SOCIEDADE BRASILEIRA DE ORTOPEDIA E TRAUMATOLOGIA
w w w . r b o . o r g . b r
Artigo
Original
Versão
brasileira
do
Constant-Murley
Score
(CMS-BR):
validade
convergente
e
de
constructo,
consistência
interna
e
unidimensionalidade
夽
Rodrigo
Py
Gonc¸alves
Barreto
a,∗,
Marcus
Levi
Lopes
Barbosa
b,
Marcos
Alencar
Abaide
Balbinotti
c,
Fernando
Carlos
Mothes
d,
Luís
Henrique
Telles
da
Rosa
ae
Marcelo
Faria
Silva
aaUniversidadeFederaldeCiênciasdaSaúdedePortoAlegre(UFCSPA),ProgramadePós-Graduac¸ãoemCiênciasdaReabilitac¸ão,
PortoAlegre,RS,Brasil
bUniversidadeFeevale,NovoHamburgo,RS,Brasil
cQuebecUniversityatTrois-Rivières,Trois-Rivières,Canadá
dIrmandadeSantaCasadeMisericórdiadePortoAlegre(ISCMPA),GrupodeCirurgiadoOmbro,PortoAlegre,RS,Brasil
informações
sobre
o
artigo
Históricodoartigo:
Recebidoem26desetembrode2015 Aceitoem10denovembrode2015
On-lineem5demaiode2016
Palavras-chave:
Clinimetria Avaliac¸ão Análisefatorial Validade Ombro
r
e
s
u
m
o
Objetivos:Traduzire adaptarculturalmente oConstant-MurleyScore(CMS)e verificara validadedaversãobrasileira(CMS-BR).
Métodos:Atraduc¸ãofoirealizadadeacordocomométododeretrotraduc¸ãoporquatro tra-dutoresindependentes.Asversõesproduzidasforamsintetizadasporanáliseextensivae consensodeumcomitêdeespecialistas,gerandoumaversãofinalusadaparaaadaptac¸ão cultural.Realizou-se umtesteemcampo com30 sujeitosparaobservac¸ãodepossíveis considerac¸õesemrelac¸ãoàsemântica.Paraaposterioranálisepsicométrica,ampliou-se aamostrapara110participantes,queresponderamadoisinstrumentos:CMS-BRe Disa-bilitiesoftheArm,ShoulderandHand(DASH).OCMS-BReoDASHpossuemvariac¸ãode0a 100pontos.Paraoprimeiro,altaspontuac¸õesrefletemmelhorfunc¸ão,paraosegundo,o con-trário.Avalidadefoiverificadaatravésdotestedecorrelac¸ãodePearson,adimensionalidade atravésdeanálisefatorialeaconsistênciainternaatravésdoalfadeCronbach.
Resultados: Avariânciaexplicadafoide60,28%comcargasfatoriaisentre0,60e0,91.O CMS--BRdemonstroucorrelac¸ãoforteenegativacomoDASH(-0,82,p<0,05),alfadeCronbachde 0,85eseuescoretotaltevecorrelac¸ãofortecomaamplitudedemovimentodospacientes (0,93,p<0,001).
Conclusão:OCMS-BRfoiadaptadodeformasatisfatóriaedemonstrouevidênciasdevalidade quepermitemseuusonessapopulac¸ão.
©2016SociedadeBrasileiradeOrtopediaeTraumatologia.PublicadoporElsevierEditora Ltda.Este ´eumartigoOpenAccesssobumalicenc¸aCCBY-NC-ND(http:// creativecommons.org/licenses/by-nc-nd/4.0/).
夽
TrabalhodesenvolvidonaUniversidadeFederaldeCiênciasdaSaúdedePortoAlegre(UFSCPA),PortoAlegre,RS,Brasil.
∗ Autorparacorrespondência.
E-mail:rodrigopyy@gmail.com(R.P.Barreto).
http://dx.doi.org/10.1016/j.rbo.2015.11.008
The
Brazilian
version
of
the
Constant-Murley
Score
(CMS-BR):
convergent
and
construct
validity,
internal
consistency,
and
unidimensionality
Keywords:
Clinimetrics Assessment Factoranalysis Validity Shoulder
a
b
s
t
r
a
c
t
Objectives: TotranslateandculturallyadapttheCMSandassessthevalidityoftheBrazilian version(CMS-BR).
Methods: Thetranslationwascarriedoutaccordingtotheback-translationmethodbyfour independenttranslators.Theproducedversionsweresynthesizedthroughextensive analy-sisandbyconsensusofanexpertcommittee,reachingafinalversionusedforthecultural adaptation.Afieldtestwasconductedwith30subjectsinordertoobtainsemantic consi-derations.Forthepsychometricanalyzes,thesamplewasincreasedto110participants whoansweredtwoinstruments:CMS-BRandtheDisabilitiesoftheArm, shoulderand Hand(DASH).TheCMS-BRandDASHscorerangefrom0to100points.Forthefirst,higher pointsreflectbetterfunctionandforthelatter,theinverseistrue.Thevaliditywasverified byPearson’scorrelationtest,theunidimensionalitybyfactorialanalysis,andtheinternal consistencybyCronbach’salpha.
Results: Theexplainedvariancewas60.28%withfactorloadingsrangingfrom0.60to0.91. TheCMS-BRexhibitedstrongnegativecorrelationwiththeDASHscore(−0.82,p<0.05), Cronbach’salpha0.85,anditstotalscorewasstronglycorrelatedwiththepatient’srange ofmotion(0.93,p<0.001).
Conclusion: TheCMSwassatisfactorilyadaptedforBrazilianPortugueseanddemonstrated evidenceofvaliditythatallowsitsuseinthispopulation.
©2016SociedadeBrasileiradeOrtopediaeTraumatologia.PublishedbyElsevierEditora Ltda.ThisisanopenaccessarticleundertheCCBY-NC-NDlicense(http:// creativecommons.org/licenses/by-nc-nd/4.0/).
Introduc¸ão
Adordoombroapresentaumaprevalênciaexpressivaem con-sultascommédicosgeneralistasoucirurgiõesortopédicos.1,2
Essespacientes muitasvezes apresentamdiversas queixas, taiscomodéficitdemobilidadeedor,3queafetamdiretamente
afunc¸ãodomembrosuperior.Parafazerumaavaliac¸ãoclínica maisabrangentepossível,opacientedeveseravaliadocom instrumentosquepermitammensurarsuafunc¸ão.Afunc¸ão éumconstructo,umavariávellatentequenãopodeser dire-tamenteobservada.Dessaforma,ousodeescalasfuncionais éaopc¸ãoadequadaparaessamensurac¸ão.4,5
Existem aproximadamente 34 escalas de avaliac¸ão da func¸ãodoombro,masaescaladeConstant-Murley (Constant--Murley Score [CMS]), originalmente publicada na língua inglesa,éumadasmaisutilizadas.4,6,7OCMSéumaescala
nãoespecífica quecobredomíniosdiferentes dafunc¸ão do ombro (dor, atividades da vida diária, amplitude de movi-mentoepotência),naqualescoresmaisaltossãoindicativos demelhorfunc¸ão.6–8Essequestionárioéumaescalacomposta
porquatrosubescalas:trêssubescalasautorreportadaseuma subescaladeforc¸adeelevac¸ãodoombro,queéexecutadapor umavaliadorexterno.8Anomenclaturadasubescala
“potên-cia” contida naversão original doCMS foi posteriormente modificadapara“forc¸a” eaposic¸ãodetestefoimodificada paraaelevac¸ãonoplanoescapular.9
Ousoapropriadodeuminstrumentodaavaliac¸ãoenvolve acorretaverificac¸ãodesuavalidade.10,11Asevidênciasde
vali-dadecaracterizamarelac¸ãoentreositensdaescalaeentre ositenseoescoretotal.Elastambémindicamaextensãona
qualoinstrumentoexplicaoconstructoavaliado.Esse pro-cessoassegura umarepresentac¸ãoadequadadoconstructo medidopelaescalafuncional.12,13
As propriedades psicométricas da versão original do CMS, tais como confiabilidade, efeitos de piso e teto, vali-dadeconvergenteedecritério,foramverificadas.Apesarda investigac¸ãoabrangentedavalidadedaescala,suaestrutura dimensional foi investigada antes da adaptac¸ão da subes-caladeforc¸aeaanálisefatorialevidenciouqueaescalanão era unidimensional.14 Essas característicaspodem afetara
interpretac¸ãodamedic¸ãodoconstructo.5,12,15
Ousodeuminstrumentodeavaliac¸ãoemoutracultura ou idiomadeve serprecedido porum processo apropriado detraduc¸ãoeadaptac¸ãocultural.Alémdisso,asevidências devalidadedevemserapropriadamenteverificadasnaversão adaptada.Atualmente,existeapenasumaversão traduzida e adaptadadoCMS, emdinamarquês.16,17 Não existeuma
versãodoCMSemportuguêsbrasileiro.Portanto,oobjetivo desteestudofoitraduzir,adaptarculturalmenteeverificara validadeconvergenteedoconstructo,consistênciainternae dimensionalidadedaversãoadaptada.
Métodos
O processo da traduc¸ão foi executado segundo o método de retrotraduc¸ão10,11 e seguindo os princípiosdo checklist
COSMINparaasseguraraqualidademetodológicadaanálise psicométrica.18
Asrecomendac¸õespublicadasporConstantetal.9 foram
dinamômetro. No presente estudo, para avaliar a subes-calaforc¸a,usou-seodinamômetro isométricoMicroFET2TM
(Hoggan Health Industries, EUA) com uma sensibilidade de 0,05kg (0,1libra) e capacidade máxima até 136,05kg (300libras).
Traduc¸ãoeadaptac¸ãocultural
Oprocessodatraduc¸ãoocorreuemquatroetapas:traduc¸ão, retrotraduc¸ão,análisedaversãopreliminaretestedecampo. Inicialmente,dois tradutores especialistaseindependentes cujalínguamaternaéoportuguêsbrasileiroforneceramduas versõestraduzidasdoCMSoriginal.Essasversõesforam uni-ficadasemumconsensoentreosautoresdopresenteestudo etradutores.
Posteriormente,aversãotraduzidaunificadafoi retrotra-duzidapordoistradutoresespecialistaseindependentescuja línguamaternaéoinglês.Ostradutoresnãotiveramacesso aoCMSoriginal.Essasversõesforamunificadas consensual-mentepelosautoresdopresenteestudo.Opassoseguintefoi acriac¸ãodeumaversãototalmenteadaptadaculturalmente, quelevasseemcontatodasasversõesexistentesobtidasnos passos anteriorespormeio de umareunião de umcomitê multidisciplinar.Finalmente,paracoletarconsiderac¸õesem relac¸ãoàsemântica,aversãoemportuguêsbrasileirodoCMS (CMS-BR)foiaplicadaemumaamostrade30indivíduoscom característicassemelhantesàquelesdoestudoprincipal.
Participantes
Osparticipantesforamselecionadosemclínicasprivadasde Porto Alegree NovoHamburgo,Brasil. Esteestudo recebeu aaprovac¸ãodoComitê deÉtica emPesquisada instituic¸ão proponente(número992-12)etodososparticipantes assina-ramumtermodeconsentimentolivreeesclarecidoantesda inclusãonoestudo.
Foram incluídos 110 pacientes (55 do sexo masculino) acima de 18 anos, com qualquer diagnóstico clínico de disfunc¸ão no ombro (exceto instabilidade) e que fossem capazesde ler eresponder aoquestionário. Pacientes com deficiênciascognitivas,lesãoneuralperiféricaoucentralou com diagnóstico de disfunc¸ão nervosa foram excluídos. A idademédiadosindivíduosincluídosfoi48,50anos(DP:15,13) evariouentre18e83anos.
Análiseestatística
Umaanálisedescritivadetodasasvariáveisfoirealizada.Os dadoscategóricosforamexpressoscomofrequências absolu-tasourelativaseasvariáveisquantitativas,comomédiase desviospadrão.
Análiseclinimétrica
As evidências de validade foram analisadas por meio das seguintesafirmac¸ões:5,12,18,19
Paraaconsistênciainterna,otestealfadeCronbach consi-derouvalores>0,80comoideais.20,21Avalidadeconvergente
foiverificadapormeiodacorrelac¸ãodePearsonentreos esco-restotaisdoCMS-BRedaversãobrasileiradoDisabilitiesofthe
Arm,ShoulderandHandscore(DASH),22adotaram-sevaloresde
r≥0,70ep≤0,05parasatisfazeressacondic¸ão.12,18Avalidade
doconstructofoiverificadapelotestedecorrelac¸ãode Pear-sonentreaamplitudedemovimentodetodosossujeitoseo escorefinaldoCMS-BR.Ahipóteseapriorieraqueumestado funcionalpiorestariaassociadoaumamenoramplitudede movimentonoombroavaliado.5
UmavezqueoCMS-BRpressupõeaavaliac¸ãodesomente umconstructo(func¸ãodoombro)equeaextrac¸ãodeumfator foiindicada comoamelhorsoluc¸ãopelográficoscreeplote pelavariânciatotalexplicada(eigenvalue),umaanálise fato-rial exploratória com análise de componentes principais e extrac¸ãodeumúnicofatorfoiexecutadaparaverificara estru-turadimensional.Porfim,essa análiseconsideroualgumas suposic¸õesetestesrelacionadosantesdasuarealizac¸ão:15,19
• coeficientedeKaiser-Meyer-Olkin(KMO)deveser>0,70; • determinante domatrizde correlac¸ãonão deveserzero,
masumvalormuitopróximodezero;
• testedeesfericidadedeBarlettdeveterump≤0,05; • valordecomunalidadedeveser≥0,4.23,24
Resultados
A lista de condic¸ões clínicas de todos os pacientes incluí-dos foram listadas na tabela 1. O CMS-BR foi obtido por meiodeumprocessodetraduc¸ãoadequadodeacordocom recomendac¸ões da literatura. Apenas uma modificac¸ão foi feitanasubescaladeatividadesdavidadiáriaparamelhorar acompreensãodoCMS-BR.Especificamente,naúltima per-gunta,sobreoníveldeelevac¸ãodobrac¸osemdor,aexpressão “atéoxifoide”foisubstituídapor“aoníveldocorac¸ão”,como podeserobservadonoApêndice1.
Quantoàconsistênciainterna,umacorrelac¸ãode mode-radaàfortefoiobservadaemcadacorrelac¸ãoitem-total.O escoreCMS-BRmédiofoide49,69(DP:28,12)eoalfade Cron-bachfoide0,85.Oalfanãoaumentousignificativamentecom a exclusão hipotéticade nenhum item, oque confirmoua
Tabela1–Listadeenfermidades
Enfermidades Frequência
absoluta
Frequência relativa
OAAC 4 3,64%
OAGH 1 0,91%
Capsuliteadesiva 15 13,64%
SIS 26 23,64%
Fraturaproximaldoúmero 9 8,18%
LAC 2 1,82%
RMR 22 20,00%
Bursectomia+acromioplastia 2 1,82% Reparodomanguitorotador 16 14,55%
Tendinitecalcária 3 2,73%
Liberac¸ãodonervosupraescapular 1 0,91%
Saudáveis 9 8,18%
Total 110 100%
Tabela2–Estatísticasitem-total
Item Min Max Média(DP) Correlac¸ãoitem-total Alfaquandooiteméexcluído
Dor 0 15 8,46(4,37) 0,49 0,84
Sono 0 2 0,88(0,73) 0,63 0,85
Trabalho 0 4 2,56(1,42) 0,57 0,85
Lazer 0 4 2,26(1,45) 0,61 0,84
Níveldeelevac¸ão 2 10 5,98(2,84) 0,80 0,82
Flexa˜o 0 10 5,24(3,50) 0,83 0,81
Abduc¸a˜o 0 10 4,91(3,36) 0,86 0,81
Rotac¸a˜oexterna 0 10 5,53(3,81) 0,74 0,82
Rotac¸a˜ointerna 0 10 5,55(3,61) 0,69 0,82
Forc¸a 0 35 8,32(10,04) 0,75 0,88
AlfadeCronbachrecomendado:≥0,80.DP,desvio-padrão.
Tabela3–Comunalidadeecargasfatoriaisdositens
Item Comunalidade Cargafatorial
Abduc¸a˜o 0,83 0,91
Flexa˜o 0,80 0,89
Níveldeelevac¸ão 0,74 0,86
Forc¸a 0,65 0,80
Rotac¸a˜oexterna 0,65 0,80
Rotac¸a˜ointerna 0,57 0,75
Lazer 0,49 0,70
Sono 0,47 0,68
Trabalho 0,44 0,66
Dor 0,36 0,60
Valordecomunalidaderecomendado:≥0,40.
organizac¸ãodositensdaescala.Alémdisso,nãoforam obser-vadosefeitosdepisoeteto,queacontecemquandomaisde 15%dosavaliadosobtêmosescoresmaisaltosoumaisbaixos possíveis(tabela2)
O CMS-BR e a versão brasileira do DASH apresentaram umaforte correlac¸ão negativa eestatisticamente significa-tiva(r=−0,82,p≤0,001).Adirec¸ãodessaassociac¸ãosedeve
aofato de que, no DASH,um escoremaisalto indica pior func¸ão do ombro, ao contrário do CMS-BR. Além disso, o CMS-BR e a amplitude de movimento dos participan-tesmostraram-sefortementerelacionados(r=0,93,p≤0,001),
o que confirmou a hipótese a priori de que um estado funcional pior está associado a uma menor amplitude de movimento.
AestruturadimensionaldoCMS-BRfoitestadapelaanálise fatorialexploratóriacomanálisedecomponentesprincipais, utilizandocomosoluc¸ãoaextrac¸ãodeumúnicofator.Todos os pressupostos para a realizac¸ão do teste foram cumpri-dos.A variac¸ão explicada pelaextrac¸ão de umúnicofator foide60,28%.Ascomunalidadesvariaramde0,36(dor)a0,83 (tabela3).
Discussão
Estefoioprimeiroestudoatraduzireadaptarculturalmente o CMS parao português brasileiro.A versão preliminar do CMS-BRfoiextensivamenteanalisadapormédicos, residen-tesdetraumaortopédico,fisioterapeutas,umaenfermeirae
umestatístico,emumtotaldenoveprofissionaiscom dife-rentesformac¸õesefoiaplicadaem30pacientes.Alémdisso, evidênciasimportantesdavalidadeforamtestadasno CMS--BR, taiscomoconsistênciainterna,validadeconvergentee estruturadimensional.
A análise demonstrou que o CMS-BR apresentou uma alta consistência interna (alfa de Cronbach=0,85). O alfa nãoaumentousignificativamentecomaexclusãohipotética de algum item, o que confirma a organizac¸ão de itens daescala.Curiosamente,aconsistênciainternadoCMS ori-ginal variou entre0,60 e0,75.25,26 Umarevisão sistemática
sugeriu que os valores de alfa baixos podem indicar que os itens doCMS medem aspectosdiferentes da func¸ão do ombro.27Atéomomento,nãohádadosobjetivospara
expli-carasdestacadasdiferenc¸asobservadasnosvaloresdealfa entreoCMSeoCMS-BR.Contudo,asmodificac¸õespropostas em20089poderiamdesempenharumpapelnessadiferenc¸a.
Alémdisso,umacorrelac¸ãomoderadaafortefoiobservada emcadacorrelac¸ãoitem-total(tabela2).
Quantoàvalidadeconvergente,oCMS-BRdemonstrouuma forte correlac¸ão negativa(r=−0,82, p≤0,001) com a versão
brasileiradaescalaDASH,emboraoCMStenhaapresentado umacorrelac¸ãobaixaàmoderadacomoDASH.27Avalidadede
constructofoiconfirmadapormeiodafortecorrelac¸ão, esta-tisticamentesignificativa(r=0,93,p≤0,001),entreoescoreda
CMS-BReaamplitudedemovimento.Ahipóteselevantada pelosautoresparecesercompletamenteadequada,umavez queaamplitudedemovimentoéumacaracterística impor-tantedaarticulac¸ãodoombroefrequentementeprejudicada namaioria dasdisfunc¸ões dessaregião.Aversão dinamar-quesadoCMStambémdemonstrouumacorrelac¸ãofortecom oOxfordShoulderScore(r=0,76).Apesardosvalores semelhan-tes encontrados emambas as versões adaptadas, o nosso escoredereferênciafoioDASHbrasileiro,amplamenteusado emdiversaslesõesdoombro,enquantooOxfordShoulderScore
émaisapropriadoparaavaliarpopulac¸õescirúrgicasefraturas doúmeroproximal.6,28
AanálisefatorialdaCMS-BRevidenciouque60,28%da vari-ânciafoiexplicadapelasoluc¸ãodeumfator.Issoassegurou queoCMS-BRcumpriuocritériodeunidimensionalidade.15
Emrelac¸ãoaoCMSoriginal,aanálisefatorialcomumasoluc¸ão dedoisfatoresfoifeitaemapenasumestudo.14Contudo,os
faltadapadronizac¸ãoobservadaprincipalmentenas subes-calas de forc¸a e dor poderiajustificar essas discrepâncias naestrutura dimensional. Umprocesso deimplementac¸ão padronizadofoiadotadoparaarealizac¸ãodopresenteestudo, alémdasrecomendac¸õesacimamencionadas.
OutraspropriedadespsicométricasdoCMSoriginalforam publicadas. Os efeitos de piso e teto foram analisados na subescala de forc¸a e um considerável efeito de piso foi observado.29Muitospacientesforamincapazesdemanter-se
naposic¸ãoadequadaparaaavaliac¸ãodaforc¸ae,dessaforma, receberamzeropontos.29Issotambémfoiobservadoemoutro
estudoqueavalioupacientescomcapsuliteadesiva.30Embora
asubescaladeforc¸acorrespondaa25%doescoretotal,isso não pareceuinterferir na confiabilidade das subescalas de forc¸aedor.25,31Recentemente,adiferenc¸amínima
significa-tivaparaaescalaoriginalfoiverificadaempacientescomdor subacromial.32
Aindaquealgumaspropriedadesnãotenhamsido anali-sadasnopresenteestudo,oCMS-BRtevequatroimportantes atributosdevalidadetestadoseestáentreasescalas adap-tadas para o português brasileiro com maior número de propriedadespsicométricasavaliadas.Arevisãosistemática feitapor Pugaetal.33 analisouaspropriedades
psicométri-casdetodosasescalasadaptadasparaoportuguêsbrasileiro publicadas até 2011. A informac¸ão de que todos os estu-dos incluídos nessa revisão não analisaram mais de um atributo da validade épreocupante, já que issodificulta o usodessesinstrumentosnapráticaclínicaeempesquisas pelafaltadaverificac¸ãodevalidadedessesinstrumentosde avaliac¸ão.
Por outro lado, as propriedades psicométricas da ver-são brasileira do Penn Shoulder Score foram recentemente verificadas.34Osautoresreportaramumaanáliseabrangente
daspropriedadespsicométricasdesseinstrumento,taiscomo consistênciainterna,errodamedida,validadedeconstructo eefeitosdepisoeteto.Alémdisso,Moseretal.35analisaram
acoerênciainterna,avalidadeconvergenteeaconfiabilidade daversãobrasileiradaescalaAmericanShoulderandElbow Sur-geons (ASES).Foram observados resultados adequados,que respaldaramousodeambosasescalas.
Netoetal.36fizeramatraduc¸ãoeadaptac¸ãoculturaldo
Sim-pleShoulderTestparaoportuguêsbrasileiro(SST-BR).Contudo, algumas questões metodológicas devem ser consideradas. Na análise da versão preliminar, o comitê de especialistas foicompostoporummédicoeseistradutores.Na verdade, as recomendac¸ões atuais sugerem que o comitê de espe-cialistas deva ser composto por profissionais de diversas áreas,para proporcionaramais completaversão adaptada àpopulac¸ão-alvopossível.10,11 Osautorestambém
verifica-ramaestruturadimensionaldoSST-BR.Contudo,umaanálise fatorialexploratóriaeumaanáliseconfirmatóriasubsequente foramexecutadascomumasoluc¸ãodetrêsfatoresem con-trastecomoconceitodemedidaoriginaldaescala.
Opresenteestudotemalgumaslimitac¸ões.A reprodutibili-dade(concordânciaeconfiabilidade),responsividade,mínima alterac¸ão detectável e diferenc¸a mínima significativa não foramverificadas.Entretanto,emprimeirolugaréimportante assegurar que a escala realmente mec¸a o constructo-alvo (func¸ão),paradepoisanalisarasdemaispropriedadesde vali-dade.
Conclusão
A partir dos resultados acimamencionados, evidenciou-se queoCMS-BRfoisatisfatoriamenteadaptadoculturalmente ao português brasileiro. Além disso, o CMS-BR apresentou validadeconvergenteedeconstructo,consistênciainternae estruturadimensionaladequadaspararespaldarseuusona práticaclínicaparaaavaliac¸ãodepacientescomdisfunc¸ões deombro.
Conflitos
de
interesse
Osautoresdeclaramnãohaverconflitosdeinteresse.
Agradecimentos
Gostaríamos de agradeceraos Fisioterapeutas Mestres Gio-vanniFerreiraeCarolineRobinsonpelarevisãodaescritaem inglês.TambémgostaríamosdeagradeceraoFisioterapeuta Carlos Vicente da Silva pelos ajustes artísticos realizados na versão preliminar da escala e ao Dr. Fábio Matsumoto pela ajuda indispensável durante o recrutamento e inclu-sãodospacientes.Porfim,agradecemosaoDr.RogerEmery, umdosautoresoriginaisdaescala,portodoapoioduranteo processodeexecuc¸ãodesseestudo.
Apêndice.
Material
adicional
Materialadicionalparaesteartigonasuaversãoeletrónica estádisponívelemdoi:10.1016/j.rbo.2015.11.008.
r
e
f
e
r
ê
n
c
i
a
s
1.LuimeJJ,KoesBW,HendriksenIJ,BurdorfA,VerhagenAP, MiedemaHS,etal.Prevalenceandincidenceofshoulderpain inthegeneralpopulation;asystematicreview.ScandJ Rheumatol.2004;33(2):73–81.
2.MirandaH,Viikari-JunturaE,HeistaroS,HeliövaaraM, RiihimäkiH.Apopulationstudyondifferencesinthe determinantsofaspecificshoulderdisorderversus nonspecificshoulderpainwithoutclinicalfindings.AmJ Epidemiol.2005;161(9):847–55.
3.CoolsAM,StruyfF,DeMeyK,MaenhoutA,CasteleinB, CagnieB.Rehabilitationofscapulardyskinesis:fromthe officeworkertotheeliteoverheadathlete.BrJSportsMed. 2014;48(8):692–7.
4.KirkleyA,GriffinS,DaintyK.Scoringsystemsforthe functionalassessmentoftheshoulder.Arthroscopy. 2003;19(10):1109–20.
5.TerweeCB,BotSD,deBoerMR,vanderWindtDA,KnolDL, DekkerJ,etal.Qualitycriteriawereproposedfor
measurementpropertiesofhealthstatusquestionnaires.J ClinEpidemiol.2007;60(1):34–42.
6.SlobogeanGP,SlobogeanBL.Measuringshoulderinjury function:commonscalesandchecklists.Injury. 2011;42(3):248–52.
8. ConstantCR,MurleyA.Constantscoreforshoulder evaluation.ClinOrthopRelatRes.1987;(214):160–4.
9. ConstantCR,GerberC,EmeryRJ,SojbjergJO,GohlkeF, BoileauP.AreviewoftheConstantscore:modificationsand guidelinesforitsuse.JShoulderElbowSurg.
2008;17(2):355–61.
10.BeatonDE,BombardierC,GuilleminF,FerrazMB.Guidelines fortheprocessofcross-culturaladaptationofself-report measures.Spine(PhilaPa1976).2000;25(24):
3186–91.
11.GuilleminF,BombardierC,BeatonD.Cross-cultural adaptationofhealth-relatedqualityoflifemeasures: literaturereviewandproposedguidelines.JClinEpidemiol. 1993;46(12):1417–32.
12.CookDA,BeckmanTJ.Currentconceptsinvalidityand reliabilityforpsychometricinstruments:theoryand application.AmJMed.2006;119(2):166.e7–16.
13.BartenJA,PistersMF,HuismanPA,TakkenT,VeenhofC. Measurementpropertiesofpatient-specificinstruments measuringphysicalfunction.JClinEpidemiol.
2012;65(6):590–601.
14.PlaczekJD,LukensSC,BadalanmentiS,RoubalPJ,Freeman DC,WallemanKM,etal.Shoulderoutcomemeasures:a comparisonof6functionaltests.AmJSportsMed. 2004;32(5):1270–7.
15.FloydF.Factoranalysisinthedevelopmentandrefinementof clinicalassessmentinstruments.PsycholAssessment. 1995;7(3):286–99.
16.MoellerAD,ThorsenRR,TorabiTP,BjoerkmanAS, ChristensenEH,MariboT,etal.TheDanishversionofthe modifiedConstant–Murleyshoulderscore:reliability, agreement,andconstructvalidity.JOrthopSportsPhysTher. 2014;44(5):336–40.
17.BanI,TroelsenA,ChristiansenDH,SvendsenSW,
KristensenMT.Standardisedtestprotocol(ConstantScore) forevaluationoffunctionalityinpatientswithshoulder disorders.DanMedJ.2013;60(4):A4608.
18.MokkinkLB,TerweeCB,KnolDL,StratfordPW,AlonsoJ, PatrickDL,etal.TheCOSMINchecklistforevaluatingthe methodologicalqualityofstudiesonmeasurement properties:aclarificationofitscontent.BMCMedRes Methodol.2010;10:22.
19.BrymanA,CramerD.QuantitativedataanalysiswithSPSS 12and13:aguideforsocialscientists.NewYork:Routledge; 2005.
20.CronbachL.Coefficientalphaandtheinternalstructureof tests.Psychometrika.1951;16(3):297–334.
21.CronbachL.Internalconsistencyoftests:analysesoldand new.Psychometrika.1988;53(1):63–70.
22.OrfaleAG,AraujoPM,FerrazMB,NatourJ.Translationinto BrazilianPortuguese,culturaladaptationandevaluationof thereliabilityoftheDisabilitiesoftheArm,Shoulderand HandQuestionnaire.BrazJMedBiolRes.2005;38(2): 293–302.
23.NorrisM,LecavalierL.Evaluatingtheuseofexploratory factoranalysisindevelopmentaldisabilitypsychological research.JAutismDevDisord.2010;40:8–20.
24.HairJF.Multivariatedataanalysis.7thed.UpperSaddleRiver,
NJ:PrenticeHall;2010.
25.LivainT,PichonH,VermeulenJ,VaillantJ,SaragagliaD, PoissonMF,etal.Intra-andinterobserverreproducibilityof theFrenchversionoftheConstant-Murleyshoulder assessmentduringrehabilitationafterrotatorcuffsurgery. RevChirOrthopReparatriceApparMot.2007;93(2):142–9.
26.RazmjouH,BeanA,MacdermidJC,vanOsnabruggeV, TraversN,HoltbyR.Convergentvalidityofthe
Constant-Murleyoutcomemeasureinpatientswithrotator cuffdisease.PhysiotherCan.2008;60(1):72–9.
27.RoyJS,MacDermidJC,WoodhouseLJ.Asystematicreviewof thepsychometricpropertiesoftheConstant-Murleyscore.J ShoulderElbowSurg.2010;19(1):157–64.
28.DawsonJ,FitzpatrickR,CarrA.Questionnaireonthe perceptionsofpatientsaboutshouldersurgery.JBoneJoint SurgBr.1996;78(4):593–600.
29.ChristieA,HagenKB,MowinckelP,DagfinrudH.
Methodologicalpropertiesofsixshoulderdisabilitymeasures inpatientswithrheumaticdiseasesreferredforshoulder surgery.JShoulderElbowSurg.2009;18(1):89–95.
30.OthmanA,TaylorG.Istheconstantscorereliablein
assessingpatientswithfrozenshoulder?60shouldersscored 3yearsaftermanipulationunderanaesthesia.ActaOrthop Scand.2004;75(1):114–6.
31.RocourtMH,RadlingerL,KalbererF,SanaviS,SchmidNS, LeunigM,etal.Evaluationofintratesterandintertester reliabilityoftheConstant-Murleyshoulderassessment.J ShoulderElbowSurg.2008;17(2):364–9.
32.HolmgrenT,ObergB,AdolfssonL,BjornssonHallgrenH, JohanssonK.Minimalimportantchangesinthe
Constant-Murleyscoreinpatientswithsubacromialpain.J ShoulderElbowSurg.2014;23(8):1083–90.
33.PugaVO,LopesAD,CostaLO.Assessmentofcross-cultural adaptationsandmeasurementpropertiesofself-report outcomemeasuresrelevanttoshoulderdisabilityin Portuguese:asystematicreview.RevBrasFisioter. 2012;16(2):85–93.
34.deSouzaMB,MartinsJ,HottaGH,deOliveiraAS.
MeasurementpropertiesoftheBrazilianVersionofthePenn ShoulderScore(PSS-Brazil):reliability,validity,and
responsiveness.JOrthopSportsPhysTher.2015;45(2):137–42.
35.MoserAD,KnautLA,ZotzTG,ScharanKO.Validityand reliabilityofthePortugueseversionoftheAmericanShoulder andElbowSurgeonsStandardizedShoulderAssessment Form.RevBrasReumatol.2012;52(3):348–56.