REVISTA
BRASILEIRA
DE
ANESTESIOLOGIA
PublicaçãoOficialdaSociedadeBrasileiradeAnestesiologiawww.sba.com.br
ARTIGO
CIENTÍFICO
Existe
correlac
¸ão
entre
o
volume
ultrassonográfico
da
glândula
tireóide
e
intubac
¸ão
difícil?
Um
estudo
observacional
夽
Basak
Ceyda
Meco
a,∗,
Zekeriyya
Alanoglu
a,
Ali
Abbas
Yilmaz
a,
Cumhur
Basaran
a,
Neslihan
Alkis
a,
Seher
Demirer
be
Handan
Cuhruk
aaDepartamentodeAnestesiologiaeTratamentoIntensivo,FaculdadedeMedicina,UniversidadedeAncara,Ancara,Turquia
bDepartamentodeCirurgiaGeral,FaculdadedeMedicina,UniversidadedeAncara,Ancara,Turquia
Recebidoem15demaiode2014;aceitoem17dejunhode2014 DisponívelnaInternetem24defevereirode2015
PALAVRAS-CHAVE
Ultrassonografia; Manejodasvias aéreas;
Glândulatireóide
Resumo
Justificativaeobjetivos: A avaliac¸ão ultrassonográfica pré-operatória da glândula tireóide
feitaporcirurgiõespodepreverdesafiosnomanejodasviasaéreas.Oobjetivodesteestudo
observacionalfoi avaliarosefeitos deparâmetros relacionadosàtireóideinvestigados
pré--operatoriamenteporcirurgiõesmedianteultrassonografiaeradiografiadetóraxemcondic¸ões
deintubac¸ão.
Métodos: Foraminscritos50pacientessubmetidosàcirurgiadetireóide.Distância
tireomen-toniana(DTM),escoredeMallampati, circunferênciadopescoc¸oeamplitudedemovimento
dopescoc¸oforamavaliadosantesdaoperac¸ão.Volumedatireóide,sinaisdeinvasãoou
com-pressãoedesviodatraqueianaradiografiadetóraxtambémforamregistrados.Ascondic¸ões
deintubac¸ãoforamavaliadascomoescoredeCormackeLehane(CL)eaescaladeintubac¸ão
difícil(EID).AnálisesestatísticasforamfeitascomosoftwareSPSS15.0.
Resultados: Amédiadovolumedatireóidedospacientesfoide26,38±14mL.Amedianada
EIDfoide1(0-2).DTM(p=0,011;r=0,36,IC95%0,582-0,088);escoredeMallampati(p=0,041;
r=0,29,IC95%013-0,526);sinaisdecompressãoouinvasão(p=0,041;r=0,28;IC95%
0,006-0,521)e desviodatraqueia naradiografia detórax(p=0,041;r=0,52, IC 95%0,268-0,702)
foramcorrelacionadoscomaEID. Ospacientesforamclassificadosem doisgrupos também
relacionadosàEID (GrupoI,n=19:EID=0; Grupo II,n=31: 1<EID ≤5)e ospreditivos de
intubac¸ãodifícileosparâmetrosdatireóiderelacionadosforamcomparados.Apenasoescore
deMallampatifoisignificativamentediferenteentreosgrupos(p=0,025).
夽 Esteestudofoiapresentadono44◦CongressoNacionaldeAnestesiologiaeReanimac¸ãodaAssociac¸ãoTurca,Tark2010,Antalya,Turquia. ∗Autorparacorrespondência.
E-mail:basakceyda@hotmail.com(B.C.Meco).
http://dx.doi.org/10.1016/j.bjan.2014.06.006
Conclusão:Ovolumedatireóidenãoestáassociadoàintubac¸ãodifícil.Contudo,osparâmetros
deavaliac¸ãoclínicapodempreverintubac¸ãodifícil.
©2014SociedadeBrasileira deAnestesiologia.PublicadoporElsevierEditoraLtda.Todosos
direitosreservados.
KEYWORDS
Ultrasonography; Airwaymanagement; Thyroidgland
Doesultrasonographicvolumeofthethyroidglandcorrelatewithdifficultintubation? Anobservationalstudy
Abstract
Backgroundandobjectives: Preoperativeultrasonographicevaluationofthethyroidglanddone
bysurgeonscouldletusforeseeairwaymanagementchallenges.Theaimofthisobservational
study was toevaluatethe effectsofthyroid-relatedparametersassessedpreoperatively by
surgeonsviaultrasonographyandchestX-rayonintubationconditions.
Methods:Fiftypatientsundergoingthyroidsurgerywereenrolled.Thyromentaldistance,
Mal-lampati score,neckcircumferenceandrangeofneckmovementwereevaluatedbeforethe
operation. Thyroidvolume,signsofinvasionorcompressionandtrachealdeviationonchest
X-raywerealsonoted.TheintubationconditionswereassessedwithCormackandLehanescore
andtheintubationdifficultyscale.StatisticalanalysesweredonewithSPSS15.0software.
Results:Themeanthyroidvolumeofthepatientswas26.38±14mL.Themedianintubation
difficultyscalewas1(0-2).Thyromentaldistance(p=0.011;r=0.36;95%CI0.582-0.088),
Mal-lampatiscore(p=0.041;r=0.29;95%CI0.013-0.526),compressionorinvasionsigns(p=0.041;
r=0.28;95%CI0.006-0.521)andtrachealdeviationonchestX-ray(p=0.041;r=0.52;95%CI
0.268-0.702)werecorrelatedwithintubationdifficultyscale.Alsopatientswereclassifiedinto
two groups related to their intubation difficultyscale (Group I,n=19: intubationdifficulty
scale=0; Group II, n=31: 1<intubation difficulty scale≤5) and difficult intubation
predic-torsandthyroid-relatedparameterswerecompared.OnlyMallampatiscorewassignificantly
differentbetweengroups(p=0.025).
Conclusion: Thethyroidvolume isnotassociatedwith difficultintubation. Howeverclinical
assessmentparametersmaypredictdifficultintubation.
© 2014SociedadeBrasileirade Anestesiologia.Publishedby ElsevierEditoraLtda.Allrights
reserved.
Introduc
¸ão
O manejo das vias aéreas é uma das preocupac¸ões mais importantesna saladecirurgia, nãoapenaspara os anes-tesiologistas, mastambémparaoscirurgiõesem cirurgias próximas às vias aéreas, porque uma intubac¸ão malsuce-didaestáassociadaamorbidadeemortalidade.Aavaliac¸ão pré-operatória das vias aéreas com parâmetros objetivos por médicos é essencial em todosos casos.A cirurgia de tireóide é um procedimento cirúrgico comum da região do pescoc¸o e o aumento da glândula tireóide pode ser um fator de risco no manejo da via aérea difícil.1
Con-tudo, o exame físico de rotina não consegue prever o
tamanho real da glândula tireóide aumentada. Por outro
lado, o ultrassom fornece uma estimativa relativamente
maisprecisa dotamanhoda tireóide;assim,os pacientes
que serão submetidos à tireoidectomia são quase sempre
examinados pré-operatoriamente por ultrassonografia da
tireóidee radiografia detórax porseus respectivos
cirur-giões.Dessaforma,nomomentodaavaliac¸ãopré-operatória
para a cirurgia de tireóide, os resultados desses exames
estarãodisponíveis paraquasetodos ospacientes.Diante
disso,alguns dadosconcretos obtidosdessasinvestigac¸ões
pré-operatórias tambémpoderiamser usados pelaequipe
médica interdisciplinar para o cálculo pré-operatório do
riscodeviaaéreadifícilnessegrupodepacientes.
Como o volume ultrassonográfico da glândula tireóide
aumentadoeseuimpactonomanejodasviasaéreasainda
nãoforamverdadeiramenteavaliados,oobjetivoprimário
desteestudofoi avaliaro impactodovolumedaglândula
tireóideestimadoporultrassomnascondic¸õesdeintubac¸ão
endotraqueal.Oobjetivosecundáriofoicorrelacionaresses
parâmetroscomindicadoresclássicoscomoaclassificac¸ão
deMallampati,distânciatireomentoniana(DTM),
circunfe-rênciadopescoc¸oeosmovimentosparapreverintubac¸ão
endotraquealdifícil.
Métodos
Apósaaprovac¸ãodoComitêdeÉticaem Pesquisada
Uni-versidadeeapósobteroconsentimentoinformadoassinado
decadapaciente,50pacientesconsecutivas,estadofísico
ASAI-II,submetidasàtireoidectomiaforamincluídasneste
estudo.Aspacientescomhistóriadeintubac¸ãodifícil,índice
demassacorporalsuperiora35ecommalformac¸ãodasvias
infe-riora18esuperiora75anosforamexcluídasdoestudo.A
avaliac¸ãopré-operatóriadasviasaéreas, queconsistiu em
DTM (> 70mm ou < 70mm), classificac¸ão de Mallampati,
escore de Cormack e Lehane (CL), amplitude de
movi-mento do pescoc¸o (> 80◦
ou < 80◦
) e circunferência do
pescoc¸o(>43cmou<43cm)foifeitaporum
anestesiolo-gistaassistente.Ovolumedatireóide,ossinaisdeinvasão
ou compressão e o desvio de traqueia em radiografia de
tórax foram registrados. Detecc¸ão de disfonia, alterac¸ão
na qualidade da voz, dispneia, estridor, rouquidão e/ou
tosseduranteaavaliac¸ão pré-operatóriaforam
considera-dos como sinais de invasão ou compressão. O volume da
tireóidefoicalculadopormensurac¸ãoultrassonográfica.O
volumede cada lobotireoidiano foi calculado com a
fór-mulaelipsoide(altura×largura×profundidade×0,524)eo
volumetotaldatireóidefoiobtidocomoasomadedoislobos
tireoidianos.2 Oexame direto dasradiografias dopescoc¸o
e tórax também foi feito para avaliar o desvio traqueal,
definidocomo desviode1cmdatraqueiadalinhamédia.
Alémdisso,odiagnósticohistopatológicodecadapaciente
foiregistradocomodoenc¸amalignaoubenigna.
Todas as pacientes foram pré-medicadas com
0,01mg.kg---1 de midazolam intravenoso (IV). O
monitora-mentoconsistiuempressãoarterialnãoinvasiva,oximetria
depulso,eletrocardiogramaedióxidodecarbonoexpirado.
Dexcetoprofeno trometamol (50mg IV) foi administrado
parador no pós-operatório. A anestesia foi induzida com
lidocaína (1mg.kg---1) e propofol (3mg.kg---1). A intubac¸ão
traqueal foi facilitada com a administrac¸ão de rocurônio
IV (0,6mg.kg---1). A pacientes foram intubadas 90segundos
apósaadministrac¸ãoderocurônioporumanestesiologista,
como usode umlaringoscópio Macintosh(lâmina 3ou4)
e a visibilidade da laringe foi avaliada de acordo com o
sistema de classificac¸ão pelo Escore de Cormack-Lehane
(ECL)definidocomo:grau 1=visualizac¸ãototaldaspregas
vocais; grau 2=visualizac¸ão da porc¸ão inferior da glote;
grau 3=visualizac¸ão apenas da epiglote; grau 4=epiglote
nãovisualizada.3A avaliac¸ão deintubac¸ãodifícilfoi feita
comousodaescaladeintubac¸ãodifícil(EID).Essaescala
temsetecritériosassociadosàintubac¸ãodifícil:1)número
de tentativas de intubac¸ão; 2) número de operadores;
3)númerodetécnicasopcionais;4)graudeCormack-Lehane
menos1;5)forc¸adeelevac¸ãonecessáriaparafazera
larin-goscopia;6)necessidadedepressionaralaringe;7)posic¸ão
das pregas vocais. Um escore igual a0indica intubac¸ão
fácil,de1a5indicaumaintubac¸ãomoderadamentedifícil
eacimade5indicaumaintubac¸ãodemoderadaagrande
dificuldade.4 O tempo de intubac¸ão (intervalo de tempo
entre o primeiro contato do laringoscópio e a intubac¸ão
endotraquealbem-sucedidaeinsuflac¸ãodomanguito)
tam-bémfoiregistrado.Alémdisso,onúmerodetentativasde
intubac¸ãofoiregistrado.Apósaintubac¸ãotraqueal,o
posi-cionamentocorreto do tubo endotraqueal foi confirmado
pelaausculta de ambos os hemitórax. Aconcentrac¸ão de
sevofluranoqueseajustaa1MACcom50%deóxidonitroso
emoxigêniofoiusadaparaamanutenc¸ãodaanestesia.
A tireoidectomia foi feita com as pacientes em
decú-bitodorsal, comacabec¸aligeiramenteemhiperextensão.
Os efeitos colaterais relacionados à intubac¸ão, como
sangramento, dorde gargantaourouquidão, foram
avali-adosapósaextubac¸ãoeregistrados.
Umaanálisedopoderfoifeitaantesdoiníciodoestudo.
Osresultados do estudo anteriorconduzido porAmathieu
etal. foramusadospara calcularo númeronecessáriode
pacientes deste estudo para encontrar uma correlac¸ão
estatisticamentesignificativaentreoaumentodaglândula
tireóide e o escore da EID.1 De acordo com o cálculo,
50 pacientes eram necessários para calcular a correlac¸ão
entre o volume da glândula tireóide e o escore da EID.
As análises estatísticas foramfeitas com o software SPSS
15.0 (SPSSInc.,Chicago,IL, EUA).Osdadosdemográficos
e ospreditivos deintubac¸ão difícilforamexpressos como
média±DP e pelo número de pacientes. As análises de
correlac¸ão da EID com os preditivos de intubac¸ão difícil
(DTM,escoredeMallampati,sinaisdecompressãoou
inva-são,desviotraquealemradiografiadetórax,mobilidadedo
pescoc¸oecircunferênciadopescoc¸o),volumedaglândula
tireóideediagnósticoforamfeitaspormeiodacorrelac¸ão
de Pearson. Osresultadosda análisede correlac¸ão foram
expressoscomor(coeficientedecorrelac¸ão)evalorpcom
o intervalo de confianc¸a. A populac¸ão de pacientes foi
alocadaemdoisgruposdeacordocomovalordaEID(Grupo
In=19; EID=0e Grupo II n=31;1<EID≤5).Preditivos de
intubac¸ãodifícil,númerodetentativasdeintubac¸ão,tempo
deintubac¸ãoepresenc¸adesinaisdecompressãoforam
adi-cionalmenteanalisadoscomotestetdeStudent,testeUde
Mann-Whitneyeotestedoqui-quadrado,quandoindicado,
eexpressoscomomédia±DP,medianae quartisenúmero
depacientes.Umvalorp<0,05foiaceitocomosignificativo.
Resultados
Osdadosdemográficosecirúrgicosdaspacientesestão
apre-sentados na tabela 1. O volume médio da tireóide das
pacientes foi de 26,38±14mL. Osnúmeros de pacientes
com preditivosde intubac¸ão difícil(distância
tireomento-niana < 7cm, escore de Mallampati III-IV, movimento do
pescoc¸o<80◦
oucircunferênciadopescoc¸o>43cm)estão
apresentadosnatabela2.Seisde50pacientesapresentaram
sinais decompressão ouinvasãoe seisapresentaram
des-viotraquealemradiografiadetórax.Emquatropacientes,
Tabela1 Dadosdemográficosecirúrgicos
Idade(anos) 47±9
Altura(cm) 162±6
Peso(kg) 78±13
Tempodeanestesia(min) 143.8±33
Tempocirúrgico(min) 134±36
Diagnóstico(maligno/benigno)(n) 6/44
Dadosexpressosemmédia±DPouvaloresnuméricos.
Tabela2 Preditivosdeintubac¸ãodifícil
Variáveis Númerodepacientes
MallampatiIII-IV 7
Mobilidadedopescoc¸o<80 26
Circunferênciadopescoc¸o>43cm 11
Distânciatireomentoniana<7cm 1
Tabela3 Análisedacorrelac¸ãoentreEIDepreditivos de intubac¸ãodifícil
Variáveis Valorp Valorr IC95%
Distância
tireomentoniana <7cm
0,011 0,36 0,582-0,088
MallampatiIII-IV 0,041 0,29 0,013-0,526
Sinaisde
compressãoou
invasão
0,041 0,28 0,006-0,521
Desviotraqueal
emradiografia
detórax
0,041 0,52 0,268-0,702
Diagnóstico
(maligno/benigno)
0,28 0,15
---Mobilidadedo
pescoc¸o<80
0,25 0,17
---Circunferênciado
pescoc¸o>43cm
0,21 0,18
---Volumeda
glândula tireóide
0,85 0,03
---IC,intervalodeconfianc¸a;EID,escaladeintubac¸ãodifícil.
esses achados foram concomitantes. Todas as pacientes foramintubadasnaprimeiratentativa,semdificuldade sig-nificativa. A mediana daEID foi de1 (0-2)e a incidência globaldeintubac¸ãodifícil,definidacomoEID>5,foide0%. Dasintubac¸ões, 38%(n=19),foramfeitas semdificuldade (EID=0),enquanto62%(n=31)apresentarampequena difi-culdade(1<EID≤5)etrêspacientesapresentaramEID=5. As medianas e os quartis do escore de Cormack-Lehane foramde2(1-2).Amedianadetentativadeintubac¸ãofoide 1(1-1)edotempodeintubac¸ãofoide85(48-98)segundos. As análises de correlac¸ão da EID com os preditivos de intubac¸ãodifícileovolumedatireóideestãoapresentadas natabela3.Alémdisso,nãohouvecorrelac¸ãosignificativa
entreEIDeefeitoscolateraisnopós-operatório,como
rou-quidãoedordegargantaemrepousoeaodeglutir.
As pacientes foram classificadas em dois grupos de
acordocom seusescoresnaEID (GrupoI:EID=0; GrupoII:
1<EID≤5).Osdadosdemográficosforamsemelhantesentre
osgrupos.Ospreditivosderotinaparaintubac¸ãodifícileos
parâmetrosrelacionadosàtireóideforamcomparadosentre
essesgrupos eescoredeMallampatifoisignificativamente
diferenteentreosgrupos(tabela4).
Discussão
Osresultados primários deste estudo mostraram que não
houvecorrelac¸ãoentreaEIDeosparâmetrosrelacionados
àtireóide,comovolumeemalignidade,masaEIDfoi
cor-relacionadacomdesviodatraqueia,sinaisdecompressãoe
preditivoshabituaisdeintubac¸ãodifícil,comoDTMeescore
deMallampati.Osresultadossecundáriosforamadiferenc¸a
entreosgruposemrelac¸ãoàEIDeaoescoredeMallampati.
Amathieu et al., com um desenho de estudo muito
semelhantesemo cálculo ultrassonográfico dovolume da
glândulatireóide, relataram que a presenc¸a deum bócio
oudeformidadesdasviasaéreas associadasabócio,
sinto-mascompressivosouposic¸ãoendotorácicanãofoiassociada
à intubac¸ão difícil.1 Em contraste com esses resultados,
emnossoestudoasdeformidadestraqueaisrelacionadasà
glândulatireóideeossinaisdecompressãoforam
correla-cionadoscom o escorede intubac¸ão. Aglândula tireóide,
quandoaumentada,podeexercerumapressãosobrea
tra-queia e os tecidos adjacentes e pode desviar a traqueia
ecausar algunssinais decompressão. Essasalterac¸ões na
anatomia tecidual podem tornar mais difícil e diminuir
a qualidade da intubac¸ão. Em concordância com o nosso
estudo,Voyagisetal.relataramqueoaumentodatireóide
foiacompanhadoporumadeformidadedasviasaéreasque
seapresentoucomofatoragravanteparaintubac¸ãodifícil.5
Em outro estudo, Bouaggad et al. relataram que em
320 pacientes submetidos à tireoidectomia a dificuldade
deintubac¸ãofoiaumentadasomenteemcasosdedoenc¸as
malignasdatireóide.6O mecanismoparaintubac¸ão difícil
éexplicadocomoumestágioavanc¸adodadoenc¸aqueleva
àinvasãotraquealeinfiltrac¸ãotecidual.Emnossoestudo,
a presenc¸a de carcinoma da tireóide não foi relacionada
aoaumentodadificuldadedeintubac¸ão.Essadiscrepância
Tabela4 Comparac¸ãodospreditivoseexpressõesparaintubac¸ãodifícilentreosgrupos
Variáveis EID=0(n=19) 1<EID≤5(n=31) p
Distânciatireomentoniana<7cm 0 1 NS
EscoreMallampati 1,5±0,6 2±0,6 0,025
MallampatiIII-IV 1 6 NS
EscoreCormach-Lehane 1(1-1) 2(1-4) <0,001
Mobilidadedopescoc¸o<80 8 16 NS
Circunferênciadopescoc¸o>43cm 2 9 NS
Diagnóstico(maligno/benigno) 0/19 6/25 NS
Volumedaglândulatireóide 27,20±12,21 25,74±16,77 NS
Sinaisdecompressão 2 4 NS
Desviotraquealemradiografiadetórax 1 5 NS
Númerodetentativasdeintubac¸ão 1(1-1) 1(1-5) 0,026
Tempodeintubac¸ão 81,93±34,55 80,21±38,74 NS
podeserexplicadapelotempodediagnóstico.Todasas nos-saspacientescomneoplasiaforamdiagnosticadasnoestágio inicialdadoenc¸a.
Emnossogrupodeestudo,apenasseispacientes apresen-taramsinais deinvasãoecompressão eseisapresentaram desviotraqueal em radiografiade tórax.Em quatro paci-entes, esses achados foram concomitantes; logo, oito pacientes os apresentaram. Curiosamente, o diagnóstico de todas as pacientes com sinais de compressão e des-viotraquealfoibenigno.Tambémnessegrupodeestudoo volumedaglândulatireóidefoide20,21±13mLnogrupo maligno e de 27,70±15 no grupo benigno. Embora não significativo estatisticamente, as pacientes com doenc¸as benignasapresentaramumaglândulatireóidemaior,oque podeexplicar aincidência desinaisdecompressão e des-vio de traqueia. Além disso, Bouaggad et al. mediram o tamanhoda glândula tireóide em milímetros ao longo da principallinharetadaglândulaenãoencontraramqualquer correlac¸ãoentreotamanhodatireóideeintubac¸ãodifícil.6
Essamensurac¸ãotemcorrelac¸ãocomnossosresultados
rela-cionadosàsmensurac¸õesvolumétricasdetireóide.
Sekere Tasavaliaram251voluntáriossaudáveise
defi-nirama médiado volumeda tireóidedapopulac¸ão turca
como 13±6,27mL.7 Erbil et al., em uma populac¸ão
de 402 pacientes, também relataram que o volume da
tireóide em pacientes com carcinoma de tireóide foi
de 38±18mL e em pacientes com doenc¸as benignas de
73,3±48mL.8Amédiadovolumedatireóidedonossogrupo
de estudo foi de 26,38±14mL, o que é maiordo que o
volumedapopulac¸ãosaudável,masaindamenordoqueos
resultadosdeErbil.Essesachadospodemexplicarofatode
queessevolumenãotevequalquerefeitosobreascondic¸ões
deintubac¸ãoemnossoestudo.Umaglândulatireóidemaior
poderiatertidoalgumefeitodiferentesobreascondic¸ões
deintubac¸ão.
Aanálise dos fatorespreditivoshabituais deintubac¸ão
difícilrevelouqueaDTMeoescoredeMallampati(usados
commaisfrequência)apresentaramcorrelac¸ãocomaEID,
masque a circunferência e a motilidade dopescoc¸o não
apresentaram.Essesresultadosestão,emparte,deacordo
comosresultadosdeAmathieu etal., queafirmaramque
ospreditivospré-operatóriosnormaisparaintubac¸ãodifícil,
comoaberturadaboca,escoredeMallampati,DTMe
mobi-lidadedopescoc¸o,foramparâmetrosconfiáveistambémem
pacientessubmetidosàcirurgiadetireóide.1
Além disso, ao alocar os pacientes em dois grupos de
acordocom a EID, houve apenas umadiferenc¸a
significa-tivaentreo escore de Mallampati, que é semelhante aos
resultadosanterioresdoestudo.
Considerandoquenenhumadaspacientes desteestudo
apresentou intubac¸ão difícil, é complicado correlacionar
parâmetros relacionados à tireóide com a intubac¸ão
difí-cil.Emboraissopossaparecerumalimitac¸ãodesteestudo,
na verdade reflete que em nossa prática clínica diária
e populac¸ão de pacientes os parâmetros relacionados à
tireóide não aumentam realmente o risco de intubac¸ão
difícilemnossoservic¸o.Contudo,umasériemaiorde
paci-entesprovavelmenteénecessáriaparachegaraconclusões
maisabrangentes,especialmentecomgruposmais
específi-cos(doenc¸amalignaougrandemassatireoidiana).Emtais
ocasiões,osresultadosdatireóideemultrassome
radiogra-fia detóraxsolicitadas nopré-operatório podemfornecer
informac¸ões valiosas ao anestesiologista para fazer uma
melhoranálisedorisco.
Ovolumedaglânduladatireóidenãoestácorrelacionado
comoescoredeintubac¸ãodifícil.Comoossinaisdedesvio
datraqueiaemradiografiadetóraxeossinaisdecompressão
ouinvasãorepresentamumacorrelac¸ão moderadacomos
escoresdaEID, cuidadosespeciais devemserdedicados a
pacientescomdesviodatraqueiaesinaisdecompressão.
Conflitos
de
interesse
Osautoresdeclaramnãohaverconflitosdeinteresse.
Referências
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