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(1)1. UNIVERSIDADE METODISTA DE SÃO PAULO ESCOLA DE COMUNICAÇÃO, EDUCAÇÃO E HUMANIDADES PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM CIÊNCIAS DA RELIGIÃO. PAULO CAPPELLETTI. AS INTERFACES DAS TEOLOGIAS LATINO-AMERICANAS: APROXIMAÇÕES E DISTANCIAMENTOS ENTRE A TEOLOGIA DA LIBERTAÇÃO E A TEOLOGIA DA MISSÃO INTEGRAL. São Bernardo do Campo 2018.

(2) 2. PAULO CAPPELLETTI. AS INTERFACES DAS TEOLOGIAS LATINO-AMERICANAS: APROXIMAÇÕES E DISTANCIAMENTOS ENTRE A TEOLOGIA DA LIBERTAÇÃO E A TEOLOGIA DA MISSÃO INTEGRAL. Tese apresentada em cumprimento às exigências do Programa de Pós-Graduação em Ciências da Religião, para obtenção do grau de Doutor. Orientador: Prof. Dr. Jung Mo Sung.. São Bernardo do Campo 2018.

(3) 3. FICHA CATALOGRÁFICA. C173i. Cappelletti, Paulo As interfaces das teologias latino-americanas: aproximações e distanciamentos entre a teologia da libertação e a teologia da missão integral / Paulo Cappelletti -- São Bernardo do Campo, 2018. 218 p.. Tese (Doutorado em Ciências da Religião) --Escola de Comunicação, Educação e Humanidades, Programa de Pós-Graduação em Ciências da Religião da Universidade Metodista de São Paulo, São Bernardo do Campo. Bibliografia. Orientação de: Jung Mo Sung. 1. Teologia – América Latina 2. Missão integral 3. Teologia da libertação 4. Marxismo 5. Pobreza I. Título CDD 230.098.

(4) 4. A tese de doutorado sob o título As Interfaces Das Teologias Latino-Americanas: Aproximações E Distanciamentos Entre A Teologia Da Libertação E A Teologia Da Missão Integral, elaborada por Paulo Cappelletti, foi apresentada e aprovada com louvor em 26 de outubro de 2018, perante banca examinadora composta pelos professores Doutores Jung Mo Sung, (Presidente/UMESP), Ricardo Bitun (Titular/MACKENZI), Allan da Silva Coelho (Titular/UNIMEP), Helmut. Renders. (Titular/UMESP). e Lauri. (Titular/UMESP).. __________________________________________ Prof. Dr. Jung Mo Sung Orientador e Presidente da Banca Examinadora. __________________________________________ Prof. Dr. Helmut Renders Coordenador do Programa de Pós-Graduação. Programa: Pós-Graduação em Ciências da Religião Área de Concentração: Religião Sociedade e Cultura Linha de Pesquisa: Religião e Dinâmicas Socioculturais. Emilio. Wirth.

(5) 5. Dedico esta obra a dois grupos de pessoas que são especiais na minha vida.. O primeiro grupo são os pobres que costumam ser esquecidos e. injustiçados pela sociedade e que me fizeram enxergar um mundo diferente do que eu vivia, ao ponto de me tornar um deles e aprender o que é felicidade verdadeira. Apesar de sofrerem e lutarem para sobreviver, ainda assim, conseguem sorrir, se alegrar e festejar a vida que Deus proporcionou a eles. O segundo grupo, são os meus familiares, começando pela minha esposa Silvia, que nas horas mais difíceis nunca desistiu de orar por mim, e aos meus filhos Fernanda, Giovani e Maressa, que também me apoiaram ao compreenderam os motivos da minha ausência em determinados momentos..

(6) 6. AGRADECIMENTOS. Ao Deus da minha vida, pela sua bondade e misericórdia, que durante estes quatro anos me concedeu ânimo para continuar e vivenciar uma experiência maravilhosa de voltar para academia. Ao Professor Dr. Jung Mo Sung, pela sua paciência, amizade e pela forma que me conduziu nesta pesquisa, se tornando mais que um mestre, um amigo para todas as horas. Ao professor e amigo Dr. Helmut Renders pela motivação e por ter me apoiado na hora escura de meu mestre. Ao professor Dr. Claudio de Oliveira Ribeiro por participar da banca de qualificação desta tese, bem como por suas sugestões e críticas; Aos professores Dr. Ricardo Bitun, Dr. Allan da Silva Coelho, Dr. Helmut Renders e Lauri Emilio Wirth pela participação na banca de defesa desta tese. À minha família, Silvia, esposa sempre auxiliadora em todos os momentos; Giovani, filho amigo e professor; Maressa, filha animadora, piedosa e mulher de oração; Fernanda, filha sempre disposta a dividir as tarefas da casa para eu poder estudar; e ao meu filho Estêvão, que já está nos braços de Jesus me aguardando; agradeço aos missionários da Missão SAL, que compreenderam o momento da elaboração deste trabalho, e pela minha família maior que sempre com motivação, ajuda e presença marcaram a minha vida. À Secretária da Pós- Graduação da UMESP, Regiane, que sempre me atendeu com alegria e simplicidade. Aos amigos que deram sua colaboração lendo, questionando e ouvindo minhas reclamações, e por serem muitos não citarei os nomes para não ser injusto. A todos que de alguma forma me ajudaram a alcançar mais um degrau da minha vida acadêmica..

(7) 7. CAPPELLETTI, Paulo. As Interfaces das Teologias Latino-americanas: aproximações e distanciamentos entre a Teologia da Libertação e a Teologia da Missão Integral, São Bernardo do Campo, SP, 2018. 218 f. Tese (Doutorado em Ciências da Religião). São Bernardo do Campo, Universidade Metodista de São Paulo, 2018.. RESUMO O objeto de análise desta tese são as interfaces entre as duas teologias latino-americanas, a Teologia da Libertação e a Teologia da Missão Integral. Essas duas teologias têm em comum o contexto histórico-social da segunda parte do século XX em que o mundo passou por profundas transformações sociais, políticas, econômicas e religiosas. O mundo foi dividido em duas ideologias, a capitalista e a marxista, mas também entre os países ricos e os países subdesenvolvidos, pobres e dependentes. Na América Latina, era também o tempo de êxodo rural e industrialização, o que significa o grande deslocamento da população rural para as grandes cidades e, consequentemente, o crescimento e a visibilização dos pobres nas periferias das cidades. Esses fatores influenciaram diretamente no nascimento das duas teologias latinoamericanas: a Teologia da Libertação (TdL), que tem a sua origem no campo protestante, de linha ecumênica, e no campo católico; e a Teologia da Missão (TMI), que nasce no campo evangélico, também conhecido como os “evangelicais”, que procurou se distanciar do mundo protestante fundamentalista. No campo de estudos das teologias latino-americanas, há muito mais estudos sobre a TdL do que sobre a TMI e quase nada sobre a relação entre essas. Ambas têm em comum o objetivo de ajudar ou de liderar, em nome de Deus, da Igreja ou dos pobres, a libertação dos pobres dos sofrimentos da pobreza e opressão. Porém, essas teologias se viram como conflitantes ou em grande dificuldade para estabelecer um diálogo entre si. Diante disso, o escopo desta tese é exatamente entender “As interfaces das teologias latino-americanas”, em particular as suas origens, suas principais convergências – noção de encarnação na história, hermenêutica, Reino de Deus, libertação dos pobres – e diferenças – o lugar ou não do marxismo, o pobre como sujeito histórico ou a Igreja. Palavras-chave: Teologia, Missão Integral, Teologia da Libertação, Marxismo, Pobreza..

(8) 8. CAPPELLETTI, Paulo. The Interfaces of Latin American Theologies: Approaches and Distances between the Liberation Theology and the Theology of Integral Mission, São Bernardo do Campo, SP, 2018. 218 f. Thesis (Doctorate in Sciences of the Religion). São Bernardo do Campo, Methodist University of São Paulo, 2018.. ABSTRACT The analysis objects of this thesis are the interfaces between the two Latin American theologies, the Liberation Theology and the Theology of Integral Mission. Theses theologies have in common the historical-social context of the second part of the twentieth century, when the world has undergone profound social, political, economic and religious changes. The world was divided into two ideologies, the capitalist and the Marxist, but also into rich countries and underdeveloped countries, poor and dependents. In Latin American, it was the rural exodus and industrialization that means the large displacement of the rural population to the big cities and, consequently, the growth and the visibilization of the poor people on the edge of towns. These factors influenced directly on the birth of the Latin American theologies: Liberation Theology (LT), which has its origin in the Protestant field, of ecumenical line, and Catholic field; and the Theology of Integral Mission (TIM), which is from evangelical field, also known as “evangelicals”, that sought establish a distance from fundamentalist protestant world. In the studies field of Latin America theologies, there are more about the LT than about TIM and almost nothing about the relation between them. Both have in common the purpose of to help or lead, in name of God, of Church or of poor people, the liberation of poor from the sufferings of poverty and oppression. However, these theologies saw themselves as conflicting or in large difficult to establish a dialogue between them. Therefore, the scope of this thesis is understand exactly “The interfaces of the Latin American theologies”, in particular its origins, its main convergences - notion of incarnation in history, hermeneutics, Kingdom of God, liberation of the poor - and differences - the place or not of Marxism, the poor as historical individual or the Church. Keywords: Theology, Integral Mission, Theology of Liberation, Marxism, Poverty..

(9) 9. CAPPELLETTI, Paulo. Las Interfaces de las Teologías latinoamericanas: aproximaciones y distanciamientos entre la Teología de la Liberación y la Teología de la Misión Integral, San Bernardo do Campo, SP, 2018. 218 f. Tesis (Doctorado en Ciencias de la Religión). San Bernardo do Campo. Universidad Metodista de San Pablo, 2018.. RESUMEN El objeto de análisis de esta tesis son las interfaces entre las dos teologías latinoamericanas, la Teología de la Liberación y la Teología de la Misión Integral. Estas dos teologías tienen en común el contexto histórico-social de la segunda parte del siglo XX en que el mundo pasó por profundas transformaciones sociales, políticas, económicas y religiosas. El mundo se dividió en dos ideologías, la capitalista y la marxista, pero también entre los países ricos y los países subdesarrollados, pobres y dependientes. En América Latina, era también el tiempo de éxodo rural e industrialización, lo que significa el gran desplazamiento de la población rural hacia las grandes ciudades y, consecuentemente, el crecimiento y la visibilización de los pobres en las periferias de las ciudades. Estos factores influenciaron directamente en el nacimiento de las dos teologías latinoamericanas: la Teología de la Liberación (TdL), que tiene su origen en el campo protestante, de línea ecuménica, y en el campo católico; y la Teología de la Misión (TMI), que nace del campo evangélico, también conocido como los "evangélicos", que buscó distanciarse del mundo protestante fundamentalista. En el campo de estudios de las teologías latinoamericanas, hay mucho más estudios sobre la TdL que sobre la TMI y casi nada sobre la relación entre esas. Ambas tienen en común el objetivo de ayudar o de liderar, en nombre de Dios, de la Iglesia o de los pobres, la liberación de los pobres de los sufrimientos de la pobreza y la opresión. Pero estas teologías se vieron como conflictivas o en gran dificultad para establecer un diálogo entre sí. Por lo tanto, el alcance de esta tésis es exactamente entender "Las interfaces de las teologías latinoamericanas", en particular sus orígenes, sus principales convergencias - noción de encarnación en la historia, hermenéutica, Reino de Dios, liberación de los pobres - y diferencias - o lugar o no del marxismo, el pobre como sujeto histórico o la Iglesia. Palabras claves: Teología, Misión Integral, Teología de la Liberación, Marxismo, Pobreza..

(10) 10. ABREVIATURAS. ACA- Associações Cristãs de Acadêmicos ASEL- Ação Social Ecumênica Latino-Americana CEB- Confederação Evangélica do Brasil CCLA- Comitê de Cooperação para América Latina CEDI- Centro Ecumênico para Documentação e Informação CELA- Conferência Evangélica Latino-Americana CELAM- Conferência Geral do Espiscopado Latino Americano CEPAL- Centro Econômico Para América Latina CESEP- Centro Ecumênico para Evangelização e Educação Popular CIEE-Comunidade Internacional de Estudantes Evangélicos CIIC- Concílio Internacional de Igrejas Cristãs CLADE- Congresso Latino Americano de Evangelização CMI- Conselho Mundial de Igrejas CNBB- Conselho Nacional dos Bispos do Brasil CPS- Cristãos Pelo Socialismo DEI- Departamento Ecumênico de Investigação FTL- Fraternidade Teológica Latinoamericana FUMEC- Federação Universal de Movimentos Estudantis Cristãos IBGE-Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística IDAC- Instituto de Ação Cultural ISAL- Igreja e Sociedade na América Latina.

(11) 11. JUC-Juventude Universitária Católica MEB- Movimento pela Educação Básica TdL- Teologia da Libertação TdLC- Teologia da Libertação Católica TdLP- Teologia da Libertação Protestante TMI- Teologia da Missão Integral.

(12) 12. SUMÁRIO. 1 INTRODUÇÃO....................................................................................................................14 1.1 CONTEXTO HISTÓRICO DA AMÉRICA-LATINA.................................................22 1.2 (Re) Visitando a História da América-Latina................................................................24 1.2.1 O Surgimento da pobreza massiva aparente....................................................................24 1.2.2 As causas econômicas: estrangulamento financeiro e social do povo latinoamericano..................................................................................................................................27 1.2.2.1 Industrialização.............................................................................................................27 1.2.2.2 Êxodo Rural: esperança de um vida melhor.................................................................29 1.2.2.3 Desenvolvimento e Subdesenvolvimento.....................................................................32 1.2.2.4 Teoria de Dependência .................................................................................................36 1.3 Movimentos pensamentos revolucionários e causas políticas.......................................40 1.3.1 As Revoluções a partir de Cuba: um caminho para emancipação política e social.........41 1.3.2 Salvador Allende e a transição pacífica para o socialismo no Chile...............................44 1.3.3 Ditaduras Militares...........................................................................................................47 1.3.4 A Influência do pensamento de Paulo Freire para a América Latina e para a Teologia da Libertação e a Teologia da Missão Integral..............................................................................49 1.3.5 Os movimentos estudantis universitários e sua influência no nascimento das teologias latino-americanas......................................................................................................................52 Conclusão..................................................................................................................................56 2 O SURGIMENTO DA TEOLOGIA DA LIBERTAÇÃO................................................58 2.1 Teologia da Libertação.....................................................................................................61 2.2 Os primeiros passos para o surgimento da TdL............................................................66 2.2.1 O surgimento do ISAL: a construção de uma Teologia Protestante da Libertação LatinoAmericana.................................................................................................................................68 2.2.1.1 Segunda Consulta Latino-americana de Igreja e Sociedade: o envolvimento do movimento na revolução social com maior participação dos teólogos católicos.....................76 2.2.1.2 Terceira Consulta Latino-americana em Piriápolis, Uruguai: o longo caminho para a libertação...................................................................................................................................79 2.2.1.3 Quarta consulta em Naña: inclusão de outras instituições sociais, estratégias libertárias e a TdL como caminho novo para uma igreja nova..................................................................80 2.3 O encontro de Petrópolis: os católicos em busca de uma teologia latino-americana ...................................................................................................................................................82.

(13) 13. 2.4 Concílio Vaticano II: inspiração e abertura para uma TdL Latino-Americana........85 2.5 Encontro em Chimbote, Peru: a rejeição de uma teologia hegemônica e a proposta da teologia libertadora............................................................................................................89 2.6 CELAM II: influências e desenvolvimento da TdL.......................................................90 Conclusão..................................................................................................................................94 3 O SURGIMENTO DA TEOLOGIA DA MISSÃO INTEGRAL....................................96 3.1 Teologia da Missão Integral.............................................................................................98 3.2 Os primeiros passos para o surgimento da TMI..........................................................102 3.2.1 Congressos antecedentes ao CELA I (1949)..................................................................103 3.2.1.1 Edimburgo (1910): A rejeição da América Latina......................................................103 3.2.1.2 Conferência no Panamá (1916): Uma resposta a Edimburgo.....................................106 3.3 CELA I (1949): Abertura para o ecumenismo – início da bifurcação protestante...111 3.3.1 Eventos, históricos, movimentos teológicos entre o CELA I e II que influenciaram as bifurcações entre os protestantes na América Latina..............................................................112 3.4 CELA II (1961) agrega o movimento ISAL e se distancia dos fundamentos............116 3.4.1 Momentos históricos e eventos que marcaram a época do início do ISAL, em 1962, a CELA III e CLADE I, em 1969: a radicalização protestante fundamentalista e o enfraquecimento do ecumenismo latino-americano...............................................................117 3.5 CELA III: as exigências protestantes ecumênicas e o maior distanciamento dos evangélicos fundamentalistas...............................................................................................120 3.6 CLADE I: Primeiro Congresso Latino Americano de Evangelização (1969): uma proposta para os insatisfeitos...............................................................................................121 3.7 O surgimento da Fraternidade Teológica Latino Americana (FTLA), organização impulsionadora da TMI........................................................................................................124 3.8 Primeira Consulta Evangélica sobre Ética Social e as críticas dos pensadores da FTLA contra o ISAL: estabelecendo diferenças................................................................130 3.9 Congresso Mundial de evangelização em Lausanne, Suíça (1974).............................132 Conclusão...............................................................................................................................137 4 CAPÍTULO IV - AS INTERFACES DAS TEOLOGIAS LATINO-AMERICANAS: DISTANCIAMENTOS. E. APROXIMAÇÕES. ENTRE. A. TEOLOGIA. DA. LIBERTAÇÃO E A TEOLOGIA DA MISSÃO INTEGRAL..........................................139 4.1 A Hermenêutica da Dupla Contextualização...............................................................141.

(14) 14. 4.1.1Encarnação, tema central na aproximação entre as teologias.........................................147 4.1.2 Práxis como primeiro e segundo ato das teologias........................................................148 4.1.2.1 Práxis: definição e posicionamento nas teologias......................................................149 4.1.2.2 O posicionamento da práxis na Teologia da Libertação.............................................149 4.1.2.3 O posicionamento da práxis na Teologia da Missão Integral.....................................151 4.1.3 Uso do instrumental marxista e o distanciamento das teologias....................................153 4.2 Pobre e Pobreza: as perspectivas das teologias............................................................159 4.2.1 O pobre e a pobreza na perspectiva da Teologia da Libertação.....................................160 4.2.2 O pobre e a pobreza na perspectiva da Teologia da Missão Integral.............................164 4.3 Reino de Deus: na perspectiva das teologias................................................................167 4.3.1 O reino de Deus na perspectiva da TdL.........................................................................168 4.3.2 O Reino de Deus na perspectiva da TMI.......................................................................172 4.4 Igreja: na perspectiva das teologias..............................................................................174 4.4.1 A Igreja na perspectiva da Teologia da Libertação ......................................................177 4.4.2 A igreja na perspectiva da Teologia da Missão Integral................................................180 4.5 Justiça Social: definição e a sua perspectiva nas teologias .........................................182 4.5.1 A Justiça Social na perspectiva da Teologia da Libertação...........................................182 4.5.2 A Justiça Social na perspectiva da Teologia da Missão Integral...................................184 Conclusão................................................................................................................................187 CONCLUSÃO.......................................................................................................................190 REFERÊNCIAS....................................................................................................................200.

(15) 15. 1 INTRODUÇÃO. Em minha caminhada cristã e de ministério, particularmente a evangelização, durante muito tempo, teve um lugar importante nas reflexões e práticas pastorais. Porém, quando comecei um envolvimento modesto com as pessoas consideradas excluídas na sociedade, pude perceber, através de encontros, que os problemas destas sobrepujavam ao Deus da minha concepção “cristã”, pela qual tinha o maior zelo. Assim, eu precisava encontrar um caminho para entender melhor a crise pessoal que se instaurara. Motivado a conhecer mais sobre esses problemas e pelo fato de certos cristãos não se importarem com as diferenças sociais existentes na sociedade, tive conhecimento sobre a pósgraduação da Universidade Metodista de São Paulo. Apoiado pelo Dr. Jung Mo Sung, meu orientador, pude minimizar a minha angustia com a conclusão do curso de mestrado, o que me permitiu compreender melhor a minha luta, e por tudo isso sou grato a ele, o qual hoje eu considero meu discipulador e amigo, que me apresentou os escritos de José Comblin – teólogo, escritor e conferencista belga, que viveu na América Latina de 1957 a 2012, onde dedicou sua vida inteira aos excluídos e à causa da Teologia da Libertação. Alcancei a titulação de Mestre em Ciência da Religião em 2012, com a dissertação denominada “Conversão e Justiça Social no pensamento de José Comblin”. Durante o período da minha carreira acadêmica em que desenvolvia as pesquisas de mestrado, cresceram as minhas responsabilidades, diante da comunidade evangélica brasileira, em comunicar e ensinar. Com a conclusão do mestrado, foram abertas as portas para minha carreira de professor na Faculdade de Teologia Sul Americana (FTSA) na cidade de Londrina, Paraná, onde há dedicação em ensinar e divulgar a Teologia da Missão Integral. Ademais, fui convidado a participar de um movimento denominado “Missão na Íntegra”, liderado pelo amigo Ariovaldo Ramos. Esse movimento começou a crescer e se tornar conhecido em todas as partes do Brasil e em alguns países – aproximadamente quarenta países – por divulgar a Teologia da Missão Integral. Mas quando um movimento no recorte evangélico protestante começa a ganhar relevância e apoio, as críticas se levantam e os ataques se tornam mais diretos para enfraquecêlo. Acontece que os críticos, sem terem muito conhecimento, iniciam uma demonização daquilo que os incomodam, assim, não foi diferente com este movimento. Nas últimas décadas, notei o surgimento de diversos artigos que tanto criticam como legitimam a Teologia da Libertação e a Teologia da Missão Integral, no entanto, não encontrei artigos ou livros que dialogam com essas teologias nascidas em uma realidade histórica de sofrimento da sociedade latino-americana. Além disso, o que intriga é a falta de uma leitura das.

(16) 16. teologias sem um pensamento apologético, de respeito aos pensadores das primeiras gerações no processo de surgimento dessas teologias. Por isso, creio na possibilidade de elaborar um trabalho que possa demonstrar as divergências e as convergências das mesmas, sem ser agressivo e sem favorecer a uma em contraposição a outra. Assim, entendi que essas teologias são novas e estão sujeitas a constantes revisões e críticas. Foi o que aconteceu com a Reforma e os reformadores. Um razoável número de debates, além de sofrimento, cercaram os passos desse movimento. Acredita-se que essas teologias resistiram às dificuldades e se firmaram, como outros movimentos suspeitos pela Igreja, os quais estão vivos até hoje. Cito, aqui, uma das críticas que foi dada por alguns teólogos fundamentalistas da atualidade, Augusto Nicodemos e Jonas Madureira1, que a TMI – Teologia da Missão Integral – é a versão evangélica da TdL – Teologia da Libertação. Outra afirmação foi que a TMI usa o Marxismo para se fundamentar. Assim, transformei tais premissas na problemática para esta pesquisa de doutorado: A Teologia da Missão Integral surgiu da Teologia da Libertação? Quais as diferenças e semelhanças entre elas? As duas teologias são claramente marxistas? Os referenciais – bíblico e/ou sociológico – para formulação dessas teologias são os mesmos? Diante disso, empenhei-me a estudar e pesquisar sobre as questões listadas acima, pois, acredito que esse processo de criação de movimentos teológicos da América Latina, a TdL e a TMI, merece ser aprofundado. Por esse motivo, voltei à academia em busca de maior entendimento acerca desses acontecimentos da história do cristianismo na América Latina entre os anos de 1949 a 1974. Dessa forma, o objetivo deste trabalho é encontrar as interfaces entre a Teologia da Libertação e a Teologia da Missão Integral. Usar-se-á o conceito da ciência da informatização denominado interfaces, cuja definição é, basicamente, “o nome dado para o modo como ocorre a ‘comunicação’ entre duas partes distintas, ou seja, existem características diferentes entre as partes e, portanto, não podem se conectar diretamente”. Com o uso deste termo se torna compreensivo a relação ou a comunicação entre essas duas teologias. As mesmas, algumas vezes, se comunicam por pensamentos aproximados, no entanto, nunca se unem entre essas duas vertentes cristãs latino-americanas. Essas vertentes cristãs – que juntam de um lado católicos e protestantes ecumênicos e de outro, evangélicos – são oriundas do mesmo contexto social e das mesmas décadas, 60 e 70, enraizadas no continente latino-americano, empobrecido devido à opressão e exploração. A. 1. https://www.youtube.com/watch?v=4QUyjud1sEg vídeo acessado em 25.07.2014;.

(17) 17. sociedade enfrentava problemas socioculturais, políticos e econômicos, tais fatos podem levar a suspeita de que uma teologia poderia ter nascida da outra. João Libânio sugere essa possibilidade quando afirma que: “ideia gera ideia e teologia engendra teologia” (LIBÂNIO, 2007, p.162). Assim, a TMI e a TdL poderiam ser explicadas no influxo de outras teologias, e haveria alguma possibilidade de uma dessas duas teologias serem a originária da outra. Apesar dessa aparência, estamos diante de duas teologias distintas, entretanto, estas nasceram do mesmo solo, da realidade histórica marcada pelos escombros da colonização e da dependência política e econômica que marcaram esse continente. Por isso, o tema desta tese, “As Interfaces das Teologias Latino-Americanas, as aproximações e distanciamentos entre a Teologia da Libertação e Teologia da Missão Integral”, surgiu da constatação de que existe no cristianismo da América Latina uma produção teológica específica e diferente, que escapa daqueles modelos de outros continentes. Carlos René Padilla, enquanto editor, organizou juntamente com outros colaboradores o livro Hacia una teologia evangélica latinoamericana, no qual há a descrição da necessidade de uma teologia própria para o continente. Nessa obra, ele afirma que o objetivo da formação da Fraternidade Teológica Latino-Americana é “unir o compromisso cristão à realidade histórica, sem se conformar com as fórmulas teológicas repetitivas, que tanto tem marcado a vida e a missão das igrejas evangélicas do continente” (PADILLA, 1984, p. 9, trad. nossa). Enrique Dussel diz que, por ser de outro continente e de outra época a teologia ensinada nesse continente, a teologia europeia não descobriu o pecado da dominação, ou seja, não houve a possibilidade de se pensar sobre o assunto.. O que eu quero dizer é que, talvez, toda a teologia que estudamos respondeu a certo mundo, que não é o mundo total de nosso tempo, porque deixou fora de sua reflexão o marginal, a periferia e oprimido. Então, essa teologia europeia, não descobriu o pecado da dominação desde o século XV. Ao não descobrir esse pecado, não descobriu que tipo de totalização a história humana realizou nos últimos cinco séculos. Assim é que, ao propor a salvação cristã dentro do sistema que eles creem único, caem em algo que não é real, pois o sistema exige outro tipo de salvação. Se defino mal o pecado, defino mal o processo de libertação. Se descubro o verdadeiro pecado, então também enquadro minha reflexão numa libertação que é total e mundial. Pois bem, a questão deve ser posta assim: a teologia europeia pensou que o ser-cristão é um sereuropeu-cristão. Qualquer outro tipo de ser-cristão se lhe escapou (DUSSEL, 1984, p. 152).. Percorrer esse caminho não é insistir em uma teologia, que alguns dizem que já passou (TdL), ou, da outra que estão querendo destruir (TMI), como querem fazer crer as correntes conservadoras e fundamentalistas. Passar – afirma Jon Sobrino (1998), um dos maiores expoentes da Teologia da Libertação – não é, em si, um problema. O problema é quando se.

(18) 18. passa pela história sem deixar rastros. No entanto, Sobrino salienta que a TdL nunca será esquecida, uma vez que passa dentro da história e deixa sua marca de perenidade. Crê-se que a Teologia da Missão Integral passa pela mesma situação, alguns com suas críticas querem destruí-la. Mas como diz Sobrino, a questão central é que, mesmo que tivesse passado, ela deixou suas marcas que não poderão ser esquecidas. Por essas razões, a pesquisa quer demonstrar que pode existir um franco diálogo entre elas, sem uma aversão apologética. Além disso, mostrar que as ciências sociais, políticas e econômicas podem cooperar com as teologias no entendimento da realidade. No caso da TdL, nota-se que todos os teólogos da libertação perceberam a importância de dialogar com as ciências sociais e humanas, principalmente com o instrumental de inspiração marxista, por razão de estas concederem uma postura de lucidez histórica, mais criticidade e instrumental analítico, revelaram as casualidades, os processos e os dinamismos estruturais, os funcionamentos e as tendências do sistema operante no continente (GIBELLINI, 1977). Por outro lado, apesar de Padilla reiterar que não é preciso ser marxista para afirmar que por de trás da pobreza, que fatidicamente assombra a América Latina, estão a injustiça e a exploração – o pecado institucionalizado em estruturas de poder em nível nacional e internacional (PADILLA, 2009). Ele também afirma que o diálogo com outras ciências é importante para elaboração da teologia no contexto latino-americano e estimulou o diálogo com as ciências humanas, tais como a economia, a sociologia, a política, a antropologia e a psicologia (PADILLA, 2011). Portanto, a pesquisa parte da hipótese de que existem alguns fatores que fazem as duas teologias se aproximarem e se distanciarem. O primeiro fator que indica uma aproximação é que elas nasceram da indignação diante da injustiça aplicada nesse continente sofrido por exploração e opressão; o segundo é a experiência da fé encarnada na história, pois essas teologias não são a-históricas nem a-políticas; o terceiro é que as mesmas buscam na bíblia os fundamentos de suas lutas por justiça e libertação; o quarto fator se encontra nos termos hermenêuticos, pois a chave hermenêutica é a mesma, a encarnação, é através dela que a história se torna importante para o fazer teológico. Por fim, o reino de Deus, para a TdL, acontece na história pela libertação dos pobres, enquanto que para a TMI o reino de Deus também acontece na história, mas pela luta da igreja contra a injustiça. No que se refere aos distanciamentos, o primeiro fator que faz com que as teologias se distanciem se dá pela análise de inspiração marxista. A TMI tem medo dessa análise porque compreende que os cristãos podem ser levados para o ateísmo e o comunismo. No entanto, para TdL não é possível a luta pela libertação sem o uso das ciências sociais e políticas de caráter.

(19) 19. crítico, isto é, na linha de pensamento dialético, que foi desenvolvido pela tradição de inspiração marxista; o segundo se encontra no sujeito dessas teologias: para a TdL é o pobre, mas para a TMI é a igreja; o terceiro fator se encontra na forma como os teólogos interpretam a fé, para a TdL a fé é histórica e impulsionadora dos cristãos para uma ação transformadora da sociedade, mas para a TMI a fé é salvífica e proselitista, porém, com responsabilidade social, por ser protestante acredita que após a conversão pessoal o cristão se transforma em um agente do Reino. O interessante no processo de construção deste texto foi observar e acompanhar as mudanças que aconteceram à medida que a pesquisa avançou e como certas questões se destacaram, ao passo que outras foram descartadas, a partir do próprio tema e de fontes pesquisadas, e de descobertas e orientações. É sabido que o pesquisador deve manter-se atento aos pensamentos e teorias dos autores que embasam a pesquisa, ainda que cada leitura seja uma interpretação e escolha para o autor da pesquisa. A partir desses apontamentos, percebe-se que esta pesquisa é um processo dialógico em que se aprende e se ensina ao mesmo tempo. A partir dela foi possível um aprendizado e uma realização pessoal, considerando que essas teologias foram elaboradas por pessoas que se entregaram a essa tarefa, sendo de um valor incalculável para a igreja cristã latino-americana. Para atingir o propósito deste trabalho foram inevitáveis algumas escolhas e, com isso, os recortes necessários para que se chegasse a definir o tema “As interfaces das teologias Latino-Americanas, aproximação e distanciamento entre as teologias da Libertação e Missão Integral”. Na ocasião do exame de qualificação, recebeu-se importante impulso no sentido de focalizar a pesquisa, concentrando o tema na contribuição que alguns teólogos – católicos e evangélicos – deram para as teologias da Libertação e da Missão Integral, a partir da realidade histórica latino-americana como pano de fundo contextual do surgimento dessas teologias. A pesquisa bibliográfica foi adotada como metodologia para a realização desta pesquisa, sendo que por se tratar de duas teologias debatidas por diversos pensadores, algumas dificuldades surgiram na escolha para a base teórica. Por um lado, os teólogos da libertação na América Latina eram muitos e a maioria deles elaborou, de alguma forma, o processo de surgimento dessa teologia. No início da pesquisa, usamos somente os livros de autores católicos que tendem a apresentar uma visão católica da origem da TdL, no entanto, na trajetória da pesquisa foi encontrada uma tese de doutorado de Allan Preston Nelly, da Universidade de Washington, do ano de 1977, entitulada: Protestant Antecedents of the Latin American Theology of Liberation, (Os Antecedentes Protestante da Teologia da Libertação da América Latina), que provavelmente os editores norte-americanos não tiveram interesse em publicar por.

(20) 20. se tratar de um fenômeno latino-americano. Todavia, para esta pesquisa, o pensamento de Nelly se tornou importante por estudar o surgimento da TdL a partir de outro viés e não pelo catolicismo. Nesta pesquisa, havia uma suspeita sobre esse assunto quando foi iniciada a leitura do livro dos irmãos Clodovis Boff e Leonardo Boff, denominado Como fazer teologia da Libertação? , em que os mesmos afirmaram a participação de teólogos católicos em um encontro do movimento denominado Igreja Sociedade para a América Latina (ISAL) que era estritamente protestante, mas abertos para o ecumenismo. Vários livros de José Miguez Bonino também foram descobertos, mas para determinadas partes desta pesquisa foi essencial o livro Rosto do Protestantismo Latino-americano. Esse autor protestante participou das primeiras formulações da TdL, além disso, teve a sua liderança ecumênica, portanto, Bonino não poderia faltar em um projeto como este. Aos teólogos da libertação cabe, enfim, o mérito de terem redespertado leigos, padres, pastores e bispos da América Latina aos deveres sociais e políticos de sua vocação e de seu ministério. Fora do plano especulativo, os teólogos da libertação devem ser admirados pela coragem com que denunciaram tantos abusos de poder: a injustiça, a violência, a tortura, a opressão e tudo o que degrada e deforma o homem. É sobre este terreno da defesa dos direitos fundamentais da humanidade que se mede a autenticidade e a consistência da fé cristã (pois, sem obras, uma fé está morta) (MONDIN, 1980, p. 159). O capítulo dois é resultado dessas sugestões. Por outro lado, no caso de teólogos da Missão Integral e com vínculo ao Movimento de Lausanne, não houve dificuldade na questão da escolha dos autores, pois o estudo direcionou a pesquisar às obras de Carlos René Padilla – especialmente, a obra Missão Integral, o reino de Deus e a igreja – e Samuel Escobar, e Arana e Orlando Costa. Além disso, cabe afirmar que o desenvolvimento da Teologia da Missão Integral dependeu da influência do evangelicalismo euro-americano, que foi originário de dois movimentos: pietismo e puritanismo. Com todas essas influências, o evangelho chega ao hemisfério Sul com uma deformação e um puro legalismo. Os missionários protestantes euroamericanos, oriundos dos movimentos acima citados, desencadearam alguns congressos iniciados aproximadamente nos anos vinte, na América Latina, por causa do anseio dos autóctones de se obter uma contextualização da Palavra de Deus. Com o tempo, notou-se o início do deslocamento da autoridade que estava sobre os missionários euroamericanos para os pastores e missionários latino-americanos, e o surgimento de nova geração de teólogos latino-americanos com novos discursos teológicos e.

(21) 21. missionários. Tais contribuições tornaram-se significativas para o desenvolvimento do terceiro capítulo desta tese. Na busca em encontar o surgimento e as interfaces dessas teologias na América Latina, foi preciso retomar as pesquisas sobre alguns congressos e movimentos, tanto católicos como evangélicos protestantes. Em primeiro lugar, delimitou-se o período, que inicia em 1949 e termina em 1974. Sendo assim, os congressos que ficaram fora desses limites não são foco deste trabalho, mas alguns congressos anteriores a esta data podem ser citados por serem importantes para clarear o entendimento sobre o surgimento das teologias abordadas. Com isso, são deixados de fora os movimentos e as reformas anteriores ao século XX que estavam ou nasceram no hemisfério norte. Com essas delimitações não se intenciona dar a impressão de que tanto as teologias, movimentos e as reformas que aconteceram em séculos passados e em outro hemisfério2 não são relevantes para história do cristianismo e da América Latina, mas, se não fossem tais recortes, não se daria conta e nem haveria tempo hábil para elaborar esta tese. Ao definir os limites e os pensadores para a construção dos capítulos sobre os surgimentos dessas teologias, percebe-se a importância da realidade histórica da América Latina e como esse contexto influenciou as duas perguntas que exigiram respostas claramente teológicas. As perguntas foram elaboradas pelos pensadores das teologias estudadas e que, de formas aproximadas, contribuíram para o surgimento delas. Para os Boff, a pergunta que incitou os teólogos da TdL foi: “Como ser cristão num mundo de miséria?” (BOFF, C.; BOFF, L., 1979, p 21). Para Padilla, assim como seus companheiros do TMI, a pergunta feita pelos seus professores, que perseguiu este teólogo por vários momentos de sua carreira foi: “Por que, por exemplo, em um continente que é tido como cristão, há tanta injustiça social, tanta exploração e opressão?” (PADILLA, 2016, p. [1]). Essas perguntas são chaves também para este trabalho. É fato que nesta pesquisa não foi possível dar atenção a todos os fatores que marcaram a história da América Latina, e sim àqueles dos quais os próprios teólogos discutiram e foram importantes para o fazer teológico. Em primeiro lugar a pobreza, que se tornando visível, pois, tal como Samuel Escobar declara, essa população era quase invisível no passado. “Essa nova visibilidade daqueles que antes estavam ausentes foi chamada por Gustavo Gutiérrez de ‘surgimento dos pobres’, que estão se tornando os novos atores dos processos históricos” (ESCOBAR, 1997, p. 16). Esta afirmação, surgimento dos pobres, se desdobra nesta tese em. 2. Se não houvesse as delimitações supracitadas, sem duvida nenhuma caberia uma pesquisa da influência do Evangelho Social sobre as teologias latino-americanas, nascido nos EUA por volta de 1900, o mesmo é uma reação aos grandes problemas sociais dos centros urbanos nas cidades industriais. Com um dos seus percursores Walter Rauschenbusch..

(22) 22. outros problemas que intensificaram a pobreza, tais como: o êxodo rural e a industrialização. Além disso, os teólogos compreenderam uma nova categoria para entender a realidade do subdesenvolvimento e dependência. Como diz Escobar: “levando em conta as características próprias da comunidade evangélica em nosso continente, me atrevo a dizer que também ao falar de uma teologia latino-americana estamos condicionados pela situação cultural da dependência e subdesenvolvimento” (ESCOBAR, 1972, p. 23, trad. nossa). A maioria dos teólogos da libertação são diretos em adotar a teoria da dependência segundo o qual o subdesenvolvimento dos países pobres é o subproduto histórico do desenvolvimento de outros países (GUTIÉRREZ, 2000). A estrutura da tese está organizada e composta por quatro capítulos. No primeiro, apresenta-se – a partir das análises das obras de Darci Ribeiro, Milton Santos e Theotônio dos Santos, entre outros – uma leitura do contexto histórico, social e econômico onde as duas teologias sofreram as influências diretas do contexto de sofrimento. No capítulo dois, apresentase o surgimento da Teologia da Libertação a partir, especialmente, da análise das obras de Allan Preston Nelly e José Miguez Bonino, que apresentaram a construção dessa teologia a partir das duas vertentes cristãs, e Enrique D. Dussel, que na construção da história da teologia estudada fez um recorte para estudá-la somente pela vertente católica. No capítulo três, apresenta-se o surgimento da Teologia da Missão Integral, a partir da análise das obras de Carlos René Padilla, Samuel Escobar e Orlando E. Costas. E no quarto capítulo, vamos discutir as interfaces das Teologias Latino-Americanas, mostrando as convergências e as divergências entre a TdL e a TMI..

(23) 23. 1.1 CAPÍTULO I: CONTEXTO HISTÓRICO DA ORIGEM DAS TEOLOGIAS LATINO-AMERICANAS. Introdução. O objetivo deste capítulo é descrever o pano de fundo histórico, econômico, religioso e social da América Latina para obter uma melhor compreensão do surgimento das duas teologias caracterizadas como latino-americanas e denominadas Teologia da Libertação (TdL) e Teologia da Missão Integral (TMI). A condição histórica latino-americana nas décadas de 1950 a 1980 foi fortemente marcada por fatores que perpassaram quase todo o continente e assimilaram a dominação, a exploração e a espoliação, bem como a consciência de uma responsabilidade social crescente acerca da situação de miséria e pobreza e de suas profundas causas, com a emergência do processo de lutas pela libertação, que foram coeficientes que prenunciaram uma história a interpelar a reflexão teológica. Dessa forma, podemos dizer que as teologias surgidas na América Latina assumiram novas formas de sensibilidades na compreensão da história e no próprio papel do fazer teológico. Esse quadro permitiu uma situação para um grupo significativo de jovens teólogos, latino-americanos ou que imigraram para a América Latina, e não somente católicos, mas também protestantes formados em centros teológicos europeus e norte-americanos que, a partir do fim da década de quarenta, usufruíram das emergentes sensibilidades teológicas. Ao regressarem ou imigrarem para a América Latina, a partir da década de 1950, se depararam com uma realidade histórica de dominação, opressão e espoliação – herança da época colonial, tendo em vista que essa realidade histórica nunca deixou o povo latino-americano – e com a crescente consciência dos grupos sociais, políticos e ideológicos envolvidos na luta contra as profundas causas da miséria, pobreza e injustiça vigentes no continente. As teologias, tanto a protestante quanto a católica, instaladas no continente latinoamericano nos séculos anteriores ao século XX, foram enfáticas na ortodoxia, mas se esqueceram da ortopráxia, isto é, se preocupavam com doutrinas corretas, porém, negligenciavam a prática concreta da fé dentro da realidade social e, por conta disso, não se fizeram eficazmente históricas. Esse tipo de cristianismo predominante no passado – e ainda hoje – para muitos cristãos contribuiu para separar os crentes das questões temporais e sociais privatizando sua fé (GALILEA, 1974)..

(24) 24. Destarte, este capítulo se concentrará em: a) Demonstrar os diferentes aspectos do contexto histórico social em que surgiram a TdL e a TMI, como a concentração da pobreza massiva nos centros urbanos por meio do êxodo rural e da industrialização. b) Apresentar a teoria do desenvolvimentismo, subdesenvolvimento e a teoria da dependência – que é de suma importância para a compreensão das teologias em nascimento. c) Relatar a importância da Revolução Cubana e sua influência no continente, sem a qual não haveria a possibilidade de se pensar um socialismo como o sistema alternativo ao capitalismo imposto pelas nações dominantes na época. d) Descrever o nascimento de alguns movimentos universitários – chamados de Revolucionários – e seus envolvimentos nas lutas políticas e sociais, que serviram como uma ponte de incentivo para os questionamentos sociais, políticos e culturais e até mesmo o próprio pensamento teológico. e) Apresentar alguns aspectos da vida e do trabalho de um educador brasileiro, nordestino, chamado Paulo Freire, que desenvolveu uma metodologia pedagógica que influenciou o continente, como também, os pensadores dessas teologias estudadas neste trabalho, e empoderou de tal forma o cidadão com alfabetização e conscientização da sua situação social e política. Assim, Freire se tornou subversivo e uma ameaça para o seu país de origem. Na sequência, será apresentada uma análise dos fatores supracitados com a intenção de detectar as influências dos mesmos no nascimento das teologias e saber como os teólogos foram influenciados também por estas causas e não somente pelas teologias tradicionais europeias, norte-americanas. Ademais, no presente capítulo se agregará o pensamento de Clodovis Boff – por ser mais ampla a sua pesquisa e por dialogar com outras ciências – com o intuito de descobrir os meios e os problemas envolvidos no surgimento de uma nova forma de se fazer teologia. Ele afirma que, “toda teologia paga tributo a dois fatores. Nasce em determinado contexto social e histórico, marcado, sobretudo pelas condições econômicas e políticas” (BOFF, 1996, p. 161). Diante disso, pode-se dizer que todas as teologias nasceram em locais específicos, em determinados contextos históricos e sob alguma influência social, religiosa, cultural, política e/ou econômica, ou seja, descobre-se que a realidade latino-americana não é um empecilho para as teologias, mas sim um ponto de partida, um terreno fértil para a elaboração de novos pensamentos, inclusive os teológicos. O momento de opressão, miséria, pobreza e injustiça no continente fez com que os teólogos percebessem que as teologias europeia e estadunidense não respondiam as aflições do povo sofrido da América Latina, e por esta causa se faz necessário demonstrar o itinerário histórico da pobreza nesse continente, para melhor entendimento sobre o berço das teologias focadas nesta tese..

(25) 25. 1.2 (Re) Visitando a História da América Latina. A importância de construir um pano de fundo histórico para as teologias latino- americanas, revisitando a história de pobreza, miséria, injustiça e consciência social revolucionária, consiste em demonstrar que essa realidade histórica com toda sua evolução é um campo fértil para a gestação de abundantes transformações sociais, ideológicas, políticas, econômicas, culturais e religiosas e até mesmo para a criação de novas teologias.. 1.2.1 O surgimento da pobreza massiva aparente. Fato é que a pobreza das massas na América Latina se realizou pela exploração, opressão, modernização e principalmente pela explosão demográfica nas cidades. Uma e outra estão ligadas direta e indiretamente às influências externas e internas dos países latinoamericanos. O êxodo rural – ligado aos fenômenos precedentes e tendo assumido proporções importantes na década de 1950 – também foi apontado com recorrência nos estudos das ciências humanas, assim como em documentos de planejadores, como sendo uma das causas da pobreza massiva na América Latina. Segundo estes, a economia urbana não estava em condições de acolher a grande quantidade de migrantes, fazendo com que inúmeros deles passassem por empobrecimento e precárias condições de vida, além de viverem em centros urbanos lotados. Na América Latina, os pobres sempre foram imperceptíveis. Eles estavam espalhados no continente devido à multicultura na agricultura voltada somente para a subsistência interna e muitas vezes familiar. Com a implantação da “maquinização” no campo, a multicultura foi transformada em monocultura visando o maior lucro que poderia atingir exportando esses produtos demandados pelos países ricos. Os camponeses pobres foram expulsos do campo, o que deu início ao êxodo rural que resultou na aglutinação de pessoas nas grandes cidades e a pobreza massiva se tornou aparente à sociedade e também à igreja. Na medida em que o ritmo da urbanização se acentuava, devido à intensificação das migrações internas, as populações migrantes passaram a se localizar na periferia ou nas áreas decadentes das grandes metrópoles, passando a ser denominadas como “população marginal” (KOWARICK, 1973, p.13). Para a CEPAL, populações marginais e “submarginais” são formadas com frequência nos limites dos níveis de subsistência. “Foi o preço mais notório que as grandes cidades latino-.

(26) 26. americanas tiveram de pagar para conciliar as altas taxas de incrementos de sua população com os baixos níveis de produtividade de sua estrutura econômica” (CEPAL, 1973, p.98). A presença de favelas, difundidas no espaço urbano no período de 1945 a 1960 indica um fenômeno mais geral, a saber, “a existência de um setor maciço da população urbana em condições marginais dos pontos de vista econômico, social e político3”. A marginalidade outrora vista como uma habitação degradada e deficiente passou a ser primeiramente uma maneira de viver para então ser descrita como uma situação de vida, pois na marginalidade se encontrava um grande número de contingentes com diversos problemas, tais como: baixo nível de renda, educação deficitária, subemprego, desemprego, desorganização familiar e falta de participação social. Para Milton Santos (1978), os pobres não são socialmente marginais, e sim rejeitados, não são economicamente marginais, e sim explorados; não são politicamente marginais, e sim reprimidos. De acordo com tal pensamento, isso significa que o conceito de marginalidade não representa corretamente as massas da população da periferia e, além disso, deixa de ser contundente como o conceito da pobreza, que demonstra indignação e denuncia a sociedade dominante e opulenta. Por conseguinte, nesta tese se fará uso dos conceitos de pobre e pobreza. Vale ressaltar ainda que a pobreza aparente4 não era somente causada pelo êxodo rural e a industrialização, mas também por questões políticas, econômicas, culturais e religiosas defendidas pela sociedade dominante da época. O poder político empobrecia as massas periféricas por administrar arbitrariamente sempre em vantagem dos ricos e dos poderosos, fazendo amplo uso da força e da violência (MONDIN, 1980). O fator econômico estava marcado pela miséria e pela pobreza da maior parte da população. Os recursos econômicos eram controlados por uma minoria privilegiada, como alega Tavares:. Enquanto a maior parte da população apresenta um nível de renda muito baixo, que praticamente a coloca à margem dos mercados monetários, as classes que gozam de rendimentos elevados ostentam níveis e esquemas de consumo iguais às dos grandes centros europeus (TAVARES, 1969, p. 152).. Com essa afirmação, além do controle econômico, Tavares coloca também no foco a vontade dos opulentos da América Latina em assumir uma identidade europeia e por isso ostentavam sua posição. Esse foi um dos problemas da minoria abastada do continente, o de não querer ser latino-americano, mas almejar uma vida europeia e, assim, as indústrias e o 3. Para essa análise, a CEPAL (1973) levantou dados sobre emprego, renda, condições habitacionais, saneamento básico. 4 Aparente neste texto é de aparecer, algo que estava escondido que passa a ser visto..

(27) 27. comércio deveriam estar voltados para a substituição de importação com a imitação dos produtos importados para sustentar os prazeres dos dominantes. No ambiente cultural pôde-se notar a mesma dinâmica e pobreza de pensamentos, bem como a identidade e a valorização dos pensamentos europeus na filosofia, na arte e na literatura. Quase nada era concedido à originalidade das populações latino-americanas, o que não significava que a criação havia sido abolida das fronteiras. A desvalorização não impediu o desenvolvimento, mesmo que lento, do fator cultural. Outro fator a ser destacado é o conservadorismo da religião. Comblin descreve a situação religiosa de uma forma esclarecedora:. Até a Grande crise de 1929, a Igreja, e as massas dos católicos que se identificam com ela, ficaram totalmente ligadas à ordem constituída e à tendência mais conservadora desta ordem. Onde existe um partido conservador, este partido é o da igreja. De 1930 a 1968, a igreja latino-americana se afasta progressivamente e definitivamente dos partidos conservadores e se dedica em animar movimentos de ação indireta. Todavia, existem partidos conservadores e movimentos tradicionalistas formados por católicos, mas eles não mais podem invocar a autoridade da Igreja5 (COMBLIN, 1975, p. 140141).. Diante dos dizeres de Comblin, nota-se que a religião assumiu uma posição de apoio aos partidos de dominação, ou seja, a Igreja estava também do lado dos poderosos; a pobreza aumentava sobremaneira e os povos continuavam sendo massacrados. Porém, setores das comunidades cristãs mudaram de lado em um processo de validação das teologias que haveriam de nascer. Esses fatores – que geravam a pobreza massiva visível – pareciam naturais, inevitáveis e necessários para todas as nações latino-americanas. Dessa forma, a América Latina tornou-se totalmente dependente dos países europeus e norte-americanos e, por consequência, colonizável novamente. Por isso, pode-se dizer que a pobreza aparente – termo usado por Gustavo Gutiérrez – se dá quando é observado um conglomerado de pessoas sem condições de sobrevivência nas cidades. As consequências da pobreza no campo fazem com que o camponês busque uma forma de subsistência e inicia-se um êxodo rural, objetivado a instalar-se de forma digna nos centros urbanos com a expectativa de serem empregados nas indústrias. Contudo, a forma como estava construída a sociedade latino-americana possibilitava somente aos dominantes obterem melhorias de vida, tanto na agricultura quanto nas cidades. Por esses motivos, torna-se necessário um apontamento mais detalhado dos problemas que tornaram a pobreza aparente.. 5. Para uma história da Igreja da América Latina vide Dussel, Enrique. Caminho de Libertação latino-americana, São Paulo, SP, Editora Paulinas, 1984..

(28) 28. 1.2.2 As causas econômicas: estrangulamento financeiro e social do povo latino-americano. Este capítulo está centrado no pano de fundo histórico da América Latina para monstrar as causas da pobreza, e com isso, o nascedouro das teologias nesse continente, portanto, é necessária uma explicação dos pensamentos sobre modelos de sistemas econômicos vigentes da época, ainda que de forma concisa, a fim de traçar um breve panorama acerca de algumas características dos pensamentos que sustentaram a exploração e a opressão do povo latinoamericano.. 1.2.2.1 Industrialização. Tendo em vista a grande proporção da Primeira Guerra Mundial (1914 a 1918), os países industrializados da época deixaram de exportar aos países da América Latina um volume considerável. Frente a essa insuficiência de produtos industrializados, algumas nações do continente iniciaram a fabricação de vários produtos para suprir o abastecimento do mercado interno. A Crise de 1929 – chamada de Grande Depressão – foi outro fator que incentivou o processo de industrialização da América Latina. Com a queda da bolsa de Nova Iorque, os Estados Unidos reduziram, não pagaram e cortaram as compras de produtos agrícolas e matérias-primas. Com menos dinheiro, os países latino-americanos deixaram de investir, gerando desemprego e miséria e o surgimento, em quase todo o continente, de indústrias nacionais para a fabricação de seus produtos. Com o término da Segunda Guerra Mundial (1939 a 1945), os grandes grupos empresariais oriundos de países industrializados da Europa, como os Estados Unidos e o Japão, buscaram uma nova forma de expansão comercial com a dispersão de empresas multinacionais em direção aos países da América Latina e outras regiões do mundo. A industrialização operava como uma nova via de incorporação histórica equivalente àquela que libertou os povos latinoamericanos da dependência ibérica para submetê-los à inglesa e depois à americana (RIBEIRO, 1978). Santos coloca na modernização um fator importante para se entender a industrialização e para compreender a modernização e a pobreza no campo e na cidade. O investimento de substituição das importações, necessário à modernização tecnológica, desloca de suas atividades uma boa parte daqueles que ali aplicavam capital ou trabalho..

(29) 29. De acordo com a fórmula sugerida por Singer, a criação de empregos resulta no crescimento do desemprego. Isso não é um jogo de palavras. Com efeito, onde antes dois, três, ou às vezes uma dúzia de trabalhadores dividiam o trabalho, agora basta um trabalhador. E frequentemente esse novo cargo não caberá a nenhum daqueles que antes desempenhavam as atividades tradicionais originais (SANTOS, 1978, p.42).. Essa forma de modernização no campo, que substituía a mão de obra pela máquina, além de aumentar o desemprego e a miséria nos países, requeria um trabalho especializado, isto é, realizado por técnicos (que eram escassos no continente). O desenvolvimento tecnológico no campo obrigou os camponeses, minifundiários analfabetos e pobres a deixarem suas terras e procurarem outras formas de subsistência, logo, iniciou-se a busca de empregos fazendo com que os mesmos tivessem que migrar em massa para as cidades industrializadas tornando o êxodo rural uma realidade. Vale ressaltar também o crescimento da produção industrial da América Latina sob o efeito da economia de guerra, fator que favoreceu o processo de substituição das importações de produtos manufaturados por produções nacionais, sobretudo na esfera de bens de consumo (LOBO, 1970). Porém, essa industrialização não modificou substancialmente a situação, visto que a produção de bens de consumo sempre foi voltada à elite dominante. Essa afirmação leva a pensar na exclusão do pobre, que não podia adquirir os produtos que os ricos tinham acesso. A multidão de pobres trabalhava para satisfazer a minoria dominante. Além de concordar com as afirmações acima, Darcy Ribeiro acrescenta a intenção da chamada para a América Latina a participar da Revolução Industrial, consolidando a pobreza e a dominação dos países centrais e das elites internas.. Mas é também a via pela qual essas sociedades foram chamadas para participar da Revolução Industrial: a atualização histórica, imposta pelo efeito constritor da estrutura social gerida pelos agentes externos de dominação e pelas camadas privilegiadas internas, obstinadas a perpertuar-se, seja pela preservação de modo primitivo de ordenação social, seja pela transmudação condicionada à manutenção da ordem global (RIBEIRO, 2007, p.40).. Ao revelar as intenções das nações centrais e das elites latinas, também ficou evidente a maneira como as sociedades se organizavam, de uma forma estrutural para a dominação e subordinação da massa pobre ao ponto de estabilizar a sociedade por um longo período. A ênfase na industrialização, na maioria dos países, trouxe como consequência o descuido da agricultura, transferindo para as grandes cidades contingentes populacionais para serem empregados num setor industrial de futuro precário, fator que comprometeu formas de produção tradicionais..

(30) 30. 1.2.2.2 Êxodo Rural: a esperança de uma vida melhor. O êxodo rural é um fator fundamental para compreender o deslocamento da população nos centros urbanos e quais os desdobramentos desse fenômeno na sociedade. O campo estava se “tecnologizando”, a multicultura passava a se transformar em grandes monoculturas, os minifúndios se aglutinaram em grandes latifúndios pela exigência da exportação de grãos. Isso fez com que a produção agrícola para exportação, e a grande agroindústria se modernizassem e crescessem; porém, o mesmo não aconteceu com a produção de alimentos para o abastecimento interno, os quais vieram, em grande parte, dos pequenos e médios agricultores (OLINGER, 1991). Isso fez com que a modernização da agricultura favorecesse apenas a indústria e o comércio urbano, mas não a massa dos agricultores, principalmente os pequenos produtores, que compunha a expressiva maioria da população rural. A modernização agrícola acelerou a pobreza no campo fazendo com que os camponeses fossem centrifugados ou expulsos, como afirma Santos:. A agricultura também se moderniza: industrializando-se, expulsa sua população. Isso explica o êxodo rural e a chamada urbanização terciária. Uma alta percentagem da população fica sem atividade e sem salário permanente, o que por sua vez resulta na deterioração do mercado de trabalho (SANTOS, 1978, p. 45).. O único caminho possível para os pequenos agricultores eram os centros urbanos, pois o desemprego estrutural era fruto do lento crescimento da produção agroexportadora que não conseguia absorver a rápida expansão demográfica (SUNG, 1994). Os migrantes analfabetos e sem conhecimento tecnológico não eram admitidos pelas indústrias e acabavam se instalando na periferia das cidades. Por isso, Samuel Escobar declara que essa população era quase invisível no passado. ‘Essa nova visibilidade daqueles que antes estavam ausentes foi chamada por Gustavo Gutiérrez de “surgimento dos pobres”, que estão se tornando os novos atores dos processos históricos’ (ESCOBAR, 1997, p. 16). Nesse texto de Escobar, nota-se a preocupação dos teólogos das duas vertentes teológicas da América Latina: Escobar da TMI ao citar Gustavo Gutiérrez da TdL. Essa afirmação não é somente uma citação, mas a mesma inquietação vinda da população pobre do continente. O êxodo rural aconteceu, conforme as citações mencionadas anteriormente, por conta do desenvolvimento tecnológico, mas não se pode afirmar que esse foi o único motivo que levou o camponês a deixar seu trabalho. Além disso, o modelo urbano/industrial concentrador dos recursos humanos, financeiros e das decisões político-administrativas nas grandes cidades,.

Referências

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