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Desigualdades de gênero e inatividade: um estudo sobre as jovens mulheres brasileiras

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DESIGUALDADES DE GÊNERO E INATIVIDADE: UM ESTUDO SOBRE AS

JOVENS MULHERES BRASILEIRAS1

Angela Welters2

INTRODUÇÃO

Este trabalho parte dos estudos sobre economia do cuidado e economia feminista para avaliar a condição de atividade das mulheres de 15 a 24 anos que estão fora da escola e do mercado de trabalho ou “nem-nem” no Brasil. O objetivo do trabalho é discutir a condição da inatividade econômica e avaliar qual o papel das atividades de reprodução social neste grupo.

O conceito de juventude “nem-nem” (NEET), surgiu nos anos 1980 para designar os jovens que não estudam, não estão empregados ou em treinamento. O perfil destes jovens tem sido objeto de muitos estudos no Brasil (CAMARANO; KANSO, 2012; VIEIRA, 2008; MENEZES FILHO et al., 2000; MADEIRA, 2006; REMY; VAZ, 2017; ITABORAÍ, 2016) e seus resultados evidenciam que a juventude “nem-nem” no Brasil é composta na sua maioria por negros, mulheres, pobres e pessoas com baixa escolaridade. Estes jovens seriam, portanto, um retrato das desigualdades socioeconômicas no país. Além disso, estes estudos apontam paraalterações importantes na forma de viver a juventude, a maioria relacionada com as mudanças no mundo do trabalho e na cronologia dos eventos (escola – trabalho – formação da família e filhos).

Não obstante, os avanços na visão dos papéis de gênero dentro da família e da economia nas últimas décadas, ainda persistem visões patriarcais a respeito dos papéis de gênero e valores culturais, que reforçam a desigualdade de gênero no país. Um dos aspectos mais marcantes é a preponderância das atividades de reprodução social a cargo das mulheres, a despeito de sua crescente participação no mercado de trabalho. Neste sentido, cabe avaliar em que medida, a noção de inatividade presente na categoria “nem-nem” de fato representa adequadamente a condição das jovens que não estudam e não trabalham no Brasil.

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Trabalho apresentado no Encontro Nacional sobre População, Trabalho, Gênero e Políticas Públicas, realizado na Universidade Estadual de Campinas, em Campinas, SP, entre os dias 27 a 29 de novembro de 2019.

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NESDE-ECONOMIA DO CUIDADO E USO DO TEMPO

O trabalho não remunerado (TNR), entendido como as atividades de cuidado e o trabalho doméstico, apesar de fundamental para o bem-estar, permanece invisível para a sociedade e, sobretudo, para a economia. Como não faz parte das transações inerentes aos mercados, carece de contabilização e reconhecimento como atividade produtiva pela teoria econômica convencional.

Por outro lado, a economia feminista:

[…] es una corriente de pensamiento que pone énfasis en la necesidad de incorporar las relaciones de género como una variable relevante en la explicación del funcionamiento de la economía, y de la diferente posición de los varones y las mujeres como agentes económicos y sujetos de las políticas económicas. […] Realiza una crítica particular a la teoría neoclásica, hoy paradigma dominante en la disciplina, y denuncia el sesgo androcéntrico de esta mirada, que atribuye al hombre económico (homo economicus) características que considera universales para la especie humana, pero que sin embargo son propias de un ser humano varón, blanco, adulto, heterosexual, sano, de ingresos medios. La racionalidad del hombre económico, esencial para las decisiones económicas que toma (como participar en el mercado laboral o no hacerlo), no se enfrenta con los condicionantes que impone vivir en un mundo racista, xenófobo, homofóbico y sexista (RODRIGUEZ ENRÍQUEZ, 2015, p. 31-32).

Desta maneira, esta corrente vem para mostrar o papel essencial do trabalho doméstico e de cuidado para o sistema, ou seja, o centro de sua análise é a reprodução da vida, diferentemente da economia convencional, centrada nos mercados, não reprodução do capital e na alocação de recursos.

Por lo mismo, la economía feminista tiene como una preocupación central la cuestión distributiva. Y en particular se concentra en reconocer, identificar, analizar y proponer cómo modificar la desigualdad de género como elemento necesario para lograr la equidad socioeconómica (RODRIGUEZ ENRÍQUEZ, 2015, p. 32).

Esta abordagem produz questionamentos sobre o valor econômico das atividades, como explica Esquivel (2011, p. 11):

[...] La economía del cuidado permite cuestionar tanto a lo que se entiende por “económico” (el PIB) como, de manera más novedosa aunque todavía incipiente, a las medidas usuales de bienestar basadas únicamente en los ingresos monetarios.

Portanto, a chamada “economia do cuidado” visa destacar as atividades de reprodutivas ou de cuidado (TNR) que tem lugar nos domicílios. Significa, portanto:

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“entender al hogar como un lugar de trabajo, aun cuando sin duda todavía lo es, a

un lugar de cuidado, como seguramente siempre lo fue” (HIMMELWEIT, 2000 apud

ESQUIVEL, 2011, p. 16).

Cabe portanto, definir o alcance do trabalho doméstico remunerado, que além de incluir as atividades de limpeza, cuidados de outros membros da família e preparação de refeições, abarca ainda o planejamento das tarefas, a realização pagamentos, compras, a responsabilidade pelo translado de membros da família, como levar e buscar os filhos da escola, a realização de pequenos consertos, jardinagem, ou seja, compreende um conjunto de tarefas necessárias para que tudo seja realizado de maneira adequada no cotidiano da casa (PEDRERO NIETO, 2014).

Algumas destas atividades podem ser programadas, mas a maioria é de realização cotidiana, o que exige uma divisão de tarefas entre os membros do domicílio, em geral, por gênero, mas também, pelas características das atividades.

Ao dar visibilidade às desigualdades de gênero nas atividades de cuidado, através da distribuição desigual destes encargos, se pode entender “el origen de la

posición subordinada de las mujeres, y de su inserción desventajosa en la esfera de la producción” (ESQUIVEL, 2011, p. 12).

Certamente, avaliar a distribuição do tempo para as atividades do TNR permite diferenciar a qualidade de vida e as oportunidades de desenvolvimento pessoal, que estes indivíduos têm, não apenas na família, mas na sociedade.

A prevalência das mulheres nas atividades de reprodução social gera uma carga de trabalho muito superior à dos homens, além de significar barreira para sua participação laboral. Na América Latina, a participação das mulheres no mercado de trabalho é, em média, menor que a dos homens, 51% e 79% respectivamente, (OPS, 2018); as taxas de desemprego sistematicamente superiores, maior informalidade e precariedade e salários menores.

Neste contexto, alguns estudos tentam estabelecer a contribuição do TNR para o Produto Interno Bruto (PIB), tanto para o Brasil como para a América Latina. (CEPAL, 2016; JESUS, 2018; MELO, 2008) Os resultados indicam uma participação entre 10 e 25% do PIB dos países. Resultados que confirmam a importância destas atividades para a economia brasileira e latino-americana, além de reconhecer seu valor econômico.

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Ao mesmo tempo, pesquisas sobre os padrões de uso do tempo entre homens e mulheres têm apresentado resultados muito relevantes para o entendimento destas desigualdades de gênero em nossas sociedades.

Moschkovisch e Almeida (2015) observam que as atividades de reprodução social ao incidir especialmente sobre as mulheres, significam obstáculos a sua trajetória profissional no mercado de trabalho, bem como influenciam sua posição em cargos de liderança nas empresas, além de seu reconhecimento na Academia e nas Ciências. Outros estudos constatam que a carga de trabalho com cuidado recai mais sobre as mulheres de meia idade, com níveis baixos de educação, sem renda própria, em famílias de baixa renda e em domicílios com pouca estrutura de apoio (OPS, 2018, p. 3).

Ainda, a preponderância do TNR possui uma relação inversa com o nível socioeconômico do país ou região e com a participação das mulheres no mercado de trabalho, além de ser preponderante entre as mulheres com filhos e menos escolarizadas (WELTERS; MAIA; GUIMARÃES, 2018, p. 20).

A queda nas taxas de fecundidade e a crescente participação das mulheres no mercado de trabalho não se refletiram numa readequação nas tarefas entre os membros do domicílio. Este desequilíbrio nas atividades de cuidado, sobrecarrega as mulheres na busca de conciliar trabalho e família e amplia as desigualdades de gênero, bem como, cria barreiras para sua inserção no mercado de trabalho.

Adicionalmente, Rivas (2016, p. 135) ao estudar a condição das jovens “nem-nem” na Nicarágua avalia que:

El acrónimo NiNi es una categoría colectiva que enmarca y estereotipa a las y los jóvenes. Una metáfora que circunscribe las trayectorias de vida como un todo bajo una sola característica común, la ausencia DE. Una categoría que, en el caso de las mujeres, resulta poco útil puesto que enmascara el no reconocimiento y visibilización de trabajos de cuidados que sostienen la vida, lo que evidencia la exclusión social, económica y política en que se circunscriben muchas de las mujeres jóvenes catalogadas como tal.

Desta maneira, resta avaliar de que maneira estas desigualdades afetam a trajetória de vida das jovens brasileiras.

MATERIAIS E MÉTODOS

Para cumprir os objetivos deste estudo, utiliza-se de um desenho de pesquisa quantitativo exploratório. Para tal, são utilizados os microdados da PNADC

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(Pesquisa Nacional por Amostras de Domicílios Contínua) do IBGE de 2017, disponíveis para o Brasil, Grandes Regiões e Unidades da Federação.

Busca-se avaliar as jovens mulheres entre 15 e 24 anos, dividindo-as em duas categorias etárias: 15 a 19 anos (adolescentes) e 20 a 24 anos (jovens adultas) segundo condição no domicílio (VD2002), ocupação (VD4002), realização de tarefas domésticas no próprio domicílio ou de parente (VD4049), realização de cuidado de crianças de 0 a 5 anos (VD4040), realização de cuidado de idosos (VD4043) , frequência escolar (V3002), motivo de não estar procurando trabalho (VD4030) e não estar na escola (V3034), segundo grandes regiões e o país.

RESULTADOS E DISCUSSÃO

As jovens de 15 a 24 anos perfazem cerca de 16 milhões de pessoas, concentradas sobretudo, no Nordeste (30%) e Sudeste (39%) do país. Ambas as regiões concentram a maior parte da população brasileira e dos jovens considerados “nem-nem”.

TABELA 1 – Mulheres de 15 a 24 anos de idade, segundo grupos de idade, frequência escolar e condição de ocupação. Brasil, 2017

Frequência a escola e condição na ocupação 15 a 19 anos 20 a 24 anos

Frequentam a escola 70,6 29,2

Não frequentam a escola 31,5 73,5

Ocupadas 16,7 47,8

Não ocupadas 83,3 52,2

Não ocupadas e que não frequentam a escola 22,8 37,1

TOTAL 100,0 100,0

Fonte: IBGE (PNAD Contínua, visita 5, 2017). Elaboração própria.

(*) Foram consideradas como não ocupadas todas as pessoas que não estavam ocupadas, independentemente de

estarem na força de trabalho.

Mais da metade das jovens de 15 a 24 anos está fora da escola, porém, quando observam as faixas de 15 a 19 anos (adolescentes) e 20 a 24 anos (jovens adultos) estes percentuais diferem bastante, são 31,5 e 73,5% respectivamente. E se 29,7% não frequenta a escola e não está ocupada, são 22,8% das adolescentes e 37,1% das jovens adultas. Pode-se avaliar que com o aumento da idade, as jovens deixam a escola e estão mais presentes na força de trabalho (16,7 e 47,8%), por outro lado, mais da metade das jovens adultas não está ocupada, contra 83,3% das

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adolescentes. De forma geral, um percentual elevado destas jovens está fora das atividades de laborativas ou educativas (Tabela 1).

Ao mesmo tempo, ainda que seja possível constatar percentuais elevados entre mulheres ocupadas e não ocupadas quando se avalia a prática de afazeres domésticos, são as mulheres não ocupadas que predominam no trabalho doméstico. Estes percentuais são ainda mais díspares nas regiões Nordeste e Norte do país.

TABELA 2 – Percentual das mulheres de 14 a 24 anos que realizam afazeres domésticos, segundo Grandes Regiões do Brasil, 2017

Categorias Ocupadas Não ocupadas

Norte 45,9 54,1

Nordeste 38,4 61,7

Sudeste 48,8 51,2

Sul 51,0 49,0

Centro-Oeste 48,9 51,1

Fonte: IBGE (PNADC – Pesquisa Nacional por amostras e domicílios contínua, 2017).

Entre os jovens que se caracterizam como “nem-nem”, as mulheres representam mais da metade, seja entre os considerados adolescentes (15 a 19 anos) 57,2% ou entre os jovens adultos (18 a 24 anos) 61,7%. Destas jovens, 34,8% são chefes dos domicílios ou cônjuges, proporção que não chega a 10% entre os homens nesta faixa etária.

Ao comparar as adolescentes e as jovens adultas, constata-se a relevância da condição de chefe ou cônjuge, principalmente na faixa de 20 a 24 anos. Outrossim, é notável a discrepância entre homens e mulheres “nem-nem” segundo condição no domicílio (Tabela 3). A relativa importância de mulheres neste grupo, bem como, de cônjuges e chefes de domicílio, sobretudo, entre as jovens adultas, permite considerar que a condição “nem-nem” esteja associada às atividades de cuidado e afazeres domésticos.

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TABELA 3 – Distribuição percentual dos jovens de 15 a 24 anos que não trabalham nem estudam, segundo condição no domicílio: Brasil, 2017

Condição no domicílio

15 a 19 anos 20 a 24 anos

Homens Mulheres Homens Mulheres Pessoa responsável, Cônjuge ou companheiro (a) 2,9 18,5 11,7 41,6

Filho, neto, bisneto ou enteado 90,5 69,1 80,1 47,7

Outro parente 6,6 12,4 8,2 10,7

Fonte: IBGE (Microdados da PNAD Contínua – Educação, 2017).

Obs.: Foram excluídas as pessoas que declararam não frequentarem escola por motivo de doença ou

deficiência.

No Brasil, cerca de 20% destas jovens tem como motivação do abandono dos estudos, a realização de afazeres domésticos, a gravidez ou o cuidado de crianças menores de 5 anos ou idoso. Entre as jovens fora do mercado de trabalho, o peso destas atividades é muito maior entre as jovens adultas (40,5%) se comparado às adolescentes (10,2%). Assim, pode-se perceber o peso da transição para a vida adulta nas decisões de trabalho ou estudo entre as jovens adultas.

GRÁFICO 1 – Percentual das mulheres de 15 a 24 anos fora da força de trabalho ou da escola por gravidez, afazeres domésticos e cuidado, segundo grandes regiões do

Brasil, 2017

Fonte: IBGE (Microdados da PNAD Continua – Educação, 2017). 16,1 37,5 28,9 10,0 7,5 13,9 36,1 31,1 10,9 7,9

Norte Nordeste Sudeste Sul Centro-Oeste

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Regionalmente, nota-se que o Nordeste e o Sudeste se destacam na concentração daquelas que, por realizar afazeres domésticos, cuidado ou por gravidez, estão fora do espaço público. Ambas as regiões concentram mais de 70% das mulheres nesta categoria, o que indica que a realização do TNR de forma quase exclusiva pelas mulheres reduz assim, suas chances de participar na força de trabalho ou continuar os estudos.

Na região Norte, mais da metade das mulheres fora da escola ou da força de trabalho está no Amapá e 1 em cada 4 no Amazonas. No Nordeste, quase um quarto destas mulheres residem na Bahia e 46,8% se distribuem entre os estados do Ceará, Maranhão e Pernambuco (Gráfico 2).

GRÁFICO 2 – Percentual de mulheres de 15 a 24 anos que estão fora do mercado do trabalho ou da escola nas UFs por gravidez, realização de cuidado ou afazeres

domésticos, 2017

Fonte: IBGE (Microdados da PNADC – Educação, 2017).

Já no Sudeste, se destacam Minas Gerais e São Paulo com quase 8 em cada 10 mulheres nesta situação. No Sul, os estados do Paraná e do Rio Grande do Sul concentram cerca de 8 em cada mulheres fora da escola ou do mercado de trabalho pela realização de atividades de cuidado, serviço doméstico ou por

0,0 10,0 20,0 30,0 40,0 50,0 R O A C A M R R A P PA TO M A PI C E R N P B P E A L S E B A M G E S R J S P P R S C R S M S M T GO D F .

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gravidez. Na região Centro-Oeste quase a metade destas mulheres estão em Goiás. Portanto, apesar de Nordeste e Sudeste se destacarem a nível nacional como regiões com maior número de mulheres nesta situação, verifica-se que alguns estados da federação apresentam destaque regional significativo como Amapá, São Paulo, Paraná, Rio Grande do Sul Mato Grosso e Goiás (Gráfico 3).

Como observado anteriormente, o TNR ocupa parte relevante das mulheres, sejam ocupadas ou não ocupadas. Entre as jovens de 15 a 24 anos que não trabalham nem estudam não é diferente (Tabela 4).

TABELA 4 – Mulheres de 15 a 24 anos que não trabalham nem estudam, segundo tipo tarefa realizada no domicílio. Brasil (2017)

Tipo de tarefa realizada no domicílio 15-19 anos 20-24 anos

Cuidado de crianças ou idosos 20,2 24,7

Tarefas domésticas no próprio domicílio ou de parente 60,5 51,2 Cuidado e trabalho doméstico concomitantemente 19,3 24,2 Fonte: IBGE (PNAD Contínua, visita 5, 2017).

Os dados da tabela 4 evidenciam que o trabalho doméstico é tarefa comum entre as jovens fora da escola e do mercado de trabalho, contudo, é no cuidado que as faixas de idade se diferenciam mais. Seja no cuidado exclusivo ou concomitante ao trabalho doméstico, as jovens adultas se destacam.

Logo, pode-se concluir que, independentemente de sua condição na família, as jovens que não trabalham e não estudam realizam atividades ligadas ao TNR, seja na forma de cuidado ou afazeres domésticos, o que indica que sua categorização como “inativas” não se sustenta sob a ótica da Economia do Cuidado ou da Economia Feminista. Ademais, a preponderância feminina na categoria “nem-nem” mostra a necessidade de repensar o próprio conceito (“nem-“nem-nem”) ou a característica da atividade/inatividade, dando relevo às atividades do TNR neste grupo.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Os resultados preliminares deste trabalho mostram o predomínio de mulheres entre os jovens considerados “nem-nem”, além disso, evidenciam que a gravidez, as atividades de cuidado e os afazeres domésticos são razões importantes para as jovens estarem fora da escola ou do mercado de trabalho, sobretudo, entre

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as jovens adultas. E embora 70% das jovens de 15 a 24 anos estejam no Nordeste e Sudeste, alguns estados da federação se destacam regionalmente: como o Amapá que apresenta mais da metade das jovens fora da escola ou do mercado de trabalho por gravidez ou TNR no Norte do país. No Nordeste, quase um quarto vivem na Bahia e 8 em cada 10 jovens no Sudeste em Minas Gerais e São Paulo. Da mesma forma, 80% das jovens no Sul são oriundas do Paraná e Rio Grande do Sul, enquanto no Centro-Oeste quase a metade das jovens fora da escola por gravidez ou TNR está em Goiás.

Entre as jovens “nem-nem”, o trabalho doméstico e de cuidado prevalecem, independentemente, da sua condição no domicílio. Este predomínio das atividades de TNR entre as mulheres é observado não apenas entre as jovens na condição de dupla inatividade (estudo-trabalho), mas na população em geral, sejam ocupadas ou não ocupadas. Chama a atenção também o percentual de jovens na condição de chefes de família ou cônjuges entre as jovens “nem-nem”, são 18,5% das adolescentes e 41,6% das jovens adultas, o que não tem paralelo entre os homens na mesma condição.

Por fim, é notável que com o avanço da idade das jovens diminui sua frequência escolar, aumenta sua carga de TNR e/ou aumenta sua participação no mercado de trabalho.

Ao avaliar o papel do trabalho não remunerado (TNR) no cotidiano as jovens de 15 a 24 anos na condição “nem-nem” no Brasil, observa-se que a inatividade deste grupo de jovens pode ser contestada, mediante as noções da “Economia do Cuidado” e da “Economia Feminista. Ou seja, pode-se questionar se a realização de trabalho não pago (TNR) é inatividade.

A feminização da categoria “nem-nem” e a preponderância do TNR neste grupo, mostra que tal conceito, enquadra as jovens de forma equivocada e esconde desigualdades de gênero com respeito às atividades de reprodução social, que tem lugar nos domicílios. Fica evidente, portanto, que ao invés de enquadrá-las como inativas, deve-se dar maior visibilidade ao trabalho não remunerado realizado nos domicílios, bem como rever o próprio conceito de atividade/inatividade neste grupo.

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REFERÊNCIAS

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