do qual out ras mudanças adapt at ivas e cult urais se realizam. Como exemplo, t em- se os meios de comunicação que, nos últ imos anos, passaram p o r u m a verd ad ei ra revo l u ção t ecn o l ó g i ca, gerando novas relações sociais, t ransf ormando a cult ura e colocando novos desaf ios e neces-sidades aos indivíduos, principalment e no que concerne aos conceit os de t empo e de espaço (Laraia, 2001).

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implica um processo de socialização e acult u-ração. Esse é o mot ivo pelo qual se considera, nest a pesquisa, a import ância do universo cul-t ural relacionado às quescul-t ões cul-t ecnológicas na sociedade at ual.

Acredit a- se, assim como Freit as (2004), que a aproximação ent re o homem e o objet o t écnico produz uma relação de f amiliaridade com a t ecnologia. Segundo essa aut ora, assim com o a cu l t u ra rege as rel ações do hom em com a sociedade, a cult ura t ecnológica se f az necessária just ament e para f acilit ar o processo de socialização do homem no mundo at ual.

Falar em cult ura t ecnológica implica di-zer que as evoluções t ecnológicas vividas pela sociedade at ual não se rest ringem apenas ao uso de novos equipament os e produt os. M ui-t o m ai s qu e i sso, i m pl i ca a m odi f i cação de comport ament os, de cert a f orma, impondo- se à cult ura exist ent e e t ransf ormando indivíduos, grupos e sociedade (Kenski, 2003).

Desse modo, ent ende- se como cult ura tecnológica o conjunto complexo de valores, com-port ament os, linguagens, hábit os e relações soci-ais caract eríst icos dessa sociedade t ecnológica. A sua import ância est á relacionada com a possibili-dade de o indivíduo agir socialment e, a part ir de um saber t ecnológico do qual ele se apropria e desenvolve a sua ident idade, t ornando- se um ci-dadão t ecnologicament e compet ent e.

O e d u c a d o r e a s n o v a s t e c n o lo g ia s

A sociedade cont emporânea t raz para o ed u cad o r u m a sér i e d e d esaf i o s (M ar i n h o , 2002): agora o prof essor n ão é m ai s ú n i ca f ont e de inf ormação para o seu aluno, pois est a est á em t odo t empo e lugar e, t ambém por esse m ot i vo, o prof essor deve en t en der qu e su a própri a f orm ação é di n âm i ca e con t i n u ada. Além disso, f az- se necessário que os educado-res vejam uns aos out ros como parceiros, num cenário colaborat ivo, onde não mais se t raba-lha sozinho. E, por f im, o educador deve bus-car t ambém nas novas t ecnologias os meios de

cont ext ualizar, at ualizar, ampliar e melhorar a su a prát i ca pedagógi ca. Segu n do o au t or, é n at u ral qu e o edu cador e dem ai s at ores do processo educacional sejam desaf iados diant e das mu dan ças por qu e passa a edu cação n a sociedade at ual, embora nem sempre os indiví-duos se most rem preparados para responder de f orma adequada a t ais desaf ios.

Ao t rat ar do carát er permanent e da f or-mação do prof essor e de como a inf ormát ica se insere como um element o novo nessa f ormação, Fernandes (2004) apresent a uma classif icação import ant e sobre as demandas que se f azem present es ao prof essor na at ualidade. Segundo essa aut ora, “ est as demandas são int ernas — oriundas das sit uações cot idianas da sala de aula — ou ext ernas, oriundas de ações sociais, econômicas e polít icas na área de educação” (p. 17). Relacionados às demandas int ernas, a aut ora cit a os saberes da docência, adquiridos ant es e durant e a f ormação inicial e ao longo da t rajet ória prof issional, t ais como o conheci-ment o do cont eúdo, o conheciconheci-ment o pedagó-gico, o curricular, o conheciment o adquirido por meio da experiência e o conheciment o que o prof essor deve t er do aluno. Em relação às demandas externas, cita as exigências da sociedade at ual, principalment e as de cunho t ecnológico. O enfoque depositado nas questões tecnológicas ao tratar das demandas externas é compartilhado por Sampaio e Leit e (1999) que consideram que, em-bora o educador t enha hoje muit as out ras carên-cias, a questão tecnológica é de grande importân-cia, caract erizando- a como “ est rat égica, básica e de sobrevivência dest e prof issional” (p. 11).

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Tal processo de apropri ação en vol ve, em cert o moment o, a int eriorização (ou int er-n al i zação). Segu er-n do Doroer-n e Parot (2001), é m edi an t e a i n t eri ori zação qu e os el em en t os do m u n do ext eri or são i n corporados ao f u n -cionament o ment al do sujeit o, reorganizando as est ru t u ras cogn i t i vas an t eri ores por m ei o de represen t ações soci ai s. Esses au t ores at ri bu em à i n t ern al i zação o processo de assi m i -l ação , p e-l o i n d i víd u o , d e d ad o s ex t er i o r es com o part e del e própri o.

É nas relações sociais que o ser huma-n o est abelece cohuma-n t at o com huma-n ovas f ormas de comport ament o, com novas linguagens e com novos objet os. E para que o indivíduo desen-volva sua relação nesse meio, é necessário que ele t ome para si sua cult ura, int ernalizando seus signif icados e se apropriando de sua dinâmica. Por esse mot ivo, f az- se import ant e o con-ceito de apropriação neste estudo, que aborda tão de perto a relação do educador com a tecnologia. Uma relação que vai muit o além da simples ut i-lização, conf orme af irma Kenski (1998):

[ ...] n ão rest a apen as ao su jeit o adqu irir os co n h eci m en t o s o p er aci o n ai s p ar a p o d er desf rut ar das possibilidades int erat ivas com as n ovas t ecn ol ogi as. [ ...] Exi ge t am bém a apropriação e uso dos conheciment os e sa-beres di spon ívei s n ão com o u m a f orm a ar-t i f i ci al , específ i ca e di sar-t an ar-t e de com porar-t a-men t o in t elect u al e social, mas in t egrada e perm an en t e, i n eren t e à própri a m an ei ra de ser do su j ei t o. (p. 67)

E a aut ora complet a, cit ando Nóvoa: “ a inovação só t em sent ido se passar por dent ro de cada u m , se f or obj et o de ref l exão e de apropriação pessoal” (p. 67).

Acredit a- se que o rol de aspect os que podem condicionar o comport ament o humano di an t e das t ecn ol ogi as é real m en t e am pl o e complexo e que as quest ões relacionadas ao universo cult ural t êm um valor signif icat ivo nes-se processo de apropriação da t ecnologia, na int eriorização da cult ura t ecnológica.

Como f at or det erminant e dessa apropri-ação, Sampaio e Leit e (1999) apont am para a import ância da ‘alf abet ização t ecnológica’, que deve ser vist a como part e int egrant e da f orma-ção inicial e cont inuada do prof essor. As aut o-ras af irmam que, assim como a alf abet ização (lingüíst ica) sempre f oi um f at or det erminant e de socialização, não é de se est ranhar que, na sociedade at ual, seja relevant e uma alf abet iza-ção t ecnológica, que t orne o indivíduo capaz de lidar com as novas mídias e delas se apropriar de f orma crít ica e objet iva.

Conseqüent ement e, por meio das dif e-rent es f ormas de ut ilização, as t ecnologias vão se t ransf ormando, se reest rut urando, se desen-volvendo. No ent ant o, é soment e a part ir da apropriação de uma cult ura t ecnológica que o indivíduo t orna- se capaz de criar essa diversi-dade de ut ilização.

Not a- se que a apropriação da t ecnologia envolve muit o mais do que a simples ut ilização d e eq u i p am en t o s e p ro d u t o s t ecn o l ó g i co s. Cert ament e t al ut ilização pode ser ent endida como uma f ase inicial e necessária. Ent ret ant o, soment e a part ir da modif icação de processos p si co l ó g i co s i n t ern o s é q u e o i n d i víd u o se apropria da t écnica e t orna- se capaz de inf erir no processo t ecnológico.

R e d e s s o c ia is

Pensar e agir em rede é desaf iant e. Provoca, en t re o u t ras co i sas, o q u est i o n am en t o d e n o ssas m at r i zes d e ap r en d i zag em , co n vi -dando- nos a aprender algo novo, ou seja, a m u dar. (Schl i t hl er, 2003, p. 1)

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e grupos podem ut ilizar os recursos de seu meio em prol do bem colet ivo e/ ou individual.

Est rut uras int erconexas e dinâmicas, as redes sociais se est abelecem normalment e por relações mais horizont ais, que supõem o t raba-lho colaborat ivo e part icipat ivo. Essas relações se sust ent am pela vont ade e af inidade dos indi-víduos, caract erizando- se como um signif icat ivo recurso de desenvolviment o, t ant o para as rela-ções pessoais quant o para a est rut uração social. Esse pert enciment o a uma rede provoca mudanças no indivíduo e no próprio cont ext o cult ural em que a rede se const it ui, conf orme most ra Schlit hler (2003) em seu art igo sobre a f ormação de f acilit adores para as redes sociais:

Ent endo as redes sociais como met a e meio de t ransf ormação porque, além de seus obje-t ivos serem sempre obje-t ransf ormadores, o aobje-t o de f ormar e f azer part e de uma rede despert a o prot agonismo e, melhor ainda, ‘ensina’ a ser f acilit ador do prot agonismo de muit a gent e. Parece f ácil? M as não é. Vários est udos sobre redes t razem est e pont o em comum: um dos maiores desaf ios das redes — senão o maior — é a mudança cult ural que elas exigem. [...] acredi t o qu e o processo gru pal é sem pre t ransf ormador e desencadeia mudanças nos âm bi t os i n di vi du al , gru pal e soci al porqu e possibilit a a aprendizagem. (p. 1- 2)

As redes sociais podem, ent ão, ser vist as como um sistema de interdependência que envol-ve a part icipação e/ ou a colaboração ent re indi-víduos, t ornando o valor do t odo maior que a soma das part es. O pert enciment o às redes soci-ais proporciona ao indivíduo a sua real integração, socialização e posicionament o em seu meio.

R e d e s s o c io t é c n ic a s

[...] exist e um f io de Ariadne que nos permi-t iria passar conpermi-t inuamenpermi-t e do local ao glo-b al , d o h u m an o ao n ão - h u m an o . É o d a rede de prát i cas e i n st ru m en t os, de docu -ment os e t raduções. (Lat our, 1994, p. 119)

Na sociedade t ecnológica, as redes soci-ais ganham uma nova const it uição. A mesma ‘ soci edade i n t ercon ect ada’ (M oran , 2000) é def inida por Cast ells (1999) como ‘sociedade em rede’. Ambos est ão caract erizando a nova est ru-t ura social que se poru-t encializa com o avanço das t ecnologias da comunicação e da inf ormação.

Po r esse m o t i vo , o co n cei t o d e red e soci ot écn i ca é t rat ado aqu i com o ‘ u m a das f ormas’ em que pode se desenvolver uma rede social. Aquela em que a t ecnologia of erece a est rut ura de sust ent ação das relações sociais que se est abelecerão.

Rede sociot écnica porque não se t rat a apen as de u m a rede de com pu t adores n em tampouco de um aglomerado de pessoas (Cebrián, 1999), mas de uma int erconexão de seres huma-n os — u ma rede social — possibilit ada pelas t ecnologias. Nela, t udo se dá de f orma peculiar, inclusive as relações ent re as pessoas.

Bruno Lat our (1994) def ine a est rut ura das redes sociot écnicas, na qual o ser humano seria mais um nó numa est rut ura não- linear, sempre abert a a novos component es. A produ-ção co n t em p o rân ea d e ‘ co l et i vo s h íb ri d o s’ (Lat our, 1994) sugere um modelo de redes como um espaço f ért il para viabilizar a produção e a circulação de conheciment o e as novas conf igu-rações sociais que emergem na at ualidade.

Sob esse pont o de vist a, t orna- se inviável o est udo das evoluções sociais sem uma abor-dagem acerca dos avanços t ecnológicos, assim com o o est u do de t ai s t ecn ol ogi as sem u m olhar sobre as sociedades que as produzem e as ut ilizam. Isso caract eriza o aspect o híbrido de art ef at os como a int ernet (Viseu, 2003).

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na int erconexão e envolve compat ibilidade de int eresses e um processo amplo de t roca, de cooperação. Nunca subst it uirão por complet o os encont ros f ísicos, na verdade os complement am, como uma f orma alt ernat iva de encont ro.

U m a r e d e s o c io t é c n ic a n o m e io e d u c a c io n a l

A int ernet e a const rução de ambient es virt u-ais das escolas t êm sido uma maneira delas f azerem f rent e a est e mundo em t ransf orma-ção. (Iahn, 2002, p. 1)

A int ernet se f az present e em muit os dos segment os da sociedade at ual e já t omou lugar em diversas ações present es no cot idiano das pessoas, seja em busca de inf ormações, como na leit ura de um jornal on- line; serviços, como na execução de t ransações bancárias; e comu-nicação, como a ut ilização do correio elet rôni-co. Essa list a poderia est ender- se muit o se a int enção aqui f osse a de esgot ar as f unciona-lidades present es na int ernet .

No set or educacional, não é dif erent e. De maneira f ormal ou não, a int ernet é ut ilizada em muit os cont ext os, t ant o como f errament a peda-gógica de apoio à pesquisa e ao processo de ensino e aprendizagem, quant o como ext ensão do espaço escolar, f avorecendo a int eração e a comunicação ent re prof essores, alunos e f amílias e dest es com a inst it uição de ensino.

E é nesse segundo caso que se encon-t ra o f oco desencon-t e esencon-t u do. Assi m com o Lem os (2004) af irma que “ os port ais são represent a-ções at uais do espaço urbano no ciberespaço” (p. 21), acredit a- se que, sob a f orma de sit es ou port ai s, as i n st i t u i ções de en si n o bu scam se aproximar da comu n idade escolar e se f azer present es no ciberespaço.

Na origem do t ermo, um port al na int er-net seria a principal port a de acesso, at ravés da qual o indivíduo ent raria em out ros sit es. Do mesmo modo, um port al educacional, ao abri-gar vários ambient es (sit e para o educador, sit e para o aluno, sit es das escolas et c.), t ambém se comport a como uma port a de ent rada, o lugar

por onde o indivíduo inicia a sua navegação pelos sit es desejados.

At ualment e é possível encont rar, na in-t ernein-t , vários siin-t es e porin-t ais de insin-t iin-t uições edu-cacionais, com dif erent es est rut uras e concep-ções. Há sit es inst it ucionais (de uma escola ou de uma rede de escolas) que t razem inf orma-ções sobre a hist ória da inst it uição, sua inf ra-est rut ura, modalidades de ensino a que at ende, f ot os dos ambient es int ernos e ext ernos e da-dos sobre os event os f est ivos ou acadêmicos, como período de mat rícula et c. Out ros, indo um pouco mais além, t razem alguns serviços, como a possibilidade de consult a de bolet im escolar pelo aluno ou seus pais e a realização de ma-t rícula ou pré- mama-t rícula on- line. Acredima-t a- se, no ent ant o, que além dessas inf ormações e servi-ços, o port al de uma inst it uição educacional deve of erecer t ambém meios de int eração e co-municação ent re seus múlt iplos usuários.

Est e est udo ded se mais especif ica-ment e à análise de um port al const ruído por u m a rede de en si n o, n o qu al cada u n i dade educacional possui espaço para criação e pu-blicação de seu sit e. Os usuários diret os desse port al são, pois, as comunidades escolares f or-madas por cada unidade que, junt as, compõem uma comunidade maior.

Assim, o port al educacional, como uma rede sociot écnica, leva os serviços e as inf orma-ções da escola para o aluno, a f amília e o pró-p ri o ed u cad o r em q u al q u er t em pró-p o e l u g ar, ‘dest errit orializando’ o ambient e da escola, t or-nando- o mais próximo e mais acessível a t oda a comunidade escolar.

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ex-posição em t empo real no ciberespaço” (p. 195). Art iculando- se um ao out ro, int ernet e t errit ório se complet am.

Essa visão é compart ilhada por Lemos (2004), Lopes (2004) e M oraes (2004), quan-do consideram o ciberespaço como espaço de complement aridade da cidade e não como f or-ma de subst it uição ou t ransposição do t errit ó-rio. Desse modo, pot encializa- se a part icipação dos cidadãos ao se colocar em sinergia diver-sas int eligências colet ivas ou mesmo ref orçar laços comunit ários.

É nessa perspect iva que o port al educa-cional é reconhecido nest e est udo. Como um ambient e de apoio ao espaço escolar, capaz de agregar serviços e inf ormações e ser um espa-ço a m ai s de i n t eração. Col oca- se, assi m , a t ecnologia a serviço da melhoria dos processos educacionais, conf orme lembra Levy (1999):

Não se t rat a aqu i de u sar as t ecn ol ogi as a q u al q u er cu st o , m as si m d e aco m p an h ar conscient e e deliberadament e uma mudança de civilização que quest iona prof undament e as f ormas inst it ucionais, as ment alidades e a cu l t u ra dos si st emas edu caci on ai s t radi ci o-n ais. (p. 172)

Acredita- se que, complementando o territó-rio e proporcionando uma nova forma de interação social, o port al condiz com as demandas da ins-t iins-t uição e de seus usuários que, nesse caso, são t odos os at ores da comunidade escolar.

Quando um port al educacional se dispõe como suport e t ecnológico para as relações en-t re esses aen-t ores (insen-t ien-t uição, educadores, alunos, f amília) e dest es com a própria t ecnologia, t em-se o exemplo vivo de uma rede sociot écnica.

A p e s q u is a e m c a m p o

Com o objet ivo de con hecer melhor a f ormação de uma rede sociot écnica no meio educacional, opt o se pela realização do est u-do u-do processo de const rução e implant ação de um port al de uma rede municipal de ensino.

O mét odo de pesquisa escolhido f oi o est udo de caso, por se proceder a invest igação de um f enômeno at ual dent ro de seu cont ex-t o, conf orme expliciex-t a Yin (2001) em sua def i-nição de t al mét odo:

Um est u d o d e caso é u m a i n vest i g ação em píri ca qu e i n vest i ga u m f en ôm en o con -t em p o r ân eo d en -t r o d e seu co n -t ex -t o d a vi da real , especi al m en t e qu an do os l i m i t es en t re o f en ôm en o e o con t ext o n ão est ão cl aram en t e def i n i dos. (p. 32)

Ainda de acordo com esse aut or, a pre-f erência pelo uso do est udo de caso, quando se pret ende invest igar event os cont emporâneos, é ainda mais just if icável em sit uações nas quais os comport ament os relevant es não podem ser manipulados, mas em que seja possível se f a-zer observações diret as e/ ou ent revist as sist emá-t icas. A presen emá-t e in vesemá-t igação correspon de à sit uação descrit a por Yin (2001), já que o pro-cesso de const rução e implant ação do port al f oi acompanhado diret ament e pela pesquisadora, em seu cont ext o real, e ainda porque a pesqui-sadora possuía acesso ao f enômeno em est udo, mas não possuía cont role sobre os event os.

A pesquisa de campo desenvolveu- se na rede municipal de ensino do município de São Paulo, durant e o planejament o, a especif icação, o desenvolviment o e a implant ação do port al da Rede M u n i ci pal de En si n o (RM E- SP)1. O

port al f oi const ruído em sof t ware livre e int e-gra u m si st em a de gest ão escol ar (acessado soment e pelos servidores administ rat ivos) e um ambient e colaborat ivo, com o sit e da Secret a-ria de Educação, das regionais e de cada escola e onde t odos os at ores da comunidade escolar podem t er acesso a inf ormações e f errament as de comunicação web.

Por uma limit ação de t empo, a invest i-gação concent rou- se no usuário educador e na sua part icipação, na especif icação, na

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t ação e na ut ilização do port al. Isso porque a divulgação do port al aos demais usuários (alu-nos, f amiliares e a comunidade em geral) seria realizada em moment os post eriores.

O s in s t r u m e n t o s d e p e s q u is a

Sab en d o - se q u e u m est u d o d e caso normalment e cont empla a busca de inf orma-ções a part ir de f ont es diversif icadas, a present e invest igação se ut ilizou de dif erent es t écnicas em dif erent es moment os do est udo. Dessa f or-ma, a maior f ont e de dados f oi o próprio pro-cesso em andament o, por meio do qual as in-f ormações in-f oram obt idas, aliás, como o deve ser em um est udo de caso. Dent re os inst rument os ut ilizados, dest acam- se:

• Observação das diversas et apas de const ru-ção do port al, desde a sua concepru-ção; • Qu est i on ári o on - lin e, aplicado du ran t e a f orm ação dos edu cadores n a u t i l i zação do port al;

• Levan t am en t o s — ap ó s a p u b l i cação d o port al, acompanhou- se, durant e seis meses, a evo l u ção d o n ú m er o d e si t es cr i ad o s, d a quant idade de cont eúdo publicado, de edu-cadores cadast rados e seus acessos ao port al, assim como a u t ilização, pelos edu cadores, de alguns aplicat ivos;

• Ent revist a — para encerrar a colet a de da-dos, f oi f eit a uma ent revist a com os int egran-t es do grupo gesegran-t or do poregran-t al.

R e s u lt a d o s e c o n c lu s õ e s

Percebeu- se que o port al educacional na rede municipal de ensino de São Paulo veio ao encont ro de uma demanda das escolas, percep-t ível a parpercep-t ir de dois f apercep-t ores principais: escolas que já t inham um sit e e escolas que queriam t er um sit e.

No primeiro grupo, encont ravam- se uni-dades educacionais que possuíam um sit e na int ernet , apesar das condições nada f avoráveis para t al. O sit e era const ruído por educadores

qu e det i n ham al gu m con heci m en t o t écn i co específ ico e alguma disponibilidade para orga-nizar as inf ormações e publicá- las. No ent ant o, al ém de n ão ser u m a con st ru ção col et i va, a at ualização das inf ormações nas páginas não era const ant e. Também por limit ações t écnicas, t ais sit es possu íam n ormalmen t e u m carát er inf ormat ivo, sem opções de int erat ividade en-t re os usuários, sem conen-t eúdos pedagógicos ou inf ormações acadêmicas. Um out ro aspect o sig-nif icat ivament e limit ador cit ado pelos educado-res f oi a hospedagem do sit e, cuja única opção era o provedor grat uit o. Esse t ipo de hospeda-gem é limit ado — t ant o em relação aos recur-sos disponíveis, quant o ao espaço (em byt es) para armazenar inf ormações — e inst ável, pois a qualquer moment o o provedor pode desejar cobrar pela hospedagem e, caso o usuário não queira ou não possa pagar, perderá o sit e. Além di sso, por serem si t es i n di vi du ai s e por n ão haver uma est rut ura que f acilit asse a comuni-cação e a localização dest es n a web, muit os não eram reconhecidos pela rede de ensino e, às vezes, n em mesmo pela comu n idade esco-l ar d aq u eesco-l a u n i d ad e. Pr o va d i sso é q u e a m ai ori a (62,2%) dos edu cadores cu j a escol a possuía um desses sit es não soube inf ormar o en dereço corret o.

No segu n do gru po, con st at ou - se qu e ent re os educadores cuja escola não possuía um sit e publicado, 72,1% af irmou que t al deman-da já havia sido levant ademan-da dent ro de sua uni-dade. O que eles mais desejavam em um sit e da escola est ava relacionado com a comunicação ent re as unidades e com a divulgação dos t ra-balhos realizados.

Em ambos os grupos, observou- se a ne-cessidade de aparecerem na web por causa da gran de f reqü ên ci a de t ermos como pu bl i car, most rar, divulgar, apresent ar. Como af irma Lévy (1999):

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O p o r t a l s o b o o lh a r d o s e d u c a d o r e s

Em campo, not ou- se que a recept ividade do educador f oi posit iva, demonst rando uma percepção das possibilidades que se abriram com a implant ação e a ut ilização do port al. Ao valo-rizar aspect os como a divulgação dos t rabalhos das escolas, a t roca de inf ormações e experiên-cias ent re educadores e o acesso da comunida-de, eles concordaram com o que M oran (2000) acredit a ser uma necessidade da educação con-t em porân ea: a de se con-t orn ar u m processo de comunicação part icipat ivo, int erat ivo e vivencial, ent re t oda a comunidade escolar — administ ra-dores, f uncionários, prof essores, alunos e f ami-liares. É esse desejo mút uo de comunicação e de int eligência colet iva que, segundo Lévy (1999), potencializa o desenvolvimento do ciberespaço. É essa noção de part icipação e de colaboração que caract eriza a comunidade, o grupo e o dif erencia de um simples agrupament o (Ayres, 2001).

Os educadores demonst raram ainda per-ceber as ci rcu n st ân ci as cri adas pel as t ecn o-l ogi as da i n f orm ação e com u n i cação e qu e perm i t em “ a f orm ação de redes de pessoas int eragindo via int ernet ” (Valent e, 2002, p. 34). Eles viram o port al como um inst rument o po-t encializador da democrapo-t ização do acesso e da part icipação da comunidade.

No ent ant o, eles demonst raram uma pre-ocupação especial pela at ualização do cont eú-do nos sit es eú-do port al, seja por perceberem a import ância das inf ormações est arem sempre at ualizadas ou de que se f izesse um mau uso do port al, ut ilizando- o para f ins polít icos em vez de f ins educacionais ou, ainda, por se pre-ocuparem com a sobrecarga de t rabalho, de-monst rando que seria necessário t empo e pes-soas dedicadas ao t rabalho com o port al.

Não f oram pou cos os edu cadores qu e manif est aram t ambém a preocupação pela con-t inuidade do projecon-t o diancon-t e da possibilidade de mudança na gest ão municipal.

A mudança de gest ão ocorreu. Uma di-m i n u i ção n o ri t di-m o d e d esen vo l vi di-m en t o d o

port al t ambém. No ent ant o, ele cont inua publi-cado n a i n t ern et e sen do u t i l i zado por seu s usuários. At é o moment o em que se encerrou a co l et a d e d ad o s, o p o rt al receb eu d a n o va gest ão u m t rat amen t o imparcial. Não hou ve i n vest i m en t os n o desen vol vi m en t o de n ovas f uncionalidades nem na conclusão de out ras t ant as que não chegaram a ser implant adas. Esse f at o f ez com que alguns educadores suge-rissem que um projet o desse port e, desenvolvido para um órgão público, deveria ser concluído no decorrer de uma única gest ão, pois as dif iculda-des para levá- lo adiant e, sob ideologias dif eren-t es, compromeeren-t eriam a sua coneren-t inuidade.

A u t iliz a ç ã o d o p o r t a l p e lo s e d u c a d o r e s

Not ou- se que a maior ut ilização do por-t al coincidiu com os meses lepor-t ivos, o que, de cert o modo, demonst rou que o acesso aos sit es f oi inserido na rot ina escolar.

Ent ret ant o, a quant idade de usuários ca-dast rados, de acessos semanais e de sit es e con-t eúdos publicados nos seis primeiros meses do port al f oi muit o pequena em relação ao port e da rede de ensino. M esmo ent re os sit es já publica-dos, muit os f oram os que às vezes f icaram sem at ualização ou mesmo sem publicações. Além disso, o cont eúdo veiculado no port al apresent ou um carát er mais inf ormat ivo e os aplicat ivos que realment e possibilit ariam a colaboração ent re educadores f oram bem menos ut ilizados.

A a p r o p r ia ç ã o d a t e c n o lo g ia

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t ecnologia. Acredit a- se, desse modo, que a pró-pria ut ilização do port al pode f uncionar como um mecanismo de dif usão e de apropriação da t écnica, f azendo com que a cult ura t ecnológica se f ort aleça ent re os usuários do port al.

Os edu cadores, em seu s depoi m en t os, t ambém valorizaram muit o as possibilidades de inclusão digit al que se abriram a t oda a comu-nidade escolar, a part ir da implant ação de um objet o t écnico que pode ser acessível a educa-dores, alunos e f amiliares.

Pode- se di zer qu e o port al t eri a u m a f unção implícit a de ser f acilit ador da inclusão digit al e da apropriação da cult ura t ecnológica. Conseqüent ement e, a socialização e a capaci-dade de at u ação desses i n di vídu os n o m ei o seriam benef iciadas.

Acerca das inf luências do port al sobre as relações ent re os educadores da RM E- SP, pode-se inf erir, a part ir dos depoiment os prepode-sent es nos quest ionários e do diálogo que se observa em aplicat ivos como o f órum, que a comunica-ção e a t roca ent re os educadores são ações signif icat ivament e ampliadas e ref orçadas pelo novo disposit ivo comunicacional (Levy, 1999), sem a pret en são de su bst i t u i r os en con t ros presenciais, mas como um meio de est imular, regist rar e valorizar a part icipação de t odos.

A c u lt u r a e a t e c n o lo g ia

Uma das quest ões cent rais dest a pesqui-sa t rat a da f orma como os art ef at os t ecnológicos envolvem aspect os cult urais.

É relevant e lembrar a comparação ent re a cult ura e uma lent e (Benedict apud Laraia, 2001), através da qual os indivíduos vêem o mundo. Pro-vavelmente o portal teve um bom nível de aceita-ção ent re os educadores (que part iciparam da f ormação) pelo f at o de já haver ent re eles uma cult ura ant erior que demandava a presença das escolas na internet, através de seus sites. Da mes-ma f ormes-ma, o número ainda pequeno de usuários cadast rados e de acessos semanais pode ser just i-f icado pela i-f alt a da cult ura t ecnológica em uma signif icat iva parcela de int egrant es da RME- SP.

Acredit a- se que, para ser caract erizado realment e como um ambient e colaborat ivo, o port al não pode ser ent endido como um depar-t amendepar-t o dendepar-t ro da insdepar-t idepar-t uição. Ao condepar-t rário, deve perm ear t odos os processos. Por i sso, concorda- se com os educadores quando, em seus depoiment os, alert am para a necessidade de se rever as est rut uras e responsabilidades. O port al não pode ser t aref a de alguns, suas f un-cionalidades e cont eúdos devem represent ar a ident idade da inst it uição e não de um grupo. Daí a necessidade de part icipação dos usuáros no envio de sugest ões de cont eúdusuáros (art i-gos, ref erências, aulas, projet os et c.) a serem publicados. Apesar de essa const at ação est ar present e nas palavras da Secret ária de Educa-ção e nos depoiment os dos educadores, a par-t icipação dos usuários nos primeiros meses de ut ilização do port al pode ser considerada pe-quena diant e do t amanho da RM E- SP.

Sabe- se que muit as out ras variáveis in-f luenciam, em maior ou menor grau, a ut iliza-ção do port al pelos educadores, t ais como o t empo necessário para at ualização dos sit es e as condições t écnicas disponíveis, conf orme eles mesmos explicit aram em suas f alas.

Acredit a- se, ent ret ant o, que o processo demanda uma mudança de post ura, uma mu-dança cult ural que só será conseguida após um bom t empo de ut ilização e compreensão des-se novo ambient e. Deve- des-se compreender que o port al não é uma analogia nem uma subst it ui-ção do t errit ório e seus processos (Lévy, 1999), m as u m espaço qu e o com pl em en t a, qu e o amplia, que coloca em sinergia as cont ribuições de t odos os seus usuários (Lemos, 2004).

A c o n s t it u iç ã o d a r e d e s o c i o t é c n i c a

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A demanda por um espaço de t roca de inf ormações e experiências demonst ra uma t en-dência ao t rabalho em rede, uma necessidade de compart ilhar, de se conect ar. Silva (2000) lembra que a organização social em rede não se deve som en t e às n ovas t ecn ol ogi as, m as principalment e às mudanças na est rut ura da própria sociedade cont emporânea.

Num processo de cresciment o semelhan-t e ao de um rizoma (Lemos, 1996), o porsemelhan-t al rapidament e chegou a diversas escolas dent ro da RM E- SP, conect ando- as.

No ent ant o, nos primeiros meses de ut i-lização, grande part e do cont eúdo que t rami-t ou no porrami-t al possuiu um carárami-t er mais inf orma-t ivo do que colaboraorma-t ivo, um número conside-rável de escolas ainda não publicou o seu sit e e muit os educadores não acessaram o port al uma só vez.

Sabe- se que uma rede sociot écnica não se baseia na reunião de recursos e inf ormações, mas principalment e na reunião de indivíduos, num colet ivo híbrido (Lat our, 1994). Essa rede deixa de ser apenas um agrupament o de pes-soas (Ayres, 2001) quant o mais part icipat ivos e colaborat ivos se t ornarem seus int egrant es.

Esse processo, porém, deve acont ecer de f o r m a g r ad at i va e n at u r al , p o r q u e a r ed e sociot écnica não é const ruída — ela se aut o-const rói. Pode- se pot encializar e est imular a sua criação e cresciment o, mas ela t em o seu t em-po de desenvolviment o. A f unção do em-port al e dos seus administ radores é criar condições para que a comunidade se desenvolva, dando- lhe f errament as út eis e f uncionais. No ent ant o, a ut ilização de f orma ef et iva e colaborat iva é um processo bem mais complexo, é um processo de apropriação cult ural.

R e f e r ê n c ia s b ib lio g r á f ic a s

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Zulmira Medeiros, doutoranda em Educação na UFMG, mestre em Educação Tecnológica pelo CEFET-MG, com graduação em Pedagogia pela UFMG, atualmente é professora substituta na Faculdade de Educação da UFMG e atua na implantação de portais educacionais.

Referências

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