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(1)UNIVERSIDADE METODISTA DE SÃO PAULO DIRETORIA DE PÓS-GRADUAÇÃO E PESQUISA. PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM CIÊNCIAS DA RELIGIÃO. MIGRAÇÃO RELIGIOSA: BATISTAS BRASILEIROS NA REGIÃO METROPOLITANA DE TORONTO (CANADÁ). ANDRÉ BEZERRA PAES. SÃO BERNARDO DO CAMPO 2019. 1.

(2) ANDRÉ BEZERRA PAES. MIGRAÇÃO RELIGIOSA: BATISTAS BRASILEIROS NA REGIÃO METROPOLITANA DE TORONTO (CANADÁ). Tese apresentada em cumprimento parcial às exigências do Programa de Pós-Graduação em Ciências da Religião para a obtenção do grau de Doutor. Orientador: Prof. Dr. Dario Paulo Barrera Rivera. SÃO BERNARDO DO CAMPO 2019. 2.

(3) FICHA CATALOGRÁFICA. P138m. Paes, André Bezerra Migração religiosa: batistas brasileiros na região metropolitana de Toronto (Canadá) / André Bezerra Paes -- São Bernardo do Campo, 2019. 194 p. Tese (Doutorado em Ciências da Religião) --Diretoria de PósGraduação e Pesquisa, Programa de Pós-Graduação em Ciências da Religião da Universidade Metodista de São Paulo, São Bernardo do Campo, 2019. Bibliografia Orientação de: Dario Paulo Barrera Rivera. 1. Batistas 2. Identidade e etnia 3. Brasil – Emigração e imigração 4. Igreja Batista – Canadá – Toronto (Cidade) I. Título CDD 286.171. 3.

(4) A tese de doutorado sob o título “MIGRAÇÃO RELIGIOSA: Batistas Brasileiros na Região Metropolitana de Toronto (Canadá)”, elaborada por ANDRÉ BEZERRA PAES, foi defendida e aprovada em 11 de abril de 2019, perante banca examinadora composta por Prof. Dr. Dario Paulo Barrera Rivera (Presidente/UMESP), Prof. Dr. Vitor. Chaves. de. Souza. (Titular/UMESP),. Profª.. Drª.. Claudete. Pagotto. (Titular/UMESP), Profª. Drª. Brenda Maribel Carranza Dávila (Titular/PUCCampinas), Profª. Drª. Suzana Ramos Coutinho (Titular/PUC-SP).. Prof. Dr. Dario Paulo Barrera Rivera Orientador e Presidente da Banca Examinadora. Prof. Dr. Helmut Renders Coordenador do Programa de Pós-Graduação. Programa: Pós-Graduação em Ciências da Religião Área de Concentração: Religião, Sociedade e Cultura Linha de Pesquisa: Religião e Dinâmicas Socioculturais. 4.

(5) DEDICATÓRIA. Às quatro mulheres de minha vida:. Delaine, minha querida esposa, parceira, companheira e incentivadora,. Laura e Esther, minhas filhas amadas, princesinhas e inspiração,. Rusia, minha mãe que tanto sonhou com a vitória desta etapa em minha vida.. Ao meu pai: Eron, amigo e modelo de integridade para minha vida.. Aos meus queridos sogros: Paulo e Ester (in memoriam).. 5.

(6) AGRADECIMENTOS A Deus, pela vida e por ter revelado seu amor por mim através de seu filho, Jesus Cristo.. À minha família, Delaine, querida esposa que permaneceu ao meu lado apoiando todo esse período do meu retorno a vida acadêmica; Laura e Esther, minhas filhas que são alegria e motivação para nossas vidas; aos meus pais, Eron e Rusia, irmã Ana Paula e cunhado Carlos, que me encorajaram a trilhar essa etapa de estudos.. Ao professor Dr. Paulo Barrera, pelas orientações sempre precisas, enriquecedoras e pela preocupação com o meu desenvolvimento acadêmico.. Aos professores Dra. Brenda Carranza (PUC-Campinas), Dra. Claudete Pagotto (UMESP), Dr. Nicanor Lopes (UMESP), Dra. Suzana Ramos Coutinho (PUC-SP) e Dr. Vitor Chaves (UMESP) pelas importantes contribuições na banca de qualificação e defesa.. À Universidade Metodista de São Paulo, aos professores da área de Ciências Sociais e Religião, amigos do grupo de pesquisa REPAL (Religião e Periferia na América Latina) pela rica oportunidade que me concederam de crescimento e aprendizado.. À CAPES (Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal do Ensino Superior) pela bolsa de estudos, sem a qual esta pesquisa não seria possível.. Aos pastores João Garcia, Diné Lóta, Isaac Amorin e membros da Central Baptist Church em Oakville (Ontário, Canadá), por possibilitarem conhecer e aprender com suas histórias tão lindas e vibrantes em meio aos desafios da migração.. Ao amigo pastor Dr. Paulo Pascoal, pelo encorajamento em desenvolver essa pesquisa no Canadá.. Aos amigos da Comunidade Batista de Santo André, pelo apoio e amizade.. 6.

(7) Estrangeiros (Gerson Borges). (...) Somos estrangeiros Nossa casa não é aqui Este mundo não é nosso país Somos forasteiros Somos viajantes nossa pátria é bem mais feliz Eu queria não ter tanta dor E o sofrimento chegasse ao fim Mas a coisa é bem diferente Se eu tivesse asas como serafim Eu não teria saudades daqui Voava embora que bom pra mim Somos estrangeiros Nossa casa não é aqui Este mundo não é nosso país Somos forasteiros Somos viajantes nossa pátria é bem mais feliz Somos estrangeiros Nossa casa não é aqui Este mundo não é nosso país Somos forasteiros Viajantes nossa pátria é bem mais feliz.. 7.

(8) PAES, André Bezerra. Migração Religiosa: batistas brasileiros na região metropolitana de Toronto (Canadá). São Bernardo do Campo: Universidade Metodista de São Paulo, 2019, 194p.. RESUMO. A presente tese discute o papel da religião evangélica (batista) na vida de um grupo de migrantes brasileiros residentes na região metropolitana de Toronto, Canadá, reconhecendo a importância do fenômeno migratório e da religião dentro dos processos transnacionais e migratórios. O texto destaca o crescimento da migração brasileira no Canadá, mas com o olhar das ciências da religião. Aborda-se como aconteceu o surgimento de igrejas batistas étnicas de língua portuguesa nesta região a partir do final dos anos 1970, em parceria com algumas igrejas batistas canadenses, o que resultaria na organização da Associação das Igrejas Batistas de Língua Portuguesa no Canadá em 1998. Examina-se uma igreja batista canadense em particular, a Central Baptist Church (CBCO) na cidade de Oakville (Ontario), que em 1987 iniciou um dos primeiros trabalhos para alcançar a comunidade de língua portuguesa residente nesta cidade. Trabalha-se com os conceitos de diáspora, identidade, migração e redes para elaborar nossa análise. Busca-se compreender como esses migrantes constituíram a partir dessas igrejas uma rede de apoio, suas condições sociais, econômicas, situação de visto, lugar de origem no Brasil, condições que permitiram criar novas conexões entre eles. A hipótese desta pesquisa é que a igreja étnica exerce um papel que reforça permanentemente a condição de migrante de seus membros, vivendo o paradigma de mantê-lo na fronteira de integrá-lo na sociedade de destino, sem romper completamente seus laços com a sua sociedade de origem. A partir de visitas de campo realizadas em dois períodos distintos, conseguiu-se realizar entrevistas com os líderes, membros e pessoas que frequentaram apenas por algum momento a CBCO. Isso permitiu verificar qual foi a relevância exercida por esta igreja étnica na do migrante.. Palavras-chave: batistas, identidade, igreja étnica, migração brasileira, Toronto.. 8.

(9) PAES, André Bezerra. Migración Religiosa: bautistas brasilenõs em la región metropolitana de Toronto (Canadá). São Bernardo do Campo: Universidade Metodista de São Paulo, 2019, 194p.. RESUMEN. La presente tesis discute el papel de la religión evangélica en la vida de un grupo de migrantes brasileños residentes en la región metropolitana de Toronto, Canadá, reconociendo la importancia del fenómeno migratorio y de la religión dentro de los procesos transnacionales y la migración. El texto destaca el crecimiento de la migración brasileña en Canadá, pero con la mirada de las ciencias de la religión. Se aborda como sucedió la aparición de las iglesias bautistas étnicos de la lengua portuguesa en la región desde finales de la década de 1970, en colaboración con algunas iglesias bautistas canadienses, lo que daría lugar a la organización de la Asociación de Iglesias Bautistas de Lengua Portuguesa en Canadá en 1998. Se examina una iglesia Bautista de Canadá, en particular, la iglesia Bautista central (CBCO) en la localidad de Oakville (Ontario), que comenzó en 1987 uno de los primeros trabajos para llegar a la comunidad portuguesa residente en esta ciudad. Se trabaja con los conceptos de diáspora, identidad, migración y redes para elaborar nuestro análisis. Se busca comprender cómo estos migrantes constituyeron a partir de esas iglesias una red de apoyo, sus condiciones sociales, económicas, situación de visa, lugar de origen en Brasil, condiciones que permitieron crear nuevas conexiones entre ellos. La hipótesis de esta investigación es que la iglesia étnica ejerce un papel que refuerza permanentemente la condición de migrante de sus miembros, viviendo el paradigma de mantenerlo en la frontera de integrarlo en la sociedad de destino, sin romper completamente sus lazos con su sociedad de origen. A partir de las visitas de campo realizadas en dos períodos distintos, se logró realizar entrevistas con los líderes, miembros y personas que frecuentaron apenas algún momento la CBCO. Esto permitió comprobar cuál fue la relevancia ejercida por esta iglesia étnica en la experiencia del migrante.. Palabras clave: bautistas, identidad, iglesia étnica, migración brasileña, Toronto. 9.

(10) PAES, André Bezerra. Religious Migration: Brazilian Baptists in Greater Toronto Area (Canada). Sao Bernardo do Campo: Universidade Metodista de Sao Paulo, 2019, 194p.. ABSTRACT. This thesis deals with the role of religion (Baptist) in the life of Brazilian immigrants living in Greater Toronto Area (GTA), Ontario, Canada, identifying the importance of migration and religion in transnational and migratory processes. The text highlights the growth of Brazilian migration in Canada through the religious studies tools. It adresses the beginning of Portuguese-speaking ethnic Baptist churches in this region since the late 1970s, in partnership with some Canadian Baptist churches, which resulted in the organization of the Association of Portuguese-speaking Baptist Churches in Canada in 1998. It examines a particular Canadian Baptist Church, Central Baptist Church (CBCO) in Oakville (Ontario), which in 1987 began one of the first works to reach the Portuguese-speaking community residing in this city. It works with the concepts of diaspora, identity, migration and networks to elaborate our analysis. It seeks to understand. how these migrants constituted from these churches a. network of support, their social, economic, visa situation, place of origin in Brazil, conditions that allowed to create new connections among them. The hypothesis of this research is that the ethnic church plays a role that permanently reinforces the migrant status of its members, living the paradigm of keeping him/her on the frontier of integrating him/her into the destination society without completely breaking his/her ties with his/her home society . From the field visits in two distinct periods, some interviews were conducted with the leaders, members, and people who only attended CBCO. This made it possible to verify the relevance of this ethnic church in his/her experience as migrant.. Keywords: Baptist, Brazilian migration, ethnic church, identity, Toronto.. 10.

(11) LISTA DE ABREVIATURAS. CBB. Convenção Batista Brasileira. CBIM. Canadian Baptist International Ministry. CBOQ. Convenção Batista de Ontário e Quebec. CBCO. Central Baptist Church em Oakville. GTA. Greater Toronto Area. IBGE. Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística. JMM. Junta de Missões Mundiais. MRE. Ministério das Relações Exteriores. OIM. Organização Internacional para as Migrações. OIT. Organização Internacional do Trabalho. ONU. Organização das Nações Unidas. PNP. Provincial Nominee Program. UE. União Europeia. 11.

(12) ÍNDICE DE MAPAS. Mapa 1 – Mapa geral do Canadá por Províncias ................................................................... 45 Mapa 2 – Igrejas plantadas com ministério em língua portuguesa ........................................ 99. 12.

(13) ÍNDICE DE GRÁFICOS. Gráfico 1 – Migração brasileira para o Canadá 2002-2018 .................................................. 49 Gráfico 2 – Idade da população brasileira no Canadá .......................................................... 50 Gráfico 3 – Brasileiros no Canadá por gênero (Censo 2016) ............................................... 51 Gráfico 4 – Immigration at a glance 2017 ............................................................................ 105. 13.

(14) ÍNDICE DE TABELAS. Tabela 1 – Estimativa de brasileiros morando no exterior (1996 - 2010) ............................. 39 Tabela 2 – Brasileiros que viraram residentes permanentes nas cidades mais populares do Canadá .................................................................................................................................... 52 Tabela 3 – Congregações Multi-étnicas na CBOQ ................................................................ 57 Tabela 4 - Início do ministério em língua portuguesa .......................................................... 100. 14.

(15) ÍNDICE DE FOTOS. Foto 1 – Igrejas Batistas de Língua Portuguesa no Canadá .................................................. 61 Foto 2 – Central Baptist Church em Oakville, Ontário ......................................................... 150 Foto 3 – Culto de ceia na CBCO (bilíngue – inglês / português) – auditório principal ........ 159 Foto 4 – Culto em língua portuguesa na CBCO – Snyder Hall ............................................ 163 Foto 5 – 39ª Conferência da Páscoa, New Horizons Baptist Church, London ..................... 193 Foto 6 – Membros da Central Baptist Church, Oakville ....................................................... 194. 15.

(16) SUMÁRIO. INTRODUÇÃO ................................................................................................................... 19. CAPÍTULO 1: MIGRAÇÃO BRASIL-CANADÁ E ESTABELECIMENTO BATISTA 1.1.. Introdução .................................................................................................................. 32. 1.2.. O fenômeno migratório global .................................................................................. 32. 1.3.. O fenômeno migratório brasileiro ............................................................................. 37. 1.4.. O fenômeno migratório canadense ............................................................................ 40. 1.5.. Migração brasileira no Canadá .................................................................................. 43. 1.6.. Igrejas Batistas de Língua Portuguesa no Canadá .................................................... 53. 1.7.. Missionários brasileiros e a Convenção Batista de Ontário e Quebec ...................... 55. 1.8.. As Conferências da Páscoa ....................................................................................... 58. 1.9.. Encontros pastorais e conferências ........................................................................... 59. 1.10. A Associação das Igrejas Batistas de Língua Portuguesa no Canadá ....................... 60 1.11. Espaços religiosos transnacionais ............................................................................. 61 1.12. Considerações finais ao capítulo ............................................................................... 64. CAPÍTULO 2: MIGRANTES DE LÍNGUA PORTUGUESA E O PAPEL DAS IGREJAS BATISTAS ......................................................................................................... 66 2.1.. Introdução .................................................................................................................. 66. 2.2.. Ministério de língua portuguesa em Toronto – Olivet Baptist Church ...................... 67. 2.3.. Ministério de língua portuguesa em London – New Horizons Baptist Church ......... 76. 2.4.. Ministério de língua portuguesa em Hamilton – King Street Baptist Church ........... 80. 2.5.. Ministério de língua portuguesa em Oakville – Central Baptist Church ................... 82. 2.6.. Ministério de língua portuguesa em Cambridge – Good News Church .................... 84. 2.7.. Ministério de língua portuguesa em Montreal – Madson Baptist Church ................. 88. 2.8.. Ministério de língua portuguesa em Strathroy – First Baptist Church ....................... 89. 2.9.. Ministério de língua portuguesa em Ottawa – Eastview Baptist Church ................... 90. 2.10. Ministério de língua portuguesa em Kingston – First Baptist Church ....................... 91. 16.

(17) 2.11. Ministério de língua portuguesa em Brampton – First Baptist Church in Brampton 92 2.12. Ministério de língua portuguesa em Bradford – Bradford Baptist Church ................ 93 2.13. Ministério de língua portuguesa em Kitimat – First Baptist Church in Kitmat ......... 93 2.14. A igreja transnacional e seus desafios ....................................................................... 94 2.15. Considerações finais ao capítulo ………………………………….………..……… 99. CAPÍTULO 3: A EXPERIÊNCIA MIGRATÓRIA DE BATISTAS BRASILEIROS E SUA INTEGRAÇÃO NO CANADÁ ................................................................................. 101 3.1.. Introdução .................................................................................................................. 101. 3.2.. O modelo canadense de migração e integração ........................................................ 101. 3.3.. Brasileiros batistas e sua integração no Canadá ........................................................ 105. 3.3.1. Como chegaram ......................................................................................................... 106 3.3.2. Os primeiros desafios como imigrantes e o auxílio das igrejas ................................ 116 3.3.3. Integração: trabalho, moradia e mobilidade social …………………………..……. 122 3.3.4. Sociabilidade e a comunidade brasileira na Greater Toronto Area …………..…… 127 3.4.. Considerações finais ao capítulo .............................................................................. 139. CAPÍTULO 4: UMA COMUNIDADE TRANSNACIONAL: CENTRAL BAPTIST CHURCH EM OAKVILLE ............................................................................................... 140 4.1.. Introdução .................................................................................................................. 140. 4.2.. A igreja étnica lidando com os desafios iniciais da migração ................................... 140. 4.3.. O papel do líder religioso transnacional .................................................................... 147. 4.4.. O papel da religião na vida do imigrante .................................................................. 165. 4.5.. O olhar da experiência migratória por um filho de um imigrante ............................. 171. 4.6.. Considerações finais ao capítulo ............................................................................... 175. CONSIDERAÇÕES FINAIS ............................................................................................. 176. BIBLIOGRAFIA ................................................................................................................. 181. ANEXOS .............................................................................................................................. 187. 17.

(18) Anexo – 1: Lista de entrevistados ......................................................................................... 188 Anexo – 2: Roteiro de entrevistas ......................................................................................... 189 Anexo – 3: Lista de sites pesquisados .................................................................................. 192 Anexo – 4: Fotos ................................................................................................................... 193. 18.

(19) INTRODUÇÃO. Esta pesquisa tem o objetivo de estudar um grupo de brasileiros migrantes na região metropolitana de Toronto ligados à uma comunidade batista na cidade de Oakville – Central Baptist Church (CBCO). Esta igreja canadense é composta por um grupo de língua inglesa (76 pessoas) e outro de língua portuguesa (100 pessoas), sendo este segundo o nosso foco do estudo. Desejamos discutir os aspectos econômicos e sócio-culturais que reforçam sua identidade étnica e permitem uma melhor compreensão das experiências migratórias desses brasileiros para a região metropolitana de Toronto (Canadá) e o papel da religião em sua experiência de chegada, inserção e adaptação como migrante. Tentamos compreender se a religião batista exerce um papel importante no sucesso da experiência migratória dessas pessoas. Para tanto, analisamos o que elas oferecem como espaço comunitário, de apoio e proteção espiritual. Na província de Ontario, a partir do final da década de 1970, um objetivo específico da Convenção Batista Canadense de Ontario e Quebec (CBCOQ) foi alcançar os migrantes de língua portuguesa, que no início eram predominantemente formados por migrantes portugueses, mas em seguida destacou-se a chegada de migrantes brasileiros nessa região, passando a ser o grupo majoritário em algumas dessas igrejas étnicas. Por isso, foi firmado no ano de 1978, o primeiro de uma série de convênios entre a CBCOQ e Convenção Batista Brasileira (CBB) para o envio e sustento de pastores-missionários para plantarem igrejas étnicas entre esses imigrantes, não como ministérios independentes, mas ligados e sujeitos às diversas igrejas batistas canadenses que desejavam esse trabalho (SILVA, 2009, p.22). Essa expressão “ministério” é usado nas diversas igrejas evangélicas para designar um serviço específico dentro da igreja local. Encontramos essa expressão na Bíblia em diversos textos do Velho e Novo Testamento para falar a respeito do serviço prestado por alguma pessoa: 2 Crônicas 6:32, Lucas 3:23, Atos 1:25. Usamos nesta tese essa expressão no sentido de assistência organizada prestada pela comunidade religiosa local visando ajudar a novos migrantes no contexto das dificuldades do processo de chegada e estabelecimento. Chamamos essas igrejas para brasileiros (ou pessoas de língua portuguesa) de “igrejas étnicas” porque: a) elas são formadas por grande maioria de brasileiros migrantes; b) seus pastores e líderes também são brasileiros migrantes; c) as celebrações (cultos de adoração) também são realizadas predominantemente na língua portuguesa (RODRIGUES, 2017). Para 19.

(20) Barth, a identidade étnica é construída e transformada na interação de grupos sociais através de processos de exclusão e inclusão que estabelecem limites entre tais grupos, definindo os que os integram ou não (POUTIGNAT & STREIFF-FERNART, 2000). Ele afirma que os grupos étnicos são uma forma de organização social, são categorias adscritivas e de identificação, que são utilizadas pelos próprios atores e têm, portanto, a característica de organizar a interação entre os indivíduos (BARTH, 1976:10-11). O resultado desse esforço é que surgiram ministérios batistas de língua portuguesa nas cidades de Toronto, London, Hamilton, Oakville, Cambridge, Montreal, Strathroy, Ottawa, Kingston, Brampton e Kitimat. Posteriormente, em 1998, organizou-se a Associação das Igrejas Batistas de Língua Portuguesa no Canadá. A região metropolitana de Toronto (GTA – Greater Toronto Area) recebe imigrantes de todas as regiões do Brasil e do mundo. Nosso estudo irá discutir o papel da religião, isto é, das igrejas étnicas na experiência migratória de brasileiros batistas na cidade de Oakville, Ontário. Estudaremos como foi o surgimento de grupos de igrejas batistas étnicas de língua portuguesa em parceria com igrejas batistas canadenses, apontando quais são as comunidades batistas brasileiras existentes atualmente na GTA. Focaremos em particular a comunidade de língua portuguesa da Central Baptist Church em Oakville (CBCO), que é uma das igrejas mais antigas com esse trabalho específico com migrantes e a maior comunidade batista brasileira no Canadá. Traçar o perfil sócioeconômico de seus membros; identificar o que leva ao processo de adesão (e permanência) e entender as redes de relações entre os membros destas comunidades evangélicas étnicas são questões que nos ajudarão a compreender o papel das igrejas étnicas que assistem os migrantes brasileiros. Estudamos o impacto e a importância nessas redes. Verificamos se a identidade do indivíduo (e do grupo) é reformulada ou reforçada quando se vive na situação de migrante. Identificar qual o papel e impacto da religião na vida dos migrantes nesta nova realidade em uma região como Toronto, fez parte importante de nossa pesquisa. Os estudos sobre fenômenos migratórios têm conceitos próprios e foi preciso pensar a experiência do migrante para o contexto de uma região cosmopolita como Toronto e avaliar nesse processo de mudanças as razões da busca pela religião ao ponto de encontrar lá um espaço para construir talvez sua (nova) identidade ou reforçá-la. A ideia de estar em um ambiente com regras culturais diferentes, situação “anômica” (DURKHEIM, 2010), são elementos importantes para se pensar também, se neste processo de adesão a um (novo) grupo religioso estes elementos da diferença podem destacar-se ainda mais. Observar o próprio uso do espaço urbano nestas comunidades evangélicas étnicas 20.

(21) mereceu também atenção de nossa parte. Na chegada, o imigrante se confronta com o novo lugar, estranho, um novo espaço de vida, que pode ser ameaçador e ao mesmo tempo fascinante, sendo necessário uma resposta rápida a essa adaptação (interna e externa). Para Cavalcanti, a produção do espaço urbano “implica entender esse espaço como relacionado à sua forma (a cidade), mas não se reduzindo a ela, à medida que ela expressa mais que uma simples localização e arranjo de lugares, expressa um modo de vida.” (CAVALCANTI 2001, p. 16). Ao avaliar os processos das migrações na atualidade e o cenário delas no Brasil, Bassegio destaca que a migração:. ao longo da história do Brasil, tem sido um fenômeno compulsório: os imigrantes são obrigados a deixar sua terra em busca de uma vida melhor em outros lugares ou países. Os interesses econômicos das elites dominantes sempre estiveram por trás das grandes migrações. É o caso dos imigrantes europeus que vieram para o Brasil com o objetivo de substituir os escravos, que constituíam mão-de-obra muito cara; igualmente, o caso dos nordestinos, que vieram para o Sudeste e Sul a fim de atender aos interesses da indústria. No âmbito mundial, na era da globalização, os deslocamentos de um país para outro seguem a mesma lógica (BASSEGIO 2003, p.57).. Nesta pesquisa destacamos os motivos que fazem brasileiros migrarem para uma região como Toronto, além do fator econômico. É preciso analisar as dificuldades enfrentadas pelos imigrantes em suas trajetórias em uma nova cidade, as estratégias de mobilidade econômica e de reconhecimento social, que são construídas em meio à adversidade pela discriminação racial, social e sua condição de migrante. Como hipótese, queremos mostrar como a igreja étnica exerce uma função que retoma e reforça permanentemente a condição de migrante de seus membros. Independente deste migrante estar no país de destino como um residente permanente, já ter obtido uma nova cidadania ou dominar a nova língua e estar mais aculturado, a sua condição de migrante é sempre trazida de volta e nunca é rompida completamente por seus vínculos com este grupo religioso étnico. A igreja étnica seria essa rede que reforça essa teia cultural de laços dos migrantes, ao mesmo tempo que trabalha holisticamente – suas necessidades espirituais e sociais -suas demandas. 21.

(22) Quem migra, constrói uma ideia positiva – a princípio – do lugar de destino, reforçado muitas vezes pelos meios de informação, imaginando uma vida melhor para si e sua família. Alguns planejam, após vencerem essa etapa, regressarem para sua terra de origem. Por isso, tentamos verificar também se retornar para o Brasil era algo nos planos desses brasileiros. Observar os motivos de adesão ou conversão, foi também uma questão explorada para compreender até que ponto isso altera a cosmovisão de mundo, identidade e a experiência migratória:. O termo conversão é utilizado para caracterizar a entrada em uma nova religião, capaz de transformar a cosmovisão do sujeito, mudar a identidade do converso e alterar sua relação com a realidade e o mundo. Entretanto, parece que a grande mudança que ocorre na natureza do convertido diz respeito às suas percepções de Deus, de si mesmo e do mundo. Na verdade, o grau e o padrão de mudança de afiliação religiosa estão sujeitos a debate entre os autores (GOMES, 2011, p.158).. O termo adesão religiosa parece vir sequencialmente ao termo conversão, concordamos que ambos parecem estar associados ao trânsito religioso e à construção da identidade do sujeito, porém, é bom destacar que:. O termo adesão vem sendo utilizado em oposição ao conceito de conversão. Assim, o ato de adesão compreende qualquer forma de participação e assimilação em um movimento religioso, sem alteração sistemática do estilo de vida; ao contrário da conversão, que envolve mudança no sistema de valores e da visão do mundo. Em contraste, a conversão indica transição para uma identidade proscrita do universo dos discursos anteriores da pessoa, ´mudança que implica uma consciência de que uma grande mudança aconteceu, que o antigo estava errado e o novo é o certo´ (NOCK, 1933, p.6-7). Na conversão, a ideia de ´consolidação´, que envolve a adoção de um novo sistema de crenças ou de identidades, combina duas visões do mundo anteriores, todavia contraditórias, enquanto a conversão marca uma descontinuidade na vida do convertido (GOMES, 2011, p.159).. 22.

(23) Sobre o conceito de conversão e adesão, Rivera (2001: 231) propõe uma distinção entre eles: “a conversão é o encontro com o sagrado que transforma radicalmente a vida do convertido. A pessoa, convencida e constrangida por sua situação de pecado, passa por uma experiência marcada por fortes emoções e que determina o início de uma vida distinta, formando parte da igreja”. Em comunidades evangélicas étnicas, onde parte de seus frequentadores estão radicados no Canadá e outros estão ali apenas por um período, esses dados a respeito de como se dá o processo de conversão e adesão podem ter um significado importante para a identidade desses grupos. Há um crescente interesse, dos estudiosos, nos últimos anos pela comunidade brasileira no Canadá. Alguns desses estudos, como de Almeida (2014), Barbosa (2003), Goza (1999), Kulaitis (2013) e Vidal (2000), refletem o interesse por parte de alguns acadêmicos. Almeida (2014) ao falar sobre migração, religiosidade e redes sociais, destaca sobre as igrejas cristãs brasileiras no Quebec. Barbosa (2003) aponta para a condição dos migrantes brasileiros como um fenômeno novo e crescente. Goza (1999) também destaca sobre a migração brasileira para a província de Ontário. Kulaitis (2013), aborda o processo e percurso migratório de brasileiros para a província de Québec nos anos de 1990-2012. Vidal (2000), em sua tese de doutorado, relata a condição e a identidade do indivíduo-imigrante brasileiro em Toronto, apontando para o surgimento de identidades variadas que se manifestam de formas e em momentos diferentes. Esta pesquisa busca compreender melhor os processos de imigração de brasileiros para a região metropolitana de Toronto, mas queremos contribuir olhando a partir do papel da religião nestas comunidades batistas étnicas de língua portuguesa, um fenômeno desconhecido, especificamente o surgimento de diversas igrejas batistas a partir do ano de 1978, quando o primeiro missionário batista brasileiro, foi empossado no Ministério em Português da Igreja Batista Olivet, em Toronto, parceria da CBB e da CBOQ, buscando verificar quais foram as razões que trouxeram o surgimento e a adesão a essas comunidades. O número de brasileiros no Canadá, especialmente na GTA, o crescimento deste grupo a partir dos anos 2000, as igrejas batistas que trabalham com esses brasileiros, nos levou a indagar quem é este imigrante e discutir essas questões ligada ao campo da migração, identidade e religião que compõem essas comunidades. Sidney Silva comenta que:. cruzar fronteiras tornou-se um ato comum no mundo contemporâneo, em razão das múltiplas opções de mobilidade colocadas à disposição dos viajantes. Entretanto, há uma grande diferença entre aqueles que o 23.

(24) fazem na condição de turistas e os que migram em busca de uma vida melhor, enfrentando barreiras jurídicas, exploração de sua mão-deobra, discriminação, entre outros desafios (SILVA 2005, p.1).. Whyte (2005) em sua obra etnográfica Sociedade de Esquina, foca num bairro chamado Cornerville, de imigrantes italianos em Boston. Ele se incomodava com a sensação de que desconhecia totalmente a população de uma área espacialmente tão próxima de seu circuito universitário de classe média naquele tempo, então propõe compreender a sua organização social existente ali e questiona os estereótipos que via tais áreas como caóticas, e a percepção dos “de dentro”, que “vêem em Cornerville um sistema social altamente organizado e integrado” (WHYTE, 2005: 21). Aplica-se aqui talvez, novamente, a ideia de “anomia” de Durkheim, a condição do imigrante: a língua é outra, os códigos culturais são novos, a situação da cidade é outra, tudo isso estabelece um processo necessário de adaptação de quem está numa condição anômica. Podemos aplicar essa ideia ao tratar a questão do ponto de vista do impacto da religião na vida desse grupo de imigrantes brasileiros. O investimento nesta pesquisa justifica-se, assim, pela necessidade de melhor explicar o fenômeno migratório no contexto batista para uma região específica. Nosso objetivo geral foi explorar o papel da religião, a partir de uma comunidade batista étnica de língua portuguesa na vida de um grupo de imigrantes brasileiros que vivem na região metropolitana de Toronto. Tentamos compreender de que maneira as práticas religiosas influenciam esse processo de chegada, adaptação e inserção na vida desses imigrantes. Uma cidade metropolitana como Toronto viabiliza a existência de igrejas étnicas como é o caso das igrejas batistas brasileiras que são objetos deste estudo - baseada em diferentes grupos de migrantes que em sua chegada ao Canadá e no processo de adaptação a uma nova cultura, organizam ou aderem a igrejas evangélicas batistas que reforçam a identidade deste grupo de origem e consequentemente, viabiliza a adesão de outros migrantes que chegam à cidade no dia-a-dia repetindo este processo de adesão e permanência. Temos como objetivos específicos nesta pesquisa:. A) Compreender o crescimento da migração brasileira no Canadá a partir dos anos 2000 e os motivos que despertaram o interesse da Convenção Batista de Ontário e Quebec a formar uma parceria com a Convenção Batista Brasileira a partir dos anos 1980, para alcançar a comunidade de migrantes de língua 24.

(25) portuguesa no Canadá, a partir da província de Ontário e a região metropolitana de Toronto;. B) Explicar o surgimento dessas igrejas batistas transnacionais de língua portuguesa no Canadá, apontando suas origens e oferecendo informações que nos ajudem a compreender e contextualizar esse grupo de igrejas que viria a formar a Associação das Igrejas Batistas de Língua Portuguesa no Canadá; C) Compreender: o perfil sócio-econômico e cultural destes imigrantes; como foi o processo de chegada e adaptação, saber se a igreja participou de alguma maneira nesta fase; como eles compreendem o papel da instituição religiosa criando essas conexões transnacionais, dando apoio aos imigrantes e suas famílias; D) Analisar algumas narrativas migratórias, suas histórias e como foi a busca por uma comunidade de fé nesse processo, quem são, de onde vem, onde estão, são perguntas que podem nos ajudar a compreender melhor este grupo. E) Compreender como a igreja se apresenta como lugar de pertença e rede de apoio para estes imigrantes. As igrejas fornecem uma variedade de auxílios aos imigrantes, queremos observar como acontece essa dinâmica frente à diversas necessidades mutáveis dessas pessoas.. A partir das entrevistas e pesquisa bibliográfica, buscamos descrever o início e o momento atual do trabalho realizado pelas igrejas batistas de língua portuguesa na região metropolitana de Toronto. Para delimitar a pesquisa, escolhemos focar no ministério em língua portuguesa da Central Baptist Church, em Oakville. Foram realizadas 15 entrevistas. Entrevistamos um grupo de famílias e casais, além de alguns líderes, que são membros (ou frequentaram) a CBCO, para nos ajudar a traçar o perfil sócio-econômico destes indivíduos, além de identificar os motivos de sua migração do Brasil para o Canadá e a influência da religião (igreja) na sua experiência migratória. Usamos pseudônimos para identificar os entrevistados. Realizamos dois períodos de pesquisa de campo nas regiões e igrejas em estudo. Fizemos previamente os contatos iniciais de modo a otimizar o tempo das duas viagens para observação participante. A primeira aconteceu no período de 24/01 a 11/02/2017 e a segunda 25.

(26) de 28/03 a 11/04/2018. Fizeram parte da pesquisa de campo participação de cultos aos domingos, foi possível visitar diversas famílias em seus lares e membros dessas igrejas em diversas ocasiões, aplicar as entrevistas, participação na 39ª Conferência de Páscoa, evento que reúne as igrejas da Associação. As entrevistas e a história da origem dessas igrejas também ofereceram ferramentas para identificarmos a trajetória destes imigrantes e o impacto da religião neste processo de chegada, inserção e adaptação. O pesquisador sendo um “insider-believer” (RODRIGUES, 2017), batista, mesmo com a limitação do tempo e período que esteve em pesquisa de campo, conseguiu ter acesso às reuniões de liderança, conversas com os membros e atividades religiosas sendo aceito com mais facilidade do que se fosse um “outsider”. Esse fato foi importante para concretizarmos os objetivos de nosso estudo com uma intensa vivência entre os eventos religiosos e sociais que tivemos acesso. Nesse período, visitamos e consultamos dois centros de estudos com esta temática ligados a Universidade de Toronto com trabalhos disponíveis para pesquisa em suas bibliotecas e online: Centre for Diaspora and Transnational Studies e o Munk School of Global Affairs. Outras fontes de informação para nossa pesquisa foram o banco de dados da Convenção Batista Brasileira, da Convenção Batista de Ontario e Quebec e da Associação das Igrejas Batistas de Língua Portuguesa no Canadá. Conseguimos obter dados importantes sobre demografia, educação, perfil do imigrante, dados gerais levantados pelo Censo Canadense, Ministério das Relações Exteriores do Brasil e diretamente com a Embaixada e Consulado Brasileiro em Ontario, para checarmos quais sãos os dados oficiais e a percepção do governo brasileiro a respeito deste grupo de migrantes. As entrevistas foram gravadas e posteriormente transcritas. Fizemos o registro fotográfico de alguns eventos e locais para melhor ilustrar o contexto de alguns relatos. Houve complementação de dados à distância, necessários para esclarecimento e obtenção de algumas informações, pelas mídias digitais via e-mail, whatsapp e Skype. A tese foi dividida em quatro capítulos. No primeiro capítulo, fazemos uma introdução sobre o fenômeno migratório global, apresentando dados gerais sobre a migração brasileira e canadense; o crescimento da migração brasileira no Canadá e os motivos que despertaram o interesse da CBOQ a formar uma parceria com a CBB a partir dos anos 1980, para alcançar a comunidade de imigrantes de língua portuguesa no Canadá. O segundo capítulo busca demonstrar a importância da história da plantação das igrejas batistas transnacionais de língua portuguesa no Canadá, apontando suas origens e oferecendo informações que nos ajudem a compreender e contextualizar esse grupo de igrejas que viria a formar a Associação das Igrejas Batistas de Língua Portuguesa no Canadá. 26.

(27) Analisamos no terceiro capítulo algumas narrativas de brasileiros batistas que migraram com suas famílias. Suas histórias nos ajudam a entender como foi o processo de adaptação e integração na sociedade canadense, apontando as características gerais de suas experiências. Buscamos compreender no quarto capítulo o papel da CBCO como uma igreja canadense que optou por tornar-se uma igreja étnica desejando integrar os imigrantes de língua portuguesa de sua região, observando a história de migração de seus líderes e membros, seu ambiente transnacional, criando conexões e apoio a essa rede de imigrantes e suas famílias. A pesquisadora britânica Olívia Sheringham trabalhou em sua tese de doutorado, posteriormente publicado em livro com o título “Transnational Religious Spaces: faith and the Brazilian Migration Experience”, o papel da religião no dia-a-dia da vida de migrantes brasileiros em Londres, reconhecendo a importância da religião dentro dos processos transnacionais, relatando a experiência desse crescente grupo de migrantes no Reino Unido. Iremos dialogar com esse trabalho, transportando algumas das noções discutidas ali, tais como transnacionalismo, migração e identidade, como é o processo de deixar o Brasil, como se estabelecem essas congregações transnacionais nestes novos ambientes, mas aqui com a perspectiva da experiência migratória de brasileiros no Canadá, afirmando o importante papel dessas igrejas em prover apoio para o migrante, além de oferecerem espaços onde uma identidade coletiva pode ser moldada. A transnacionalização foi adotada como um novo campo para compreendermos a migração a partir de estudos de Glick-Schiller, Basch e Blanc-Szanton (1992) sobre os novos fluxos migratórios com diferentes grupos de migrantes para os Estados Unidos. Essas autoras perceberam que os novos migrantes mantêm múltiplas relações entre o local de emigração e a sociedade de destino. Esse enfoque transnacional reforça a emergência de um processo social que cruza fronteiras geográficas, culturais e políticas (SASAKI & ASSIS, 2000). Esse migrante batista brasileiro inserido em uma igreja étnica no Canadá, reforça essa perspectiva da transnacionalização, a perspectiva de perceber o migrante entre dois lugares, a sociedade de destino e a de origem. Devemos considerar os modos como instituições religiosas criam espaços religiosos transnacionais ao adaptar-se ao novo contexto, ao negociar espaços dentro de um ambiente desconhecido e ao suprir necessidades diversas dos imigrantes nesse espaço. Uma igreja étnica, como o caso dessas igrejas batistas de língua portuguesa no Canadá, está atenta para a possibilidade de segregação étnica – o risco de tornar-se um gueto. 27.

(28) Mas há um outro elemento chave do papel da igreja que é o de facilitar a integração do migrante na sociedade canadense. Assim como proteger o imigrante do sentimento de solidão ou as faltas que a imigração implica, a igreja pode ser fornecedora de uma estrutura moral em um contexto em que os migrantes de outra forma poderiam perder-se. Desejamos observar esta questão da inserção do migrante brasileiro do ponto de vista da religião, em um local como a região metropolitana de Toronto, buscando sua identidade em uma comunidade evangélica étnica. Para Valentini (2005: 17) as migrações “fazem parte integrante do próprio fenômeno humano, são inerentes à história humana, são indispensáveis tanto para compreender o passado como para projetar o futuro da humanidade”. Martine (2005: 37) aponta que:. para atuar sobre as migrações internacionais, no século XXI, é preciso entender como a globalização afeta os deslocamentos de população no espaço. (...) O migrante vive num mundo em que a globalização dispensa fronteiras, diariamente muda parâmetros, ostenta luxos, esbanja informações, estimula consumos, gera sonhos e, finalmente, cria expectativas de uma vida melhor.. É importante destacar que o migrante é aquele que se desloca física e geograficamente, mas também atravessa fronteiras não apenas físicas, mas simbólicas, como seus costumes, línguas e cultura. A anomia está vinculada a essas situações. O migrante é aquele que chega a um espaço onde as fronteiras são novas. Pode-se considerar o “migrante” como aquele que, ao se deslocar fisicamente, atravessa fronteiras estabelecidas, demarcadas. Ao mesmo tempo, o migrante é alguém que sai de uma ordem de sentido, de um regime de autoridade que definia sua identidade (KEARNEY; BESERRA, 2004), encaminhando-se, aventurando-se necessariamente em direção à procura de outras referências identitárias que interagem com as prévias. Assim, a migração implica necessariamente mudanças de identidade do migrante resultantes do processo de cruzamento de fronteiras de significado (RIVERA, 2017: 52). O grupo de migrantes brasileiros estudado em nossa pesquisa diferencia-se de outros trabalhos focados em migração brasileira no exterior, como de Margolis (2013), Rodrigues 28.

(29) (2017) e Sheringham (2013), por não ser exatamente um grupo de migrantes pobres, mas pessoas de classe média e alta, com alto grau de escolaridade e maioria com qualificação e experiência profissional. Rodrigues, em seu livro “O Evangélico Imigrante: o pentecostalismo brasileiro salvando a América”, afirma que a “religião é um elemento decisivo para a compreensão da vida social, das práticas institucionais/organizacionais e dos processos de mudança social” (RODRIGUES, 2017: 7). Seu trabalho é uma referência em sua descrição etnográfica e como análise antropológica sobre o crescimento das igrejas étnicas (neste caso, pentecostais) entre os imigrantes brasileiros no Estados Unidos, com um foco específico na área metropolitana de New York. Queremos assim também mostrar como as igrejas se constituem em importante rede de apoio, tanto para a saída do país como para a inserção dos brasileiros no local de destino. Rodrigues destaca que:. O fenômeno da globalização e os enormes fluxos migratórios transcontinentais estão provocando significativas mudanças sociais, econômicas, étnicas, religiosas e de identidade, fator que afeta tanto os imigrantes como os nacionais das sociedades de acolhimento (hostsocities). A religião desempenha um importante papel entre os imigrantes, ajudando-os a manter a sua identidade étnica e religiosa, enquanto, ao mesmo tempo, tentam se adaptar à nova cultura e à sociedade onde agora estão inseridos (EUBAUGH, 2003). Assim, desde o final da década de 1980, as atenções se voltaram para a função da religião em conferir identidade aos indivíduos e grupos, ou no reforço do sentido de identidade no contexto da diáspora (RODRIGUES, 2017: 9).. Um dos objetivos desta pesquisa é observar como as igrejas étnicas brasileiras e seus líderes religiosos assumiram um papel importante de amparo aos imigrantes, quando estes se depararam com as dificuldades da vida em uma cidade desconhecida. Considerando que os líderes religiosos são também migrantes, cujas experiências e convicção religiosa são muitas vezes negligenciadas, e precisam ser considerados como um importante fator de motivação. Por isso, é importante tentar compreender como a religião atravessa fronteiras ou é um lugar nesta fronteira, fazendo assim com que os processos transnacionais mais amplos interajam com os contextos locais. 29.

(30) Há diversos estudos que apontam para a importância da análise das redes sociais no processo migratório, como vemos em Boyd (1986), Massey (1990) e Tilly (1990). Destaca-se o processo das redes de migração e o papel que a família e amigos exercem auxiliando nas diversas etapas do processo migratório. As redes migratórias são compostas de um conjunto de laços sociais que ligam comunidades de origem a determinados pontos de destino nas sociedades receptoras (SASAKI & ASSIS, 2000). A igreja étnica reforça esses laços que unem migrantes e não-migrantes nesta complexa teia de papeis sociais.. As redes também transformam as categorias existentes. Os emigrantes levam consigo suas identidades étnicas que se alteram no contexto de migração, nas relações com a sociedade de destino e com outros grupos de migrantes. Assim, alguns elementos de identidade do país de origem são eleitos, negociados e reconstruídos no contexto de migração. Portanto, ao invés de um “transplante” coletivo, há uma recriação de laços sociais (SASAKI & ASSIS, 2000: 11).. Os migrantes frequentam essas igrejas étnicas para criar um senso de comunidade e família no Canadá, na ausência das redes familiares de apoio e sociabilidade. Essas instituições religiosas representam espaços para os migrantes manterem conexões com sua cultura – um ponto de contato com a identidade brasileira em terras canadenses. Ao se mudarem para um contexto metropolitano e internacional como Toronto, a igreja passa a ser um espaço de acolhida. O conceito tradicional de diáspora é o deslocamento forçado de uma população de sua terra natal (ROCHA & VASQUEZ, 2016: 8), tendo como modelo de paradigma o exílio dos judeus após a conquista do Reino de Judá e a destruição do primeiro templo pelos babilônios no século V a.C. Uma preocupação básica é não estender o significado deste termo, mas podemos compreendê-lo também como algo que se espalha, é disseminado. Neste caso, falamos de diáspora brasileira nessa dimensão, não necessariamente forçada, mas nessa dinâmica de se espalhar pelo mundo e no caso de nosso estudo, o Canadá. Essa pesquisa baseia-se em um caso de estudo do papel da religião dentro de um grupo migratório específico: brasileiros batistas na região metropolitana de Toronto. Os exemplos apresentados aqui fornecem importantes novos caminhos para estudos de migração e religião. O grupo batista que observamos aqui é uma pequena parte de um vasto campo religioso de diferentes denominações que tem surgido no Canadá, incluindo também centros espíritas, 30.

(31) candomblé e umbanda, além de outras expressões protestantes evangélicas, pentecostais e católicas. Novas pesquisas no futuro podem ampliar esse conhecimento, abordando estudos comparativos a partir destes grupos. Não conseguimos aprofundar aqui o impacto do papel da igreja étnica na vida daqueles que são segunda e terceira geração destas famílias, o que poderia também ser realizado em novas pesquisas. Nosso estudo considerou a religião como algo integral e não parcial ou separado das práticas e identidades de muitos migrantes, influenciando e sendo influenciado pelos aspectos social, cultural e material de suas vidas.. 31.

(32) CAPÍTULO 1 - MIGRAÇÃO BRASIL-CANADÁ E ESTABELECIMENTO BATISTA. 1.1.. Introdução. Neste capítulo, faremos uma revisão de dados que permitem entender o fenômeno migratório na sua dimensão global e atual. O Brasil, em sua história, sempre teve uma marca de um país de imigrantes e não de emigrantes, mas isso tem mudado a partir dos anos 80 quando muitos brasileiros deixaram o país em função da grave crise econômica que marcou esse período. É nesse contexto que devem ser considerados os dados gerais sobre a migração brasileira e canadense que na sequência apresentaremos neste capítulo. A migração do Brasil para o Canadá tem suas características próprias, entre elas uma política migratória clara promovida pelo governo canadense, que nos últimos anos tem alcançado um grupo qualificado de brasileiros interessados em participar desses processos de migração e experimentarem uma nova etapa e desafios em suas vidas. Apontaremos o crescimento da migração brasileira no Canadá e os motivos que despertaram o interesse da Convenção Batista de Ontário e Quebec (CBOQ) a formar uma parceria com a Convenção Batista Brasileira (CBB). A partir dos anos 1980, algumas igrejas associadas à CBOQ iniciam um trabalho com pastores missionários brasileiros para alcançar a comunidade de imigrantes de língua portuguesa no Canadá, a partir da província de Ontário e a região metropolitana de Toronto (GTA – Greater Toronto Area). Queremos compreender como essas instituições religiosas criam esses espaços religiosos transnacionais.. 1.2.. O fenômeno migratório global. A globalização está atualmente consolidada em várias áreas: serviços financeiros, internet, informação e muitas outras. Mas isso não quer dizer que a migração e o deslocamento a todas as regiões apresentem também esta realidade. Como proposto pelo sociólogo Anthony Giddens (1990), e discutido por Vásquez e Rocha (2016):. 32.

(33) (...) a globalização também resulta num processo de distanciamento radical, isto é, um processo de desenraizamento das relações sociais e padrões culturais de seus referentes locais, assim como na sua circulação por meio de redes e fluxos globais. Essas relações sociais e artefatos culturais (imagens, narrativas, identidades) podem então ser reapropriados e ressignificados em localidades muitas vezes longe das suas fontes originais” (VASQUEZ & ROCHA, 2016, p.6).. O estudo sobre o fenômeno migratório ganha destaque e relevância para aqueles que querem entender melhor o mundo globalizado de hoje. O conceito de migração envolve como referência no mínimo duas sociedades, a de origem e a de destino, além das especificidades dos grupos de imigrantes, cada um com sua história particular. Alguns dados nos ajudam a visualizar melhor o fenômeno migratório mundial. A Organização Internacional para as Migrações (OIM) apontava que havia no mundo em 1990, 90 milhões de migrantes; em 2000, 2,9% da população mundial eram migrantes, cerca de 175 milhões; em 2013 se aproximava de 213 milhões, ou 3,1% da população mundial. A OIM diz que o número de migrantes constituiria o quinto país mais populoso do mundo e que as mulheres representavam 49% deste número4. Um relatório sobre as Tendências de Migração Global da OIM5 do ano de 2015 baseado em estatísticas de uma variedade de fontes destaca que:  Em 2015, o número de migrantes internacionais em todo o mundo – pessoas que residem em um país diferente do seu país de nascimento – foi o mais alto já registrado, alcançando o número de 244 milhões. Como um retrato da população mundial, no entanto, a migração internacional manteve-se bastante constante nas últimas décadas, em torno de 3%. Enquanto as mulheres migrantes constituem apenas 48% deste número total internacional de migrantes em todo o mundo e 42% na Ásia, as mulheres constituem a maioria dos migrantes internacionais na Europa (52,4%) e na América do Norte (51,2%).  Os fluxos de migração Sul-Sul (em países em desenvolvimento) continuaram a crescer em comparação com os movimentos Sul-Norte (dos países em desenvolvimento para os países desenvolvidos): em 2015, 90.2 milhões de 4 5. Dados obtidos no site oficial da OIM: http://www.iom.int/jahia/Jahia/about-migration/facts-and-figures/lang/en Dados obtidos pelo site http://gmdac.iom.int/global-migration-trends-factsheet em 31/10/17. 33.

(34) migrantes internacionais nascidos em países em desenvolvimento residiam em outros países do Sul Global, enquanto 85.3 milhões nascidos no Sul residiam em países do Norte Global.  A Alemanha, comparada com outros países do mundo, tornou-se o segundo destino mais popular para os migrantes internacionais (em números absolutos), seguindo os Estados Unidos e antes da Federação Russa, com cerca de 12 milhões de estrangeiros residentes no país em 2015 (contra 46.6 milhões nos EUA e 11.9 milhões na Federação Russa). No entanto, como proporção da população do país anfitrião, o número de migrantes internacionais continua a ser mais elevado nos países do Conselho de Cooperação do Golfo (Gulf Cooperation Council): a população nascida no exterior representa 88,4% da população total nos Emirados Árabes Unidos, 75,7% no Catar e 73,6% no Kuwait.  Cerca de 1 em cada 5 migrantes no mundo vive nas 20 maiores cidades, de acordo com o Relatório Mundial de Migração 2015 da OIM. Os migrantes internacionais representam mais de um terço da população total em cidades como Sydney, Auckland, Cingapura e Londres. Pelo menos um em cada quatro residentes em Amsterdã, Frankfurt e Paris é nascido no estrangeiro.  O ano de 2015 viu os maiores níveis de deslocamento forçado registrados globalmente desde a Segunda Guerra Mundial, com um aumento dramático no número de refugiados, requerentes de asilo e pessoas deslocadas internamente em várias regiões do mundo - da África ao Oriente Médio e do Sul da Ásia. O mundo acolheu 15.1 milhões de refugiados até meados de 2015. Este é um aumento de 45% em comparação com três anos e meio atrás, em grande parte devido ao contínuo conflito na República Árabe da Síria, agora em seu 5º ano. Cerca de 8.6 milhões de pessoas foram deslocadas recentemente apenas em 2015.  Em 2015, a Alemanha também se tornou o maior destinatário de reivindicações de asilo individuais pela primeira vez em todo o mundo, com quase 442 mil pedidos apresentados no país até o final do ano. O número de pedidos de asilo em todo o mundo quase duplicou entre o final de 2014 e o primeiro semestre de 2015, passando de 558 mil pedidos pendentes no final de 2014 para quase 1 milhão até o final de junho de 2015. Este número continuou a aumentar, 34.

(35) chegando a cerca de 3.2 milhões de pedidos de asilo pendentes globalmente até o final de 2015.  No final de 2015, a União Europeia (UE) como um todo recebeu mais de 1.2 milhões de pedidos de asilo pela primeira vez, mais do dobro do número registrado em 2014 (563 mil) e quase o dobro dos níveis registrados em 1992 nos 15 Estados-Membros (672.000 candidaturas). O aumento em 2015 deve-se em grande parte ao maior número de pedidos de asilo dos sírios, afegãos e iraquianos.  Quase 1 em cada 3 candidatos de asilo pela primeira vez na UE eram menores de idade, um aumento de 9% em relação aos níveis de 2014; também, 1 em 4 destes foram julgados desacompanhados pelas autoridades nacionais - o maior número desde 2008 e um aumento de três vezes em números registrados em 2014.  O ano de 2015 também foi o ano mais mortal para os migrantes: o aumento dos níveis de deslocamento forçado a nível mundial foi tragicamente acompanhado por um número muito alto de pessoas que morrem ou desaparecem enquanto tentam atravessar as fronteiras internacionais. Mais de 5.400 migrantes no mundo todo morreram ou desapareceram em 2015. De acordo com o Projeto de Migrantes Desaparecidos realizado pela OIM, as mortes de migrantes durante a migração para a Europa aumentaram 15% em relação ao ano anterior, atingindo pelo menos 3.770.  De 2014 a 2015, ocorreu uma mudança importante e repentina nas rotas de migração irregular por mar para a Europa - com cerca de 853 mil chegando à Grécia, em comparação com quase 154 mil com a Itália, contra 34.400 e 170.100, respectivamente, em 2014.  Em 2015, o número de retornos voluntários dos migrantes (por exemplo, requerentes de asilo que falharam e outros grupos) dos países da UE foi pela primeira vez superior ao número de retornos forçados (81.681 contra 72.473). Além disso, o número de retornos voluntários acompanhados pela OIM dos Estados-Membros da UE, Noruega e Suíça em 2015 atingiu quase 56 mil.  Novas estimativas para o número de trabalhadores migrantes mostram globalmente que a grande maioria dos migrantes internacionais no mundo são trabalhadores migrantes. Os migrantes têm maior participação na força de 35.

(36) trabalho do que os não-migrantes, em particular devido à maior taxa de participação da força de trabalho para as mulheres migrantes em relação às mulheres não-migrantes.  As remessas financeiras continuam a subir globalmente, enquanto os custos de envio delas permanecem relativamente elevados. A soma das remessas financeiras enviadas pelos migrantes internacionais de volta às suas famílias nos países de origem alcançou um valor estimado de US $ 581 bilhões em 2015, dos quais mais de três quartos foram enviados para economias de renda baixa e média. Nas remessas do Tajiquistão constituíam mais de 40% do PIB do país. No entanto, os custos médios de transferência de remessas ainda estavam em 7,5% do montante enviado no terceiro trimestre de 2015, superior ao objetivo mínimo de 3% estabelecido nos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável a serem atingidos até 2030. Os custos de transferência de remessa são particularmente elevados nos Sub- África subsaariana - agora está em 9,5% em média.  Finalmente, a opinião pública em relação à migração a nível mundial é mais favorável do que comumente percebida - com a notável exceção da Europa, de acordo com um relatório da IOM-Gallup, "Como o Mundo Enxerga a Migração" (“How the World Views Migration”). O relatório é baseado em uma pesquisa Gallup realizada em mais de 140 países entre 2012 e 2014.. De acordo com relatório da Organização Internacional do Trabalho (OIT), a principal causa do crescente fenômeno migratório no mundo atual é o fato de que:. a globalização não gerou postos de trabalho nos países de origem. Esse processo criou um traço estrutural na economia mundial: a desigualdade. Além de concentrar ainda mais a riqueza, conduz à deterioração das condições de vida e ao deslocamento humano (BASSEGIO, 2005: 12).. As migrações acabam por expor a crescente desigualdade econômica e social entre as nações e tornam-se por vezes uma resposta às necessidades de demanda dos países industrializados por mão-de-obra barata e sem qualificação. A tendência do aumento das migrações internacionais dos países pobres para os ricos é resultante de uma concentração de 36.

(37) riqueza, saber e bens cada vez maiores que produz uma falta de perspectiva de um futuro melhor para os trabalhadores desses países. Não apenas o desemprego, mas a dificuldade de competir profissional e economicamente em seu país e para além dele, são fatores que contribuem para a migração em busca de uma melhor qualidade de vida, assim como as dificuldades para suprir as necessidades básicas de sua família (alimentação, moradia, educação, saúde e segurança). Resumindo, os migrantes, regra geral, são obrigados a deixar sua terra em busca de uma vida melhor em outros lugares ou países.. 1.3.. O fenômeno migratório brasileiro. Na história do Brasil, podemos dizer que os interesses econômicos das elites dominantes estiveram nos bastidores das grandes migrações. É o que vemos quando os nordestinos vieram para a região Sul e Sudeste em resposta aos interesses da indústria, ou quando os imigrantes europeus vieram substituir a cara mão-de-obra escrava, entre outros. O migrante vive na figura de trabalhador condições históricas resultantes de processos de violência e expropriação. Por outro lado, sua realidade social é definida pelos laços que o caracterizam como parte de um determinado espaço social e cultural:. Essas duas perspectivas conduzem a reflexões, segundo as quais, os fatores econômicos não são os únicos a ser considerados na análise da migração e dos migrantes. Dessa forma, os que partem fazem parte do conjunto dos que ficam. Partir e ficar são faces de uma mesma realidade social, que, embora dividida no espaço, acha-se unida no tempo. Tempo de partir para uns é, simultaneamente, tempo de ficar para outros. Portanto, produz-se uma simbiose entre o tempo uno, cindido em dois espaços (SILVA, M. 2005: 53-54).. Para Valentini (2005: 17) as migrações “fazem parte integrante do próprio fenômeno humano, são inerentes à história humana, são indispensáveis tanto para compreender o passado como para projetar o futuro da humanidade”. Martine aponta que:. 37.

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