Departamento de Economia
MONOGRAFIA
Curso de Ciências Econômicas
AMÉRICA LATINA: UM ESTUDO SOBRE O MERCADO DE TRABALHO E O GRAU DE ESCOLARIDADE
Araraquara
JÉSSICA SILVA GOMES PEIXOTO
AMÉRICA LATINA: UM ESTUDO SOBRE O MERCADO DE TRABALHO E O GRAU DE ESCOLARIDADE
MONOGRAFIA: CIÊNCIAS ECONÔMICAS
Universidade Estadual Paulista Araraquara
JÉSSICA SILVA GOMES PEIXOTO
AMÉRICA LATINA: UM ESTUDO SOBRE O MERCADO DE TRABALHO E O GRAU DE ESCOLARIDADE
Monografia apresentada ao Curso de Ciências Econômicas da Universidade Estadual Paulista “Júlio de Mesquita Filho”, como requisito parcial para obtenção de grau de bacharel em Ciências Econômicas, sob orientação do Professor Doutor Elton Eustáquio Casagrande.
Submetida à aprovação da Banca Examinadora composta pelo Professor Doutor Elton Eustáquio Casagrande e pelo Professor Doutor Alexandre Sartoris Neto.
AGRADECIMENTOS
Primeiramente, gostaria de agradecer a Deus e a meus pais, Rosangela e Samuel, que sempre me apoiaram durante os quatro anos da faculdade e me proporcionaram uma experiência maravilhosa, na qual cresci pessoalmente e profissionalmente.
Ao meu orientador , Professor Doutor Elton Eustáquio Casagrande, pelo apoio e dedicação durante a realização deste projeto e também no Núcleo de Conjunturas de Ciências Econômicas. E à banca examidora composta pelo Professor Doutor Alexandre Sartoris Neto, por aceitar o convite de participar da banca e por me ajudar a solucionar os problemas encontrados durante todo o andamento da pesquisa.
A todos os meus amigos que estiveram presentes durante todos esses anos e sempre me apoiaram, principalmente à Caroline Rodrigues Contin e Silmara Ferreira do Nascimento. À minha segunda família, que eu formei em Araraquara, minhas melhores amigas, as quais me apoiaram em todos os momentos, Natália Hidemi Kubota, Lia Ramos Mello Monteiro e Mayara Silva Lima.
A todos os meus amigos de São Paulo, que mesmo de longe participaram e sempre estiveram ao meu lado, especialmente Izadora Ribeiro Barbosa dos Santos, Camila Caetano, Kaue Martinho e Guilherme Rodrigues Valente.
RESUMO
Esta pesquisa tem por objetivo analisar a relação entre o mercado de trabalho e o grau de escolaridade, no Brasil, Chile e Argentina. Os três países foram escolhidos não apenas por sua proximidade geográfica, mas por conta de suas economias, que estão em pleno desenvolvimento e apresentam diversas semelhanças. Além de uma abordagem macroeconômica ampla sobre as três economias, outras análises foram feitas sobre o mercado de trabalho informal, as regulamentações trabalhistas e a presença marcante das mulheres no mercado de trabalho nas últimas décadas. Por fim, testes empíricos foram realizados para comprovar tal correlação entre as variáveis apresentadas.
SUMÁRIO
Introdução __________________________________________ 9
1.
Análise Macroeconômica do mercado de trabalho ______ 10
1.1
Introdução
____________________________________ 10
1.2
Caso 1: Brasil _________________________________ 13
1.3
Caso 2: Chile _________________________________ 14
1.4
Caso
3:
Argentina_______________________________ 18
1.5
Mercado
de
trabalho_____________________________ 21
1.5.1
Trabalho Informal_____________________________ 22
I. Especificidades do caso brasileiro_____________ 24
II. Especificidades do caso chileno______________ 25
III. Especificidades do caso argentino____________ 26
2.
Mercado de trabalho e grau de escolaridade____________ 27
2.1
Introdução_____________________________________ 27
2.2
A mulher no mercado de trabalho e as taxas de
analfabetismo__________________________________ 32
2.3
As regulamentações do mercado de trabalho__________38
2.3.1
Brasil_______________________________________41
2.3.2
Chile _______________________________________42
2.3.3
Argentina____________________________________43
3.
Testes empíricos do mercado de trabalho em relação aos
níveis de escolaridade________________________________45
3.1
Introdução_____________________________________45
3.2
Teste
de
Correlação_____________________________47
3.3
Modelo
VAR___________________________________50
3.3.2
Teste de Defasagem__________________________52
3.3.3
Teste de Causalidade_________________________53
3.4 Modelo MQO____________________________________55
Conclusão_______________________________________________57
Bibliografia______________________________________________59
4.
Anexos____________________________________________I
4.1
Anexo
1________________________________________II
4.1.1
Anexo 1.1___________________________________II
4.1.2
Anexo 1.2____________________________________III
4.1.3
Anexo 1.3____________________________________IV
4.2
Anexo
2________________________________________V
4.3
Anexo
3________________________________________V
4.3.1
Anexo 3.1 - Teste de Estacionariedade____________VI
4.3.2
Anexo 3.2 - Teste de defasagem________________XIII
4.3.3
Anexo 3.3 - Modelo VAR_______________________XIV
4.4
Anexo
4______________________________________XIX
4.4.1
Anexo 4.1 - Teste 1__________________________XIX
4.4.2
Anexo 4.2 - Teste 2__________________________XX
4.4.3
Anexo 4.3 - Teste 3__________________________XXI
INTRODUÇÃO
Cada país apresenta peculiaridades em relação aos seus mercados de trabalho e aos níveis educacionais da população. Além disso, para analisarmos a economia de cada país precisamos observar a interação entre as ações propostas pelo governo para diminuir taxas de desemprego e analfabetismo, com o intuito de aumentar o PIB e melhorar a qualidade de vida, pensando a médio e longo prazo. Os países escolhidos para representar a América Latina foram: Brasil, Chile e Argentina e o estudo baseou seus dados entre a década de 1990 e os anos atuais, com o objetivo de observar as diversas mudanças pelas quais os três países passaram ao longo dos anos. Estes são exemplos claros de países que estão passando por um processo de desenvolvimento, porém é preciso observar algumas especificidades, como o aumento do trabalho informal e as persistentes taxas de desemprego, que apesar de decrescentes ainda são preocupantes.
Para tanto, este trabalho está subdivido em três etapas: i) de análise macroeconômica dos indicadores macroeconômicos do mercado de trabalho, com uma análise ampla do segmento informal do mercado; ii) de uma pesquisa detalhada sobre a relação entre o mercado de trabalho e o grau de escolaridade, com destaque para as regulamentações trabalhistas e para a entrada da mulher no mercado de trabalho; iii) de um trabalho empírico do caso brasileiro, com o intuito de comprovar a idéia apresentada pela pesquisa, a de que o grau de escolaridade da população influi diretamente no mercado de trabalho.
CAPÍTULO 1 - ANÁLISE MACROECONÔMICA DO MERCADO DE
TRABALHO E SEUS INDICADORES
1.1 - Introdução
Inicialmente, para analisar o mercado de trabalho e seus indicadores, é necessário verificar, de uma forma generalizada, as situações pelas quais os países em questão, Brasil, Chile, Argentina, passaram e ainda estão passando, de acordo com esses índices.
Esses países, pela sua proximidade geográfica, possuem algumas semelhanças e estão em pleno desenvolvimento. De acordo com o texto Cumbre de las Américas 1994-2009, retirado da CEPAL, desde meados da década de 90, a população desses países cresceu ao mesmo ritmo do resto do mundo, e sendo o da América Latina, o terceiro PIB mundial, sua economia apresentou elevados índices de crescimento econômico, porém com alguns intervalos de menores taxas, por conta de crises como a de 2008.
Além disso, pesquisas demonstraram que houve a diminuição dos níveis de pobreza desses países, um dos objetivos de todas as economias em desenvolvimento, principalmente após a década de 2000. No entanto, mesmo com essa melhora, ainda é crítica a situação de desigualdade social, por conta dos baixos índices de distribuição de renda que persistem nessas regiões.
Ainda de acordo com esses indicadores, é importante ressaltar os desafios do mercado de trabalho, por causa da informalidade, falta de regulamentações trabalhistas e, principalmente, taxas de desemprego, que mesmo com significativa melhora, ainda não são suficientes para o pleno desenvolvimento.
Além disso, deve-se destacar o período de crise pelo qual esses países passaram. De acordo com Macroeconomía para el desarrollo: desde el “financierismo” al “productivismo (FFRENCH-DAVIS, 2010), esses países sofreram com a crise dos anos 80, com alta inflação, queda nos IED, entre outros, pois após um período de crescimento do PIB (década de 70), os anos 80 foram marcados pela turbulência de diversos planos ineficientes, moratórias em países latino-americanos, o que deixou essa região com déficits públicos significantes, balança comercial deficitária, isto é, com uma instabilidade financeira que acarretou em efeitos recessivos e regressivos, por isso, foram necessárias diversas reformas econômicas na década de 90.
A partir de 1990, após um período de intensa crise para a América Latina, muitos países aderiram a regimes cambiais mais pegged, para tentar diminuir as altas taxas de inflação. De acordo com o texto Ajustamento Externo e Regimes de Taxa de Câmbio na América Latina (CANUTO; HOLLAND, 2001), apesar dessa estratégia parecer bem sucedida, com ela surgiam diversos problemas macroeconômicos, pois era apresentada com uma taxa de câmbio real valorizada, desequilíbrio das contas externas, além da falta de políticas macroeconômicas eficientes, que gerassem emprego e crescimento econômico.
A Argentina, em 1991, sob a Lei de Conversibilidade, adotou o regime cambial tipo currency board, fazendo com que sua taxa de inflação decaísse de 800% a.a. para 5% a.a e seu crescimento médio girasse em torno de 8% a.a.. Enquanto isso, no Brasil foi implementado o Plano Real, e sob um regime de câmbio mais rígido, adotou o sistema de bandas flutuantes, com mecanismos de moving target zone. No entanto, quando esse regime entrou em colapso, em 1999, houve uma alta da inflação e a volta da recessão, o que afetou diretamente o PIB interno, a balança comercial, além de aumentar as taxas de desemprego e influenciar negativamente a economia da Argentina, que acabou entrando em recessão.
em média. Neste contexto, evidenciam-se os esforços do governo chileno no sentido do controle dos fluxos de capitais, tanto quantitativo quanto qualitativo (ANINAT; LARRIAN,1996).
Com isso, pode-se afirmar que políticas macroeconômicas, quando mal utilizadas, trazem diversos problemas à economia. De acordo com o texto Incompetência e confidence building por trás de 20 anos de quase-estagnação da América Latina (PEREIRA, 2001), a América Latina está passando por um processo de estagnação nos últimos 20 anos por conta da má administração das autoridades responsáveis, pois não existem políticas e estratégias de reformas constitucionais efetivas. Pode-se dizer até que “se os anos 80 foram chamados de “década perdida”, os anos 90 podem ser chamados de “década desperdiçada”.(PEREIRA, 2001). Isso porque, a renda per capita não cresceu significativamente nesse período e até decaiu em alguns momentos, como se pode observar na Tabela 1. Assim, gerou-se um círculo vicioso de déficits orçamentários, elevados débitos públicos, crise fiscal, alta inflação, sobrevalorização da moeda e, por fim, a já comentada recessão.
Tabela 1
Taxa de Crescimento do Produto Per Capita
Média OCDE América Latina Brasil
1950-59 3,1 2,2 3,7
1960-69 4,2 2,5 2,9
1970-79 2,7 2,2 5,1
1950-79 3,3 2,3 3,9
1980-89 2,3 -0,3 1
1990-98 3 1,4 0,4
1980-98 2,5 0,5 0,7
Fonte: ECLAC, OCDE
1.2 - Caso 1: Brasil
Após a década de 80, marcada por intensas flutuações cambiais, elevadas taxas de juros e indíces inflacionários altos e instáveis, a década de 90 iniciou-se com o ingresso da economia brasileira em um novo padrão de desenvolvimento, caracterizado pela abertura comercial e financeira em 1990 e pela estabilização de preços, com alterações nas políticas macroeconômicas adotadas, a partir de 1994.
Com o intuito de controlar a demanda agregada e atrair o capital estrangeiro, as taxas de juros reais foram elevadas; as taxas de câmbio foram valorizadas, para aumentar a competitividade; a política fiscal tornou-se mais austera, com um amplo processo de privatizações estatais.
Tais políticas adotadas implicaram em um baixo crescimento do Produto Interno Bruto (PIB), o qual apresentou significativas oscilações, como entre 1990 e 1992, quando houve um descréscimo por volta de 5%, enquanto que entre 1993 e 1994 houve um crescimento positivo. Abaixo, no Gráfico 1, pode-se observar tais variações, no período de 1990 a 2009.
Gráfico 1: Variação anual do PIB no período de 1990 a 2009 em (%)1
Até 1990, o crescimento do PIB encontrava-se negativo, por conta ainda do reflexos da crise dos anos 80 e da alta inflação. Já após a abertura comercial, em
1991, houve uma recuperação e um pequeno crescimento do PIB, o qual voltou a cair em 1992. No entanto, em 1994, por conta da implementação do Plano Real, houve um crescimento de 5,33%, já que o governo começou a controlar os índices inflacionários e, assim, houve um incentivo ao consumo das famílias. Em 1996, esse quadro se inverteu e houve uma desaceleração, chegando aos níveis de 2,15%. Os piores índices registrados foram em 1998 e 1999, 0,04% e 0,25%, respectivamente, quando a inflação registrada era de apenas 1,71% em 1998, por conta dos reflexos da crise asiática e da moratória russa no país, já que o governo foi obrigado a elevar as taxas de juros novamente, para evitar a fuga de capitais e tentar estabilizar a economia.2
Entre 1999 e 2002, as mudanças cambiais e a proximidade das eleições levaram a novas turbulências econômicas, as quais tiveram que ser contidas com políticas contracionistas, o que acabou influenciando na queda do PIB, durante esse período. Contudo, após 2003, percebe-se uma elevação no ritmo do crescimento, o qual foi interrompido apenas em 2008 pela crise financeira mundial.3
1.3 - Caso 2: Chile
Com o golpe militar de 1973, o Chile começou a sofrer mudanças políticas e socioeconômicas, as quais começaram a mostrar resultados positivos para a economia do país a partir de meados da década de 80.
O novo governo chileno adotou uma política econômica voltada à maior abertura comercial, sendo assim, em 1985, foram implementadas medidas com foco no setor exportador do país, as quais buscavam a recuperação do crescimento e a estabilização de preços, apoiadas por desvalorizações das taxas de câmbio reais e por acréscimos das tarifas e sobretaxas de importações, além de políticas que tinham como intuito reduzir a demanda agregada, para que houvesse uma diminuição no uso da capacidade produtiva do país.
2 Corte at al, 2009 in Impactos das variáveis macroeconômicas sobre o emprego e primeiro emprego no Brasil para o período de 1999-2009.
Com esse programa de ajustes e com a implementação dessa política econômica, o Chile apresentou um crescimento contínuo desde 1985. Segundo dados do International Financial Statistics do FMI, no período de 1983-2004, ele foi o país que mais cresceu, comparado com as economias consideradas grandes da América Latina. Em pouco mais de 20 anos o Chile cresceu 209%, enquanto que o Brasil cresceu apenas 72% e a Argentina apenas 40%. Comparando esses três países, pode-se observar através do Gráfico 2, que o Brasil cresceu mais que o Chile apenas até 1989, quando os índices do PIB chileno disparam. Enquanto que a Argentina apenas cresceu mais que os outros dois países, apenas até 1984, pois depois disso o Brasil sempre ficou à frente, em termos de crescimento do PIB acumulado, mas, mesmo assim, não conseguiu superar os índices chilenos.
Gráfico 2: Crescimento acumulado do PIB – 1983-2004 – Principais Países da América Latina. Índices base 1982=100.4
Nessa retomada da economia, o principal instrumento utilizado nesse programa de ajuste do país foi a desvalorização cambial, com a ajuda do impulso dado às exportações. Assim, as taxas de câmbio fixadas pelo Banco Central variavam mês a mês, de acordo com o diferencial entre a inflação interna e externa, isto é, segundo o critério de Paridade de Poder de Compra (PPC).
Até início dos anos 90, taxa de câmbio efetiva real era depreciada. Entre 1990 e 1997, ocorreu uma apreciação cambial, por causa da entrada significativa de
4 Fonte: Elaboração com dados do International Financial Statistics do FMI.
100 130 160 190 220 250 280 310
1982 1984 1986 1988 1990 1992 1994 1996 1998 2000 2002 2004
capitais estrangeiros. Após esse período, até 2004, a taxa de câmbio efetiva real era depreciada e a balança comercial estava melhorando.
Um outro aspecto fundamental para o o programa de ajuste do Chile foi a retomada dos investimentos produtivos. A troca de dívidas por capitais e a abertura de algumas contas de capitais, com taxações sobre as de curto prazo, foram medidas que permitiram que mesmo depois da transição para o governo democrático (1990) as bases da política econômica fossem mantidas para impulsionar o crescimento econômico.5
O Chile também se diferencia dos demais países latino-americanos por conta do direcionamento dos investimentos externos, pois enquanto os outros países direcionavam seus fluxos à compra de empresas já existentes, o governo chileno priorizou o desenvolvimento de projetos.
Além disso, ao estabelecer reformas estruturais, privatizar empresas estatais e estabelecer um sistema privado de fundos de pensão, o Chile objetivou uma recuperação de equilíbrio, que apesar de lenta, teve como elemento fundamental um forte ajuste nos gastos fiscais, que a longo prazo foi eficaz, no entanto, deteriorou setores importantes, como educação e saúde. (CEPAL, 1999)
A partir de 2000, por conta dos Acordos de Livre Comércio assinados pelo Chile, o volume de exportações do Chile aumentaram consideravelmente, por exemplo, de US$17 bilhões, em 2002, para US$ 32 bilhões, em 2004 (um aumento de 83% em dois anos).
Ao contrário de países como Brasil, desde 1994 e Argentina, desde 1991, que usaram as taxas de câmbio como ferramenta de combate à inflação, acumulando expressiva valorização cambial, o Chile, com a preocupação de manter a competitividade externa, não hesitou em restringir de forma severa o capital de curto prazo, combinando tributação e a instituição de depósitos compulsórios sobre o capital especulativo. Assim, o equilíbrio macroeconômico e o baixo risco que apresentava a economia chilena permitiram uma evolução no investimento médio anual de 530 milhões de dólares durante os anos 80 para mais de 5 bilhões de dólares no final da década de 90(FFRENCH-DAVIS & GRIFTH-JONES, 1997).
5
Dessa forma, desde meados dos anos 80, o ciclo de expansão vivido pela economia chilena permitiu que esse país apresentasse um crescimento relativo maior que o das maiores economias da América Latina. Houve entrada significativa de IED, acordos de Livre-Comércio foram desenvolvidos, aumentando em muito o comércio, sobretudo com os países asiáticos. Assim, o setor externo aumentou sua importância e a política de restrições de capitais de curto prazo parece ter tido sucesso, dado que a apreciação cambial não afetou o desempenho deste setor.
Como podemos observar na tabela 2, os números do PIB chileno confirmam o resultado de melhora nos índices de crescimento do país, apresentando algumas variações, porém com valores em tendência crescentes, exceto em períodos como 1997 a 1999, nos quais o crescimento chegou a ser até negativo, por conta dos reflexos da crise dos tigres asiáticos ou a partir de 2008, por conta da crise americana, que afetou o mundo todo e acabou por interferir no crescimento do produtos, que vinha, em média, constante desde 2006.
Tabela 2: PIB e crescimento anual do PIB de 1990 a 20096
Ano PI B ( em m ilhões de dólar es) Cr escim ent o anual do PI B( % )
1990 31,558.9 3.7
1991 36,424.2 8.0
1992 44,467.9 12.3
1993 47,694.0 7.0
1994 55,154.2 5.7
1995 71,349.2 10.6
1996 75,769.0 7.4
1997 82,809.0 6.6
1998 79,373.6 3.2
1999 72,995.3 - 0.8
2000 75,210.5 4.5
2001 68,568.3 3.4
2002 67,265.4 2.2
2003 73,989.6 3.9
2004 95,652.7 6.0
2005 118,249.6 5.6
2006 146,772.6 4.6
2007 164,315.2 4.6
2008 170,741.0 3.7
2009 160,859.3 - 1.7
6
1.4 - Caso 3: Argentina
No período pós-crise dos anos 70, o déficit público argentino se elevou bastante em relação aos períodos anteriores, ficando, entre 1981 e 1984, em 9,7% do PIB. No período entre 1981 e 1985, devido à estatização da dívida externa e à elevação da taxa de juro internacional, o governo não conseguiu controlar o crescimento do PIB.
Com o Plano Austral, a partir de meados de 1985, quando o déficit primário foi reduzido para 1% do PIB e o déficit operacional caiu para 4%, houve uma pequena melhora na economia, porém esses avanços econômicos não duraram por muito tempo. No entanto, isso só ocorreu pois houve um aumento nas arrecadações, em conjunto com a queda da inflação e uma recuperação do nível de atividade, o que permitiu uma melhora do nível do gasto público até 1986. Essa situação, no entanto, tende a deteriorar-se a partir de 1987, quando houve a perda do controle do setor externo, a inflação teve um novo surto e o governo acabou perdendo o controle sobre o “gap” fiscal (relação entre as quantidades tributadas e os gastos governamentais).
Ao comparamos as políticas da Argentina e do Brasil, por exemplo, observamos uma similiaridade entre as políticas econômicas adotadas, Plano Austral e Plano Cruzado, respectivamente. Isto porque, ambos fracassaram por conta de sua inconsistência teórica, já que o problema desses programas heterodoxos era o de encontrar um modo convincente de esclarecer as dúvidas do público sobre como as novas regras (rápida redução inflacionária), que se mantivesse ao longo do tempo, o que, posteriormente, poderia evitar um programa antiinflacionário recessivo.
Após diversas mudanças, no início da década de 90, a situação fiscal do país alterou-se consideravelmente, atingindo o equilíbrio apenas em 1992. No entanto, isso só foi possível por conta da redução das taxas de juro internacional, da valorização cambial, da queda inflacionário (Efeito Olivera-Tanzi), do aumento das tributações e das arrecadações decorrentes das privatizações.
em relação a tais fluxos, ao contrário do que ocorreu no Chile na segunda metade da década de 80.
A relação “um por um” (peso em dólar) determinada em lei, em 1991, quando Carvalho assume o controle da economia, levou à estabilização dos preços, tornando, porém, a política monetária completamente passiva em relação aos movimentos de capital, na medida em que o volume da base monetária estaria determinado pelo volume das reservas detidas pelo Banco Central.
No período que vai de 1993 a 2001, observa-se que a estratégia de crescimento com poupança externa, câmbio sobrevalorizado e taxas de juros elevadas acabou por produzir um baixíssimo nível de poupança interna e uma forte dependência de poupança externa para financiar gastos públicos e consumo interno. A taxa de investimento permaneceu baixa, na casa dos 18%.
A partir de 2001, houve um enorme aumento da poupança interna de 14,7% do PIB para 24%. O investimento aumentou em dois pontos percentuais e a poupança pública passou a 3,6% do PIB. A poupança externa se tornou negativa, ou seja, a Argentina passou a trabalhar com superávits em conta corrente para reduzir sua dívida externa.
No caso latino-americano, e especialmente no argentino, as sucessivas crises cambiais dos últimos anos podem ser explicadas pelas tentativas de crescimento puxado pelo consumo e excessiva utilização de poupança externa. Além disso, sobrevalorizações do câmbio real e salários artificialmente elevados resultaram numa "insuficiência" de poupança interna e déficit em conta corrente de muitos países, especialmente na Argentina.
Tabela 3: PIB e crescimento anual do PIB de 1990 a 20097
7
Fonte: Banco Mundial Ano
PI B ( em m ilhões de
dólar es)
Cr escim ent o anual do
PI B( % )
1990 141,352.4 - 2.4
1991 189,720.0 12.7
1992 228,779.4 11.9
1993 236,753.6 5.9
1994 257,440.0 5.8
1995 258,031.9 - 2.8
1996 272,149.8 5.5
1997 292,858.9 8.1
1998 298,948.4 3.9
1999 283,523.0 - 3.4
2000 284,203.7 - 0.8
2001 268,696.7 - 4.4
2002 102,040.3 - 10.9
2003 129,597.1 8.8
2004 153,129.5 9.0
2005 183,193.4 9.2
2006 214,066.2 8.5
2007 260,768.7 8.7
2008 326,676.7 6.8
1.5 - Mercado de trabalho
Segundo Pochmann (1998), as alterações sofridas pelo mercado de trabalho devem-se principalmente aos baixos e inconstantes índices do PIB, pois, de acordo com a dinâmica do mercado de trabalho, as taxas de desemprego tendem a subir quando a economia apresenta taxas de crescimento do produto muito baixas. Perante essa situação, apenas o aquecimento da demanda agregada mostra-se efetivamente positiva a elevação do volume de emprego e renda.
Diante desse contexto de constantes variações nas economias dos três países acima tratados, quando analisamos o desempenho do mercado de trabalho, podemos inferir que o contexto macroeconômico, já apresentado nas seções anteriores, interferiu de maneira adversa nas taxas de desemprego. Na Tabela 4, pode-se constatar essa interferência, observando as taxas de desemprego dos três países:
Tabela 4: Taxas de desemprego 1990-20098
Chile Argentina Brazil
1990 5,70 7,30 3,70
1991 5,30 5,80 5,24
1992 4,40 6,70 6,40
1993 4,50 10,10 6,00
1994 5,90 12,10 5,44
1995 4,70 18,80 6,00
1996 6,30 17,20 6,80
1997 6,10 14,90 7,70
1998 6,30 12,80 8,90
1999 9,80 14,10 9,60
2000 9,20 15,00 7,85
2001 9,10 18,30 9,30
2002 8,90 17,90 9,10
2003 8,50 16,10 9,70
2004 8,80 12,60 8,90
2005 8,00 10,60 9,30
2006 7,70 10,10 8,40
2007 7,10 8,50 8,10
2008 7,80 7,80 7,10
2009 9,70 8,60 8,30
8
De acordo com os dados acima apresentados, em média, o país que demonstra maiores taxas de desemprego é a Argentina, o que constata o fato de que o seu mercado de trabalho foi o que mais sofreu dentre os três, por conta principalmente das variações intensas do PIB no período de 1990 a 2009.
Além disso, outro problema retratado refere-se às altas taxas de desemprego dos três países, o que confirma a falta de comprometimento do governo desses países em aplicar políticas econômicas eficientes, que contribuam para a diminuição do desemprego e, em contrapartida, não favoreça o aumento das taxas de empregos informais.
1.5.1 - Trabalho Informal
A informalidade é um fenômeno que se alastrou na sociedade globalizada, a fim de amenizar a massificação do desemprego e que já toma conta do mercado de trabalho. As pessoas que perderam seu emprego encontram no mercado de informal uma alternativa para tentar a obtenção de uma renda fixa todo mês. Considera-se trabalho informal o trabalho sem carteira assinada, à margem das leis trabalhistas.
Um estudo da OIT e da OMC em 2009 constatou que a globalização e a liberalização do comércio internacional, a cada dia mais, estagna o aumento dos salários e pouco contribui para a melhoria da proteção social dos trabalhadores em economias em desenvolvimento, como é o caso dos três países retratados, o que acaba por contribuir para o aumento das taxas de empregos informais.
Até fins dos anos 80, a "informalidade" (ou o subemprego) era observada principalmente como um problema endêmico. O fato é que a "informalidade" (ou o subemprego) é um legado de uma economia semi-industrializada, cujo fim era uma questão de tempo e desenvolvimento, portanto era necessário tentar reduzir ao máximos essas taxas.
O início dos anos 90 foi marcado por turbulências em todas as economias. Isto por conta dos reflexos das políticas econômicas ineficientes e mal aplicadas durante a década de 80. Por isso, nesse período, as taxas de empregos informais aumentaram consideravelmente. E, a partir de 1994, consolidou-se o avanço da flexibilização das relações de trabalho, explosão do trabalho informal, da precarização do trabalho, terceirização do trabalho e aumento do trabalho temporário e autônomo que perdura até os dias atuais. Apesar de pequenas quedas em períodos isolados, por conta da evolução da economia de países como Brasil e Chile, em geral, os índices da América Latina continuam altos, porém constantes, o que não deixa de ser preocupante.
Alguns estudos da OMC (Organização Mundial do Comérico) e da OIT (Organização Internacional do Trabalho)9, a partir de dados empíricos, mostram que as economias mais abertas costumam tem uma incidência mais baixa de emprego informal. A curto prazo, os efeito da abertura comercial podem estar associados a um aumento do emprego informal, porém, a longo prazo, há a tendência de um fortalecimento do setos de emprego formal, desde que as reformas do comércio sejam mais favoráveis ao emprego e que haja políticas internas corretas.
Uma excessão a essa regra, é o caso do Brasil, pois os resultados do estudo não mostram uma relação entre a política comercial e a incidência do trabalho informal.
Em síntese, os níveis de informalidade aumentaram em alguns países, devido a uma maior incidência de impostos trabalhistas, de normas previdenciárias ou levaram à elevação do salário mínimo, tendo ocorrido ao mesmo tempo uma expansão dos esquemas de proteção social, que não exigiam contribuições dos trabalhadores informais. Em outros, esse aumento foi resultante de políticas
macroeconômicas que levaram a um crescimento econômico artificial no início dos anos 90, dos setores mais propensos à informalidade, ao uso de contratos de trabalho temporários, à aplicação mais fraca de normas fiscais e trabalhistas e, em menor escala, ao impacto das reformas comerciais e à maior participação das mulheres no mercado de trabalho.
Sendo assim, pode-se considerar que o setor informal é extremamente heterogêneo na região e os fatores de exclusão e de saída do sistema podem ter pesos diferentes em diversos países e ao longo do tempo. Independentemente de a informalidade resultar de políticas inadequadas, de mecanismos de exclusão ou de decisões com base em análises de custo-benefício feitas pelas empresas e os trabalhadores, ela representa um claro sinal que os países latino-americanos não estão cumprindo com suas funções esperadas de assegurar segurança econômica e legal, oportunidades iguais e uma oferta adequada de bens públicos.
Com isso, um fator crucial a ser observado, refere-se às consequências que uma economia informal pode trazer a um país. De acordo com os pesquisadores deste estudo, os empregos informais reduzem a eficiência dos estabilizadores automático e, além disso, a abertura comercial precisa de políticas nacionais claras para criar bons empregos, por isso é necessária a redução da informalidade, pois assim podem surgir novas forças produtivas, aumentando a diversificação, o que reforça a capacidade de participar do comércio internacional.
I. Especificidades do caso do brasileiro
Nos últimos anos, em geral, os níveis de informalidade permaneceram altos, porém constantes, sendo os setores de vestuário e madereiro, onde há maior concentração dos empregados informais.
A diferença é ainda mais discrepante se compararmos a região Sudeste com a Nordeste. Enquanto na primeira, 57,2% das mulheres jovens estavam inseridas em algum trabalho informal, na segunda, esses índices chegavam a 90,5%.
No que tange à cor ou raça, a inserção das mulheres também se dava de forma diferenciada. Entre as de cor branca, cerca de 44,0% estavam na informalidade; percentual que era de 54,1% entre as afro-brasileiras e de 60,0% entre as pardas. A maior diferença na taxa de formalidade entre as mulheres, segundo sua cor ou raça, ocorreu na região Norte, onde 55,9% das brancas estavam no mercado informal contra 67,1% das afro-brasileiras e 68,3% das pardas. A menor diferença era a do Sul, cujos percentuais eram de 44,2% para brancas, 43,4% para afro-brasileiras e 50,5% para pardas.
II. Especificidades do caso chileno
O Chile dentre os países da América Latina é o que apresenta menores taxas de informalidade, 32,3% em 2010. Seu mercado de trabalho evoluiu muito nos últimos anos, tentando sempre conciliar a proteção ao trabalhador com a liberdade de fazer negócios.
Mas a baixa taxa de empregos informais, em relação a países, como Brasil e Argentina, é explicada pelas atitudes tomadas pelo governo, visando garantir cooperação entre empregados e empregadores. Seu sistema de leis trabalhistas contempla características, como a liberdade de contratação, a duração específica da jornada de trabalho, alguns benefícios aplicáveis a todos os trabalhadores que tenham um contrato de trabalho e todas as formúlas necessárias para finalizar uma relação de trabalho.
Assim, as relações trabalhistas são bem explicitadas em contratos, o que cria uma segurança para todos. E mesmo o país tendo liberdade de demitir, existem determinações que devem ser seguidas pelas empresas, como ter de justificar os motivos pelos quais os empregados estão sendo demitidos e, caso não existam explicações plausíveis, a empresa tem a obrigação de indenizar seus funcionários.
trabalhadores, bem parecida com a do Chile, porém, a maioria ainda não a respeita, o que explica, em partes, os níveis mais altos de informalidade no caso brasileiro.
III. Especificidades do caso argentino
Desde outubro de 2010, está em vigor um tipo de benefício para trabalhadores informais, desocupados e ocupados com serviços domésticos que tem filhos menores de 18 anos, assinado pela Presidente Cristina Kitchner (Asignaciones Familiares e Asignación Universal por Hijo).
De acordo com pesquisas10, o governo argentino, os grandes empresários da União Industrial Argentina (UIA) e os dirigentes da CGT repetem que o “modelo de produção” usando empregos informais é o que permite que o país dê “empregos” e proporcione uma vida melhor.
No entanto, estas seriam apenas supostas “verdades”, isto porque dentro desse modelo os trabalhadores saem perdendo seus direitos de receberem contribuições para aposentadorias, férias, gratificações ou dias de doenças, além de, na prática, seus salários serem, em média, a metade do que lhes seriam proposto, caso tivessem carteira assinada. Assim, quem sai ganhando são os empresários, que arcam com menos obrigações e o governo que não precisa investir mais para criar novas oportunidades de empregos para os atuais desempregados, o que acaba estagnando a economia do país.
]
CAPÍTULO 2 - MERCADO DE TRABALHO E GRAU DE
ESCOLARIDADE
2.1 - Introdução
As oscilações nos níveis de trabalhadores empregados e desempregados estão intrinsecamente relacionadas ao grau de escolaridade da população.
De acordo com estudos realizados pela Unesco11, considera-se uma pessoa alfabetizada quando esta tem capacidade de ler, escrever e compreender um texto fácil e curto sobre o seu cotidiano.
De acordo com a sub-secretária geral da ONU (Organizações das Nações Unidas), Rebecca Grynspan, os países da América Latina necessitam aumentar os seus investimentos em educação, principalmente na qualificação de mão de obra, para assegurar que haja profissionais em quantidade e de qualidade para assegurar um crescimento suficiente, isto é, “aprender a educar mais e melhor”.
No gráfico 3, é feita a comparação entre os países estudados, no qual percebe-se a elevada discrepância das taxas de analfabetismo do Brasil em relação aos outros países. Na Tabela 5, pode-se observar que as taxas de analfabetismo dos países selecionados estão diminuindo desde a década de 70. O Brasil, entre eles, é o que apresenta as maiores taxas, apesar de decrescentes, ainda estão acima da média.
Além disso, o que se pode observar é que até meados da década de 2000, a maioria analfabeta era composta pelo sexo feminino, nos três países, o que só inverteu-se entre 2005 e 2010, no Brasil e Argentina. Essa diminuição das taxas de analfabetismo está relacionada a crescente inserção da mulher no mercado de trabalho, que estão buscando alcançar a igualdade em relação ao sexo masculino. Isso pode-se observar na maior participação das mulheres em profissões antes exercidas apenas por homens.
Gráfico 3
Estatíticas de Gênero da Taxa de Analfabetismo da população a partir de 15 anos, segundo sexo (Porcentagem)12
Tabela 5
Taxa de Analfabetismo da população a partir de 15 anos, segundo sexo. (Porcentagem)13
12
Fonte: UNESCO-IEU: Instituto de Educação da Organização das Nações Unidas para a Educação, Ciência e Cultra. Informação Revisada 15/NOV/2010.
13 Fonte:[A] UNESCO-IEU: Instituto de Educação da Organização das Nações Unidas para a Educação, Ciência e Cultura. Informação Revisada 15/NOV/2010.
Ambos Sexos [A] Anos
País 1970 1980 1990 1995 2000 2005 2010
Argentina 7.0 5.6 4.3 3.7 3.2 2.8 2.4
Brasil 31.6 24.0 18.0 15.3 13.1 11.1 9.6
Chile 12.4 8.6 6.0 5.1 4.2 3.5 2.9
Homens [A] Anos
País 1970 1980 1990 1995 2000 2005 2010
Argentina 6.4 5.3 4.1 3.6 3.2 2.8 2.5
Brasil 27.9 22.0 17.1 14.9 13.0 11.3 10.0
Chile 10.8 7.7 5.6 4.8 4.1 3.4 2.8
Mulheres [A] Anos
País 1970 1980 1990 1995 2000 2005 2010
Argentina 7.7 6.0 4.4 3.7 3.2 2.7 2.4
Brasil 35.2 25.9 18.8 15.7 13.2 11.0 9.3
Essa diminuição das taxas de analfabetismo, além do mais, estão relacionadas às ações governamentais, isto é, na quantidade de gastos públicos nesse setor da Economia. A partir da Tabela 6 e Gráfico 4 , pode-se observar que os maiores níveis de investimento, em média, referem-se ao Chile. A Argentina apesar de apresentar níveis mais baixos, ainda exibe melhores condições de investimento do que o Brasil, que possui os piores números, tendo em alguns anos, níveis não significativos.
Nesse contexto, pode-se comparar o baixo nível de investimento governamental em educação no Brasil, com as altas taxas de analfabetismo, que mesmo decrescentes interferem nas taxas de desemprego do Brasil.
Tabela 6
Gasto Público em Educação (Porcentagem)14
14 Fonte: [A] UNESCO-IEU: Instituto de Educação da Organização das Nações Unidas para a
Educação, Ciência e Cultura. Informação Revisada 15/NOV/2010. Base de Datos en línea 1970-1997. [B] UNESCO-IEU: Instituto de Educação da Organização das Nações Unidas para a Educação, Ciência e Cultra. Informação Revisada 15/NOV/2010. Base de Datos em línea.
/a : Estimativas do Instituto de Estatística da UNESCO.
Porcentagem do Gasto Total do
Governo Anos
País 1970[A] 1980[A] 1990[A] 1995[A] 2000[B] 2005[B] 2006[B] 2007[B] 2008 2009
Argentina 9.1 15.1 10.9 11.6 13.7/a ... 14.0 13.5 ... ...
Brasil 10.6 ... ... ... 12.0 14.5 16.2 16.1 ... ...
Gráfico 4
Estatísticas e Indicadores Sociais do Gasto Público em Educação (Porcentagem)15
Tabela 4
Tabela 7
Taxa de Desemprego (Taxa anual média)16
Anos
País 1980 1990 1995 2000 2005 2006 2007 2008 2009 2010/g
Argentina/a 2.6 7.4 17.5 15.1 11.6/b 10.2/b 8.5/b 7.9/b 8.7/b 7.8/h
Brasil/c 6.3 4.3 4.6 7.1 9.8/d 10.0/d 9.3/d 7.9/d 8.1/d 6.8/d
Chile/e 10.4 7.8 7.4 9.7/f 9.2/f 7.7/f 7.1/f 7.8/f 9.7/f 8.3/f,h,i
15 Fonte: UNESCO-IEU: Instituto de Educação da Organização das Nações Unidas para a Educação, Ciência e Cultra. Informação Revisada 15/NOV/2010.
16
CEPAL: Comissão Econômica para América Latina e Caribe: División de Desarrollo Económico.
a/ Áreas urbanas.
b/ Nova medição a partir de 2003; dados não comparáveis com a série anterior.
c/ Seis áreas metropolitanas.
d/ Nova medição a partir de 2002; dados não comparáveis com a série anterior.
e/ Total nacional.
f/ A partir de 1998, dados interligados com os da amostra aplicada desde 2006.
g/ Números preliminares.
h/ Estimativa baseada nos dados de Janeiro a Setembro.
Gráfico 5
Taxa de Desemprego Anual17
Essa interferência decorre do fato de que por causa dos baixos níveis de investimentos governamentais em educação, há uma baixa na qualidade da mão-de-obra, o que gera aumento das taxas de desemprego ou das taxas de empregos informais, assim, por causa das baixas remunerações, pode-se observar uma diminuição na renda dos trabalhadores, o que interfere no Produto Interno Bruto e no nível de consumo.
Se compararmos a Tabela 7 e o Gráfico 5 em relação às outras tabelas e gráficos, podemos confirmar a relação entre o gasto do governo, aos níveis de escolaridade e às taxas de desemprego. Isso porque, ao observarmos o Brasil, por exemplo, percebemos que com o aumento dos investimentos governamentais em educação, as taxas de analfabetismo caíram consideravelmente e as taxas de desemprego também diminuíram após o ano de 2005, o ano em que esses gastos do Governo aumentaram significativamente.
No entanto, o caso argentino mostra-se um pouco diferente. Isso porque, o mesmo padrão brasileiro apenas foi observado dos anos 80 aos 90, quando houve uma diminuição significativa dos gastos governamentais em educação ao mesmo tempo em que as taxas de desemprego aumentaram expressivamente. Já que, de
1990 a 1995, a parcela de gastos do governo em educação voltou a aumentar, o que não acarretou uma diminuição do desemprego. Pelo contrário, podemos observar um intenso aumento da porcentagem de pessoas economicamente ativas que estavam desempregadas (de 7.4% em 1990 para 17.5% em 1995). Isso se deve ao aumento do trabalho informal, decorrente de pouco investimento governamental em gerar empregos formais, a partir de 1990.
Esses níveis de desemprego, voltaram a cair após 1995, quando o governo voltou a investir mais em educação, o que perdurou até 2005, um ano conturbado, no qual o governo utilizou todas as reservas do Banco Central para acabar com a dívida com o FMI, resultando em índices ínfimos de investimentos em educação, o que voltou a melhorar a partir de 2006.
Dentre os três países, o Chile, como já dito, foi o único que apresentou índices, em média, consideravelmente constantes, se comparados com os dos outros países. A partir da reestruturação do país em 1973, o governo chileno seguiu um padrão de investimento em educação em escala ascendente, após uma expressiva queda dos anos 70 aos anos 80. Mesmo assim, em média, as taxas de desemprego foram constantes e relativamente baixas em todo período estudado, o que comprova a eficiência parcial dos projetos praticados pelo governo para melhorar os índices socioeconômicos, resultados, por exemplo, da forte estrutura legislativa posta em prática, com o intuito de diminuir os níveis de empregos informais, os quais, são os mais baixos dentre os três países.
2.2 - A mulher no mercado de trabalho e as taxas de analfabetismo
Após as duas guerras mundiais, as mulheres, por necessidade, precisaram se adaptar às novas situações do cotidiano e começaram a se inserir no mercado de trabalho de forma mais significativa. A partir da década de 1970 as mulheres foram conquistando maior espaço e, atualmente, atuam em todos os tipos de profissiões, no entanto, ainda enfrentam muitas barreiras, como o preconceito.
porque, ao tentar alcançar a igualdade em relação ao sexo masculino, as mulheres, a cada dia mais, investem em educação, para assim, em um futuro próximo, conseguir chegar ao mesmo patamar de “ credibilidade” dos homens.
No entanto, isso ocorre, pois em pleno século XXI ainda há uma discrepância em relação a homens e mulheres, já que, de acordo com pesquisas feitas pelo IBGE18 ,por exemplo, no Brasil o número de mulheres é maior em grande parte do país, exceto pelos Estados do Amapá, Mato Grosso e Tocantins. E, o principal, estão cada vez mais capacitadas para um mercado a cada dia mais exigente.
De acordo com o gráfico 6, a média de estudo das mulheres equivale à nacional (exceto pelo Nordeste) e, no momento em que ingressam no mercado de trabalho (18-24 anos) já apresentação os níveis necessários de capacitação.
Gráfico 619 Mulheres no Brasil
Entretanto, apesar da maioria das mulheres economicamente ativas apresentarem níveis educacionais adequados ao mercado de trabalho e nos mesmos patamares masculinos, elas ainda não possuem a mesma parcela do mercado e, além disso, são discriminadas em vários nichos, o que acaba
18 Pesquisa Nacional por amostra de domícilio, 2009. 19
influenciando significativamente as altas e persistentes taxas de desemprego do país. Como observamos a partir do Gráfico 7, mesmo com as melhorias nas relações trabalhistas e com o aumento da suas participações no mercado, ainda há grandes porcentagens de mulheres trabalhando informalmente.
Gráfico 720
No caso Argentino, a situação é bem parecida com a brasileira. De acordo com vários estudos da ONU21, mesmo depois de expressivas conquistas, há ainda muita desigualdade no mercado de trabalho do país.
Elas progridem na maioria das profissões e executam funções tradicionalmente exercidas por homens, contudo, as desigualdades salariais continuam evidentes. Mesmo com níveis educacionais equivalentes, as mulheres ainda ganham menos, uma diferença de cerca de 30% em comparação ao sexo
20 IBGE 2009. 21
masculino, situação que, de acordo com o estudo, ainda deve persistir por um bom tempo.
Para a socióloga e Diretora do Fundo de População das Nações Unidas (UNFPA) na Argentina, María Del Carmem Feijoó, há uma estimativa de que vai demorar por volta de três décadas para que haja a completa igualdade entre homens e mulheres no mercado de trabalho. “Nos corpos legislativos, a paridade entre o homem e a mulher seria alcançada por volta de 2040 e algo similar ocorre no campo científico, na vida universitária, nos sindicatos, nas empresas e nos postos superiores dos governos”, declarou a socióloga.22
Na mesma pesquisa feita pela ONU Mulheres, a representante da Secretaria de Igualdade de Oportunidades da União da Pessoa Civil, da Argentina, destacou a discriminação como sendo ainda um fator responsável pela dificuldade do avanço feminino, pois há muito preconceito com mulheres ocupando cargos que antes eram apenas exercidos pelo sexo masculino.
O Ministério do Trabalho do país elaborou um estudo sobre a situação trabalhista das mulheres em 2005 e constatou que apesar da participação feminina ser “alta” em termos históricos, há diversas dificuldades que persistem até os dias de hoje. Por exemplo, as taxas de promoção continuam mais baixas entre as mulheres e mesmo apresentando índices crescentes de ingresso a universidades, não há muita melhora na colocação da mulher no mercado de trabalho. O problema é que essa situação praticamente não mudou desde 2005.
No país outra preocupação da Organização Internacional do Trabalho (OIT) é sobre o excesso de horas trabalhadas pelas mulheres, referindo-se à dupla jornada enfrentada diariamente pela maioria das mulheres, que além de trabalharem fora, ainda fazem os trabalhos domésticos e cuidam dos filhos.
Esta situação apresentada acaba interferindo, assim como no Brasil, na diminuição das taxas de analfabetismo, por causa da evolução da situação feminina no mercado de trabalho, porém é uma das causas dos persistentes níveis de desemprego do país e das altas taxas de informalidade, a qual, como já estudado no
22
Capítulo 1, persiste, pois essa parcela de trabalhadores, nos últimos anos, está sendo incentivada por medidas governamentais, o que em geral, causa uma intensa fragilidade das relações trabalhistas.
Em relação ao caso chileno, pode-se observar uma manutenção dos padrões de comportamento, pois há uma semelhança muito forte entre os três países nesse sentido. Neste país, a mulher também está investindo cada vez mais em sua educação, para conseguir atingir o mesmo padrão, porém a discriminação ainda é muito presente. Em 2003, por exemplo, o salário das mulheres correspondia a apenas 77% do salário dos homens, em posições de mercado semelhantes.
No entanto, o governo chileno está adotando uma política23 de incentivo a profissionalização de mulheres economicamente ativas. De acordo com a diretora do Secotec (Serviço de Cooperação Técnica) do Chile, Cristina Orellana, a instituição tem o objetivo de desenvolver um programa especial de apoio às mulheres de negócio, para que assim houvesse uma diminuição das taxas de desemprego em geral, acarretando um aumento do PIB do país, pois as mulheres passariam a trabalhar em cargos superiores, o que elevaria sua renda.
Na Tabela 8, uma comparação é feita, de 1990 a 2009, entre o percentual de homens trabalhando em relação ao percentual feminino no mercado de trabalho, com o intuito de comprovar as situações acima apresentadas de desigualdade entre os três países.
Em todos os casos, a porcentagem masculina atuante no mercado de trabalho com mais de 15 anos é muito superior à feminina, desde os anos 90. Em geral, a porcentagem masculina permaneceu constante até os dias de hoje, enquanto o percentual de mulheres aumentou, o que reforça a idéia de que as mulheres continuam crescendo dentro das economias da maioria dos países do mundo, especialmente nos três estudados.
O importante de analisar a situação da mulher do mercado de trabalho, refere-se ao fato da situação dessa parcela da sociedade influir diretamente nos níveis educacionais e, consequentemente, nas taxas de desemprego. E para que haja uma progressiva melhora desses índices, ou seja, uma diminuição das taxas de
23
analfabetismo e desemprego, o que não significa aumentar as taxas de empregos informais nas regiões, é necessário, de acordo com uma oficina desenvolvida em 2010 pela Organização Internacional do Trabalho (OIT), que as políticas públicas, as empresas e a sociedade em si supere a dicotomia de papéis entre homens e mulheres, para assim reduzir as desigualdes de gênero no mercado de trabalho.
Tabela 824
Percentual de homens e mulheres no mercado de trabalho (1990-2009)
% da população masculina com mais de 15 anos
% da população feminina com mais de 15 anos
Ano Brasil Argentina Chile Brasil Argentina Chile
1990 85 78 77 45 43 32
1991 85 78 77 49 42 32
1992 85 77 78 52 41 34
1993 85 77 78 52 41 36
1994 85 76 78 53 40 36
1995 84 76 77 54 41 35
1996 83 76 77 52 42 35
1997 83 77 76 53 43 36
1998 83 77 76 53 44 37
1999 82 77 76 55 45 37
2000 82 77 74 55 46 36
2001 82 78 74 55 47 36
2002 82 78 74 56 47 36
2003 81 78 73 57 48 37
2004 82 78 73 58 49 39
2005 82 78 73 59 50 38
2006 83 79 73 60 51 39
2007 82 78 74 59 51 41
2008 82 78 76 60 51 44
2009 82 78 73 60 52 42
24
2.3 – As regulamentações do mercado de trabalho
Para tratar das características do mercado de trabalho é necessário entender que para haver eficiência nas instituições de trabalho deve haver uma concordância com as especificidades econômicas, sociais, políticas e culturais de cada país.
De acordo com WELLER, em seu texto La flexibilidad del mercado del trabajo en América Latina y el Caribe. Aspectos del debate, alguna evidencia y políticas,
muitos economistas e empresários acreditam que as regulamentações do mercado de trabalho freiam a geração de empregos, afetam a competitividade e limitam o crescimento econômico, por não permitir o uso de seu completo potencial de liberalização de outros mercados de fatores e bens. Em contraposição estão os trabalhadores, que cada vez mais notam a insegurança e falta de estabilidade em seus empregos, o que afeta diretamente o bem-estar da população.
A partir da tabela 9, pode-se observar as vantagens e riscos das regulamentações.
Tabela 925
Algumas vantagens e riscos potenciais da regulamentação baseada em mecanismos de mercado, legais e negociados
Em outro estudo, Descomponiendo la desigualdad salarial en América Latina: ¿Una década de cambios? (CONTRERAS; GALLEGOS, 2007), há uma análise detalhada sobre a distribuição do investimento na América Latina, caracterizado por altos níveis de desigualdade e de problemas quanto ao tempo de persistência no
25
Fonte: Betcherman, Luinstra y Ogawa, 2001, p.9; tradução do autor
Tipo de Regulamentação Vantagens Potencias Riscos Potenciais
Baseada em mercado
Flexibilidade, Salário eficiente, Baixos custos de transação.
Falhas de mercado, Discriminação, Planos de curto prazo.
Regulamentação Legal
Previsibilidade, Equidade, Mecanismos de monitoramento.
Rigidez, Custo de monitoramento, Risco Moral.
Baseada em negociações
Favorece investimento em longo prazo, Mecanismos de auto-monitoramento
trabalho. De acordo com dados da CEPAL, Banco Mundial e o BID (Banco Interamericano de Desenvolvimento), baseados nos coeficientes de Gini (1970-90), a América Latina já superava os níveis de desigualdade, se comparada à Ásia e Europa. Com isso, há um baixo dinamismo do crescimento econômico e uma significativa instabilidade macroeconômica.
Além disso, nesse estudo há a observação de 13 países, com o intuito de explicar os determinantes da distribuição salarial e as variações salariais ocorridas na década de 90. Como se pode verificar no gráfico 8, sobre a variação dos investimentos no mercado de trabalho, o Brasil está entre os países, nos quais há a maior discrepância nos níveis de variação salarial, enquanto que o Uruguai e a Argentina estão entre aqueles com menor dispersão salarial.
Esses investimentos referem-se a quanto os governos gastam para movimentar a economia, o que tem por objetivo gerar maior número de empregos, aumentando a renda da população, ou seja, o PIB.
Gráfico 826
Variância Salarial na América Latina para uma amostra ajustada
26 Fonte: Elaboração do Autor, sobre a base de dados oficiais da CEPAL (División de Estadísticas y Proyecciones Económicas). * Países que apresentam diferenças estatisticamente significativas nos indicadores neste intervalo de tempo.
Ano final
Um dos resultados mais marcantes dessa pesquisa é o que relaciona essa alta dispersão salarial em alguns países, ou seja, a má distribuição salarial e de renda, aos níveis educacionais de cada região. Assim, a educação foi considerada como a variável de maior relevância, isto porque quanto menor as taxas de ingressantes em escolas até, no mínimo, o ensino médio, maior as taxas de empregos informais e de desempregados, por conta da baixa qualidade da mão-de-obra e da pouca instrução dos trabalhadores.
Dessa forma, pode-se afirmar que o objetivo das institucionalizações trabalhistas é a geração de empregos decentes, como define a OIT (Organização Internacional do Trabalho). De acordo com Cruces e Ham em La flexibilidad laboral en América Latina: las reformas pasadas y las perspectivas futuras, mesmo com essa definição, estabelece-se que este emprego deve contribuir com o desenvolvimento socioeconômico sustentável de longo prazo e estimular a crescente inclusão dos segmentos das forças de trabalho sem cobertura dos mecanismos protecionistas.
Porém, para conseguir alcançar tal objetivo, as instituições devem cumprir algumas metas, como garantir o funcionamento eficiente do mercado de trabalho, buscar um nível ótimo que valorize o crescimento em longo prazo e garantir a proteção e o fortalecimento das áreas mais deficitárias de um mercado que apresente desigualdades estruturais.
Em 2003, um estudo27 realizado pelas universidades de Yale e Harvard, com o apoio do Banco Mundial, tinha por objetivo analisar, em um grupo de 85 países ricos, emergentes e pobres, qual as condições de seus mercados de trabalho. Dentre esse conjunto, o Brasil foi considerado o país que possui as leis trabalhistas mais pesadas e rígidas. Para tal conclusão, foi necessário criar um índice de leis de trabalho, que indicaria, quanto maior o índice, mais regulamentações existiriam. No caso o índice do Brasil foi de 2,40, o maior entre todos. Se compararmos com os países em estudo, podemos observar que há certa semelhança entre a Argentina e
27
o Chile, quanto às regulamentações trabalhistas, já que os índices apontados foram de 1,57 e 1,55, respectivamente.
2.3.1 - Brasil
De acordo com Romita28, o intervencionismo estatal é a forma encontrada para regular as relações trabalhistas adotada no Brasil, isto por conta da formação histórica e política do povo brasileiro. O fato é que a legislação trabalhista e a organização sindical do país surgiram durante os anos de ditadura militar e autoritarismo corporativista, para que o Estado pudesse reprimir as relações coletivas de trabalho, além de ser soberano em todas as situações.
Em 1943, durante o Estado Novo de Getúlio Vargas, foi promulgada a legislação trabalhista, pautada principalmente na norma conhecida por CLT (Consolidação das Leis do Trabalho), que tinha por principais características a hetero-regulação das condições de trabalho, o sindicato único sujeito à lei e ao Estado, a contribuição sindical, a proibição da greve e a competência normativas dos tribunais trabalhistas.
Com o passar dos anos, o contexto político transformou-se completamente, até que em 1985 o regime ditatorial chegou ao fim. No entanto, a legislação corporativa resistiu e influenciou a Constituição de 1988, a qual, apesar de apresentar traços importantes na regulação democrática, continuou com características típicas do regime anterior, como paternalismo e o protecionismo. Com isso, o intuito do Estado era proteger o trabalhador, desde que este se sujeitasse às condições preestabelecidas.
Nas últimas duas décadas, o Direito do Trabalho no Brasil esteve inerte face às mudanças verificadas por uma nova realidade social, o que destaca uma expressiva influência do positivismo no sistema jurídico do país. De acordo com Paiva (2000), "Esse modelo de Direito do Trabalho, assegurando um acréscimo de tutela dos trabalhadores, tem sido acusado de constituir fator de rigidez do mercado de emprego e da alta do custo de trabalho, e, nessa medida, de contribuir para o decréscimo dos níveis de emprego e conseqüente estímulo ao desemprego”.
No entanto, apesar desse sistema ser considerado por muitos, rígido demais, se houvesse uma flexibilização balanceada com algumas normas que devem ser seguidas, um certo equilíbrio seria alcançado, já que a existência de algumas regras é importante para o bom funcionamento das políticas governamentais. Como afirmou Carvalho (2000), “essas garantias são impostergáveis como vantagens fundamentais. O Direito do Trabalho é formado por preceitos de ordem pública ou de caráter imperativo onde prevalece o amparo ao trabalhador como ser humano. É a efetiva justiça social”.
2.3.2 - Chile
No decorrer dos anos, o Chile passou por diferentes períodos, por exemplo, de 1979 a 1989, o governo valia-se do Plano Laboral, que na prática consistia em um plano com alto grau de flexibilidade, com pouca proteção aos trabalhadores, de acordo com as normas ditadas pelo governo militar. A partir de 1990, com a recuperação da democracia, um novo sistema foi instaurado com o objetivo de flexibilizar o mercado de trabalho e, ao mesmo tempo, garantir a seguranção para o trabalhador.
Tabela 1029
De acordo com a Tabela 10, podemos perceber o que as mudanças no sistema da legislação chilena influenciaram no PIB, emprego, desemprego, salários, produtividade. Como se pode notar, de 1973 a 2007, o governo aplicou diversas técnicas para tentar diminuir o desemprego, incentivar o crescimento do PIB, dos salários e da produtividade, porém, de uma forma geral, não houve êxito em todos os quesitos. No período mais recente, percebe-se que com a nova geração de reformas trabalhistas, mais proteção e políticas ativas, o PIB se recuperou e houve crescimento, os níveis de empregos começaram baixos, porém com tendências crescentes, os salários estavam estáveis, mas no final do período começaram a aumentar e a produtividade apresentou um aumento significativo.
Além disso, sobre o mercado chileno, podemos citar o modelo de flexigurança. Apesar da ampla flexibilidade, não há regulamentações que impeçam a contratação e demissão de trabalhadores. Com respeito à demissão, salvo o contrato indefinido, não há custos associados a seu término em condições normais. Por exemplo, em 2006, 70% dos assalariados trabalhavam nessas condições. Observa-se também uma diminuição desses contratos, já que em 1998 representavam 81,2% do total.
A grande flexibilidade reflete-se em uma taxa de rotação que alcança 26,2% do emprego total (um nível intermediário na comparação internacional). Contudo, no país há uma tendência a substituir os contratos indefinidos por contratos temporários, o que causaria efeitos negativos, pois diminuiria ainda mais a proteção aos trabalhadores
Em contraposição a esses fatos, existe a lei Bustos, a qual obriga os empregadores a completar o pagamento das prestações à previdência social para efetivar a demissão de qualquer tipo de trabalhador, ainda que a legislação permita a declaração e o não pagamento das obrigações previdenciárias. Em todo caso, não se dispõe de informação sobre os efeitos dessa lei na capacidade de demissão.
2.3.3 - Argentina
adotar um regime da contratação e dispensa, isto é, com preferências quanto a contratos de tempo indeterminado e só admitindo modalidades de contratação com prazo ou objeto determinado com justificativa plausível, acabou por seguir uma estabilidade relativamente imprópria.
Nesse caso, a dispensa arbitrária merece desaprovação constitucional, ou seja, é ilícita, no entanto, ela continua válida, pois o empregador pode terminar o contrato de trabalho em qualquer momento, sem nenhuma justificativa. Tal situação ocorre por esse sistema é juridicamente flexível, contudo tal decisão acarreta em custos indenizatórios para o empregador.
Quanto à “flexibilidade interna”, o contratante tem o direito de alterar certas condições do contrato, desde que não modifique suas condições essenciais, não causando qualquer tipo de prejuízo material ou moral ao trabalhador.
Como outras características do sistema institucional argentino, pode-se destacar que não há polivalência funcional, pois foram criados convênios coletivos para organizar as diversas mudanças nas categorias profissionais. Já quanto aos salários, há uma fixação do salário mínimo vital e do salário anual complementar, porém o valor geral dos salários é por conta de cada setor e tipo de empresa.
Um fato preocupante é a técnica da “dessalarização” utilizada por muitas companhias, que consiste em um processo para baratear a mão-de-obra argentina. Neste mesmo campo institucional, a lei argentina não põe restrições à utilização de modalidades variáveis de salário.
CAPÍTULO 3 - TESTES EMPÍRICOS DO MERCADO DE TRABALHO
EM RELAÇÃO AOS NÍVEIS DE ESCOLARIDADE
3.1- Introdução
O desempenho do mercado de trabalho nas últimas décadas não tem sido satisfatório decorrente dos fatores externos e internos das economias dos países tratados no projeto. Com o passar dos anos, pode-se observar uma certa melhora nas taxas de desemprego, com alta nos níveis de investimento e mecanismos reguladores, a fim de assegurar os direitos dos trabalhadores.
Dessa forma, o presente capítulo tem como motivação comprovar empiricamente se há uma correlação entre as seguintes variáveis:
• Rendimento médio real de pessoas ocupadas, a preços de setembro de 2011;
• Nível de Ocupação da população (proporção de pessoas ocupadas em relação às pessoas em idade ativa);
• Produto Interno Bruto (PIB);
• População Economicamente Ativa ocupada com estudo até o ensino médio;
• População Economicamente Ativa ocupada com estudo superior.
Todos os dados coletados englobam o período de Março de 2002 a Junho de 2011. Durante esse período, muitas crises aconteceram, a mais recente nos Estados Unidos afetaram o mundo todo, especialmente a economia dos países estudados e, consequentemente, a situação do mercado de trabalho.
O Brasil foi escolhido como país modelo para o teste, isto porque, além da maior disponibilidade de dados, que permitiram a construção de um modelo de séries temporais, este país apresenta características marcantes de desigualdade, altas taxas de desemprego e grau de escolaridade abaixo dos níveis excelentes, no entanto, por outro lado, nos últimos anos está apresentando melhores índices de investimento governamentais, as quais estão influenciando diretamente na melhora dos níveis educacionais do país, o que, consequentemente, interfere no PIB e na quantidade de pessoas ocupadas.
O Brasil apesar de ser um país que está em pleno desenvolvimento apresenta ainda persistentes taxas de desemprego, como já podemos analisar nos capítulos anteriores.
Para testarmos empiricamente o desempenho do mercado de trabalho e qual a relação entre as variáveis escolhidas, primeiramente, foi selecionada uma amostra com 112 observações (de Março de 2002 a Junho de 2011), como se pode observar no Anexo 1 -Tabela de dados para análise econométrica30.
Como variável endógena temos o Rendimento Médio Real das pessoas ocupadas, a preços de Setembro de 2011. Essa variável foi escolhida, pois mostra a evolução do rendimento da população ocupada nos últimos anos. Já as variáveis exógenas são o PIB, pois o Produto Interno Bruto de um país está intrinsecamente relacionado às flutuações do mercado de trabalho; o nível de ocupação da população, pois analisa a quantidade de pessoas ocupadas em relação às pessoas em idade ativa); a População Economicamente Ativa ocupada relacionada aos anos de estudo, isto é, separada em dois grupos: i) com estudo até o Ensino Médio e ii) com Ensino Superior, o que a torna uma variável binária que também está relacionada com o desempenho dessas pessoas no mercado de trabalho, a partir de seus rendimentos.
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