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Coabitação com um parceiro doente: conseqüências sobre o comportamento, a atividade...

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Coabitação com um parceiro doente:

conseqüências sobre o comportamento, a atividade

imune inata e o crescimento tumoral

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Coabitação com um parceiro doente:

conseqüências sobre o comportamento, a atividade

imune inata e o crescimento tumoral

Dissertação apresentada ao Programa de Pós-graduação em Patologia Experimental e Comparada da Faculdade de Medicina Veterinária e Zootecnia da Universidade de São Paulo para obtenção do título de Mestre em Ciências

Departamento: Patologia

Área de Concentração:

Patologia Experimental e Comparada

Orientador:

Prof. Dr. João Palermo Neto

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DADOS INTERNACIONAIS DE CATALOGAÇÃO-NA-PUBLICAÇÃO

(Biblioteca da Faculdade de Medicina Veterinária e Zootecnia da Universidade de São Paulo)

T.1536 Alves, Glaucie Jussilane

FMVZ Coabitação com um parceiro doente: conseqüências sobre o comportamento, a atividade imune inata e o crescimento tumoral / Glaucie Jussilane Alves. – São Paulo : G. J. Alves, 2005.

199 f. : il.

Dissertação (mestrado) - Universidade de São Paulo. Faculdade de Medicina Veterinária e Zootecnia. Departamento de Patologia, 2005.

Programa de Pós-graduação: Patologia Experimental e Comparada.

Área de concentração: Patologia Experimental e Comparada.

Orientador: Prof. Dr. João Palermo Neto.

1. Neuroimunomodulação. 2. Convivência com um doente. 3. Tumor de Ehrich. 4. Imunidade inata. 5. Estresse. 6. Citometria de fluxo. I. Título.

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Nome: ALVES, Glaucie Jussilane

Título: Coabitação com um parceiro doente: conseqüências sobre o comportamento, a atividade imune inata e o crescimento tumoral

Dissertação apresentada ao Programa de Pós-graduação em Patologia Experimental e Comparada da Faculdade de Medicina Veterinária e Zootecnia da Universidade de São Paulo para obtenção do título de Mestre em Ciências

Data:___/___/___

Banca Examinadora

Prof. Dr.____________________________ Instituição_____________________ Assinatura__________________________ Julgamento_____________________

Prof. Dr.____________________________ Instituição_____________________ Assinatura__________________________ Julgamento_____________________

(6)

Aos meus pais, Márcia e Nivalter por tanto carinho e

compreensão, pelo suporte emocional e material, o que me

permitiu buscar objetivos tão almejados, e pelo

encorajamento nos horas difíceis, que me mostrou que a

vida não pode ser menor que a imaginação e a capacidade de

amar. Vocês tornam meus dias mais felizes!

A Gleids, cujo acaso, ou o destino, fez nos irmãs, mas

nossos corações nos fizeram amigas. Minha sincera

admiração.

Ao Klauber e ao Douglas pela amizade em todos os

momentos.

(7)

maior do que as palavras. Serei sempre grata ao meu

orientador, Professor Doutor João Palermo Neto pelo

carinho, amizade e atenção que vem me orientando

nesse árduo e, ao mesmo tempo, prazeroso percurso

pelos caminhos da pesquisa incentivado descobertas e

(8)

Ao Departamento de Patologia e Toxicologia (VPT) da Faculdade de Medicina Veterinária e Zootecnia (FMVZ) da Universidade de São Paulo (USP), local aonde este trabalho foi realizado.

A Dra. Maria Silvia F. de Azevedo Morgulis e a Dra.Cristina de Oliveira M. Salles Gomes e ao Dr. Fábio Ribeiro da Silva por suas preciosas colaborações na elaboração desta dissertação.

Ao Professor Mauricio Garcia e a Professora Maria Martha Bernardi pelo apoio irrestrito e por terem me incentivado a seguir no caminho do conhecimento.

Ao Professor Doutor Luciano Felício (VPT-FMVZ-USP), pelo apoio durante a realização deste projeto.

Ao Professor Doutor Luiz Carlos de Sá Rocha (VPT-FMVZ-USP) pelos conselhos dados sempre com muita criatividade, e pela atenção dispensada.

Ao Professor Doutor Jorge Camilo Flório pela amizade, aprendizado e apoio durante os experimentos de neuroquímica.

Aos Professores da Disciplina de Toxicologia em especial a Professora Doutora Silvana Gorniák pela gostosa convivência durante a realização do curso, o qual auxiliou na realização desta dissertação.

Ao Doutor Frederico Costa-Pinto pelos ensinamentos e pelo apoio durante a realização desta dissertação.

Ao Doutor Alexandre Salgado Basso por tantas dúvidas tiradas.

Aos funcionários do Laboratório de Farmacologia e Toxicologia (VPT-FMVZ-USP): Ricardo (Jibóia), Priscila, Magali pelo auxílio e pela convivência.

Aos funcionários do Biotério (VPT-FMVZ-USP): Claudia, Idalina, Rosiris, Herculano, Nelson e Luis por toda a dedicação.

Ás funcionárias das secretarias (VPT-FMVZ-USP): Silvia, Claudia e Cristina pelas gentilezas.

Aos funcionários da biblioteca (VPT-FMVZ-USP): Aninha, Helena, Solange, Mara, Claudia, Margareth e Elza, pela correção da tese e auxílio em todos os momentos.

Ao Departamento de Reprodução Animal (VRA) na pessoa do Prof. Dr. Cláudio Alvarenga e, em especial, á Érica do laboratório de dosagens hormonais (LDH) pelas dosagens de corticosterona.

Ao Laboratório de Diagnóstico de Doenças Infecciosas do VPT, em especial ao Marco Aurélio

Gattamorta, pela replicação da Staphilococcus aureus utilizada neste trabalho.

Nada nascemos sabendo, mas tudo poderemos aprender se tivermos dedicação e grandes amigos como

os que tenho. Muito obrigada!Luciana Vismari, Elaine, Eva, Domênica, Moniquinha, Dario, Maria

Isabel, Ana Leda, Marcos Gata Morta, Edson, Altamir, Nato, Dudu, Ricardo Lazzarini, Vanessa, Ana Leda, Renato, Andréia, Isis, Adriana, Fabiana Godói, Luciana Mirotti, Helena, Marcos, Maria Rita, Benito, Letícia, Portela, Renata, Daniel, Soraya, João Paulo, Julia, Wanderley, Milena, Caio e Vivi.

(9)

consiste em procurar novas paisagens, mas em

ter novos olhos.

(10)

comportamento,a atividade imune inata e o crescimento tumoral. [Cohabiting with a sick mate: consequences on behavior, innate immune activity, and tumor growht]. 2005. 199 f. Dissertação (Mestrado em Ciências) – Faculdade de Medicina Veterinária e Zootecnia, Universidade de São Paulo, São Paulo, 2005.

A atividade do sistema nervoso central (SNC) afeta aquela do sistema imune e esta por

sua vez, através de produtos originados em células imunes, como por exemplo, as citocinas

modificam a atividade cerebral e, portanto, alguns comportamentos. O ato de conviver com

pessoas portadoras de um tumor ou de patologias crônicas debilitantes tem sido estudado por

vários pesquisadores, os quais têm relatado evidencias que mostram ser algumas condições

psicológicas experimentadas por “caregivers” associadas com variações de comportamento e de imunidade. Manifestações de estresse têm sido intensamente estudadas nestas pessoas.

Neste sentido, e guardado os devidos cuidados com as extrapolações, não existe um modelo

animal especificamente desenvolvido para analisar, em laboratório, as eventuais alterações

imunes que possam ocorrer em animais que convivem com um outro doente. Este foi o objeto

do presente trabalho. Mais especificamente, avaliou-se a existência de uma possível interação

neuroimune em camundongas que coabitaram com outras portadoras de um tumor de Ehrlich,

através da análise de parâmetros hematológicos, imunológicos, hormonais, comportamentais e

neuroquímicos. Os resultados obtidos mostraram que a convivência por 11 dias com um

animal portador do tumor de Ehrlich produziu em camundongas: 1) leucopenia; 2) diminuição

do burst oxidativo induzido por PMA e por S. aureus e da porcentagem e, também da intensidade de fagocitose de neutrófilos sanguíneos; 3) aumento do burstoxidativo e redução da porcentagem, mas não alterou a intensidade de fagocitose de macrófagos ativados pelo

ONCO-BCG; 4) diminuição da resistência ao crescimento de um tumor de Ehrlich, isto é,

(11)

daqueles de dopamina e de MHPG; 7) aumento do “turnover” de noradrenalina no hipotálamo e de dopamina no córtex frontal; 8) aumento dos efeitos da anfetamina sobre alguns

parâmetros da atividade locomotora dos animais observados no campo aberto; 9) potenciou os

efeitos de um tratamento com diazepam, reduzindo ainda mais o burst oxidativo induzido por PMA e por S. aureus assim como os efeitos do fármaco sobre a porcentagem e a intensidade de fagocitose de neutrófilos sanguíneos. No entanto, esta convivência não modificou a média

do número de eritrócitos, a porcentagem do hematócrito e o volume corpuscular médio, assim

como a atividade de macrófagos peritoneais residentes e, não interferiu com os níveis de

corticosterona sérica dos animais. Em seu conjunto, os presentes resultados mostraram que a

convivência com animais portadores de um tumor ascítico de Ehrlich produziu alterações

comportamentais, neuroquímicas e imunológicas, que guardam grande similaridade com

sinais e sintomas relatados em caregivers. Estas alterações foram interpretadas como decorrentes de uma situação de estresse psicológico prolongado vivenciado pelas

camundongas companheiras de conspecíficas portadoras de um tumor. Mais especificamente,

postulou-se, neste trabalho, sejam as alterações observadas decorrentes de um aumento de

atividade catecolaminérgica no SNC e/ou de ativação do SNAS. A semelhança dos resultados

obtidos em companheiras de animais doentes com aqueles de caregivers permitiu sugerir, tomados os devidos cuidados com extrapolações, seja o modelo experimental agora usado de

alguma utilidade para a compreensão da situação vivenciada por estes caregivers.

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activity, and tumor growht. [Coabitação com um parceiro doente: conseqüências sobre o comportamento,a atividade imune inata e o crescimento tumoral]. 2005. 199f. Dissertação (Mestrado em Ciências) – Faculdade de Medicina Veterinária e Zootecnia, Universidade de São Paulo, São Paulo, 2005.

The activity of the central nervous system (CNS) affects the immune system, which by

means of products molecules synthesized by its cells, modify the activity of the CNS, and,

consequently, animal behavior. People that care for and support the needs of patients bearing

tumors or with chronic, debilitating diseases, have been studied by many groups, with

evidences pointing towards an association between some psychological conditions

experienced by caregivers and changes in behavior and immunity. Stress-associated

symptoms have been intensely studied in these people. Thus, taking into account the required

grounds reasonable comparisons, there was no description of a suitable model for laboratory

analysis of possible changes in immunity of animals cohabiting with a sick cage-mate.

Therefore, the objective of this study was to establish a suitable model for this purpose. We

particularly aimed on possible neuroimmune interaction in female mice that had cohabited

with Ehrlich tumor-bearing mice, using for comparison hematological, immune, hormonal,

behavioral, and neurochemical parameters. The results of this study show that cohabiting with

a sick mate – mice bearing the Ehrlich tumor – for 11 days induced, in female mice: 1)

leukopenia; 2) decrease in PMA- or S. aureus-induced oxidative burst, and also of the percentage and intensity of phagocytosis by circulating neutrophils; 3) increase in oxidative

burst and reduction in the percentage, but did not influence intensity of phagocytosis by

ONCO-BCG-activated macrophages; 4) decrease in the resistance to the progression of the

Ehrlich tumor, shown by the enhanced concentration of tumor cells per ml of the ascitic fluid,

(13)

noradrenaline in the hypothalamus, and of dopamine in the frontal cortex; 8) enhanced the

effects of amphetamine on several parameters of motor activity observed in the open field

arena; 9) potentiated the effects of diazepam, reducing the PMA- or S. aureus-induced oxidative burst, and on the percentage and intensity of phagocytosis by circulating neutrophils

even further. Nonetheless, cohabiting with the sick mate did not alter the red cell count, the

hematocrit, or the mean cell volume, nor did it influence the activity of resident peritoneal

macrophages or interfere with serum corticosterone levels. Altogether, these findings show

that cohabiting with animals bearing the ascitic Ehrlich tumor caused behavioral,

neurochemical, and immunological changes compatible with those presented and described by

caregivers. These changes are interpreted as related to a sustained, long-term situation of

psychological stress experienced by the conspecific female healthy mates of the

tumor-bearing mice. In particular, we postulate in this study that the changes observed might be

driven by the increased cathecolaminergic activity in the CNS and/or by the activation of the

sympathetic branch of the autonomic nervous system (SANS). The resemblance of the results

obtained here and those seen in human caregivers allows the careful suggestion that this

model may be relevant to help understanding the situation experienced by caregivers.

(14)

ACTH - Hormônio adrenocorticotrópico ATCC25923 - Cepa de Staphylococcus aureus BCG - Bacilo Calmet Guerin

BDZ - Benzodiazepínico

CD - Agrupamento de diferenciação DA - Dopamina

DCFH-DA - 2’7’ diacetato de diclorofluoresceína DOPAC - Ácido 4,4-diidroxifenilacético ERO - Espécie reativa de oxigênio FITC - Isoticicianato fluorescentes

FSC - Feixe óptico de luz que indica tamanho da célula GM-CSF - Fator estimulante de colônia

HPLC - Cromatografia líquida de alta performance H2O2 - Peróxido de hidrogênio

HHA - Eixo hipotálamo-hipófise-adrenal HPA - Eixo hipotálamo-pituítaria -adrenal HVA - Ácido homovanílico

IL - Interleucina IgG - Imunoglobulina G IFN - Interferon

LPS - Lipopolissácarídeo

MAO - Enzima monoamina oxidase

MHPG - 3-metoxi-4-hidroxifeniletilenoglicol MPO - enzima mieloperoxidase

NA - Noradrenalina

NADPH - Diidronicotinamida-adenina-dinucleotídeo-fosfato

NADPH-oxidase - Enzima ligada a produção de espécies reativas de oxigênio NK - Célula exterminadora natural

NO - Óxido Nítrico

Onco-BCG - Cepa atenuada do bacilo Camette-Guerin OVA - Ovalbumina

IFN - Interferon

PBR - Receptor benzodiazepínico periféricos PE - Phicoeritrina

PI - Iodeto de propídio

PMA - Miristato-acetato de forbol PMN - Células polimorfonucleares PPG - Propilenoglicol

SAPI - Staphylococcus aureus conjugada com iodeto de propídio SI - Sistema Imunológico

SNA - Sistema Nervoso Autônomo

SNAS - Sistema Nervoso Autônomo Simpático SNC - Sistema Nervoso Central

(15)
(16)

1 INTRODUÇÃO...19

2 REVISÃO DE LITERATURA...22

2.1 NEUROIMUNOMODULAÇÃO...22

2.2 CONVIVÊNCIA COM DOENTES ...40

2.3 ESTUDOS SOBRE CITOMETRIA DE FLUXO, MACRÓFAGOS E NEUTRÓFILOS...51

3 OBJETIVOS...64

3.1 OBJETIVO GERAL...64

3.2 OBJETIVOS ESPECÍFICOS ...64

4 MATERIAIS E MÉTODOS...66

4.1 ANIMAIS...66

4.1.1 Formação dos Grupos...67

4.2 FÁRMACOS ...68

4.2.1 Diazepam...68

4.2.2 Sulfato de d-anfetamina...69

4.3 BIOLÓGICOS...70

4.4 CORANTES CELULARES...70

4.5 MEDICAMENTOS, REAGENTES E SOLUÇÕES ...71

4.5.1 Reagentes e Estímulos para Análise do Burst Oxidativo...72

(17)

4.6.1 Obtenção e Manutenção de Células do Tumor de Ehrlich...76

4.6.2 Hemograma...77

4.6.3 Medida da Atividade Celular...78

4.6.4 Avaliação do Burst Oxidativo e da Fagocitose de neutrófilos e de Macrófagos por Citometria de Fluxo...79

4.6.5 Avaliação do Crescimento do Tumor de Ehlich...82

4.6.6 Dosagem dos Níveis Séricos de Corticosterona Plasmática...83

4.6.7 Dosagens Neuroquímicas...86

4.6.8 Medida da Atividade Geral...89

4.7 ANÁLISE ESTATÍSTICA...94

5 DELINEAMENTO EXPERIMENTAL E RESULTADOS...95

5.1 EXPERIMENTO 1 - AVALIAÇÃO DE PARÂMETROS HEMATOLÓGICOS DE ANIMAIS QUE CONVIVERAM POR 11 DIAS COM PORTADORES DE UM TUMOR DE EHRLICH...95

5.2 EXPERIMENTO 2 - AVALIAÇÃO DO BURST OXIDATIVO E DA FAGOCITOSE REALIZADA POR NEUTRÓFILOS DE ANIMAIS QUE CONVIVERAM POR 11 DIAS COM OUTROS PORTADORES DE UM TUMOR DE EHRLICH ...99

(18)

PELO ONCO-BCG, EM ANIMAIS QUE CONVIVERAM POR 11

DIAS COM OUTROS PORTADORES DE UM TUMOR DE

EHRLICH...111

5.5 EXPERIMENTO 5 – AVALIAÇÃO DO CRESCIMENTO DE UM

TUMOR ASCÍTICO DE EHRLICH EM ANIMAIS QUE

CONVIVERAM POR 11 DIAS COM OUTROS PORTADORES DO

MESMO TUMOR ...115

5.6 EXPERIMENTO 6 – AVALIAÇÃO DE PARÂMETROS

HEMATOLÓGICOS DE ANIMAIS QUE CONVIVERAM POR 11

DIAS COM OUTROS PORTADORES DO TUMOR DE EHRLICH, 11

DIAS APÓS SEREM INOCULADOS COM 5 x 106 CÉLULAS DO

MESMO TUMOR ...118

5.7 EXPERIMENTO 7 – DOSAGEM DOS NÍVEIS SÉRICOS DE

CORTICOSTERONA EM ANIMAIS QUE CONVIVERAM POR 11

DIAS COM OUTROS PORTADORES DO TUMOR DE EHRLICH. ...122

5.8 EXPERIMENTO 8 – DOSAGEM DE MONOAMINAS E DE SEUS

METABÓLITOS NO HIPOTÁLAMO E NO CÓRTEX FRONTAL DE

ANIMAIS QUE CONVIVERAM POR 11 DIAS COM OUTROS

PORTADORES DE UM TUMOR DE EHRLICH ...124

5.9 EXPERIMENTO 9 – MEDIDA DE ATIVIDADE GERAL DE

ANIMAIS QUE CONVIVERAM POR 11 DIAS COM OUTROS

PORTADORES DO TUMOR DE EHRLICH, APÓS

(19)

DE ANIMAIS QUE CONVIVERAM POR 11 DIAS COM OUTROS

PORTADORES DO TUMOR DE EHRLICH, APÓS RECEBERAM

UMA ADMINISTRAÇÃO AGUDA DE DIAZEPAM...143

6 DISCUSSÃO...149

7 CONCLUSÕES...173

(20)

1 INTRODUÇÃO

É de amplo conhecimento que as relações entre os sistemas nervoso central e imune é

bi-direcional e intensa. Sabe-se que a atividade do sistema nervoso central (SNC) afeta aquela

do sistema imune e que esta por sua vez, através de produtos originados em células imunes,

como por exemplo, as citocinas modificam a atividade cerebral e, portanto, alguns

comportamentos. Estudos conduzidos no campo da psiconeuroimunologia têm mostrado,

neste sentido, que a susceptibilidade e a recuperação de doenças são fortemente influenciadas

pela atividade do SNC (BESENDOVSKY et al., 1996; DANTZER et al., 1989).

O ato de conviver com pessoas portadoras de um tumor ou de patologias crônicas

debilitantes tem sido estudado por vários pesquisadores, os quais têm relatado evidencias que

mostram que certas condições psicológicas experimentadas por estes “caregivers” estão associadas com variações de parâmetros indicativos de imunidade. A depressão e o estresse

são dois estados emocionais que têm sido intensamente estudados nestas pessoas. Estes

estudos têm trazido crescentes e recentes evidências que confirmam a relevância de fatores

psicosociais de “caregivers” em uma variedade de doenças como depressão, doenças cardiovasculares e câncer Wu et al (1999). A análise da relação entre mudanças

comportamentais em “caregivers” e resistência às doenças surge, assim, como uma importante via de acesso para uma melhor compreensão do desenvolvimento de algumas

doenças nestes indivíduos. Wu et al. (1999) investigaram, em humanos, os efeitos de um

estresse psicosocial no desenvolvimento de um tipo de tumor, tendo verificado a existência de

uma correlação positiva ou direta entre níveis de estresse e desenvolvimento do tumor. Neste

sentido, alterações da função imune são consideradas muito relevantes quando resultam em

(21)

A literatura médica descreve um grande número de casos que mostram ser pessoas que

cuidam de indivíduos doentes ou “caregivers” mais susceptíveis às doenças (THOMPSON et al., 2004). Neste sentido, e guardado os devidos cuidados com as extrapolações, não existe um

modelo animal especificamente desenvolvido para analisar, em laboratório, as eventuais

alterações imunes que possam ocorrer em animais que convivem com um outro doente. Este

é, pois, o objeto do presente trabalho.

Mais especificamente, pretende-se avaliar a existência de uma possível interação

neuro-imune em camundongas que coabitaram com outras portadoras de um tumor de

Ehrlich, através da análise de parâmetros hematológicos, imunológicos, hormonais,

comportamentais e neuroquímicos.

Desta forma questionamos: 1) A convivência com um conspecífico doente modificaria

o comportamento de camundongos? 2) Que tipo de alteração comportamental produziria? 3)

Interferiria com a imunidade celular? 4) Modificaria o “burstoxidativo” de neutrófilos e de macrófagos? 5) Se o animal objetivo deste estudo fosse inoculado com um tumor após a

convivência com o doente, seria possível detectar alterações no crescimento tumoral? 6) Se o

animal que convive com o animal doente recebesse uma terapia com um fármaco ansiolítico

como o diazepam haveria, reversão do quadro imunológico observado? 7) A convivência com

um animal doente modificaria os efeitos de um estimulante do SNC, como a anfetamina? Em

resumo 8) Haveriam relações entre as alterações observadas no SNC e aquelas encontradas no

sistema imune? Em caso positivo, 9) Como ocorreriam? Estas e outras perguntas de igual

relevância foram o objetivo do presente trabalho.

Escolhemos o tumor de Ehrlich como ferramenta para este trabalho por ser ele

facilmente induzido e mensurado em camundongos e, também por elicitar uma forte resposta

imune. Estas propriedades têm feito deste tumor um interessante modelo de análise dos

(22)

Nesse sentido, nosso grupo de trabalho já observou, por exemplo, que animais que

conviveram com outros portadores de um tumor ascítico de Ehrlich apresentavam tanto

diminuição do número de leucócitos circulantes como alterações de comportamento

(MORGULIS et al., 2004). Assim, pareceu-nos interessante verticalizar um pouco mais a

análise deste fato usando técnicas mais avançadas para análise da atividade do SNC e a

citometria de fluxo para as avaliações de imunologia celular. Neste sentido, optamos por usar

a citometria de fluxo para os ensaios de imunidade inata deste trabalho por ser ela uma

metodologia que possibilita, em poucos minutos, uma avaliação de vários parâmetros da

(23)

2 REVISÃO DA LITERATURA

Transcreve-se abaixo uma revisão dos dados de literatura mais relevantes e por nós

considerados como necessários para a compreensão deste trabalho.

2.1 NEUROIMUNOMODULAÇÃO

Nas últimas décadas a interação entre o sistema imunológico (SI) e o sistema nervoso

central (SNC) têm despertado o interesse de inúmeros grupos de pesquisa. Este interesse e os

trabalhos que vêm sendo obtidos resultaram na concepção de uma grande área de pesquisa

conhecida, de modo mais amplo, como Psiconeuroimunologia ou Neuroimunomodulação.

Esta área se presta ao estudo dos mecanismos através dos quais estes sistemas trocam

informações, influenciando-se mutuamente, com evidentes implicações fisiológicas e

patológicas.

Segundo a definição de Ader (2000), a psiconeuroimunologia vem a ser a ciência que

estuda as interações entre o comportamento, as funções neurais e endócrinas, e os processos

imunes; parte da premissa de que a adaptação seja o produto de um único e integrado sistema

orgânico em que cada uma de suas partes evoluiu para executar uma função especializada.

Conseqüentemente, a imunorregulação não pode ser entendida completamente sem que se

leve em consideração o organismo como um todo e os meios externos e internos no qual as

respostas imunes ocorrem.

A compreensão dos mecanismos fisiológicos importantes na regulação dos sistemas

imunológico e nervoso tem constituído desde há muito tempo o principal foco de atenção de

(24)

o entendimento destes processos, feita de maneira fragmentada, vem cedendo espaço para um

estudo mais sintético das complexas relações existentes entre eles. De fato veio à tona a

percepção de que são partes de uma rede de controle muito mais ampla (COSTA-PINTO,

2004).

A influência da atividade do sistema neuroendócrino sobre o sistema imunológico foi

explicada magistralmente por Hans Seyle em um artigo que se tornou um marco na história do

estudo do estresse (REICHE; NUNES; MORIMOTO, 2004).

Seyle descreveu o desenvolvimento de uma síndrome decorrente da exposição de um

animal a um conjunto muito diversificado de estímulos nocivos que incluía exposição ao frio,

injúria tecidual, excesso de exercícios e intoxicações, entre tantos outros. Os achados

característicos dessa síndrome foram hipertrofia das glândulas adrenais, aparecimento de

úlceras gástricas e, curiosamente para a época, atrofia de órgãos linfóides, incluindo-se aqui o

timo, o baço e os linfonodos. Como tais achados eram independentes do agente empregado,

Seyle concluiu que representavam uma resposta orgânica à injúria, denominando-os

coletivamente de ‘síndrome de adaptação geral’, que posteriormente passou a ser chamada de

estresse. Desse trabalho nasciam dois conceitos fundamentais sobre o estresse: 1) a resposta

aos estressores parecia ser adaptativa, representando uma tentativa do organismo de

acomodar-se a uma nova situação, e 2) ela não dependia do estímulo, era estereotipada

(SEYLE, 1936). Como essa síndrome pode ser gerada por estímulos físicos e psicológicos, e

como tem decorrências tanto comportamentais quanto endócrinas, incluindo-se aqui a

influência destas sobre a atividade de órgãos linfóides, e conseqüentemente sobre o sistema

imunológico, parece natural supor que o SNC e o SI interajam na preparação do organismo

para acomodar mudanças impostas pelo estressor.

Um dos pioneiros no desenvolvimento da psiconeuroimunologia foi George Salomon

(25)

personalidade de seus pacientes relacionando-as com doenças autoimunes. O mais conhecido

de seus estudos refere-se à analise que fez de pacientes com artrite reumatóide e do risco desta

doença para os parentes dos mesmos; analisou, em especial, a presença ou ausência nestas

pessoas de um fator reumatóide, um anticorpo anti IgG característico da artrite reumatóide.

Observou que embora alguns dos parentes dos indivíduos acometidos pela doença autoimune

se apresentassem positivos para o fator reumatóide, não desenvolviam a doença;

curiosamente, estes pacientes apresentavam níveis baixos de ansiedade, depressão, ou

alienação, e desenvolviam uma boa relação com esposa, familiares e amigos. Convencido da

necessidade de confirmar estes dados e de realizar pesquisas nesta área Salomon fundou um

laboratório de “psiconeuroimunologia”, para analisar mais detalhadamente a influência de

efeitos comportamentais, sociais e endócrinos sobre a função imune; avaliou principalmente a

resposta orgânica a antígenos bacterianos, e à inoculação de tumores tendo verificado

existência de correlações positivas entre as variáveis estudadas (para revisão veja

SOLOMON; AMKRAUT, 1981). Algum tempo depois, adapta seus conceitos de

psiconeuroimunologia às pesquisas clinicas relacionada com o HIV e com a AIDS (ADER,

2000).

Atualmente, sabe-se que diversos estímulos provenientes do SNC são capazes de

modular uma resposta imune. Desta forma, o sistema endócrino e em especial, o eixo

Hipotálamo Pituitária Adrenal (HPA), é um dos responsáveis por vários elos de ligação entre

estes dois sistemas (LICINIO; FROST, 2000; SAPOLSKY; ROMERO; MUNCK, 2000;

STRANGE et al., 2000). Sabe-se, também, que as endorfinas, o Sistema nervoso Autônomo

(SNA) (BLALOCK, 1989) e também medicamentos de ação central, como os

benzodiazepínicos (MASSOCO; PALERMO-NETO, 2003; MASSOCO; PALERMO-NETO,

1999; SCHLUMPF et al., 1990) e o haloperidol (LOURENÇO; DORCE; PALERMO-NETO,

(26)

A ativação do eixo HPA, e a conseqüente produção dos glicocorticóides, durante o

estresse são um dos principais mecanismos responsáveis pelas alterações da resposta imune

encontradas no decorrer deste processo. Sabe-se serem os glicocorticóides capazes de inibir a

transcrição de inúmeras citocinas, como de interleucina 1 (IL-1), IL-13, IL-5, IL-6, IL-8, fator

de necrose tumoral (TNF) e fator estimulante de colônia (GM-CSF) (GUYRE et al., 1988).

Além disso, os glicocorticóides não interferem apenas com a síntese de citocinas; existem

outros mecanismos também descritos para eles que incluem a diminuição de receptores para

IL-4 (SO et al., 2002) e a diminuição da migração/quimiotaxia de eosinófilos (SUGIMOTO et

al., 2003) e de neutrófilos (VAN OVERVELD et al., 2003).

Desta forma, Zhou et al. (1993) mostraram que ratos submetidos a situações

estressantes, como, por exemplo, choque nas patas, apresentavam um aumento dos níveis

plasmáticos de ACTH, corticosterona e IL-6. Estes mesmos autores mostraram a importância

dos hormônios para este fato, em especial dos glicocorticóides, pois ratos adrenalectomizados

e submetidos à mesma situação de estresse, apresentaram uma menor resposta ao estressor,

mensurada pelo menor aumento dos níveis plasmáticos de IL-6 (ZHOU et al., 1993). Neste

sentido, Cao; Lawrence (2002) mostraram que camundongos submetidos a um estresse agudo

por frio e contenção tinham aumento dos níveis séricos de corticosterona, IL-6 e Interferon- Ȗ

(IFN- Ȗ), e também, um maior número de bactérias (Listeria monocytogenes) viáveis em órgãos como baço e fígado após uma infecção experimental; relataram, desta forma, a

importância do estresse na modulação dos processos imunológicos e no desenvolvimento de

uma infecção.

Além disso, Fonseca; Massoco; Palermo-Neto (2002) mostraram que um estresse

aplicado em fêmeas gestantes, interferia com parâmetros comportamentais e com a atividade

de macrófagos da prole. Mais especificamente, estes autores observaram que uma prole de

(27)

avaliada no campo aberto e um menor índice de espraiamento de macrófagos peritoneais.

Além disso, estes mesmos autores mostraram que este estresse aplicado durante a fase

pré-natal interferia com a responsividade de alguns parâmetros da resposta imune da prole de

camundongos submetidos a um estresse pós-natal, ou seja, mostraram que havia um aumento

da produção de H2O2 e uma diminuição do índice de fagocitose no grupo de animais

estressados pré e pós natalmente quando estes eram comparados ao grupo de animais

estressados apenas pós natalmente (FONSECA; MASSOCO; PALERMO-NETO, 2002).

Outra abordagem tem se mostrado extremamente interessante na compreensão da

influência de núcleos do SNC sobre respostas imunológicas em curso: aquela que faz uso de

lesões experimentais. Nesse sentido, a contribuição do grupo de Jankovic foi muito relevante,

ao demonstrar que lesões do locus ceruleus, núcleo do tronco encefálico que tem a maior concentração de neurônios noradrenérgicos do SNC, levavam a uma diminuição tanto da

produção de anticorpos contra albumina como do número de células T CD4+ circulantes e,

ainda, a uma atrofia do timo e a uma supressão de hipersensibilidade tardia à albumina

(JOVANOVA-NESIC; NIKOLIC; JANKOVIC, 1993; NIKOLIC; JOVANOVA-NESIC;

JANKOVIC, 1993). Esses fatos, corroborados pelas descrições da existência de uma

inervação simpática de órgãos linfóides Felten et al. (1985), e da influência dessa inervação

sobre a maturação de células T, e da presença de receptores ȕ-adrenérgicos em linfócitos (com

distribuição diferente entre subtipos dessas células) Elenkov et al. (2000), têm reforçado a

importância do sistema nervoso simpático sobre a evolução de respostas imunológicas.

Sabe-se, também, que estímulos estressores interferem com a resposta imunológica,

modificando, por exemplo, o balanço entre a imunidade do tipo Th1 e Th2

(KIECOLT-GLASER et al., 2001). Iwakabe et al. (1998) mostraram que camundongos submetidos a um

estresse por contenção apresentavam aumento dos níveis séricos de corticosterona,

(28)

não se apresentava diminuída, mostrando, estes achados, um deslocamento do balanço

Th1/Th2 induzido pelo estresse, isto é, um direcionamento para Th2. Este desequilíbrio pode

ser de grande relevância, pois uma resposta imunológica do tipo Th2 foi relatada como sendo

capaz de tornar indivíduos mais susceptíveis a determinados tipos de doenças, em especial, às

alergias (BASHIR et al., 2004; BASSO et al., 2003; COSTA-PINTO et al., 2005; MORAFO

et al., 2003). Neste sentido, um estudo realizado por Portela et al. (2001) mostrou que ratos

previamente sensibilizados por ovalbumina (OVA), submetidos a estresse por choque nas

patas e subseqüente desafio com OVA, desempenhavam um menor tempo em interação social

com outro rato e apresentavam maior número de leucócitos no lavado broncoalveolar, quando

comparados a animais não estressados; relataram, desta forma, uma clara correlação entre

estresse e resposta anafilática pulmonar.

Estudos baseados na complexa relação entre SNC, SI e endócrino também têm sido

realizados para elucidar alguns mecanismos envolvidos com a progressão de tumores. Sakai

(2004) descreveu um aumento do crescimento do tumor ascítico de Ehrlich em camundongos

que receberam tratamento com diazepam in vivo (3,0 mg/kg). Palermo-Neto; Massoco; Robespierre de Souza, (2003), relataram alterações comportamentais e imunológicas

produzidas por estresse físico e psicológico em camundongos adultos. Neste trabalho os

autores mostraram que um estresse psicológico, gerado pelo ato de observar um outro animal

receber choque inescapável, produzia respostas estressantes em tudo similares àquelas geradas

pelo choque inescapável. Tanto o animal que recebia o choque inescapável na pata como o

que presenciava a estimulação aversiva apresentaram um aumento do crescimento do tumor

ascítico de Ehrlich, que foi avaliado através do número de células tumorais e do volume do

fluído ascítico. Estes mesmos autores observaram, também, uma redução dos índices de

espraiamento e de fagocitose de macrófagos peritoneais obtidos destes animais e uma

(29)

mostrou-se que camundongos estressados durante a fase pré-natal apresentaram aumento dos

níveis de ansiedade, diminuição dos índices de espraiamento e fagocitose por macrófagos

peritoneais e, também, aumento do crescimento do Tumor de Ehrlich em sua forma sólida e

ascítica (PALERMO NETO; MASSOCO; FAVARE, 2001). Strange et al. (2000) mostraram

que camundongos machos submetidos a estresse psicosocial e inoculados com um tumor

andrógeno responsivo (AR SC115) apresentavam menor resposta à quimioterapia e, também,

uma menor sobrevida, dependendo dos efeitos observados e do tipo de estresse aplicado.

Estas evidências justificam a grande preocupação dos pesquisadores com esta área de

pesquisa, também chamada de psico-oncologia. Desta forma, outros trabalhos têm sido

realizados em seres humanos buscando avaliar a necessidade de se completar os tratamentos

convencionais (quimioterapia e radioterapia, por exemplo) com outros ligados ao uso de

psicofármacos e/ou a um acompanhamento psicológico que, de alguma forma, auxiliem o

paciente a reduzir seus níveis de ansiedade, apresentando, quem sabe, uma melhor qualidade

de vida (ANDERSEN et al., 2004; DAVIDSON; MILBURN; WILSON, 2004).

Como já comentado, além do eixo HPA, um outro importante mecanismo ativado

durante o estresse está ligado ao Sistema Nervoso Autônomo (SNA); a estimulação deste

sistema leva à liberação de noradrenalina nos terminais nervosos simpáticos e à secreção de

adrenalina pela adrenal (MAIER, 2003). Sabe-se, a este respeito, que as fibras simpáticas

apresentam íntimo contato com os órgãos linfóides como acontece, por exemplo, no baço que

apresenta intensa inervação simpática (MADDEN; FELTEN, 1995). Além disso, outros

órgãos e células, como o pulmão (RUGG; BARNETT; NAHORSKI, 1978), macrófagos

alveolares (HENRICKS et al., 1988) e os linfócitos circulantes (FELTEN et al., 1987),

possuem alta densidade de marcação para ȕ2-adrenoceptores.

Na tentativa de melhor compreender estes mecanismos neuroimunes ligados ao SNA,

(30)

maior liberação de IL-1ȕ por macrófagos alveolares. Mostraram, também, que este efeito era

revertido quando os animais recebiam um pré tratamento que bloqueava a atividade do SNA

de maneira inespecífica ou, também, de forma mais especifica isto é, bloqueando-se os ȕ2

-adrenoceptores, minutos antes da aplicação de um estresse. Além disso, mostraram que os

animais estressados não apresentaram níveis elevados de corticosterona ou ACTH, dados que

reforçavam a participação do SNA no fenômeno que analisaram.

Ainda sobre o papel do SNA nos processos neuroimunes, Del Rey et al. (2002)

estudaram animais que foram inoculados com um superantígeno chamado Staphylococcal Enterotoxin B (SEB). Estes animais apresentaram dois dias após a inoculação um aumento tanto da proliferação de linfócitos T esplênicos como dos níveis plasmáticos de IL-2; estes

mesmos autores relataram que as alterações destes parâmetros diminuíam quando os animais

eram previamente tratados por via sistêmica com 6-hidroxi-dopamina (6-OHDA), uma

substância que induz denervação simpática (DEL REY et al., 2002). Neste contexto, em

animais tratados com 6-OHDA por via intra-cérebro-ventricular (i.c.v.), observou-se uma

diminuição tanto dos níveis de adrenalina e noradrenalina na região do hipotálamo, como,

também da proliferação de linfócitos sanguíneos e de esplenócitos, da produção de IL-2 e de

IFN-Ȗ e da expressão de mRNA de IL-2 em esplenócitos (PACHECO-LOPEZ et al., 2003).

Neste mesmo trabalho, os autores observaram que estes efeitos imunológicos não estavam

correlacionados com a ativação de eixo HPA e que eram eliminados através da realização de

simpatectomia periférica, evidenciando-se, mais uma vez, a importância dos mecanismos

simpáticos na modulação de uma resposta imune (PACHECO-LOPEZ et al., 2003).

Por outro lado, durante a década de 70 Hugo Besendovisky começou a avaliar a

interação entre os sistemas neuroimune e endócrino. Em 1975, demonstrou que a imunização

(31)

SNC. Nascia então o outro braço da neuroimunomodulação: o estudo dos efeitos de produtos

originários de processos imune/inflamatórios sobre a atividade do SNC.

Assim, a busca de um substrato molecular que suportasse e justificasse a interação

entre os sistemas endócrino e imunológico foi, e continua sendo, foco de estudo de muitos

grupos de pesquisa que trabalham em neuroimunomodulação; buscam, especificamente,

entender a ‘sintaxe’ da conversa entre esses sistemas (BLALOCK, 1994). Já está bem aceito,

nos dias atuais, que células do sistema imunológico possuem ȕ-adrenoceptores (MADDEN;

SANDERS; FELTEN, 1995), assim como o fato de que têm a capacidade de sintetizar alguns

hormônios, entre eles o ACTH (BLALOCK; HARBOUR-MCMENAMIN; SMITH, 1985).

Por outro lado, já se demonstrou que citocinas como a IL-1 podem ser sintetizadas dentro do

SNC, tendo ali importante papel em funções anteriormente descritas como sendo exclusivas

do sistema nervoso como, modulação de emoções, de comportamentos e da memória

(SCHNEIDER et al., 1998). Um trabalho realizado por Costa-Pinto et al. (2005) mostrou

aumento de marcação fós em áreas do sistema nervoso central relacionadas com o

comportamento ansioso e com a emoção (como o núcleo paraventricular do hipotálamo e o

núcleo central da amígdala) após um único desafio intranasal com OVA em camundongos

tornandos alérgicos ao antígeno.

Neste sentido, partindo-se do princípio que há influência de mediadores originários do

sistema imunológico sobre o SNC induzindo a ativação do eixo HPA, a resposta por eles

desencadeada passa, então, a fazer parte do repertório de respostas adaptativas chamadas

coletivamente de síndrome de adaptação geral ao estresse, que classicamente estavam apenas

relacionadas a estímulos físicos ou psicológicos. Como definido por Blalock (1984) o sistema

imunológico funcionaria como um sistema sensorial adicional, difuso, dinâmico e em

constante adaptação que capacitaria o SNC a receber estímulos e mensagens que, de outro

(32)

Os estudos sobre os efeitos de citocinas e de outras moléculas importantes na

regulação de respostas no SNC passaram a compreender duas facções ou enfoques diferentes

e complementares: a tentativa de isolamento de moléculas e das vias essenciais para a

sinalização do SI para o SNC, e o estudo das alterações comportamentais no contexto em que

se inserem, ou seja, como parte do repertório de comportamentos expressados pelos animais.

Neste sentido, começou a ficar cada vez mais claro que as alterações de comportamento

decorrentes da sinalização pelo sistema imunológico quando de uma infecção não se tratavam

de manifestação de depressão inespecífica do SNC, mas, sim, de um conjunto de adaptações

comportamentais muito bem organizadas dentro do contexto em que os animais estavam

inseridos.

A primeira tentativa de estruturação conceitual acerca do comportamento de animais

doentes veio de Benjamin Hart, que compilou informações de diversas espécies animais

acometidos por uma ampla gama de processos patológicos (HART, 1988). Ele agrupou alguns

achados comuns a todas as espécies e processos estudados, que incluíam febre, letargia ou

prostração, perda de apetite e diminuição do consumo de água, diminuição de locomoção em

geral, (mas com maior importância daquela dirigida à exploração ambiental) redução de

autolimpeza (evidente em roedores) entre outros. A opinião de Hart foi clara: o conjunto de

alterações apresentadas por animais doentes, coletivamente denominado de comportamento

doentio, estava longe de ser resultado de uma depressão geral e inespecífica do SNC;

correspondia, sim, a um conjunto organizado de modificações fisiológicas e comportamentais,

isto é, existia uma base biológica (e não patológica) para o comportamento dos animais

doentes. No mesmo trabalho são listadas possíveis vantagens (aparentemente paradoxais) de

alterações comportamentais para os animais acometidos de doenças, tais como diminuição do

gasto energético fisiológico com a digestão de comida (anorexia), menor perda de calor e

(33)

proliferação de patógenos, favorecida pela atividade de células imunológicas (febre) (HART,

1988). Mesmo se evitarmos uma análise dos fenômenos descritos baseados na presunção de

sua função, um fato torna-se claro: as alterações são adaptativas, e contribuem para uma

recuperação mais rápida e para a sobrevivência do animal acometido. Dois exemplos clássicos

e elegantes dessa afirmação são descritos a seguir. Lagartos, que obviamente não

desenvolvem febre na acepção clássica do termo por serem pecilotermos, depois de

inoculados com um patógeno bacteriano (Aeromonas hydrophila), procuram aumentar sua temperatura corpórea por meio da busca de locais mais aquecidos para permanecer, fenômeno

denominado de ‘febre comportamental’; se privados da chance de optar por esses locais

quentes, estes animais apresentam níveis de mortalidade muito maiores que animais

colocados à temperatura mais alta que a fisiológica (KLUGER; RINGLER; ANVER, 1975).

Camundongos que receberam um agente infeccioso por via intraperitoneal (Listeria monocytogenes) e cuja anorexia foi contornada por alimentação forçada por gavagem sobreviveram, em média, metade do tempo que aqueles alimentados ad libitum e submetidos ao mesmo procedimento de passagem de sonda gástrica (MURRAY; MURRAY, 1979).

Importante notar que todas as alterações descritas pela instalação de um processo infeccioso

podem ser desencadeadas por administração de algumas citocinas ou por outros mediadores

inflamatórios e imunológicos. Apesar de Hart referir-se por diversas vezes ao comportamento

de animais doentes, o termo ‘comportamento doentio’ foi cunhado apenas alguns anos mais

tarde por Stephen Kent, trabalhando no grupo de (DANTZER; BLUTHE, 1992). Neste

trabalho o autor discorre sobre a compreensão dos mecanismos que geram as alterações

comportamentais e analisa os possíveis interesses eventualmente gerados por este fato

(desenvolvimento de terapias para a reversão do estado doentio). O autor usou pela primeira

vez o termo para se referir ao conjunto de alterações comportamentais que acompanham

(34)

fisiopatológica; referiu-se, ainda, a comportamentos modificados durante a doença dentre os

quais “ocorrência de alterações no padrão do sono e perda aparente do interesse por atividades

cotidianas e positivas, tais como a busca por alimento, contato social, interesse sexual e

outros. Fala o autor da geração de um estado denominado de anedonia, caracterizado pela

falta de busca do prazer somada à incapacidade aparente de percebê-lo ou apreciá-lo” (KENT

et al., 1992).

Nascida, então, da análise de processos infecciosos de várias origens, a história do

comportamento doentio foi inicialmente marcada pelo estudo principalmente do efeito sobre o

comportamento de produtos bacterianos - e dentre eles certamente o lipossacarídeo de parede

de Bactérias gram-negativas, ou LPS, foi e é o mais utilizado – e de citocinas inflamatórias

como IL-1, IL-6 e TNFĮ cuja relevância está bem descrita nos processos inflamatórios.

Daquele ponto em diante foram incluídas na ampla gama dos processos que podem gerar

alterações comportamentais outras situações patológicas como crescimento de neoplasias e

doenças autoimunes; somando-se estas ao que já havia sido descrito para os processos

infecciosos.

A criação do arcabouço teórico do conceito de comportamento doentio foi precedida

de uma enxurrada de estudos sobre os efeitos comportamentais de citocinas e do LPS. Esse

conjunto de estudos abordava praticamente todos os componentes do comportamento doentio,

gerando uma vasta, porém controversa literatura. Mostrou-se, assim, que a redução induzida

por administração de LPS no consumo de alimentos (MCCARTHY; KLUGER; VANDER,

1984) dava-se mediante a produção de IL-1 estimulada por ele (MCCARTHY; KLUGER;

VANDER, 1985). Este fenômeno foi posteriormente, confirmado em várias espécies de

animais de experimentação e mediante outros estímulos, como em infecções pelo vírus da

influenza (SWIERGIEL et al., 1997) ou na vigência de tumores (OPARA et al., 1995) em

(35)

(PLATA-SALAMAN, 1997; PLATA-SALAMAN; OOMURA; KAI, 1988). De maneira previsível,

uma redução duradoura como essa descrita acima no consumo de alimentos levava a uma

perda rápida da massa corpórea, recuperada após o restabelecimento do animal (BLUTHE;

DANTZER; KELLEY, 1992; SWIERGIEL; SMAGIN; DUNN, 1997; SWIERGIEL et al.,

1997). Deste modo, animais doentes não estão incapacitados de realizar tarefas ou de

responder a estímulos ambientais; apenas não o fazem dada a baixa prioridade que estas

tarefas têm em um determinado contexto.

Foi demonstrado que, se colocadas em uma temperatura amena (22º C), fêmeas

lactantes que receberam LPS deixam de construir ninhos de forma bem mais intensa do que

quando são mantidas a 6º C, sugerindo estes achados que a esta temperatura (6º C), os

cuidados com a prole mereçam maior prioridade que a 22º C (AUBERT; KELLEY;

DANTZER, 1997). Demonstrou-se, ainda, que a supressão da busca por leite adocicado,

apesar de suprimida por IL-1 em animais com acesso livre à comida, é muito menos afetada

por esta citocina em camundongos que passaram por restrição calórica. Desta forma, parece

que não há incapacidade de busca pelo alimento ofertado, mas apenas uma menor prioridade

por esta tarefa nos animais alimentados normalmente e tratados com IL-1 (LARSON et al.,

2002). Estes resultados parecem estar de acordo com a primeira descrição de alterações

comportamentais específicas induzida por LPS em ratos e que não foram atribuíram a uma

depressão generalizada do SNC (MILLER, 1964). De fato, animais nessas condições, apesar

de apresentarem diminuição da expressão de vários comportamentos, incluindo-se aqui um

comportamento ativo de pressionar uma barra para receber água ou comida, não apresentaram

dificuldade em pressioná-la para interromper um estressor moderado (especificamente, fazer

parar uma plataforma giratória sobre a qual eram colocados). Deste modo, indutores do

comportamento doentio, como citocinas, não necessariamente levam à redução de atividade

(36)

resultado da expressão (ou não) do comportamento em tela e por sua conseqüência para o

animal doente. Resultados recentes de nosso grupo parecem corroborar o caráter motivacional

e adaptativo das alterações comportamentais em animais doentes. Daniel Cohn, estudou as

alterações causadas pelo LPS em camundongos dominantes e submissos acondicionados em

duplas estáveis. Este autor descreveu um efeito maior dessa molécula em animais dominantes,

que apresentaram letargia e diminuição da busca pela interação social (com um submisso

tratado com salina) do que nos submissos, quando a situação era invertida, ou seja, quando o

submisso recebia LPS e o dominante solução salina (COHN, 2003). Assim, as obrigações

sociais de um animal subordinado a outro dentro da dupla talvez impeçam a expressão do

comportamento doentio, refletindo este fato uma maior prioridade do animal, naquele

momento para outras atividades. Além disso, o modelo utilizado pelo autor foi útil em

evidenciar possíveis decorrências sociais do comportamento doentio; em algumas duplas, a

administração de LPS no animal dominante resultou em uma desestabilização da hierarquia

existente, levando a situações de conflito, nas quais o animal previamente submisso

expressava comportamento agressivo em relação ao dominante doente (incomum em duplas

estáveis) chegando até mesmo a evidenciar embates físicos, com aparecimento de lesões nos

camundongos previamente dominantes (COHN, 2003). Em seu conjunto, quer nos parecer

seja possível afirmar que os comportamentos apresentados por um animal, que são passíveis

de influência por contingências imunológicas, devam ser encarados como estratégias

homeostáticas de cada indivíduo, em função da espécie e do momento da história de vida do

individuo.

Um dos campos desta área da neuroimunomodulação onde existe pouco consenso diz

respeito às vias através das quais o SI sinalizaria o SNC. Adrian Dunn revisou e agrupou

possíveis mecanismos dessa sinalização, dentre eles destacam-se: 1) uma ação direta dos

(37)

órgãos circunventriculares (que recebem esse nome por se localizarem nas proximidades dos

ventrículos cerebrais e cujo endotélio é fenestrado, não apresentando junções oclusivas entre

as células); 2) uma ação de mediadores do SI em aferências periféricas do SNC, como nas

terminações do nervo vago, (sem sombra de dúvidas o mais estudado quanto à capacidade de

sinalização de respostas inflamatórias ou imunológicas para o SNC) e 3) uma ação de

mediadores do SI em locais que funcionariam como interface entre o sistema imunológico e o

SNC, sem a necessidade da transferência direta do mediador para dentro deste (por exemplo,

citocinas ligando-se a seus receptores no endotélio da microvasculatura cerebral, gerando

mensageiros lipídicos como os prostanóides que podem transitar através de barreiras)

(DUNN, 2002).

O contato íntimo estabelecido entre macrófagos, células dendríticas e mastócitos com

as ramificações do nervo vago fazem com que essas células, que respondem à estimulação

com produção e secreção de uma ampla gama de mediadores inflamatórios (incluindo-se aqui

as citocinas, os derivados do ácido araquidônico e as aminas vasoativas), possam servir de

ponte entre sinais locais (parácrinos), e o nervo vago (GOEHLER et al., 1999). Assim, vários

experimentos buscaram o esclarecimento da importância do vago nessa via de sinalização por

citocinas, mediante sua eliminação cirúrgica. Tanto as respostas comportamentais

(BRET-DIBAT et al., 1995) como a febre derivada da administração de IL-1 (WATKINS et al., 1995)

mostraram-se suprimidas (ao menos parcialmente) pela vagotomia subdiafrágmática; esta

vagotomia também se mostrou eficaz na prevenção da redução dos níveis NA hipotalâmica e

na ativação do eixo HPA (FLESHNER et al., 1995). Em muitos casos, a resposta

comportamental parecia estar dissociada da endócrina. No entanto, as evidências relativas à

relevância desta sinalização vagal em cada uma das respostas comportamentais após IL-1,

(38)

Neste sentido, e de maneira geral, parece que a dependência de mecanismos nervosos

ou humorais na sinalização do SI para o SNC quando de um comportamento doentio estaria

relacionada a muitas variáveis, tais como via de administração da molécula estudada

(processos localizados tendem a depender mais de vias nervosas), parâmetro comportamental

estudado (alterações endócrinas são mais influenciadas por mecanismos humorais), além,

obviamente, do mediador estudado e da sua concentração (doses baixas não alcançam níveis

séricos suficientes). Mesmo assim, parece cada vez mais claro que se trata de um sistema com

alta redundância, em que vários mecanismos podem gerar respostas semelhantes, e que várias

respostas dependem de mais de um mecanismo de sinalização (DUNN, 2002; KONSMAN;

TRIDON; DANTZER, 2000).

De maneira comparável, as conseqüências da expressão de um comportamento sobre o

estado do sistema imunológico pode funcionar como um modulador do próprio

comportamento e vice versa, sugerindo novamente este fato que o sistema imunológico seja

uma aferência de importância para o SNC. Neste contexto, experimentos recentes em nosso

laboratório utilizando camundongos que conviveram com animais doentes (portadores da

forma ascítica do tumor transplantável de Ehrlich) por 11 dias desenvolveram leucopenia e,

apesar de apresentarem níveis normais de corticosterona, mostraram-se mais propensos ao

desenvolvimento do mesmo tumor experimental, ao fim do período de convívio com o

companheiro doente (MORGULIS et al., 2004).

Estes e outros dados de literatura suportam, a existência de comunicações diretas e

bidirecionais entre o SNC e o SI. A figura 1 mostra um esquema ilustrativo desta interação.

Os trabalhos nesta área têm contribuindo de forma marcante para o entendimento da

regulação/modulação das respostas adaptativas do organismo frente a um estresse ou a uma

patologia. Neste contexto apesar de recente, enquanto área organizada do conhecimento, a

(39)

justificar a idéia agora inequívoca de que existem extensas relações entre os sistemas

imunológico e neuroendócrino. Tais relações neuroimunes não devem ser desprezadas ou

subestimadas em qualquer área da pesquisa biomédica, pois podem ser responsáveis por

fenômenos ainda pouco compreendidos, e considerados como anedóticos ou como artefatos

em passado recente (COHEN, 2004; MAESTRONI, 2004). Quer nos parecer como já

afirmado por Ader (2000) que o envolvimento de outras áreas da pesquisa ou da clínica com a

psiconeuroimunologia será mais intenso quando forem mais bem identificadas e manipuladas

as variáveis que governam os processos imunoregulatórios.

O presente trabalho lançou mão de conceitos de neuroimunomodulação para sua

(40)

Figura 1 - Esquema ilustrativo da interação entre sistema nervoso, sistema imune e sistema endócrino

Sistema Endócrino

Sistema

Imune

Estress

Neuropeptídeos

Neurotransmissores

Hormônios

Citocinas

Citocinas

(41)

2.2 CONVIVÊNCIA COM DOENTES

As pessoas que têm uma doença avançada e progressiva, ou que se encontram no

estágio final de uma doença fatal conhecem as várias faces do sofrimento, e sabem que é

difícil estar doente. A incontrolável deterioração do corpo é uma situação deplorável e triste.

Muitas pessoas detestam a ajuda de outrem, mas todas querem a companhia de alguém

quando estão muito doentes. Estes acompanhantes, por sua vez, experimentam uma situação

estressante que pode se prolongar por muito tempo.

Os oncologistas recomendam sejam administrados cuidados especiais a pacientes que

apresentam câncer em estado avançado. Destes pacientes, apenas 27% são internados; o

restante deles recebe estes cuidados em casa (FINUCANE, 2002). Neste sentido, Flanagan

(2001) afirma que a literatura médica está repleta de exemplos do impacto que uma doença,

como o câncer, pode ter sobre os acompanhantes e, principalmente sobre os familiares do

doente.

Quando o familiar está internado, os caregivers (familiares que cuidam do doente) ficam freqüentemente ansiosos, conversando a todo instante com os médicos para informar-se

sobre o tratamento e o prognóstico do paciente, requerendo atenção de médicos e enfermeiras

para saber o que eles podem fazer para ajudar o doente. É natural, nestes momentos, que

muitos se impacientem e que haja uma forte sensação de ansiedade e de impotência. Mesmo

assim e apesar disto, estas pessoas (caregivers) desempenham um papel crucial no apoio emocional do paciente e na evolução do processo que apresentam; geralmente, por saber

disto, dão prioridade ao familiar enfermo, prestando menor atenção a si mesmos (DALEY,

(42)

Thompson et al. (2004) citando dados da “Alzheimer´s Association” dos Estados

Unidos (www.alz.org) informam que o número de familiares que cuidam em casa de pessoas

com doença de Alzheimer tem triplicado nos últimos dez anos naquele país. Segundo os

autores, cerca de 70 a 80% dos pacientes com doença de Alzheimer nos Estados Unidos

vivem hoje em suas casas, com suas famílias que lhes provêm os cuidados de que precisam.

Desconhecemos estudos semelhantes em nosso país. No entanto, acreditamos seja possível

inferir igual ou maior porcentagem de enfermos graves que são cuidados em casa não apenas

pela observação informal de nossa realidade, mas pela constatação indiscutível do elevado

custo de uma internação e do precário sistema previdenciário nacional; quem estuda o assunto

sabe que o tempo médio de permanência nos hospitais vem caindo consistentemente ao longo

dos anos em nosso país e que existe, da parte dos médicos e dos especialistas em saúde, em

movimento deliberado no sentido da desospitalização. Assim, cerca de dez anos atrás, o

tempo médio de permanência nos hospitais era de seis dias; hoje, 60% dos pacientes ficam

menos de cinco horas (LOTTENBERG, 2005). A desospitalização reduz custos, democratiza

os serviços, aumentando a rotatividade, e minimiza efeitos indesejáveis, como as infecções

hospitalares. No entanto, e segundo Hosaka e Sugiyama (2003) se cuidar de um paciente em

casa reduz os gastos públicos com medicamentos e internações, por outro lado, os caregivers

acabam tornando-se também pacientes, visto que o ato de conviver com um indivíduo que

apresenta uma doença crônica é uma situação ansiogênica e desgastante: exige do caregiver,

muitas vezes, dedicação integral.

Hampe (1975) foi a primeira pesquisadora a estudar as necessidades e preocupações

de esposas de pacientes gravemente doentes. Baseado nos achados de Hampe, Molter

(43)

FOTHERGILL-BOURBONNAIS; DUNNING, 2000). Outros modelos de questionários foram feitos a seguir

como o GHQ-30 “General health Questionnaire-30”; POMS “Profile of Mood States” e, dentre tantos outros o MMSF “Mini-Mental State Examination”. A maioria destes questionários é usada em pesquisas realizadas com caregivers (HOSAKA; SUGIYAMA, 2003; SCHULZ et al., 2004).

Dore e Romans (2001) usando questionários como estes, analisaram o comportamento

de muitos caregivers. Mostraram, que alguns deles apresentavam hiperatividade e que outros se tornavam excessivamente falantes e impulsivos; entretanto, o comportamento mais comum

que observaram foi a depressão. A maioria dos caregivers analisados havia interrompido suas atividades sociais e as relações que mantinham com os amigos e com a família, resultando

este fato em perda de amizades. Para Navaie-Waliser, Spriggs e Feldman (2002) caregivers,

em especial quando mulheres, apresentam alterações no seu comportamento habitual,

diminuindo suas atividades sociais, o que resulta em níveis elevados de estresse causado pelo

isolamento social, fato este que se complica muitas vezes por uma instabilidade financeira

adicional; de fato, elas não têm mais condições de trabalhar e de receber, seus proventos por

ter que dedicar muitas horas de seus dias aos pacientes que cuidam. Complica esta situação, a

constatação diária do impacto da doença sobre a saúde financeira do casal e da família.

Vedhara et al. (2000), por outro lado, descreveram a importância do apoio social, como fator

de diminuição do estresse psicológico em pacientes infectados com o vírus HIV, em mulheres

com depressão pós-parto e em pacientes com câncer. Não relataram, no entanto, o impacto

deste apoio nos familiares que o proporcionam. Neste sentido, coube a Plant (1995)

demonstrar que um estado de estresse psicológico crônico é claramente observado nos

familiares que cuidam destes doentes.

Nos últimos cinqüenta anos tem se observado um aumento exponencial das pesquisas

(44)

concomitante e refinado da compreensão deste fenômeno (VEDHARA et al., 2000). Uma das

principais áreas deste desenvolvimento é aquela que conceitua o estresse psicológico como

um processo. Estes estudos buscam distinguir nesta situação, os eventos estressores que

podem mudar a fisiologia do indivíduo, os mediadores psicosociais (fatores que permitem a

avaliação da natureza do tratamento e da resposta emocional e/ou da resposta comportamental

eliciada) e a resposta ao estresse propriamente dita (tipicamente avaliada por mudanças físicas

e/ou emocionais eliciadas como resposta ao estressor).

Dois pontos importantes devem ser levantados quando se faz uso de modelos para

análise do estresse. Em primeiro lugar, é útil não classificar o estresse como o estímulo

estressor ou como uma simples resposta, mas sim como um processo, onde existe um

estímulo e uma resposta a este estímulo. Gatchell e Baum (1983) descreveram o estresse

como sendo “um processo complexo pelo qual um organismo reage a eventos ambientais

internos ou externos ou a eventos psicológicos que representam um desafio ou perigo a esse

organismo”. Deve-se também considerar a complexidade do contexto e o tipo do estímulo

estressor. Por exemplo, estímulos aversivos de natureza física como aplicação de choques nas

patas, contenção, frio, e ruído, são considerados como estressantes independentemente do

indivíduo a eles submetido ou do observador (PARÈ; GLAVIN, 1993). Outras situações mais

sutis e de natureza psicológica, como, por exemplo, a presença de um predador, a ausência de

um reforço positivo ou a convivência com um doente podem ser mais ou menos estressantes

dependendo do indivíduo e de sua história anterior. Kihara et al. (1992) mostraram que muitos

tipos de estresse psicológico podem tornar as pessoas física ou mentalmente doentes. Redwine

et al. (2004) compilaram dados de muitas pesquisas sobre o papel do estado psicológico na

saúde mental de cônjuges que cuidam de pacientes com demência senil. Segundo estes

autores, o aumento e persistência de elevados níveis de estresse nesta situação e seus reflexos

(45)

morbidade que acontece nesta população. Schulz et al. (2004) avaliaram o estado clínico dos

principais grupos de caregivers: dos familiares eou cônjuges que visitavam o doente com muita freqüência e dos outros parentes que só os visitavam quando estes estavam internados.

Os cônjuges e os parentes mais próximos apresentaram altos níveis de depressão ou elevada

ansiedade quando comparados aos outros familiares. Allen, Goldscheider e Ciambrone (1999)

avaliaram os casais e verificaram que deles, são as esposas que com maior freqüência

convivem com o doente. Flanagan (2001) cita Wilson (1991) que analisou as esposas de

maridos que recebiam quimioterapia; este autor observou que quando estes pacientes

superavam seus sintomas, eram suas esposas que os apresentavam, em especial, náusea e

vomito. Segundo o autor o estresse psicológico dessas esposas havia sido gerado pela

convivência diária com o sofrimento de seus companheiros. Thompson et al. (2004) relataram

que caregivers do sexo masculino quando comparados a outros do sexo feminino, (ambos com cônjuges doentes) apresentavam menores níveis de depressão, estresse, ansiedade, e

hostilidade. Avaliando os cônjuges pelo sexo, não foram encontradas, no entanto diferenças

entre os dois grupos em parâmetros sanguíneos avaliados por citometria de fluxo como, por

exemplo, na relação de células B, células T, células T supressoras e células T ativadas.

Dados da literatura obtidos a partir de estudos com seres humanos e com animais

mostraram que muitas variáveis estão envolvidas na compreensão do impacto dos efeitos de

diferentes eventos sobre o bem estar; as variáveis apontadas pelos autores como sendo

altamente relevantes são: 1) o tipo de evento; 2) a idade no qual o evento é experimentado; 3)

algumas características das pessoas ou dos animais como experiência prévia, temperatura,

gênero, genética; 4) a presença de apoio social durante a exposição ao evento (KESSLER,

1997).

Ressalte-se, neste momento, que um grande número de evidências experimentais e

Imagem

Figura 1 - Esquema ilustrativo da interação entre sistema nervoso, sistema imune e sistema endócrino SistemaEndócrinoSistemaImuneEstressNeuropeptídeosNeurotransmissoresHormônios CitocinasCitocinasHormônios SNC
Figura 2 - Esquema ilustrativo do grupo experimental utilizado nesta disseratação. O animal companheiro será o  objeto experimental deste trabalho
Figura 3 - Esquema ilustrativo da formação dos grupos experimentais deste trabalho
Figura 4 -  Citômetro de fluxo modelo FACScalibur da Becton Dickinson acoplado a um computador Macintosh  (G4) da Apple utilizado no presente trabalho para avaliar a atividade de macrófagos e neutrófilos  As setas indicam: 1- Injeção da amostra, 2-Painel d
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