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O campo de energia elétrica no Brasil - de 1880 a 2002

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FUNDAÇÃO GETULIO VARGAS – FGV

ESCOLA BRASILEIRA DE ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA E DE

EMPRESAS – EBAPE

CENTRO ACADÊMICO E DE PESQUISA

MESTRADO EXECUTIVO EM GESTÃO EMPRESARIAL

DISSERTAÇÃO

APRESENTADA POR

JOÃO PAULO POMBEIRO GOMES

TÍTULO

“O CAMPO DE ENERGIA ELÉTRICA NO BRASIL – DE 1880 A 2002”

PROFESSOR ORIENTADOR ACADÊMICO

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Dedicatória

(3)

AGRADECIMENTOS

A elaboração deste trabalho foi possível graças a algumas pessoas e organizações, as quais merecem meu especial agradecimento:

Às Centrais Elétricas Brasileiras S.A. – Eletrobrás, empresa que me orgulho de trabalhar, e que sempre ofereceu a oportunidade de atualizar meus conhecimentos profissionais. O seu apoio, especialmente por parte da Diretoria de Administração, foi fundamental para a realização deste Mestrado.

Ao meu professor e orientador acadêmico, Marcelo Milano Falcão Vieira, Ph.D., primeiro pelo privilégio de ter sido seu aluno, proporcionado-me a oportunidade de poder discutir e aprofundar temas de relevância para meu desenvolvimento pessoal e profissional e em segundo lugar pela sua competente orientação nesta dissertação, estando sempre disponível e afável para poder dirimir minhas dúvidas e questionamentos.

Aos experientes e competentes profissionais que me concederam as entrevistas, pelos importantes comentários e conhecimentos que contribuíram para enriquecer este trabalho, inclusive, possibilitando sua validação.

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RESUMO

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ABSTRACT

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SUMÁRIO

1. INTRODUÇÃO ... 8

1.1 Objetivos ... 13

1.1.1 Objetivo geral ... 13

1.1.2 Objetivos específicos ... 13

1.2 Justificativas teórica e prática ... 13

2. FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA ... 16

2.1 A abordagem institucional e o campo organizacional ... 21

2.2 Legitimidade e isomorfismo na abordagem institucional ...24

2.3 O poder e o campo organizacional ... 27

2.4 O modelo analítico utilizado ... 31

3. METODOLOGIA ... 33

3.1 Perguntas de pesquisa ... 33

3.2 Definição constitutiva (DC) e operacional (DO) dostermos relevantes... 33

3.3 Delineamento da pesquisa ... 35

3.4 Levantamento de dados ... 36

3.4.1 Entrevistas ... 37

3.4.2 Perfil dos entrevistados ... 38

3.4.3 Outros depoimentos ... 39

3.5 Coleta e análise dos dados ... 40

3.6 Limitações do estudo ... 41

4. HISTÓRIA DA FORMAÇÃO DO SETOR ELÉTRICO BRASILEIRO 1880 A 2002 ... 43

5. PRINCIPAIS INCIDENTES CRÍTICOS NA HISTÓRIA DO SETOR ELÉTRICO BRASILEIRO – 1880 A 2002 ... 68

6 – ANÁLISE DA FORMAÇÃO E ESTRUTURAÇÃO DO SETOR ELÉTRICO – 1880 A 2002 ... 84

6.1 Períodode 1880 a 1930 monopólio privado ... 84

6.2 Período de 1931 a 1945 – presença do Estado ... 90

6.3 Período de 1946 a 1962 – Estado indutor ... 96

6.4 Período de 1963 a 1979 – modelo estatal ... 105

6.5 Período de 1980 a 1992 – crise institucional ... 115

6.6 Período de 1993 a 2002 – modelo híbrido ... 122

6.7 Principais características do sistema elétrico brasileiro... 133

7. CONCLUSÕES ... 142

7.1 Resposta a perguntas de pesquisa ... 142

7.2 O modelo institucional do setor elétrico o ambiente... 147

7.3 Capital privado e capital estatal ... 153

7.4 Produto Interno Bruto (PIB) e consumo de energia ... 154

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8. REFERÊNCIAS ... 158 9. ANEXOS I – ROTEIRO DA ENTREVISTA ... 164 10. ANEXOS II – QUADROS PARA A ENTREVISTA ... 168 11. ANEXOS III – RELAÇÃO DOS PRINCIPAIS ATORES SOCIAIS

E/OU ORGANIZAÇÕES PRESENTES NO CAMPO

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1 - INTRODUÇÃO

A importância da energia elétrica é cada vez mais evidente na forma de organização da vida das nações e dos indivíduos, num processo de valorização crescente dessa fonte de energia que vem desde o começo da sua exploração comercial nos EUA e na Europa, no final do século XIX. Apesar de atualmente ser um bem essencial à nossa sociedade, a energia elétrica tem sua importância pouco divulgada, principalmente, em relação aos fatos históricos e aos interesses políticos e econômicos que levaram o setor elétrico à sua atual configuração.

A eletricidade já era conhecida, pelo menos, desde 1800, quando o físico italiano Alessandro Volta, ao realizar experiências em laboratório, criou a primeira bateria. Em 1831, quando o físico inglês Michael Faraday concebeu o princípio do dínamo, ele já provara anos antes que um efeito magnético produz uma corrente elétrica, uma descoberta fundamental para o desenvolvimento dos motores e geradores elétricos, dos trens e bondes elétricos, da iluminação pública, do telégrafo e do telefone. Faraday lançou o conceito de linhas de força elétrica, explicando o relâmpago, a eletrostática e a eletroquímica, numa época em que a questão principal era não apenas a produção de energia elétrica mas, especialmente, sua transmissão à distância. Cabe observar que para muitos autores o físico inglês é o pai da eletricidade (CENTRO DA MEMÓRIA DA ELETRICIDADE NO BRASIL, 1988, 2004).

A invenção do dínamo pelo engenheiro alemão Werner Siemens, em 1867, é considerado o marco inicial da história da indústria elétrica. Na mesma época, o engenheiro francês Aristide Berges instalou a primeira turbina movida por uma queda d’água, utilizando, pela primeira vez, a força hidráulica para gerar eletricidade (CENTRO DA MEMÓRIA DA ELETRICIDADE NO BRASIL, 1988).

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A apresentação pública da lâmpada incandescente, inventada por Thomas Edison em 1879 − que substituiu a lâmpada de arco, com vantagens em termos de segurança, qualidade e economia −, foi fundamental para o desenvolvimento de um novo ramo industrial e resultou, em 1882, na inauguração da primeira usina elétrica do mundo, em Nova York, iluminando casas e escritórios em Manhattan, principal bairro comercial daquela cidade. Os estudos de Edison incrementaram as mais diversas pesquisas no campo da eletricidade e possibilitaram, entre outras coisas, os estudos dos raios catódicos, base do televisor e do radar. No entanto, o que permitiu a instalação de sistemas de iluminação nas casas, nas ruas e nas cidades, generalizando o uso da energia elétrica, foi a invenção da corrente alternada pelo físico iugoslavo Nikola Testa, em 1888 (CENTRO DA MEMÓRIA DA ELETRICIDADE NO BRASIL, 1988, 2004).

Os últimos 30 anos do século XIX foram caracterizados não por um simples prolongamento da Revolução Industrial, iniciada na Inglaterra ao final do século anterior, mas por importantes inventos científicos − com a utilização de novas fontes de energia, como a eletricidade e o petróleo − e pelo aparecimento de novos setores industriais, como a indústria química, a siderurgia e a indústria elétrica. Esse período é conhecido por muitos historiadores e economistas como a Segunda Revolução Industrial (CENTRO DA MEMÓRIA DA ELETRICIDADE NO BRASIL, 1988).

Um dos aspectos mais importantes da Segunda Revolução Industrial foi a ligação entre a ciência e a técnica, o laboratório e a fábrica, pois aquele momento foi fruto não apenas da aplicação do conhecimento científico, mas, principalmente, do emprego de novos materiais e novas fontes de energia. Nesse sentido, deve ser salientado que, naquele período, nascia outra indústria com o mesmo potencial transformador das indústrias química e elétrica: a indústria do petróleo, fonte de energia equivalente ao carvão e à eletricidade (CENTRO DA MEMÓRIA DA ELETRICIDADE NO BRASIL, 1988).

(10)

O desenvolvimento da economia cafeeira no estado de São Paulo − do período entre as duas últimas décadas do século XIX até o final da década de 1930 − foi um dos fatores fundamentais para o nascimento e a consolidação do setor elétrico brasileiro. O café impulsionou a expansão da malha ferroviária, a urbanização, o desenvolvimento do comércio e, principalmente, da indústria, e esse crescimento econômico estimulava o processo de eletrificação (SAES, 1986).

No final do século XIX, o melhor aproveitamento da eletricidade foi facilitado no cenário internacional pelo desenvolvimento industrial e tecnológico, o que foi um estímulo à importação de capitais que financiaram a expansão da produção e da distribuição de energia elétrica no Brasil. Essa importação de capitais começou com investimentos norte-americanos, principalmente, nos serviços de iluminação pública e de transporte urbano. Nesse contexto, destaca-se a chegada ao país do grupo Light, em 1899, e da Amforp, em 1927, que pela sua intensa atuação marcaram a história do setor elétrico brasileiro até à década de 1960 (CENTRO DA MEMÓRIA DA ELETRICIDADE NO BRASIL, 2001).

Durante esse período, cabe registrar como primeiro marco regulatório do setor elétrico brasileiro, a promulgação do Código de Águas, em julho de 1934 − instaurando uma nova ordem jurídica aplicável aos serviços de energia elétrica, através da regulamentação da indústria hidrelétrica −, e a criação, em 1939, do Conselho Nacional de Águas e Energia Elétrica (CNAEE), para tratar de todos os assuntos referentes ao setor. A criação das Centrais Elétricas Brasileiras S.A. (Eletrobrás) foi outro evento de importância histórica, pelas mudanças que acarretou na trajetória do setor elétrico nacional (CENTRO DA MEMÓRIA DA ELETRICIDADE NO BRASIL, 2001).

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Esse modelo setorial com base no sistema Eletrobrás garantiu significativa expansão das áreas de geração e transmissão durante os anos 1960 até o final da década de 1970, quando o segundo choque do petróleo, em 1979, com a elevação da taxa de juros no mercado internacional e a aceleração inflacionária limitaram a capacidade de investimentos do Estado e do setor privado, gerando um princípio de tensão no setor (CENTRO DA MEMÓRIA DA ELETRICIDADE NO BRASIL, 2000).

Após a promulgação da Constituição Federal de 1988, os conflitos entre interesses estaduais e federais se acirraram, culminando numa grave crise no setor elétrico. Essa crise se estendeu até março de 1993, quando foi promulgada uma lei que permitiu a conciliação de débitos e créditos entre todos os agentes envolvidos, com a finalidade de estancar a inadimplência das empresas de energia elétrica. Em face da gravidade do problema que atingiu as principais empresas do setor, pode-se afirmar que essa lei foi outro importante marco no setor elétrico brasileiro (CENTRO DA MEMÓRIA DA ELETRICIDADE NO BRASIL, 2000,2002).

A década de 1990 foi marcada por ampla política de redução da presença empresarial do Estado na economia. No setor elétrico, foram privatizadas concessionárias federais e estaduais de energia elétrica, bem como a reorganização do modelo institucional que incluiu a reformulação dos órgãos reguladores e a criação de novas entidades (CENTRO DA MEMÓRIA DA ELETRICIDADE NO BRASIL, 2000).

O setor elétrico brasileiro, de sua origem até a final de 2002, caracterizou-se como um ambiente de relacionamentos organizacionais em constante mutação, dominado pela influência tanto de organizações privadas quanto de empresas estatais, e pelo papel atuante e/ou até contraditório (muitas vezes indefinido) exercido pelo Estado nas diversas etapas de sua história.

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forneceu as principais diretrizes para análise dos dados pesquisados, uma vez que este estudo focou principalmente as organizações envolvidas na criação, formação e estruturação de tão importante setor da vida nacional.

O conceito de campo organizacional, conforme DiMaggio e Powell (1991a), abrange um conjunto de organizações que formam uma determinada área da sua vida institucional, como seus clientes, fornecedores, concorrentes e agências reguladoras que atuam neste espaço e que, conseqüentemente, sofrem (direta ou indiretamente) as influências e o impacto de suas ações. Assim, uma empresa está em constante relacionamento com outras organizações, e essa interação pode influenciar o desenvolvimento das atividades dessas instituições ou, ainda, como descreve Carvalho e Vieira (2003b, p.12):

A aplicação do conceito de campo organizacional pode indicar que o desempenho ou a trajetória de uma organização, ou de um grupo de organizações, estão vinculadas às diretrizes valorativas e normativas dadas por atores externos, que se inserem nos diferentes níveis das organizações, afetando a sua política e estrutura.

O ambiente onde está imerso o setor elétrico brasileiro suscita diversas indagações e estimula a investigação aprofundada sobre o tipo de comportamento de todos esses atores durante a formação do referido setor e a respeito do papel por eles desempenhado. A energia elétrica é um valor incorporado à nossa sociedade e que está diretamente relacionado com o desenvolvimento econômico e social do Brasil; ou seja, a energia elétrica é um serviço essencial à nossa sociedade, e sua disponibilidade depende de um conjunto de fatores que devem estar permanentemente presentes, dos quais destacam-se, entre outros, os investimentos em geração, transmissão e distribuição de energia, os marcos regulatórios consistentes, além do pessoal especializado preparado para administrar e operar o sistema elétrico. Pela relevância dessa questão para a sociedade brasileira, e levando em conta os interesses sociais, políticos e econômicos envolvidos, este estudo se propôs a responder à seguinte questão, que é a pergunta de pesquisa desta dissertação:

“QUAIS OS ELEMENTOS QUE CONCORRERAM E QUAIS INFLUÊNCIAS TIVERAM NA FORMAÇÃO E ESTRUTURAÇÃO DO CAMPO DA ENERGIA

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Para operacionalizar este projeto de pesquisa, apresentaram-se:

1.1 Objetivos

Para responder ao problema de pesquisa anteriormente referenciado, foi necessário definir os seguintes objetos de pesquisa:

1.1.1 Objetivo geral

Levantar, descrever e analisar quais os elementos que contribuíram e influenciaram a formação e a estruturação do campo organizacional da energia elétrica no Brasil.

1.1.2 Objetivos específicos

Para viabilizar esse objetivo geral foi necessário percorrer as seguintes etapas:

a) definir o campo organizacional da energia elétrica no Brasil e identificar quais as organizações que fazem parte desse campo;

b) identificar quais os elementos históricos e institucionais que foram fundamentais para a formação e estruturação do campo organizacional de energia elétrica no Brasil;

c) caracterizar os principais “incidentes críticos” que marcaram a história do campo organizacional e qual a sua relevância para a atual configuração do campo organizacional da energia elétrica; e

d) identificar quais os principais atores sociais, seus papéis e recursos de poder na formação e estruturação do campo organizacional de energia elétrica no Brasil.

1.2 Justificativa teórica e prática

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transportada e distribuída em outra região − e pela necessidade de geração de energia nova, já que o consumo cresce a taxas anuais elevadas, dentre outras características que serão abordadas. Cabe ainda ressaltar a necessidade de grandes investimentos, não apenas em geração, mas também em transmissão e distribuição, para que no futuro não se configure o mesmo cenário de falta de energia elétrica, com todas as conseqüências negativas resultantes, conforme já ocorrido no Brasil em outras épocas, e mais recentemente, em 2001. O conhecimento da história do setor elétrico brasileiro, sua formação, seus principais atores, influências, quais os interesses envolvidos ao longo do tempo e quais as principais mudanças estruturais e organizacionais que levaram à atual configuração são aspectos absolutamente relevantes a serem considerados para se entender esse importante setor. Compreender esse processo é a contribuição que este tipo de pesquisa pode oferecer para o desenvolvimento dos estudos organizacionais no país.

Leite (1997) já alertou para a enorme diferença de consumo de energia entre os países desenvolvidos e aqueles em desenvolvimento, já que a questão energética para estes países assume um caráter de desafio se desejarem crescer de forma continuada e não aumentarem o fosso em relação aos desenvolvidos. Sem dúvida, essa é uma questão atual para o Brasil, com a sua necessidade de crescimento e, conseqüentemente, com sua permanente demanda por nova energia, para poder vencer esse desafio ainda longe de ser plenamente equacionado.

Quanto à opção teórica escolhida, a abordagem institucional, ela é conseqüência da decisão de não se efetuar uma análise puramente econômica do setor elétrico brasileiro, mas de considerar outros elementos que transcendam uma análise organizacional elaborada pela forma tradicional, conforme descrevem Carvalho e Vieira (2003a, p.28):

A perspectiva institucional abandona a concepção de um ambiente formado exclusivamente por recursos humanos, materiais e econômicos para destacar a presença de elementos culturais – valores, símbolos, mitos, sistemas de crenças e programas profissionais.

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2 - FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA

Até à década de 1950, os estudos desenvolvidos na área organizacional estavam centralizados em abordagens estruturais e comportamentais (CARVALHO e VIEIRA, 2003a) e, conseqüentemente, não eram consideradas as relações de interdependência com o ambiente externo. A partir de 1960, surgiram novas correntes teóricas que já admitiam a relação entre as organizações e o ambiente onde atuam (MOTA e VASCONCELOS, 2002). Dessas teorias que foram formuladas admitindo a interação entre a organização e o ambiente, podemos destacar, dentre as mais referenciadas pela literatura especializada, a teoria geral de sistemas, a teoria da contingência estrutural, a teoria da dependência de recursos, a teoria de custos de transação, a teoria da ecologia populacional e a teoria institucional.

A teoria dos sistemas olha a organização como um sistema aberto, não isolado, inserida num sistema social que interage com o meio ambiente, numa relação de intercâmbio e interação. No entanto, uma das suas principais questões, é a importância dada ao ambiente, negligenciando o papel dinâmico das contradições internas das organizações. A teoria da contingência estrutural preconiza que a organização necessita adequar sua estrutura e os fatores contingenciais − como por exemplo, sua estratégia, seu tamanho e suas incertezas, sua tecnologia - de forma contínua ao meio ambiente, o que ocasiona um permanente ajuste interno da organização. A teoria da dependência de recursos reconhece a dependência da organização em relação aos recursos de que necessita para sobreviver e crescer, e que se encontram no seu meio ambiente − o que a leva a estabelecer relações de troca com outras organizações −, como também ressalta a dependência da organização em relação ao meio ambiente. Por sua vez, a teoria de custos de transação enfatiza os custos necessários para negociar as trocas entre as organizações, o que gera uma maior dependência de recursos entre as organizações, ou seja, quanto maior for a dependência de recursos entre as organizações, maiores serão os custos de transação. Na teoria da ecologia populacional as organizações são consideradas altamente influenciáveis pelo ambiente em que se encontram, e quanto mais hábeis em se adaptarem ao meio ambiente, maior a probabilidade de sobrevivência (MOTA e VASCONCELOS, 2002).

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estudos de Pfeffer e Salancik (1978) defendem o ambiente como fator preponderante nas ações das organizações, outros, como McNeil e Perrow (1986), afirmam o contrário, argumentando que são as organizações que exercem influência sobre o ambiente (CARVALHO, VIEIRA e LOPES, 1999). Contudo, a maioria desses estudos considera apenas questões técnicas e financeiras, descuidando dos fatores sociais e culturais como variáveis que, também, fazem parte do funcionamento organizacional. A questão do ambiente no âmbito da perspectiva institucional é ressaltada por Carvalho, Goulart e Vieira (2004, p.9) quando afirmam que:

o ambiente representa não apenas a fonte e o destino de recursos materiais (tecnologia, pessoas, finanças e matéria-prima), mas também fonte e destino de recursos simbólicos (reconhecimento social e legitimação). Dito de outra forma, o reconhecimento social e a legitimação representam requisitos básicos para a obtenção dos demais recursos, tornando-se preponderante a função do ambiente institucional para algumas organizações.

A partir da década de 1970, principalmente, com os trabalhos de Selznick e de Parsons, surge a perspectiva institucional que combate uma visão estritamente racional-funcionalista, e os aspectos cognitivo, político, cultural e simbólico passam a ser percebidos como fatores que influenciam o ambiente onde as organizações se inserem, sendo então incorporados à analise organizacional. Nesse sentido, Selznick é tido por muitos autores como o percursor dessa abordagem na área de administração (CARVALHO e VIEIRA, 2003b), já que ele reconhecia o caráter racional das organizações, tendo em vista que são orientadas a atingir seus objetivos, ao mesmo tempo em que sinalizava para a incapacidade das estruturas formais reprimirem o lado irracional do comportamento organizacional, uma vez que os indivíduos não agem baseados somente em seus papéis formais, assim como as organizações não funcionam apenas baseadas em suas estruturas formais (FACHIN e MENDONÇA, 2003).

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com os diversos interesses que criaram, e a maneira como se adaptou ao seu ambiente.” (SELZNICK, 1972, p.14). As organizações se transformam em instituições, quando estas inserem um valor, ou seja, quando é produzida uma identidade distinta para a organização e quando o estágio de institucionalização já está fortalecido, onde hábitos e práticas são unificados em todos os aspectos da vida organizacional, dando-lhe uma integração com a sociedade que vai além da coordenação e dos comandos formais (SELZNICK, 1972). O processo de institucionalização está presente na trajetória da organização, quando esta vai assimilando, paulatinamente, os valores que vão transformá-la em uma instituição.

Ao analisarem a obra de Selznick, Fachin e Mendonça (2003, p.34) afirmam que

[a] obra seminal de Selznick dentro da teoria das organizações introduz uma visão de organização não somente inserida num ambiente, mas reconhecendo uma interação efetiva com o ambiente, pleno de símbolos e de valores que precisam ser levados em conta se a organização busca encontrar sua legitimidade, sua sobrevivência, seu equilíbrio.

Esse ponto de vista é validado por Fonseca (2003), quando ela atribui a Selznick uma nova perspectiva à análise das organizações, ao rejeitar a concepção racionalista e passar a visualizar a organização como expressão de valores sociais, destacando sua relação com o ambiente. Assim, o ambiente passa na teoria institucional a ser contextualizado de uma forma muito mais ampla e relevante, servindo como base de análise para as relações interorganizacionais.

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acabam formando o ambiente institucional (CARVALHO e VIEIRA, 2003b). Por esses motivos, pode-se afirmar que

a perspectiva institucional pode ser tipificada como uma abordagem simbólico-interpretativa da realidade organizacional, apresentando uma posição epistemológica predominantemente subjetivista, em que é salientada

a construção social da realidade organizacional. (FACHIN e MENDONÇA, 2003, p.29)

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Quadro 2.1

Dimensões do velho e do novo institucionalismo

DIMENSÕES VELHO

INSTITUCIONALISMO

NOVO

INSTITUCIONALISMO

Conflito de interesses Central Periférico

Fonte de inércia Interesses legais Imperativo da legitimação

Ênfase estrutural Estrutura informal Papel simbólico da estrutura formal

Inserção organizacional Comunidade local Campo, setor ou sociedade Natureza da inserção Cooptativa Constitutiva Lugar da institucionalização Organização Campo ou sociedade Dinâmica organizacional Mudança Persistência

Formas-chave de cognição Valores, normas, atitudes Classificações, rotinas, documentos e esquemas

Bases cognitivas da ordem Comprometimento Hábito e ação prática

Objetivos Deslocados Ambíguos

Fonte: DiMaggio e Powell (1991a, p.13).

Apesar dessas diferenças, a teoria institucional não corresponde a um corpo teórico único, já que representa uma contribuição dada por diversos autores, de diferentes épocas e múltiplos pontos de vista (ALVES e KOGA, 2003). Por isso, alguns autores consideram que não existe essa distinção entre o “novo” e “velho” institucionalismo, como assegura Selznick, já que o chamado “novo institucionalismo” não apresenta nenhuma novidade, nem em relação à sociologia tradicional, nem como “instituição” nem como “institucionalização” como são definidas (FACHIN e MENDONÇA, 2003).

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vertentes, seja a política, a econômica ou a sociológica (CARVALHO, GOULART e VIEIRA, 2004).

Embora existam correntes que separam o “velho” e o “novo” institucionalismo, neste estudo foram destacados os pontos importantes que permitem expandir o potencial explicativo dessa teoria, sem que essa proposição se configure numa nova abordagem teórica. O que se pretende é apenas ressaltar os aspectos mais importantes da teoria institucional que vão fundamentar a moldagem analítica utilizada nesta pesquisa.

Finalmente, deve ser destacado que esta pesquisa foca uma atividade desenvolvida exclusivamente no Brasil, que é o setor elétrico brasileiro. Esse setor tem entre suas principais atribuições a geração, a transmissão e a distribuição de energia elétrica à população e ao setor produtivo, e é fundamental que tal perspectiva seja levada em conta, para que a produção do conhecimento advindo deste estudo não seja uma mera reprodução de tantos outros trabalhos já realizados, com base em estudos empíricos de países desenvolvidos e elaboradas em variados ambientes externos. Por isso, para responder às perguntas da pesquisa colocadas nesta dissertação será levado em consideração que este fenômeno se produz no ambiente de um país em desenvolvimento com seus particulares aspectos políticos, econômicos, sociais e culturais, bem como de seus próprios valores.

2.1 A abordagem institucional e o campo organizacional

O conceito de campo organizacional é central para a análise institucional e envolve um conjunto de organizações que forma um reconhecido espaço na vida institucional. Nesse espaço interagem todos os atores relevantes, como os principais fornecedores, os concorrentes, as agências reguladoras e/ou o Estado, além de outras organizações que “produzem” serviços e produtos similares (DIMAGGIO e POWELL, 1991a). A estruturação do campo organizacional é o resultado das ações dos diferentes atores, que agem, dentre outros motivos, por relações de interesse, de influência ou de dependência, como também por pressão social.

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a aplicação do conceito de campo organizacional pode indicar que o desempenho ou a trajetória de uma organização, ou de um grupo de organizações, estão vinculadas às diretrizes valorativas e normativas dadas por atores externos, que se inserem nos diferentes níveis das organizações, afetando sua política e estrutura. Assim, o conceito de campo organizacional está igualmente associado à idéia de que não apenas as relações de troca material, mas também as relações de troca simbólica, envolvem a sobrevivência organizacional. (CARVALHO e VIEIRA, 2003b, p.12)

A configuração do campo organizacional é o resultado do embate entre os principais atores sociais que participam desse campo, que utilizam os recursos de poder que dispõem para atingir seus objetivos. Além disso, é onde a descoberta e a análise dos valores desses atores é o principal questionamento teórico (CARVALHO e VIEIRA, 2003b). O campo organizacional está compreendido num ambiente social mais amplo, que transcende o formalismo das estruturas organizacionais, mostrando com mais clareza quais os principais atores sociais e/ou organizações envolvidas, quais seus interesses e influências, de forma a poder entender a formação, a trajetória, a estruturação e a institucionalização do setor elétrico brasileiro.

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Figura 2.1

Etapas da formação de um campo organizacional

Fonte: Carvalho e Vieira (2003b, p.19).

Essas etapas sucedem-se ao longo do tempo e são validadas pelos seguintes indicadores de estruturação de campos organizacionais, de acordo com DiMaggio e Powell (1991b, p.65):

a) aumento no grau de interação entre as organizações no campo organizacional;

b) surgimento de estruturas de dominação e de padrões de coalizão claramente definidos; c) aumento no volume de informação com o qual as organizações dentro de um campo

devem lidar; e

d) desenvolvimento de uma consciência mútua entre os participantes de um grupo de organizações, sobre o fato de que estão envolvidos num empreendimento comum.

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Para Powell (1991, p.195), os “campos organizacionais são criados em diferentes épocas e sob circunstâncias distintas; assim eles evoluem de acordo com trajetórias divergentes em variadas velocidades”. Conforme já foi dito, essa questão também foi abordada nesta pesquisa, quando foram apresentadas diferentes configurações do campo organizacional, que coincidem com o final de determinados períodos da formação e estruturação do setor elétrico brasileiro. Posteriormente, são definidos e esclarecidos os motivos da escolha dessas datas.

A dimensão política da abordagem institucional mencionada, principalmente, pelo trabalho do institucionalismo de Selznick (1972), é uma questão marcante e muito positiva para a análise, já que os principais atores sociais enfocados no campo organizacional do setor elétrico estão diretamente relacionados a funções governamentais, pois dentre outras importantes atribuições, desde 1934, o governo federal é o poder concedente dessa atividade essencial ao desenvolvimento do país. Os demais atores que atuam no campo organizacional também têm seus interesses, influências e relações institucionais, o que é mais um motivo para podermos analisar este estudo organizacional dessa perspectiva (VIEIRA et al, 2004).

Com este estudo procurou-se identificar como ocorreu a formação e a estruturação do campo organizacional no setor de energia elétrica brasileiro, utilizando-se, dentre outros, do conceito de campo organizacional como uma das principais ferramentas de análise e de identificação dos elementos que concorreram para esse processo, já que serão apresentadas as diversas etapas de sua construção e/ou constituição.

2.2 Legitimidade e isomorfismo na abordagem institucional

Outra questão central na perspectiva institucional é a busca da legitimidade pela organização. O processo utilizado é o isomorfismo, o qual podemos definir como um mecanismo que leva as empresas, em contextos ambientais semelhantes, a tornarem-se similares, no que diz respeito a suas estruturas e processos, e que também pode envolver crenças e valores. Nesse sentido, Carvalho e Vieira (2003a, p.33) enfatizam que

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esse problema, utiliza freqüentemente, como uma busca de legitimidade, os princípios institucionais que compreendem a similitude, ou seja, o isomorfismo.

Assim, o isomorfismo traz vantagens para as organizações, uma vez que a semelhança de práticas entre as organizações favorece o seu funcionamento interno pela incorporação de regras socialmente aceitas (FONSECA, 2003), o que facilita a montagem das estruturas organizacionais, pois elas se moldam aos requisitos exigidos pelos demais atores do seu campo organizacional.

Dessa forma, nos ambientes institucionais, a elaboração e a transmissão das técnicas, regras e procedimentos proporcionam às organizações a legitimidade de que necessitam para serem aceitas socialmente. Nesse caso, o controle ambiental incide sobre a adequação da forma organizacional às pressões sociais, resultando em isomorfismo institucional (FONSECA, 2003).

A perspectiva institucional reconhece as influências do ambiente nas estruturas e nos procedimentos da organização, o que a leva, para conseguir sobreviver, a se adaptar ao ambiente onde está inserida. Isso significa que não é suficiente o desempenho técnico da organização, traduzido na sua eficácia, mas que também é necessário que ela possua um grau de legitimidade traduzida pelas normas e valores do ambiente que a empresa consegue reproduzir. Para Perrow (1986) uma das principais contribuições da abordagem neo-institucional à teoria das organizações é o destaque dado à influência do ambiente, quando coloca a legitimidade e o isomorfismo como fatores vitais para a sobrevivência das organizações.

Para identificar os mecanismos pelas quais ocorrem as mudanças isomórficas nos campos organizacionais, DiMaggio e Powell (1991b, p.67-73) propõem o seguinte:

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b) isomorfismo mimético − resultante de respostas padronizadas às incertezas do ambiente, quando as organizações ainda não absorveram a tecnologia existente, quando seus objetivos são ambíguos ou quando o ambiente gera incertezas simbólicas. Essas organizações imitam as práticas e procedimentos que tiveram êxito em organizações similares, para se legitimarem em seu campo organizacional;

c) isomorfismo normativo − associado à profissionalização, resulta do movimento coletivo de um conjunto de pessoas com a mesma ocupação que tentam definir condições e métodos de trabalho, visando estabelecer bases cognitivas e legítimas para a sua autonomia profissional. Dois aspectos desse tipo de isomorfismo são particularmente importantes. O primeiro é a influência de determinadas instituições de ensino no conhecimento formal da organização. O segundo é a criação de uma rede de profissionais originários da mesma instituição de ensino, o que tem como uma de suas conseqüências, a admissão de pessoas provenientes de uma mesma escola.

Essa questão é tão importante na perspectiva institucional, que leva Meyer e Rowan (1991, p.50) a ressaltarem que as “organizações que omitem os elementos de estrutura legítimos do ambiente ou que criam estruturas próprias carecem de explicações legítimas e aceitáveis para as suas atividades.”, uma vez que a legitimidade está relacionada com o nível de apoio cultural recebido pela organização. Isso leva as organizações a competirem não apenas por recursos e consumidores, mas por poder político, legitimação institucional e reconhecimento social, bem como por oportunidades econômicas (DIMAGGIO e POWELL, 1991a).

(27)

2.3 O poder e o campo organizacional

Na teoria institucional, um dos pontos de maior diferença entre o velho e o novo institucionalismo é a questão do poder, focada de forma muito mais explícita pelo velho institucionalismo do que pelo novo.

O conflito de interesses, por exemplo, é central no velho institucionalismo e periférico no novo. Ora, o conflito de interesses é sempre resolvido por meio de estratégias de enfrentamento ou negociação. Ambas estão circunscritas pelo poder potencial e operacional dos agentes envolvidos. Isso conduz à questão da fonte de inércia ser dada pelos interesses (e, portanto, poder) no velho institucionalismo e pela legitimação no novo.

(VIEIRA e MISOCZKY, 2003, p.58)

O novo institucionalismo vê o poder sem conflito, porque aceita a dominação, em função da valorização da legitimidade como seu elemento central. Por sua vez, o velho institucionalismo tem uma visão de poder com conflito, já que são admitidas as disputas de poder no campo organizacional ou nas organizações. Quando ocorrem essas alterações de poder, interna ou externamente às organizações, também, se altera a configuração do campo, levando, inclusive, ao aparecimento de novas instituições (VIEIRA e MISOCZKY, 2003). Essa questão é particularmente importante na formação e estruturação do setor elétrico brasileiro, quando surgem novas organizações resultantes das alterações de poder no campo organizacional.

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O conceito de poder tem sido objeto de estudo dos mais variados autores, em face da sua importância nas relações sociais, para o entendimento de diversos fenômenos relacionados com o comportamento individual ou de um grupo de pessoas, à compreensão das decisões e/ou trajetórias das organizações ou de um conjunto de organizações, ou até, como ressalta Pagés et. al (1993) para a compreensão da dominação das grandes corporações, particularmente sobre os indivíduos que nela trabalham.

Inicialmente, é citado o proeminente sociólogo Max Weber (apud GALBRAITH, 1999), para quem o poder “é a capacidade de uma ou mais pessoas realizarem sua própria vontade num ato comunal contra a vontade de outros que participam do mesmo ato”. No entanto, esse é ainda um conceito linear de poder, o qual é entendido como a relação entre quem o exerce e aquele que sofre essa ação.

Posteriormente, Bierstedt (apud BACHARACH e LAWLER, 1980) destaca que “poder é uma força ou habilidade para aplicar sanções. É uma força potencial, não se confundindo com o uso da força. O poder deve ser diferenciado da influência”. Nessa definição, destaca-se que o poder é eminentemente coercitivo, que impõe submissões; enquanto influência é uma ação que tem a adesão de quem está sendo influenciado.

Em seguida, Kaplan (apud BACHARACH e LAWLER, 1980) descreve que “o poder é a habilidade de uma pessoa ou grupo de pessoas influenciarem o comportamento de outras; ou seja, mudar a probabilidade com que essas outras pessoas responderiam a um certo estímulo”. Este autor amplia o conceito de poder , que passa a ser uma competência de quem o exerce, para que haja a mudança de atitude de quem sofre a ação, para que este tenha o comportamento desejado por quem detém o poder. A influência passa a ser um fator fundamental para o exercício do poder, porque não só o poder coercitivo, a sanção ou outras formas autoritárias modificam a atitude de quem está sendo submetido ao poder Outros tipos de ação, como o convencimento e a insinuação, também podem ser empregados para se conseguir uma mudança de comportamento.

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as coalizões se formam à medida que as partes buscam promover seus próprios interesses. Procuram exercer o poder sobre outras coalizões e fomentar seus próprios interesses. As análises das coalizões sugerem que as organizações são altamente politizadas, havendo nelas alianças e arranjos de poder mutáveis. (HALL, 1984, p.102)

Nessa situação, grupos de pessoas ou de organizações constituem pactos formais ou informais, com determinado objetivo que podem ser desfeitos quando uma ou mais organizações alterarem sua estratégia.

Outra abordagem do conceito de poder já tem uma determinada finalidade (eminentemente empresarial), que é a de gerar resultados desejados por quem detém esse poder numa organização, mas que pode ser estendida a pessoas ou grupos de pessoas que tentam retirar (ou retiram) de outras os objetivos que desejam, quando asseguram que

a capacidade de pessoas ou grupos extraírem de si próprios resultados valiosos de um sistema onde outras pessoas ou grupos tentam o mesmo ou preferem direcionar seus esforços para outros resultados. O poder é exercido para alterar uma distribuição inicial de resultados, para estabelecer uma distribuição desigual ou para alterar os resultados. (PERROW, 1986, p.259)

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As organizações ou coalizões de organizações exercem seu poder, sua influência, em virtude de seus interesses no campo organizacional onde atuam, uma vez que

cada campo prescreve seus valores particulares e possui seus próprios princípios regulativos. Esses princípios delimitam um espaço socialmente estruturado em que os agentes lutam, dependendo das posições que ocupam no campo, seja para mudar, seja para preservar seus limites e forma. Duas propriedades são centrais a essa definição. (1) Um campo é um sistema padronizado de forças objetivas, uma configuração relacional dotada de uma gravidade específica e que é imposta a todos os objetos e agentes que entram nele. Como um prisma refrata forças externas de acordo com a estrutura interna. (2) Um campo é, simultaneamente, um espaço de conflito e competição, um campo de batalha em que os participantes visam ter o monopólio sobre os tipos de capital efetivos e o poder de decretar hierarquias e uma “taxa de conversão” entre todos os tipos de autoridade no

campo de poder (VIEIRA e MISOCZKY, 2003a, p.55),

onde a luta pela sobrevivência e sucesso ou insucesso das organizações leva ao permanente conflito, de forma a que os objetivos e interesses de uma ou mais organizações se sobreponham ao de outras.

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2.4 Modelo analítico utilizado

Neste estudo considerou-se que o conjunto de referências teóricas apresenta uma base consistente e abrangente para analisar a formação e a estruturação do setor elétrico brasileiro. A primeira consideração a ser feita sobre a opção por esse referencial teórico é quanto à abordagem institucional no ambiente, pois nenhum outro modelo de organizações levou tanto em consideração o ambiente e a interação organização-ambiente (PERROW, 1986) como um fator muito importante para a análise do campo organizacional do setor elétrico no Brasil. A análise do setor elétrico levou em conta o ambiente onde atuam seus principais atores sociais e/ou organizações, um dos fatores fundamentais para o conhecimento da formação desse setor imerso num país em desenvolvimento, cujas influências são diferentes daquelas de países onde os estudos empíricos contribuíram para o desenvolvimento da teoria institucional. Isso levou Meyer e Rowan (1991, p.47) a afirmarem que as “organizações negociam com seu ambiente nas suas fronteiras e imitam seu ambiente na sua estrutura”, enfatizando, também, a importância do ambiente na estrutura e nas ações empresariais.

A escola institucional defende que a explicação do comportamento organizacional não está, essencialmente, na estrutura formal da organização, nas metas e objetivos anunciados, bem como na produção de bens e serviços, mas também nos processos forjados pelos grupos informais, nos conflitos entre grupos, na interação com os grupos externos, no esforço para ser reconhecido na estrutura do poder local, nas instituições legais e na comunidade (PERROW, 1986). Nesse sentido, as entrevistas realizadas e aqui apresentadas, realizadas com pessoas que participaram de grande parte da história do setor elétrico brasileiro, trouxeram as necessárias contribuições e informações, que vão adequar a história do setor elétrico ao referencial teórico apresentado, principalmente, quanto aos fatores destacados. Uma síntese da abordagem institucional, entre o “velho” e o “novo” institucionalismo, é o referencial básico proposto para a análise da formação e estruturação dos campos organizacionais do setor elétrico. Para analisar a questão do poder, presente em toda a formação desse campo, é possível afirmar que

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poder (internos e externos) no campo se modificam e geram novas instituições. (VIEIRA e MISOCZKY, 2003, p.59)

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3 - METODOLOGIA

De acordo com Gil (1989), a pesquisa é um procedimento racional e sistemático cuja finalidade é proporcionar respostas aos problemas que são propostos, quando não se tem informação suficiente para se conseguir essas respostas ou quando a informação disponível está desordenada, dificultando relacionar a informação com o problema proposto. A pesquisa começa com a formulação do problema e desenvolve-se ao longo de diversas etapas, quando ao final se apresentam os resultados da indagação.

A partir da metodologia, parte fundamental de qualquer dissertação, é que se pode avaliar a validade, confiabilidade e aplicação de um trabalho, que são características que devem compor uma pesquisa qualitativa (VIEIRA, 2004), cuja metodologia vai ser utilizada nesta dissertação. Como a pesquisa do campo organizacional do setor de energia elétrica é pouco explorada, esta pesquisa foi realizada por meio de uma análise descritiva, já que se trabalhou com a descrição da realidade.

3.1 Perguntas de pesquisa

O principal problema desta dissertação foi decomposto nas seguintes perguntas de pesquisa:

a) que organizações fazem parte do campo organizacional de energia elétrica no Brasil? b) quais os elementos históricos e institucionais que foram fundamentais para a formação

e estruturação do campo organizacional de energia elétrica no Brasil?

c) quais os principais incidentes críticos que marcaram a história do campo organizacional, e de que forma têm relevância na sua configuração atual?

d) quais os principais atores sociais, o papel desempenhado por eles e de que recursos de poder se valeram na formação do campo organizacional de energia elétrica no Brasil?

3.2 Definição constitutiva (DC) e operacional (DO) dos termos relevantes

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“como aquele termo ou variável será identificado, verificado ou medido, na realidade.” (VIEIRA, 2004, p.19). Os principais conceitos utilizados nesta dissertação foram:

a) campo organizacional

DC: entendeu-se por campo organizacional “as organizações que, no seu conjunto, constituem um reconhecido espaço da vida institucional, onde interagem todos os atores relevantes, como os principais fornecedores, seus recursos, agências reguladoras e outras organizações que produzem serviços e produtos similares” (DIMAGGIO e POWELL, 1991a, p.64);

DO: essetermo foi operacionalizado através da identificação e seleção das organizações atuantes no setor elétrico brasileiro, englobando, entre outras, as empresas geradoras, transmissoras e distribuidoras de energia elétrica, as entidades de classe, agências reguladoras e os consumidores.

b) atores sociais

DC: entendidos como os indivíduos ou organizações que conforme suas posições relativas, se enfrentam no campo, de forma relevante e por meios e fins diversos, mas contribuindo para a formação e estruturação do campo organizacional (BOURDIEU, 2000);

DO: o termo foi operacionalizado para identificar os indivíduos ou organizações, seus interesses e recursos de poder, no sistema de forças que formam e estruturam o campo organizacional.

c) poder

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DO: o termo será operacionalizado pela identificação do jogo de influências e dos conflitos protagonizados pelos atores do campo organizacional de energia elétrica na defesa de seus interesses.

d) ambiente institucional

DC: uma vez entendido como “o ambiente formado em sua totalidade por fluxos e intercâmbios técnicos, há que acrescentar um sistema de crenças e de normas institucionalizadas que juntos representam uma fonte independente de formas organizacionais racionais. Assim, o ambiente institucional representa um enriquecimento do que se compreende como ambiente técnico, ampliado ao domínio do simbólico” (CARVALHO, VIEIRA e LOPES, 1999, p.7);

DO: o termo será operacionalizado pela identificação das estruturas simbólico-normativas e de poder presentes no campo de energia elétrica brasileiro.

e) campo de energia elétrica brasileiro

DC: entendido como o conjunto das organizações, publicas e/ou privadas que prestam serviços relacionados à geração, transmissão e distribuição de energia elétrica no Brasil;

DO: o termo foi utilizado para identificar as diferentes organizações que atuam no campo da energia elétrica brasileira, e que de alguma forma o influenciam.

3.3 Delineamento da pesquisa

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Com base na abordagem qualitativa, este estudo compreende um levantamento histórico do campo organizacional do setor elétrico brasileiro e uma análise detalhada para identificar os fatos relevantes ocorridos durante sua formação e estruturação. Para que esta pesquisa fosse validada e preservada sua autenticidade, foram entrevistados indivíduos de notória competência na área de conhecimento deste estudo, que exerceram ou ainda exercem relevantes funções no setor elétrico e que participaram de alguns de seus principais acontecimentos. Para se assegurar da confiabilidade desses depoimentos, foram entrevistados indivíduos de diferentes áreas profissionais, com o objetivo de obter perspectivas diferenciadas do mesmo fenômeno. Além disso, recorreu-se ao testemunho de outras pessoas − também informantes originais de reconhecida competência −, publicados em livro, que combinados com a consulta a diversos outros documentos contribuíram para validar esta pesquisa.

Cabe ainda salientar que em função da capacitação profissional dos entrevistados, um mesmo indivíduo pôde representar vários papéis, já que a maioria desses entrevistados, ao longo de sua trajetória profissional, exerceu atividades em diferentes campos de atuação, como por exemplo, funções de governo ou cargos de direção em empresas estatais e privadas, conforme detalhado na apresentação do currículo profissional de cada um.

3.4 Levantamento dos dados

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3.4.1 Entrevistas

Foram feitas entrevistas em profundidade, semi-estruturadas, cuja finalidade foi obter os dados necessários para responder às perguntas de pesquisa propostas nesta dissertação.

Os entrevistados foram escolhidos pela sua participação nos principais eventos do setor. Pela experiência e importância profissional dos entrevistados, somente foram colhidos os depoimentos de seis pessoas, número suficiente pela qualidade e quantidade dos dados fornecidos, já que outras fontes, posteriormente descritas, também foram consultadas.

O mestrando conversou com cada um dos entrevistados, separadamente, e as entrevistas foram divididas em três partes, conforme o roteiro apresentado no anexo I – “Roteiro da entrevista”. Na primeira parte, o mestrando informou ao entrevistado o objetivo e a contribuição da entrevista para o trabalho de dissertação que estava elaborando. Na segunda parte, foi realizada a entrevista, sempre permitindo e incentivando o entrevistado a prestar qualquer comentário adicional, no momento que desejasse. Cabe observar que, nessa parte, o mestrando mostrou para o depoente várias representações gráficas de acontecimentos ocorridos no setor elétrico, os quais estão apresentados no anexo II – “Quadros para a entrevista”, para que o entrevistado pudesse comentar, concordar ou discordar quanto ao que estava sendo proposto, de acordo com as questões colocadas no roteiro. Finalmente, na terceira parte, foi solicitado ao entrevistado que fizesse suas considerações finais, comentando algum evento que julgasse importante para o esclarecimento de alguma questão. Isso também ajudou o mestrando, a formular novas perguntas que achasse necessárias para detalhar algum ponto eventualmente não esclarecido ou mesmo ainda não abordado.

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3.4.2Perfil dos entrevistados

Este item tem como finalidade apresentar as pessoas entrevistadas, com as principais funções exercidas, para dar a dimensão de sua importância na formação e estruturação do setor elétrico brasileiro. Em ordem alfabética elas são:

Altino Ventura Filho − trabalha no setor elétrico há mais de 35 anos. Por mais de 22 anos foi gerente da Eletrobrás, nas áreas de planejamento e engenharia, tendo coordenado vários comitês e projetos de relevância nacional e internacional. Por cinco anos foi diretor-técnico da Itaipu Binacional, período em que chegou a acumular a presidência, durante licença do presidente da empresa. Foi presidente da Eletrobrás em 2002, último ano do governo Fernando Henrique Cardoso, e participou do conselho de administração de várias empresas elétricas nacionais. Atualmente, é consultor do Ministério de Minas e Energia (MME);

José Marcondes Brito de Carvalho − trabalha há mais de 35 anos no setor. Foi diretor da Companhia Energética de São Paulo (Cesp) e, de 1976 a 1990, foi primeiro diretor da área de operações da Eletrobrás, tendo sido o responsável pela implantação deste setor que é estratégico para o sistema elétrico brasileiro. Presidiu a Light e participou de conselhos de administração de importantes empresas, como Furnas, Cemig, Chesf e Cesp, dentre outras. Influiu de forma marcante na trajetória do setor, nomeadamente, na implantação da interligação nacional do sistema elétrico. Atualmente, é consultor na área de energia elétrica;

Mario Bhering − trabalhou mais de 35 anos no setor. Foi membro da primeira diretoria da Cemig, quando a empresa foi criada em 1952. Presidiu a Eletrobrás de 1967 a 1975, no regime militar, e de 1985 a 1990, no governo Sarney. Na Eletrobrás integrou seu Conselho de Administração, de 1966 a 1990. Atualmente preside o Centro da Memória da Eletricidade, que tem como uma de suas finalidades a recuperação da história do setor elétrico. Dos entrevistados, é o que atuou mais tempo no setor elétrico brasileiro.

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(no governo Collor), diretor financeiro da Chesf (1994-1995), diretor financeiro da Eletrobrás (1995-1999) e diretor financeiro de Furnas (1999-2001). Além disso, participou do conselho de administração de diversas empresas nacionais. Atualmente, exerce as funções de diretor de relações com o mercado da Light, empresa de distribuição de energia elétrica no Estado do Rio de Janeiro, privatizada em 2001;

Ruderico Ferraz Pimentel − trabalha no setor elétrico há mais de 30 anos. Foi diretor de administração da Eletrobrás, de 1993 a 1995, presidente das Centrais Elétricas do Espírito Santo (Escelsa) − depois da privatização dessa empresa de distribuição estadual −, presidente da Fundação Eletros de Seguridade Social, presidente do conselho de administração da Escelsa e da Eletroacre. Atualmente é assistente da presidência da Eletrobrás, cargo que já ocupou em outras ocasiões. É Ph.D. pela Universidade de Londres e professor do Programa de Pós-Graduação da Universidade Federal Fluminense (UFF), sendo um estudioso das questões do setor elétrico, já tendo publicado diversos trabalhos a respeito;

Xisto Vieira Filho − trabalha no setor elétrico há mais de 30 anos. Foi diretor-geral do Centro de Pesquisas do Setor Elétrico (Cepel), diretor de operações da Eletrobrás, de 1998 a 2000, secretário nacional de Energia (MME) e vice-presidente da empresa de energia norte-americana El Paso. Atualmente, participa do conselho de administração do Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS), é presidente da Associação Brasileira de Geradoras Termoelétricas (Abraget) e consultor de uma empresa de comercialização de energia.

3.4.3 Outros depoimentos

Para complementar as entrevistas realizadas, foram considerados os testemunhos que constam do livro Ciclo de palestras: a Eletrobrás e a história do setor de energia elétrica no Brasil, editado em 1995 pelo Centro da Memória da Eletricidade no Brasil. Trata-se do depoimentos de pessoas que também vivenciaram a história do setor, dos quais se destacam os de:

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John Cotrim − engenheiro que iniciou suas atividades na Amforp, participou da criação da Cemig (onde foi membro da primeira diretoria da empresa) e da organização de Furnas (que presidiu por mais de duas décadas), além de ter sido diretor de Itaipu Binacional, dentre outros importantes cargos e funções desempenhados no setor elétrico;

Mauro Thibau − titular do Ministério de Minas e Energia (1964-1966) no governo Castello Branco;

Paulo Richer − primeiro presidente da Eletrobrás (1962-1964);

Antonio Dias Leite Júnior − titular do Ministério de Minas e Energia (1969-1974) no governo Médici;

José Marcondes Brito de Carvalho − que é também um dos entrevistados deste trabalho;

Camilo Pena − fundador da Cemig, foi presidente de Furnas e ministro da Indústria e Comércio (1979-1984) no governo João Figueiredo, dentre outras proeminentes funções e

Eliseu Resende − foi presidente de Furnas (1990-1992), presidente da Eletrobrás (1992-1993), ministro da Fazenda (1993) no governo de Itamar Franco, dentre outros relevantes cargos.

3.5 Coleta e análise dos dados

A coleta de dados nas pesquisas sociais pode ser feita de várias formas. Neste estudo, o objetivo é descrever a formação do campo através de uma pesquisa documental sobre a evolução histórica do setor elétrico brasileiro, identificando fatos e acontecimentos relevantes, também chamados de “incidentes críticos”, que tiveram e têm influência na formação e atual estruturação desse campo organizacional. Além disso, foram coletados dados secundários, mediante consulta a documentos, sites institucionais e folders, dentre outras fontes.

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Por suas características, a abordagem qualitativa contribui para a adoção de diversos métodos que se misturam no decorrer da investigação. Um desses métodos é a entrevista em profundidade que permite o levantamento de determinadas situações específicas, com uma amplitude distinta, o que não seria adequadamente conseguido com a aplicação de questionários (RUEDIGER e RICCIO, 2004). Para obter as necessárias informações ou dados para esta pesquisa, foram realizadas as referidas entrevistas, visando identificar quais os principais acontecimentos, seus atores e sua influência e relevância no campo organizacional do setor elétrico brasileiro.

Para Gil (1989), na pesquisa qualitativa, a análise e a interpretação dos dados podem privilegiar a discussão em torno de dados obtidos, resultando na interpretação dos resultados. Nesta dissertação, o principal objetivo da análise de dados foi descrever, interpretar e explicar os dados coletados, para que se pudesse responder às perguntas de pesquisa.

O autor deste trabalho trabalha há 30 anos no setor elétrico, 28 anos na Eletrobrás, 16 dos quais como gerente da organização. Exerceu diversas funções, destacando-se, dentre outras, aquelas diretamente subordinadas à diretoria de administração − como chefe de departamento e assistente de diretoria −, além de ter trabalhado dois anos em empresas controladas pela Eletrobrás. Participou, ainda, durante quatro anos, do conselho fiscal da Ceal − empresa estatal federal de distribuição de energia elétrica no estado de Alagoas, controlada pela Eletrobrás −, e por dois anos foi conselheiro fiscal da Companhia de Transmissão de Energia do Estado de São Paulo (CTEEP), uma empresa controlada pelo governo estadual. Essas experiências vividas no setor elétrico brasileiro não podem deixar de ser realçadas, porque durante todo esse período, o autor participou de vários e importantes acontecimentos ocorridos no setor.

3.6 Limitações do estudo

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período em questão, correndo-se o risco do autor focar um determinado acontecimento em detrimento de outro que pode ou não ser tão ou mais importante para a análise a ser realizada. A segunda questão refere-se à quantidade de perspectivas que este estudo oferece, ou seja, a análise do setor elétrico envolve simultaneamente as perspectivas política, sociológica, econômica e organizacional, dentre outras.

As entrevistas com bem-sucedidos profissionais do setor, a leitura de depoimentos de outros elementos igualmente de destaque na área e a consulta a documentos, sites e impressos diversos foram determinantes para a escolha do autor desta dissertação quanto aos episódios a serem considerados os mais importantes do período pesquisado e que, portanto, aqui são abordados. Quanto à segunda questão, o referencial teórico escolhido atende à perspectiva adotada, de modo que outros tipos de enfoque poderão ser aplicados em outras dissertações ou teses. De outra forma, esta dissertação despenderia mais tempo para ser desenvolvida e teria que abranger outras áreas do conhecimento que fogem ao escopo deste estudo. Quando nos defrontamos com um problema que se apresenta com múltiplas perspectivas, somente ao se analisá-lo por partes é que se poderá, no futuro, ter uma visão mais ampla do tema em questão.

Ao se estudar o setor elétrico brasileiro de uma perspectiva organizacional, está sendo dada uma contribuição para o estudo desse fenômeno a partir de outro ponto de vista, pois até agora a maioria dos estudos feitos estão diretamente relacionados com a parte técnica do setor. Dessa forma, ao se adotar uma nova perspectiva, espera-se contribuir para o conhecimento de um setor tão importante para o desenvolvimento do país.

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4 - A HISTÓRIA DO SETOR ELÉTRICO BRASILEIRO (1880 – 2002)

Este capítulo tem como finalidade descrever os principais fatos da história do setor elétrico brasileiro, desde sua origem, em 1880, até ao final do governo Fernando Henrique Cardoso, em dezembro de 2002. Para isso, serão descritos os principais eventos que contribuíram para a formação e estruturação do setor, para que se possam compreender as causas e/ou motivos que deram origem às mudanças verificadas nesse importante setor da vida nacional.

O imperador D. Pedro II conheceu a energia elétrica numa exposição na Filadélfia, EUA, em 1876, e autorizou Thomas Edison a lançar no Brasil os aparelhos por ele inventados. Conseqüentemente, em 1879, ainda no Império, ocorreu a primeira demonstração do emprego da energia elétrica produzida mecanicamente no Brasil, com a inauguração no Rio de Janeiro (então capital do país) da iluminação pública da estação central da Estrada de Ferro D. Pedro II (atual Central do Brasil) por seis lâmpadas, a partir da energia gerada por dois dínamos (CENTRO DA MEMÓRIA DA ELETRICIDADE NO BRASIL, 2000). A partir dessa data, em algumas cidades brasileiras, foram realizados alguns empreendimentos, dos quais se destaca a inauguração em junho de 1883, na cidade de Campos (RJ), do primeiro serviço de iluminação pública da América Latina − a partir de uma pequena máquina motriz a vapor e três dínamos −; a instalação em 1883, em Diamantina (MG), da Usina Hidrelétrica Ribeirão do Inferno − destinada a serviços de mineração, para movimentar bombas d’água para desmonte de terreno diamantífero − e a inauguração em Porto Alegre (RS), em 1887, do primeiro serviço público de iluminação elétrica numa capital brasileira, a partir da geração de energia de uma usina térmica. Em síntese, entre 1880 e 1900, essas pequenas usinas geradoras serviam basicamente para o fornecimento de eletricidade para iluminação pública e para atender setores da economia como o de mineração, a indústria têxtil, serrarias e de beneficiamento de produtos agrícolas (CENTRO DA MEMÓRIA DA ELETRICIDADE NO BRASIL, 1988).

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uma fábrica de tecidos em Juiz de Fora e fornecer energia para a iluminação pública dessa cidade (CENTRO DA MEMÓRIA DA ELETRICIDADE NO BRASIL, 1988).

Figura 4.1

Usina hidrelétrica de Marmelos (MG)

Fonte: Centro da Memória da Eletricidade no Brasil (2002, p.12).

Em novembro de 1889, houve a queda da monarquia e a implantação da República, mas somente em fevereiro de 1891 foi promulgada nova Constituição Federal. Com a nova Carta o Brasil tornou-se uma República federativa e presidencialista, em que eram concedidos amplos poderes aos estados para que pudessem elaborar sua própria Constituição e dando autonomia aos municípios (COSTA e MELLO, 1997). No setor elétrico, pode-se identificar nos municípios o verdadeiro poder concedente deste serviço público cuja exploração dependia do relacionamento entre a prefeitura e a empresa concessionária local (LIMA, 1983).

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exploração de linhas telegráficas e telefônicas. A instalação da empresa na cidade de São Paulo, em 1899, deu o primeiro impulso à geração de eletricidade no país, pois na capital paulista estava concentrado o complexo exportador cafeeiro que estimulava o crescimento econômico e, conseqüentemente, oferecia melhores perspectivas de lucratividade para a empresa. A influência da Light foi tão marcante que ela já chegou ao Brasil adquirindo algumas empresas locais, dando início à operação de linhas de bondes elétricos e produzindo energia numa pequena usina a vapor. Em seguida, a São Paulo Light inaugurou a usina de Parnaíba, no rio Tietê, a primeira do país, e em pouco tempo já monopolizava os serviços de bondes e o fornecimento de eletricidade à cidade de São Paulo (LIMA, 1983).

Como os negócios no Brasil estavam prosperando, em 1904, investidores norte-americanos e canadenses constituíram, também em Toronto, uma nova empresa, a Rio de Janeiro Tramway, Light and Power Company Limited, que também recebeu autorização do governo para funcionar no Brasil. Essa empresa se instalou no Rio de Janeiro em 1905, já absorvendo inúmeras pequenas empresas e iniciando a construção da usina de Fontes, no município de Piraí. Em pouco tempo, a Rio Light monopolizava os serviços de iluminação, de bondes e de telefonesda então capital do país (LIMA, 1983).

Um elemento significativo na instalação das empresas estrangeiras era a forma de fixação da tarifa de energia elétrica, a famosa “cláusula-ouro”, aprovada em 1904 pelo presidente Rodrigues Alves, e que foi de fundamental importância para a rentabilidade econômico-financeira dos serviços de energia elétrica. Esta cláusula permitiu às empresas concessionárias corrigirem suas tarifas pela depreciação da moeda, o que era particularmente relevante em momentos de grave desvalorização cambial. Ocorre que essa “cláusula-ouro” era somente aplicada às empresas estrangeiras, por seu capital ter sido registrado em moeda estrangeira ao entrarem no Brasil. Para as empresas nacionais, o mecanismo era diferente, uma vez que o reajuste da tarifa era calculado a partir da garantia de uma remuneração preestabelecida, com base na apresentação do balanço da empresa à prefeitura (LIMA, 1983).

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estado de São Paulo, a criação, em 1912, da Companhia Paulista de Força e Luz (CPFL); no território fluminense, em 1909, a fundação da Companhia Brasileira de Energia Elétrica (CBEE); no Nordeste, em 1913, a inauguração da Usina Hidrelétrica de Delmiro Gouveia, principalmente, para atender a uma fábrica de linhas e fios; além de outras empresas de capital estrangeiro que eram concessionárias de empresas de energia elétrica, principalmente, nos estados da região amazônica, em Pernambuco e na Bahia (CENTRO DA MEMÓRIA DA ELETRICIDADE NO BRASIL, 2000).

Ainda na década de 1910, a maioria das empresas não excedia o âmbito municipal. Nesse período, construiu-se um grande número de pequenas usinas geradoras de energia elétrica − por iniciativa de setores do empresariado nacional ligado à agricultura de exportação, aos serviços urbanos e à indústria − para atender principalmente aos serviços públicos instalados nas cidades como iluminação, transporte coletivo (serviço de bondes) e para abastecer diversas unidades industriais (CENTRO DA MEMÓRIA DA ELETRICIDADE NO BRASIL, 2000).

No início da década de 1920, existia um grande número de empresas nacionais e estrangeiras atendendo a um município, a um empreendimento produtivo ou a um serviço. Pela quantidade de empresas existentes, foram iniciados diversos processos de fusão e incorporação, quase sempre liderados por empresas situadas em municípios economicamente mais fortes, que passaram a controlar áreas mais extensas dos territórios estaduais (LIMA, 1983).

Dispondo de recursos financeiros e interessados em investir no Brasil, chega ao país, em 1927, o grupo American and Foreign Power Company (Amforp). Suas atividades se concentraram no interior de São Paulo, no Rio Grande do Sul (Porto Alegre e Pelotas), Bahia (Salvador), Pernambuco (Recife), Rio Grande do Norte (Natal), Espírito Santo (Vitória) e no interior do estado do Rio de Janeiro, onde adquiriu diversas empresas já instaladas, visto que o grupo Light já ocupara seu espaço no eixo Rio – São Paulo (CENTRO DA MEMÓRIA DA ELETRICIDADE NO BRASIL, 2000).

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grandes grupos estrangeiros que então iniciaram a formação do setor elétrico brasileiro (CENTRO DA MEMÓRIA DA ELETRICIDADE NO BRASIL, 2001). A holding Brazilian Traction, Light and Power Co. Ltd (Grupo Light), controlava a produção e distribuição, principalmente, nas cidades do Rio de Janeiro e de São Paulo, enquanto que a American Foreign Power Co. (Amforp) controlava a geração e a distribuição de energia elétrica no interior de São Paulo e em algumas capitais do Sul e do Nordeste, região onde também adquiriu diversas empresas (CENTRO DA MEMÓRIA DA ELETRICIDADE NO BRASIL, 1988).

A economia cafeeira, principalmente no estado de São Paulo, das décadas finais do século XIX ao final da década de 1930, foi de grande importância para o nascimento e desenvolvimento do sistema elétrico no Brasil, uma vez que a produção cafeeira deu origem a um conjunto de novas atividades, como por exemplo, ferrovias, atividades comerciais e atividades industriais que começaram a demandar energia elétrica (SAES, 1986).

Como os rios eram de propriedade dos estados e não da União, de acordo com a Carta constitucional de 1891, pouco se avançou em termos de regulamentação das atividades do setor elétrico durante a República Velha (1889-1930). Apesar de algumas tentativas para modificar a legislação vigente, os projetos paravam na Câmara dos Deputados. Todavia, cabe registrar dois pontos: primeiro, a maciça presença do capital estrangeiro no setor elétrico; segundo, o contínuo crescimento do mercado de energia elétrica (LIMA, 1983).

Referências

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