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Lei municipal que disciplina o Conselho de Escola

6. MUNICÍPIO DE SUZANO

6.1 Lei municipal que disciplina o Conselho de Escola

Essa lei de 2005 regulariza o Conselho de Escola em âmbito municipal de Suzano. Em seu artigo 6º estão elencados os objetivos Conselho de Escola:

“[...] I - ser a base de democratização da gestão do sistema municipal de ensino, com a participação ativa do munícipe, como sujeito do processo educacional;

II - propiciar a mais ampla participação da comunidade no processo educacional da unidade, reconhecendo o seu direito e o seu dever quanto a isso;

[...]

VI - integrar a escola nos contextos social, econômico, cultural em sua área de abrangência;

VII - levar a Unidade Escolar a interagir em todos os acontecimentos de relevância que ocorreram ou que venham a ocorrer em sua área de abrangência;[...]”

(SUZANO, Lei nº 3973 de 11 de Julho de 2005)

No inciso I da lei é possível ler: “participação ativa do munícipe, como sujeito

do processo educacional”. Ora, se o habitante participa do Conselho de Escola, se

neste espaço o cidadão tem voz, e ali realiza experiências, pode-se inferir que para isso ele foi tocado, foi sensibilizado, isto é, ele passa a experimentar o lugar, não mais vendo Esse Espaço Público não Estatal do Conselho como mero Espaço, mas como uma possibilidade, um local em que se é possível intervir e fazer realizar os sonhos, os anseios, as propostas, todas discutidas e concretizadas no grupo, no coletivo.

O trecho a seguir trata bem da questão da importância da espacialidade do Conselho de Escola: “VI - integrar a escola nos contextos social, econômico, cultural

em sua área de abrangência” (Lei nº 3973 de 11 de Julho de 2005). Como ser um

local de experiências, de experimentações, se esse local não evoca um sentimento, uma significação? Neste inciso está explicita a relação do Espaço – Lugar – Cidadão. O Conselho de Escola, para acontecer de fato, necessita estar permeado da noção do pertencimento. A noção de Topofilia, isto é, apego ao lugar, significação do lugar, entra nessa questão. A lei, nesse capítulo e inciso, deixa bem claro que sem a integração da Unidade Escolar com a realidade que a rodeia, e sem despertar nos cidadãos que fazem parte da sua história e funcionamento o sentimento de pertencimento, o funcionamento pleno do Conselho de Escola estará comprometido.

Por meio do inciso VII essa lei do município de Suzano mostra o respeito à história e funcionamento da realidade do coletivo que participa e faz a escola, na medida em que se está usando a concepção de que o Conselho de Escola deve levar a Unidade Escolar a interagir com acontecimentos importantes que ocorreram ou que venham a ocorrer em sua abrangência espacial.

Em seu artigo 7º, a referida lei municipal tem um inciso selecionado que grafa a seguinte redação: “III - criar e garantir mecanismos de participação efetiva e

democrática da comunidade escolar”( Lei nº 3973 de 11 de Julho de 2005).

7 “ESCOLA DO GOVERNO” x “ESCOLA PÚBLICA” – O pertencimento

Há, comumente, o costume de se referir a uma escola pública como sendo do ente governamental que a mantém. Por exemplo, uma unidade escolar pertencente à administração municipal passa a ser conhecida como Escola da Prefeitura; uma escola administrada pelo governo estadual é cunhada de escola estadual; e na esfera federal, semelhantemente.

Essa postura não é inocente. Isto é, essa prática de elevar o Estado (como poder assistencialista, governamental, fiscalizador) a uma entidade acima de sua função pública, é herança de uma espécie de formação política. Ora, em chamar a Escola Estadual “Fulana de Tal” de escola estadual não está se cometendo engano algum, mas colocar o adjetivo “estadual” acima de sua característica “pública”, traz uma implicação profunda. Por “pública” entende-se pertencente à população, que pertence a todos, que é custeada pela população, através dos impostos, contribuições sociais, tarifas, tributos. Quando se suprime essa característica pública em nome do “Estado”, há um distanciamento simbólico com esse organismo público (escola, hospital, entre outros). Se é do Estado, do governo, da prefeitura, uma escola pertence ao poder do estado, portanto, nada mais previsível que se espere que a entidade estatal que administre a unidade escolar tome as providencias para conduzir as atividades naquela instituição. A população, assim, que depende daquele serviço de ensino, pode passar a ver essa escola como um objeto posto ali para a população, e não pertencente à população. Ou seja, uma escola que é

estadual, e não pública, não parece evocar noção alguma de reconhecimento e

pertencimento nos envolvidos na vida desse espaço escolar.

Como ficaria, então, o Conselho de Escola? Se esse espaço qualificado para o real envolvimento e participação da sociedade não for público, não há como existir, de fato, um membro colegiado que envolva-se no cotidiano dessa escola. Por que decidir por aquilo que não é meu, de fato?

Transformar, aos olhos da comunidade envolvida na vida escolar da unidade de ensino, a escola estatal em escola realmente pública é condição primordial para a existência de uma escola democrática, em que as maiores decisões de seu modo de existir são tomadas pela população envolvida. No Espaço Público não Estatal possível o Conselho de Escola surge, então, como uma possiblidade de se quebrar com o longo ciclo da visão que a sociedade brasileira tem do poder estatal como um

grande provedor. Há possibilidades de se reinventar o Estado, existem formas de democratiza-lo, maneiras de se transfomar seus espaços em lugares, em que os indivíduos que tem relações de significações, de afetividade com esse local, passem a reconhecer esse espaço criado na base (por eles mesmo, gerido na sociedade, no espaço público), e não imposto pelo governo municipal, estadual ou federal. Os cidadãos passam, então, a desenvolver um sentimento de pertencimento pelo local em que se pode falar, decidir, e por que não, sonhar. O sentimento topofílico mostra- se, então, uma grande ferramenta pela qual o Conselho de Escola e toda a dinâmica de uma escola possa realmente ser pública, construída, gerida, formada, pensada, e decidida pela população.

8 CONSIDERAÇÕES FINAIS

O estudo buscou relacionar a Geografia com a educação por meio da construção do Conselho de Escola. A contribuição geográfica baseia-se na demonstração da importância que a construção do Lugar tem para o indivíduo, na medida em que é esta pessoa que participará do órgão colegiado tão importante para uma escola democrática.

O Espaço, onde está localizada alguma certa Unidade de Ensino, não tem forma, por si só, significativa para o cidadão. A escola pode ser igual a algum outro órgão burocrático, no qual as pessoas podem não desenvolver qualquer relação de afetividade, de participação política, de contribuição, de pertencimento. O trabalho do pertencimento é deveras importante, pois é somente com essa noção do indivíduo pelo Espaço (ai transformado em Lugar), que é possível uma participação ativa do cidadão para o acontecimento de fato do Conselho de Escola.

Através do estudo de caso verificou-se que o Conselho de Escola, às vezes, não é efetivo, como é apresentado nos aspectos jurídicos. A eleição, as discussões e deliberações, tão caras ao funcionamento desse órgão colegiado não existem de fato em algumas ocasiões. Em contrapartida em Suzano a administração municipal, através de uma lei, trata com muito cuidado o Conselho de Escola. Vê-se que é possível a construção deste Espaço Público Não Estatal dentro da escola, onde o indivíduo pode se reconhecer com transformador e feitor da realidade da Unidade de Ensino, na medida em que pode pertencer ao espaço ela.

A discussão sobre a “publicidade” da escola pública é muito importante, pois sem essa noção básica perde-se o principal: que a escola é do povo, é feita e realizada por ele, e não apenas foi construída para ele. Claro, se é pública a instituição de ensino é mantida pelo poder municipal, estadual ou federal, mas

mantida não precisaria abarcar a expressão gerida, a qual tem um significado ativo

de participação no dia a dia.

É necessária a construção de um sentimento topofílico com a escola para se ter uma escola verdadeiramente pública, e conseqüentemente com o Conselho de Escola. O Espaço, com o pertencimento ao local, transforma-se em Lugar, que traz o colorido, a significância, a amizade com o Espaço. Sem essa relação amistosa e significada do Conselho de Escola com o cidadão é impossível o acontecimento deste órgão colegiado, e portanto, é comprometida a gestão democrática da escola.

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ANEXOS

ANEXO A – Calendário da escola do estudo de caso, com as datas das

reuniões do Conselho de Escola, nas quais não há / houve a efetiva realização da reunião deste órgão colegiado

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