www.rbceonline.org.br
Revista
Brasileira
de
CIÊNCIAS
DO
ESPORTE
ARTIGO
ORIGINAL
A
percepc
¸ão
de
professores
polivalentes
regentes
do
ensino
fundamental
sobre
a
educac
¸ão
física
Cleyton
Batista
de
Sousa
a,∗,
Diego
Luz
Moura
be
Marcelo
Moreira
Antunes
caUniversidadeFederaldoValedoSãoFrancisco(Univasf),ProgramadePós-Graduac¸ãoemCiênciasdaSaúdeeBiológicas,
Petrolina,PE,Brasil
bUniversidadeFederaldoValedoSãoFrancisco(Univasf),ProgramadePós-Graduac¸ãoemEducac¸ãoFísica,Petrolina,PE,Brasil
cUniversidadedoEstadodoRiodeJaneiro(UERJ),InstitutodeAplicac¸ãoFernandoRodriguesdaSilveira,Departamentode
Educac¸ãoFísicaeArtes,RiodeJaneiro,RJ,Brasil
Recebidoem6deagostode2013;aceitoem11denovembrode2014 DisponívelnaInternetem2demarçode2016
PALAVRAS-CHAVE Currículo;
Professores polivalentes; Educac¸ãofísica; Percepc¸ão
Resumo Oobjetivodesteartigoéanalisaraspercepc¸õesqueosprofessorespolivalentesdo 1◦ao5aanodoensinofundamentaltêmsobreaeducac¸ãofísicacomocomponentecurricular.
Ametodologiausadafoiumapesquisadecampocomaaplicac¸ãodequestionáriosem16escolas deJacarepaguá,naZonaOestedoRiodeJaneiro(RJ).Aamostracompreendeu154 professo-respolivalentes.Concluímos quehouveumavanc¸oqualitativonapercepc¸ãodosprofessores polivalentessobreaeducac¸ãofísica.Entretanto,aindaexisteumdesconhecimentosobreseus objetivosesuasfinalidades.Apontamosanecessidadedeelaborac¸ãodeacordosmínimospara aintervenc¸ãonaescola.
©2016Col´egioBrasileirodeCiˆenciasdoEsporte.PublicadoporElsevierEditoraLtda.Este ´e umartigoOpenAccesssobumalicenc¸aCCBY-NC-ND(http://creativecommons.org/licenses/ by-nc-nd/4.0/).
KEYWORDS Curriculum;
Polyvalentteachers; Physicaleducation; Perception
Perceptions of teachers polyvalent regents of elementary education on physical education
Abstract Theobjectiveofthispaperistoanalyzetheperceptionsthatpolyvalentteachers from1stto5thyearhaveonphysicaleducationasacurriculumcomponent.Themethodology usedwasafieldsurveywithquestionnairesinsixteenschoolsJacarepagua.Thesampleconsisted of154multipurposeteachersintotal.Attheend,weconcludedthattherewasaqualitative improvementintheperceptionofpolyvalentteachersonphysicaleducation.However,there
∗Autorparacorrespondência.
E-mail:cleytonbatista1@hotmail.com(C.B.Sousa).
http://dx.doi.org/10.1016/j.rbce.2016.02.001
isstillalackofknowledgeaboutitsgoalsandpurposes.Pointedouttheneedforconstruction ofminimumarrangementsforinterventioninschool.
©2016Col´egioBrasileirodeCiˆenciasdoEsporte.PublishedbyElsevierEditoraLtda.Thisisan openaccessarticleundertheCCBY-NC-NDlicense (http://creativecommons.org/licenses/by-nc-nd/4.0/).
PALABRASCLAVE Currículo;
Maestros polivalentes; Educaciónfísica; Percepción
Percepciones de maestros polivalentes regentes de educación primaria sobre la educaciónfísica
Resumen Elobjetivodeestetrabajoesanalizarlaspercepcionesquelosmaestros poliva-lentes de 1.◦ a 5.◦ curso tienen sobre la educación física como componente curricular. La
metodología usada fueunestudiode campo con cuestionariosen 16escuelas de Jacarepa-guá.Lamuestraentotalestabaformadapor154profesorespolivalentes.Alfinal,sellegóala conclusióndequehabíaunamejoracualitativaenlapercepcióndelosmaestrospolivalentes sobrelaeducaciónfísica.Sinembargo,todavíahayunafaltadeconocimientoacercadesus objetivos ypropósitos.Sese˜nalólanecesidaddeconstruccióndeacuerdosmínimos parala intervenciónenlaescuela.
©2016Col´egioBrasileirodeCiˆenciasdoEsporte.PublicadoporElsevierEditoraLtda.Estees unart´ıculoOpenAccessbajolalicenciaCCBY-NC-ND(http://creativecommons.org/licenses/ by-nc-nd/4.0/).
Introduc
¸ão
Inseridanaescola,aeducac¸ãofísica(EF)foialvodeintensas discussõessobreseusmétodos,conteúdos,objetivose fun-cionalidades.Essedebatesurgiunofimdadécadade1970 einíciodade1980(Moura,2012).
Umadasprincipaisdiscussõessobreesseassuntose refe-ria à legitimidade que a EF tinha na escola. Esse debate buscouapresentarargumentosplausíveisparaasua perma-nência ou inclusão no currículo escolar (Bracht, 1992, p. 37). Entretanto, se,por um lado, a legalidade dessa dis-ciplinafoiconfirmadapelaLein◦
.10.328,de2001(Brasil, 2001),queatornouumcomponentecurricularobrigatório naeducac¸ãobásica,poroutro,ocotidianoescolardemarca diferenc¸as entre as disciplinas, deixa aqueles que atuam com o corpo(artes e EF) como secundários e commenor relevância(SouzaJunioretal.,2011).
O currículoque existehojenasescolasé frutodeuma construc¸ãohistóricanaqualestiverampresentesconflitose tensões.Goodson(2008)apontaanecessidadede compre-enderocurrículo paraalémdeumdocumentoprescritivo quedeterminaac¸õeseconteúdosdasdisciplinas.Ocurrículo éumaconstruc¸ãosocialmarcadaporlutasecontestac¸ões e estáinteiramente vinculadoa ummomentohistórico, a umadeterminadasociedadee àsrelac¸õescom o conheci-mento.Nesse sentido,aeducac¸ãoe ocurrículo sãovistos intimamenteenvolvidoscomoprocessocultural.
ApartirdoolhardeGoodson(2008),podemosperceber queavalorizac¸ãodealgunscomponentescurriculares,em detrimentodeoutros,refleteaslutasqueessasdisciplinas enfrentamparaselegitimarnocurrículoescolar.Aquiloque é considerado ‘‘adequado’’ou‘‘inadequado’’ é resultado dasrelac¸õesdepoderquecadaaspectocurriculartemem contextosespecíficos.Portanto,aaparentenaturalidadedo entendimento da EF como umadisciplina ‘‘menos impor-tante’’nocotidianoescolaréfrutodeconstruc¸ãosocial.
Temosobservadoumatensãoacercadapermanênciado professordeEFnosprimeirosanosdoensinofundamental. Foiaprovado,pormeiodoartigo31daresoluc¸ãon◦7/2010
CNE/MEC:‘‘Do1◦ao5◦anodoensinofundamental,os
com-ponentescurriculareseducac¸ãofísicaeartespoderãoestar acargodoprofessordereferênciadaturma,aquelecomo qualosalunospermanecemamaiorpartedoperíodoescolar, oudeprofessoreslicenciadosnosrespectivoscomponentes’’ (Brasil,2010).
SilvaFilhoePereira(2012),aoanalisarapercepc¸ão1de
professorespolivalentesquesãoresponsáveisporministrar adisciplinaEF,constatamqueessesdocentesnão compre-endema importância da área. Ao analisar suas aulas, os autores constatamque nãohá umaorganizac¸ão da disci-plinanamedidaemqueafrequênciasemanaleadurac¸ão dasaulasnãosãopadronizadaseoprincipalconteúdousado éarecreac¸ão.
Deacordo comPereira etal.,2009 e Ferraz e Macedo (2001),nemtodososprofessorespolivalentesresponsáveis pelaEF ministram as aulas. Dentre osmotivos relatados, umgrupodeprofessoresalegafaltadetempo,carênciade conhecimentosespecíficos,outrasprioridadese/oumuitas atribuic¸ões---revela-seumadesvalorizac¸ãodaárea.
Pela teoriadeconstruc¸ãosocial docurrículo, podemos afirmarqueessatensãonaleiéconsequênciadequestões culturaisconstruídasnasescolas.Ora,seaEFévistaapenas comoatividaderecreativa,desconsidera-sesuaimportância pedagógica para o desenvolvimento dos alunos, a neces-sidade de um professor especializado na área perde sua justificativa.
Portanto,acreditamosqueapresenc¸adedocentes espe-cializadosem EF podeinfluenciarpositivamente na forma como a área é percebida no contexto escolar e contri-buirparaumamaiorvalorizac¸ãodadisciplina.Dessaforma, nossoobjetivoéanalisaraspercepc¸õesqueosprofessores polivalentesdo1◦ ao5a
anotêmsobreaEFcomo compo-nentecurricular.
Metodologia
Ametodologiaempregadafoidecaráterquantitativo. Fize-mosumapesquisadecampocom professorespolivalentes da7◦
CoordenadoriaRegionaldeEducac¸ão(CRE)da Secre-tariaMunicipal deEducac¸ão doRiodeJaneiro,que reúne asescolas dos bairrosBarra daTijuca, Cidade deDeus e Jacarepaguá.
A7◦CREtem25escolascomosprimeirosanosdoensino
fundamental.Aescolhadasinstituic¸õessedeu pelo crité-rioacidental porsaturac¸ão (Becker,1994). Nessesentido, opontodesaturac¸ãodeu-seapartirdomomentoemque asrespostasdasentrevistascomec¸aramasetornar repetiti-vas,anãoadicionarinformac¸õeserevelardadossuficientes paraatenderaoobjetivodopresenteestudo.Dessaforma, a pesquisa ocorreu em 16 escolas, o que corresponde a 64%dapopulac¸ãoenvolvida, efoidesenvolvidade setem-bro/outubrode2012.Caberessaltarqueemtodasasescolas asaulasdeEFeramresponsabilidadedeprofessores especi-alizadosnaárea.
Usamos uma escala Likert de cinco opc¸ões que foi avaliada por dois doutores especialistas no tema. Pos-teriormente, foi avaliado em um estudo-piloto com 10professores.Essatestagempreliminarindicoua necessi-dadedeajustesnoinstrumento.Apósosacertosnecessários indicadospeloestudopiloto,oquestionáriofoientregueaos professorespolivalentes.Oinstrumentofinalécompostode trêspartes. Aprimeira apresentao tipodeestudo e seus objetivos.Asegundatemquestõesparacaracterizac¸ão do informante.Aterceiraécompostapor15questõesfechadas, nasquais as respostasse apresentavam como uma escala Likertdecincoopc¸õesparaaescolhadeapenasumapelo informante.
Acoletadosdadosaconteciaduranteoperíodode inter-valoentreasaulasdospesquisados.Fizeramparteda amos-tra154professorespolivalentesqueatuamdo1◦ao5◦ ano
doensinofundamentaldosdiferentesturnosdeensino. Aanálisedosdadosfoifeitacombasenaestatística des-critiva,que,segundo(Martins,2005p.19),temporobjetivo organizar e/ou descrever uma série de dados e possibi-litar ‘‘melhor compreender o comportamento da variável expressanoconjuntodedadossobanálise’’.
A pesquisa contou com anuência da 7◦ Coordenadoria
Regionalde Educac¸ão (CRE). Todososprofessores pesqui-sadosconcordaramem participardapesquisa e assinaram termodeconsentimentolivreeesclarecido.
Resultados
Organizamososresultadosemquatrocategorias:perfildos professores, dilemas daEF, legitimidade da EF e o currí-culovividodaEF.Caberessaltaraquiqueacriac¸ãodetais categoriastemcomoobjetivofacilitaracompreensão.Para
adiscussãodosresultadostornou-sefundamentalinterligar asdiferentescategoriasparamelhorinterpretá-las.
Há uma predominância de professores polivalentes do sexofemininoàfrentedasturmas(91%).Entretanto, nota--setambémapresenc¸adeprofessoreshomensnosprimeiros anosdoensinofundamental.
O corpo docente das escolas analisadas é constituído, em sua maioria,por docentes commaisde 35anos (68%) e com formac¸ão concluída há mais de 10 anos (61%). Otempodemagistériomaisencontradofoiodeacimade 16 anos(43,8%),seguido decincoanos(22,2%). Cabe res-saltarqueasvivênciasobtidasantesdaformac¸ãotambém foramcomputadas.
Apedagogia é a áreade formac¸ão maisbuscadapelos professores (38,9%),seguidadeprofessores comformac¸ão técnica de nível médio(curso normal) que complementa-ramsuaformac¸ão(23,4%).Osprofessores,emsuamaioria, atuamnaredemunicipal(77%)e14%delestrabalhamtanto na esferamunicipalquantonaparticular. Opercentualde entrevistadosatuantesemescolasestaduaise/ouque con-ciliamseutemponastrêsredesdeensinonãofoirelevante, ficoucommenosde10%dototal(tabela1).
Natabela2verificamosoentendimentodosprofessores polivalentes sobrea EF,alémde apresentarquestões que abrangem os dilemas da disciplina sobre a sua finalidade nocontextoescolar.Nota-sequeodesenvolvimentomotor (86,4%),apromoc¸ãodasaúde(81,2%)eaformac¸ãode valo-res(81,2%)foramastrêsfinalidadesmaisvalorizadaspelos docentes.Logoemseguidaaparecemarecreac¸ão(51,9%)e aformac¸ãodeatletas(48,7%).
Aalfabetizac¸ãonasaulasdeEFrecebeumenor relevân-cia quando comparada com asoutras finalidades (40,9%). Entretanto,existeoentendimentodequeelatemafunc¸ão dealfabetizarosalunos,jáqueasomadosdiferentesníveis deimportância(muitoimportanteeimportante),totalizou 66,2%.
Sobreascompetic¸õesesportivasinternaseexternas,um número expressivo de pesquisados revela existir um con-senso sobre o valor de tais eventos:41,5% acreditam ser muitoimportantese 42,8%consideramimportantes,oque chegaaopercentualde84,3%.
Atabela 3 tema finalidade deaveriguar quala legiti-midade daEF.Paraisso,reunimosquestões acercadesua importâncianocontextoescolar.
Arespeito da cargahorária semanal, constatamos que 51,6% dos professores julgam que a área deve ter duas aulas por semana, acompanhados de38,6% que preferem trêsaulasporsemana.Comrelac¸ãoàcargahoráriadiária, 53,3%doseducadoresresponderamqueumtempodeaula éosuficiente.Dosoutrosentrevistados,44,2%escolheram doistemposdeaulaporturmacomoresposta.
Acercadacorrelac¸ãoentreaEFecomasdemais discipli-nas,obtivemoscomoresultadopredominanteaideiadeque aáreacontribuiparaodesenvolvimentoeaaprendizagem deoutroscomponentescurriculares(95,4%).
Emoutra questão, perguntamosaos pesquisadoso que pensamsobreafacultatividadedasaulasdeEF.Vimosque nosresultadosobtidosháumasuperioridadedeprofessores afavordaáreacomocomponentecurricularobrigatório,o quechegaa84,4%.
Tabela1 Perfildosprofessorespesquisados
Item Ocorrêncian(%)
Sexo Homem
14(9)
Mulher 140(91) Idade ≤30anos De31a
35anos
De36a 40anos
De41a 45anos
De46a 50anos
De51a 55anos
≥56
anos
Não respondeu 24(15,5) 24(15,5) 31(20,1) 27(17,5) 19(12,3) 17(11) 11(7,1) 1(0,6)
Tempode formac¸ão
≤4anos De9a5anos De19a10anos De29a20anos ≥30anos Nãorespondeu
22(14,2) 32(20,7) 36(23,3) 32(20,7) 20(12,9) 12(7,7)
Áreade formac¸ão
Normal Normal superior
Pedagogia Outros Normale Pedagogia
Normale Outros
Normal sup.e Pedagogia
Normal sup.e Outros
Pedagogia eOutros
Normal, Pedagogia eOutros 23(14,9) 4(2,6) 60(38,9) 1(0,6) 9(5,8) 36(23,4) 1(0,6) 5(3,2) 14(9,1) 1(0,6)
Tipodeescolaque atua
Municipal Municipal eEstadual
Municipal ePrivado
Municipal, EstadualePrivado 119(77,2) 9(5,8) 22(14,2) 4(2,5)
Tempono magistério
≤5anos De6a10anos De11a15anos ≥16anos Nãorespondeu
34(22,2) 23(14,9) 29(18,8) 67(43,5) 1(0,6)
Fonte:Osprópriosautores.
Tabela2 Dilemasdaeducac¸ãofísica
Dilemas Incidêncian(%)
Muitoimportante Importante Necessária Poucoimportante Desnecessária
Formac¸ãodeatletas 75(48,7) 40(25,9) 20(12,9) 11(7,1) 8(5,2) Recreac¸ão 79(59,9) 42(27,6) 25(16,4) 4(2,6) 2(1,3) Desenvolvimentomotor 133(86,4) 11(7,1) 10(6,5) - -Promoc¸ãodasaúde 125(81,2) 18(11,7) 11(7,1) - -Formac¸ãodevalores 125(81,2) 17(11,0) 12(7,8) - -Alfabetizac¸ão 63(40,9) 39(25,3) 31(20,1) 12(7,8) 9(5,9) Competic¸õesesportivas 64(41,5) 66(42,8) 22(14,3) - 2(1,4)
Fonte:Osprópriosautores.
Tabela3 LegitimidadedaEF
Legitimidade Incidêncian(%)
N◦deaulaspor
semana
1aula 2aulas 3aulas 4aulas 5aulas 4(2,6) 79(51,6) 59(38,6) 4(2,6) 7(4,6) Temposdeaula
pordia
1tempo 2tempos 3tempos 4tempos 5tempos 82(53,3) 68(44,2) 1(0,6) 2(1,3) 1(0,6) Ajudaaoutras
disciplinas
Ajudamuito Ajuda Ajudapouco Nãoajuda Atrapalha 82(53,6) 64(41,8) 2(1,3) 4(2,6) 1(0,7) Deveseropcional Concordo
totalmente
Concordo Nãoconcordo nemdiscordo
Discordo Discordo totalmente 1(0,6) 11(7,2) 12(7,8) 55(35,7) 75(48,7) ImportânciadaEF Muito
importante
Importante Necessária Pouco importante
Desnecessária
108(70,1) 35(22,7) 11(7,2) -
Tabela4 Currículovividodaeducac¸ãofísica
Item Incidêncian(%)
Níveldeparticipac¸ãodosalunos nasaulasdeeducac¸ãofísica
Muitoalto Alto Normal Baixo Muitobaixo 63(40,9) 54(35,1) 30(19,5) 6(3,9) 1(0,6) Níveldeparticipac¸ãodosalunos
nasaulasemsala
Muitoalto Alto Normal Baixo Muitobaixo 16(10,4) 32(20,9) 71(46,5) 27(17,6) 7(4,6) Retidadosalunosdasaulasde
educac¸ãofísicacomoestratégia dedisciplina
Muitoimportante Importante Necessária Poucoimportante Desnecessária 15(9,7) 14(9,1) 60(40,0) 14(9,1) 51(33,1)
Fonte:Osprópriosautores.
Importante’’e 22,7% para ‘‘importante’’,o que confirma osdadosdastabelasanterioressobrealegitimidadesocial daEF.
Natabela 4 existemquestões sobrea participac¸ão dos alunosnasaulas deEFe nosdemais espac¸osetempos do cotidianoescolar.Constatamosque 40,9%dos pesquisados acreditam que a participac¸ão dos alunos nas aulas de EF é‘‘muitoalta’’ede35,1%como ‘‘alta’’.Valores diferen-tessãoencontradosquandoaperguntaestárelacionadaà participac¸ão dos alunos em suas aulas, chegam a apenas 10,4%e20,9%,respectivamente.
Aquestãorelacionadaàopiniãodosprofessoressobrea retiradados alunos das aulasde EF como estratégiapara discipliná-losmostra umimpasseentreasopiniões:42,2% dos pesquisados não concordam com esse procedimento, 40%acreditam ser necessário e 18,8% avaliamessa tática comoimportante.
Discussão
Apresentaremosaquiumadiscussãodosresultadoslistados anteriormente.Abordaremososseguintestemas:operfildos professores,apercepc¸ãosobreosobjetivosefinalidadesda EF,acargahoráriadadisciplinaearelac¸ãodosalunoscom asaulas.
Perfildosprofessores
Podemosperceberqueasmulheressãomaioriaàfrentedas turmas,oquerefletearealidadebrasileira.Nocensofeito emnoanode2003peloInstitutoNacionaldeEstudose Pes-quisa (Inep)foi feito umlevantamento sobre o perfil dos professoresdaeducac¸ãobásicaemtodososestados brasi-leiroseseconstatouasuperioridadefeminina(85%).Esses dadossãoapoiados pelos daUnesco(2004), que apontam para a predominância das mulheres no cenário educacio-nalbrasileiro,com ocorrênciade81,3% docorpo docente nacional.
Portanto, observamos que a presenc¸a delas é superior emdiversossetores dacomunidadeescolar. André(2002), ao analisar teses e dissertac¸ões cujo tema central era a formac¸ão dos professores, revelou que a participac¸ão femininanocenárioeducacionaléfrutodeumaconstruc¸ão históricaculturalmarcadapeloestereótiposobreamulher no mercado de trabalho. Dentre os possíveis fatores, as diferenc¸as salariais entre homens e mulheres, o pequeno
espac¸o no mercado de trabalho e a ideia de vocac¸ão feminina para docência aparecem como principais causas dessahegemonia.
Percepc¸ãosobreobjetivosefinalidadesda educac¸ãofísica
Observa-seumapercepc¸ãodaEFvoltadaparaarecreac¸ão (79,5%) e formac¸ão deatletas(74,6%). Percebemos então quetaisideiasaindapermanecemfortementeinseridasno contextoescolar,vistoquediferentespesquisasrelatamque arecreac¸ãoéoconteúdomaisusadopelosprofessores poli-valentes responsáveis por ministrar aulas de EF (Pereira etal.,2009;SilvaFilhoePereira,2012).
A formac¸ão de atletas é uma característica que ainda estámuitoassociadaàEFescolardevidoàinfluência espor-tivista na área. Millen Neto et al. (2011) apontam que o esporte dealto rendimentoaindaé absorvidocomo iden-tidadeemalgumasescolas.Vistoqueosucessodasequipes em competic¸õesesportivaseravalorizadoemgrandes jor-nais e revistas das Secretarias Municipais de Educac¸ão, o quepossibilitavaàescolarecebergratificac¸ões administra-tivascomoremunerac¸ãoextraparaseusprofessores.Moura eSoares(2014)analisouumaescolanoRiodeJaneiro con-siderada referência na formac¸ão de talentos esportivos e apontouqueofatodeaescola‘‘descobrir’’atletasagregava importânciaelegitimidadeparaaEFescolar.
Essesdadosrevelamumafaltadeclarezasobreos obje-tivos daEF,pois,ao menosnodiscursoacadêmico, aárea jánãobuscaessasfinalidades.Porém,nãopodemos deposi-tarnospesquisadosaexistênciadessacontradic¸ão,jáque aorigemdetaisvaloresé, em parte,consequência histó-ricadopróprioprocessodeconstruc¸ãodaáreanocontexto escolar. De acordo com Goodson (2008), a elaborac¸ão do currículoéumdesdobramentodainterac¸ãoentreosatores envolvidos,marcadapordisputasdepoder.Sacristan(1998, p.15)destaca ainda:‘‘Quando definimosocurrículo esta-mos descrevendo a concretizac¸ão das func¸ões da própria escolaeaformaparticulardeenfocá-lasnummomento his-tórico esocialdeterminado,paraumníveloumodalidade deeducac¸ão,numatramainstitucionaletc.’’
respeitodosjogosolímpicos,superouoconteúdoatéentão usado, a ginástica (Oliveira, 2006). Com isso, a EF tinha por objetivo principal na escola a formac¸ão de atletas. Durante essa época, a área baseou-se na fisiologia e no treinamento desportivo para a elaborac¸ão de suas aulas, oquereproduziuosesportesdealtorendimentonaescola (ColetivodeAutores,1992;Soares,1996).
Noentanto,apartirdofimdécadade1970,surgem dife-rentesformasdesepensaraEF(Darido,2003).Taisideias tinhamcomosemelhanc¸aatentativadesuperaromodelo atéentãousado,poiseravistocomoumreprodutordo sis-temacapitalista,baseadonaexclusão,opressãoealienac¸ão dasociedade(Moura,2012).
Com o atual modelo duramente combatido pelo movi-mento crítico, os autores dessa nova corrente buscaram legitimar as aulas por meio do valor pedagógico sob o discurso da formac¸ão integral do aluno (Soares, 1996). Entretanto,viu-secomopassardomovimentocríticouma dificuldadederedefinirasfinalidadesdaEF,jáquea maio-riadaspropostasdesconsideravasuaespecificidade(Soares, 1996;Moura,2012).
Caberessaltar queaindanãosechegouaumconsenso sobreo(s)novo(s)objetivo(s)daárea,fazem-senecessários maisdebates a respeito (González e Fensterseifer, 2010). Logo,afaltadeespecificidadeproporcionapormeiodo cur-rículo vividoa reproduc¸ão deentendimentos equivocados acercadaEF.
Portanto, acreditamos que a existência do dilema da formac¸ãodeatletaspelosprofessorespersistepordois prin-cipaisfatores:o contatodiretocomoperíodoesportivista daárea,jáque68%dospesquisadostêmmaisde35anos,e apossívelausênciadeumaconscientizac¸ãodonovocampo deconhecimentodaEF,consequênciadopoucocontatocom umapráticamaisatuale/ouodesentendimentodaáreano contextoescolar.
As demais finalidades (recreac¸ão, desenvolvimento motor, promoc¸ão da saúde, formac¸ão de valores e alfabetizac¸ão)presentesnatabela2surgemduranteo movi-mentocríticoebuscamtrazerumnovoobjetivoparaaárea. Essemovimentofoisignificativo,poisdepositounaárea uma importância pedagógica (Soares, 1996) e surgiu a percepc¸ãodenominada aquicomoalfabetizac¸ão.O desen-volvimentomotorsereforc¸anofimdadécadade1980com aabordagemdesenvolvimentista.Oobjetivoéoensinodo movimentopormeiodaspráticasdashabilidadesmotoras. Asaulas,nessecontexto,sãoplanejadascombasenonível de desenvolvimento motor de cada faixa etária (Darido, 2003).Portanto,écomasabordagensdapsicomotricidade eadesenvolvimentistaqueseconstróiapercepc¸ãodeuma EFvoltadaparaodesenvolvimentomotordosalunos.
Aformac¸ãodevaloreséumobjetivoquesempreesteve presentenocontexto escolar,porémnocampodaEFessa finalidadeganhaforc¸aapartirdomovimentocrítico.Apesar deomovimentoterinícionodecorrerdadécadade1980, suaprincipalobra surgeem 1992com ocoletivo de auto-res.Seusdebatessobrevaloresqueestavamrelacionadosàs questõespolíticascomointuitodedifundirosensocrítico dosalunos(Darido,2003).
Defato,apropostadesenvolvidaporessaabordageméde sumaimportânciaparaaformac¸ãodosalunos.Entretanto, porserumafinalidadegeral daeducac¸ão,setorna inade-quadoatribuircomoprioridadedaEFtalobjetivo,poisnão
levaemconsiderac¸ãooensinodomovimento,sua especifi-cidadenocontextoescolar(Moura,2012).
Aúltimafinalidade presentena tabela 2(promoc¸ão da saúde)teveiníciodurante o períodoginástico daárea no decorrerdoséculoXIX.Nessaépoca,aginásticafoiinserida naescolasobosprincípiosmilitaresemédicos.Asaulasde ginásticabuscavamelevarasaúdedapopulac¸ãoemelhorar seushábitosalimentaresehigiênicos(Brasil,1997).
Proposta semelhante surge na década de 1990 com a abordagem‘‘saúderenovada’’. Agorao discursoéusar as aulasdeEFparapromoc¸ãodasaúde,conscientizarosalunos sobreaimportânciadeumestilodevidasaudável(Darido, 2003).Tais períodos, mesmo que distintos,talvez tenham contribuídoparainfluenciararespostadospesquisadosno entendimentodeEFvoltadaparaformac¸ãodasaúde.
ParaGoodson(2008),duranteaelaborac¸ãodocurrículo entra em cena um complexo jogo de interesses no qual asvivênciasdesfrutadaspelosatoresenvolvidossão funda-mentaispara definir os rumos dedeterminada disciplina. Portanto, a existência da reproduc¸ão dos dilemas deba-tidos acima (formac¸ão de atletas e recreac¸ão) além das percepc¸õesquevãoemdirec¸ãocontráriaàproduc¸ão acadê-micadaEF,podeocasionaralterac¸õesnaformadeentender essadisciplinanocurrículoecontestarsualegitimidade.
Pensandoaindasobredilemadarecreac¸ão,podemos per-ceberquenamedidaemqueaaulaéentendidaapenascomo ummomentodelazer,apresenc¸adeprofessoresdeEFse tornadesnecessária,pode,adisciplina,serministradapelos demaisdocentes.Taispercepc¸õespodemreforc¸aredarvoz àsintervenc¸ões curriculares que busquem colocar profes-sores polivalentes para ensinar esse conteúdo, conforme determinaoartigo31daResoluc¸ãon◦ 7/2010CNE/MEC.
Portanto,observamoscomatabela2quecoexistemnas respostas dos professores concepc¸ões mais atuais acerca da EF (desenvolvimento motor, formac¸ão de valores e promoc¸ãodasaúde)eareproduc¸ãodosdilemas(recreac¸ão, formac¸ãodeatletasealfabetizac¸ão)queinterferem nega-tivamente na construc¸ão curricular da área. Esses dados revelamadificuldadedosprofissionaisdedelimitarocampo daEFeaimportânciadeconscientizac¸ãodosdocentesa res-peitodaárea,afimdealcanc¸arumamaiorlegitimidadeno contextoescolar.
Umpontoimportanteaserrefletidoéqueapresenc¸ade professoresespecialistasparecenãoinfluenciarapercepc¸ão dosprofessorespolivalentes.Issoporque,comocitado ante-riormente,observamos queascontradic¸õeslevantadas no presenteartigo são semelhantes em escolas que não dis-põemdeprofessoresdeEF(FerrazeMacedo,2001;Pereira etal.,2009;SilvaFilhoePereira,2012).
Assim,podemosconsiderarahipótesedeque‘‘aatuac¸ão dosprofissionaisdeEF,emsuapráticapedagógica,fazcom queadisciplinafiquecaracterizadanasociedade,poruma ideologiadominantedecorrentedeumimaginário,marcado porideiascontraditóriasouincoerentesentreodiscursoea práticaquantoaoseuvalorcomodisciplinacurriculardentro dasescolas’’(Beresfordetal.,2002,p.109).
Cargahoráriadadisciplinanocurrículoescolar
Verificamoscomatabela 3queexisteumadivergência na percepc¸ão dos professores sobrea carga horáriada área. Seporumladoamaioriadospesquisadosacreditaqueesse númerodeaulasésuficiente(51,6%),háumpercentual ele-vado (45,8%) que indica a necessidade de aumentar esse número.
Assimcomoacargahoráriasemanal,onúmerodeaulas por dia também provoca um conflito entre os docentes. Novamenteexiste asuperioridade nasrespostas nasquais umtempode aula pordia é satisfatório para adisciplina (53,3%),acompanhadadeumexpressivopercentualafavor deumaumentoparadoistemposdiários(44,2%).
Comoocurrículo vividoéfruto dainterac¸ão socialdos indivíduoseconstantementeinteragenaconstruc¸ãodo cur-rículoprescrito(Goodson,2008),acreditamosqueo percen-tualimportantedeprofessoresqueapresentaumaresposta nosentidodeaumentar acargahorária daEF sedeveao entendimento, como apresentado na tabela 2, de que a EFéumadisciplinacommúltiplasatribuic¸ões,mostrauma valorizac¸ãodepositadasobreaáreanocontextoescolar.
Acreditamos que, nesse caso, a presenc¸a de professo-resespecialistaspodeterinfluêncianessesresultados,posto queemescolasquenãodispõemdessesprofessoresasaulas deEF,quandosãoministradas,nãoacontecemdeforma sis-tematizada/organizada,ficaoprofessorpolivalentecoma liberdade dedefinir o número de aulaspor semana, bem comosuadurac¸ão(SilvaFilhoePereira,2012;Pereiraetal., 2009).
ConfirmamoscertalegitimidadedaEF aoconstatarque 84,4% dos professores não concordam com a mudanc¸a da áreapara umadisciplina opcional.Isso mostraque apesar da dificuldade de caracterizar os objetivos da EF, há um consensoentreosdocentes(92,8%),mesmoemníveis dife-rentes,deque aáreaéfundamentalparaaformac¸ãodos alunos. Entretanto,tais resultados podem implicitamente revelarumacontrafuncionalidadeatribuídapelosdocentes àEF,poisduranteasaulasdesseconteúdocurricularos pro-fessoresdassériesiniciaisdesfrutamdeum‘‘tempolivre’’. Com isso, ao aumentar a carga horária das aulas, conse-quentementeo númerode‘‘tempos livres’’será maior,o quemostraumusocontrafuncionaldadisciplina.
CaberessaltarqueaEF conseguiusualegitimidadepor meiodaLeideDiretrizeseBasesdaEducac¸ãoNacionaln◦
9.394/96 (Brasil, 1996), porém ainda persistiu a ânsiade obterumalegitimidadeentreosatoresdacomunidade esco-lar. Vemos que, com relac¸ão aos professores do 1◦ ao 5◦
anodoensinofundamental,essalegitimidadefoialcanc¸ada. Porém,ficouclaronosdiscursosanterioresanecessidadede conscientizac¸ão dos docentes a respeito dos objetivos da área.
Por fim, perguntamos aos pesquisados se a EF ajuda a aprender outras disciplinas. Verificamos que 95,4% dos professoresacreditamna possibilidadedeaprendizadodas demaisdisciplinaspormeiodaEF.
Diversas tentativas para conceituar a interdisciplinari-dade surgiramnodecorrer dasdécadas. Entretanto, cabe ressaltarquequalquerdefinic¸ãoquebusquehomogeneizar, delimitareouenquadrarconceitualmentea interdisciplina-ridadedeveserdescartadaporessaseconstruirdemaneira disciplinar,unirreferencial(Thiesen,2007).
Háumconsensoentreosdiversosautoresdequea inter-disciplinaridade surge como estratégia para possibilitar o diálogoentreasdisciplinas, favorece a construc¸ão deum conhecimento multidimensional e multirreferencial, per-mite umavisão maisabrangente ao saberespecífico para umsabermaispróximodarealidade(Thiesen,2007).
Devemos aquifazer um alerta acercadesse resultado. Ofatorpositivodetaisresultadoscorrespondeao entendi-mento dos professores sobre as capacidadesde trabalhar a interdisciplinaridade nas aulas de EF, revela um ganho delegitimidade.Entretanto,essesdadospodem,poroutro lado, indicar a percepc¸ão dos docentes de que a área é apenasumaponteparaoaprendizadodasdemais discipli-nas,negligenciarsuaespecificidade,comojáconstatadoem outras pesquisas (Figueiredo et al., 2008; Ferreira e Tor-res,2013).
Relac¸ãodosalunoscomasaulas
Naanálisedatabela4,ficaclarooentendimentodequeaEF éadisciplinacommaiorparticipac¸ãodosalunoseque apre-sentaumaatribuic¸ãodecontrafuncionalidadessobreaárea nocontextoescolar.Sabemosquecompararaparticipac¸ão dosalunosemdiferentesdisciplinaséumatarefanomínimo complexa,devidoàssingularidadesdecadaárea,como con-teúdoselocaisdeaula.
Talargumentoficaclaroaoseverificarnatabela4que 76%dosprofessores acreditamqueaparticipac¸ãodos alu-nosemEFéacimadonormaleapenas31,3%considerama existênciadissoemsuasaulas.
Essa percepc¸ão observada pelos professores nos pro-voca duas reflexões. De fato, o resultado obtido reforc¸a alegitimidade daEF.Contudo,pareceressaltartambéma compreensãode que ela é apenasum momentode lazer, como discutidoanteriormente, pois58,8% dosprofessores usamaparticipac¸ãonessasaulascomoestratégiapara dis-ciplinarosalunos.
Apesardeobrigatóriaporlei,Soaresetal.(2010) obser-vamqueaparticipac¸ãonasaulasdeEFestá condicionada aogostodosalunos.Noentanto,hápesquisasquerevelam a presenc¸ada áreaentreasdisciplinas de queos discen-tesmaisgostam(Lovisolo,1995).Acreditamosqueaouniro gostoelevadodosalunoscomadificuldadedecaracterizar asaulasdeEFenfatiza-seoentendimento recreativo pre-sentenocurrículovividodaárea,leva-seosdocentesavetar a participac¸ão dos alunos considerados‘‘indisciplinados’’. Ouso daEF comomoeda detrocaparadisciplinar os alu-nos,alémdeprejudicarseudesenvolvimentointegral,pode influenciarnegativamenteaconcepc¸ãodosdocentes,assim como a deoutrosatores, arespeito dessadisciplina e de seusobjetivosescolares.
Considerac
¸ões
finais
Isso mostra o paradoxo existente no currículo vivido da EF.
Verificamosumapercepc¸ãodaEFcomoestratégiapara disciplinarosalunos. Seporumladoessecomportamento retrataumaideiaequivocadadesseconteúdocurricular,por outromostracomoocurrículovividolegitimacertasac¸ões e constrói significados sobre ela. Nesse sentido, é neces-sáriocriartensõesquebusquemconstruirnovasformasde entenderaEFnaescola.
Constatamosque,apesardadificuldadede caracterizá--la, a presenc¸a de docentes especialistas pode ter influenciadoemumavalorizac¸ãodosprofessores polivalen-tessobreaárea.Observamosumexpressivopercentualde professorespolivalentesafavordoaumentodacargahorária dadisciplina,diferentementedasescolasquenãodispõem deprofessoresespecialistas.
Outro aspectodevalor apresentado defendea tese de queadisciplinadevecontinuarcomo obrigatóriano currí-culoescolar,mostra-sefundamentalparaodesenvolvimento do aluno. Entretanto, tais níveis de valor podem revelar contrafuncionalidades presentes nocontexto escolar,uma vez queessas valorizac¸õespodemapontaro interesseem alongarseutempolivre.
Portanto, é necessário valorizar os avanc¸os na forma comoosprofessorespolivalentescompreendemadisciplina EF,principalmentereconhecersuacontribuic¸ãonaformac¸ão dosalunos. Por outrolado,aindahá dificuldadesde reco-nhecer quais seriam essascontribuic¸ões. Essasconclusões ilustram a necessidade de intensificarmos o debate sobre a prática pedagógica dos professores especialistas para construc¸ãodeconsensoscadavezmaissólidosqueculminem comumalegitimac¸ãodaintervenc¸ãonaescola.
Conflitos
de
interesse
Osautoresdeclaramnãohaverconflitosdeinteresse.
Referências
AndréM.(Org).Formac¸ãodeprofessoresnoBrasil,1990-1998. Bra-sília:MEC/INEP/Comped,2002.
Becker H. Métodosde pesquisa em ciênciassociais. 2a. ed.São
Paulo:Hucitec;1994.
BeresfordH,FonsecaMM,CodeaJSMT,CodeaALBT.Umavisãosobre ovalordaEFcurricular,apartirdeperspectivasimagináriase ideológicas.RevPaulEducFís2002;16:100---12.
BrachtV.EFeaprendizagemsocial.PortoAlegre:Magister;1992.
Brasil,Lei n.9.394, de20de dezembrode 1996. Estabeleceas DiretrizeseBasesda educac¸ãonacional. Legislac¸ão,Brasília, DF:1996.
Brasil,Lein.10.328,de12dedezembrode2001. DiárioOficial, Brasília,13dez.2001.
Brasil.SecretariadeEducac¸ãoFundamental.Parâmetros Curricula-resNacionais:EF/SecretariadeEducac¸ãoFundamental.Brasília: MEC/SEF;1997.
Brasil. Centro Nacional de Educac¸ão, Câmara de Educac¸ão Básica.Parecer07/2010.DiretrizesCurricularesNacionaispara Educac¸ãoBásica.BrasíliaCNE/CEB,2010.
ColetivodeAutores.MetodologiadoensinodaEF.SãoPaulo:Cortez; 1992.
DaridoSC.EFnaescola:questõesereflexões.RiodeJaneiro: Gua-nabaraKoogan;2003.
FerrazOL,MacedoL.EFnaeducac¸ãoinfantildomunicípiodesão paulo:diagnósticoerepresentac¸ãocurricularemprofessores. RevPaulEducFís2001;15:63---82.
FerreiraHS,TorresAL.EFnaeducac¸ãoinfantilenoensino funda-mentalnapercepc¸ãodepedagogos:umestudodecaso.RevFSA 2013;10:183---94.
FigueiredoZC,etal.EFserprofessoreprofissãodocenteem ques-tão.PensaraPrática2008;11:209---18.
GonzálezFJ,FensterseiferPE.Entreonãomaiseoaindanão: Pen-sandosaídasdonãolugardaEFescolarII.CadernosdeFormac¸ão RBCE2010;1:10---21.
GoodsonIF.Currículo:teoriaehistória.Petrópolis:Vozes;2008.
LovisoloH.Aartedamediac¸ão.RiodeJaneiro:Sprint;1995.
MartinsGA.Estatísticageraleaplicada.3a.ed.SãoPaulo:Atlas;
2005.
MillenNetoAR,FerreiraAC,SoaresAJG.Políticasdeesporte esco-lar ea construc¸ãosocial docurrículode EF. Motriz 2011;17: 416---23.
Moura DL.Cultura eEFescolar: dateoria à prática. São Paulo: Phorte;2012.
MouraDL,SoaresAJG.CulturaeEF:umaanáliseetnográficadeduas propostaspedagógicas.Movimento2014;20:687---709.
OliveiraMAT.(Org).Educac¸ãodocorponaescolabrasileira. Campi-nas,SP:AutoresAssociados,2006.
PereiraRS,Nista-PiccoloVL, SantosSAP.AEFnassériesdafase inicial doensinofundamental:olhardoprofessor polivalente. RevistadaEF/UEM2009;20:343---52.
SacristanJG.Ocurrículo:umareflexãosobreaprática.Porto Ale-gre:ArtMed;1998.
SilvaFilhoMF,PereiraRS.EFeprofessorespolivalentes:ocasodas escolaspúblicasmunicipaisdeVárzeaGrande.Revista Macken-ziedeEFeEsporte2012;11:161---87.
SoaresCL.EFescolar:conhecimentoeespecificidade.RevPaulEduc Fís1996(Supl.2):6---12.
SoaresAJG,FerreiraAC,MouraDL,BartholoTL,SilvaMC.Tempo eespac¸oparaaeducac¸ãocorporalnocotidianodeumaescola pública.Movimento2010;16:71---96.
SouzaJuniorM,SantiagoE,TavaresM.Currículoesaberes esco-lares:ambigüidades,dúvidaseconflitos.ProPosic¸ões2011;22: 183---96.
Thiesen JS. A interdisciplinaridade como um movimento de articulac¸ão no processo ensino-aprendizagem. PerCursos 2007;8:87---102.