Estudodasatipiasindeterminadasemrelaçãoàprevalência
eaopercentualdediscordâncianoscasosdoProgramade
PrevençãodoCâncerUterinodoParaná
StudyofundeterminedatypiasinrelationtoprevalenceanddisagreementpercentileincasesoftheCervical
CancerScreeningProgramofParaná,Brazil
AnaPaulaMartinsSebastião1;LúciadeNoronha2;DarlianyLouiseHübnerScheffel3; MarianaJorgeGarcia3;NewtonSérgiodeCarvalho4;LuizMartinsCollaço4;LuizFernandoBleggi-Torres5
1.MestraemPatologia.
2.Professora-adjuntadadisciplinadePatologiadaPontifíciaUniversidadeCatólicadoParaná(PUC/PR)edaUniversidadeFederaldoParaná(UFPR). 3.AcadêmicadeIniciaçãoCientíficadaPUC/PR.
4.Professor-adjuntodaUFPR.
5.Professor-titulardadisciplinadePatologiadaPUC/PRedaUFPR. TesedemestradoapresentadanaUFPRnoanode2003.
y unitermos
key words
resumo
Introdução:OSistemaBethesdacriouacategoriadeatipiasdesignificadoindeterminadoparaalbergaro diagnósticocitológicodealteraçõeslimítrofesentreoprocessoreacionaleoneoplásico.Esteestudotem comoobjetivoavaliaraprevalênciaeopercentualdediscordânciadoscasosdeatipiasindeterminadasem célulasescamosas(ASCUS)eemcélulasglandulares(AGUS)doProgramadePrevençãodoCâncerdeColo UterinodoParaná(PPCUPR)queforamrevistospelaUnidadedeMonitoramentoExternodaQualidade Citológica(UMEQC).Damesmaformatemcomoobjetivoavaliaropadrãodereclassificaçãoentreoscasos deatipiasindeterminadas(AI),queforamdiscordantes.Materialemétodo:AUMEQCrevisou65.753casos numperíodode25meses,dosquaisforamselecionadoscasosdeAI.Essescasosforamclassificadosem concordantesediscordantesparaaobtençãodaprevalênciadecadaumdeles.Resultados:OtotaldeAI anteseapósarevisãofoi4.067casos(5,45%)e3.584(6,19%),respectivamente.OdiagnósticodeASCUS correspondeu,apósarevisão,a4,91%(3.235)dototaldaamostra;eodeAGUS,a0,51%(338).Apósa reclassificaçãodoscasosdiscordantes,deacordocomopadrãoestabelecidopelaUMEQC,odiagnóstico negativofoiresponsávelpelamaioria(57,32%)daquelesquedeixaramogrupodasAI.Odiagnóstico primárioagrupadodeneoplasiaintra-epitelialcervicalgrauI(NICI)evírusdopapilomahumano(HPV) foiresponsávelpelamaioria(51,1%)doscasosqueforamreclassificadoscomoAI.Discussãoeconclusões: EntretodososcasosdiscordantesasAIocupamosegundolugaremfreqüência.
Citologiacervicovaginal
Prevalência
Percentualdediscordância
Câncerdocolouterino
Atipiasdesignificado
indeterminadoemcélulas
escamosas(ASCUS)
Atipiasdesignificado
indeterminadoemcélulas
glandulares(AGUS)
abstract
Background: The Bethesda Pap Smear System introduced two categories of undetermined atypias: atypical squamouscellsofundeterminedsignificance(ASCUS)andatypicalglandularcellsofundeterminedsignificance (AGUS).TheobjectiveofthisstudyistoreporttheprevalenceandthedisagreementpercentileofASCUSand AGUSasdiagnosedbytheCervicalCancerScreeningProgramofParanáandrevisedbytheUnitforExternal MonitoringofCytologyQuality(UEMCQ).Methods:TheUEMCQrevised65,753cervicalsmearsduring25 monthsandallundeterminedatypiaswereselected.Thesecaseswereclassifiedaccordingtotheiragreementor notandthenprevalencewasobtained.Results:BeforetheUEMCQreview,thenumberofundeterminedatypias was4,067(5.45%);thisnumberdecreasedto3,584afterrevisingthedata.Consideringthewholesample, theASCUSratewas4.91%(3,235)andAGUScorrespondedtoonly0.51%(338).Mostofthereclassified casespresentednegativediagnoses(57.32%).Theprimarygroupeddiagnoses,includingCINIandHPV,was responsiblefor51.1%ofundeterminedatypiasafterreclassification.Discussionandconclusion:Undetermined atypiaswerethesecondmostfrequentamongdisagreementdiagnosisgroups.
Cervicalcytology
Prevalence
Disagreementpercentile
Cervicalcancer
Atypicalsquamouscellsof
undeterminedsignificance
(ASCUS)
Atypicalglandularcellsof
undeterminedsignificance
(AGUS)
Introdução
A prevenção e o diagnóstico precoce constituem as formasideaisparareduziramorbidadeeamortalidade decorrentesdasneoplasiasdocolouterino,sobretudonos paísesemdesenvolvimento.Programasderastreamentodo câncerdocolouterinotêmsignificativaimportânciapelo fatodeinterromperemahistórianaturaldadoença,pois detectamneoplasiasoucarcinomainsituaindaemfase pré-invasora.Comtratamentoadequadodaslesõesacima referidas,ocâncerinvasorpodeserevitado,reduzindo-se assimamortalidadecausadaporessadoença(2).
OSistemaBethesdaincluiu,em1988,umtermopara uniformizarenormatizaroachadodealteraçõescitológicas decaracterizaçãoindefinidaoulimítrofesentrereativase neoplásicas,denominandoASCUS(atypiainsquamouscells ofundeterminedsignificance)asalteraçõesdecaracterização indefinidaemcélulasescamosaseAGUS(atypiainglandular
cellsofundeterminedsignificance)asalteraçõesachadasem
célulasglandulares.Asduascategorias,portanto,corres-pondemaachadoscitológicosindeterminados,paracuja definição etiológica se recomenda melhor investigação clínica(10).
Agrandepreocupaçãoqueacategoriaatipiasindeter-minadasgeraéadeserusadacomoviadesaídaparaas limitaçõesdequeminterpretaacitologiacervicovaginal, poisemreexameshistológicosnãoéraroseremencon-tradasalteraçõesmenoresdiagnosticadasprimariamente como ASCUS ou AGUS, erro freqüentemente marcado pelasubjetividadedoobservador,oquepoderesultarem supertratamentoeestresseparaaspacientes(17).
Por essa razão, vários programas de prevenção do câncerdecolouterinoemtodomundocomeçaramauti-lizarprogramasdecontroledequalidadeparagarantira credibilidadedosexamescitopatológicos,principalmente duranteascampanhasintensivas(1,2,11,19).
OProgramadePrevençãodoCâncerdoColoUterinodo Paraná(PPCUPR)desenvolveu,desdeoseuinício,umaUni-dadedeMonitoramentoExternodeQualidadeCitológica (UMEQC),afimdecontrolaraqualidadedosdiagnósticos emitidos.AUMEQCconcentrasuasatividadesnoHospital deClínicasdaUniversidadeFederaldoParaná(HC-UFPR) atravésdeumtermodecooperaçãocomaSecretariade SaúdedoParaná.Naexcelênciaenacontínuaatualização dosmédicoseprofessoresligadosàSeçãodeCitopato-logiadoServiçodeAnatomiaPatológicadoHC-UFPRse sustentaoreconhecimentodenotóriosaberaesseserviço, necessárioparapôrempráticaumsistemadefiscalização
dequalidade.Essaequipeéconstituídapordoisrevisores especiais–patologistascomformaçãoespecíficaemcitopa-tologia,membrosdaSociedadeBrasileiradeCitopatologia eMembersofInternationalAcademyofCitology(MIAC)–que exercemacoordenação,eporseterevisoresgerais–pato-logistasgeraiscomformaçãoemcitopatologia.
O banco de dados da UMEQC contava com 65.753 casosquandotaiscasosforamcompiladosparaaelaboração destetrabalho.ForamescolhidososcasosdeASCUSeAGUS paraumaanálisemaisaprofundada,devidoàscontrovérsias noqueserefereàaplicaçãodoscritériosmorfológicospara odiagnósticoeseusignificadoclínico.
O objetivo deste estudo é avaliar a prevalência e o percentualdediscordânciadoscasosdeatipiasindetermi-nadasescamosaseglandularesdoProgramadePrevenção doCâncerdeColoUterinodoParaná(PPCUPR),antese apósarevisãopelaUnidadedeMonitoramentoExternoda QualidadeCitológica(UMEQC),ecompará-loscomosdos demaisgruposdiagnósticos,e,ainda,estabelecerentreos casosdiscordantesdeatipiasindeterminadasopadrãode reclassificação.
Material e método
A UMEQC tem como finalidade principal detectar falsosnegativosefalsospositivos,quepoderiamacarretar tratamentosclínicosinadequados.Paraissoelasepropõe revisarcercade10%doslaudoscitopatológicosemitidos pelo PPCUPR, a cada mês, utilizando dois métodos de buscadetaisexames:buscaativa(todososexamescom qualquertipodealteraçãocelulardevemserrevistos,in-clusiveosclassificadosnosgrupos2,3,4e5)(Tabela1)e escolhaaleatória,pelaqualaosdebuscaativasoma-seum númerovariáveldeexamescitológicosdogrupo1(Tabela 1),selecionadosdeformaaleatória,atéototalde10%dos examesmensaisdecadapatologista).
Foramselecionados,apartirdeumbancodedados daUMEQC/PPCUPRcompostopor65.753casos,todosos casosdecitologiaoncóticacervicovaginalcomresultado deatipiasindeterminadas,osquaisforamsistematicamen-tesubmetidosàavaliaçãopelaUMEQCporumperíodo consecutivodedoisanos(setembrode1997aoutubrode 1999).Osdadosforamobtidosatravésdaanálisedoslaudos dosdiagnósticosprimárioseposteriormentedoslaudosde revisãopelaUMEQC.
citopatológicosdescritosporKurmaneSolomon(1997) empublicaçãooficialdoSistemaBethesda(10).
Osdiagnósticosderevisãorepresentamosdiagnósticos
finaisemitidospelaUMEQCapósarevisãodaslâminas,e
osdiagnósticosprimários
sãoaquelesemitidospelospato-logistas do PPCUPR antes da revisão feita pela UMEQC. Ambos foram divididos em cinco categorias (ou grupos diagnósticos),combasenotipodecondutaclínicaadotada peloPPCUPR,sendotambémsubdivididosemdiagnósticos negativosenão-negativos,conformeaTabela1.
Considerou-se que houvediscordância diagnóstica quandoodiagnósticoprimáriodeatipiasindeterminadas foidiferentedodiagnósticoderevisão.
Chegou-seaopercentualdediscordâncianacomparação entre as avaliações de grupos de diagnósticos primários emrelaçãoàproporçãodediscordânciaemcadagrupo dediagnósticoderevisão.
A mudança de um diagnóstico primário para outra categoria diagnóstica de revisão é o que chamamos de
realocação.Elaincluiascategorias:realocaçãopositiva(os casosprimáriosquemigraramdeoutrosgruposeforam acrescentadosaogrupo2apósarevisão)erealocaçãone-gativa(quesãooscasoscomdiagnósticoprimáriodegrupo 2quemigraramparaoutrosgruposdepoisdarevisão).
Asvariáveisdoestudo,porseremdenaturezacategó-rica,foramexpressasemfreqüênciasepercentuais.Para ascomparaçõesentreosgruposdiagnósticosecategorias diagnósticasconsiderou-seaoddsratioestimadaatravés de um modelo de regressão logística. Para identificação da homogeneidade das distribuições de categorias ou gruposdiagnósticosadotou-seotestedequi-quadrado.A proporçãodecasosdeASCUSedeAGUSconcordantesem amostrassatisfatórias,assimcomoadecasosrealocados, foiexpressapormeiodeintervalosde95%deconfiança.
Quandoointervalodeconfiançanãoéode0,5(ou50%) ficaindicadoqueaproporçãoentreasamostrasavaliadas ésignificativamentediferenteentreelas.Emtodosostes-tesumvalordep<0,05foiconsideradoestatisticamente significante.
Resultados
Avaliaçãodaprevalênciadoscasosdeatipias indeterminadasescamosaseglandulares doPPCUPRantesedepoisdarevisãopela UMEQCecomparaçãocomosdemaisgrupos diagnósticos
A quantidade de casos em cada grupo diagnóstico antesedepoisdarevisãopelaUMEQCestárepresentada naTabela2.Observa-sequehávariaçãodaquantidade deexamesemcadagrupodiagnóstico,paramaisepara menos,comoresultadodasrealocaçõespositivasenega-tivas,respectivamente.NosGrupos1e4,aquantidadede diagnósticosapósarevisãofoimaior,ouseja,houvemais realocaçõespositivasquenegativas;nosdemaisgrupos, apósarevisãohouvediminuiçãonaquantidadedecasos, indicandoquehouvemaisrealocaçõesnegativas.Focando especificamente o Grupo 2, verifica-se que a diferença percentualentreodiagnósticoprimárioeodiagnóstico derevisãoéde1,2%(NS-p=0,0504).Essepercentual indicaqueonúmerodasrealocaçõesnegativasfoimaior queodaspositivas.
OsdiagnósticosprimáriosdeASCUScorrespondema 5,68%(3.736casos)dototalde65.753estudados,eosde AGUS,a0,48%(316casos).ApósarevisãopelaUMEQC, onúmerototaldeASCUSfoide3.235,4,91%dototalda amostra;onúmerodeAGUSaumentoupara338casos, correspondendoa0,51%dototaldaamostra.
Gruposdiagnósticos
Diagnósticonegativo
Grupo1:Negativoparamalignidade.Incluiausênciadecélulasanormaisoualterações reativasoureacionaisDiagnósticonão-negativo
Grupo2:Alteraçõeslimítrofes.Incluematipiasindeterminadasescamosas(ASCUS) eglandulares(AGUS)Grupo3:Lesõesdebaixograu.Incluemalteraçõescitopáticascompatíveiscomvírus dopapilomahumano(HPV)eneoplasiaintra-epitelialcervicalgrauI(NICI)
Grupo4:Lesõesdealtograuecarcinomas.Incluemneoplasiaintra-epitelialcervical grausII(NICII)eIII(NICIII),carcinomaescamocelularinvasor(CEC)eadenocarcinoma
Ausênciadediagnóstico
Grupo5:EsfregaçosinsatisfatóriosNaTabela 3, observa-se a distribuição dos diagnós-ticos de ASCUS e AGUS antes e depois da revisão pela UMEQC.
ApósarevisãopelaUMEQC,houveaumentodoper-centualdediagnósticosAGUS.Talachadoindicaqueforam feitasmaisrealocaçõesnegativasnosdiagnósticosdeASCUS emaisrealocaçõespositivasnosdeAGUS.
Avaliaçãodopercentualdediscordânciaentre osdiagnósticosantesedepoisdarevisãopela UMEQCecomparaçãocomosdemaisgrupos diagnósticos
ObservandoaTabela4,quedemonstraopercentualde discordânciaparacadagrupodiagnóstico,pode-seobservar queoGrupo2foiosegundomaisdiscordante(p<0,001) quandopareadososgruposdoisadois.
NaTabela5,quandocomparadososcasosdeASCUS, AGUSeASCUS/AGUScomasdemaisentidadesdiagnósti-cas,ovalordepfoiestatisticamentesignificativoquando secomparouogrupoASCUScomHPV,NICIIeNICIII.No entanto,comrelaçãoaoAGUS,demonstrou-sesignificância estatísticaentreessaentidadeeHPV,NICIeadenocarcino-ma.Todasascomparaçõescomdiagnósticossimultâneos deASCUS/AGUSnãomostraramsignificânciaestatística, excetocomosinsatisfatórios,devidoaopequenonúmero decasos.
Avaliaçãodopadrãodereclassificação decasosdiscordantesenvolvendoatipias indeterminadas
AsTabelas6e7demonstramcomoforamredistribuídos oscasosquesofreramrealocação,tantonegativaquanto positiva,apósarevisãopelaUMEQC.
Porexemplo,458(57,32%)casosdoGrupo2sofreram realocaçãonegativaparaoGrupo1apósarevisãopela UMEQC,sendoesteodiagnósticoderevisão(classificação UMEQC–correta).Evidencia-seentãoque,havendoum casodoGrupo2compossibilidadedeestarerrado,apro-babilidademaioréqueelesejarealocadoparaoGrupo1 (Tabela6).
Distribuiçãodosdiagnósticos
citológicosagrupadosdetodosos
casos(
n
=65.753)antesedepois
darevisãofeitapelaUMEQC,
númeroabsolutoeporcentagem
emrelaçãoaototalemcadagrupo
(coluna)
Grupo
diagnóstico
Diagnóstico
primário
Diagnóstico
derevisão
n % n %
Grupo1 54.959 83,58 55.583 84,53 Grupo2 4.067 6,19 3.584 5,45 Grupo3 3.008 4,57 2.523 3,84 Grupo4 2.526 3,84 2.892 4,4 Grupo5 1.193 1,81 1.170 1,78
Total 65.753 100 65.752 100 Fonte:UMEQC.
Tabela2
Distribuiçãodoscasosdeatipias
indeterminadasantes(
n
=4.067)
edepois(
n
=3.584)darevisão
feitapelaUMEQC,porentidade
diagnóstica
Entidade
diagnóstica
Diagnóstico
primário
Diagnóstico
derevisão
n % n %
ASCUS 3.736 91,86* 3.235 90,26* AGUS 316 7,76** 338 9,43** ASCUS/AGUS*** 15 4,57 11 3,84 Totaldeatipias
indeterminadas 4.067 100 3.584 100
Fonte:UMEQC;*p=0,0142;**p=0,0091;***diagnósticosimultâneodeASCUS eAGUS.
Tabela3
Percentualdediscordância
entreodiagnósticoprimárioeo
diagnósticodaUMEQCparacada
umdosgruposdiagnósticos
Grupodiagnóstico
Discordância(%)
Grupo1 0,24
Grupo2 19,65
Grupo3 23,74
Grupo4 7,28
Grupo5 2,51
Fonte:UMEQC;p<0,001.
NaTabela7,observa-sequeéprovávelqueumdiag-nósticoerradodosGrupos1,3,4e5sejarealocadopara oGrupo2.Asprobabilidadesdessasrealocaçõespositivas foramnuméricaeestatisticamentediferentesesignificativas, excetonopareamentoentreoGrupo1eoGrupo4,em queaprobabilidadeéigualparaambosenãoésignifica-tiva.Emvistadisso,podemosobservarque,porexemplo,
Percentualdediscordância
paracadaumadasentidades
diagnósticas
Grupo
diagnóstico
diagnóstica
Entidade
Discordância
(%)
Grupo1 Negativo 0,24 Grupo2 ASCUSAGUS ASCUS/AGUS*
21,2 11,08 26,67
Grupo3 HPV
NICI
41,04 19,42 Grupo4 NICII
NICIII CEC Adenocarcinoma**
12,7 7,56 15,48 45,46 Grupo5 Insatisfatório 2,51
Fonte:UMEQC;ASCUS:alteraçõescelulareslimítrofesemcélulasescamosas; AGUS:alteraçõescelulareslimítrofesemcélulasglandulares;HPV:vírusdo papilomahumano;NIC:neoplasiaintra-epitelialcervical;CEC:carcinoma escamocelularinvasor;ASCUS/AGUS:diagnósticosimultâneodeASCUSeAGUS; *númeroabsolutodecasosantesdarevisão=15,apósarevisão=11;**número absolutodecasosantesdarevisão=22,apósarevisão=14.
Tabela5
Redistribuiçãodosdiagnósticos
primáriosdeatipias
indeterminadas(Grupo2)
quantoàrealocaçãonegativa
segundoaUMEQC
ClassificaçãoUMEQC
CasosdoGrupo2com
realocaçãonegativa
Diagnósticoderevisão
n
%
Grupo1 458* 57,32*
Grupo3 141 17,65
Grupo4 199 24,91*
Grupo5 1 0,13
Total 799
Fonte:UMEQC;*p<0,001.
Tabela6
161(51,1%)casosdoGrupo2,quesofreramrealocação positivaeramprimariamenteclassificadoscomoGrupo3 (diagnósticoprimário).
Aprevalênciarealdodiagnósticodeatipiasindetermi-nadassofreuinfluênciatantodarealocaçãopositivaquanto daexclusãodecasosderealocaçãonegativa.
Discussão
Aimportânciadoestudodecasosdeatipiasindetermi- nadasescamosaseglandularesdoPPCUPRficademonstra-dapeloexpressivonúmerodecasosregistradosnobanco dedadosdaUMEQCeanalisadosnestetrabalho,ondeessa categoria(Grupo2)ocupaosegundolugaremfreqüência diagnóstica (6,19%). Ressalta-se a expressividade desse número,seconsiderarmosqueelesóémenorqueonú-merodecasosnegativos(Grupo1),osquaisrepresentama grandemaioriadosexamescitológicoscervicovaginais.
ApósarevisãofeitapelaUMEQC,oGrupo2sofreuum decréscimodefreqüênciade1,2%,significandoquehaviam sidofeitosmaisdiagnósticosdeatipiasindeterminadasdo queoconsideradocorreto.Aindaassim,opercentualde atipiasindeterminadascontinuadeacordocomorecomen-dadopeloSistemaBethesda,segundooqualessacategoria nãodeverepresentarmaisdoque5%a6%donúmerototal decasosdeumlaboratório,ouduasatrêsvezesonúmero decasosdelesõesintra-epiteliaisescamosasdebaixograu diagnosticadasemumanoemdeterminadoserviço.
Odecréscimode1,2pontopercentualnacorreçãodos casosdeatipiasindeterminadasapósarevisãopelaUMEQC pode dar a falsa impressão de que elas não teriam sido adequadamentecorrigidas.Noentanto,essaporcentagem
Redistribuiçãodosdiagnósticos
primáriosdeoutrosgrupos
diagnósticosresponsáveispela
realocaçãopositivaparaoGrupo2
Classificaçãoinicial
CasosdoGrupo2com
realocaçãopositiva
Diagnósticoprimário
n
%
Grupo1 70(p=NS)* 21,8
Grupo3 161** 51,1*
Grupo4 81(p=NS)* 25,6
Grupo5 5 1,5
Total 316 100
Fonte:UMEQC;*pnãoestatisticamentesignificante;**p<0,001.
representou uma diferença de 19% entre o diagnóstico primárioeorevisado.Oscasosdeatipiasindeterminadas ocuparamasegundaposiçãoemdiscordância,ficandoa diferençaemmenosde5%daslesõesdebaixograu(Grupo 3),asmaisfreqüentesemdiscordância(23,74%).Sendo assim, só o estudo mais detalhado desse grupo poderá revelaraimportânciadelenaepidemiologiadocâncerde colo,vistoqueasatipiasindeterminadasaindasãouma entidadecontroversaecomváriasdificuldadesdiagnósticas morfológicas.
Analisandocadaentidadediagnósticaseparadamente quantoaopercentualdediscordância,deve-seconsiderar quealtospercentuaisdediscordânciaforamjustificadospor pequenonúmerodecasosenvolvendoodiagnósticode duasdelas:oadenocarcinomaeasASCUS/AGUS.Éprová-velqueaocorrênciadetaisdiagnósticoserrôneossedeva àpoucaexperiênciadoscitopatologistasemdiagnosticar lesõesglandulares,jáqueelassãodeocorrênciamaisrara queasescamosas.
O diagnóstico de ASCUS (21,2% de discordância), responsávelpelomaiorpercentualdediscordânciadepois doASCUS/AGUS,tantopoderepresentardiversaslesões comotambémsimplesalteraçõesreativasoureparativas. Montzetal. (1992)encontraram19%delesõesintra-epite-liaisescamosasem91casosemavaliaçãocito-histológica, enquantoDvoraketal.(1999)obtiveram18%decasosde NICemamostrade249pacienteseCollaçoetal.(2000) encontraram 45%de NIC, 51% de cervicite acentuada emetaplasiaescamosae4%decarcinomainvasor.Cor-roborandoesteúltimoestudo,Lousuebsakuletal.(2000) encontraram47%delesõesintra-epiteliaise34%dealte-raçõesreativasem421casos,reforçandoadiversidadede formasdelesõesquealbergaacategoriadealteraçõesde significadoindeterminado(12).
Esses dados justificam a proposta de Shermanet al.(1999)dasubdivisãodasASCUSemASCUSsemoutra especificaçãoeASCUScomtendênciaparalesãointra-epi-telial.Parasuaclassificação,aliteraturavalorizaachados comparativoscitopatológicosehistológicosemfragmen-tosteciduais,metaplasiaimaturacomatipias,metaplasia maduracomatipias,célulaspequenasatípicasereparos com atipias, irregularidade da membrana nuclear(7, 16).
Entretanto, em estudo anteriormente desenvolvido em queseavaliouavariabilidadeinterobservadoresem122 biópsiascervicais,concluiu-sequeograudeconcordância ébaixonasdiversascategorias,principalmentenogrupo dasatipiasdesignificadoindeterminadoenogrupodos negativos,demonstrandoqueareprodutividadedetais
diagnósticosépobre,mesmoquandoseutilizaahisto-patologia(4).
Observa-sequeaUMEQCrealocouemoutrascategorias 799casosdeatipiasindeterminadas,sendoquenamaioria (57,32%)elesforamreclassificadoscomonegativos(Grupo 1),oqueevitoucustosdesnecessáriosaoprogramanabusca ativapelaspacientes,narepetiçãodeexamesenosegui-mento.Apreocupaçãoporutilizarcontroledequalidade diagnósticavisandoareduçãodoscustosedaexposição das pacientes a tratamentos desnecessários já havia sido demonstradaporSeagnanetal.(1994),quandodescreveram umprogramaderastreamentodecâncerdecolouterino nacomunidadeeuropéia,paraaavaliaçãodoscustosedos benefícios. Concluíram que para o êxito do programa é necessárioodesenvolvimentodeprotocolosqueconsiderem nãosóaefetividadedosistema,mastambémosefeitos adversosqueestepodecausar.Taisprogramasimplicamna adoçãodemecanismosdecontroledequalidade,acurácia naleituradoexamecitológicoeprotocolosdeacompanha-mento.Outrosautoresobtiveramdadosquecorroboramos achadosdestapesquisa,poisencontraram12,5%deexames superdiagnosticadosquandoanalisaramASCUSelesõesde baixograuatribuindoatodosalgumerrodeinterpretação(5).
Asalteraçõesinflamatóriasereparativas,compreendendoo aumentonuclear,nucléolosproeminentes,lâminascelulares coesascomnúcleosvesiculososeporvezespleomórficos, foram os critérios que mais freqüentemente levaram os patologistas a incluírem tais alterações na categoria de ASCUS(21).Issosedeveàfaltadedadosclínicosprecisose
aopoucoconhecimentodasvariantesqualitativasequan-titativasqueasalteraçõesreacionaiseinflamatóriaspodem provocarnosesfregaçoscervicovaginais.Freqüentemente ospadrõeshistológicossãosupervalorizadospeloreceiode subestimaraseveridadedalesãoavaliada(3).
Neste estudo, a realocação de 141 casos (17,65%) para o Grupo 3 e 199 casos (24,91%) para o Grupo 4 demonstraafundamentalimportânciadoestabelecimento deprogramasdecontroledequalidadediagnósticapara atipias indeterminadas, pois as pacientes foram encami-nhadasparatratamentoespecífico,colposcopiaebiópsia dirigida,aoinvésdeseremencaminhadasparaseguimento ambulatorialcomcitologias.
EntreosdiagnósticosqueaUMEQCreclassificoucomo atipias indeterminadas (realocação positiva), a maioria (51,1%) tinha sido diagnosticada como lesões de baixo grau(Grupo3).
asseguramentoquantoaocontroledaqualidadedodiag-nósticoeàdiminuiçãodataxadeerros(14,20).
Adiversidadenaformaçãoenaexperiênciadospato-logistasgeraisdasváriascidadesdoParanáquetrabalham noPPCUPRrefletearealidadetambémencontradanosetor privadodelaboratórios.Nãoháummétodoespecíficopara avaliaromotivodasrealocaçõesnegativasquedetermina-ramadiminuiçãodoscasosdeatipiasindeterminadasapós arevisãopelaUMEQC.Fatorescomoformaçãoprofissional, experiência,sobrecargadetrabalho,dificuldadediagnóstica evariaçãodiagnósticainterobservadoresinterferemnaava-liaçãodoscasosconsideradoscomoatipiasindeterminadas, deturpandoarealimportânciaeafunçãodoempregodessa classificaçãodiagnóstica.
A variabilidade interobservadores é relatada em vá-riosestudosdepatologiaecitopatologiapelofatodese tratardeexamessujeitosajulgamentosubjetivoeauma purainterpretaçãoeaplicaçãodoscritériosdiagnósticos descritos para cada entidade diagnóstico. Gatsha et al.
(2001)realizaramestudoenvolvendo632esfregaçoscom diagnósticoanteriordeASCUS,osquaisforamrevistospor outrostrêsobservadores.Entreos200casos(32%)que apresentavamconcordânciacompletainterobservadores, 91 (45%) diagnósticos primários de ASCUS foram con-firmados, demonstrando a baixa reprodutividade dessa categoriadiagnóstica(8).Segundoestudosdesenvolvidos
porSmithetal.(2000),Juskeviciusetal.(2001)eStoler
etal.(2001),astaxasdeASCUSedelesãointra-epitelial
escamosa são influenciadas pela rigidez na adoção de critériosmorfológicosepelograudeexperiêncianainter-pretaçãodosespécimescitológicos,sendomuitasvezes desconhecidos os fatores que afetam a reprodutividade interobservadores(6,9,18).
Finalizando,acredita-sequeastaxasdediagnósticos deatipiasindeterminadassãopassíveisdereduçãoquando háestreitarelaçãoentreoginecologistaeopatologista,
cada um contribuindo dentro da sua especialidade. Ao ginecologistacabefornecerinformaçõesclínicasrelevantes e realizar coleta abrangente e de boa qualidade, obser-vandoosfatoresquepossamlimitaraqualidadedeuma amostracervicovaginal.Aopatologistacabeabuscapelo aprimoramento dos seus critérios diagnósticos, cautela noscasoscomalteraçõeslimítrofesecompartilhamento dedúvidascomoscolegasdaárea.Asobservaçõesfeitas nesteestudoidentificamtambémosfatoresquemerecem maioratençãoporpartedosprofissionaisenvolvidoscom ocitodiagnóstico.
Assim,obomrelacionamentoeoentrosamentodessas duasespecialidadespodemcontribuirmuitoparaamelhora dodiagnósticoe,conseqüentemente,domanejodepa-cientesportadorasdeatipiasindeterminadas.
Conclusões
Aprevalênciadeatipiasindeterminadasemcitologia cervicovaginal(Grupo2)foide3.584casos,ouseja,5,45% dototaldaamostrade65.753casos.Desses3.584casosde atipiasindeterminadas,90,26%foramrepresentadospor diagnósticosdeASCUS,9,43%pordiagnósticosdeAGUS e3,84%deASCUS/AGUS.
Houvediminuiçãode1,2%(p=NS)naquantidadede casosdeatipiasindeterminadas(Grupo2)apósarevisão pelaUMEQC,sendoquehouveaumentodopercentual dediagnósticosdeAGUSediminuiçãodopercentualde diagnósticosdeASCUS.
Opercentualdediscordânciaparaogrupodeatipias indeterminadas (Grupo 2) foi de 19,65%, sendo que o padrãoderealocaçãomostrouqueodiagnósticonegativo (Grupo 1) foi responsável pela maioria das realocações negativas (57,32%) e o diagnóstico primário agrupado deNICIeHPV(Grupo3)foiresponsávelpelamaioriadas realocaçõespositivas(51,1%).
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LúciadeNoronha
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