• Nenhum resultado encontrado

O seguro-desemprego no contexto da sociedade brasileira

N/A
N/A
Protected

Academic year: 2017

Share "O seguro-desemprego no contexto da sociedade brasileira"

Copied!
187
0
0

Texto

(1)

CURSO DE f-.1ESTRADO EM ADHn1ISTRAçÃO PúBLICA

o SEGURO-DESEMPREGO NO CONTEXTO DA SOCIEDADE BRASILEIRA

MONOGR.l\FIA P.PRESEt!TADA  ESCO LA BRASILEIRA DE ADMINISTRA çÃO PúBLICA PARA A OBTEUÇÃO DO GRAU DE r.1ESTRE EM ADHINIS TRAÇÃO PúBLICA.

NATANAEL BENTO RODRIGUES JL"'}UOR

(2)

CURSO DE MESTRADO EM ADMINISTRAÇÃO POBLICA

O SEGURO-DESEMPREGO NO CONTEXTO DA SOCIEDADE BRASILEIRA

MONOGRAFIA DE MESTRADO APRESENTADA POR NATANAEL BENTO RODRIGUES JUNIOR

E

APROVADA EM: 10.03.1989

PELA COMISSÃO JULGADORA:

MARQUESINI

(3)

• FUNDAÇÃO UNIVERSIDADE DO AMAZONAS • ESCOLA BRASILEIRA DE ADMINISTRA

-çÃO PÚBLICA - EBAP, FUNDAÇÃO GETÚ LIO VARGAS

(4)

A PROFESSORA ANA MARIA BERNARDES GOFFI MARQUESINI,pela orien tação indispensável e pelo tratamento irrepreensível a mim dispensado, enquanto Diretora de Estudos.

Aos PROFESSORES ROSSI AUGUSTA ALVES CORR~A e EDUARDO OLIv~I

RA DAPIEVE, por atenderem solicitamente os pleitos que a eles encaminhei.

A NATANAEL BENTO RODRIGUES e MARIA JOLIA DE MELO RODRIGUES, que, na qualidade de pais, deram o apoio e o carinho durante a realização deste trabalho.

A NÁLIA e LIANA, irmãs de sangue, pelo incentivo sempre pr~

sente.

Aos Professores do Departamento de Administração da Faculda de de Estudos Sociais da Fundação Universidade do Amazonas, pela compreensão e incentivo.

 Reitoria e aos funcionários da Universidade do pelos atos corretos e justos.

Amazonas,

Aos Professores, funcionários e colegas da EBAPjFGV, que so~

(5)

A RITA, ELINE, CREMILDA e MARY, sempre prontas a ajudar.

A ROMMELL e PAULO, companheiros no ideário da vica.

A LÚCIA MARQUES que recentemente chegou e soube alegrar es-ses Gltimos mees-ses dificeis e tensos.

Em especial ao amigo LEONARDO DE ALMEIDA VILHENA, o Léo, ca boclo amazônico de coração pós-moderno, pelas incontáveis ho ras vividas lado a lado, repartindo o pão nosso de cada dia: - comungando a hóstia da bondade.

A todos que de alguma forma contribuiram para a deste trabalho,

ofereço minha gratidão.

(6)

págs.

APRSENTAÇÃO

.

. . . .

.

. . .

.

.

.

. . . .

.

.

.

. . .

.

. .

.

.

.

.

.

.

. .

. . .

.

.

01

H1TRODUÇÃO

. . . .

. .

.

.

. . .

.

. .

. .

.

.

.

.

.

. . .

.

. . . .

.

. .

.

. .

. . . .

04

1 - Identificação do Problema

.

. . .

. .

.

. .

. .

.

. .

. . . .

. .

05

2 - Alcance da Proposta

.

.

. .

. .

. . .

. . .

. .

.

.

.

.

.

. .

.

10

I - CONSIDERAÇÕES ACERCA DO ESTADO CAPITALISTA . 14

11 - POLíTICA SOCIAL E SEGURO-DESEMPREGO ...••..• 24

111 - DESEMPREGO E SEGURO-DESEMPREGO NO BRASIL .•• 31

IV - O PROGRAMA DE SEGURO-DESEl-iPREGO: - AN1\LISE DAS PROPOSTAS CON~IDAS NO DECRETO-LEI N9 •..

2.284/86 . . . 72

V - AN1\LISE DO DESEMPENHO DO PROGRAMA DE

SEGURO--DESEMPREGO BRASILEIRO ..••..•••••••••••.••• 112

VI - CONSIDERAÇÕES FINAIS 140

(7)

págs.

TABELA 1

· . . .

. . .

. .

. . .

.

. . .

.

.

. . .

.

.

. .

. .

.

. . .

165

TABELA 2 166 TABELA 3

· .

.

. .

. . .

.

. . .

. .

. . .

.

. . .

.

. . .

.

. . . .

.

.

. . .

167

TABELA 4

· .

.

. . .

.

.

.

. . .

.

. . . .

.

.

.

.

.

.

. .

. .

.

.

.

.

.

.

168

TABELA 5 • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • a. 169 TABELA 6

.

.

.

. .

. . . .

. . .

.

.

.

.

.

.

. .

. . .

.

. . .

.

.

.

170

TABELA 7

. .

.

. .

. . .

.

.

.

.

.

.

.

.

. .

. . . .

.

171

TABELA 8

· . . .

. .

.

. .

. . .

.

.

. .

. .

.

.

. .

.

.

.

.

.

.

~

. . .

.

.

. .

173

TABELA 9

· .

.

. .

.

. . .

.

. .

.

.

.

. . .

.

.

.

. .

. .

.

.

. .

. . . .

.

174

TABELA 10

·

. . .

. . .

.

. . .

.

.

.

. . .

.

.

.

. .

.

. . . .

. . . .

. .

. . .

.

.

175

TABELA 11

· . . .

.

.

.

.

.

.

.

. . .

.

. .

.

.

.

.

.

.

. .

.

-

. . . .

.

. . .

176

TABELA 12

· . .

.

.

.

.

.

. . .

.

.

.

. . .

.

. . . .

. . .

.

. . . .

. . .

.

177

TABELA 13

·

. .

.

. . .

.

. .

.

.

. . .

. . .

.

.

.

.

.

.

. .

. .

. .

.

.

.

. .

178

TABELA 14

·

.

. .

.

. .

. .

. . .

.

. .

.

. . .

.

. . .

. .

.

-

. . .

.

.

. . .

.

.

.

179

(8)

O presente trabalho tem por objetivo tornar explicito o papel que o seguro-desemprego desempenha no con texto da sociedade brasileira.

Em funçio deste objetivo, a anilise do pr2 grama de seguro-desemprego, instituído através do Decreto--Lei n9 2.284/86, tem por fundamento a compreensao do mode lo de desenvolvimento econômico-social adotado no Brasil a partir da década de 30 e, mais particularmente, após 1964.

o

que se pretende demonstrar

é

que o alcan ce e os limites do seguro-desemprego, enquanto instrumento da seguridade social oferecida pelo Estado ao trabalhador brasileiro, só podem ser entendidos a partir da identifica çio dos caracteres essenciais do modo de produçio adotado

~

no Brasil e suas particularidades quanto a forma sob a qual se concretizou o processo de acumulação do excedente econo

-mico.

(9)

Esta análise conjuntural permite apontar as origens e a magnitude do fenômeno do desemprego, bem como, assinalar as razões históricas que levaram

à

adoção do segu ro-desemprego no Brasil, na forma em que hoje se

instituído.

encontra

o

desenvolvimento temático seguiu o seguinte roteiro lógico: num primeiro momento, a título de introdu ção, buscamos identificar o·problema, bem como justificar a relevância da análise proposta.

o

primeiro Capítulo destinamos ao tratamento do arcabouço teórico referente ao Estado capitalista, onde procuramos identificar a natureza orgânica desse Estado, bem como apontar suas contradições a partir do conflito ca pital-trabalho.

o

segundo Capítulo dedicamos a tarefa de ex plicitar o papel que a seguridade social cumpre no modo de produção capitalista, tendo sido destacada as especificid~

de do papel do seguro-desemprego;

é

dizer, objetivamos tor

nar cl~ra a importância do seguro-desemprego na determina

çao e manutenção das relações de produção no contexto cap! talista.

(10)

A análise conjuntural que deu ensejo a ado çao do programa de seguro-desemprego no Brasil, bem como o esclarecimento das principais propostas contidas no refe rido programa foram o objeto de estudo do quarto Capítulo. Neste sentido destacamos: forma de financiamento, valor do benefIcio, duraç~o e condiç6es~eacesso e habilitaç~o.

No Capítulo quinto apresentamos a análise dos dados coletados, referentes ao desempenho do programa em apreço, confrontando sempre os dados fornecidos pelos éE

g~os oficiais com outros fornecidos por órgãoes não ligados

diretamente ao Governo.

Por fim, dedicamo-nos às considerações fi nais, objetivando explicitar o estágio em que se encontra a discussão em torno do seguro-desemprego no Brasil, tendo co mo base de referência as novas perspectivas surgidas em função da promulgação da Nova Constituição.

A análise que ora apresentamos nao se pr~

poe a esgotar o tema objeto de estudo, mas, sim, contribuir para o avanço da questão referente ao seguro-desemprego em

~

(11)

INTRODUÇÃO

1 Identificação do Problema

Este trabalho procura questionar a problem~

tica da seguridade social oferecida pelo Estado brasileiro ao trabalhador involuntariamente desempregado. Esta probl~

mática, por sua vez, pode ser melhor entendida a partir de duas perguntas básicas: quais as razões que justificam a existência do seguro-desemprego na sociedade brasile~ra? e quais os condicionantes que atuam na determinação dos limi tes do programa de seguro-desemprego instituído através do Decreto-Lei n9 2.284/86?

o

problema que se coloca, pois, é até que

ponto o seguro-desemprego no Brasil atende as demandas dos trabalhadores involuntariamente desempregados, ou em outros termos, qual o alcance desse seguro na sociedade brasielira, marcada por altas taxas de desemprego.

o

primeiro passo necessário

à

explicitação

desse problema foi o de compreender o papel que o seguro--desemprego cumpre no Estado capitalista, enquanto programa de seguridade e instrumento da política social. Logo par~

ceu bastante claro que esse Estado contém em seu cerne uma contradi ação radical identificada na relação capital-trab~

(12)

pelos contornos conjunturais das correlações de forças poli tico-econômicas, dando ensejo a um pacto dinâmico da domin~

ção. Esta dominação, por sua vez, é exercitada através da combinação de dois elementos essenciais, a saber: o poder de polícia - o uso da coerçao - e a arte da negociação, que se traduz na obtenção da hegemonia.

A partir desta compreensao inicial foram des tacados alguns pontos temáticos fundamentais

à

explicitação pretendida. Assim, relevou-se o mo co de produção capitali~

ta e o processo de acumulação do excedente econômico que lhe é pertinente; causas estruturais do desemprego; o papel dos desempregados, enquanto "exército industrial de reser va"; ~, consequentemente, o papel da seguridade social e mais especificamente do seguro-desemprego, no contexto ~

so cio-econômico brasileiro.

Identificou-se, inicialmente, a natureza in trinseca do Estado capitalista enquanto ditadura de classe;

é

dizer, constatou-se que, nesse Estado, há uma dominação das classes detentoras dos meios de produção sobre as clas ses trabalhadoras. Essa dominação se explica a partir das relações de produção que têm por fundamento um processo de acumulação do excedente econômico.

(13)

Estado e a Revolução 1 , bem como na obra fecunda de Antonio Gramsci.

Compreendida a questão dos limites e compro missos de classe do Estado capitalista, passou-se a conside rar o papel que a política social nele cumpre, destacando--se a especificidade do seguro-desemprego. Neste sentido, a obra de Faleiros, A política Social do Estado Caoitalista .

..

As Punções da Previdência e da Assistência Sociais?, ser viu de arrimo e suporte conceitual.

Como resultante desse processo reflexivo foi possível identificar o duplo caráter assumido pela política social num contexto capitalista, a saber: por um lado repr~

senta um avanço, em função do aprimoramento do conceito da cidadania das classes trabalhadoras, e, por outro, signifi ca uma tentativa de recomposição e manutenção do status qUO,

à

medida que objetiva manter sob controle o conflito capi tal versus trabalho.

Esta concepçao também se aplica ao seguro-d~

semprego, visto que o mesmo faz parte do conjunto de instru mentos de política social. Por isso mesmo, identificou-se

lIflJrn, Vladimir Ilitch. O Estado e a Revo1U,Ção: o que ensina o mar xismo sobre o Estado e o papel do proletariado na revoluçao. Tradu ção revista e anotada por Aristedes IDbo; ~ ed., Sao Paulo, Hucitec-; 1978.

(14)

que o seguro-desemprego, numa sociedade capitalista, cumpre o papel de garantir ao trabalhador um minimo necessário a sua subsistência, e de sua familia, ameaçada pelo desempr~

go involuntário; visa, igualmente, a reabilitação e a mobi lidade da força de trabalho, bem como assegurar a

ção das relações de produção. 3

reprod~

Em relação ao referencial teórico que funda menta o presente trabalho monográfico vale ainda ressaltar a obra de Lúcio Kowarick, Capitalismo e Marginalidade na América Latina. 4 Nesta obra o referido autor constrói uma concepçao acerca do fenômeno da marginalidade nas socieda des latino-americanas a partir das formas de inserção no mercado de trabalho. Nestas sociedades duas sao as formas básicas desta inserção: uma consubstanciada no que prece! tua a lei e o direito, quer dizer, que conta com o reconhe cimento do Estado; e, outra, que é marcada por um caráter de informalidade no que diz respeito às relações trabalhis tas; é dizer, abrange o conjunto de trabalhadores

à

margem da lei e do direito, portanto, não reconhecidos enquanto c! dadãos. Assim, o conceito de margina1idade inclui' todos aqueles que participam do mercado informal de trabalho, bem como os trabalhadores que não conseguem participar de forma

3CHAFAD, José ~aulo Zeetano. Seguro-Des~o: lições qa história, os aSE§Ctos teoricos e ~spéCti vas @ra o Brasil. são Paulo, Insti t~

to de Pesquisas Fconômicas da Universidade de são Paulo, 1986. pp. 67-74.

4KOWARICK,. IDcio. capi talismo e Marg,inalidaCe na América Ia tina. 2~

(15)

alguma do mercado de trabalho como um todo, seja na sua ma nifestação formal, seja na sua informalidade. O desempre go, então, é considerado uma forma marginal de existência a partir da não inserção do trabalhador no mercado de traba lho.

No que diz respeito

à

sociedade brasileira, a obra supra citada sustenta a idéia segundo a qual a ocor rência de formas marginais de existência encontra razão de ser no modelo de desenvolvimento implementado no Brasil a partir da década de 30 e, incrementado a partir do golpe de 1964. Este processo desenvo1vimentista possuia uma cará ter retardatário e dependente, articulando dois pólos econo micos distintos, um moderno e outro arcaico, sob uma mesma

lógica estrutura1. 5

A partir deste arrazoado identificou-se três fatores estruturais desse modelo que justificam a existên cia do desemprego na sociedade brasileira, a saber: a utili zação de tecnologia poupadora de mão-de-obra nos setores di nâmicos da produção; crescimento populacional elevado; e a concentração populacional nos centros urbanos, via êxodo ru ral. 6

5t; impJrtante destacar igualmente a contribuição de Fernando Henrique cardoso para o entend:iJrento dessa lógica estrutural, através da sua obra intitulada Poli tica e Desenvol virrento em Sociedades· Dependentes; Ideolog:ias do ert1!2Eesârio argentino e brasileiro. 2q. ed., Rio de Jane.:!:. ro, 1978.

~stes fatores estruturais se encontram articulados no Capitulo 111 des

(16)

Esse quadro estrutural gerou, e garantiu, a existência de altas taxas de desocupação da força de traba lho no Brasil (Tabelas 7 e 9).7 Esta constatação, por outro lado, permite inferir que o fenômeno do desemprego no Brasil

é uma das muitas variáveis do modelo desenvolvimentista ado tado nesse país; isto significa dizer que o desemprego nao deve ser visto simplesmente como uma anomalia ou um anacro nismoi ao contrário, ceve ser considerado corno parte inte grante da estrutura do referico modelo.

Identifica-se, a partir desta constatação, a necessidade de combater os males causados pelo desemprego ao trabalhador brasileiro, à medida que passa a nao interessar às classes dominantes a exacerbação destes males, notadamen te em períodos de desaquecimento da economia.

Este combate seria viabilizado pela aGoção de um programa de seguro-desemprego - medida largamente uti

7A medição da amplitude do desemprego no Brasil sofre um tratamento bas tante diferenciado, dependendo do conceito que se considere para cara~

terizar o fenômeno. Neste trabalho são considerados dois desses concei tos: De~reg:o aberto - "consideram-se CCI'OC> pessoas desocupadas aqu~ las que nao tinham trabalho na semana de referência, mas estavam dispo.§.. tas a trabalhar e que, para isto, tomaram alguma providência efetiva para conseguir trabalho (na semana de referencia ou no período de ref~

rência de 30 dias, o:mforme o período considerado" (conceito amplamente utilizado pela FIEGE - Fundação Instituto Brasileiro de Geografia e E~

tatistica) i DeselT!Pre<F tetal - considera desempregado tanto o indivíduo

que não conseguiu um novo trabalho, cano aquele que conseguiu um tr~

lho, mas não um emprego, e desej a retornar à oondição de empregado, em outras palavras,

é

a SCXPa total do desemprego aterto mais o subemprego

00 desemprego disfarçado, no perlcdo considerado (concei to empregado ~

(17)

lizada e aprovada no plano internacional. No entanto, no ca so brasileiro a adoção de tal programa foi retarcada em fun ção da conjuntura econômico-política, a qual garantiu um tra tamento secundário as questões sociais por parte do Estado

werCapítulos 111 e IV desta monografia}.

AO ser adotado em março ce 1986, o seguro-d~

semprego representou um avanço ao tratamento da questão da seguridade social oferecic.a pelo Estado ao trabalhador brasi leiro. No entanto, seu alcance ainda se mostrou muito limi tado frente

à

dimensão que o fenômeno do desemprego assume no Brasil.

.Portanto, o problema que se pretende equacio nar, através deste trabalho é o porquê da existência do segu ro-desemprego na sociedade brasileira e em que medida este seguro atende a demanda dos trabalhadores desempregados, le vando em conta o que estabelece o Decreto-Lei n9 2.284/86.

2 Alcance da Proposta

A delimitação da proposta de trabalho que ora .apresentamos foi urna tarefa que se definiu ao longo de seis meses de reflexão.

A princípio havia a intensão de estudar a política social no Brasil. Tão logo se iniciou o levantame~

(18)

grande abrangência; dai a necessidaQe de se limitar o obj§: to de estudo a urna das suas áreas de atuação.

Neste sentido destacou-se a seguridade so cia1. Ao longo das leituras que se sucederam, releVou-se a problemática da seguridade social oferecida pelo Estado ao trabalhador brasileiro involuntariamente desempregado. En tão, chegou-se a definição do título deste trabalho monQgr~

-fico - "Análise de um Programa de Seguridade Social no Bra si1: - O Caso de Seguro-Desemprego".

paralelo ao processo de definição temática havia urna preocupaçao em eleger o tipo de pesquisa a ser de senvo1vida e a metodologia a ser utilizada. Através do tra balho de orientação destinado ao autor por sua Diretora de Estudos - Professora Ana Maria Bernardes Goffi !-1arquesini, estas questões foram equacionadas.

Decidiu-se que a pesquisa seria tão-somente de natureza bibliográfica e documental, por parecer ser esta a opção mais apropriada, levando-se em conta o que se defi niu enquanto problema a ser estudado.

(19)

sa documental, a obra de Chahad S foi da maior relevância por facilitar a tarefa de identificação dos principais instrume~

tos jurídicos que tratam da matéria a que se destina esta mo nografia.

Um outro limite importante foi o de restrin gir o tratamento da questão a análise do Programa de Seguro--Desemprego proposto e implementado pelo Governo a partir de 1986; esta análise diria respeito ao desempenho que este Pro grama obteve nos dois primeiros anos de execução.

A fim de facilitar a coleta de dados, resol veu-se eleger são Paulo como ponto fulcral de análise no que diz respeito

à

identificação dos elementos constitutivos da conjuntura sócio-econômica, notadamente aqueles ligados a qualidade de vida das classes trabalhadoras. Esta escolha, no entanto, não impediu que se trabalhasse com dados mais g~

rais e abrangentes.

Ainda em relação a este fator, pareceu pert! nente a confrontação entre os dados apresentados por órgãos oficiais - FIBGE e Ministério do Trabalho - e aqueles forne cidos por órg~os não ligados diretamente ao Governo - DIEESE

8CHAHAD , José Paulo Zeetano. Seguro";'Desenpn::go: lições da .

a~tos teóricos e perspectivas P§Ea o Brasil. sao Paulo, de Pesquisa Econômicas da Universidade de Sao Paulo, 1986.

(20)

e IBASE. 9 Esta confrontação permitiria uma apropriação mais aproximada dos resultados obtidos pelo Programa de Seguro-D~

semprego no Brasil.

Através da delimitação temática, tendo por fundamento as três variáveis já identificadas (natureza da pesquisa, tempo e espaço geográfico) delineou-se a presente proposta e o seu alcance.

Esta proposta consiste fundamentalmente em promover uma análise explanatória, de cunho histórico', acer ca dos limites e do desempenho do Programa de Seguro-Dese!!!. prego brasileiro, indicando suas principais deficiências e necessidades de aperfeiçoamento.

9FIBGE - Fundação Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística. DIEESE - Departarrento Intersindical ce Estatística e Estudos SÓCio-Eco

nêmicos; .

(21)

I - "Cm'!SIDERAÇOES ACERCA DO ESTADO CAPITALISTA

A reflexão sobre o seguro-desemprego no Bra sil requer, como ponto de partida, a compreensão do caráter radical que a política social assume no âmbito do Estado ca pitalista, em sua generalidade essencial;

é

dizer, a compr~

ensão da lógica estrutural deste Estado permite identificar os papéis representados pela política social na determinação das múltiplas relações que se plasmam no seio da sociedade. A partir deste quadro, torna-se viável a descrição analítica do seguro-desemprego, e, mais particularmente, do seguro-~~

semprego no Brasil.

o

Estado, em sua constituição moderna,aprese~

ta~se embasado em tr~s elementos primordiais, a saber: poder

político, povo e território, donde se pode, segundo Gruppi, defini-lo como sendo: "um poder político que se exerce sobre um território e um conjunto demográfico".IO

Desde logo se percebe que este poder políti-co nao opolíti-corre num vácuo social; ao políti-contrário, enpolíti-contra sua

g~nese explicativa na interação das forças sociais, na esfe ra produtiva.

IOGRUPPI, Luciano. Tudo canecoucom Maguiavel (l-s conc€.ts'õesde Estado

"em Marx, Engels, Lêrlln e Gràrnsci). sç. ed., Porto Alegre, L B, PM, 19B5,

(22)

o

modo de procurão capitalista caracteriza --se por uma estratificação sócio-econômica que se consubstan

cia na polarização proprietários - não proprietários. Em o~

tros termos, as classes fundamentais deste modo de p~odução

sao: a burguesia e o proletariado.

o

Estado Capitalista, seguindo este referen cial, representa a síntese da interação conflitiva que se estabelece num dado momento entre as classes, componentes do tecido societal. Esta concepção se encontra brilhante -mente articulada por Engels:

"O Estado i ( ... ) um produto da so-ciedade em um estado determinaco do

~desenvolvimento; i o testemunho

de que esta sociedade se envolve nu ma contradição insolúvel com ela pr§. pria, tendo-se cindido em contradi-ções inconciliáveis que não pode r~

solver. Mas a fim de que os antag~

(23)

_ " 11

mais estranho e o Estado .

o

Estado apresenta-se, então, como UM inter mediador dos conflitos inter e intraclasses sociais. Esta observação nos remete necessariamente ao questionamento a-cerca da origem desses conflitos. Tais conflitos encontram sua razao de ser nas relações de produção, quer dizer, na estrutura econômica sobre a ~ua1 se erige a dinâmica

sócio-~jurídica de urna dada sociedade. Esta dinâmica, por sua ve4 encontra no jogo de forças políticas o canal apropriado p~ ra sua expressa0 e reprodução. Corno observa Marx: "o con-junto dessas relações de produção constitui a estrutura eCQ nômica da sociedade, isto

é,

a base real sobre a qual se 1~

vanta urna superestrutura jurídica e política, à qual corres pondem f'ormas determinadas de consciência

socia1,,~2

Da trama destas determinações pode-se apree~

der a relação interdependente e interativa que se estabe1~

ce entre a sociedade política - Estado no sentido restrito-e a socirestrito-edadrestrito-e civil.

A dicotomia sociedade política - sociedade civil deve ser entendida tão-somente como um recurso ana1í

~GELS,

FrEderick.

~igern

·da família da propriEdade Erivada e do

Estado, 6~ ecl., a lema , pp. 177-178. in: rrnll!, W.I. O Estado e a Re-v01uçao, Lisboa, Editora Terra1usa, 1977, pp. 8-9.

J2M1\RX, Karl. Contribuição para a crítica da Econania PoHtica. Rema,

(24)

tico que possibilita uma melhor compreensao da composição orgânico-estrutural do Estado. Não pode ser interpretada co mo uma divisão estanque, quer dizer, radical. Em outros ter mos, quando se fala em Estado numa totalidade concreta ob-têm-se irremediavelmente o somatório sincrético dos e1emen-tos que acima se encontram separados. Desta forma, torna-se possível compreender a concepção gramsciana de ampliação do Estado, isto é, Estado integral (sociedade política + socie dade civil).

Buci-G1ucksmann, comentando o modelo concei-tua1 acima descritQ,afirma:

"O Estado integral pressupoe a to-mada em consideração do conjunto dos meios de direção intelectual e moral de uma classe sobre a socie-dade, a maneira como ela poderá r~

a1izar sua 'hegemonia", ainda que ao preço de 'equilíbrios de comprQ misso', para salvaguardar seu prQ prio poder político, particularme~

te ameaçado em períodos de

crise,,~3

O Estado, então, ao representar um dado pa~

to de dominação, fá-lo em nome da classe dirigente, que as

(25)

sume um caráter hegemônico na correlação de forças, determ! nando as regras do jogo polItico-instituc{onal. Desta for ma, pode-se identificar dois aspectos essenciais desta do minação, a saber: a ditadura de classe - exercida pelo ap~

relho de Estado, na sua configuração coercitiva, e a heg~ monia de classe - consubstanciada em toda ação educativa, quer dizer, forjadora de formas de consciência coletiva, a través de processos de socialização.

de Gramsci:

Neste sentido,

é

bastante claro o pensamento

"O Estado é todo conjunto de ativi dades teóricas e práticas com as quais a classe dirigente justifica e mantém não somente a SUR domina-çao, mas também consegue obter o

" 14 consenso ativo dos governados .

Através deste construto teórico, chega-se a concepçao de que o Estado em sua essencialidade fenomenoló-gica é hegemonia revestida de coerção. Ora, hegemonia e coerção apontam irremediavelmente para as contradições radi cais que se estabelecem na sociedade, em sua reprodução ~s

tencial, sendo estas mesmas o "ethos" do fenômeno estatal , como anteriormente se apontou.

(26)

o

Estado, portanto, apresenta-se como uma moe da de dupla face: sociedade política e sociedade civil. A

sociedade política - Estado'no sentido estrito - det~m o ca riter ditatorial, atrav~~ da aç~o coercitiva do seu

lho institucional (ex~rcito, administraç~o, polícia,

apare-tribu nais, etc.). A sociedade civil, por seu turno,

é

o lugar on de se viabiliza concretamente a hegemonia, através dos ap~

relhos culturais, polIticos~ econ5micos; é o Estado enquan-to organizador do consenso marcado por uma direção de clas-se.

Poulantzas traduz seu pensamento acerca des ta estrutura, na seguinte afirmação:

"

o Estado apresenta uma

ossatu-ra material própria que nao pode de maneira alguma ser reduzida

à

sim-ples dominaç~o política. O apare -lho de Estado, essa coisa de espec~

aI e por conseqüência temIvel, nao se esgota no poder do Estado. Has a dominação polItica esti ela pró-pria inscrita na materialidade ins titucional do Estado. Se o Estado

n~o ~ integralmente produzido pelas classes dominantes, não o é também por elas monopolizado: o poder do Estaco (o da burguesia no caso do Estado capitalista) está

nesta

materialidade"~5

inscrito

(27)

Destaca-se, daí, a identificação da luta de classes se processando dentro da esfera material do Estado. É dizer, o Estado não pode ser visto como um poder acima ou fora do alcance da sociedaee civil; ao contrário, sua confi guraçao estrutural e seu funcionamento representam um qua-dro conjuntural das correlações de forças entre os diversos atores sociais, sejam eles a igreja, os sindicatos, os paE tidos, etc ..

o

Estado, portanto, é palco de lutas; apre-senta-se como possibilidade concreta ce conquistas políti-cas, sociais e econômicas. Sendo assim, passa a interessar às classes antagônicas a ocupaçao de espaços dentro da sua ossatura material.

o

esboço teórico até aqui desenvolvido perm~

te identificar as seguintes caracteristicas fundamentais do Estado Capitalista:

. Demonstração inequivoca da contradição ra dical entre o capital e o trabalho; em outras palavras, él

existência do Estado Capitalista evidencia o confronto en-tre os interesses das classes dominantes e os desejos das classes dominadas. Estas classes 1utam entre si guiadas por motivos antagônicos e mutuamente excludentes. Por um lado,

(28)

isto possibilita a remuneraç.ao do capital, através da manu tenção ou ampliação da taxa média de lucro. Por seu turno, ao proletariado convém que se estabeleça como critério val~ rativo prioritário uma eqüitativa distribuição dos rendime~

tos excedentes obtidos; ou sej~, que a noção de justiça so cia1 se amplie e ganhe maior espaço na concreta ação do Es-tado.

• O Estado Capitalista, em função de tais con tradições, possui um caráter ditatorial exatamente por ser um órgão de dominação de classe, um órgão de opressão de uma classe por outra; é a instância reguladora dos confli-tos, através do. seu poder discricionário, que se manifesta na criação de uma ordem institucional que viabi1iza e afian ça esta opressão .

• Este caráter ditatorial nao pode ser vist~

no entanto, sob uma ótica deterministica imutável. Ao con trário, esta essência só pode ser entendida através de um esforço ana1itico de depuração que ~estrua a "pseudo-concr~

16

ticidade" deste Estado. O que se quer relevar é o fato de que o Estado Capitalista,ao se configurar em uma esfera de

r6

0 conceito. do real enquanto totalidade concreta, dialeticamente

arti~

1ada, passa necessariarrente pela destruição da aparência fetichizada do fenâneno. Tal conceito se encontra ricarrente desenvolvido por KOSIK, Karel in olDialético do concreto'; trad. Célia Neves e Alderico Toribiq

(29)

poder, consubstanciado em um aparato material e burocráti co, tende a se descolar da sociedade civil, dando uma fala ciosa aparência de órgão independente e autônomo em relação ao jogo de interesses conflitantes, anteriormente apontado. Na verdade este Estado é palco ce lutas constantes, sendo ao mesmo tempo reflexo da interação das forças antagônicas e intermediador dos conflitos, mantendo-os dentro dos parâ-metros garantidores das vantagens que as classes dominantes detêm.

. Da afirmação anterior .c~corre o entendimen to do movimento dialético que perpassa a existência do Esta do Capitalista. Enquanto palco de lutas é arena de vitóri as e derrotas, avanços e recuos. PodeI por isso mesmo, ser interpretado sempre sobre duas dimensões,a saber: a dos opressores e a dos oprimidos. Em função deste movimento, deste vir a ser constante, passa a interessar, às classes sociais em confronto, a ocupação de espaços estratégicos dentro da esfera institucional deste Estado.

(30)

damente burguesa, contendo conflitos em seu interior, care cendo de alianças que viabilizem um equilíbrio, um acordo. O fato i que "nio se pode pensar apenas em uma classe econo micamente dominante que se torna tambim politicamente domi nante ignorando as contradições entre as frações da classe dominante e as alianças que sao necessárias para consolidar esse poder político".17

(31)

11 -POL!TICA SOCIAL E SEGURO-DESEMPREGO

A questão da seguridade social num contexto capitalista se inscreve na pauta de direitos sociais contem pIados na concepção de cidadania. Esta concepção, por sua vez, deve ser entendida como um contrato social plasmado nas múltiplas relações de forças, tendo como essência o modo de produção. O que se pretende afirmar é que a idéia de cida dania é construída principalmente a partir do processo ,prod~

tivo e de sua historicidade.

Dentro desta dinâmica, a cidadania no mundo feudal contemplava tão-somente um conjunto de direitos ci vis, sendo estes restritos aos senhores. Através dos "ven tos" liberais da Revolução Francesa, o conceito de cidada nia se amplia, absorvendo alguns direitos políticos, mas guardando, ainca, um caráter elitista e excludente; a inclu são dos direitos sociais na idéia de cicadania só

no século XIX na Europa, a partir das grandes ções geradas pela Revolução Industrial. 18

ocorreu transforma

(32)

Com base no quadro sintético acima exposto podemos afirmar que os avanços do conceito de cidaàania fo ram fruto das lutas sociais, econômicas e políticas que se travaram ao longo dos anos, entre forças antagônicas (c la.§. ses sociais).

Consideramos, então, que os direitos sociais foram uma conquista das classes trabalhadoras, em suas lu tas contra as classes dominantes.

Há que se fazer menção, no entanto, a contra dição que permeia a aplicação dos direitos sociais no modo de produção capitalista. Esta contradição consiste no fato de que as políticas sociais no Estado Capitalista represe~

tam, concomitantemente, um avanço para as classes trabalha doras e uma tentativa de recomposição da reprodução do cap~

tal, da força de trabalho e das relações de produção, para as classes dominantes, detentoras dos meios de produção.

A contradição referida é identificada por Fa leiros na seguinte afirmação:

"As políticas sociais conduzidas,h~

(33)

mesmo tempo contribuem para a repr~ dução das classes sociais".19

As políticas sociais, portanto, respondem a duas linhas de determinação simultâneas e articulacas, a saber: a necessidade que o Estado Capitalista enfrenta ce dar uma resposta política à crescente mobilização das elas ses trabalhadoras, por um lado, e, por outro, as próprias . exigências do processo de acumulação, ou seja, a necessida

de de garantias mínimas para a produção e reprodução da fo~

ça de trabalho, ameaçada pela exploração selvagem que lhe

é

imposta pelo capital. 20

A seguridade social também se inscreve no contexto contraditório acima colocado. Significa dizer que, se os seguros sociais, por um lado, sio respostas às reivin dicações dos trabalhadores, por outro, servem aos interes ses dominantes ao contribuir para a obtenção do consenso, quer dizer, de um pacto hegemônico favorável ao capital. As sim:

"Os seguros socia~s contribuem para a produtividade, para o 'capital hu 19pALElROS, Vicente de Paula. A Po1íticct SOcia1do:Cstadocapitalista.

As Funções da Previdência é da' Assistência Sociais. 4<: ed., Sao Pau lo, Cortez, 1985, p. 41.

200 papel das politicas sociais no Estado capitalista se encontra bem articulac:o por Jaime Antonio de Araújo Oliveira - Política Social, Acumulação e Legitimidade; Rio c.e Janeiro, Revista de Adrnini~tràção

(34)

mano', na linguagem liberal, para a socialização dos custos de reprod~

ção da mão-de-obra, para o estímulo ao consumo (sobretudo em período de crise) e para a capitalização".21

Os seguros sociais, portanto, representam um avanço com uma dupla face: a recomposição e a superação. Es tas faces se combinam em função das correlações de forças que se forjam numa dada conjuntura social, sendo prevale~

tes ou nao de acordo com a dinâmica e a estrutura desenvol vidas. Em outras palavras,

ha

um jogo de equilíbrios inst~

veis, ou seja, de permanentes variaçoes, que exige constan tes negociações e reajustes, no pacto de dominação propo~

to.

O seguro-desemprego, dentro dasta perspectiv~

pretende garantir ao trabalhador um mínimo necessário à sua subsistência, ameaçada pelo desemprego involuntário; visa igualmente a reabilitação e a mobilidade da força de traba lho, bem como assegurar a reprodução das relações de produ ção. Assim, o seguro-desemprego contribui não só para a re produção da força de trabalho, mas também para recriar o lu gar que a classe trabalhadora ocupa no sistema produtivo.

(35)

-desemprego:

Chahad assim conceitua a questão do

seguro-"Um programa de seguro social exis tente para compensar o trabalhador que tem seu fluxo de rendimento in ter rompido pela ocorrência de dese~

prego involuntário •.• A ênfase re cai, então, sobre o pagamento de be nefícios e proteção aos trabalhado res e não propriamente num programa que implique em evitar o desempr~

go".22

Observa-se, portanto, que o seguro-desempre-go favorece a manutenção da lógica capitalista por se corre lacionar com o processo de acumulação. Neste sentido desta cam-se duas dimensões nas quais atua o seguro-desemprego obedecendo aos interesses do capital, a saber:

• Ao rebaixar custos de reprodução da força de trabalho e ao manter ou elevar a sua produtividade.

• Ao viabilizar a manutenção dos níveis de demanda, quer dizer, ao propiciar um equilíbrio no volume de consumo.

22 CHAEAD, Jose Paulo Ze.etano. . - ~ctos ~C<?.!1anicos - -c1.a Implantacao . de

(36)

Por tudo isto, pode-se afirmar que o seguro--desemprego no âmbito da sociedade capitalista interessata~

to à produção quanto ao consumo, no que diz respeito às de terminações econômicas.

Pode-se considerar, então,

aue

o seguro-d~

semprego representa um instrumento da política social, ass~

mindo um papel relevante na produção e reprodução das múlti pIas relações contraditórias inerentes ao Estado Capitali~

ta. Ao contribuir para o rebaixamento do custo de reprodu çao da força de trabalho, interessa ao Capital; ao garantir um mínimo necessário à subsistência do trabalhador involun tariamente desempregado, atende a interesses das classes trabalhadoras. Por outra via ,ao favorecer o consumo, obed~

ce a interesses das classes dominantes e das classes domina das, concomitantemente.

o

que se quer, enfim, ê chamar a atenção p~

ra o fato de que o papel precominante que o seguro-desempr~

go desempenha no seio da sociedade capitalista depende do grau em que se processa a lut~ política pela ocupação de es paços que representam esferas de poder, que por sua vez ma~

têm estreitas correlações com as formas concretas de prod~

(37)
(38)

III -DESEMPREGOESEGURO-D?SI:MPREGO t!O BRASIL

Nos capItulos anteriores procurou-se identi ficar a essencialidade do Estado Capitalista e o papel que a seguridade social cumpre no contexto das relações de pro dução. Destacou-se, ainda, as funções desempenhadas pelo

seguro-desemprego, levando-se em conta as determinações cio-econômicas desse Estado.

~

so

A partir do modelo conceitual até aaui desen volvido, pretende-se apontar as origens e a amplitude

c.o

fe nômeno'C:o_desemprego e.a repercussão que ele assume na socieda de brasileira, para o que o entendimento da dinãmica capit~

lista adotada no 3rasil pós-64 será a~so~.utamer:te I".eçessa ~ rio. A expectativa é que esse esforço analítico permita vislumbrar as raIzes históricas do seguro-desemprego no Bra silo

o

desemprego, entendido como uma situação em que o indivIduo, apto para o trabalho, deseja trabalhar,mas nao encontra lugar no mercado de trabalho em virtude do de sequilIbrio entre a oferta e a demanda globais de emprego numa sociedade, é fenômeno merecedor da mais ampla reflexão, posto que complexo.

(39)

isto significa que as origens do desemprego estão vincula-das ao processo produtivo desencadeado pela adoção do siste ma capitalista como forma precominante de reprodução materi aI e cultural.

Essa assertiva encontra explicação no fato de que o sistema capitalista possui como fundamento a des -vinculação entre o trabalhador e os meios de produção. Esta dicotomia, por sua vez, requer a existência da divisão téc nica do trabalho, ou seja, a separação entre trabalho manu aI e trabalho intelectual ou, ainda, a distinção entre quem executa e quem planeja as tarefas, dentro da esfera produt~

va.

Orar tal quadro hist6r~co aponta para a ex-propriação das classes trabalhadoras r levando-se em conta

que sob O regime artesanal de produção os trabalhadoreseram

detentores dos meios de produção,

é

dizer, possuíam as fer ramentas e equipamentos e detinham o poder discricionário so bre o processo produtivo.

Evidentemente há uma incompatibilidade radi cal entre o modo artesanal e o modo capitalista de produçãn Esta incompatibilidade diz respeito a quem deve deter o p~

der sobre os meios de produção e sobre o processo produtiv~

(40)

danças ocorridas na organização da produção sob a égide do capitalismo na seguinte afirmação:

pode-se dizer que a modernQ socied~

de industrial caracteriza-se pela ausência de uma associação permaneg te entre o trabalhador e os meios de produção. A atividade produtiva que se estabelece entre os trabalhado -res e os proprietários tem como ba se contratos expressos em termos mo netários e com vigência determinada ou nao. ( . . . )

Assim, com o advento do capitalismo e da moderna sociedade urbano-indus trial, o desemprego surge como um produto 'natural', representando a alienação do individuo dos seus meios de proc.ução ou da relação de "prod~

23 ção que prevalece na sot:iedade".

o

que se pretende dest2car é o fato de que s~

(41)

mente com o advento do capitalismo o homem, na qualidade de trabalhador, passa a ser "livre, quer dizer, passa a pos-suir tio-somente sua força ~e trabalho, e v~-se obrigado,por isso mesmo, a vend~-la, no mercado, a quem detém o poder so bre os meios de produçio, a saber, as classes burguesas.

Um novo paradigma surge com o modo de prod~

-çao capitalista, a saber: o compromisso com o aumento da pr~

dutividade e com a diminuição dos custos operacionais. Este compromisso, por sua vez, possuía como finalidade última, a obtenção do lucro, que seria acumulado, sendo essa acu~ula -ção a mola mestra do desenvolvimento das relações produ ti-vas, isto é, garantidora de novos investimentos.

Em função dessa premissa básica, a divisão social e técnica do trabalho se tornou um imperativo, enqua~

to fator necessário

à

racionalização do processo produtivo,

à

medida que representou a repartição dos ofícios, baratean-do os custos referentes

à

reproduçio da força de trabalho.

(42)

Pode-se apreender, então, que a divisão do trabalho atinge, no Capitalismo, um duplo objetivo: contri bui para a diminuição dos custos relativos

à

força do trab~

lho - por aumentar a produtividade e/ou por diminuir os ga~

tos com a reprodução do fator trabalho, e, relativiza a im portância do trabalhador, enquanto indivíduo,ao coletivizar 24 a produção, diminuindo, com isto, seu poder de barbanha.

Tem-se, portanto, o trabalho como fruto de uma açao humana coletiva e social, convivendo com um proce~

so privado de apropriação dos resultados com ele obtidos.

Braverman, analisando a divisão técnica e so cial do trabalho no capitalismo, afirma:

..

A divisão social do trabalho divide a sociedade entre ocup~

ções, cada qual apropriada a cer to ramo de produçãoia divisão por menorizada do trabalho destrói o cupações consideradas neste sentl do, e torna o trabalhador inapto a acompanhar qualquer

compléto de produção •

processo

••. Enquanto a divisão social do trabalho subdivide a sociedade, a divisão parcelada do trabalho sub divide o homem, e enquanto a sub divisão da sociedade pode fortal~

cer o indivíduo e a espécie,a su~

(43)

divisão do individuo, quando efetu~

da com menosprezo das capacidades e necessidades humanas,é um crime con tra a p~ssoa e contra a

de".25

humanida

Essas observações acerca da divisão do trab~

lho permitem identificar uma contradição bastante evidente. Trata-se do confronto entre os interesses próprios da acumu lação e os interesses da socialização dos 0ividendos adqu~

ridos pela racionalização do trabalho e da produção. De for ma muito especial interessa-nos a explicitação desse dile ma, posto que nos permite apontar as raizes do desemprego nos países capitalistas, de um modo geral, e, em particular, no Brasil.

Desenvolvendo melhor esta problemática, dep~

ra-se com a questão da inserção da força de trabalho no sis tema produtivo. Isto, por sua vez, nos remete ao fato de que é o processo de acumulação auem determina as formas des ta inserção.

A contradição acima citada ocorre em função de que, por um lado, o modo de produção capitalista, ao pr2

(44)

pugnar pela redução de custos operacionais, dentre estes os custos referentes à força de trabalho, o faz sob a ótica da utilização mínima do conjunto dos fatores produtivos;· isto significa dizer, naquilo que nos-interessa, que a aplicação de técnicas e da tecnologia tem como fundamento primordial a potencialização da produtividade, concorrendo para res-tringir a utilização da força de trabalho em larga escala.

A restrição da oferta de emprego nas socieda des capitalistas já seria grave, independentemente de qual quer outro fator adicional; não obstante, vem a se tornar mais dramática em sociedades que ainda possuem altas taxas de crescimento populacional e/ou baixa qualidade de vida no campo. Nesses casos, o efeito demonstrativo que o modo de vida urbano exerce sobre o homem rural promove, via de re-gra, uma tendência à existência de um fluxo migratório, con

tribuindo para o crescimento absolutamente desordenado e caótico dos grandes centros, das grandes cidades.

Na periferia desses grandes centros urbanos formar-se-ão bolsões de po~reza absoluta, constituídos por amplos espectros de marginalidade, gerando, em última ana , lise, aquilo que se convencionou denominar de exército in-dustrial de reserva.

(45)

"É conhecido que o modo de produção capitalista, malgrado as diferenças existentes de pais para pais, traz dentro da sua própria lógica um cog junto de mecanismos que originam maE

ginalidade - mecanismos que se ex-primem, de modo particular, na cri~ çao de desempregados e subemprega -dos e em última instância na forma-ção do exército industrial de reser

" 2.6

va .

A formação deste exército de reserva, por sua vez, cumpre um duplo papel funcional no modo de producão ca pitalista; por um lado, serve ao capital nos momentos de sua expansão, quando parte de seu contingente é colocado em pontos estratégicos, sem prejudicar a escala de produção nos demais ramos da economia; por outro, serve, enauanto massa de pressão, no sentido de reduzir os salários pagos aos tr~

balhadores da ativa, quer dizer, que já possuem um lugar no mercado formal de

trabalho.~7

.

Entendido o fen5meno do desemprego enquan~

exclusão e alienação dentro da dinâmica do capitalismo, p2~

saremos a refletir sobre as origens do seguro-desemprego, é dizer, buscar-se-á entender como surgiu a idéia de proteção

26KOWARICK, LÚcio. Canitaliffilo e marqinalidade na América Latina,

2~

(46)

ao trabalhador involuntariamente desem~regado.

Evidentemente essa questão remete-nos à

ve-~ha discussão sobre o papel do Estado nas esferas econômica e social; ou, se preferirmos, ao confronto entre as corren tes liberalizantes e o pensamento intervencionista.

-Por razoes bastante conhecidas o Estado foi, cada vez mais, sendo chamado a participar de forma ativa nas questões econômico-sociais. De uma forma sintética podemos inferir que tal quadro se deveu às necessidades de reajust~

mento que o modelo de produção capitalista apresentou ao longo do seu desenvolvimento e a partir das contradições por ele mesmo suscitadas.28

Quanto a questão que nos interessa mais espe cificaménte, é dizer, o desemprego, a sua manifestação peE manente e em escala significante determinou a atuação do E~

tado, no sentido de atenuar seus efeitos delet~rios sobre o conjunto da sociedade. Chahad 29 aponta a existência

cé :

duas

28 A questao Ol trataoa e orma tangencla por nao azer par e o - f ' ' d f ' 1 - f t d ' eJ.-xo central ao qual o trabalho se dedica. No entanto, ela se encontra brilhantemente analisada por Karl Polanyi em sua obra liA qrande trans-forma.ção;· as. origens da nossa épçx:a. Rio de Janeiro, Editora Campu::,. 1980.

29

~

-

,~

,

-- CHAHAD, Jose Paulo Zeetano. Seguro-des§!llPrggo: liçoes da hlstorla,a.§.

(47)

formas distintas de combate ao problema do desemprego: a primeira, ·prevencionista, pressupunha o combate ao desemplS'~

go atravé~da criação de uma rede de agências de emprego i a

segunda, por seu turno~ adotava o pagamento de um benefício em espécie para o trabalhador involuntariamente desemprega-do: um seguro-desemprego compulsório, financiado pelos tra balhadores, empresários e Estado.

A consolidação do seguro-desemprego como for ma predominante de combate ao fenômeno do desemprego_se ve rificou em função de três causas fundamentais, a saber: em primeiro lugar, pelos desníveis conjunturais entre a oferta e a demanda de emprego,' já anteriormente mencionadosi em se gundo lugar, como conseqüência das pressões exercidas pelas classes trabalhadoras, constantemente ameaçadas por dispen-sas aleatórias i e, por último, pela necessidade' da.ação

preventiva do Estado, no sentido de assegurar a manutenção do status guo, coetâneo do pacto de dominação inerente a sociedade capitalista. 30

Pode-se, ainda, afirmar que entre as razoes que ensejaram a adoção do seguro-desemprego nos países eur2 peus no início do presente século, destacam-se: as falhas do seguro-desemprego voluntárioi a ampliação da indústria co mo atividade econômica prevalentei a ampliacão do mercado formal de trabalhoi a manifestação do desemprego enquanto fenômeno nacionali crises econômicas fortes e freqüentes; e

(48)

a consciência da responsabilidade do Estado na questão do desemprego. 3·1

o

que se pode verificar hoje no contexto mun dial é uma ampla aceitação do seguro-desemprego enquanto ins trumento da política de seguridade social promovida pelo Es tado. As restrições que lhe são imputadas não se referem a uma tentativa de negá-lo ou extingüí-loi ao contrário, tais críticas sempre obedecem a um sentido de aprimoramento de sua aplicação.

A adoção de programas de seguridade social, e dentre estes do seguro-desemprego, nas economias ditas p~

riféricas, quer dizer, de industrialização retardatária, tem sido uma conquista recente por parte das classes trabalhado-raso Isto se deve, em parte, ao caráter específico das re lações de dependência que se estabeleceram ao longo dos anos entre ~

os palses ricos anteriormente industrializados e es

~

periféricos por outro, , correlações de for

ses palses e, as

forjaram no interior desses ~ entre os di

ças que se palses

versos atores sociais, tais como: a igreja, os sindicatos, os partidos, o Estado - enquanto sociedade política organiz~

32 da, etc ..

3lver CHAHAD, José Paulo Zeetano. Aspes:tos Econômicos da J:ITplantação de um s.esru:r0-Des~r~o. 2~ Parte: A história, os objetivos e os . aspectos teóricos do seguro-des~rego. Sao Paulo, Instituto de Pe~

quisas F.conânicas da Universidade de Sao Paulo, 1985, mimeo.

3~er CAROOSO, Fernando Henrique. Política e Desenvolvirrento Em Socie

. dade Deperrlentes: Ideologias do empresariado argentino e·

(49)

A compreensão GR atuação do Estado na esfera da seguridade social passa necessariamente pela explicita -ção do modo como se concretizou o processo de acumula-ção em cada economia, em cada país.

Nas economias latino-americanas, por exemplo, este processo se solidificou numa estrutura que procurou,via de regra, conciliar formas modernas e formas tradicionais de produção. Tal dicotomia

é

por demais interessante ao mode

lo de desenvolvimento implementado na região, notadamente a partir da Segunda Guerra. Isto se deve ao fato de aue exis te uma dependência múltipla entre essas economias e os gra~

des centros geradores de tecnologia.

Ao se vislumbrar uma economia Rssentada so-bre uma unidade org~nica diversa, que contempla um lado ~i

nâmico e um lado arcaico, têm-se como decorrência Rbsoluta-mente natural a mRnifestação de formas distintas de inser-ção no mercado de trabalho, gerando necessariamente situa-ções de marginalidade sócio-econômica nas quais se insere o desemprego.

Kowarick coloca da seguinte forma a questão:

"Parece possIvel dizer que o proce~

(50)

em que forja uma estrutura ocupaci~

nal de corte moderno, tende também, nao a eliminar, mas alimentar estr~

turas produtivas cujos trabalhac.o res podem ser definidos como margi nais: de 1950 até 1969 foram cria dos poucos mesmo de 1,3 milhões de empregos no artesanato".33

Parece correto afirmar que o modelo econômi co adotado na América Latina pressupoe a existência de um contingente de trabalhadores ocupando um espaço marginal, e dizer, atuando fora do mercado formal de trabalho. No dizer de Quijano Obregan "o conceito de polo marginal realça a presença de uma lógica histórica comum a todos os níveis da estrutura econômica latino-americana aue produz ao mesmo tem po os centrais e periféricos, e deste modo articula a ambos numa mesma trama estrutural, em posições distintas".34

Estamos, portanto, diante de um problema es trutural na medida em que o modelo de acumulação adotado na região pressupõe a existência de um setor de ponta que, ao empregar técnicas e tecnologias avançadas, obedece a uma u

33KOWARICK, LÚcio. Id. Ibid., pp. 132-133.

(51)

tilização mínima de força de trabalho. Esse setor de ponta nessas economias

é

constituído, via de regra, pelo capital transnacional e/ou pelo Estado, em sua configuração empres~

rial.

É importante salientar que tal setor, ao me~

mo tempo que contribui de forma significativa e imprescindI vel para o incremento do modelo de desenvolvimento adotado na região, gera distorções e desequilíbrios que não podem ser vistos tão-somente enquanto disfunções, mesmo porque são frutos 'naturais' desse modelo.

Tavares propoe o seguinte eixo de análise:

11 uma das características de nos

sas economias

é

a permanência, qua~

do não o aumento do desemprego es trutural da mãO-de-obra não qualifi cada. 35 Por outro lado, constatamos também que o setor dinâmiCO por ex celência - o secundário - a taxa de emprego tem crescido nos últimos a nos, •.. menos do aue a da popul~

ção, o que se deve não só ao cresci mento explosivo desta, como também a tecnologia de alta densidade de capital adotada nos modernos ramos industriais ( ..• ) nada faz prever que essa tendência se modifique es pontaneament~ no futuro, e o probl~

(52)

ma poderá mesmo agravar-se com a i~

trodução c.e novas técnicas ainc1.1. mais capitalistas, não só no setor indus trial como, em particular, no setor d . 1\ 36

e servlços

A obtenção dos excedentes apropriados

à

acu mulação do capital se dá fundamentalmente no setor secundá-rio da economia, mais precisamente nos ramos industriais mo dernos, que detêm a hegemonia desse processo. Parte deste excedente é alocada

à

expansão do setor terciário, é dizer,

à ampliação da rede de serviços. Esta transferência, por sua vez, interessa ao sistema, visto que possibilita a in-corporaçao, ao consumo, de urna massa da população urbana,c~

demanda alimenta, em grande medida, a expansão dos chama dos setores tradicionais.

A fórmula acima explicitada representa uma tentativa de atenuar a contradição do sistema produtivoqu~

to

à

oferta de emprego. O fato é que o emprego produtivo na América Latina em geral, e no Brasil em particular, tem apresentado um resultado liquido global bastante

insatisfa-~. 37

torlO.

36:TAVARES, Maria da

concei~ão.

Da substituição de

~rtações

ao E,italismo financeiro. 6. ed., Rio de Janeiro, Zahar, 1977, pp.

56.

3]'1"7\ r'lV ~ 7ARES, _ L' ~1ar' la a d Co ocelçao. . - Id. Ibid, pp. 190 e segs.

(53)

55No caso brasileiro, o modelo de desenvolvi -menta adotado a partir da década de 30, e incre-mentado a partir do pós-guerra, não só criou um número reduzido de em pregos frente

à

demanda por trabalho nas zonas prbanas, co mo apresentou uma tendência concentracionista de renda tan to no sentido individual quanto no sentido espacial. Esta configuração ajudou a agravar a problemática do desemprego, posto que propiciou uma concentração populacional elevada nas grandes cidades, mormente no eixo Rio de Janeiro - são Paulo.

preceitua:

38KOV\ARICK, Lúcio.

Analisando o modelo supra citado, Kowarick

"O que parece correto dizer e que a indústria e os componentes 'moder-nos' do setor terciário não têm a-presentado nos últimos anos um dina mismo suficiente para incorporar a força de trabalho urbano disponível, obrigando quantidade ponderável a se 'refugiar' em ocupações que con-figuram um quadro de marginalidade, e que ( ... ) possuem um papel de re-lativa relevância no processo de acumulação sendo, em última instân-cia, uma forma rentável para a rea-lização capitalista de uma economia que se desenvolve na base de altas taxas de 'exploração do

trabalho,,,~8

(54)

Deste arrazoado pode-se inferir que o modelo de desenvolvimento adotado no Brasil, nos últimos anos, não tem sido capaz de dar respostas satisfatórias à problemáti ca do desemprego, em sua manifestação urbana; ao contrário, há uma tendência crescente no sentido da reprodução e mesmo da geração de novas formas de marginalidade nas quais se en quadra o desemprego.

Esta configuração agravou-se nos últi~os qu~

~

renta anos, a medida que se ia consolidando o mercado for-mal de trabalho urbano. A População Economicamente Ativa

(PEA) triplicou nesse perlodo. Por outro lado, tanto o pr2 duto quanto a força de trabalho foram cada vez mais se con centrando nos setores secundário e terciário da economia,c2 mo bem demonstra a Tabela 1. Neste sentido, já em 1980 a-proximadamente 90% da produção nacional se encontrava ou na indústria ou no comércio e serviços; da força de trabalho, 70% estava~ ocupados nesses setores no mesmo ano.

Tais dados colocam em evidência a abrangência do processo de industrialização que ocorreu no Brasil nos últimos anos, mormente a partir de 64. A partir de então, houve urna clara definição mlanto às regras econômicas esta-belecidas, consubstanciadas numa alta participação do cap! tal transnacionalizado apoiado pelo Estado - enquanto prov~

(55)

investimen-to -, cabendo ao capital nacional um papel secundário de

associação ao capital transnacional.

Cardoso rotula esse processo de "industrial!

-zaçao restritiva", apontando as seguintes características

fundamentais: atribuição de maior importância aos setores

de produção de bens intermediários e bens de capital;

ado-çao de tecnologia moderna poupadora de mão-de-obra; forma

çao das classes médias altas; instalação de um processo de

exclusão e marginalização social e política.39

No que diz respeito ao mercado de trabalho,

dois fatores foram vitais para a implementação desse proce~ so de desenvolvimento depencente: em primeiro lugar, o pag~

mento de sal~rios excessivamente baixos em confronto com a

evolução da produtividade do trabalho e da própria

acumula-ção primitiva; e, num segundo plano, a insuficiente geraacumula-ção

de empregos produtivos em face do crescimento da

disponibi-lidade de mão-de-obra. 40

Some-se a esses fatores o alto índice de cres

39CAROOSO , Fernando Eenrique. política e Desenvolvimento em Sociedades De:pendentes. Idrolcsia do Ehl.presarÍéldo Industrial Argentino e

Brasi-1eiro. 2~ eC., Rio de Janeiro, Zahar, 1978, pp. 120 e segs.

Referências

Documentos relacionados

Prezado profissional da estética, você está sendo convidado para participar, como voluntário, em um projeto de pesquisa que tem como título “A EXPERIÊNCIA DOS

A possibilidade de empregar outras técnicas que não necessitem de equipamentos específicos e que possam ter, como meio de avaliação, a voz, para estimar a capacidade

Quanto maior o tempo de internação, menores foram os escores nos domínios capacidade funcional, dor, aspectos sociais e saúde mental.. Discussão Discussão

O maior desenvolvimento do processo medial da mandí- bula é encontrado na maioria dos Coraciiformes, como em Momotidae, Todidae, Meropidae, Coraciidae, Phoeniculidae

Podem treinar tropas (fornecidas pelo cliente) ou levá-las para combate. Geralmente, organizam-se de forma ad-hoc, que respondem a solicitações de Estados; 2)

Faltava apenas uma estação para eu sair e tive tempo para assistir a uma discussão amorosa entre dois jovens que decidiam na frescura da manhã se deviam ou não ir jantar com

Fornecimento de 01 (um) bolo gigante para 1700 (mil e setecentas) pessoas, com massa Pão de Ló, recheio e creme de chocolate e cobertura de chantilly, montado em uma

se enquadrarem aos padrões estabelecidos pela heteronormatividade – composta por discursos, valores e práticas embasadas nos preceitos da heterossexualidade, dito como único