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Estudo de custos no serviço público

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Academic year: 2017

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FUNDAÇÃO GETULIO VARGAS

ESCOLA DE ADMINISTRAÇÃO DE EMPRESAS DE SÃO PAULO

RICARDO PEREIRA DA SILVA

ESTUDOS DE CUSTOS NO SERVIÇO PÚBLICO

(2)

RICARDO PEREIRA DA SILVA

ESTUDOS DE CUSTOS NO SERVIÇO PÚBLICO

Trabalho apresentado à Escola de

Administração de Empresas de São Paulo

da Fundação Getulio Vargas, como

requisito para obtenção do título de

Mestre em Gestão e Políticas Públicas.

Orientadora: Professora Dra. Carmen

Augusta Varela

SÃO PAULO

(3)

RESUMO

Este trabalho se refere ao controle de custos no serviço público, procura

identificar os motivos que ensejaram a adoção dessa alternativa característica do setor

privado e pretende demonstrar sua importância para as políticas públicas, desde sua

concepção até a avaliação, destacando pontos negativos pela não adoção desse tipo de

controle e indicando sua condição de imprescindibilidade no estudo de custo efetividade

das ações dos governos.

Como forma de obter um panorama acerca do tema, fez-se um breve referencial

histórico da experiência brasileira, com destaque para a ação promovida pelo governo

federal.

Finalmente, indica benefícios não econômicos do controle de custos, muito úteis

ao momento presente da Administração Pública brasileira.

Palavras Chave: controle de custos, despesa pública, eficiência administrativa,

(4)

ABSTRACT

This essay elaborates on cost control in public services, pursuing to identify the

reasons that gave rise to the demand for this alternative, which is a characteristic of the

private sector, and its use by public administration. It then attempts to demonstrate the

importance of cost control on public policy, from its conception to its evaluation, and

emphasizes the downside of not adopting this type of control. It also demonstrates its

indispensability in the study of effectiveness of public actions.

There is a brief historical reference of cost control in Brazil, promoted by federal

government.

Lastly this essay highlights non-economic – but very useful – benefits to the

(5)

SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO 06

2 CARACTERÍSTICAS RELACIONADAS ÀS POLÍTICA PÚBLICAS 07

3 EXPERIÊNCIA BRASILEIRA 12

4 CONSIDERAÇÕES FINAIS 16

(6)

1.- Introdução

O restabelecimento do estado democrático no Brasil e a Constituição Federal de

1988 são marcos de grandes mudanças na relação entre estado e sociedade,

principalmente no que se refere à ampliação do rol de obrigações do estado quanto ao

atendimento das demandas sociais, sobretudo pela característica do Brasil ser um país

marcado por forte concentração de renda e por uma cultura excludente.

Apesar da “recente” experiência democrática, é notória a capacidade de

organização da sociedade no sentido de exigir mais e melhores bens e serviços públicos

e essa circunstância de permanente pressão sobre os governos, aliada ao fato de que os

recursos não são ilimitados, deu vez à necessidade de se buscar maneiras inovadoras de

administração.

Essa reorientação aproximou a Administração Pública brasileira da New Public

Management, que tem por principal característica a busca pelo permanente

aperfeiçoamento do funcionamento das instituições, visando a eficiência das ações, e

esta é, por sua vez, avaliada em função dos resultados alcançados, havendo muitas

iniciativas de sucesso em todas as esferas de governo que podem ser atribuídas às

mudanças ocorridas, grande parte alinhada à perspectiva de performance e

racionalidade.

Há que se destacar que o sucesso em referência pode ser assim considerado em

razão de várias áreas de atuação dos governos apresentarem resultados que demonstram

objetivos definidos sendo perseguidos, pois é possível se depreender dos registros

históricos que há, em vários segmentos, mais e melhores serviços públicos sendo

prestados e, ainda, também uma forte preocupação com a universalização dos serviços,

inclusão social e diminuição das desigualdades.

Tais resultados não são aleatórios, sendo certo que, em algum momento, foram

traçadas as estratégias para que as realidades fossem transformadas, bem como

definidas as metas a serem atingidas. Nessa linha, resta claro que o estabelecimento de

objetivos é um fator fundamental, tanto no que se refere a orientar os esforços da

Administração, quanto para avaliação acerca da qualidade e efetividade das políticas

(7)

Contudo, há autores que trazem à análise o destaque para a necessidade de que

todas essas ações contemplem o controle de custos, numa perspectiva de que,

independente de aumento na quantidade e qualidade dos bens e serviços ou de

alinhamento dos resultados com as perspectivas planejadas, a ausência de conhecimento

do real valor necessário para a obtenção desses resultados impede uma avaliação mais

criteriosa, restando sempre a oportunidade para a pergunta se não seria possível alcançar

as mesmas metas com menos recursos.

No Brasil, o debate é incipiente, como recentes são as atividades voltadas ao

tema, sendo poucos os registros que permitam a obtenção de um panorama explicativo.

Apesar da aparente indiferença, tanto as normas relacionadas à gestão tem apontado na

direção da obrigatoriedade da adoção do controle de custos, como o próprio governo

federal teve a iniciativa de incluir em sua agenda o tema, sinalizando que as condições

atualmente observadas tendem a mudar.

Assim, o objetivo desse trabalho é o destaque para a importância do controle de

custos e sua associação com os princípios da Administração Gerencial, a apresentação

de algumas características de como é tratado o tema em âmbito nacional, com ênfase na

experiência do governo federal e, finalmente, a abordagem do fato de que, além do viés

da economicidade, há outros benefícios de interesse para processo de transformação da

Administração Pública, principalmente no que se refere à mudança de cultura dos

administradores e seu alinhamento com os princípios republicanos.

2.- Características relacionadas às políticas públicas

O controle de custos, como integrante do conjunto de ações necessárias para o

bom desempenho da Administração Pública, traz uma série de vantagens com a sua

adoção e todas têm consonância com os princípios da Administração Gerencial, pois,

em síntese, consiste num registro sistemático de informações com utilidades múltiplas,

sendo um componente fundamental para o planejamento das ações e, também, para sua

avaliação.

Independente das várias abordagens quanto à sua utilidade o fato é que qualquer

(8)

recursos disponíveis, não havendo caminho mais seguro e com maiores chances de

sucesso do que uma organização pautar sua atuação quando detentora de informações

objetivas acerca de quanto de recursos possui e quanto será necessário para o alcance de

seus objetivos.

Permanentemente, os anseios da sociedade têm impacto nas decisões dos

governos, sendo todos esses temas objeto de atenção e intervenção da Administração e

materializados por meio de políticas públicas, que são constantemente avaliadas e seus

resultados confrontados com os obtidos em momentos anteriores. Contudo, essa

comparação de resultados versus resultados não parece ser suficiente como padrão de

avaliação de eficiência.

Sem controle de custos o que se tem é a comparação de orçamentos e resultados,

o que já é considerável, mas pouco num contexto de busca por eficiência e

racionalidade, pois ainda que os resultados gerais sejam satisfatórios, problemas de

eficiência podem permanecer escondidos, consumindo recursos que poderiam, se

alocados de forma diferente, melhorar ainda mais o desempenho da Administração.

“Sem dúvida é possível promover ações que melhorem o

desempenho das organizações do governo sem indicadores de custos, valendo-se, para tanto, do feeling dos gerentes e das equipes. Entretanto, a utilização sistemática de indicadores tem a vantagem de propiciar uma avaliação mais criteriosa e consistente, além de institucionalizar nas práticas organizacionais o compromisso com

resultados e o valor pelo dinheiro”1

O núcleo do debate parece ser, portanto, que a ausência de controle de custos dá

vez a certa subjetividade na participação dos atores envolvidos nas ações públicas e cria,

consequentemente, um paradoxo frente aos princípios da Administração Gerencial,

acima de tudo em razão da impossibilidade de uma demonstração racional completa

acerca das vantagens e benefícios trazidos pelas políticas adotadas.

Em suma, ainda que os objetivos estejam aparentemente sendo alcançados, sem

um controle efetivo dos recursos utilizados é impossível a mensuração dos benefícios,

pois não é suficiente que os anseios sociais sejam atendidos é preciso se ter a

perspectiva de quanto se gastou nesse atendimento. Num exemplo grosseiro, não basta a

1

(9)

construção de escolas para um número determinado de jovens, é preciso saber se os

recursos utilizados foram os adequados, caso contrário, poderiam esses recursos estar

destinados ao atendimento de outras demandas.

Muitas são as análises que apontam a negligência com o controle de custos como

um impedimento ao estabelecimento de critérios adequados de avaliação dos resultados

da Administração Pública. Primeiro, se argumenta que o desconhecimento dos custos é

fator limitante, pois as análises não trazem em si uma fundamentação de sua

racionalidade e só fazem sentido numa comparação de registros históricos, e, também,

que análises dissociadas do fator econômico podem disfarçar eventual ineficiência dos

governos.

Alonso (2010, p.45) destaca certa uniformidade na experiência internacional e

na literatura especializada no sentido da impossibilidade de avaliação de qualidade

desconsiderando o fator custo, indicando que só seria possível a identificação de

melhora do desempenho da Administração Pública quando avaliados os serviços

públicos em função dos recursos necessários para sua prestação.

Silva e Drumond (2004, p.7) abordam o problema indicando a necessidade de

estar contemplado o viés econômico na análise de desempenho, argumentando que, por

maiores que sejam os esforços para elaboração de técnicas de mensuração por índices

físicos e qualitativos, não se conseguirá um método mais apropriado do que aqueles que

levam em conta os custos na avaliação dos resultados, destacando que recursos são

provenientes fundamentalmente de tributos, havendo, dessa forma, a necessidade da

demonstração de resultados numa perspectiva mais dinâmica da atuação governamental

em termos de eficiência, principalmente no sentido de ser possível a correção de

eventuais distorções observadas nas políticas em andamento.

Toda essa controvérsia atinge frontalmente a perspectiva de qualidade, pois a

simples ausência da informação já pode ser considerada um indicativo de que o controle

poderia ser aprimorado.

A apresentação de resultados sem um controle efetivo de custos compromete o

atendimento ao princípio da transparência, pois a ausência desse tipo de informação

leva à interpretação de que ou os governos desconhecem os custos ou se os conhecem

não os compartilham, sendo esses caminhos dissonantes da premissa de eficiência e

racionalidade, pois na medida em que não é possível à Administração demonstrar

efetivamente a vantagem de suas escolhas abre-se um debate sem proveito algum, pois o

(10)

resolvidas na iniciativa privada, como o preço da aplicação de uma vacina, o custo de

uma aula, ou os motivos que dão vez a diferenças de custo em unidades concebidas para

o mesmo fim.

Mas nada é tão contundente à Administração do que a tomada de decisão às

cegas, muito comum nos casos de contingenciamento quando projetos assimétricos em

termos de eficiência sofrem de forma desigual com cortes lineares, a exemplo do que

ocorreu no período de déficit de energia, quando os consumidores foram submetidos a

uma restrição em termos percentuais, sendo que aqueles que já eram eficientes em

termos de consumo foram obrigados a fazer grandes esforços para enquadrarem-se à

regra, enquanto que os esbanjavam fizeram, proporcionalmente, menos esforços.

“Como as informações sobre os gastos do governo em geral são

organizadas com vistas às necessidades da administração financeira (fluxo de

caixa do Tesouro Nacional), o governo sempre teve noção de quanto

precisaria cortar em decorrência do equilíbrio macroeconômico, mas nunca

soube ao certo como e onde deveria cortar. Ou seja, o governo nunca teve

condições de promover cortes seletivos de gastos, de modo a não

comprometer mais o desempenho da Administração Pública.”2

A resposta a essa necessidade de mais instrumentos de controle veio na forma de

incorporação na contabilidade pública de métodos de escrituração da iniciativa privada,

que contemplam informações dos custos governamentais e contribuem para o

cumprimento das obrigações relativas à responsabilidade fiscal e transparência, como

relatam Rezende et al.(2010, p. 960-961), que destacam, ainda, que essa mudança fez

parte de reformas bastante abrangentes visando, principalmente, o ajuste de contas

públicas em países como Austrália, Nova Zelândia e Reino Unido.

E essa nova sistemática tem impacto em todo o ciclo das políticas públicas, pois

não só a avaliação de desempenho sofre o impacto do desconhecimento dos custos.

Desde a inclusão de determinado problema na agenda dos governos, quando diferentes

percepções quanto à capacidade da Administração poder enfrentar eventual problema

podem alterar a decisão quanto à adoção de medidas imediatas ou seu adiamento,

passando pela formulação das políticas, que consiste na escolha e planejamento da

maneira como se atenderá a demanda, e, por fim, também a implementação e

(11)

acompanhamento. Todas as etapas se beneficiam com informações mais precisas no que

se refere às despesas pretendidas e há uma expectativa de melhores chances de alcance

dos resultados esperados.

Além da impossibilidade de avaliação das políticas quanto à sua racionalidade, o

controle de custos é muito importante também para compreensão das estruturas

administrativas e seu funcionamento, pois há que se considerar que, muito embora a

maioria das políticas tenha abrangência definida e esteja sob o comando de uma unidade

específica, há um esforço conjunto de áreas, que contribuem indiretamente para que os

objetivos sejam alcançados. Isso equivale a dizer que determinada ação, apesar de poder

ser caracterizada como uma política para saúde pública, por exemplo, demandará bens e

serviços de toda a estrutura e não só da unidade gestora, pois é próprio da

Administração o compartilhamento de recursos que não justificam exclusividade e,

dessa forma, parece razoável que despesas com gestão de pessoas, realização de

licitações, administração de contratos, utilização de bens estocáveis, consumo de

utilities, entre outras, sejam apropriadas no cálculo a ser considerado para conhecimento

do custo efetivo da política pública em análise, pois, em tese, não existe no atual

modelo uma definição específica do quantum diretamente ligado às políticas em si.

Longe de uma questão conceitual, essa prática tem demonstrado que

subunidades responsáveis por levar a termo, de forma conjunta, determinada política

concebida, postos de saúde como exemplo, registram com bastante frequência

diferenças em seus custos, fato que permite uma interpretação de que a oferta de

serviços públicos à população é influenciada por uma série de fatores, mas se essas

diferenças não forem consideradas, não há como se traçar um padrão de comparação do

custo efetividade dessa política, ficando comprometida sua avaliação.

O estudo do consumo de utilities é especialmente esclarecedor nesse sentido,

pois como mensurar quanto de água, energia elétrica ou telefonia integram a conta de

determinada política? Apenas um registro sistemático e individualizado permitirá uma

repartição justificável, de forma a proporcionar a inclusão desse tipo de despesa no

cômputo de determinada política e permitir a comparação entre unidades que possuam

similaridades funcionais.

Via de regra, o que se pretende demonstrar é que a definição de quanto se

gastará com as atividades da Administração Pública, contemplando dentre seus

(12)

de bens e serviços públicos, dependerá de um registro de todos os elementos que

signifiquem alguma despesa e a respectiva mensuração de valor.

Em outra perspectiva, o controle de custos parece ser indispensável para a

aferição da efetividade das despesas, pois a cada política poderão ser atribuídos os

custos que efetivamente são demandados, no sentido de que não é possível o

estabelecimento de padrões de avaliação de políticas sem um adequado conhecimento

dos custos envolvidos para sua efetivação. De uma forma mais concreta, o custo efetivo

de uma aplicação de vacina ou de uma aula depende do conhecimento de todos os

fatores que direta ou indiretamente estão relacionados para a produção de um

determinado bem ou prestação de um serviço.

Assim, a definição de Silva e Drumond (2004, p.1) é conclusiva quando afirma

que toda decisão implica conhecer determinadas variáveis qualitativa e

quantitativamente expostas, com toda a transparência, clareza e objetividade, inerentes a

qualquer processo da gestão pública. Nesse ponto, a gestão de custos no âmbito

governamental é decisiva, pois é um instrumento essencial ao gestor público para

condução dos interesses públicos da forma que prevê a administração pública gerencial.

3.- Experiência Brasileira

Como visto, a adoção de controle de custos nos países pioneiros dessa iniciativa

fez parte de um conjunto de ações voltado ao ajuste das contas públicas, num enfoque

de que o equilíbrio fiscal, na perspectiva de então, só seria atingido com maior rigor no

controle das despesas.

Rezende et al. (2010, p. 961) indicam que, em sentido diverso da experiência

internacional, se promoveu, no Brasil, o ajuste fiscal mediante sucessivos aumentos da

carga tributária, seja pela grande dificuldade em se conter a expansão dos gastos ou pela

ausência de registros que pudessem apontar ineficiências.

Contudo, considerando os reveses à eficiência proporcionais à carga tributária,

se despertou o interesse pelo controle dos gastos.

Na legislação brasileira, merece destaque a Emenda Constitucional nº. 19, de 04

de junho de 1998, que fez incluir no rol de princípios a serem observados pela

(13)

a Administração deveria cumprir suas obrigações, pois não seria mais suficiente a

preocupação exclusiva com a formalidade dos atos, praxe até então, devendo ser levada

em conta a racionalidade de suas ações no alcance de seus objetivos.

Esse dispositivo constitucional deflagrou uma mudança comportamental no

sentido de que os governos deveriam possuir condições de demonstrar a inteligência de

suas políticas e de justificar as alternativas adotadas.

A Lei Complementar 101, de 04 de maio de 200, conhecida como Lei de

Responsabilidade Fiscal e que estabeleceu limites de endividamento de estados e

municípios, restringiu a despesa com pessoal e trouxe determinação de austeridade à

execução orçamentária, foi além, obrigando o estabelecimento, nas leis de diretrizes

orçamentárias, de normas relativas ao controle de custos e à avaliação dos resultados

dos programas financiados com recursos dos orçamentos.

Mais recentemente, temos as normas expedidas pela Secretaria do Tesouro

Nacional, em específico as Portarias nº. 406, de 20 de junho de 2011, nº. 828, de 14 de

dezembro de 2011 e nº. 231, de 29 de março de 2012, tornando obrigatório, na nova

contabilidade a ser adotada pela Administração Pública, o controle de custos, havendo

uma agenda estabelecida para que a partir de 2014 os órgãos de controle externo possam

exigir de seus jurisdicionados o cumprimento dessa exigência.

Apesar dessa evolução no ordenamento legal, poucas são as iniciativas que

merecem nota, havendo um número reduzido de trabalhos acadêmicos acerca do tema e

poucas experiências por compartilhar.

“Não obstante as determinações legais, o fato é que a Administração Pública até 2010 (seja o Executivo, Legislativo ou Judiciário) não utilizava

sistema de custos, salvo por iniciativas isoladas de alguns órgãos. O motivo é

porque, até então, não havia nem sistema, nem metodologia adequada capaz

de ser aplicada sistematicamente e uniformemente para toda a Administração

Pública Federal.”3

Machado e Holanda (2010, p.793) informam que, buscando atender essa

demanda o governo federal promoveu, desde 2008, ações voltadas à concepção e

implantação de um sistema de informação de custos. Inicialmente, com a oficina de

Trabalho “Sistemas de custos na Administração Pública: modelo conceitual e estratégia

(14)

de implementação”, que deu vez a um projeto executivo estruturado com responsáveis, concepção teórica definida, cronograma e recursos e em março 2010 foi homologado o

Sistema de Informações de Custos do Governo Federal.

Machado e Holanda (2010, p.797) destacam, também, que os principais

objetivos do sistema do governo federal são eficiência na alocação de recursos,

eficiência operacional e subsídios para fixação de preços públicos e taxas e citam, ainda,

como finalidades, o subsídio do processo de planejamento e orçamentação, o apoio às

decisões sobre manter a produção de determinado bem ou serviço, ou entregá-la a

entidades externas e a melhoria das informações internas gerenciais para possibilitar a

medição dos resultados e desempenhos e proporcionar controles mais orientados a

resultados.

Há que se destacar que a experiência federal foi concebida numa perspectiva de

utilidade ampla, de forma que buscando o atendimento de demandas específicas, se

buscou garantir o atributo da comparabilidade, sem comprometer a possibilidade de

detalhamento das informações, em razão das diferentes expectativas e necessidades

informacionais das diversas unidades organizacionais e seus respectivos usuários.

Machado e Holanda (2010, p.795).

Depreende-se, portanto, que a experiência do governo federal terá um papel

fundamental nas mudanças pretendidas para a Contabilidade Pública, não só para

obtenção dos benefícios esperados, como também funcionando como um referencial

para os governos subnacionais, que deverão alinhar-se a essa nova diretriz.

E todas essas características dão a dimensão da dificuldade de concepção e

execução de um programa de controle de custos, dada a abrangência e complexidade do

repositório, mas, uma vez em operação, o que se tem é um meio permanentemente

atualizado para auxílio na compreensão do significado das despesas, sendo fundamental

para seu alinhamento com as demandas sociais possíveis de serem atendidas com

determinada quantidade de recursos disponíveis e principalmente o oferecimento de

subsídios para a tomada de decisão.

Em que pese o fato da primeira experiência sistematizada ter sido iniciada no

governo federal e apesar da preocupação quanto à comparabilidade das despesas e

flexibilidade para sua associação às políticas segundo necessidade das várias unidades,

ganha importância a preocupação de como se dará a continuidade do processo nos

(15)

É possível se esperar que a própria definição dos cronogramas já confirme essa

expectativa de desigualdade, pois de forma concomitante convivem entes detentores de

controles sofisticados em sua forma de ação e entes pequenos e menos favorecidos, sem

condições de acompanhar o processo na mesma velocidade. Independente desses óbices,

o fato é que estados e municípios deverão adequar-se, não só pelo impositivo legal, mas

pelos benefícios necessários à significativa tarefa que desempenham no conjunto de

ações do Poder Público.

“No Brasil, a importância que estados e municípios desempenham na

gestão do gasto público recomenda que a iniciativa que está sendo adotada

pelo governo federal estimule a adoção de mudanças similares pelos

governos subnacionais, tendo em vista evitar que metodologias distintas

venham comprometer futuramente a cooperação intergovernamental e o

comprometimento de todos os entes federados com os objetivos do projeto.”4

Por fim, com o objetivo de ilustração de como a negligência no uso do controle

de custos é prejudicial para o alcance dos objetivos da Administração Pública brasileira,

apresentamos os trabalhos “Economias de Escala na Oferta de Serviços Públicos de

Saúde: Um Estudo para os Municípios Paulistas” e “Eficiência Técnica e Retornos de Escala na Produção de Serviços Públicos Municipais: O Caso do Nordeste e do Sudeste

Brasileiros”, artigos que, a partir da perspectiva de custos, demonstram que o tamanho

dos municípios tem influência na prestação de serviços públicos e explicam porque os

municípios muito pequenos não tem retorno de escala, dando vez a gastos per capita

maiores e níveis de qualidade mais baixos, ensejando a interpretação de que o processo

de emancipação não considerou uma série de variáveis que acabam tendo um efeito

nefasto na eficiência das despesas, pois da mesma forma como os custos da saúde

indicaram a desvantagem comparativa de pequenos municípios é possível a perspectiva

de que tantas outras despesas que dependem de um volume mínimo para apresentarem

custos compatíveis com os benefícios que deveriam proporcionar foram negligenciadas,

restando a expectativa que o novo modelo de contabilidade a ser implantado venha a

identificar essa incorreções, proporcionando elementos para sua correção.

Isso equivale a dizer que muito mais que uma voluntariedade, o estudo de custos

parece ser peça chave na compreensão das demandas sociais e no alinhamento dos

(16)

recursos necessários a seu atendimento, na medida em que possui um efeito de revelar

características das despesas que levam à ineficiência.

4.- Considerações Finais

Sem dúvida, a análise realizada no cotidiano dos governos, quando da tomada de

decisão, leva em conta o viés econômico das alternativas pretendidas e considera, num

contexto de resultados, a relação entre custos e benefícios.

Contudo, políticas são complexas, abrangentes, compostas de várias etapas de

execução e incluem grandes grupos de atores para serem levadas a termo e isso tende a

tornar ações do dia a dia dispersas e aparentemente desconectadas dos grandes objetivos

das instituições.

Reunir todos os esforços e seu significado em termos de controle de custo para a

obtenção dos resultados parece ser uma maneira de se manter o controle das despesas e

ainda envolver os gestores nesse processo.

A perspectiva é que, à medida que os registros vão se acumulando, passe a

existir um padrão de comparação entre as despesas e isso estimule tanto a busca pela

compreensão das variações quanto um empenho dos atores em melhorar seus

desempenhos.

“Além disso, a melhor garantia do aperfeiçoamento do sistema de

custos são o cálculo e a divulgação dos custos unitários dos bens e serviços

entregues à população, pois eles forçarão os gestores envolvidos a analisar as

informações, buscando, de um lado, corrigir as distorções de classificação e,

de outro, tornar mais eficiente o uso de recursos.”5

Essa assertiva indica que, se por um lado a existência de registros permite a

regulação das despesas, de outro nasce a possibilidade dos gestores, a partir de um

padrão de comparação, fomentarem iniciativas de consumo sustentável, contribuindo

para que as políticas se aperfeiçoem em termos de viabilidade econômica. Isso significa

que, independente de enforcement, é possível à Administração, conhecendo e

(17)

divulgando suas despesas, com os níveis de detalhamento necessários para identificação

de ineficiências, promover uma mudança cultural.

Um caso específico é o consumo de utilities, água, energia elétrica e telefonia na

Administração Pública, pois é certo que quase toda a estrutura administrativa se vale

desses serviços e, notadamente, a ausência de um controle formal pode dar vez a certa

condescendência no consumo, pois ainda que se admita a existência de alguma gestão,

parece ser mais provável que os gestores estarão mais atentos a esse tipo de despesa à

medida que não só seu consumo seja divulgado, mas também sua posição num possível

ranking. A preocupação em posicionar-se dentro de um padrão aceitável ensejará uma

competição salutar, como se estabelecerá um permanente monitoramento recíproco, no

sentido de se manter ou aprimorar determinados gastos.

De outro lado, fomentando essa movimentação por parte dos gestores, a

Administração Pública terá condições compartilhar as experiências pontuais e

estabelecer parâmetros de conduta num formato pedagógico. Isso significa uma

tendência de uniformização dos consumos, pois àqueles que se distanciarem do padrão

deverão justificar a distorção, trazendo elementos à avaliação da despesa que

permanecem disfarçados num modelo sem esse tipo de controle e que fazem com que as

ineficiências permaneçam.

Além da mudança de comportamento face ao consumo, outro benefício

fundamental trazido pelo controle de custos é o oferecimento de subsídios para a

definição dos objetos dos certames licitatórios, pois, da mesma forma como a

negligência pode inviabilizar economicamente a prestação de serviços públicos, como

visto nos trabalhos acerca de tamanho de municípios e custo da prestação dos serviços

públicos de saúde, a contratação do fornecimento de bens e serviços, que servirão de

insumo para as políticas públicas, pode sofrer influência negativa com o

desconhecimento dos componentes de custo.

Uma característica a ser considerada refere-se à economia de escala, sendo

bastante razoável a suposição de que quanto maior a demanda de determinado bem ou

serviço, melhores as condições de negociação de preços e consequentemente de

obtenção de propostas mais vantajosa para a administração.

Se determinado serviço é utilizado pela maioria das unidades de uma estrutura

administrativa, o planejamento integrado é fator de grande importância, não só pela

expectativa de obtenção de menores preços, como visto acima, mas também pelo fato de

(18)

número de contratos, bem como facilitar o acompanhamento das respectivas execuções

contratuais, pois com a padronização dos objetos e demais características é possível que

um número menor, comparativamente, possa atender a demanda integrada, em lugar de

vários núcleos atendendo demandas individualizadas.

É preciso que se leve em conta que a Administração Pública, ao ser classificada

numa ordem hipotética de consumidores, alcançará posição de destaque em função do

grande volume de demanda de bens e serviços e essa característica não deve ser

desprezada, pois muito da capacidade de negociação de preços nos certames licitatórios,

em específico nas licitações na modalidade pregão, está condicionada ao tamanho dos

contratos. Contudo, de nada servirá essa vantagem da Administração se não houver um

registro sistemático de informações que permita o agrupamento das demandas e um

processo de contratação centralizado, fazendo valer a magnitude do consumo.

Por fim e à guisa de conclusão, buscou-se demonstrar que o controle de custos é

o meio mais eficiente para controle das despesas, como também que suas características

o colocam em consonância com as premissas da Administração Gerencial, em

específico pelo alto grau de racionalidade de ser alcançado em razão da fidedignidade

entre ações propostas e quantidade de recursos necessários para sua execução.

Fez-se destaque, também, para o fato de que por melhores que sejam os valores

acerca de economicidade e sustentabilidade, há a expectativa que a divulgação de custos

pode ser um meio de estimular os gestores de melhorarem suas atividades segundo esses

atributos, os aproximando cada vez mais dos princípios republicanos, no sentido dos

esforços da Administração Pública estarem a serviço do atendimento das demandas

sociais.

E não menos importante, a constatação de que o controle de custos poderá

também contribuir para melhoria das contratações públicas, não só no que se refere à

economia de escala, mas em relação a toda a logística envolvida, principalmente nas

atividades de fiscalização da execução contratual. Essa assertiva decorre do fato que o

controle de custos funciona como retroalimentador de informações para o planejamento

das despesas, proporcionando subsídios para identificação das melhores maneiras de

contratação e estimulando os gestores dos contratos a buscar as alternativas mais

eficientes ao atendimento das demandas.

Assim, considerando todos os benefícios apontados, os reveses decorrentes da

negligência com esse tipo de controle e o fato do controle de custos se constituir numa

(19)

iniciem atividades no sentido de criarem seus sistemas de controle de custos,

principalmente pela necessidade de controle das despesas, sendo esse a única variável

possível de ser controlada na busca de melhor produtividade do setor público, dada a

dificuldade de ajuste fiscal mediante ampliação da carga tributária, sob pena de que

imperfeições e desperdícios comprometam o ritmo de atendimento das demandas

sociais, sobretudo pela percepção de que apesar dos avanços e do crescimento do papel

do estado, há muito o que fazer para que os objetivos de inclusão social e diminuição

das desigualdades atinjam níveis satisfatórios, conferindo à eficiência das despesas um

(20)

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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Referências

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