• Nenhum resultado encontrado

Espaço geográfico e educação: um estudo sobre o lugar do Conselho de Escola

N/A
N/A
Protected

Academic year: 2017

Share "Espaço geográfico e educação: um estudo sobre o lugar do Conselho de Escola"

Copied!
43
0
0

Texto

(1)

Trabalho de Graduação Curso de Graduação em Geografia

ESPAÇO GEOGRÁFRICO E EDUCAÇÃO: Um estudo sobre o lugar do Conselho de Escola

Ivan Acerbi Panssarini

Prof. Dr. Romualdo Dias

(2)

UNIVERSIDADE ESTADUAL PAULISTA

Instituto de Geociências e Ciências Exatas

Câmpus de Rio Claro

IVAN ACERBI PANSSARINI

ESPAÇO GEOGRÁFICO E EDUCAÇÃO: Um estudo sobre o

lugar do Conselho de Escola

Trabalho de Graduação apresentado ao Instituto de Geociências e Ciências Exatas - Câmpus de Rio Claro, da Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho, para obtenção do grau de Bacharel em Geografia.

Rio Claro - SP

(3)
(4)

IVAN ACERBI PANSSARINI

ESPAÇO GEOGRÁFICO E EDUCAÇÃO: Um estudo sobre o

lugar do Conselho de Escola

Trabalho de Graduação apresentado ao Instituto de Geociências e Ciências Exatas - Câmpus de Rio Claro, da Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho, para obtenção do grau de Bacharel em Geografia. Comissão Examinadora

_______________________________________ Prof. Dr. Romualdo Dias

_______________________________________Profª. Drª Bernadete Castro Oliveira

____________________________________ Prof. Dr. Paulo Roberto Teixeira Godoy

Rio Claro, _____ de __________________________ de ________.

(5)
(6)
(7)

Resumo

Apresentamos neste texto os resultados de nossa pesquisa sobre o espaço geográfico e o lugar estabelecendo relações com o Conselho de Escola. Nós consideramos alguns aspectos jurídicos agregados aos elementos recolhidos em nossa experiência para conferir o quanto o Conselho de Escola se constitui enquanto um lugar público não-estatal. Na possibilidade de se configurar com esta característica vemos um significado cuja força está justamente em uma saudável tensão estabelecida entre o Estado e a comunidade. Apresentamos a legislação do Conselho de Escola de Suzano (SP) e alguns aspectos de nossa experiência a partir do exercício do magistério em uma escola de Rio das Pedras (SP). Observamos a natureza do significado jurídico atribuído a este lugar a partir do estudo da legislação, considerando os níveis municipal, regional e federal. Na esfera da Geografia utilizamos os conceitos de Espaço, Lugar, e Cidade, na medida em que são temas caros à referida Ciência. Recorremos ao conceito de “Topofilia” para conferirmos se neste lugar específico ocorre a elaboração de um sentimento de pertencimento do indivíduo, e o quanto ele se desdobra em implicações na dinâmica de funcionamento do referido instrumento de participação popular para a formulação de política públicas educacionais. Discutimos sobre os elementos observados nestas experiências para pensarmos a composição de ambientes de vida no cotidiano urbano.

(8)

Abstract

In this text, the results of our research on the geographic location and establishing relationships with the School Council. We consider some legal aspects added to the evidence gathered in our experience to check how much the School Council is constituted as a non-state public place. The possibility of setting up this feature to see a meaning whose strength lies precisely in a healthy tension between the state and established community. Here is the legislation of the School Council of Suzano (SP) and some aspects of our experience from the practice of teaching at a school in Rio das Pedras (SP). We see the nature of the legal meaning assigned to this place from the study of law, considering the municipal, regional and federal levels. In the sphere of Geography use the concepts of Space, Place and City, as issues that are dear to that science. We used the concept of "Topofilia" to see if this particular place is the development of an individual's sense of belonging, and how it unfolds in the dynamic implications of the operation of this instrument of popular participation in the formulation of public policy education. We discussed the elements observed in these experiments to think about the composition of living environments in urban daily life.

(9)

SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO...01

2 ESPAÇO GEOGRÁFICO E EDUCAÇÃO...10

2.1 Espaço e lugar...10

2.2 A cidade...11

3 ESPAÇO PÚBLICO NÃO ESTATAL - Conselho de Escola como Espaço Público não Estatal...13

4 CONSELHOS DE ESCOLA – O que dizem as leis...14

4.1 Lei da esfera estadual...15

4.2 Lei da esfera federal...16

5 MUNICÍPIO DE RIO DAS PEDRAS – Estudo de caso...17

5.1 Funcionamento da rede de ensino pública municipal de Rio das Pedras...18

6. MUNICÍPIO DE SUZANO ...20

6.1 Lei municipal que disciplina o Conselho de Escola...21

7 ESCOLA DO GOVERNO” x “ESCOLA PÚBLICA” – O pertencimento...23

8 CONSIDERAÇÕES FINAIS...25

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS...26

BIBLIOGRAFIA CONSULTADA...27

ANEXOS...29

ANEXO A...29

(10)

1. INTRODUÇÃO

Nesta pesquisa estudamos as relações entre a dinâmica espacial e a organização dos Conselhos de Escola na experiência de administração municipal de Suzano e na nossa experiência assentada no trânsito cotidiano propiciado pelo magistério exercido em Rio das Pedras, Estado de São Paulo. Nas marcas da experiência observada conferíamos se há emergência de um espaço público não-estatal em meio aos programas de participação popular organizados nas redes de ensino colocadas sob o foco de nossas análises. Partimos da hipótese da existência de possíveis deslocamentos na constituição espacial. Identificaremos as marcas dos deslocamentos de sentidos das relações dos indivíduos com os seus espaços. Estudamos as implicações destes deslocamentos de sentidos tanto na configuração dos espaços quanto na orientação do trabalho de re-invenção da cidade e de seus modos de nela viver.

“Sem polícia, nem a milícia, nem feitiço, cadê poder ?”

A pergunta pelo poder explicitada na poesia, escolhida para compor a epígrafe de nosso trabalho, ganha outra forma para nós: é possível constituir um espaço público não-estatal em meio aos esforços de re-invenção da cidade e da democracia nas experiências atuais de administração popular? As pessoas habitam a cidade e recebem a convocação do poder público local para se envolver em programas de participação com objetivo de auxiliar na administração municipal. Nós tivemos a oportunidade de observar um conjunto de dificuldades para a organização e sustentação deste lugar de participação ao colocarmos o foco sobre a nossa experiência.

(11)

cultura para tocar diretamente nas relações vividas entre as escolas e as comunidades do seu entorno.

A localização de Suzano coloca esta cidade em uma situação de dependência em relação às políticas públicas que são adotadas nos outros municípios. Assim, os índices de desenvolvimento social da região metropolitana, da qual Suzano faz parte, estão em desequilíbrio com o potencial de desenvolvimento econômico desta cidade. Desta forma, com o objetivo de alcançar um possível equilíbrio entre o desenvolvimento econômico e o social, a atual administração municipal organizou programas que favorecem a participação da população de Suzano na discussão de propostas de diversas esferas, como o Plano Diretor Urbano, a Gestão Democrática da Escola, o Plano Pluri-Anual e o Orçamento Participativo. Estas ações estão sendo coordenadas pelo Estado (administração municipal) que busca organizar a comunidade, pretendendo a consolidação de uma cidade que seja pensada e planejada a partir do social.

No município de Suzano, desde 2005, fazendo parte da política educacional da gestão municipal iniciado naquele ano, tem-se buscado uma educação pública de moldes alternativos ao dominante. A maior marca do que vem sendo chamado pelas lideranças políticas locais de uma “nova escola” é que ela funciona com a participação da comunidade envolvida, pais dos alunos, alunos maiores de 18 anos, professores, funcionários, direção, e equipe de apoio. Essas pessoas formam o chamado Conselho de Escola (cada escola tem o seu), cujo qual se constitui um órgão colegiado, deliberativo, decidindo sobre questões político-pedagógicas; sobre o conteúdo a ser ensinado; como ser ensinado; além de assuntos administrativos e financeiros da unidade escolar.

Esse tipo de gestão da escola pretende ser realmente democrático, pois se propõe a trabalhar por meio de relações horizontais (e não de forma hierárquica), com várias opiniões e colaborações, respeitando-as, reconhecendo a todos como sujeitos do processo educativo (sujeitos históricos). O Conselho é o espaço de

realizações, discussões, decisões, onde se abre a possibilidade da participação social na demanda escolar.

(12)

gestão escolar na cidade, criando os Conselhos de Escola. A meta dos Conselhos é disseminar a idéia para outras instâncias, saindo do âmbito escolar/local, e partindo para as esferas municipais, estadual e federal. A escola em seu interior reflete as influencias do meio e é também onde aparecem as contradições existentes na sociedade que a circunda, porém, a escola influencia, e deve, a realidade, e uma atuação coletiva e organizada na escola, no sentido de melhorá-la, proporcionará, por sua vez, transformações na comunidade local, regional, e, pensando otimista, até nacional.

Quando iniciamos a nossa pesquisa nós pretendíamos cartografar a emergência de um espaço público não-estatal no meio urbano é um esforço que está no núcleo de nossa pesquisa. Delimitamos este espaço no município de Suzano, Estado de São Paulo, que desenvolve uma experiência de participação popular na gestão da cidade, através de diversos programas, nas mais variadas áreas, configurando um espaço emergente, este espaço situado entre o Estado e a Comunidade. Tivemos acesso aos diversos documentos produzidos pelo grupo de Suzano. Mas, em seguida, começamos nossa atuação no magistério em Rio das Pedras, e por isso, sentimos necessidade de comparar aquilo que observamos acontecer em Suzano com o que de fato vivemos em nosso cotidiano, já inseridos em uma escola. Nesta pesquisa delimitamos nosso campo de observação sobre esta experiência de organização dos Conselhos de Escola, com a ênfase colocada sobre a organização deste lugar, seus sentidos e seu funcionamento.

Nosso foco de atenção é o espaço geográfico delimitado no contexto dos municípios mencionados, com as suas experiências, em suas relações com os programas de participação popular na gestão municipal Porém, ao assumirmos nossa condição de cartógrafo precisamos exercitar um modo nômade de fazer o trânsito pelo próprio campo de estudo. Este modo nômade implica em suportar a permanência na fronteira entre várias ciências. Não perdemos rigor do estudo situado no campo da Geografia, porém os desafios inerentes à compreensão do convívio no meio urbano atual nos jogam para as fronteiras. Trata-se da realização de um estudo de temas urgentes para sustentar trabalhos eficazes na área do Planejamento Urbano no momento atual.

(13)

cidade subjetiva”. Em primeiro lugar o autor destaca o fato do ser humano contemporâneo ser fundamentalmente desterritorializado.

“O ser humano contemporâneo é fundamentalmente desterritorializado. Com isso quero dizer que seus territórios etológicos originários – corpo, clã, aldeia, culto, corporação... – não estão mais dispostos em um ponto preciso da terra, mas se incrustam, no essencial, em universos incorporais. A subjetividade entrou no reino de um nomadismo generalizado. Os jovens perambulam nos boulevards, com um walkman colado no ouvido,

estão ligados a ritornelos que foram produzidos longe, muito longe de suas terra natais. Aliás, o que poderia significar “suas terras natais”? Certamente não o lugar onde repousam seus ancestrais, onde eles nasceram e onde terão que morrer” Não têm mais ancestrais; surgiram sem saber por que e desaparecerão do mesmo modo! Possuem alguns números informatizados que a eles se fixam e que os mantêm em “prisão domiciliar” numa trajetória sócio-profissional predeterminada, quer seja em uma posição de explorado, de assistido pelo Estado ou de privilegiado”. (GUATTARI, 1992, p. 169).

O autor aponta outro desafio para o empenho da restauração da cidade subjetiva, que consiste em retomar as finalidades assumidas pelos indivíduos em seus modos de existência no cotidiano urbano. Os “fins”, as metas, devem ser alterados. A densidade da percepção do autor expressa sua força na seguinte citação:

“Essa subjetividade em estado nascente – o que o psicanalista americano Daniel Stern denomina ‘o si mesmo emergente’ – , cabe a nós reengendrá-la constantemente. Não se trata mais aqui de uma ‘Jerusalém celeste’, como a do Apocalipse, mas da restauração de uma ‘Cidade subjetiva’ que engaja tanto os níveis mais singulares da pessoa quanto os níveis mais coletivos. De fato, trata-se de todo o porvir do planeta e da biosfera. Re-singularizar as finalidades da atividade humana, fazê-la reconquistar o nomadismo existencial tão intenso quanto o dos índios da América pré-colombiana! Destacar-se então de um falso nomadismo que na realidade nos deixa no mesmo lugar, no vazio de uma modernidade exangue, para aceder às verdadeiras errâncias do desejo, às quais as desterritorializações técnico-científicas, urbanas, estéticas, maquínicas de todas as formas nos incitam.” (GUATTARI, 1992, p. 170)

(14)

“Os prospectivistas predizem-nos, com efeito, que nos decênios futuros cerca de 80% da população mundial viverão em aglomerados urbanos. E, devido a isso, convém acrescentar que os 20% restantes da população mundial, mesmo que ‘escapem’ do habitar da cidade, dela serão entretanto tributários, através de vários liames técnicos e de civilização. Em outros termos, é a distinção mesma entre a cidade e a natureza que tenderá a se esmaecer, dependendo os territórios ‘naturais’ subsistentes, em grande parte, de programação com o fim de organizar espaço de lazer, de esporte, de turismo, de reserva ecológica...” (GUATTARI, 1992, p.170 -171).

A ação interdisciplinar é apontada por Guattari como condição da eficácia de qualquer intervenção no espaço urbano. Compreendemos que a mesma abordagem deverá marcar sua presença também no empenho da pesquisa. Para não perdermos a ênfase colocada pelo autor em estudo interdisciplinar merece retomar aqui mais uma citação:

“Não seria exagero enfatizar que a tomada de consciência ecológica futura não deverá se contentar com a preocupação com fatores ambientais, mas deverá também ter como objeto devastações ecológicas no campo social e no domínio mental. Sem transformação das mentalidades e dos hábitos coletivos haverá apenas medidas ilusórias relativas ao meio material.

Desta forma, os urbanistas não poderão mais se contentar em definir a cidade em termos de espacialidade. Esse fenômeno urbano mudou de natureza. Não é mais um problema dentre outros; é o problema número um, o problema-cruzamento das questões econômicas, sociais e culturais. A cidade produz o destino da humanidade: suas promoções, assim como suas segregações, a formação de suas elites, o futuro da inovação social, da criação em todos os domínios. Constata-se muito freqüentemente um desconhecimento desse aspecto global das problemáticas urbanas como meio de produção da subjetividade”. (GUATTARI, 1992, p. 173).

O nosso país tem sido palco de diversas experiências de reinvenção da cidade, articulado com a reinvenção do papel do Estado, do sentido da democracia, a partir da convocação da comunidade nos esforços de planejamento urbano. Nossa hipótese de estudo aponta para a dificuldade das lideranças políticas em considerar nos programas de participação popular a força da memória dos migrantes. Podemos pensar também na memória de muitas “cidades invisíveis” produzida pelos anseios de seus habitantes que não são migrantes.

(15)

uma mais ampla, que se refere ao exercício do político, e outra mais específica, que se refere à relação dos indivíduos e das comunidades com os seus espaços.

O deslocamento a ser observado no âmbito da política se refere à diferenciação estabelecida por Jacques Rancière entre o que ele chama de “polícia” e “política”. O autor define os termos do seguinte modo: “A polícia é assim, antes de mais nada, uma ordem dos corpos que define as divisões entre os modos do fazer, os modos de ser e os modos de dizer, que faz que tais corpos sejam designados por seu nome para tal lugar e tal tarefa; é uma ordem do visível e do dizível que faz com que essa atividade seja visível e outra não o seja, que essa palavra seja entendida como discurso e outra como ruído”. Já a política recebe outra definição.

“Proponho agora reservar o nome de política a uma atividade bem determinada e antagônica à primeira: a que rompe a configuração sensível na qual se definem as parcelas e as partes ou sua ausência a partir de um pressuposto que por definição não tem cabimento ali: a de uma parcela dos sem-parcela. Essa ruptura se manifesta por uma série de atos que reconfiguram o espaço onde as partes, as parcelas e as ausências de parcelas se definiam. A atividade política é a que desloca um corpo do lugar que lhe era designado ou muda a destinação de um lugar; ela faz ver o que não cabia ser visto, faz ouvir um discurso ali onde só tinha lugar o barulho, faz ouvir como discurso o que só era ouvido como barulho”. (RANCIÈRE, 1996, p. 42).

O deslocamento a ser observado no âmbito mais específico, este que se refere ao modo como indivíduos e comunidades se relacionam com os espaços constituídos para as próprias existências, se assenta na hipótese de que o fato de considerar a natureza do envolvimento com os programas instituídos altera a eficácia da participação popular no planejamento urbano. O movimento de organização dos Conselhos de Escola configura espaços específicos de trânsito entre a comunidade e a prefeitura. Estes espaços podem ser analisados em suas condições de propiciarem o exercício de uma modalidade muito específica de escolha.

(16)

nos limites de uma sala de aula e abarcando os programas de participação popular. Assim diz o autor:

“A educação para o inconformismo tem de ser ela própria inconformista. A aprendizagem da conflitualidade dos conhecimentos tem de ser ela própria conflitual. Por isso, a sala de aula tem de transformar-se ela própria em campo de possibilidade de conhecimento dentro do qual há que optar. Optam os alunos tanto quanto os professores e as opções de uns e outros não têm de coincidir nem são irreversíveis. As opções não assentam exclusivamente em idéias já que as idéias deixaram de ser desestabilizadoras no nosso tempo. Assentam igualmente em emoções, sentimento e paixões que conferem aos conteúdos curriculares sentidos inesgotáveis. Só assim é possível produzir imagens desestabilizadoras que alimentem o inconformismo perante um presente que se repete, repetindo as opções indesculpáveis do passado. O objetivo último de uma educação transformadora é transformar a educação, convertendo-a no processo de aquisição daquilo que se aprende, mas não se ensina, o senso comum.” (SANTOS, 1996).

Instigados por Boaventura de Sousa Santos, podemos observar o quanto ocorre alterações no modo das pessoas se implicarem com os programas de participação popular. Aqui nos referimos à nossa preocupação em observarmos o quanto ocorre um deslocamento do plano das idéias para o plano das emoções. E se, caso encontremos marcas deste tipo de deslocamento, eles resultam em conferir maior consistência nos espaços constituídos. O deslocamento, portanto, se refere à experiência daquilo que é chamado por Yi-Fu Tuan de “topolifia”. Portanto, queremos observar as marcas dos deslocamentos de uma “topofobia” para uma “topofilia”. A definição de espaço, tal como foi formulada por Milton Santos nos auxilia na sustentação de nossa hipótese:

“O espaço não é uma coisa, nem um sistema de coisas, senão uma realidade relacional: coisas e relações juntas. Eis porque sua definição não pode ser encontrada senão em relação a outras realidades: a natureza e a sociedade, mediatizadas pelo trabalho. Não é o espaço, portanto, como nas definições clássicas da geografia (...)

(17)

Com este estudo queremos contribuir com debate sobre a re-invenção dos modos de viver na cidade, em nossa atualidade, considerando as configurações espaciais em suas implicações com a vida em democracia. O foco de nossa atenção está colocado sobre este lugar de participação que vem sendo organizado como Conselho de Escola. Em nossas reflexões rastreamos as marcas indicadoras da possibilidade da emergência de um espaço público não-estatal em meio aos programas de participação, tanto em Suzano quanto em Rio das Pedras. Em meio a estas experiências observamos as marcas do deslocamento de uma “topofobia” para uma “topofilia” na relação dos indivíduos com o espaço urbano. Conferimos o quanto é possível ou não re-inventar o Estado a partir da constituição de um espaço-público não-estatal.

O estudo dos programas de participação popular em suas relações com a dinâmica espacial assume como categoria nuclear a “experiência” tal como está abordada nos textos epistemológicos de Boaventura de Sousa Santos. O autor estabelece uma crítica contundente à chamada “razão indolente” que opera com a desqualificação de qualquer iniciativa de oposição à ordem vigente no campo social. Frente a esta desqualificação o autor propõe o trabalho da razão cosmopolita que para isso utiliza dos instrumentos por ele nomeado como “sociologia das ausências”, “sociologia das emergências” e a “teoria da tradução”. Nossa concepção metodológica de pesquisa assume esta proposta da “Teoria da Tradução”. Embora percebemos que nossa atuação tem sido muito tímida dentro desta proposta, mesmo assim queremos experimentar em algum grau de iniciação esta prática da tradução quando comparamos duas realidades tão distintas.

(18)

deixar a forma da escrita impessoal, explicitada na conjugação dos verbos na terceira pessoa, para assumirmos a primeira pessoa.

Nós nos apoiamos em Boaventura de Sousa Santos para assumirmos esta nossa aventura em outro modo de pensar, escrever, pesquisar, fazer ciência. Concordamos com o autor quando propõe um encontro entre a ciência e o senso comum, em que, ao abrir horizontes de possibilidades nos modos de interpretar o que passa ao nosso redor, nós chegarmos ao senso comum reencantado.

“O prazer é a marca estética do nosso senso comum. A ciência modernar é uma forma de saber que se afirma desencantada e desapaixonada. Os métodos de distanciação – conceitos frios, retórica não-retórica, literalização das metáforas, atitudes aintipsicagógicas, supressão da biografia – encontram-se entre as principais estratégias argumentativas subjacentes ao desencantamento que alegadamente garante a reprodução do dualismo sujeito/objeto. Prazer, paixão, emoção, retórica, estilo, biografia, tudo isto poder perturbar esse dualismo e, por isso, tem de ser rejeitado.” (SANTOS, 2006, p. 114)

(19)

2 ESPAÇO GEOGRÁFICO E EDUCAÇÃO

2.1 Espaço e Lugar

Espaço é um conceito que existe independentemente da atividade humana, e dispensa interpretações pessoais. O Espaço é um dado concreto. É um conceito abstrato, ou seja, sem individualidade, e que com o passar do tempo, com o passar da experiência, vai se tornando “lugar” (TUAN, 1983). O Lugar pode ser o Espaço dotado de vivência, de valores. Pode-se entender o espaço a partir do lugar. “A partir da segurança e estabilidade do Lugar estamos cientes da amplidão, da liberdade e da ameaça do Espaço, e vice e versa”. (TUAN, 1983, p.6)

Sendo a experiência que constrói o sentido de Lugar para o indivíduo, as emoções, sentimentos, afetos estão intimamente ligados à construção de sua realidade no Espaço. Sem a experiência pessoal, os lugares seriam homogêneos e não ofereceriam proteção, alegria, identificação. Na noção de experiência também está embutido o tempo, a duração. Uma pessoa experiente é que viveu bastante, é que passou por muitas coisas (TUAN, 1983). Poder-se-ia conceituar Lugar como aquele pedaço do Espaço em que há paradas, há experiências. O Espaço vai se

aumentando conforme a pessoa vive e vai vivenciando mais experiências, e

construindo cada vez mais lugares. Enfim, Lugar é um espaço definido e carregado

de significado.

O Espaço não deve ser considerado uma mera relação de sujeitos com o meio, uma relação do Homem com a natureza. O Espaço pode ser encarado como um arranjo de um conjunto de variáveis, construídas ou não pela humanidade, com a vida que dá sentido a esses objetos (SANTOS, 1988). “O espaço é resultado da ação dos homens sobre o próprio espaço, inter mediados pelos objetos, naturais e artificiais.” (SANTOS, 1988, p.25)

Como esperar efetiva participação dos componentes necessários ao Conselho de Escola, se este espaço, esse lócus, não representa significado algum

(20)

2.2 A Cidade

A cidade não deveria ser caracterizada, apenas, por o meio urbano de um município. Cabe aqui uma pequena explicação didática sobre os dois termos tão comuns à geografia, e, por que não dizer também, à sociedade. Município é uma área política, definida, delineada, é o menor espaço de atuação autônoma do Estado, isto é, o lócus de atuação de domínio, de regulação, de representação do

poder público em sua escala mais local. Dentro desse município existem áreas urbanas (uma ou mais, com casas, ruas, infra-estrutura de energia elétrica e água, comércio, e claro, pessoas. Para além desse ambiente urbano há o campo, a zona rural. As duas realidades formam o município. A principal área urbana é a cidade do município, onde está a prefeitura, o centro comercial, a maioria dos pronto-socorros, a maioria das escolas e centros de lazer da população munícipe. Enfim, é na cidade em que ocorre a principal parcela da atividade humana de um município.

É na cidade em que as habitantes de um município constroem a maioria dos seus lugares. Claro que existem os lugares preferidos de lazer que são rurais, como cachoeiras, fazendas, trilhas nas matas. Porém, o espaço socialmente produzido,

coletivamente produzido, carregado de significado, ou seja, o lugar, está na cidade.

É por isso a primeira afirmação desse tópico: a cidade não é um mero meio urbano. Ela é, também, uma construção social.

[...] não raro, a cidade vem sendo pensada ora como quadro

físico (um simples mapa aberto na prancheta), ora como meio ambiente urbano (e, nesta dimensão, “naturalizada”), e em ambos os casos, ignora-se o conteúdo da prática sócio-espacial que lhe dá forma e conteúdo.(Carlos, 2007, p. 19)

É, portanto, principalmente na cidade em que o Conselho de Escola terá as condições para se desenvolver. Sobre as escolas rurais, que são muitas no Brasil, a instituição de um Espaço Público não Estatal também é possível, mas não é objeto de estudo e reflexão a que se propõe a realização deste presente trabalho. É na cidade, passível e possível de se tornar lugar para seus cidadãos, que esses

(21)
(22)

3. ESPAÇO PÚBLICO NÃO ESTATAL - Conselho de Escola como Espaço Público não Estatal

Como o Conselho de Escola pode se tornar um Espaço Público não Estatal, isto é, um lugar onde a comunidade ligada à escola ouve sua voz ter importância? Isso só acontecerá se as pessoas considerarem esse espaço um lugar no sentido de

transformar um conceito abstrato, sem pessoalidade, sem esperança, sem significado, em um território de engajamento, num lugar instituído por elas, e não imposta ou apenas elaborado por terceiros. Os terceiros poderiam ser personificados pelo Estado, enquanto poder público, poder político, poder regulador, ou ainda poder normativo.

Uma concepção de Espaço Público não Estatal está em Santos (1996), onde esse autor explora a relação entre comunidade e Estado. Apenas uma reforma do Estado, articulação entre democracia representativa e democracia participativa, pode garantir a eficárcia do potencial de democratização de cada um deles. Sociabilidades alternativas como Espaço Público não Estatal engendradas por um novo tipo de Estado Providência, não aquele que se assistiu nos anos anteriores à onda neoliberal que se abateu sobre o mercado, o Estado e a comunidade. O poder, nesse novo tipo de espaço democrática, prezará pela autoridade partilhada, isto é, uma autoridade que respeite os diferentes tipos de saber, que não seja hierarquizado.

(23)

4 CONSELHO DE ESCOLA - O que dizem as leis

Conselho de Escola é um colegiado, de natureza consultiva e deliberativa, constituído por representantes de pais, professores, alunos e funcionários de uma unidade escolar. A função do Conselho de Escola é atuar, articuladamente com o núcleo de direção, no processo de gestão pedagógica, administrativa e financeira da escola.

A eleição do Conselho de Escola é feita anualmente, durante o primeiro mês letivo. Os representantes de professores, especialistas da educação - diretor, vice diretor, coordenador pedagógico -, funcionários, pais e alunos serão eleitos pelo seus pares (isto é, alunos votarão para os alunos representantes, os funcionários representantes serão eleitos pelos próprios funcionários, e assim por diante). A eleição dos membros do membro colegiado será lacrada em ata, registrada em livro próprio e com a assinatura de todos os participantes, devendo ser afixada em local visível para toda a comunidade escolar.

(24)

4.1 Esfera Estadual

Há uma legislação que disciplina o Conselho de Escola, a Lei Complementar nº 444, de 27 de Dezembro de 1985, a qual trata do Magistério Paulista e suas abrangências diversas. Seu artigo 95 trata diretamente do tema em questão deste trabalho:

“Artigo 95 – O conselho de Escola, de natureza deliberativa, eleito anualmente durante o primeiro mês letivo, presidido pelo Diretor da Escola, terá um total mínimo de 20 (vinte) e máximo de 40 (quarenta) componentes, fixado sempre proporcionalmente ao número de classes do estabelecimento de ensino [...]” (Lei Complementar nº 444, de 27 de Dezembro de 1985)

De natureza deliberativa entende-se que as resoluções são tomadas após uma discussão, uma reflexão. O Conselho de Escola, então, tem a prerrogativa de tomar decisões apoiadas na discussão entre os componentes do membro colegiado. Sem tal encontro, tal vivência, não há deliberação. Se não há encontros de pessoas

no espaço privilegiado para o Conselho de Escola, não há deliberação de coisa alguma.

(25)

4.2 Esfera Federal

Se, em âmbito estadual, têm-se alusões aos Conselhos de Escola, na esfera federal não existem muitas referências legais a esses membros colegiados. A principal lei nacional a tratar da educação brasileira, Lei nº 9394, de 20 de Dezembro de 1996, que estabelece as diretrizes e bases da educação nacional, trata em linhas gerais o assunto sobre o Conselho de Escola:

“Art. 3º. O Ensino será ministrado com base nos seguintes princípios:

[...]

VIII – gestão democrática do ensino público, na forma desta Lei e da legislação dos sistemas de ensino; [...]

[...]

Art. 14. Os sistemas de ensino definirão as normas da gestão democrática do ensino público na educação básica, de acordo com as suas peculiaridades e conforme os seguintes princípios:

I – participação dos profissionais da educação na elaboração do projeto pedagógico da escola;

II – participação da comunidade escolar, e local em conselhos escolares ou equivalentes.

[...]

Art. 15. “Os sistemas de ensino assegurarão às unidades escolares públicas de educação básica que os integram progressivos graus de autonomia pedagógica e administrativa e de gestão financeira, observadas as normas gerais de direito financeiro público” (Lei nº 9.394, de 20 de Dezembro de 1996)

(26)

5 MUNICÍPIO DE RIO DAS PEDRAS – Estudo de caso

Rio das Pedras é um município brasileiro do Estado de São Paulo distante 172 quilômetros da capital estadual. Município que cresceu e se desenvolveu graças à cultura agrícola paulista do café, Rio das Pedras se desmembrou em 1894 do município vizinho de Piracicaba (SP).

O município conta com uma área territorial de 226,939 km 2, sendo que sua população, pelo censo demográfico de 2010, feito pelo IBGE – Instituto Brasileiro de Geografia e Estatísticas - estava na marca dos 29.508 habitantes, com densidade demográfica de 130,03 habitantes por Km 2. Sua altitude média, em relação ao nível do mar, é por volta de 625 metros. Faz divisa com os seguintes municípios paulistas: Santa Barbara d’Oeste, Saltinho, Mombuca, Capivari e Piracicaba. A localização do município rio pedrense encontra-se na figura a seguir:

Para comparar a idéia legalizada, idealizada, e porque não, ingênua, que se tem do funcionamento dos Conselhos de Escola, será usado como exemplo neste trabalho uma determinada Escola Municipal do Município de Rio das Pedras, Estado de São Paulo, onde o autor desse Trabalho de Conclusão de Curso exerce sua profissão de Professor de Geografia do Ensino Fundamental II desde março de 2010.

(27)

5.1 Funcionamento da rede de ensino pública municipal de Rio das Pedras

A Rede Municipal de Ensino do município de Rio das Pedras conta com 15 escolas, as quais atendem alunos matriculados em diversas idades, e que podem ser dividas em algumas categorias. Existem as Creches, os Centros de Educação Infantil, e as Escolas Municipais de Ensino Fundamental. Algumas Unidades Escolares atendem exclusivamente alunos do Ensino Fundamental I, outras escolas oferecem apenas o Ensino Fundamental II, e alguns estabelecimentos de Ensino abarcam um público do Ensino Fundamental completo.

A Unidade Escolar do estudo de caso é uma escola que atende no período matutino alunos que vão do 6º ao 9º anos do Ensino Fundamental II. No período vespertino a escola oferece do 1º ao 5º anos do Ensino Fundamental II. O professor, autor da presente pesquisa, trabalha como Professor de Educação Básica II, em caráter efetivo na Rede Municipal, com o Ensino Fundamental II.

Todo começo de ano letivo há a confecção do calendário de cada escola do município, que é feito em consonância da equipe gestora (direção e coordenação pedagógica) e a Secretaria de Educação municipal. Neste calendário são constados todos os dias em que se terão aula, todos os feriados, todas as reuniões pedagógicas, os dias de aulas suspensas, os dias que configuram o recesso do mês de Julho e do mês de Dezembro, além de alguns dados anexos, como festas comemorativas, datas importantes para a esfera educativa, reuniões com os pais, e reuniões do Conselho de Escola. Tal documento é colado em um mural na sala dos professores da escola, que fica ali até o fim do ano letivo. Constam no calendário de 2011 quatro reuniões do Conselho de Escola da Unidade Escolar em questão tomada como exemplo. Tal documento está em anexo no final do trabalho (ANEXO A).

Até o término deste trabalho não houve convocação para nenhuma reunião com essas características. Conversando com os pares (colegas de trabalho), com a equipe gestora, e funcionários da escola, há, sim, a confecção de atas das reuniões do Conselho de Escola, porém, não se encontra algumas características preconizadas por lei para o funcionamento do Conselho de Escola, como a eleição dos membros, os encontros, as deliberações e decisões.

(28)

de Geografia para uma determinada classe. A diretoria da Unidade Escolar pede licença, e entrando na sala de aula. pede para o professor assinar a ata do Conselho de Escola. O professor indagando o porquê de tal assinatura, e o que foi deliberado, ouviu a seguinte resposta: “Fizemos uma reunião com o Conselho, e foram decididas algumas coisas, e, como você faz parte do Conselho, você assina a ata”. Essa resposta e todo o contexto do acontecimento mostram claramente que, nessa referida escola, não há, efetivamente o acontecimento do Conselho de Escola, pois

não houve a necessária reunião, não houve discussões acerca dos assuntos que deveriam ser tratados, e, além de tudo, não houve eleição dos membros para o colegiado. São, portanto, atitudes arbitrárias, que estão presentes no estudo de caso, no que se refere aos Conselhos de Escola.

(29)

6 MUNICÍPIO DE SUZANO

Suzano é um município brasileiro do Estado de São Paulo, que se localiza na Região Metropolitana de São Paulo. A população em 2010, segundo o Censo demográfico feito pelo IBGE, é de 262.568 habitantes, o que resulta numa densidade demográfica de 1.275,43 hab/km², em uma área de 205,865 km². A localização do município de Suzano está representada na figura abaixo:

Fundado a relativamente pouco tempo, 1948, o município conta, em 2011, com 62 anos de fundação. Seu gentílico é Suzanense. Os municípios limítrofes a Suzano são: Ferraz de Vasconcelos, Itaquaquecetuba, Mogi das Cruzes, Poá, Ribeirão Pires, Rio Grande da Serra e Santo André. Dista aproximadamente 45 quilômetros da cidade de São Paulo – capital estadual.

O crescimento da cidade se deveu, em muito, à desconcentração industrial que se iniciou na capital São Paulo. Fugindo de terrenos caros, mão de obra cara e sindicalizada, e procurando por melhores locais para alocação de suas plantas, empresas e indústrias migraram fortemente de São Paulo para os municípios que hoje forma a Grande São Paulo (ou, Região Metropolitana de São Paulo), incluindo Suzano, que também conta com uma malha rodoviária interessante, com acessos ao litoral e interior do Estado, fatores locacionais bastante importantes para a dinâmica industrial e econômica.

(30)

6.1 - Lei municipal que disciplina o Conselho de Escola

Essa lei de 2005 regulariza o Conselho de Escola em âmbito municipal de Suzano. Em seu artigo 6º estão elencados os objetivos Conselho de Escola:

“[...] I - ser a base de democratização da gestão do sistema municipal de ensino, com a participação ativa do munícipe, como sujeito do processo educacional;

II - propiciar a mais ampla participação da comunidade no processo educacional da unidade, reconhecendo o seu direito e o seu dever quanto a isso;

[...]

VI - integrar a escola nos contextos social, econômico, cultural em sua área de abrangência;

VII - levar a Unidade Escolar a interagir em todos os acontecimentos de relevância que ocorreram ou que venham a ocorrer em sua área de abrangência;[...]”

(SUZANO, Lei nº 3973 de 11 de Julho de 2005)

No inciso I da lei é possível ler: “participação ativa do munícipe, como sujeito do processo educacional”. Ora, se o habitante participa do Conselho de Escola, se

neste espaço o cidadão tem voz, e ali realiza experiências, pode-se inferir que para isso ele foi tocado, foi sensibilizado, isto é, ele passa a experimentar o lugar, não mais vendo Esse Espaço Público não Estatal do Conselho como mero Espaço, mas

como uma possibilidade, um local em que se é possível intervir e fazer realizar os sonhos, os anseios, as propostas, todas discutidas e concretizadas no grupo, no coletivo.

O trecho a seguir trata bem da questão da importância da espacialidade do Conselho de Escola: “VI - integrar a escola nos contextos social, econômico, cultural em sua área de abrangência” (Lei nº 3973 de 11 de Julho de 2005). Como ser um

(31)

Por meio do inciso VII essa lei do município de Suzano mostra o respeito à história e funcionamento da realidade do coletivo que participa e faz a escola, na medida em que se está usando a concepção de que o Conselho de Escola deve levar a Unidade Escolar a interagir com acontecimentos importantes que ocorreram

ou que venham aocorrer em sua abrangência espacial.

Em seu artigo 7º, a referida lei municipal tem um inciso selecionado que grafa a seguinte redação: “III - criar e garantir mecanismos de participação efetiva e democrática da comunidade escolar”(Lei nº 3973 de 11 de Julho de 2005).

(32)

7 “ESCOLA DO GOVERNO” x “ESCOLA PÚBLICA” – O pertencimento

Há, comumente, o costume de se referir a uma escola pública como sendo do ente governamental que a mantém. Por exemplo, uma unidade escolar pertencente à administração municipal passa a ser conhecida como Escola da Prefeitura; uma escola administrada pelo governo estadual é cunhada de escola estadual; e na esfera federal, semelhantemente.

Essa postura não é inocente. Isto é, essa prática de elevar o Estado (como poder assistencialista, governamental, fiscalizador) a uma entidade acima de sua função pública, é herança de uma espécie de formação política. Ora, em chamar a Escola Estadual “Fulana de Tal” de escola estadual não está se cometendo engano algum, mas colocar o adjetivo “estadual” acima de sua característica “pública”, traz uma implicação profunda. Por “pública” entende-se pertencente à população, que pertence a todos, que é custeada pela população, através dos impostos, contribuições sociais, tarifas, tributos. Quando se suprime essa característica pública em nome do “Estado”, há um distanciamento simbólico com esse organismo público (escola, hospital, entre outros). Se é do Estado, do governo, da prefeitura, uma escola pertence ao poder do estado, portanto, nada mais previsível que se espere que a entidade estatal que administre a unidade escolar tome as providencias para conduzir as atividades naquela instituição. A população, assim, que depende daquele serviço de ensino, pode passar a ver essa escola como um objeto posto ali para a população, e não pertencente à população. Ou seja, uma escola que é

estadual, e não pública, não parece evocar noção alguma de reconhecimento e

pertencimento nos envolvidos na vida desse espaço escolar.

Como ficaria, então, o Conselho de Escola? Se esse espaço qualificado para o real envolvimento e participação da sociedade não for público, não há como existir,

de fato, um membro colegiado que envolva-se no cotidiano dessa escola. Por que decidir por aquilo que não é meu, de fato?

(33)

grande provedor. Há possibilidades de se reinventar o Estado, existem formas de democratiza-lo, maneiras de se transfomar seus espaços em lugares, em que os indivíduos que tem relações de significações, de afetividade com esse local, passem a reconhecer esse espaço criado na base (por eles mesmo, gerido na sociedade, no espaço público), e não imposto pelo governo municipal, estadual ou federal. Os cidadãos passam, então, a desenvolver um sentimento de pertencimento pelo local em que se pode falar, decidir, e por que não, sonhar. O sentimento topofílico mostra-se, então, uma grande ferramenta pela qual o Conselho de Escola e toda a dinâmica de uma escola possa realmente ser pública, construída, gerida, formada, pensada, e

decidida pela população.

(34)

8 CONSIDERAÇÕES FINAIS

O estudo buscou relacionar a Geografia com a educação por meio da construção do Conselho de Escola. A contribuição geográfica baseia-se na demonstração da importância que a construção do Lugar tem para o indivíduo, na medida em que é esta pessoa que participará do órgão colegiado tão importante para uma escola democrática.

O Espaço, onde está localizada alguma certa Unidade de Ensino, não tem forma, por si só, significativa para o cidadão. A escola pode ser igual a algum outro órgão burocrático, no qual as pessoas podem não desenvolver qualquer relação de afetividade, de participação política, de contribuição, de pertencimento. O trabalho do pertencimento é deveras importante, pois é somente com essa noção do indivíduo pelo Espaço (ai transformado em Lugar), que é possível uma participação ativa do cidadão para o acontecimento de fato do Conselho de Escola.

Através do estudo de caso verificou-se que o Conselho de Escola, às vezes, não é efetivo, como é apresentado nos aspectos jurídicos. A eleição, as discussões e deliberações, tão caras ao funcionamento desse órgão colegiado não existem de fato em algumas ocasiões. Em contrapartida em Suzano a administração municipal, através de uma lei, trata com muito cuidado o Conselho de Escola. Vê-se que é possível a construção deste Espaço Público Não Estatal dentro da escola, onde o indivíduo pode se reconhecer com transformador e feitor da realidade da Unidade de Ensino, na medida em que pode pertencer ao espaço ela.

A discussão sobre a “publicidade” da escola pública é muito importante, pois sem essa noção básica perde-se o principal: que a escola é do povo, é feita e realizada por ele, e não apenas foi construída para ele. Claro, se é pública a

instituição de ensino é mantida pelo poder municipal, estadual ou federal, mas

mantida não precisaria abarcar a expressão gerida, a qual tem um significado ativo

de participação no dia a dia.

(35)

REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICA

BRASIL. Lei nº 9.394 (LDB), de 20 de Dezembro de 1996. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/L9394.htm>, acesso em: 30 out, 2011

CARLOS, Ana Fani Alessandri. O Espaço Urbano: Novos Escritos Sobre a Cidade. Edição Eletrônica/ LABUR São Paulo, 2007.

GUATTARI, Félix. Caosmose: um novo paradigma estético. Rio de Janeiro: Editora 34, 1992.

RANCIÈRE, Jacques. O desentendimento: política e filosofia. São Paulo: Editora 34, 1996.

SANTOS, Boaventura de Sousa. A gramática do tempo: para uma nova cultura política. São Paulo: Cortez Editora, 2006.

SANTOS, Milton. Metamorfoses do Espaço Habitado, fundamentos teórico e metodológico da geografia. Hucitec. São Paulo, 1988.

SANTOS, Boaventura de Sousa. “Para uma pedagogia do conflito”. In SILVA, Luiz Heron et all. (Orgs.). Novos mapas culturais novas perspectivas educacionais. Porto Alegre: Editora Sulina, 1996. Págs.:15 – 33.

SÃO PAULO. Lei Complementar nº 444, de 27 de Dezembro de 1985. Disponível em: <http://www.al.sp.gov.br/legislacao/norma.do?id=27099>, acesso em: 30 out, 2011

SUZANO. Lei nº 3973, de 11 de Julho de 2005. Disponível em: <http://www.jusbrasil.com.br/legislacao/567653/lei-3973-05-suzano-sp>, acesso em: 29 out, 2011

TUAN, Yi-Fu. Espaço e lugar: a perspectiva da experiência. São Paulo: Difel, 1983.

(36)

BIBLIOGRAFIA CONSULTADA

ACSELRAD, Henri. (Org.). A duração das cidades: sustentabilidade e risco nas políticas urbanas. Rio de Janeiro: DP&A, 2001.

ARANTES, Otília, VAINER, Carlos e MARICATO, Ermínia (Orgs.). A cidade do pensamento único: desmanchando consensos. Petrópolis: Editora Vozes, 2000.

CARLOS, Ana Fani Alessandri. A (re)produção do espaço urbano. São Paulo: Edusp, 1994.

CASTELLS, Manuel. A questão urbana. São Paulo: Editora Paz e Terra, 2000.

COCCO, Giuseppe. A cidade estratégica. Rio de Janeiro: DP&A, 2001.

DELEUZE, Gilles. Conversações. Rio de Janeiro: Editora 34, 1992.

HAESBAERT, Rogério. Des-territorialização e identidade. Niterói: EDUFF, 1997.

LECHNER. Norbert. Los pátios interiores de la democracia: subjetividad y política. Chile: Fondo de Cultura Econômica, 1990.

LEWKOWICZ, Ignacio, CANTARELLI, Mariana, Grupo Doce. Del fragmento a la situación. Notas sobre la subjetividad contemporánea. Buenos Aires: Editorial Altamira, 2003.

MAGALHÃES, Maria Cristina Rios. Na sombra da cidade (Org.), São Paulo: Editora Escuta, 1995.

OLIVEIRA, Francisco de e PAOLI, Maria Célia. Os sentidos da democracia: políticas do dissenso e hegemonia global. Petrópolis: Vozes, 1999.

PELBART, Peter Pál. A vertigem por um fio: políticas da subjetividade contemporânea. São Paulo: Iluminuras, 2000.

(37)

SANTOS, Boaventura de Sousa. A crítica da razão indolente: contra o desperdício da experiência. São Paulo: Cortez Editora, 2000.

.

SANTOS, M. O Espaço do Cidadão. 6. ed. São Paulo: Studio Nobel, 2002. (Coleção Espaços).

SANTOS, M. Técnica Espaço e Tempo: Globalização e meio técnico-científico informacional. 4.ed. São Paulo: Editora Hucitec, 1998. 190 p.

SAUER, C.O. Morfologia da Paisagem. Geografia Cultural: Paisagem, Tempo e Cultura, Rio de Janeiro, n. 2, p. 12-75, 2004.

SERPA, Ãngelo. O espaço público na cidade contemporânea. São Paulo: Contexto, 2007.

SILVA, Ilse Gomes. Democracia e participação na ‘reforma’ do Estado. São Paulo: Cortez Editora, 2003.

SOUZA, Marcelo Lopes de. Mudar a cidade. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil:, 2002.

(38)

ANEXOS

ANEXO A – Calendário da escola do estudo de caso, com as datas das

(39)
(40)
(41)
(42)
(43)

Referências

Documentos relacionados

da equipe gestora com os PDT e os professores dos cursos técnicos. Planejamento da área Linguagens e Códigos. Planejamento da área Ciências Humanas. Planejamento da área

ligada a aspectos infantis (1º ao 5º anos) configura-se como uma fase de mudanças, com mais professores, com novos componentes curriculares, conteúdos mais complexos

O fortalecimento da escola pública requer a criação de uma cultura de participação para todos os seus segmentos, e a melhoria das condições efetivas para

Não obstante a reconhecida necessidade desses serviços, tem-se observado graves falhas na gestão dos contratos de fornecimento de mão de obra terceirizada, bem

Carmo (2013) afirma que a escola e as pesquisas realizadas por estudiosos da educação devem procurar entender a permanência dos alunos na escola, e não somente a evasão. Os

Esta dissertação pretende explicar o processo de implementação da Diretoria de Pessoal (DIPE) na Superintendência Regional de Ensino de Ubá (SRE/Ubá) que

Na apropriação do PROEB em três anos consecutivos na Escola Estadual JF, foi possível notar que o trabalho ora realizado naquele local foi mais voltado à

Para analisar as Componentes de Gestão foram utilizadas questões referentes à forma como o visitante considera as condições da ilha no momento da realização do