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Cinema Zero na Cidade Média

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Academic year: 2017

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UNIVERSIDADE ESTADUAL PAULISTA “JÚLIO DE MESQUITA FILHO” FACULDADE DE ARQUITETURA, ARTES E COMUNICAÇÃO

Murilo Tomaz

“Cinema Zero na Cidade Média”

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UNIVERSIDADE ESTADUAL PAULISTA “JÚLIO DE MESQUITA FILHO” FACULDADE DE ARQUITETURA, ARTES E COMUNICAÇÃO

Murilo Tomaz

“Cinema Zero na Cidade Média”

Projeto Experimental apresentado pelo aluno Murilo Tomaz ao Departamento de Comunicação Social da Faculdade de Arquitetura, Artes e Comunicação da Universidade Estadual Paulista “Júlio de Mesquita Filho”, campus de Bauru, sob orientação acadêmica do Livre Docente Claudio Bertolli Filho, atendendo à Resolução 002/84 do Conselho Federal de educação para a obtenção do grau de Bacharel em Comunicação Social com Habilitação em Jornalismo.

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Banca Examinadora:

Prof. Livre Docente Claudio Bertolli Filho (orientador) Departamento de Ciências Humanas da FAAC

Universidade Estadual Paulista “Júlio de Mesquita Filho”

Prof. Dr. Mauro de Souza Ventura

Departamento de Comunicação Social da FAAC

Universidade Estadual Paulista “Júlio de Mesquita Filho”

Prof. Livre Docente Maximiliano Martin Vicente Departamento de Ciências Humanas da FAAC

Universidade Estadual Paulista “Júlio de Mesquita Filho”

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AGRADECIMENTOS

Aos meus pais, avós e familiares que somente por eles foi possível ter forças suficientes para ir atrás de um diploma em outra cidade. Sem eles não teria sentido realizar esse projeto de TCC. Porém, mais do que isso, esse apoio não significou somente a busca por um futuro ou profissão. Essa experiência permitiu que por falta de uma família surgissem outras em minha vida. Por isso dedico também este trabalho aos amigos Rubinho, Pastor, Costela, Dodô, Cris, Roque, Xaxado, Perón, Dimi, Peter e Fezão, moradores e ex-moradores da Rep. Babilônia.

Também ficam minhas saudações aos amigos da Rep. Xilindró, Agressão, SólonNeto e a memorável McFly.

Aos colaboradores Renan Simão (K-9) e a amiga imprevista Aline Ramos. Além da colaboradora de qualquer ocasião, para tudo e todo o sempre Laís Bola.

Para Nina e Manolo.

Aos futebolistas Rogério Ceni, Luís Fabiano, Raí, Hernanes, Lugano, França, Zetti, Romário, Cristiano Ronaldo, Maradona, Recoba, Telê Santana e Muricy Ramalho.

Pelas lutas dos boxeadores Myke Tyson e Manny Pacquiao.

Aos escritores mais lidos durante a graduação: Bukowski, Ferreira Gullar e Cortázar. Aos músicos mais escutados: Metallica, Megadeth, Iron Maiden, Nat King Cole, Zé Ramalho, Benito de Paula, Tim Maia. Roberto Carlos, Chico Buarque e Frank Zappa. E pontualmente Caetano Veloso, Criolo e o maestro Dudamel que foram exaustivamente escutados durante a escrita dessa obra.

Para Cronenberg por enobrecer temas como fetichização, escatologismo e loucura. Tarkovsky por seu cinema poético. Milos Forman e seu cinema biográfico. Wong Kar-wai pelos enquadramentos e trilhas sonoras utilizadas. Kusturica por ter filmado Underground – Mentiras de Guerra, pois se eu tivesse pretensões de trabalhar com cinema este seria o filme que eu gostaria de ter dirigido. À dupla Werner Herzog e Klaus Kinski. E Pasolini por ser Pasolini.

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SUMÁRIO

INTRODUÇÃO

1. TEMA...11

1.1 IMPORTÂNCIA ACADÊMICA...14

1.2 IMPORTÂNCIA SOCIAL...16

2. PROPÓSITO DE PESQUISA...21

2.1 PÚBLICO...22

2.2 REAÇÃO...23

3. MÉTODO...25

3.1 OBJETIVO...26

3.2 FORMATO...27

4. MATERIAL DE PESQUISA...34

4.1 LEVANTAMENTO...36

4.2 BASE TEÓRICA ...37

5. CONCLUSÃO...47

6. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS...49

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INTRODUÇÃO

O projeto de livro reportagem “Cinema Zero na Cidade Média” consiste na ideia

de oferecer um panorama cultural a partir de apresentações de filmes gratuitas ocorridas na cidade de Bauru no primeiro semestre de 2012. O livro servirá como Trabalho de Conclusão de Curso para o curso de Comunicação Social com Habilitação em Jornalismo. Junto ao livro consta este relatório que pretende servir como complementação das ideias principais expostas no livro e fornecer o roteiro compreendido pelo pesquisador e suas escolhas.

O jornalista/pesquisador constrói seu livro por meio de conceitos previamente selecionados que julga serem essenciais para a completude de sua obra. O nome “Cinema Zero na Cidade Média” indica duas possibilidades, os cinemas gratuitos,

objetos centrais de estudo e crítica da obra, e a ausência de cinema de qualidade na cidade, caracterizado pela ausência que a palavra ZERO remete.

O tema se baseia em torno dos eventos culturais gratuitos e permanentes na cidade que não dependam de espetáculos organizados sazonalmente para suprir a demanda de lazer que possa vir a faltar na rotina da cidade de Bauru e talvez de todo o Estado e País.

Alguns aspectos culturais foram instrumentalizados para servirem ao mercado - e não ao social e ao lazer - pelos custos enfrentados para seu consumo e proximidade. As sociedades modernas subverteram o papel das artes em favor da lógica do capital, onde se produz em maior escala e com qualidade inferior. O teor alienante em que as artes foram relegadas reduziu seu papel de leitor e transformador social e as deixaram sujeitas ao consumo desenfreado e o entretenimento vulgar.

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É claro que a ordem do capital se apropriou da Imagem Audiovisual para alienar as massas humanas. Entretanto, no plano da subversão cultural, cabe a reapropriação e resignificação da Imagem Audiovisual no sentido da emancipação humana. (ALVES; MACEDO, 2010, p. 15)

Faz-se essencial ter cinemas de qualidade em todas as cidades. No caso de Bauru, as salas entendidas como convencionais e que tem sua programação divulgada somente oferecem filmes extremamente populares que serão certeza de retorno nas bilheterias. Infelizmente esses filmes, em sua maioria hollywoodianos, se utilizam de um modelo industrial feito para ser vendido. Fora isso o cinema enfrenta perda de público em todos os níveis, “o vídeo se converteu, em menos de uma década, na principal forma de ver cinema” (CANCLINI, 2008, p.165). E hoje em dia a possibilidade de ver filmes baixados pela internet também contribui para essa crise de público. Dessa forma não resta nenhuma apresentação de cinema que preze pelo conteúdo? Será que não há público para isso? “A rigor, esta queda no número de salas não implica o desaparecimento do cinema, mas indica que a televisão e o vídeo estão transladando para as casas o lugar de acesso dos filmes” (CANCLINI, 2008, p.143).

Os filmes estão sendo vistos pelas pessoas dentro de suas casas. A experiência fílmica que compreende o ambiente e o público é reduzida pelas condições impostas pelo espectador que da o pause no momento que quiser e depois volta a assistir o filme. O cinema entrou em crise e as salas de apresentação se tornaram cada vez mais sujeitas às condições do mercado. Dificilmente filmes de autor, de artes, documentários etc ganham espaço em salas de cinema.

Em todos os países latino americanos foram fechadas milhares de salas, assim como ocorreu em outros continentes. Os cinemas se transformaram em lojas de videogames, em templos evangélicos ou em estacionamentos em Montevidéu, São Paulo, Bogotá e México. (CANCLINI, 2008, p.157)

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representante independente com aspectos de Cineclube, o Cine Extinção e o para representar a sociedade pelo terceiro setor o Cine Sesc.

Esses três objetos estudados apresentam filmes de forma gratuita e são voltados para públicos distintos. Dessa forma é possível compreender que se esses locais existem é porque existe público, mesmo que esse seja reduzido. A necessidade de que esses tipos de locais existam como opção de lazer dentro da cidade é pesquisada nesse trabalho junto ao público por meio de entrevistas que buscam compreender as precisões e o sentido de identificação dos frequentadores com os filmes e com os lugares. Os relatos colhidos no livro servem para aproximar o leitor quanto à ideia de consumo cultural cidadão, a formação de um circuito gratuito e de oportunidades culturais dentro da cidade e, como não poderia ficar de fora, ser uma forma de entretenimento que serve para pensar, assim como os filmes e os locais pesquisados.

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11 1. TEMA

A ideia de estudar os públicos de cinemas gratuitos na cidade surgiu com a proposta de despertar a população quanto ao consumo de cultura sem custo e de qualidade na cidade de Bauru. O livro “Cinema Zero na Cidade Média”, pretende atingir o público geral frequentador de cinema de Bauru. O termo “cidade média” é

entendido não em sua forma precisa, pois a definição precisa para uma cidade com 334 mil habitantes é cidade média grande. Porém, por não ser uma definição usual e por opção estilística se trabalha com a definição cidade média. Nas cidades modernas a alienação é brutal e o tempo gasto com entretenimento não é discutido. Grande parte da população consome o que lhe é ofertado sem contestação. A crítica se faz para todos os níveis culturais encontrados, porém, nesse trabalho, o cinema é o objeto a ser estudado, claro, dentro de suas particularidades, mas como representação da crítica cultural proposta. As opções que surgem na cidade ante esse sistema que em Bauru, no momento (2012), oferece de cinema dentro do Shopping e da galeria Alameda Quality Center, são muitas, porém pouco conhecidas. Como exemplos de projetos na cidade que desenvolvem a divulgação de material audiovisual de forma gratuita estão: Ponto de Cultura Aldire Pereira Guedes, Cine Extinção, Cine História, Enxame Coletivo, Cine Ouro Verde, Cine PET, Cineclube da Unesp, MIS – Museu da Imagem e do Som, além das apresentações no SESI e no SESC de Bauru.

Os locais citados possuem suas particularidades e suas formas de apresentação. Cada um tem seu apelo específico e o intuito é pesquisar de que forma alguns locais agregam determinados tipos de público, pois apesar de serem locais pouco frequentados e que não chamam a atenção da população no geral, são lugares com público fiel ou que por vezes buscam uma “saída” do consumo de cinema

convencional. Dessa forma esses locais acabam por formar um público que se identifica com o projeto ou as apresentações feitas. Com isso, surgiu a ideia de se apropriar de elementos antropológicos e estudos de “identificação” para traçar um

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12 As sociedades civis aparecem cada vez menos como comunidades racionais, entendidas como unidades territoriais; linguísticas e políticas; manifestam-se principalmente como comunidades hermenêuticas de consumidores, ou melhor, como conjuntos de pessoas que compartilham gosto e pactos de leitura em relação a certos bens (gastronômicos, desportivos, musicais), os quais lhes fornecem identidades comuns. (CANCLINI, 2009, p.224)

Ao mesmo tempo em que o público de um circuito alternativo ao cinema convencional da cidade surge como disseminador, promovedor e consumidor de filmes por iniciativa própria a fim de suprir as lacunas culturais modernas, de uma maneira ou de outra, acaba indo em desencontro a ideia de comunidade e, sim, se reafirmando como “conjunto de pessoas”, buscando “identidades comuns”. Isso serve para diferenciar

ainda mais esse grupo perante aos outros, mesmo que as identidades se mantenham em sigilo e se desenvolvam apenas nos encontros para ver filmes. Pelo simples fato das pessoas frequentarem estes lugares, elas, de alguma maneira, fazem parte dele. Assim, esse tempo gasto com o lazer e entretenimento se torna essencial para a formação dos laços de vinculação humanos. São nos períodos em que as pessoas não estão em casa ou no trabalho que elas têm contato com a cultura, como estudado no livro “Festa no Pedaço”, de MAGNANI.

O lazer [tema deste trabalho] é a parte integrante da vida cotidiana das pessoas e constitui, sem dúvida, o lado mais agradável e descontraído de sua rotina semanal. Exatamente por estas razões e que não está imune a preconceitos quando se trata de desfrutá-lo, mas de refletir sobre seu significado. Em primeiro lugar, é considerado irrelevante, enquanto tema de pesquisa, há coisas mais sérias, como trabalho, política. (MAGNANI, 1998, p. 18)

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13 É preciso não ser professor para hoje acreditar na didática. Transmissão de conhecimento é uma besteira. O conhecimento é uma conquista, uma experiência, a ligação de uma série de coisas que acontecem. O que o sujeito pode tentar é criar uma atmosfera para que as coisas surjam e que as pessoas aprendam. (ALVES; MACEDO, 2010, p. 50)

Com essa possibilidade de procurar entender o público de cinemas gratuitos e como eles agem, oferecendo uma pesquisa em forma de livro reportagem, é proposta uma união neste trabalho entre comunicação, antropologia e cinema. Por mais que pareça audacioso, pela escolha dos objetos, o conteúdo de crítica social embutido na pesquisa e a análise de identificação do público com a cultura da cidade por meio do cinema pode oferecer de maneira convincente novas proposições de análise que nunca devem cessar. A pesquisa em favor de oferta cultural de qualidade e gratuita aqui se faz presente pelos perfis observados em campo e a crítica social que sempre deve buscar respostas para sua época.

Opções de objeto

Para representar o circuito de cinema gratuito da cidade foi escolhido para a realização do livro reportagem o Cine Extinção, o Cine História e o Cine Sesc. Os outros representantes de cinema gratuito da cidade são citados no livro e também são pesquisados, porém de maneira superficial somente para completar o retrato do “circuito” dessas apresentações. No caso o Cine Extinção é vinculado a um Empório

Cultural, que funciona com sebo de discos e livros e também como brechó. Por se tratar de apresentações sem vinculo nenhum com meios legais ou sociais essas apresentações, que não obedecem nenhuma formalidade, representam de certa maneira uma apresentação não propriamente “cineclubística”, mas oferece os mesmos elementos de

Cine Clube, porém de forma independente. A curadoria é feita pela cabeça do dono da loja que utiliza o espaço para experimentações e fomento de produções autorais e o público em sua maioria são frequentadores da loja “Extinção Discos”.

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14 potencialidades quanto aos conteúdos veiculados e seu poder de educação para os estudantes são trabalhados a partir de temas relacionados aos vistos em sala de aula.

O terceiro e último objeto pesquisado foi o Cine Sesc como representante do terceiro setor e, assim, formar uma tríplice entre projetos do Estado, da sociedade civil e independentes. Embora nenhum dos três seja propriamente Cine Clubes, eles carregam marcas comuns a esses.

É claro que se deve respeitar a pluralidade de experiências cineclubistas que implicam atividades meramente de exibição ou atividades de discussão criticas e algumas, de formação de experiências criticas com densidade formativa. (ALVES; MACEDO, 2010, p. 18)

A experiência crítica adquirida, por exemplo, em um clico de cinema em alguma amostra temática do Sesc, oferece ao público que procura frequentar suas sessões semanais, elementos culturais profundos e reflexivos mesmo que não haja uma discussão após o filme.

1.1 IMPORTÂNCIA ACADÊMICA

Enquanto as maneiras de ser ou agir de certos homens forem problemas para outros homens, haverá lugar para a reflexão sobre essas diferenças que, de forma sempre renovada, continuarão a ser o domínio da antropologia. (LÉVI-STRAUSS, 1962, apud MAGNANI; TORRES, 2000, p. 17)

A frase citada acima de Lévi- Strauss carrega a força necessária para justificar qualquer pesquisa calcada nas relações humanas. A partir dela, no caso dessa justificativa, é possível compreender que para o jornalista que é um incomodado por natureza, de certa forma um “moralista”, é necessário ver harmonia em tudo. Como

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15 maneira sobre as opções culturais da cidade de Bauru. Aqui o jornalista não tenta reordenar as coisas, mas utiliza seu conhecimento para fornecer como pensar, o contrário de oferecer reflexões prontas. São utilizadas estratégias comunicacionais para tornar o livro agradável e voltado para seu público alvo. Dentre essas características estão as opções de linguagem ofertadas pelo New Journalism que vão de encontro ao papel científico desenvolvido pelo jornalista enquanto ele atua como “antropólogo” no campo e tenta observar padrões que definam o público sem julgá-lo, mas, sim, os relacionando.

O papel do cientista é outro: ele tem o dever de explicar os processos de identificação sem julgá-los. Ele deve elucidar as lógicas sociais que levam os indivíduos e os grupos a identificar, a rotular, a categorizar, a classificar e fazê-lo de uma certa maneira ao invés de outra.(CUCHE, 1999, p. 188)

Ao realizar este trabalho são desenvolvidos certos pontos de contato entre Antropologia e Comunicação que ainda engatinham em comparação a Sociologia, pois esta possui uma Sociologia da Comunicação fundamentada. Esse contato serve como proposta de aprofundamento para uma Antropologia da Comunicação. Além disso, o trabalho oferece uma proposta ousada quanto as suas escolhas como se apropriar do modelo do New Journalism para falar sobre lazer, algo visto por muitos como estudo de segunda linha em detrimento a outros assuntos. Porém, se não são as pessoas o alvo dos jornalistas quem são? Obviamente as pessoas e as relações sociais em que elas estão imersas são as principais fontes de conteúdo para os jornalistas e ignorar isso é deixar de lado como se formam seus vínculos, em que momento eles se dão, em que lugares acontecem, sendo que as relações entre pessoas se formam fora de suas casas.

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16 Portanto este trabalho possui no mínimo três grandes apelos em relação a sua relevância: propõe relações complementares entre a pesquisa antropológica e a atuação comunicacional, propõe estudos quanto ao potencial cidadão que os cinemas gratuitos podem ter e critica as ofertas culturais da cidade e a maneira como as pessoas consomem cultura nos dias atuais. A figura do jornalista, com isso, deve interligar estes pontos para proporcionar à Academia e à comunidade local uma leitura dos interesses públicos como observa CANCLINI.

A possibilidade de se construir um imaginário comum para experiências urbanas deve combinar o enraizamento territorial de bairros ou grupos com a participação solidária na informação e como desenvolvimento cultural proporcionado pelos meios de comunicação de massa, na medida em que estes representem os interesses públicos. (CANCLINI, 2008, p.110)

Os “interesses públicos” são a força motriz que movem os jornalistas. O curso

para o qual se apresenta esse TCC, Comunicação Social com Habilitação em Jornalismo, carrega em seu nome o peso da tarefa do Jornalista. O Social na denominação do curso é inerente e indispensável para a prática comunicacional. Assim como o que é ensinado nas matérias ao longo da formação acadêmica. Mesmo o mercado de trabalho oferecendo outras opções para os comunicadores é função do Jornalista atentar para o Social. Mesmo que o tema pesquisado seja o Entretenimento, como o tema desse relatório e que alguns torceriam o nariz ao dizer que é uma pesquisa menor, é por meio dele que esse trabalho alcança sua relevância máxima ao oferecer ao jornalista a oportunidade de se misturar com o público, fazer parte dele, entender como funcionam as apresentações e utilizar o conhecimento adquirido em anos de formação acadêmica para representar os “interesses públicos”.

1.2 IMPORTÂNCIA SOCIAL

Antes de qualquer coisa reproduzo a “Carta do Direito Público” encontrada no livro “Cineclube, Cinema e Educação”, organizado por Giovanni Alves e Felipe

Macedo, trecho encontrado nas páginas 54 e 55.

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17 A Federação Internacional dos Cineclubes (FICC), organização de defesa e desenvolvimento do cinema como meio cultural, presente em 75 países, é também a associação mais adequada para a organização do público receptor dos bens culturais audiovisuais.

Consciente das profundas mudanças no campo audiovisual, que geram uma desumanização total da comunicação, a Federação Internacional de Cineclubes, a partir de seu congresso realizado em Tabor (República Tcheca), aprovou por unanimidade uma

Carta dos Direitos do Público

1. Toda pessoa tem direito a receber todas as informações e comunicações audiovisuais. Para tanto deve possuir os meios para expressar-se e tornar públicos seus próprios juízos e opiniões. Não pode haver humanização sem uma verdadeira comunicação.

2. O direito à arte, ao enriquecimento cultural e à capacidade de comunicação, fontes de toda transformação cultural e social, são direitos inalienáveis. Constituem a garantia de uma verdadeira compreensão entre os povos, a única via para evitar a guerra.

3. A formação do público é a condição fundamental, inclusive para os autores, para a criação de obras de qualidade. Só ela permite a expressão do indivíduo e da comunidade social.

4. Os direitos do público correspondem às aspirações e possibilidades de um desenvolvimento geral das faculdades criativas. As novas tecnologias devem ser utilizadas com este fim e não para a alienação dos espectadores.

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18 6. As associações de espectadores têm direito de estar associadas à gestão e de

participar na nomeação de responsáveis pelos organismos públicos de produção e distribuição de espetáculos, assim como dos meios de informação públicos.

7. Público, autores e obras não podem ser utilizados, sem seu consentimento, para fins políticos, comerciais ou outros. Em casos de instrumentalização ou abuso, as organizações de espectadores terão direito de exigir retificações públicas e indenizações.

8. O público tem direito a uma informação correta. Por isso, repele qualquer tipo de censura ou manipulação, e se organizará para fazer respeitar, em todos os meios de comunicação, a pluralidade de opiniões como expressão do respeito aos interesses do público e a seu enriquecimento cultural.

9. Diante da universalização da difusão informativa e do espetáculo, as organizações do público se unirão e trabalharão conjuntamente no plano internacional.

10. As associações de espectadores reivindicam a organização de pesquisas sobre as necessidades e evolução cultural do público. No sentido contrário, opõem-se aos estudos com objetivos mercantis, tais como pesquisas de índices de audiência e aceitação.

Tabor, 18 de setembro de 1987

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A carta apresentada acima, “Carta dos Direitos do Público” de audiovisual, representados pela Federação Internacional dos Cineclubes (FICC), trata de uma proposta para a democratização e humanização da difusão do audiovisual. Embora seja vinculado a prática “cineclubística” e esta pesquisa estude apresentações de cinema

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19 tópico um da carta está: “Para tanto deve possuir os meios para expressar-se e tornar públicos seus próprios juízos e opiniões”. Por meio dessa afirmação este trabalho tem o intuito de contribuir com a expressão do público ao dar voz aos frequentadores e organizadores das apresentações dos filmes e ressaltar a importância de se produzir e veicular produções audiovisuais na forma de consumo cidadão e não privado. O segundo tópico da carta e destacado diz: O direito à arte, ao enriquecimento cultural e à capacidade de comunicação, fontes de toda transformação cultural e social, são direitos inalienáveis. A colocação anterior afirma que arte, cultura e comunicação são direitos cidadãos que devem ser acessíveis a todos. Porém, a condições de vida em que as sociedades modernas se estruturaram , oferecem brechas, não permitindo que todos tenham seus direitos garantidos. Nesse aspecto a arte, a cultura no geral e a comunicação podem ser entendidas como objeto de consumo. O significado de consumo aqui se faz evidente nas sociedades em que o livre mercado é empregado. Por mais que, atualmente, em outros países ainda se vivam outros modelos econômicos e em outras épocas as sociedades atuais tenham passado por outros modelos de economia, é inegável que a base estrutural que rege o mundo, mesmo que passando por momentos de crise, é o capitalismo. Os meios culturais para outros modelos são empregados de outras formas, mas para o capitalismo é resignificado como consumo. A alternativa a isso para a arte não se tornar alienada de sentido e abrangência é torná-la cidadã:

Vincular o consumo com a cidadania requer ensaiar um reposicionamento do mercado na sociedade, tentar a reconquista imaginativa dos espaços público, do interesse pelo público. Assim, o consumo se mostrará como um lugar de valor cognitivo, útil para pensar e atuar, significativa e renovadoramente, na vida social. (CANCLINI, 2008, p.72)

No caso das alternativas que os cineclubes e cinemas pressupõem ALVES e MACEDO (2010) acreditam que “o cineclube deve interagir com as demais instituições e iniciativas importantes da comunidade, reforçando-se mutuamente nessa ação”, corroborando com o dito por CANCLINI. Dessa forma, o trabalho desenvolvido nessa pesquisa, serve tanto para preencher esse aspecto “inalienável” de comunicação e

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20 O cineclube pode tornar-se não apenas um espaço de apropriação do filme como Imagem Audiovisual, mas também um espaço de resignificação do filme na perspectiva da desfetichização da vida humano social, na medida em que consegue ir além da tela (ou do filme exibido). (ALVES; MACEDO, 2010, p. 16)

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21 2. PROPÓSITO DE PESQUISA

A pesquisa pretende apresentar para quem tiver contato com o livro reportagem um panorama que pode servir como crítica social quanto à cultura de cidades de médio porte como Bauru e até ser relacionada, guardada suas devidas proporções, com opções culturais de cidades maiores que Bauru. A compreensão de que as salas de cinema de Bauru, entendidas como oficias e da iniciativa privada, as mesmas que aparecem únicas com sua programação divulgada em jornais e revistas, fornecem ao público filmes hollywoodianos, poucos autorias, com presença nula do cinema de autor ou com crítica social. Claro que o cinema pode ser somente uma experiência de lazer. Porém o que se apresenta nos conteúdos, na maioria desses filmes, não é a preocupação com o puro entretenimento, mas, sim, uma série de elementos alienantes que do mesmo modo que são consumidos logo em seguida são esquecidos assim que o espectador sai da sala de cinema.

Outro fato preocupante é o sumiço do público em apresentações artísticas. Hoje em dia, se opta por um entretenimento à domicílio, de baixo custo, sem nenhuma interação social. Esse é um fator preocupante, pois sem sair de casa ou apenas permanecendo em locais costumeiramente frequentados, as pessoas não ampliam sua cultura, laços sociais e valores.

Por que as massas vão pouco aos espetáculos? Uma explicação é que existe uma tendência internacional para que descreça a participação em instalações públicas (cinemas, teatros, salões de dança), enquanto cresce a audiência da cultura a domicílio (rádio, televisão e vídeo). (CANCLINI, 2008, p.79)

O irregular desenvolvimento urbano e as desigualdades econômicas dificultam o acesso das classes populares aos espetáculos. Existe a necessidade de se consumir cultura pelas classes populares, porém existe o empecilho econômico. Dessa forma essa pesquisa também serve como guia e “redescobrimento” da cidade em suas opções de

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22 Quanto ao público e a reação que o livro pretende atingir a explicação está nos itens encontrados nas próximas páginas. O interessante é observar que em todos os aspectos a ideia de identificação se desenvolve, seja em ter um livro atraente para seu consumidor, ou nas entrevistas realizadas com o público - que visam perceber essa identificação dos frequentadores das apresentações analisadas com os locais, filme exibido e o restante do público.

Se admitimos que a identidade é uma construção social, a única questão pertinente é: “Como, por que e por quem, em que momento e em que contexto é produzida, mantida ou questionada certa identidade particular? (CUCHE, 1999, p. 202)

As identidades aqui observadas são compreendidas no contexto em que são produzidas no caso do Cine História, que pretende educar pelo cinema, e de reafirmação do público do Cine SESC e Cine Extinção. Contudo, é importante deixar claro que não é alvo dessa pesquisa levantar aspectos quanto às identidades das pessoas. O interesse primordial é compreender o sentido de identificação desse público pelo cinema.

2.1 PÚBLICO

O livro reportagem trabalha com três propostas de cinemas diferentes e, com isso, pretende ser acessível para esses mesmos frequentadores desses cinemas. Além disso, busca atingir públicos que sentem deficiência de encontrar alternativas cinematográficas e culturais dentro da cidade. “Cada indivíduo tem consciência de

ter uma identidade de forma variável, de acordo com as dimensões do grupo ao qual ele faz referência em tal ou tal situação relacional” (CUCHE, 1999, p. 195). Assim, cada leitor pode entender da sua forma o livro, lendo apenas o capítulo com sobre a apresentação de cinema que lhe interessa, lendo o livro inteiro ou lendo apenas os ensaios que compreendem a obra e fornecem uma crítica cultural.

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23 O interesse público da obra atenta para o seu valor comunicacional de transmitir o cenário de circuito de cinemas gratuitos, de relatar as experiências que essas opções de apresentação podem trazer e o potencial de identificação com a obra por conta dos relatos humanizados que permitem maior abrangência do livro por retratar as pessoas de forma real. Ao mesmo tempo fornece para a investigação científica pontos de contato entre o jornalismo e a pesquisa antropológica, material pouco encontrado quando procurado para esta pesquisa.

2.2 REAÇÃO

No livro “Na Metrópole – textos de Antropologia Urbana”, organizado

MAGNANI e TORRES, contêm um capítulo realizado por Heloísa Buarque de Almeida, chamado “Janela para o Mundo: Representações do Público sobre o Circuito de Cinema de São Paulo”. Nele a pesquisadora recolheu as percepções do público da “Mostra de Cinema de São Paulo” sobre o cenário dos circuitos de cinema da cidade. O

resultado são padrões observados para a realidade da época e contextualizados com o circuito único daquela cidade que é uma metrópole. Desconsiderar esses fatos e achar que esses padrões se repetem em outros lugares é no mínimo inocente. No entanto, é possível utilizar o modelo de pesquisa de Heloísa de Almeida como inspiração e margear com as considerações mais genéricas o esperado para esta pesquisa.

O sentido que os espectadores das apresentações de cinemas gratuitos buscam, por mais que seja um momento de descontração, é de uma discussão mais aprofundada em conteúdo. A oportunidade que a arte oferece de unir contemplação e contestação - pela estética e tema abordado – desenvolve o sentimento único cidadania, entendido como direitos e deveres das pessoas. “Para alguns, o cinema passa a ter um forte lado

político, exigindo que o espectador pense, reflita, questione a situação política nacional e mundial”. (MAGNANI; TORRES, 2000, P. 189). O ser humano enquanto

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24 Walter BENJAMIN em seu célebre texto “A Obra de Arte na Época de sua Reprodutibilidade Técnica”, não viveu tempo suficiente para conhecer todas as

inovações artístico/culturais que surgiriam com o decorrer do século. Viveu o começo do desenvolvimento das potencialidades do cinema, porém já observava seu poder:

Outrossim, dado que o indivíduo conserva a tentação de recusar tais tarefas, a arte enfrentará as mais importantes a partir de quando puder mobilizar as massas. É o que faz atualmente através do cinema. (BENJAMIN, 1990, p. 238)

Mesmo acreditando que o cinema “rejeita o valor cultura de arte”, BENJAMIM, constata seu teor revolucionário capaz de tornar os espectadores mobilizados em torno do que é apresentado pelo filme. Apesar de o autor desvalorizar o sentido artístico dos filmes, ele valoriza seu poder comunicacional. No entanto desde sua época o cinema evoluiu muito e as técnicas de reprodutibilidade também, permitindo a reprodução do conteúdo de obras autenticas em outros formatos. Essas inseridas na cultura pop foram resignificadas e hoje é possível se contestar o valor cultural delas antes e depois de sua utilização pelo “pop”.

Com essa pesquisa se pretende oferecer a quem venha a ter contato com ela pelo livro o panorama do circuito de cinema gratuito da cidade pelo histórico das apresentações, pelo local e pelo relato de identificação do público frequentador.

É preciso tentar compreender o ponto de vista desses espectadores, que fazem um desenho imaginário das salas de cinema de acordo com sua interpretação, com o tipo de filme exibido etc. (MAGNANI; TORRES, 2000, P. 182)

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25 As representações feitas das salas exibidoras se associam ao estilo de filme que cada uma exibe, ao bairro e à região da cidade, ao fato de estar dentro de um shopping Center, à idade da própria sala. (MAGNANI; TORRES, 2000, P. 193)

O sentido de identificação do leitor com o livro reportagem é essencial para o despertar ou não dessa consciência de que existem alternativas culturais. Além de serem sujeitas a geografia do local, sua acessibilidade e ao imaginário construído da cidade, cada espectador entende de maneira pessoal e complexa a formação das oportunidades de cinemas.

[...] as casas não estão dispostas por aí, ao acaso para uma escolha imparcial de acordo com as necessidades práticas do espectador. Elas formam um desenho imaginário na mente dos indivíduos, com diferentes aspectos realizados. (MAGNANI; TORRES, 2000, P. 194)

Espera-se, deste modo, que a experiência com o livro seja para esse público a mesma de quando alguém vê algum filme e a partir dele consegue se divertir, aprender algo e, mais do que tudo, ter uma experiência diferenciada em seu cotidiano.

3. MÉTODO

Os conceitos utilizados quanto aos métodos empregados para a realização do Trabalho de Conclusão de Curso em discussão se debruçam sobre as teorias de livro reportagem, que foi o formato escolhido pelo aluno.

O tema proposto não discuti situações pontuais e trabalha com públicos diferenciados durante um período maior do que as realizações periódicas jornalísticas anseiam, dessa forma optou-se pelo livro reportagem.

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26 Como visto acima, a opção pelo livro reportagem reside no fato de que a obra realizada analisa locais e públicos de lugares diferenciados e, além disso, visa certa “audiência heterogênea” dentro da cidade. A dispersão do conteúdo visa atrair públicos

de diferentes lugares da cidade, não só para os locais citados e expostos, mas atrair para a crítica imbuída no conteúdo do livro. Para conseguir tal fato é melhor que a publicação tenha um período maior de validade para que tão logo ela não perca seu valor. Sendo que a discussão do livro não trabalha fatos “quentes” e não faz cobertura

de acontecimentos atuais, mas, sim, propõem uma analise jornalística de cunho antropológico – em certos pontos -, o livro reportagem foi a maneira encontrada para dar vazão ao conteúdo observado pelo autor.

3.1 OBJETIVO

O livro em questão enquanto obra jornalística pretende atender aos elementos necessários para alcançar seus objetivos sociais e estéticos. Dada as condições vistas, é previsto que a obra forneça ao público alternativas de reflexão sobre o consumo cultural na cidade de Bauru. Para tal foi utilizada como objeto de pesquisa apresentações de cinema gratuitas na cidade. Dessa maneira, por meio de entrevistas com o público, com os realizadores dessas apresentações, com especialistas no tema e pela vivência do repórter/ escritor no circuito de cinema, se pretende alcançar um relato convincente das possibilidades que esses tipos de apresentações podem gerar. Dentro dessas possibilidades estão: educação, cidadania, cultura, lazer, entretenimento etc. A seleção das possíveis utilizações cinematográficas, além do relato de como funcionam algumas exibições determinas, tem como escopo o despertar e o convite - de quem possa vir a ter contato com o livro – para apresentações que fornecem cultura gratuita e diferenciada do convencional. As estratégias para alcançar o público quanto aos métodos empregados visam maior proximidade com o objeto e com os entrevistados. Segundo BULHÕES (1997, P. 45), “a reportagem é o ambiente mais invento da textualidade”.

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27 o texto passa de primeira para terceira pessoa e o ponto de vista é autobiográfico. Essas características se adéquam ao objetivo de tecer relatos convincentes que agreguem valores novos para quem não tem contato com o tema discutido e propõe novas discussões sobre o tema para quem, de alguma maneira, entende e participa da cultura da cidade de Bauru.

3.2 FORMATO

Perfis humanizados

Como o livro de MEDINA (1990) enuncia, existem duas divisões iniciais onde a reportagem se divide entre a “espetacularização do ser humano” e a “compreensão do ser humano”. Como o intuito da pesquisa é constatar por meio da reportagem as

identidades dos frequentadores de cinemas gratuitos, é a partir dos relatos do público que se pretende construir um painel representativo das apresentações.

O repórter coletou, através de múltiplas fontes, versões, ângulos do acontecimento em geral um fato, impacto. Terá, então, nas mãos, um mural que será montado numa espécie de coral de vozes habilmente encadeadas. Como se fosse uma colagem de entrevistas. (MEDINA, 1990, p. 50)

Para isso foi optado pela entrevista humanizada que reside dentro das opções ofertadas pelo tipo de entrevista “compreensão do ser humano”. É um tipo de “entrevista aberta que mergulha no outro para compreender seus conceitos, valores, comportamentos, histórico de vida.” (MEDINA, 1990). Além disso, as apresentações

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28 A humanização evita os estereótipos tanto quanto possível, visando retratar os seres humanos na sua inteireza complexa, com virtudes e defeitos, Por isso as pessoas não são tratadas meramente como fonte de informação; são personagens e protagonistas de histórias. Humanizar, nesse sentido, inclui também o próprio autor da narrativa. Esse principio, por sua vez, está diretamente ligado à voz autoral e ao estilo. Os três estão conectados diretamente. (LIMA, 2009, p.372)

O jornalista também deve se posicionar de maneira que não comprometa seu relato e ofereça credibilidade. A sua participação no relato da reportagem insere proximidade ao leitor como se o autor conduzisse quem lê o livro para sua vivência e seus pontos de vista. A experiência de humanização concatenada entre entrevistado, autor e a história oferece ao leitor um sentido identificação sobre aqueles seres inscritos em certa realidade.

Narração

Ao jornalista cabe se posicionar para dar voz ao público. Pela escolha feita de formar um painel de opiniões que trace uma representação do público e, além disso, relatar as experiências do narrador sobre as exibições vistas e do material observado no geral, o discurso é trabalhado em primeira pessoa, porém com “Foco narrativo mutante”. “Ocorre uma mutação sem pedir licença, de, por exemplo, um narrador observador em primeira pessoa, para um narrador onisciente de terceira pessoas.”

(MEDINA, 1990, p. 72). Dessa maneira os tipos de narração que podem ser localizados durante o livro são, segundo MEDINA (1990):

1º pessoa

1. Narrador observador 2. Narrador protagonista 3º pessoa

3. Onisciência neutra externa: em que o narrador descreve dados externos às personagens e dá a aparência de não participante.

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29 5. Onisciência imediata: sem comentários elaborados, os pensamentos do

narrador tomam a aparência de virem à tona no momento.

O retrato

Ao mesmo passo que foi optado por perfis humanizados para as entrevistas com o público, para descrever os “cinemas” em si, e o circuito que eles formam, foram escolhidas as características de “livro reportagem retrato” para a construção dos ambientes onde se dão as exibições dos filmes.

Exerce papel parecido, em principio, ao do livro perfil. Mas, ao contrário deste, não focaliza uma figura humana, mas sim uma região geográfica, um setor da sociedade, um segmento da atividade econômica, procurando traçar o retrato do objeto em questão. Visa elucidar, sobretudo, seus mecanismos de funcionamento, seus problemas, sua complexidade. É marcado na maioria das vezes, pelo interesse em prestar um serviço educativo, explicativo. Por isso, trabalha a metalinguagem, na troca em miúdos de um campo específico do saber para o grande público não especializado. (LIMA, 2009, p.53)

Para completar, essa escolha também serve ao se referenciar aos públicos quando trabalhados como grupos. Quando, no livro, o sentido de unicidade aflora em identificação com os grupos sociais, as explicações pairam sobre essa forma de retrato onde o teor de pesquisa antropológica fica melhor localizado e com maior crédito ao se prestar ao “serviço educativo”(social).

Imersão – experiência valorizada

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30 local, se emaranhar com o público, conversar, pedir informações, conversar com seus realizadores, frequentar os locais em dias que não tem apresentação, enfim, observar densamente o que envolve aquele acontecimento se passando por público, como apenas mais um espectador, para imergir no fato estudado.

A imersão é vital. Como propósito motriz do jornalismo literário é a compreensão da realidade, só há uma maneira de um bom repórter aquilatá-la melhor: mergulhando na própria. (LIMA, 2009, p.373)

BULHÕES (1997, p. 67), em seu livro “Jornalismo e Literatura em Convergência”, relata o legado de Émile Zola para a obra jornalística de imersão. Ao propor uma escrita “em favor da experiência concreta”, Zola pressupõe uma literatura de “observação, pesquisa e levantamento de dados”. No trato em que a pesquisa desse

livro trabalha tanto jornalismo como elementos antropológicos para os estudos de públicos e sua identificação com cinema, as concepções pensadas por Zola no século XIX ainda são relevantes para a experiência do relato próximo da experiência real, mesmo que sujeito das acepções do escritor. Como diz LIMA (2009), para se “identificar padrões”, que em partes é também alvo dessa pesquisa ao tentar definir um

perfil geral de público frequentador de cada apresentação de cinema estudado, a imersão se faz útil e necessária.

A imersão serve ao objeto de se investigar os padrões de comportamento dos personagens de uma história, para compreender suas motivações, seus valores, a origem possível de determinadas atitude, a consequência de uma postura. (LIMA, 2009, p.377)

New Journalism como inspiração

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31 E só aos poucos é que fui aprendendo a dar o devido valor a acontecimentos aparentemente corriqueiros, como aniversários e casamentos, a identificar a rede de relações mobilizada num torneio de futebol de várzea, a ver com outros olhos o entusiasmo de uma excursão de farofeiros e até mesmo prosseguir “numa boa”, a entrevista iniciada inadvertidamente com um bandido (MAGNANI, 1998, p.21)

Ao valorizar relações que podem ser entendidas como corriqueiras, mas que possuem importante significação para compreender certos aspectos da sociabilidade nas apresentações de filmes, o “New Journalism” oferece fundamentações para aliar a

pesquisa antropológica, com os perfis humanizados propostos e as reportagens tipo retrato. A compreensão de contracultura dos anos 60, transgressão, expressão verbal, efeito gráfico, marcas de linguagem e textualidade libertária são as características principais do movimento para BULHÕES (2007). Essa libertação com ares de contracultura rompeu com os valores até então monolíticos da reportagem da época e mostrou ao mundo novas possibilidades de se captar reportagens.

O repórter captou um perfil humano. O depoimento desceu ao subsolo do entrevistado, afloraram traços de sua personalidade, revelaram-se comportamentos, valores. É a humanização conquistando um espaço na comunicação coletiva. O jornalismo noticioso ortodoxo não admite esses luxos com o indivíduo, que não mercê tanto espaço. No entanto, os rebeldes novos jornalistas dos Estados Unidos, na década de 60, contestaram tais preceitos, E romperam com a tradição. (MEDINA, 1990, p.51).

A partir do New Journalism as reportagens e livros reportagens agora possuem um novo patamar de comunicação onde a coletividade, a iluminação dos marginalizados e a atenção para assuntos que as reportagens tradicionais não abordam ou tratam de maneira superficial, ganham status de estudos com profundidade e relevância social.

Antropologia e Jornalismo como pesquisas

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32 gráfico alinhado ao tema e ousadia verbal. As dimensões de espaço e tempo são elásticas e se aproximam da busca do jornalismo científico, constante e infinita.

A função do jornalista escritor traz elementos antropológicos que se caracterizam pela pouca interferência nas entrevistas, observações e ajuda para respostas somente durante a narrativa do entrevistado e para levantamento de dados complementares.

São métodos que permitem um relato do real minimamente viciado pela interferência do autor, na medida em que se busca respeitar ao máximo a cultura e a linguagem dos personagens sobre os quais se quer trabalhar. Além disso, servem para que se cruzem diferentes informações, de modo que apareçam, evidenciados, padrões e tendências dos grupos sociais. (LIMA, 1993, pág 38)

O respeito ao linguajar e às experiências vividas entre jornalista e as fontes são fundamentais para a compreensão dos valores transmitidos. Assim se faz necessário compreender que por mais que o jornalista figure como público e pela imersão faça parte daquele convívio, no momento em que ele vai passar sua mensagem a comunicação se volta para o sentido primordial jornalístico entre emissor e receptor. Portanto, a pesquisa por mais que tenha conteúdo antropológico, enquanto formato jornalístico, ela deve ser compreensível para o público que é endereçada, permitindo a descodificação de sua linguagem.

Duas ressalvas, entretanto, devem ser feitas. Primeiro; se desvendar os mecanismos linguísticos que regem essa organização constitui uma etapa na análise, convém recordar que todo material discursivo, verbal ou escrito, circula entre dois polos – o emissor e o receptor – cujas características não podem ser deixadas de lado. (MAGNANI, 1998, p.21)

O escritor sem deixar suas características jornalísticas de lado se torna um pesquisador enquanto realiza sua pesquisa de campo, porém, como cita BULHÕES (1997, p. 120) sobre a obra de Sylvio Floreal, “há algo de zelo sociológico ou

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33 natural, com o conteúdo profundo que a proposição de estudo antropológico carrega e, assim, se obtenha certa harmonia entre jornalismo e antropologia.

Opções Técnicas

A confecção do livro em questão compreende também seu projeto editorial e gráfico. A obra oferece capítulos distintos em formatos, sendo o capítulo inicial um panorama do circuito de cinema de Bauru, os três capítulos seguintes cada um dedicado a um cinema estudado e o último capítulo um ensaio debruçado sobre a utilização do Áudio Visual enquanto obra de arte. Reunidos em forma de livro os capítulos são representantes de um circuito de cinemas gratuitos que existem dentro da cidade, mas os capítulos que tratam especificamente cada um sobre um cinema podem ser publicados separadamente em outras plataformas e não perder seu intuito de oferecer um perfil da apresentação em questão e seus frequentadores.

O projeto gráfico pretende proporcionar uma fácil leitura e ser representado por imagens dos locais frequentados. A fonte é “Times New Roman” pela legibilidade que proporciona devido à suas serifas e por ser uma letra popular. As fotos foram reproduzidas em preto e branco para baixar o custo da edição e a ideia da capa é retratar a identificação das pessoas com o cinema que elas consomem. Foram tiradas fotos com os organizadores, com os entrevistados e das salas de apresentação. A escolha das fotos pretende oferecer uma ideia dos locais onde os filmes são passados e do público.

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34 4. MATERIAL DE PESQUISA

A pesquisa é centrada no público frequentador de cinemas com propostas distintas, porém com a mesma premissa: oferecer lazer, cidadania e gratuidade em suas apresentações.

A programação desses locais que é alternativa ao cinema entendido como “convencional” na cidade, pretende dar, de certa maneira, ao público uma opção de

cultura e entretenimento em meio à rotina cotidiana.

O enfoque que propomos, entretanto, supõe outro ponto de partida. Frente ao universo de trabalho, já subjugada pela lógica do capital que tenta progamá-lo inteiramente, existe um espaço regido em parte por outra lógica, e aberto ao exercício de uma certa criatividade: a vida familiar, o bairro, as diferentes formas de entretenimento e cultura popular que preenchem o tempo de lazer. (MAGNANI, 1998, p.29)

O cinema alternativo ao convencional não é popular, mas deveria ser. A proposta de gratuidade não pressupõe apelo suficiente para agregar as massas. O tempo reservado ao lazer pode ser mais bem utilizado pelas pessoas. Não é de se estranhar ver opções culturais entendidas como agregadoras com pouco público, enquanto opções voltadas ao consumo estarem lotadas. O apelo desse trabalho é estudar a partir do público e dos organizadores do Cine História, Cine Extinção e Cine Sesc os motivos que os levam a estarem envolvidos com esses projetos. Dentre esses motivos estão: a identificação com os filmes e ambiente, a opinião quanto à cena cultural da cidade, localização geográfica ou facilidade de transporte que propicie a ida ao local e também o entretenimento, o lazer como experiência cultural. O livro pretende ser um retrato dos seus frequentadores e, mais do que isso, despertar a vontade dos que não frequentam esses cinemas a irem conhecer esses lugares.

A identificação tanto dos espectadores desses cinemas, quanto dos leitores do livro, não busca entender o público em um sentido único de identidade, suspenso e monolítico. A procura dos níveis de identificação das pessoas é entendida de maneira complexa e particular. Para CUCHE (1999, p.175), “atualmente, as grandes interrogações sobre a identidade remetem frequentemente à questão de cultura. Há o desejo de se ver cultura em tudo, de encontrar identidade para todos”, no entanto, não é

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35 o leque de identidades do público de cinema e demonstrar que esse público pode ser heterogêneo em sua formação humana. Portanto, o que diferencia esses públicos assim como quaisquer outros públicos, nos oferece proximidade, pois é possível encontrar algum semelhante nesses locais. E o que é entendido como semelhante dentre os frequentadores de cinemas gratuitos pode ser visto como a crítica cultural dos níveis de conhecimento, amplitude de divulgação e interesse que certo público tem em detrimento a outros.

Propostas

É importante deixar claro que os cinemas estudados pretendem apenas representar o potencial que a cidade pode oferecer. Para as cidades de maior ou menor porte podem ser destinadas as mesmas potencialidades e críticas, mas o foco é representar cidades de médio porte, pois é entendido que é mais fácil ter proximidade cultural em cidades semelhantes em números de habitantes. Cidades maiores possuem ciclos alternativos muito mais amplos e cinemas dedicados a público e gêneros específicos. Cidades menores podem ter ou não cinema e, mesmo que tenham, suas salas são limitadas e oferecem um número pouco diversificado de filmes.

Em Bauru, o Cine História é um projeto desenvolvido dentro do Teatro Municipal da Bauru, com o apoio da Prefeitura Municipal e organizado pelos funcionários da Gibiteca Municipal, localizada no próprio Teatro. Os filmes são abertos ao público, mas são voltados para vestibulandos e alunos do ensino médio. A temática das apresentações é trazer filmes que sejam úteis para agregar conteúdos a quem participa e complementar o conhecimento estudado. Após o filme é feita a contextualização do mesmo e a elucidação quanto ao que é fantasioso e o que é real do filme historicamente.

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36 escolha de filmes e do ambiente em que é passado. Porém a proposta é gratuita e aberta ao público, sendo possível encontrar não só o público que frequenta a loja nos filmes.

Para finalizar, o Cine SESC consiste em apresentações de filmes a partir de ciclos no auditório do SESC (Serviço Social do Comércio) Bauru. Os filmes são gratuitos e abertos ao público. São vinculados a escolha dos produtores culturais que trabalham para o SESC e oferecem filmes em torno de amostras trabalhas mensalmente sobre temas escolhidos por seus produtores. A transmissão dos filmes é entendida como oferta de lazer para a comunidade e os associados ao SESC e pretendem gerar reflexão crítica em quem frequenta os filmes das amostras por completo.

4.1 LEVANTAMENTO

O levantamento desse trabalho consiste em dois aspectos: o teórico e o prático. Quanto ao levantamento teórico para a realização do livro foi entendido pelo aluno que seria necessário para a pesquisa compreensão sobre antropologia do consumo e do lazer, cinema, cineclubes e cinemas alternativos, técnicas de reportagem e entrevista e, por fim, estudos sobre identidade cultural.

As escolhas foram pensadas com base nos objetos de estudo e junto ao orientador da pesquisa que pode indicar os livros e autores necessários para o conhecimento das teorias. Claro que a ideia partiu da cabeça do pesquisador/jornalista que pretende refletir sobre as opções de cinema da cidade. Pelo cinema das salas comercias não atender aos anseios culturais e de lazer de muitas pessoas, o livro pretende servir como um guia para estas, assim como, foi entendido pelo autor enquanto localizava os locais e compartilhava suas experiências com o público que assistia aos filmes.

Na antropologia, a pesquisa depende, entre outras coisas, da biografia do pesquisador, das opções teóricas da disciplina em determinado momento, do contexto histórico mais amplo e, não menos, das imprevisíveis situações que se configuram no dia a dia no local da pesquisa, entre pesquisador e pesquisados. (MAGNANI; TORRES, 2000, p. 51)

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37 que contemplassem o sentido de identificação e participação do público com as apresentações e a livre observação das ações que cercam essas exibições.

Na cidade de Bauru, existem outros lugares com as mesmas condições de serem analisados pelo pesquisador, pois oferecem cinema gratuito e cidadão para a comunidade. Porém, no período da pesquisa, foram eleitos para serem analisadas as apresentações que oferecessem um panorama diversificado das ações que ocorrem na cidade e os locais que efetivamente estavam em pleno desenvolvimento de suas atividades. Apresentações vinculadas a Universidades são citadas, mas não analisadas por serem entendidas como não representativas, pois dificilmente atraem público de fora da universidade.

4.2 BASE TEÓRICA

Como visto anteriormente o livro “Cinema Zero na Cidade Média” compreende

assuntos da antropologia, cinema, consumo, lazer, cidadania, identidade e contracultura. Para isso separou-se nesse capítulo as teorias entre Lazer, Identidade, Consumo e Conteúdo das Apresentações.

Mas, antes, para entender as escolhas é necessário se dizer que muitas teorias trabalhadas aqui são retiradas da Antropologia Urbana, recolhidas dos livros do Profº José Guilherme Cantor Magnani que é coordenador do Núcleo de Antropologia urbana da USP.

O jornalismo enquanto meio se apropria de algumas dessas técnicas que aliadas à apuração do comunicador podem gerar frutos interessantes e originais. Pois, assim, como para o jornalismo que não é sensacionalista, “não é o exotismo de práticas e costumes que chama a atenção da Antropologia: trata-se de experiências humanas” (MAGNANI; TORRES, 2000, p. 21). Os alvos para o recolhimento dos relatos são denominados “informantes qualificados” (p.113). Esses são descobertos por meio de

conversas, observação e indicações. Os questionários antropológicos empregados no passado só captam dados de uma ideologia “idealizada e dominante” (p.113). Por isso é optado por se envolver com o objeto estudado para compreender seus fundamentos e atuações e dentro dele conseguir eleger as fontes que são os “informantes qualificados”

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38 conhecimento prévio e empatia com seus entrevistados, que agora fazem parte do seu convívio social.

Alcançar a proximidade com as fontes e com o público é tarefa de primeira ordem para ter condições de conseguir relatos convincentes que, utilizados como reportagens, pretendem ser verossímeis enquanto pesquisa e matéria de comunicação.

O que caracteriza, portanto, o verossímil, é a semelhança. É verossímil todo discurso que está em relação de semelhança, de identificação, de reflexo com o outro. O verossímil é por juntos dois discursos diferentes, um dos quais se projeta o outro que lhe serve de espelho e se identifica com ele por cima da diferença. (Kristeva, in Barthes ET alli 1972, p.66, apud MAGNANI, 1998, p.54)

A semelhança, logo, é o atrativo que se pretende obter em qualquer produto voltado ao público. Dessa forma o livro aspira conseguir identificação com o mesmo público que vai às salas de cinema pesquisadas, com o público que sente falta de opções de cinema e cultura – e talvez esses sejam o principal alvo e com as pessoas que só veem filme dentro de suas casas. No geral é um livro calcado nas entrevistas do público de certas salas de cinema para o público do cinema como um todo.

O livro que trabalha também o cinema visto pelo prisma do lazer - mesmo nas salas estudadas que não se localizam nas periferias propriamente, mas no centro da cidade - pauta-se, sobretudo, nas observações do pesquisador/jornalista que figura como mais um participante daquela apresentação de filmes e faz questionamento de interesse das próprias pessoas. Muitas delas, posteriormente, sabendo que se trata de um projeto com outros públicos, se interessam em ter contato com o material completo e saber mais de outros lugares com filmes diferenciados. A vontade de sair de casa e assistir um filme em determinado local pode ter vários motivos, entre eles o modo que as pessoas se relacionam com o todo, desde suas palavras, o modo como agem e como se preparam para ir a determinado lugar.

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39 O Lazer

O entretenimento nas cidades é parte fundamental na vida social, pois são nos momentos de lazer que as pessoas formam vínculos umas com as outras. Para MAGNANI (1998), existem dentro da cidade as relações que se dão “em casa” e “fora de casa”. O interesse da pesquisa fica por conta de analisar como os laços entre as

pessoas se formam a partir de apresentações de cinema que se configuram como espaços “fora de casa”. Também compreende a formação de pedaços que são lugares

intermediários entre a casa e o fora de casa. Esses locais são onde se desenvolvem uma sociabilidade básica entre as pessoas, não tão profunda quanto os laços familiares e nem tão superficial quanto às impostas pela sociedade. Portanto, as apresentações de cinema gratuitas devem ser vistas como um espaço fora de casa, mas não podem ser entendidas enquanto pedaço em sua plenitude, pois são sujeitas a públicos que podem variar. No caso do Cine Extinção, o local pode ser considerado como parte de um “pedaço” por

seus frequentadores, que também são consumidores da loja Extinção. Mas antes disso, tanto o Cine Extinção, quanto os outros cinemas gratuitos pesquisados e citados, são participantes do que é definido como “Circuito”. Por serem contíguos na paisagem

urbana são compreendidos como um todo por conta de serem apresentações de cinemas gratuitas. Na cabeça do consumidor de cinemas gratuitos, eles podem formar um circuito único de cinema alternativo ao cinema tradicional.

Circuito: une estabelecimentos, espaços e equipamentos caracterizados pelo exercício de determinada prática ou oferta de determinado serviço, porém não são contíguos na paisagem urbana, sendo reconhecidos em sua totalidade apenas pelos usuários: circuito gay, circuitos de cinemas, circuito de arte, circuito esotérico [...]. (MAGNANI; TORRES, 2000, p. 45)

O exemplo da idealização, por parte do organizador, do Cine História, deixa clara a vontade de suprir a falta de cinemas educativos e com temáticas funcionais para os jovens que estudam. Dessa forma se criou essa apresentação conforme um arranjo local de produção e cooperação entre estudantes, funcionários públicos e Estado para proporcionar lazer em meio ao aprendizado.

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40 frequentam a loja e o cinema são nada mais cidadãos que se utilizam daquele espaço para se unir e encontrar habitantes com mesmos gostos. Com a finalidade de desfrutar momentos de sociabilidade em meio ao caos da rotina. O arranjo feito pelo Cine Extinção proporcionou àquele público uma oportunidade dentro da cidade única.

A cidade também preserva lugares de lazer, que seus habitantes cultivam estilos particulares de entretenimento [...] criam modos e padrões culturais diferenciados [...] arranjos que os moradores fazem nela para viver. (MAGNANI; TORRES, 2000, p.19)

Assim, é possível compreender que ao mesmo passo em que a cidade e seus moradores são nivelados culturalmente, ela cria arranjos culturais diversificados para suprir a falta de opções culturais que alguns habitantes sentem. Geralmente essas opções são contraculturais ou ligadas a eventos ligados ao Estado. Porém, os incentivos e realizações feitas pelos últimos agem de maneira pontual na sociedade e não encaram os verdadeiros problemas de aculturação das massas.

A formação das relações humanas é sujeitas ao espaço físico. De alguma forma as relações são sujeitas pela proximidade em que os locais se encontram dos cotidianos das pessoas. A facilidade de locomoção ajuda a formar essas redes de sociabilidade que se ordenam voluntaria ou involuntariamente. No entanto se existem esses cinemas gratuitos é porque algum público o anseia. Nesse caso mesmo que haja um determinismo geográfico facilitador de acesso a certos bens, cabe aos comunicadores alardearem as possibilidades de acesso à cultura e incentivo ao desenvolvimento em todos os lugares necessários. Mesmo que o lazer seja entendido como um hábito cada vez mais praticado dentro de casa, nada substitui a experiência de uma prática cultural compartilhada. Relacionar-se por identificação ou prazer pelo cinema significa ir contra ao que nossas rotinas inconscientemente nos impõem.

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41 O lazer deve ser entendido como parte principal em nossas vidas assim como o trabalho e a família. Sem a vida social o ser humano se fecha em seu mundo e não consegue perceber o quanto perde não dedicando tempo necessário ao entretenimento. Porém, quando o dedica, mesmo que seja por pura distração, não deve se subjulgar a qualquer coisa que lhe é oferecida. O que se tem a fazer é subverter a lógica do consumo para o consumo consciente que realmente atenda as necessidades da vida nas cidades e garanta que as pessoas não se isolem em seus mundos particulares.

Identidade

As entrevistas com o público e que servem como base da reportagem junto ao relato da vivência e observação jornalística, entende que as pessoas que frequentam determinados lugares possuem, além da vontade de se entreter e obter conhecimento, a necessidade de ir a lugares em que haja certa identificação da pessoa com o filme, ambiente, localização e o restante do público. De maneira inconsciente as pessoas vão a apresentações culturais que satisfaçam seus anseios por cultura.

Em última instância, a cultura pode existir sem consciência de identidade, ao passo que estratégias de identidade podem manipular e até modificar uma cultura que não terá então quase nada em comum com o que ela era anteriormente. A cultura depende em grande parte de processos inconscientes. A identidade remete a uma norma de vinculação, necessariamente consciente, baseada em opções simbólicas. (CUCHE, 1999, p. 176)

Porém a ideia de identificação das pessoas é formada quando ela se torna uma frequentadora assídua e sente a necessidade voluntária de ir a certas salas de cinema em relação a outras. É notável no decorrer do trabalho que o mesmo público se repete nas apresentações pesquisadas e a postura consciente de sua vinculação com o local. Essas mesmas pessoas têm uma postura crítica perante as salas de cinema convencionais. Mesmo as frequentando também, os entrevistados julgam as salas de cinema do shopping inferiores em experiência e conteúdo.

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42 caráter como público formador daquela apresentação, de maneira complexa pautada no sentido de identificação que cada indivíduo relatou de sua vivência no local.

Adotar uma abordagem puramente objetiva ou puramente subjetiva para abordar a questão da identidade será se colocar em um impasse. Seria raciocinar fazendo a abstração do contexto relacional. Somente este contexto poderia explicar porque, por exemplo, em dado momentos tal identidade é afirmada ou, ao contrário, reprimida. (CUCHE, 1999, p. 181)

No entanto, é necessário esclarecer, que não é oportuno atribuir ao público uma identidade. Os frequentadores enquanto conjuntos humanos contribuem para o perfil da apresentação, porém é o sentido de identificação pessoal que é o alvo dessas entrevistas e não o de identidade. Entender o porquê esses indivíduos recorrem às apresentações de filmes fora de salas de cinemas e optam por apresentações feitas em telas retráteis, dentro de lojas, acomodadas em bancos, no chão ou cadeiras de praia, é o alvo das entrevistas. O conteúdo do filme, muitas vezes, é primordial para aquele público, mas entende-se que ao assistir o filme não é só apenas a sua reprodução que conta. Toda a experiência envolvida, desde ir a pé para ver o filme e até a possibilidade de debate ou aprendizado com o filme e a proximidade com os organizadores (além de não gastar nada para isso) contam valores inestimáveis que comparados aos altos custos, filas e conteúdo inferior de filmes, agregam pouco ou servem somente como alvo de uma lógica de consumo capitalista.

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43 Se a identidade é uma construção social e não um dado, se ela é do âmbito da representação, isto não significa que ela seja uma ilusão que dependeria da subjetividade dos agentes sociais. A construção da identidade se faz no interior de contextos sociais que determinam a posição dos agentes e por isso mesmo orientam suas representações e suas escolhas. Além disso, a construção da identidade não é uma ilusão, pois é dotada de eficácia social, produzindo efeitos sociais reais. (CUCHE, 1999, p. 182)

Os “efeitos sociais” mesmo que em escala reduzida, são determinados pela

presença de quem assiste aos filmes. Para esses lugares não é necessário grandes quantidades de espectadores, nem mesmo a preocupação qualitativa do que é passado, pois para a manutenção dos locais é apenas exigido um público fiel e dotado de desejo de participação e envolvimento com a apresentação.

O consumo cidadão

Para o antropólogo Nestor García Canclini, nós somos consumidores do século XXI e cidadãos do século XVIII. O título de um capítulo encontrado no seu livro “Consumidores e Cidadãos” fornecem fundamentos para criticar a evolução das

sociedades enquanto estruturas pautadas na economia frente às demandas sociais do Estado. O autor propõe uma rearticulação do público com o privado, pois as sociedades atualmente são multifacetadas e oferecem diversas demandas sociais, por exemplo: cultural, ecológica, racial etc.

Ao repensar a cidadania em conexão com o consumo e como estratégia política, procuro um marco conceitual em que possam ser consideradas conjuntamente as atividades do consumo cultural que configuram uma noção de cidadania, e transcender sua abordagem atomizada com que sua análise é agora renovada. (CANCLINI, 2008, p.37)

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44 associações de base, mas a participação cidadã não acompanha o crescimento da massa média de pessoas.

No caso do cinema e seu potencial de “mobilização de massas”, como diria

BENJAMIN (1990), é dever dos filmes enquanto obra de arte e entretenimento, dirigir-se ao público e despertar valores, contrapor ideias, agregar conhecimento, ou dirigir-seja, cumprir seu papel social. A alta arte, mesmo que dentro de museus, representa historicamente dados de uma época. Um espetáculo sinfônico cumpre sua tarefa de oferecer entretenimento e cultura ao representar pelas óperas, canções e musicalidade a história e a cultura de um país. Ambos os exemplos possuem vertentes populares e de valor elevado, é necessário saber encontrar essas ofertas. Então, por que os filmes, mesmo que vistos em cineclubes, em casa ou em cinemas não devem cumprir sua função de oferecer cidadania? Contraposta às outras artes, pode ser entendida até como mais acessível, dessa forma sua utilização, mesmo que em países como Brasil, pode ter aspectos funcionais de cidadania.

Somos subdesenvolvidos na produção endógena para os meios eletrônicos, mas não para o consumo. Por que este acesso simultâneo aos bens materiais e simbólicos não vem acompanhado de um exercício global e pleno da cidadania? (CANCLINI, 2008, p.41)

O consumo cidadão no geral corresponderia a uma harmonia em diversos níveis entre sociedade, meio ambiente e cultura. Mesmo não possuindo materiais para desenvolver o consumo nas bases necessárias para essa “harmonia” as pessoas

consomem os que lhe é oferecido. Pensar o consumo é desenvolver e produzi-lo, mesmo que utilizando suas bases, voltados aos interesses sociais.

Dentro das cidades as identidades são fragmentas pelo consumo e disso decorre um “nivelamento cultural”, CANCLINI (2008), que torna as identidades fragmentadas

sem núcleo na família, na cidade ou nação.

Ao mesmo tempo em que nas grandes cidades os centros históricos perdem peso, as populações se disseminam: os jovens encontram nas cidades, em vez de núcleos organizadores, margens que se inventam para si. (CANCLINI, 2008, p.48)

Referências

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