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Prevalência de excesso de peso nos imigrantes brasileiros e africanos residentes em Portugal

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Comocitaresteartigo:GoulãoB,etal.PrevalênciadeexcessodepesonosimigrantesbrasileiroseafricanosresidentesemPortugal.RevPort SaúdePública.2015.http://dx.doi.org/10.1016/j.rpsp.2014.06.002

ARTICLE IN PRESS

RPSP-67; No.ofPages9

rev port saúde pública.2015;xxx(xx):xxx–xxx

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Original

article

Prevalência

de

excesso

de

peso

nos

imigrantes

brasileiros

e

africanos

residentes

em

Portugal

Beatriz

Goulão

a,∗

,

Osvaldo

Santos

a

,

Violeta

Alarcão

a

,

Rui

Portugal

a

,

Mário

Carreira

a

e

Isabel

do

Carmo

b

aInstitutodeMedicinaPreventivaeSaúdePúblicadaFaculdadedeMedicinadaUniversidadedeLisboa,Lisboa,Portugal bFaculdadedeMedicinadaUniversidadedeLisboa,Lisboa,Portugal

informação

sobre

o

artigo

Historialdoartigo: Recebidoa31dejaneirode2014 Aceitea3dejunhode2014 On-lineaxxx Palavras-chave: Obesidade Imigrantes Saúdedasminorias Portugal

r

e

s

u

m

o

Avaliou-se,pelaprimeiravez,aprevalênciade excessodepesoemimigrantes brasilei-roseafricanosemPortugal.Foramselecionadosimigrantesadultosdeprimeiragerac¸ão poramostragemaleatóriaespacial.Osdadosforamrecolhidosem2007.Aamostraincluiu 1.777imigrantes(adesão:97,9%)(37,8%brasileiros;53,5%mulheres).Apré-obesidadenos brasileirosfoide28,0%nasmulherese30,9%noshomens;emafricanos32,8e36,0%, respeti-vamente.Naobesidadefoi7,1e7,8%(brasileiros)e17,8e9,1%(africanos).Oíndicedemassa corporalvariacom:idade,estadocivil,anosdesdemigrac¸ãoenaturalidade.Importa moni-torizarosindicadoresdesaúdedestegrupodemodoadelinearestratégiasdeintervenc¸ão. ©2014EscolaNacionaldeSaúdePública.PublicadoporElsevierEspaña,S.L.U.Todosos direitosreservados.

Overweight

prevalence

in

Brazilian

and

African

immigrants

living

in

Portugal

Keywords: Obesity Immigrants Minorities’health Portugal

a

b

s

t

r

a

c

t

The aim of thisstudy wasto evaluate overweight rates among African and Brazilian immigrantslivinginPortugal.Participantswerefirstgenerationimmigrant’sadults selec-tedtroughspatial randomsampling. Datawascollectedin 2007.The sampleincluded 1777immigrants(adherencerate:97.9%)(37.8%Brazilian;53.5%female).Pre-obesityrates were13.0%and30.9%(Brazilian)and32.8%and36.0%(African)amongfemaleandmale, respectively.Obesityrates were7.1%and7.8%(Brazilian)and17.8%and9.1%(African), respectively.Bodymassindexvarieswithage,maritalstatus,timeofresidenceinPortugal andnativity. It’sessentialtofollowhealth indicatorsinimmigrants,inorder todesign specificpublichealthstrategies.

©2014EscolaNacionaldeSaúdePública.PublishedbyElsevierEspaña,S.L.U.Allrights reserved.

Autorparacorrespondência.

Correioeletrónico:beatriz.goulao@gmail.com(B.Goulão). http://dx.doi.org/10.1016/j.rpsp.2014.06.002

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Comocitaresteartigo:GoulãoB,etal.PrevalênciadeexcessodepesonosimigrantesbrasileiroseafricanosresidentesemPortugal.RevPort

Introduc¸ão

AsaúdedosimigrantesemPortugal temsidoalvo de pou-cosestudosepidemiológicos1,havendo escassainformac¸ão

e conhecimento relativamente ao estado de saúde nestas populac¸õeseseusdeterminantes.Asdesigualdades socioe-conómicasestãoassociadasacontextosdepobreza,exclusão socialea situac¸õeslaborais precárias,muitas vezes carac-terísticasdaspopulac¸õesmigrantes,quepodemtraduzir-se emreduzidasoportunidadesdeacessoàeducac¸ão,utilizac¸ão dos servic¸os sociais e de saúde. As barreiras culturais e linguísticas, relatadas pelos profissionais de saúde, são mais um obstáculo à utilizac¸ão dos cuidados de saúde pelosimigrantes2.Estasdesigualdadesdeterminam

diferen-tes grausde exposic¸ãoa fatoresderisco, quelevama um aumentodavulnerabilidade,comconsequênciasaonívelda saúdedestaspopulac¸ões3,4.

Relativamente à obesidade e doenc¸as cardiovasculares, algunsestudoscomparativosentrepopulac¸õesautóctonese populac¸ões imigrantes apontampara que asúltimas apre-sentemmaiorestaxasdeprevalênciadestasdoenc¸as3,5.Isto

nemsempreaconteceetambémtemsidorelatadooefeitodo imigrantesaudável:apopulac¸ãoimigrantechegaaopaísde acolhimentocommelhoresníveisdesaúdedoqueos nati-vosdopaísacolhedor6.Existemváriaspossíveisexplicac¸ões

paraestefenómeno,incluindorastreiosdesaúdeporpartedos paísesdeacolhimento,umcomportamentosaudávelprévio à imigrac¸ão, seguido da adoc¸ão sistemática de comporta-mentos menossaudáveis no novopaís e umaautoselec¸ão dos imigrantes, que tendem a ser mais ricos e saudáveis doqueosrestantesnativosnãomigrantes7.Estefenómeno

é relatado em todos os tipos de imigrantes que imigram parapaísescomoos EstadosUnidosda América,Canadá e Austrália – emboraa grandemaioria venha de países em vias de desenvolvimento, onde os níveis de mortalidade e morbilidadesãosuperioresàqueles encontradosnospaíses desenvolvidos.Nocasoparticulardoexcessodepeso, tem--severificado umatendência paramenorprevalênciadeste fatornosimigrantesavivernosEstadosUnidosdaAmérica5,

Canadá8,Austrália9,Itália10,Israel11,Holanda12eSuécia13em

comparac¸ãocomosnativosdosmesmospaíses.Nãosetrata deumfenómenolinearevariaporpaísdeorigemdos imi-grantes,assimcomoporpaísdeacolhimentodosmesmos14. Subjacenteaumaumentonaprevalênciadeexcessodepeso comotempoapósamigrac¸ão,estáoconceitodeaculturac¸ão e aculturac¸ão alimentar. A aculturac¸ão pode ser definida comoo processopelo qualumgrupoétnicoadota padrões (por exemplo, crenc¸as, linguagem, alimentac¸ão) do grupo deacolhimento/dominante.Podedizer-sequeoconceitode aculturac¸ãoenvolvemudanc¸asnaatitudeecomportamento dosimigrantes15.Aculturac¸ãoalimentarrefere-seaoprocesso

queocorrequandomembrosdeumgrupominoritárioadotam ospadrõesalimentares dopaísde acolhimento16.Diversos

fatoresinfluenciamaaculturac¸ãoalimentar,nomeadamente adisponibilidadealimentar,orendimento,oagregado fami-liar,ascrenc¸asalimentaresereligiosaseagerac¸ãoeidadeno momentodemigrac¸ão.

Apopulac¸ãoestrangeiraaresidir,deformalegal,em Por-tugaltemvindoaaumentardesde2003(249.995imigrantes)17

atéaosdadosmaisrecentes(relativosa2011)publicadospelo Servic¸odeEstrangeiroseFronteiras(436.822)18.

Agrupandoosimigrantesporpaísesdeorigem,sãoos imi-grantes do Brasil(25,5%) e dosPaíses Africanos de Língua OficialPortuguesa(PALOP)(24,4%)osqueapresentammaior expressão demográfica emPortugal17. Este agrupamento é

frequentemente usado emliteraturaacerca dosimigrantes aviveremPortugal19. Existemdadosrelativamenteàs

pre-valências de excessode peso nos países deorigem destes imigrantes, emboraamostras representativasanível nacio-nalsejammaisescassas eestratificac¸õesporestratosocial também.Noentanto,sabe-sequetendencialmente–eao con-tráriodaquiloqueseverificanospaísesdesenvolvidos–as pessoascommaiorgraudeeducac¸ãoe/ourendimento apre-sentam uma maiorprevalência de excessode peso, assim como aquelas quevivememmeio urbanoemcomparac¸ão com omeio rural.Istoverificou-se emMoc¸ambique20 eno

Brasil21.

Não existem dados prévios acerca da prevalência de excessodepesonosimigrantesbrasileiroseafricanosaviver em Portugal.O estudoaquidescrito representaum contri-buto inédito para o conhecimento destaprevalência entre imigrantescommaiorrepresentatividadeemPortugal, brasi-leiroseafricanos,comparandoamesmacomadapopulac¸ão portuguesa22–24.

Métodos

O estudo utilizou dados recolhidos no âmbito do Projeto de Acesso aos Cuidados de Saúde e Nível de Saúde das Comunidades Imigrantes Africana eBrasileira em Portugal (SAIMI), realizado pelo Instituto de Medicina Preventiva e SaúdePública,daFaculdadedeMedicina,daUniversidadede Lisboa.Esteestudoseguiuumdesenhoobservacional seccio-naleteveporobjetivoprincipalavaliaroacessoaoscuidados desaúdedosimigrantesemPortugal.Osdadosforam recolhi-dosem2007.

Apartirdosdistritoscommaiorproporc¸ãodeimigrantes (LisboaeSetúbal,nosquaishabitam43,1e10,3%dototaldos imigrantesemPortugal,respetivamente18),foram

seleciona-dosos13concelhose18freguesiascommaiorproporc¸ãode imigrantes (ouseja,osconcelhosefreguesias onde habita-vammaisimigrantes,comparativamenteaototaldodistrito, deacordocomosCensos2001).Emcadaumdestes conce-lhosfoifeitaumaamostragemaleatóriasimplesespacialcom adefinic¸ãodeclusterscomdimensão50×50m2,atravésdo softwareArcMap25.Apartirdos20clustersassimselecionados,

foramconstruídosmapasparaguiarosentrevistadores, trei-nadoseemequipasprovenientesdacomunidadeemcausa ou mistas,que se deslocaram ao terreno. Em cada cluster

osentrevistadoresincluíramtodasashabitac¸õese,emcada habitac¸ão, todos os sujeitos elegíveis. Este método permi-tiuentrevistarimigrantesemsituac¸ãoirregular.Verificou-se uma taxa departicipac¸ão de 97,9% (número de entrevista-dospornúmerodecontactados).Estemétododeamostragem permitiuenglobar98,2e90,6%dosimigrantesresidentesno distrito de Lisboa eSetúbal, respetivamente, oque corres-pondesensivelmenteametadedosimigrantesaresidirem Portugal.

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Comocitaresteartigo:GoulãoB,etal.PrevalênciadeexcessodepesonosimigrantesbrasileiroseafricanosresidentesemPortugal.RevPort SaúdePública.2015.http://dx.doi.org/10.1016/j.rpsp.2014.06.002

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Nopresenteestudo,foramincluídosossujeitoscomidades entre18-64anos,imigrantesde1.agerac¸ão,ouseja,naturais dosPALOPoudoBrasil.Alémdisso,foicritériodeexclusãoa nãoexistênciadedadosdepesoe/oualturaquepermitissem posteriormenteefetuarocalculodoíndicedemassacorporal (IMC).Atendendoaestescritérios,foramincluídosnoestudo 1.980indivíduos.Destes,244forameliminadosporteremum valoromissoemqualquerdasvariáveisusadasparaaanálise. Maisprecisamente,6,8%daamostrainicialtinhaavariável escolaridadeomissa,1,2%tinhaavariávelrefeic¸ões intermé-diasomissa,0,9%tinhaavariávelrefeic¸õesprincipaisomissa, 0,3%tinha avariável estadocivil omissa. Realizou-seuma análisede dadosomissosexploratória etestaram-se técni-casdeimputac¸ãosimplesemúltipla,relativamenteàvariável commaiorpercentagemdevaloresomissos–aescolaridade –,verificando-sequeestaomissãonãoalteraosresultadosda regressãofinal.

Arecolhadedadosfoifeitaporquestionárioadaptadodo 4.◦InquéritoNacionaldeSaúde(INS)(2005/06)aplicado,em contextodeentrevistafaceaface,nodomicíliodos participan-tes.Antesdasuaaplicac¸ãofoirealizadoumestudopilotocom oobjetivodetestaroquestionário,bemcomoasestratégiasde amostragem.Paraesseefeito,oquestionáriofoiadministrado a32participantes.Osdadosrecolhidosforamvalidados atra-vésdareinquiric¸ão,portelefone,aumasubamostraaleatória decercade5%dosinquiridos,paracontrolodequalidade.

OIMCfoicalculadoapartirdafórmuladeQuetelete recodi-ficadodeacordocomoscritériosestipuladospelaOrganizac¸ão MundialdeSaúde(OMS):baixopeso,eutrofia,pré-obesidade (PO)eobesidade26.

Osdadossociodemográficosrecolhidoseutilizadosno pre-senteestudo foram a idade (categorizada em18-24, 25-34, 35-44,45-54,55-64anos),aescolaridade(categorizadaem 0-5, 6-12e superior a 12 anos de sucesso escolar), o estado civil (categorizada em solteiro, casado ou outro [viúvo ou divorciado])eo númerodeanosde residênciaemPortugal (categorizadaem0-4anos,5-9,10-14,15oumaisanos).

Os sujeitos foram questionados quanto ao número de refeic¸ões consumidas, que se dividiram em 2 categorias: as principais e as intermédias. No caso das primeiras a informac¸ãofoi obtidada seguinteforma:«Por refeic¸ões prin-cipais entende-se o pequeno-almoc¸o, almoc¸o e jantar. Quantas refeic¸ões principais é que toma habitualmente por dia?». No casodas refeic¸ões intermédiasa questãofoi:«O/asenhor/a comehabitualmenteforadasrefeic¸õesprincipais?Sesim,quantas vezes?».Avariávelnúmeroderefeic¸õesprincipaisfoi recodi-ficadaem2categorias:menosde3refeic¸õese3refeic¸ões.A variávelnúmeroderefeic¸õesintermédiasfoirecodificadaem 4categorias:0,1,2e3oumais.

Paraotratamentoestatísticodosdadosforamusadasas aplicac¸õesinformáticasRStudio2.14eMicrosoftOfficeExcel 2007.

Para comparac¸ão de proporc¸ões foi utilizado o teste Z. Paracomparac¸ãode médiasentreamostras independentes usou-seo testeT (bilateral).Para testar aassociac¸ão entre 2variáveis categóricas utilizou-se oteste doQui-quadrado ouotestedeFisher,noscasosqueassimoexigissem. Sabe--se queo IMC nãotem umadistribuic¸ãonormal,mas sim umadistribuic¸ãoassimétrica27.Poressemotivo,foicalculada

umaregressão,atravésdeummodelolineargeneralizadocuja

variávelresposta(oIMC)temdistribuic¸ãogama,e obtiveram--seoscoeficientesderegressão(␤)ajustadosparaasvariáveis sexo,idade,escolaridade,estadocivilenaturalidade.Ovalor-p (p)usadocomoreferênciaparaasignificânciadasdiferenc¸as estatísticasfoide0,05.

Esteestudofoiconduzido deacordocomasorientac¸ões encontradasnaDeclarac¸ãodeHelsinkieseguiuorientac¸õesde boaspráticasnainvestigac¸ãoclínica.Oconsentimentoverbal informadofoiobtido.Optou-sepornãousaroconsentimento escritoparagarantiraparticipac¸ãodeimigrantesemsituac¸ão irregularquesepudessemsentirconstrangidoscomo forne-cimentodaassinatura.

Resultados

Participaram neste estudo 1736 indivíduos, representando 6paísesdeorigemdiferentes:Brasil696(40,1%);CaboVerde (CV) 360 (20,7%);Angola 330(19,0%); Guiné-Bissau (GB)181 (10,4%);SãoToméePríncipe(STP)142(8,2%);Moc¸ambique27 (1,6%). Aotodo,osimigrantesPALOP representam62,3% da amostra.

Verificaram-sediferenc¸assignificativasentreamostrasde imigrantes, por origem (brasileiros versus africanos). Cerca demetadedosimigrantesbrasileiroseramdosexofeminino (50,3%) e entre imigrantes africanos 55,6% eram mulheres (p=0,031).A idademédia dosimigrantes brasileirosera de 32,4±8,9 anos e dos imigrantes africanos 36,1±11,3 anos (p<0,001).Nocasodosimigrantesbrasileiros,aescolaridade médiaerade 10,1±3,1anos(superioràdosafricanos,com 8,6±3,7anos;p<0,001).Relativamenteàocupac¸ão profissio-nal,61,9%dosimigrantesafricanosexerciamumaprofissão mesmo não remunerada e 12,2% estavam desempregados. No caso dos imigrantes brasileiros, 83,6% exerciam uma profissãoe9,7%estavamdesempregados(diferenc¸as estatis-ticamentesignificativas,p<0,001ep=0,04,respetivamente). Dosimigrantesafricanos,24,8%estavamemsituac¸ãodevisto temporárioe5,5%emsituac¸ãoirregular.Dosimigrantes brasi-leiros,16,8%estavamemsituac¸ãodevistotemporárioe31,4% emsituac¸ãoirregular(diferenc¸asestatisticamente significati-vas,p<0,001paraambos).Osbrasileirosviviam,emmédia, há menos anos em Portugal do que os africanos (4,0±3,0 e13,1±8,1anos,respetivamente;p<0,001).Relativamenteà situac¸ãofamiliar,64,1%dosimigrantesbrasileiroseram casa-dos, enquanto apenas50,2% dosafricanosseencontravam nessasituac¸ão(p<0,001).

OsimigrantesdeorigembrasileiraapresentaramumIMC médio de 24,3±3,9kg/m2, enquanto os africanos tinham 25,5±4,7kg/m2(p<0,001).Apercentagemdebrasileirosque afirmaramfazermenosde3refeic¸õesprincipaispordiafoi superior àdos africanos,com 31,0 versus 24,1%(p=0,002). Dosimigrantesbrasileiros,33,9%afirmounãofazernenhum

snackaolongododia,valorsuperioraoencontradoparaos imigrantesafricanos(26,5%)(p=0,001).

Excesso

de

peso

nos

imigrantes

A tabela 1 apresenta a prevalência de PO e a prevalência deobesidade nosimigrantes,porfaixaetária,escolaridade,

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este artigo: Goulão B, et al. Pr e v alência de e xcesso de peso nos imigr antes br asileir os e africanos residentes em P ortug al. Re v P ort 2015. http://dx.doi.or g/10.1016/j.rpsp .2014.06.002

AR

TICLE IN PRESS

. of Pa g e s 9 r e v p o r t s a ú d e p ú b l i c a . 2 0 1 5; x x x(x x) :xxx–xxx

Tabela1–Prevalência(%)depré-obesidadeeobesidade,porfaixaetária,escolaridade,estadocivileanosderesidênciaemPortugal,nototaleporsexo

Total(n=1.736),% pa Homens(n=807) pa Mulheres(n=929) pa

POb Obc POb Obc POb Obc Faixaetária 18-24 15,3 2,6 17,2 1,3 13,7 3,7 25-34 28,9 9,0 29,3 8,0 28,6 10,0 35-44 39,1 13,7 <0,001 39,9 8,9 <0,001 38,5 17,4 <0,001 45-54 46,8 18,3 49,7 11,9 43,7 25,2 55-64 43,5 30,4 45,2 32,3 42,1 28,9 Escolaridade 0-5 35,7 16,7 30,8 13,6 39,9 19,3 6-12 31,9 9,1 <0,001 34,7 6,6 0,517 29,3 11,3 <0,001 >12 28,1 12,6 35,4 8,5 23,1 15,4

Estadocivil Solteiro 24,8 7,7 24,1 5,1 25,5 10,4

Casado 36,7 13,2 <0,001 40,5 10,7 <0,001 33,5 15,3 <0,001 Outro 40,2 17,0 42,9 14,3 39,0 18,2 Anosderesidência emPortugal 0-4 26,5 6,5 29,3 3,5 23,9 9,3 5-9 30,2 9,1 <0,001 31,2 8,8 <0,001 29,3 9,3 <0,001 10-14 38,1 13,3 42,2 9,6 34,7 16,3 ≥15 40,4 19,7 39,8 14,3 40,9 24,3 Total(%,IC95) 32,5(30,4-34,8) 11,4(10,0-13,0) 33,8(30,6-37,2) 8,6(6,8-10,7) 31,0(28,1-34,1) 13,8(11,8-16,3)

IC:intervalodeconfianc¸a.

atestequi-quadrado. bPO:pré-obesidade. cOb:obesidade.

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Comocitaresteartigo:GoulãoB,etal.PrevalênciadeexcessodepesonosimigrantesbrasileiroseafricanosresidentesemPortugal.RevPort SaúdePública.2015.http://dx.doi.org/10.1016/j.rpsp.2014.06.002

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rev portsaúde pública.2015;xxx(xx):xxx–xxx

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Tabela2–Prevalência(%)depré-obesidadeeobesidadepornúmeroderefeic¸õespordia,nototaleporsexo

Total(n=1.736) pa Homens(n=807) pa Mulheres(n=929) pa

POb Obc POb Obc POb Obc

N.◦derefeic¸õesprincipais Menosde3 32,4 12,8 0,480 38,1 10,7 0,031 27,6 14,6 0,335

3oumais 32,4 10,8 32,3 7,7 32,5 13,5 N.◦refeic¸õesintermédias 0 35,1 13,0 37,9 10,7 32,2 15,3 1 34,4 12,7 <0,001 34,0 8,4 0,007 34,7 16,1 0,001 2 30,7 8,0 33,7 7,0 28,1 8,9 ≥3 22,6 9,1 21,7 5,4 23,3 12,1 atestequi-quadrado. bPO:pré-obesidade. cOb:obesidade.

estado civil e anos de residência em Portugal. Os dados

apresentam-separao totalda amostra eestratificadospor

sexo.Nofinaldatabela,podemobservar-seasprevalências totaisdePOedeobesidadeencontradasparaosimigrantes brasileiroseafricanos.

AsprevalênciasdePOedeobesidadeaumentamcom a

faixaetária.Noquedizrespeitoàclassedeobesidade,aúltima categoriadamesma(55-64anos)apresentaamaior prevalên-cia,emambosossexos.Afaixaetáriade45-54anosapresenta amaiorprevalênciadePO,emambosossexos.Afaixa etá-riaestáfortementeassociadaaoexcessodepesotantonos homenscomonasmulheres(p<0,001)(tabela1).

Osimigrantescommenosde6anosdeescolaridade apre-sentammaiorprevalênciadePOeobesidade.Estratificando porsexo,osresultadossãodiferentes.Oshomenscom esco-laridadesuperiora12anosapresentammaiorprevalênciade PO,masaprevalênciadeobesidademaiselevadaverifica-se naquelescom menosde 6anosdeescolaridade(0-5anos). Nocaso dasmulheres,sãoasquetêm menorescolaridade (0-5anos)queapresentamosvaloresmaiselevadosdePOe deobesidade.Amenorescolaridadeencontra-seassociadaao excessodepeso naamostratotal enasmulheres imigran-tes (p<0,001).Nos homens,esta associac¸ãonãose verifica (tabela1).Verifica-se maiorpercentagemde POede obesi-dadenoscasadosenosimigrantescomoutroestadocivil,em comparac¸ãocom ossolteiros(querparahomensquerpara mulheres).Estavariávelestáassociada,deforma estatistica-mentesignificativa,aoexcessode pesonos2sexos(tabela 1).

Asmulheresquevivemhá15anosoumaisemPortugaltêm maiorprevalênciadePOedeobesidade.Omesmoseverifica paraoshomens,noquedizrespeitoàprevalênciade obesi-dade,masnãodePO(queésuperiornaquelesquevivemhá 10-14anosnopaís).Verifica-seaindaoaumento(nãolinear) daprevalênciadePOeobesidadecomoaumentodacategoria deanosderesidênciaemPortugal.Esteaumentoé particular-menteacentuadonasimigrantes,massignificativoemambos oscasos(tabela1).

A tabela 2 apresenta informac¸ão acerca da prevalência deexcessopesoporconsumoalimentar,maisprecisamente, númeroderefeic¸õesprincipaiseintermédiasconsumidas.O númeroderefeic¸õesprincipaisconsumidasnãoestá associ-adoaoexcessodepesonototaldaamostraenosexofeminino. Noentanto,nosexomasculinoencontra-seumaassociac¸ão significativaentrevariáveis(p=0,031).Nocasodonúmerode

refeic¸ões intermédias, aassociac¸ãocom oexcessode peso émaisforteeunânime–todososgruposapresentamuma associac¸ãosignificativaentreas2variáveis.Istopoderárefletir asmenoresprevalênciasdePOeobesidadequandooconsumo derefeic¸õesintermédiasésuperior,ouseja,de2refeic¸ões(no casodaobesidadenototaldaamostraenasmulheres)ou3 oumais(nocasodaPOnototal,homensemulherese obesi-dadenoshomens).Poroutrolado,asmaioresprevalênciasde POeobesidadeencontram-senaquelesquenãoconsomem refeic¸õesintermédias(nototaldaamostraenoshomens)ou queconsomemumarefeic¸ãointermédiadiária(nas mulhe-res).

Excesso

de

peso

por

origem

Ográficodafigura1apresentaaprevalênciadePOede obesi-dadeporsexoeorigemdosimigrantes.

Podeconstatar-seumapercentagemmaiselevadadePO nos homensafricanos comparativamentecomasmulheres damesmaorigem,masverifica-seocontrárioparaa catego-riadaobesidade(PO:p=0,305;obesidade:p<0,001).Nocaso dosimigrantesbrasileiros,aspercentagensdePOeobesidade sãosemelhantesnoshomensemulheres(PO:p=0,383; obesi-dade:p=0,615).Nogeral,asmulheresbrasileirasapresentam menorprevalênciadePOeobesidadedoqueasas mulhe-resafricanas(PO:p=0,143;obesidade:p<0,001).Noshomens encontra-seomesmofenómeno,masasdiferenc¸assão mar-ginais(PO:p=0,151;obesidade:p=0,596).

40,00% 35,00% 30,00% 25,00% 20,00% 15,00% 10,00% 5,00% 0,00% Homens 36,00% 9,10% 33,00% 17,80% 30,90% 28,00% 7,80% 7,10% Mulheres Africanos Homens Mulheres Brasileiros Pré-obesidade Obesidade

Figura1–Prevalênciadepré-obesidadeeobesidade estratificadaporsexoeorigem.

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Comocitaresteartigo:GoulãoB,etal.PrevalênciadeexcessodepesonosimigrantesbrasileiroseafricanosresidentesemPortugal.RevPort

Tabela3–Prevalência(%)depré-obesidadeeobesidade,estratificadaporsexo,nospaísesdeorigemdosimigrantes daamostraenosimigrantesresidentesemPortugal

POa Obesidade

Homens Mulheres Homens Mulheres

Imigrantesangolanos 37,4 24,6 6,8 16,4

Populac¸ãoresidenteemAngolab 23,8 37,2 2,4 8,7

Imigrantescabo-verdianos 31,7 34,7 11,6 16,3

Populac¸ãoresidenteemCaboVerdec 24,8 28,0 6,5 14,6

Imigrantesguineenses 37,3 34,7 4,8 17,3

Populac¸ãoresidenteemGuiné-Bissauc 9,6 17,0 1,8 8,8

Imigrantesmoc¸ambicanos 33,3 8,3 40,0 33,3

Populac¸ãoresidenteemMoc¸ambiquec 10,3 16,3 3,2 10,8

Imigrantessão-tomenses 43,6 42,5 14,5 21,8

Populac¸ãoresidenteemSãoToméc 21,4 25,1 6,6 16,5

Imigrantesbrasileiros 30,9 28,0 7,8 7,1

Populac¸ãoresidenteemBrasild 50,1 48,0 12,5 16,9

a:PO:pré-obesidade.

b:DadospublicadospelaOMS38,comvaloresprojetadospara2010,equeincluemosnativosdospaísesemcausa,comidadeigualousuperior a15anos.

c:DadospublicadospelaOMSatravésdoestudoSTEPwiseapproachtosurveillance39(STEPS)queincluemdadosantropométricos,atravésde medic¸ão,dosnativoscomidadesentreos15eos64anos.

d:DadospublicadospeloInstitutoBrasileirodeGeografiaeEstatisticaem2010equeincluemosnativosbrasileiroscomidadesiguaisou

superioresa20anos.

Estratificandoestesresultadospornaturalidade(tabela3), podeverificar-sequeoshomenssão-tomensestêmmaior pre-valênciadePOeosmoc¸ambicanostêmmaiorprevalênciade obesidade,enquantooshomensbrasileirostêmmenor preva-lênciadePOeosguineensesdeobesidade.Relativamenteàs mulheres,sãomaisumavezassão-tomensesquemapresenta maiorprevalênciade POeasmoc¸ambicanasdeobesidade. AprevalênciamaisbaixadePOéencontradanasimigrantes moc¸ambicanasedeobesidadenasimigrantesbrasileiras.

Ajustandoummodeloderegressãolinear,conclui-seque aidade,os anosderesidência nopaís,anaturalidade são--tomenseeoestadocivilsãofatoresassociadosaummaior IMC.TodasascategoriasdefaixaetáriaapresentamumIMC significativamentesuperioràcategoriareferência18-24anos (␤25-34anos=1,62, p<0,001; ␤35-44 anos=2,50, p<0,001; ␤45-54 anos=2,88,p<0,001;␤55-64 anos=4,37,p<0,001).Sercasadoestá associadoaumIMCmédiosuperior,comparativamentecom sersolteiro(categoriadereferência)(␤=0,55,p=0,019). Aque-lesquevivemhá10-14anos(␤=1,15,p=0,004)ouhá15anos oumaisnopaís (␤=1,48,p<0,001)têmemmédiaumIMC superioraosquevivememPortugalhámenosde5anos (cate-goriadereferência).Osimigrantessão-tomensesapresentam umIMCmédiosuperioraosimigrantesbrasileiros(categoria dereferência,␤=1,21,p=0,004).Osexo(p=0,28)ea escolari-dade(p6-12 anos=0,40ep> 12 anos=0,48)nãoestãoassociados aoIMCdeformaestatisticamentesignificativa,nestemodelo ajustadoparaaidade,naturalidade,escolaridade,sexoeanos deresidênciaemPortugal.OR2obtidofoi15,2%.

Discussão

A prevalênciade excesso de peso entre imigrantes a resi-diremPortugaltemsidomuitopoucoestudada.Opresente estudo procurou caracterizar esta prevalência, num grupo

populacionalqueresidenazonademaiordensidadede imi-grantesequecorrespondea49,9%da populac¸ãoimigrante estimadaparaPortugalàdatadarecolhadosdados18.Oestudo

seguiuumdesenhoobservacionalseccionalcomamostragem aleatóriasimplesespacial.Nototal,foianalisadainformac¸ão relativa a 1736adultos imigrantes, através de questionário administradoporentrevistaface aface.A amostrade imi-grantesusada érepresentativadosimigrantesbrasileirose africanosaviveremLisboaeSetúbal.

Anaturezaurbanadaamostraimplicaqueosimigrantes seencontremaglomeradosporbairrosespecíficos–fenómeno típicodestetipodeamostraemcidades–,oquetornaa amos-tramaisrealista,masoprocessodeaculturac¸ãomaislentoe difícil,facilitandoamanutenc¸ãodoshábitose comportamen-tosdopaísdeorigem.

Osdadossobrepesoealturaforamrecolhidospor autor-relato, tratando-se deum limitemetodológico.Aliteratura aponta paraumatendênciade subestimac¸ãodosdadosde pesoesobrestimac¸ãodaaltura,fatoverificadoemPortugal24e

noBrasil28.Noentanto,importasalientarqueváriosestudos

queanalisamasdiferenc¸asdoautorrelatoentreimigrantes nos EUA referem que as imigrantes subestimam menos o peso, em comparac¸ãocom as nativas; os homens subesti-mamoseu pesodamesmaforma29,30.Esta tendênciapara subestimac¸ãodepesoesobrestimac¸ãodaalturapode resul-tarnumasubestimac¸ãodaprevalênciadeexcessodepeso.No entanto,emtermoscomparativoscomapopulac¸ãoresidente emPortugalestaquestãonãoselevanta,jáqueosdados usa-dosparaesteefeitoforamtambémrecolhidosporautorrelato. A prevalênciade obesidade na populac¸ão adulta portu-guesa não foi alvo de muitos estudos de âmbito nacional. Para efeitos comparativos,importa ter emconta2estudos mais recentes: o estudo de Do Carmo et al.22 (2003-05; a

partirdoqualépossívelaferirasprevalênciasdePOe obesi-dadeautorrelatadas,tendoemconsiderac¸ãoapublicac¸ãodo

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Comocitaresteartigo:GoulãoB,etal.PrevalênciadeexcessodepesonosimigrantesbrasileiroseafricanosresidentesemPortugal.RevPort SaúdePública.2015.http://dx.doi.org/10.1016/j.rpsp.2014.06.002

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mesmogrupodeinvestigac¸ãoporSantosetal.24)eoestudodo últimoINS23(2005-06).AprevalênciadePOnonossoestudo

foide32,5%.Estapercentagemésignificativamentesuperior (p=0,004)àqueDoCarmoetal.encontraramparaapopulac¸ão adultaportuguesa(35,5%),bemcomoàquefoiregistada,para amesmapopulac¸ão,no4.◦INS(35,7%).Jánoqueserefereà prevalênciadaobesidade(11,4%),osresultadosdopresente estudonãodiferemsignificativamentedosencontradospor DoCarmoetal.(11,8%,p=0,34),massãosignificativamente inferioresaosreportadospelo4.◦INS(15,7%,p=0,03).

Talcomoverificadono4.◦INS,aprevalênciadeobesidade émaiornasmulheresdoquenoshomens.Apercentagemde POentremulheresimigrantesnãodiferesignificativamente daencontradaporDoCarmoetal.epelo4.◦INS.Jánoquese refereàobesidade,aprevalênciaentreasimigrantes(13,8%)é significativamentesuperioràencontradaporDoCarmoetal. (10,5%,p=0,02).Entreoshomens,querparaaPOquerpara aobesidade as percentagensencontradasno nosso estudo (33,8e8,5%)sãosignificativamenteinferioresàsdoINS(40,6%, p=0,01e14,3%,p<0,001)eàsdoestudodeDoCarmoetal. (43,2%,p<0,001e13,1%,p<0,001).

AsprevalênciascalculadaspelaOMSeusadasnatabela3 são, no caso de Angola, valores projetados e têm de ser interpretadoscomadevidacautela,podendoverificar-se gran-desdiferenc¸asentreestesvaloreseosvaloresmedidos nas comunidades31.

Talcomoseriadeesperar,osimigrantesdosexomasculino apresentamumaprevalênciasuperiordePOeobesidade com-parativamentecomosseuscompatriotasnãomigrantes.No entanto,osbrasileirosnãomigrantestêmprevalências supe-rioresdePOeobesidade,relativamenteaosimigrantesaviver emPortugal.

Nocasodasimigrantes,apresentammaiorprevalênciade POascabo-verdianas,são-tomenseseguineenses, comparati-vamentecomopaísdeorigem.Relativamenteàobesidade,as imigrantesapresentammaiorprevalênciacomparativamente comassuascompatriotasnãomigrantes,excetoas brasilei-ras.

Nestequadro,osimigrantesbrasileirosdiferenciam-sedos restantes. As diferenc¸as nas prevalências encontradas são grandes, com os imigrantes a apresentarem menores pre-valências em ambas as categorias. O estudo comparativo usadoparaestepaísfoiaPesquisadeOrc¸amentos Familia-resde2008-0932,comvaloresdeprevalênciaanívelnacional.

Osdados antropométricosforam recolhidosatravés de um processo de medic¸ão, enquanto no presente estudo foram autorrelatados.Esse motivo poderá justificarasdiferenc¸as, jáqueoautorrelato levaasubestimac¸ãodoIMC em sujei-tos brasileiros28. No entanto, esta questão também existe

nospaísescomdadosprovenientesdoSTEPS–Moc¸ambique, SãoToméePrincípe,CVeGuiné.Verificou-seumaumento recentenaprevalênciadeobesidadedosbrasileiros.Osdados relatadosnesteestudoforamrecolhidosem2007,com imi-grantesbrasileirosque viviamno paíshá cercade 4anos, epoderãorepresentargerac¸õesmaisantigas,com prevalên-ciasde excessodepeso menores,àpartida.Adiscrepância encontradaentreprevalênciasdeimigrantesbrasileirose afri-canospode,emparte,dever-seàdiferenc¸asignificativaentrea médiadeanosderesidêncianopaíscomosimigrantes brasi-leirosaviverháconsideravelmentemenostempoemPortugal.

No presente estudo, verificámos que a idade, o estado civil, os anos de residência em Portugal e a naturalidade são fatores associados a um maior IMC nos imigrantes a residirno país, mesmoapósajustamento paraestas variá-veiseparaosexoeescolaridade.Écomumencontrarestes resultadosnaliteratura.Otempoderesidêncianopaísde aco-lhimentoéconsiderado,com frequência,umfatorde risco para a obesidade nos imigrantes, podendo ser representa-tivodaaculturac¸ãosofridaduranteoprocessodemigrac¸ão14.

Poroutrolado,sermaisvelhoesercasado33 sãofatoresde risco reconhecidos na populac¸ão geral. Os determinantes deummaiorIMCmédionosimigrantessão-tomenses, com-parativamentecomosimigrantesbrasileiros,estãoaindapor descobrir.Oprocessodeaculturac¸ãopoderáserdistintopara estegrupo,mastambémpoderãoexistirfatoresgenéticos, cul-turaisesociaissubjacentesaesteresultadoequenecessitam serinvestigados.

Oefeitodoimigrantesaudável,comparativamentecomos nativosdopaísdeacolhimento,verifica-senopresenteestudo. Encontraram-semenoresprevalênciasdeexcessodepesonos imigrantes, comparativamentecomosnativosportugueses. Noentanto,esteefeitoévisível apenasnoshomens,sendo que asmulheresparecemmaissuscetíveisàaculturac¸ãoe estão,aparentemente,menosprotegidasporesteefeito.Este resultado vai aoencontro aresultados previamente relata-dos,quedescrevemcomportamentoserespostasdiferentes em saúde de acordocom o sexo34, durante o processo de

migrac¸ão. O comportamentoemsaúde nasmulheresmais aculturadasémenospositivodoquenasmenosaculturadas. Para oshomens, aaculturac¸ãopareceter poucoefeito nos comportamentosde saúde35. Istopoderáprender-secom o

próprioprocessodeselec¸ãodosimigrantes:homense mulhe-restêmdiferentesmotivac¸õesparaimigrare,comfrequência, ospapéisetrabalhosquevãoassumirnopaísdeacolhimento diferem36.Tambémpoderãoestaremcausaaspetosculturais

dasimigrantesestudadas,nomeadamenteaautopercec¸ãode imagemcorporal,queparecesermaispositivanasafricanas emcomparac¸ãocomascaucasianas.Asafricanas apresen-tam umamaiorpreferênciaculturalpormodelosde beleza associadosaummaiorIMC37.

Conclusão

Osresultadosencontradossãoilustrativosdeumaamostrade imigrantescommenoresprevalênciasdePOedeobesidadedo queasencontradasnosnativosnopaísdeacolhimento(efeito doimigrantesaudável),mascomaparentetendênciaparao aumentodeIMCcomotempoderesidênciaemPortugalecom importantesdiferenc¸asporsexo.Interessaestudarmais apro-fundadamenteestaassociac¸ão(prevalênciadaobesidadecom tempoderesidênciadosimigrantesemPortugal),assimcomo identificarqueestratégiasparacombateraobesidadenos imi-grantes residentes em Portugal. Próximos estudos deverão incluirumaanálisedosdeterminantesdaobesidadenos imi-grantesemPortugal,assimcomomaiorvariedadedeetniase depaísesdeorigem(bemcomotamanhosamostraismaiores, paracadaumdospaísesdeorigememquestão).Seriatambém degrandeinteresseanalisaroutrasvariáveisdeaculturac¸ão, comoaaculturac¸ãoalimentar,apreferênciapelosmediaem

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Comocitaresteartigo:GoulãoB,etal.PrevalênciadeexcessodepesonosimigrantesbrasileiroseafricanosresidentesemPortugal.RevPort casaeautopercec¸ãodeaculturac¸ão.Esteesforc¸odeveriafazer

partedeumaestratégiamaisabrangentedemonitorizac¸ãoda saúde(econdic¸õesdesaúde)daspopulac¸õesimigrantesem Portugal.

Conflito

de

interesses

Osautoresdeclaramnãohaverconflitodeinteresses.

Agradecimentos

Este estudo foi financiado pelo Alto-Comissariado para a Saúde.Agradece-seàequipadeinvestigac¸ãoeaos entrevis-tadores.

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Imagem

Tabela 1 – Prevalência (%) de pré-obesidade e obesidade, por faixa etária, escolaridade, estado civil e anos de residência em Portugal, no total e por sexo
Tabela 2 – Prevalência (%) de pré-obesidade e obesidade por número de refeic¸ões por dia, no total e por sexo

Referências

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