Âprovado Pelo
033
Em..fLä/.Q_`t/__`1_š_›Qíiíflnn
Maria
Schmickle:Mhefc
do Depto. de Serv. S‹.,~¡_g1CSE-UFSC
A
sA
ÚDE
coMo
1›1RE1To.~
~~
Utopia
ou
Realidade
_`
Trabalho
de
Conclusão de Curso apresentado
ao Departamento
de
Serviço Socialda
Universidade Federal
de
Santa Catarina
para
obtenção
do
Títulode
Assistente Social,r
orientado
pela Professora
Mestre
Vera
M
4
Ribeiro Nogueira.
Florianópolis -
SC,
Julhode 1996
ao
meu
esposo, pelo seu
amor
e apoio;
aos
meus
irmãos
e
sobrinhos...amo
vocês!
à
memória
do
meu
irmão
Namir
Rodrigues
Bemardo;
à professora
Vera
pela orientação deste
trabalho;
à Assistente Social
Bernadete
do
campo
de
estágio
por
terpassado,
no
decorrer
deste,seus
conhecimentos.
INTRODUÇÃO
... ..05
CAPÍTULO
I -DOS
DIREITOS:
A
SAÚDE
COMO
UM
DIREITO SOCIAL
... .. 13
1.1.
PROCESSO
HISTÓRICO
DO
DIREITO
... .. 14
1.2.
CIDADANIA
E
DIREITO
A
SAÚDE
... ..
26
K19
A
REFORMA
SANITÁRIA
E
Os
NOVOS
DIREITOS
... ..
36
CAPÍTULO
II -AS
UNIDADES DE
SAÚDE
E
A
VIABILIZAÇAO
DA
GARANTIA DO
DIREITO
À
SAÚDE
... .. 512.1.
A
EQUIPE
TECNICA
-CONVEROENCIAS
E
DIVERGENCIAS
NO
DISCURSO SOBRE
A
QUESTÃO SAÚDE
... _.52
@.
O
USUÁRIO DOS
SERVIÇOS
DE
SAÚDE
FACE
AO
DISCURSO
E
PRÁTICA
DO
SUS NA
REDE
PÚBLICA DE
ATENDIMENTO
PRIMÁRIO
A
SAÚDE
... ..60
2.3,
SITUAÇÃO QUOTIDIANA QUE
REELETE
O (NÃO)
DIREITO
A SAÚDE
... ..
69
CONSIDERAÇÕES
FINAIS
... ..72
A
questãoda
cidadania é, usualmente, entendidano
sentidode que
“quem
é cidadão
tem
direitos e deveres”.Esses
direitosvem
sendo
conquistados paulatinamente e seinscrevem nas
áreasdos
Direitos Civis e Políticos,chegando
hoje aosDireitos Sociais e
aos
chamados
Direitosde
Última Geração. Essa evolução
eampliação dos
direitos são
frutos
de
lutas, que, historicamentevem
sendo
consolidados.O
últimoDireito Social,
reconhecido
internacionalmente, éo
direito à moradia,convencionado
na
Conferênciado
Habitat Il,na
Turquia,em
junho
do
ano
em
curso.Os
direitosem
relação à sociedade são vistosnão
apenas
como
garantiasinscritas
na
lei e instituições,mas
sim, estruturando relações sociais, isto é,na medida
em
que
são reconhecidos,os
direitosestabelecem
uma
forma de
sociabilidade, regida peloreconhecimento
do
outrocomo
sujeitode
interesses válidos, valores pertinentes edemandas
legítimas.
u
Via de
regra, são considerados Direitos Sociais:o
direito àeducação, o
direito à saúde, a previdência social, a
proteção
àmaternidade
e à infância e a assistênciaaos
desamparados no
Brasil estãoincorporados
na
Constituição Federalde
1988,em
seu capítulosegundo,
artigo 6°.A
Constituiçãobusca
assegurar a garantia destes Direitos Sociais, os quais,em
outros países, jáforam
consolidadosno
decorrerdo
processo
histórico dasmudanças
sociais.Vem
surgindoassim novas demandas,
que refletem
abusca de
novos
direitos: contraarmamentos
nucleares, a favorda
ecologia e outros.políticas sociais.
No
Brasil eem
outros paisesda
emergido
de
um
contextode
políticaeconômica
retardatária trouxe sérias conseqüências,entre elas,
um
sistemade
proteção, socialque
não
se orienta pelosprincípios
da
universalização e garantia
do mínimo
vital,mas
sim, pela diferenciação das categoriasdos
trabalhadores
em
relação àpauta
de
beneñcios
aque
têm
acesso.Nesse
tipode
sistema,além
das políticas sociaisfuncionarem
como
um
mecanismo
de
preservação das desigualdadesdo
mercado,
os benefíciosconcedidos
a certas funçõesda
classe trabalhadora caracterizam-secomo
privilégiosde
grupos,ao
invés,de
direitos universaisde
cidadania.No
Brasil,segundo Draibe (1988) o Estado
Social instituiu-se econsolidou-se,
instmmentahnente,
em
dois periodos -de 1930
a 1970, destacando-seduas
fasesde
implementação de
políticas sociais -1920
-1943
e1966
- 1971.
Observe-se
que,em
ambos
os períodos,o
Brasil seencontrava sob
um
regime
autoritário e a implantação das políticas sociais serviria, entre outros objetivos,para
a legitimaçãodo
mesmo.
(LABATTE,
1990)
H
Labatte (1990), a partir
da
consideraçãode Sônia Draibe dos
diferentesmodelos do
Estado
de
Bem-Estar, formula
um
padrão
do
sistemade
proteção
social brasileirotendo
como
características os seguinte pontos:0 a
extrema
centralização política e fmanceiraem
nivelfederal das ações. sociais
do govemo;
0
uma
grande fragmentação
institucional;f a exclusão
da
participação social e políticada
população
nos processos de
decisão;0 o princípio
da
privatização;0
o uso
clientelísticoda máquina
estatal.A
partir desta caracterização:“o capitalismo brasileiro assinala
um
caminho conservadorde edificação do Welfare State e, através de todas as
distorções (examinadas no trabalho) especifica-o praticamente negando o bem-estar prometido pelo processo ec‹›nõmi¢‹›”.
(DRAIBE,
1988)*Labatte
(1990)
afirmaque
Draibe,estudando
as perspectivasdo
Welfare
State brasileiro destacaum
conjuntode
inovações,que
vêm
seprocessando
como
indicativas
de
um
novo
padrão
de
proteção
social,que
podem
ser consideradosem
trêsníveis:
0 nível Político-institucional
que
tratada
inovação
do
plano político-institucional, evidenciando a descentralizaçãopolítico-administrativa,
com
fortes tendências à mimicipalização.0 nível Social
ou
a sociabilidademesmo,
implicadanas
políticas sociais.
0 nível
das
relações entre Estado, setor privado lucrativo e setor privado não-lucrativo,provocando
uma
sériede
inovações
que dizem
respeito à tendênciade
mudança
nos
modos
de
produzir e distribuir osbens
e serviços sociais.extremamente
propícios àretomada do
debate sobre osproblemas
implementação
das políticas.As
recentes transformações, neste setor,apontam novos
elementos de
análisepara
pesquisadores e desafios crescentespara
osprofissionais
da
área.A
questão saúde
vem
sendo
analisada e várias propostasvem
sedesenvolvendo ao longo
do
tempo.
Somente
nos
últimosanos
-
década de 80
- éque
sefirmou
aproposição
de
um
Sistema
Único de Saúde
-çSUS
contidona
Reforma
Sanitária.“A
proposta da Reforma Sanitária e doSUS
correspondeu a explicitação deum
projeto societário contra-hegemõniccoque se propôs a alertar o encaminhamento histórico, no país, sistematicamente privilegiado das ações de saúde individuais, curativas, médicas e crescentemente
dependentes de tecnologia, secundarizando por seu lado as ações de saúde pública entendidas aqui
como
ações e atividades nitidamente dirigidas para intervenções quebeneficiam o coletivo das comunidades
em
geral e destaforma cada pessoa
em
particular. Esta constatação éresultante de urna hegemonia clara no Brasil de projetos societarios de base minoritária e/ou elitista
em
relação a outros projetos de sociedade, do qual oSUS
foi urna fração constituinte e que se propuseram historicarnente a incorporação da totalidade da população brasileira, aosbeneficios da modernidade”.
(MAGAJEWSKI,
1994136)Neste
modelo de
SUS,
asaúde passa
a ser entendidacomo
resultantede
uma
uniãode
fatores ambientais,sócio-econômicos,
culturais e biológicos,determinados
em
última instância pela posiçãode
classeque
cada
indivíduo e/ougrupo
social
ocupa na
organização
da
sociedade.Esta
compreensão
elimina a perspectivade
se alcançar a
apontando para ampliação
do
objetivas
de
inserçãona
produção. Tal
idéiaremete a busca de
direitosconcretos
que
seexpressem
no
cotidianoda
atençãoà saúde
e,sendo a
saúde,um
dos
campos
de
aplicaçõesda
ciência política, e, considerando-seo Estado
responsável pela garantia eacesso a
todos
os
tiposde
direitos,sentimos
a necessidadede melhor compreender
como
se expressa,
concretamente,
o
direitoà saúde
nasUnidades de Atendimento
Primárioà
Saúde
de
Florianópolis,
com
o
objetivo de:0 identificar
o que o
usuário ea
equipe técnicaentendem
por
saúde
e direitoà
saúde;0 evidenciar
os motivos da concepção de saúde
ede
direito àsaúde
encontradas;0 resgatar as expressões concretas
que indicam o
direitoà
saúde.Tais objetivos se justificam,
uma
vez que consideramos a saúde não
apenas
como
obrigação formal,mas
frutode
um
exercício cotidiano.Esse
exercício implicaem
luta e alteraçõesde
posições.O
fatode
estar escritona
Constituiçãoque
“asaúde
éum
direitode
todos
eum
dever
do
Estado”,não
garanteum
cumprimento
automático
emecânico
desse
direito.
A
concepção de
saúde,pautada
no médico
foipor
um
longo
tempo
veiculada, aceita
e
incorporada
pelos prestadoresde
serviços,ou
seja,a
equipe técnica.Como
no
Plano
institucional, é dificil e lenta
a
mudança, somente
a
partirdo
instanteem
que houver a
tomarão
aliados.Para coletarmos
osdados
empíricosescolhemos 10 Unidades de
Atendimento
Primário àSaúde de
Florianópolis,que
sãoPostos da
SecretariaMunicipal de
Saúde.
Os
critériospara
a escolha dasunidades
foram
duas
unidadespor
região. Este
critério foi
adotado para
abranger as diversidades regionaisda
ilha, para
o
que
sepropôs
aseguinte divisão:
Região
Sul -Carianos
eCampeche
Região
Norte
-Saco
Grande
II e InglesesRegião
Leste -Lagoa
eCanto da
Lagoa
Região
Continente
-Capoeiras
eMonte
CristoRegião
Centro
- Policlínica e Prainha Estesdados
empíricosforam
obtidosde
três maneirasiI” Entrevistas abertas
com
equipe
técnica e usuários.Nas
unidades
foram
entrevistados2
(dois) integrantesda
equipe técnica.Não
houve
critériode
seleçãopara
escolha desses integrantes;sendo
escolhidoos
que
estivessemna
unidade
no
momento
da
visitado
pesquisador.Foram
entrevistados 21 (vinte eum)
técnicos e as entrevistascom
o
usuárioseguiram os
mesmos
critérios,tendo
sido entrevistados22
(vinte e duas) pessoas.Essas
entrevistastiveram
itens norteadores:0
Concepção
de saúde para
os usuáriosda
Rede
Primáriado
Município
de
Florianópolis.0
Concepção
de saúde para
a equipe técnicada
Rede
Primária
de
Atendimento
àSaúde do
Município de
Florianópolis.Primária
do
0
Concepção de
direito àsaúde
para a equipe técnicada
Rede
Primáriado
Município de
Florianópolis.0
A
razãoda
alteração dasconcepções
de
saúde
a partirdo
usuário eda
equipe
técnica.0
Expressões
concretasde
garantiade
direito à saúde.H
Foram
entrevistadas43
(quarenta e três) pessoas entre usuário e equipetécnica:
0 todas as entrevistas
foram
gravadas
em
fitasK-7
e,num
segundo
momento
transcritas e analisados os discursoscontidos
nas
mesmas,
vinculando-seassim aos
objetivos propostos.2”
Consultas a
livrosde
registrosde
ocorrências e livrosde marcação
de
consultasque
expressassem
a participaçãodo
usuário,no
sentidode
resgatarinformações
que
contribuíssempara o
objetivo pretendido. Entretanto,o
que
se verificou, é que,em
apenas
uma
unidade, encontrou-seo
“livrode
registrode
ocorrências”; que,de
per
si, já indica a escassa participação
do
usuáriona
gestão e controleda
unidade sendo por
isso restritas as possibilidadespara
incorporar queixas e sugestões.3” Coleta
de
Dados
Empíricos
foicomplementada
pelos diferentesaspectos das
unidades
sanitárias:0 veiculação
de
informações
visuais;Estas
observações
foram
registradas e posteriormente incorporadas àanálise.
O
períodode
coletade dados
foide
3 (três) meses,sendo
fevereiro,março
e junho.dois capítulos:
A
apresentaçãodo
resultado obtidocom
a investigação foiordenada
em
¢
o
primeiroaborda
questõesde cunho mais
conceitual sobre direitos e direito àsaúde
0
o segundo
apresenta a expressão dessasconcepções
nasA
históriado
Direito seperde
nasnévoas
do
tempo,
ou
seja,desde
que
ultrapassamos a
erada
força fisica,da caverna
enos deslocamos
para aépoca
em
que os
homens
passaram
a
viverem
grupos,formando
uma
comunidade
incipientequando
então sentirama
necessidadede
disciplinara sua
própria conduta,formulando assim
normas
de
respeitoaos
direitosde cada
um.
Os
princípiosde
uma
vida socialcomeçaram
atomar
forma
em
instituições sociais ecostumes, assim a
sociedade primitiva foiconduzida a
incluirem
sua
organizaçãoalgum
reconhecimento de
direitos e devereshumanos,
de acordo
com
a
consciência característica daquelas pessoas.l
Portanto,
a
idéiade
uma
leiou
legislador é realmentemuito
antiga.Esta
define e
protege os
direitosde
origem
legaldos homens,
principalmente, os direitosrecíprocos
dos
membros
de
uma
comunidade, tendo
havido, atravésdos
séculos,comunidade na
qual pelomenos
uma
parte daquiloque
hojedenominamos
“direitoshumanos
fimdamentais”
estavabem
protegidaspor
um
conjuntode
normas
dotado de complexidade
e técnica refinada(MOURA,
1989).
Ralph
Lopes
Pinheiro,em
sua obra,“A
HistóriaResumida do
Direito” (1981),mostra
que,no
princípio,o
Direitonão
era escrito,mas
sim
consuetudinárioze,
com
o
decorrer
dos tempos, o
homem
passa a
tera
possibilidadede
registrar seupensamento
atravésda
escrita.Após
a
descoberta desse recurso,o
homem
sentiua
necessidadede
registrar as
normas
jurídicaspara melhor
compreensão
emesmo
aceitação.“Os direitos
humanos
não parecemuma
generosa dádiva da natureza,mas
uma
penosa conquista efetuada atravésdos
séculos por pessoas bastante conscientes e organizadas
em
grupos de pressão.
Com
claro conhecimento de seu valor e suas aspirações, dispuseram-se a reivindicar o que sentiam indispensável a seu desenvolvimento pessoal e social, apesarde eventuais obstáculos.
Mas
quem
reivindica o que atende às reais necessidades e ao incomensurável valor do serhumano
opõe-se à inércia dequem
se julga dotado de prerrogativas inviolaveis, supostamente travestidas de sacralidadee
amparadas por urna lei não escrita, que seria “obra imortal dos
deuses”.
(MOURA,
1989: 22)Sabendo
entãoque
existem códigos
e leisdesde
a antigüidade,apontamos
uma
esquematização
sobreo
Direito atravésdos tempo:
0
os
famosos
códigos de Hamurabi, o
rei Assíriodo
séculoIV
a.C,
o mais
antigode
que
setem
notícia;0 'a legislação
Mosaica
- osDez Mandamentos
-
procuravam
estabelecer rígidas
normas
de conduta para
osHebreus,
afim
de
que
elespudessem
ser agradáveis aoDeus
Jeová
e alcançar aTerra
Prometida.(LABATTE,
1990);0
o
Código de
Manu
éuma
coleçãode
leisdo
direitoda
Índiae sua importância ébem
menor
do que
osacima
citados. Elenão
influenciou
outras legislações. Situa-seaproximadamente no
ano
1000
a.C;0
o
Direitoda
Grécia
antiga eo
DireitoRomano,
ambas
legislações
que
vieram
a exercergrande
influênciano
mundo
ocidental(LABATTE,
1990: 88);0 as Leis
das°XII
Táboas
teveuma
importância significativapara o
povo
romano, sendo
tão importantepara o
povo romano
quanto Carta
Magna
Cartados
Ingleses e aDeclaração dos
DireitosHumanos
da Revolução
Francesa;'
0
o
Alcorão, escritoem
linguagem
poética ecompilado por
Abu-Becre
eOsmar
um
pouco
mais
tarde,contou
com
a valiosa ajudados apontamentos de
Seid. Ele secompõe
de 114
suratas,que
seestendem
longamente,
sobre zos assuntos diversos,mostrando-se
bastante faustidiososno
seu tratado.A
palavraAlcorão
significa leituraem
voz
alta;0 a
Magna
Carta Inglesa foi assinada,em
1215,por João
Sem
Terra, contra sua vontade, pressionado pelosnobres
e pelo cleroda
Inglaterra. Ela continha vários dispositivosde
real e vital importância para as liberdades,passando
essedocumento
a ser consideradocomo
“ñlma cartade
princípios” a ser respeitada ecumprida por
todos;0 a
Declaração dos
Direitosdo
Homem
edo
Cidadão
(Revolução
Francesa/1789), considerada amais
importantedireitos
do
cidadão. Faz-se necessário assim,algumas
~
consideraçoes referentes a
mesma.
O
povo
francês,cansado de
tolerarum
regime
em
que eram
tantos os privilégios eabusos
da monarquia
absoluta,onde
os
camponeses
viviam
esmagados
pelo sistema feudalcom
extensaspropriedades
da
nobreza
edo
alto clero,enquanto
oscamponeses
passavam
asmaiores
dificuldadessob o peso dos
impostos, dízimos eclesiásticos e outros encargos, mobilizou-se e iniciouuma
luta para alterar aquela situação.O
poder
do
rei era absoluto;com
uma
simplesordem
podia
efetuar prisões eordenar execuções
sumárias, esomente
anobreza
tinha acessoaos cargos
da
Corte, aoscomandos
militares e às dignidadeseclesiásticas.
Segundo
Pinheiro(1981)
aAssembléia
Constituintena época
eracomposta
da
nobreza,do
clero edo
chamado
Terceiro Estado3,porém, desde
1614,não
haviaconvocação.
Nessa
época,não
existia liberdade religiosa enem
de
expressão.A
existênciade
16 milcamponeses
despertava antipatias generalizadas.Havia
também
faltade unidades
administrativas, variando os
impostos
de
provínciapara
província,com
tribunais diversos, inclusive, osdos
senhoresde
terra, osda
municipalidade e osda
igreja.Apesar de
um
regime
autoritário, aFrança
desenvolvia-secom
comércio
ena
expansão
de
manufaturas,gerando grandes
recursos fmanceiros para a burguesia.Os
não
conformados
com
a situaçãopor
ocuparem
posições inferiores eram, então,os
principais interessadosna
revolução.A
classe operária seexpandia
epassava
a reivindicarmelhores
salários emelhores condições
de
trabalho,juntamente
com
o
homem
do campo, que esmagado
pelosimpostos
semostrava
insatisfeitocom
a situação reinante.Nesse
contexto,surgiram
intelectuaiscomo
Rousseau,
Voltaire,Turgot
peoutros,
com
idéias avançadas, pregando' a igualdadede todos
perante as leis e a ausênciade
um
direitonas
leisda
natureza,que
justificasse“um
homem
setomar
escravode
outro”.Resumidamente,
todos
seposicionavam
contra a opressão e a tirania, auxiliados pelosreflexos
da
luta pelaindependência dos Estados
Unidos
da América,
em
1776,quando
Thomas
Jefferson afirmava ser preferível
“morrer
livredo que
vivercomo
escravo” eque
“ao dar-nos avida,
Deus
nos
deu
ao
mesmo
tempo
a liberdade”.Com
esse clima favorávelpara
a revolução,o
rei, pressionado,convoca
aAssembléia
Geral,passando o
povo
a contarcom
uma
poderosa
forçano
Parlamento
-o
TerceiroEstado
que
secontrapõe ao
clero e a nobreza.Em
l4
de
julhode
1789,o
povo
saqueou
aPraça dos
Inválidos,recolhendo
canhões
e milharesde
fuzis e,em
seguida, dirigiu-se à prisãoda
Bastilha, àprocura de mais
armamento. Depois de
algumas horas de
luta,tomava
essa prisão.Tal
fato foide
importânciadecisiva
para
a revolução, vistoque
erao
símbolo das injustiçasdo
Antigo Regime.
A
Bastilhaserviu, durante
muito tempo,
como
prisão e era aureolada pela lendade
que
se falavade
horrores, crueldades, cárceres escuros, prisioneiros vítirnasde
torturasdesumanas
edevorados
vivos pelos ratos.Após
este fato,houve
tentativasdo
reiem
se fazerconcessões
aosrevolucionários, suprimir
os
direitos feudais, os privilégios fiscais e a venalidadedos
cargos.Em
agosto,os
revolucionários francesesaprovam
aDeclaração
dos
Direitosdo
Homem
edo
Cidadão
pela Assembléia
Nacional
Francesa.
A
discussão eaprovação
da
Declaração passou
por
doismomentos,
segundo Bobbio:
0
de
Ol àO4 de
agostode
1789, discutiu-seo
que
deveriapreceder
auma
declaraçãode
direitos antesda promulgação
de
uma
constituição;0
de
20
à26 de
agostode
1789,o
texto pré-selecionado pelaAssembléia
foi discutido eaprovado.
A
Constituição foi concluídaem
1791.A
situaçãodo
país,porém, não
eraboa.
Havia
fome
e insatisfação.A
maneira
como
ficou
estabelecida a eleiçãodos
representantesdo
povo
- escolhidos dentre os proprietáriosque pagassem
contribuiçãoequivalente a
50
diasde
salário -desagradou.
(PINHEIRO,
1981)
“A
Constituição estabeleceu a igualdade de impostos, secularizou o matrimônio, o registro e a instrução pública.Mas
logo depois veiouma
lei proibindo as associações deoperários. Houve
uma
contra-revolução,em
que as facções vitoriosas passaram a perseguir as vencidas”. (PINHEIRO,19s1z77)
Portanto, desta
Revolução
resultauma
nova
ordem
de
idéias,fazendo
surgirnovos
direitos econtrapondo-se
às idéiasde
desigualdades injustificáveisque
até então havia entre oshomens.
â
O
tema
dos
DireitosHumanos,
que
foiimposto
aossoberanos
franceses pelaDeclaração de
1789, émais
atualque
nunca.A
Declaração dos
Direitosdo
Homem
é consideradaum
pressupostode democratização
ede
liberdade.(BOBBIO,
1992)
Os
DireitosHumanos,
que
inicialmente, se circunscreviamao âmbito de
uma
nação,
posteriormente,ampliaram-se para o
plano internacional,com
a criaçãoda
ONU.
Esta
declaração
de
direitos,que
tivesseo
cunho de
universalidade eque
servissecomo
um
rumo
a guiar ospovos no
presente eno
porvir, obedientes àqueles princípios básicosde
respeito aosmais fundamentais
esagrados
direitosdo
cidadão, habitasse eleque
parte fossedo
universo.(1>n×IHE1Ro, 1981)
Para
alcançar tal objetivo, foi enviada correspondência atodos
os grandespensadores
da
época, atodos os grandes
juristas, políticos, escritores, sociólogos e pessoasde
destacado
valor solicitando a suacolaboração
no
sentidode
se alcançaruma
Declaração de
Direitos,
que
em
síntese exprimisseo
pensamento
universal.“Essa Declaração de Direitos Universais foi aprovada
em
10de dezembro de 1948,
em
Paris, e se compõe de 30 artigos,sendo
uma
condensação do pensamento jurídico avançado da humanidade e, pelomenos
em
tese, o documento de sua maisexpressiva conquista,
em
todos os tempos” (PINHEIRO, 1981:l 19)
A
ONU
éuma
organização entre países,de âmbito
internacional,que
objetiva apromoção
do
bem-estar de
todos,que
visa evitar conflitos, àobtenção de
uma
paz
duradoura,
de
uma
compreensão
permanente
entre ospovos
da
terra, expressanos
valoreshumano
s,na
solidariedade,na
fraternidade,no
respeito às liberdades essenciaisdo
homem
eno
direito.
Norberto
Bobbio
(1992)
coloca que, anteriormente, abusca dos
fundamentos
absolutosdos
direitosdo
honiem, nasceu da
ilusãode
encontrar a razão e osargumentos
irresistíveis eque ninguém
poderá
recusar suaadesão
a tais direitos.Essa
ilusão seestendeu
durante séculosaos
juramentistas,que
acreditavam
tercolocado
certos direitosacima
da
possibilidadede qualquer
refutação. Hoje,não
émais
possível essa ilusão; a
busca de
um
fundamento
absoluto é,por
sua vez,infimdada,
trazendo ao
autoralgumas
dificuldades.A
primeira delas é derivadada
consideraçãode
que
direitosdo
homem
éuma
expressãomuito
vaga.Tentou-se
várias vezes, defmi-loso
que
resultouem
definições traumáticascomo
asque
seguem:
O
Direitosdo
homem
são osque
cabem
ao
homem
enquanto
homem.
O
Direitosdo
homem
são aquelesque
pertencem,
ou
deveriam
pertencer, atodos
oshomens,
ou
dos
quaisnenhum
homem
pode
ser despojado.
Ó
Direitosdo
homem
são aqueles cujoreconhecimento
écondição
necessária parao aperfeiçoamento da pessoa humana,
ou
para o desenvolvimento da
civilizaçãoƒetc.A
partir daí,nasce
uma
nova
dificuldade; ostermos
avaliativos sãointerpretados
de
diversas formas,conforme
a ideologiaassumida
pelo intérprete,tendo
como
efeito, muitas
polêmicas
apaixonantes,porém
insolúveis.Em
geral,o acordo
obtido,de acordo
com
os polemistas, depoisde
várias discussões, éem
aceitaruma
fórmula genérica,que
oculta enão
resolve a contradição: essaconserva
a definiçãono
mesmo
nivelde
generalidadeem
que
aparece
nas definições precedentes.As
contradiçõesreaparecem
quando
passa
da
enunciação
puramente
verbalpara
a aplicação.Sendo
assim,nenhuma
das definições citadas permiteelaborar
uma
categoriade
direitosdo
homem
que
tenhacontomos
nítidos.Os
Direitosdo
Homem
constitui-senuma
categoria variável,como
a história destes últiinos séculosdemonstra. Esse modificou-se
e continua semodificando
com
apoder,
dos meios
disponíveispara
a realizaçãodos
mesmos,
das transformações técnicas e outras.A
categoriados
Direitosdo
Homem,
além
de
sua variabilidade e indefinição étambém
heterogênea.Entre
os direitoscompreendidos na
própria Declaração, existem pretensões divergentes e incompatíveis; portanto, as razõesque
sustentam
uma,
não sustentam
outras.Por
este motivo,não
se deveria falarem
fundamento
e sim,de fundamentos,
cujasrazões se deseja defender.
A
últimadificuldade encontrada
pelo autor - é saber se abusca
do
fimdamento
absoluto, aindaque
coroada
com
sucesso, écapaz
de
obtero
resultado esperado.Muitas
vezes, essenão
éapenas
ilusão, étambém
um
pretextopara
defender posições conservadoras.*Bobbio (1992)
afirma
a idéiade
que
toda
civilização estabelece deveres e obrigações, privilégios e direitos,supondo
duas
premissas fundamentais:em
primeiro lugar,trata-se
de
algoque
é declaradopublicamente
e,em
segundo,
trata-sede
um
conjuntode
normas
e leisque
têm
como
objetivoregulamentar
as relações entre as pessoas, grupos, classese instituições
de
uma
determinada
sociedade eo
poder
constituído.Do
ponto de
vista histórico, sustenta a afirrnaçãode que
aDeclaração dos
Direitosdo
Homem
derivade
uma
radical inversãode
característica e perspectivado
Estado
Modemo
na
representaçaodo
Estado/sociedade
civil.Tal
afirmação
éencarada
com
forteênfase, tratando
dos
direitosdos
cidadãos,não mais
isoladamentecomo
se tratava anteriormente - direitodo
soberano
e direitodo
súdito.Essa
inversãode
perspectiva, deu-seno
inícioda Era
Moderna,
ocasionada
pelas guerrasde
religião, através das quais se vaiafinnando
o
direito aindamais
substancial e originário,o
direitodo
indivíduo anão
seroprimido.
Esse
caminho
da concepção
individualistada
sociedadeacontece
lentamente,percorrendo cada Estado
atéo
reconhecimento
do
Direitodo
Cidadão
do
mundo.
Os
direitosdo
homem
tomam-se
universais;porém,
uma
coisa éproclamar
esse direito, e outra, é desfiutá-lo, efetivamente,
de
um
direitoque
se tem.“...
A
linguagem dos direitos tem indubitavelmenteuma
grande
fimção
prática, que é emprestaruma
força particular às reivindicações dos movimentos quedemandam
para si e paraos outros a satisfação de novos carecimentos materiais e morais;
mas
ela toma-se enganadora se obscurecer ou ocultara diferença entre o direito reivindicado e o direito protegido.
Não
se podia explicar a contradição entre a literatura que faza apologia da era dos direitos e aquela que denuncia a massa dos“sem-direitos'.
Mas
os direitos de que se fala a primeira sãosomente proclarnados enquanto nas instituições internacionais e nos congressos, são aqueles que a esmagadora maioria da humanidade não possui de fato (ainda que sejam solene e repetidamente proc1amados)”.
(BOBBIO,
l 992: 10)H
V
O
Direitocontinuou
amodificar-se
com
amudança
dascondições
históricas.Direitos
que foram
absolutosno
séculoXVIII,
foram
submetidos
a radicais limitações nas declaraçõescontemporâneas.
Direitosque
asDeclarações
do
séculoXVIII
sequermencionavam,
como
os direitos sociais, sãoagora
proclamados
com
grande
ênfase nas recentes Declarações. Justifica-se assim,que
não
existem direitosfundamentais
por
natureza esem
valorem
uma
determinada época
históricaou
numa
determinada
civilização,não sendo
todavia
fundamental
em
outrasépocas
eem
outras culturas.Historicamente,
podemos
afirmar
que
os Direitosdo
Homem
foram
se concretizandoem
três fases,segimdo Bobbio:
0
A
primeira
fase
é afilosófica
onde
os jusnaturalistasmodemos
defendiam
a idéiade
que
o
homem
enquanto
taltem
“direito
por
natureza” que,nem
o
estado,nem
ninguém pode
subtrair.
Em
outras palavras,o
verdadeiro estadodo
homem
éo
estado natural,
onde
oshomens
são livres e iguais,considerando
o
estado civiluma
criação artificial.Porém,
mesmo com
essahipótese
deixada de
lado, aDeclaração guarda
um
claroeco
desta fase:“Todos
oshomens
nascem
livres e iguaisem
dignidade e direito”.
Mas,
éapenas
um
eco,porque
oshomens,
de
fato,não nascem
livresnem
iguais e a liberdade e a igualdade~
sao valores a perseguir.
0
A
segunda
fase da
históriada Declaração
acontecerána
transiçãoda
teoria para a prática,pensando-se somente
no
direito realizado.Neste
periodo, aafinnação
dos
Direitosdo
Homem
se fortaleceem
concreticidade eperde
auniversabilidade.
Os
direitos são protegidos,mas
valem
somente
no
âmbito
do
Estado
que
os reconhece,não
sendo assim os
direitosdo
homem,
e sim,do
cidadão.0
A
terceirafase
se expressana
conceituaçãode
Bobbio
(l992:30)
“...
Com
a Declaração de 1948, tem iníciouma
terceira e última fase, na qual a afirmação dos direitos é, aomesmo
tempo, universal e positiva: universal no sentido de que os destinatários dos princípios nela contidos não são mais apenas os cidadão deste ou daquele Estado,
mas
todos os Homens;positiva no sentido de que põe
em
movimentoum
processoem
cujo final os direitos do
homem
deverão ser não mais apenasproclamados, ou apenas idealmente reconhecidos, porém
efetivamente protegidos até
mesmo
contra o próprio Estadoque os tenha violado.
No
final deste processo os direitos do cidadão terão se transformado, realmente, positivamente,em
direitos dohomem.
Ou
pelo menos, serão os direitos do cidadão daquela cidade que não tem fronteiras, porquecompreende toda humanidade, ou
em
outras palavras, serão os direitos dohomem
enquanto direitos do cidadão do mundo”.W»
W
1 - f W f frmwwfwàwr ' ‹ ,~;‹za;z››,:,‹‹:~z›:;.,‹~:~:z~›»zzzz¢;;:z ‹z.,:;.;. ..,.,z rw W' ":f~.f‹:=r:›§'~..*fzrE
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questão
da
cidadania surgecomo
conseqüência
do
capitalismo nas sociedadesmodemas.
O
sentido etirnológicoda
palavra cidadania derivada
noção
de
cidade; neste sentido, é a partirda
formação da
sociedadeburguesa
que
o
centroda
vidaeconômica
sedesloca das atividades agrícolas
no
campo
para
as atividades industriaisnas
cidades.Esse
deslocamento
passa a determinaro surgimento
das relações sociaisde
base urbana.A
cidade e a indústriapassam
a determinar ascondições
de produção
na
agricultura e as própriascondições de
vidano campo.
Portanto, é dentro dessacompreensão que
se processa apassagem
da
cidadaniados burgos
medievais à cidadania nacional, entretanto essapassagem
histórica inseridana
própria Históriada Formação
eUnificação do
Estado
Moderno
eno
conseqüente desenvolvimento
e generalizaçãoda economia
mercantil.Essas determinações
conotam
o
sentido políticoda
cidadaniade
que
ser cidadao é participar ativamenteda
vidada
cidade, agir politicamente.(COSTA,
1988)
.
O
Estado
Modemo
éo
único agente legitirnado,capaz
de
criarlegalidade
para enquadrar
asformas
de
relações sociaisque
vão
seimpondo.
O
princípioda
estabilidadedo
direito sedesenvolveu
juntocom
a doutrina políticada
soberania, característica essencialdo
.z
Estado.
Na
definiçao
do
Estado
Moderno
está afunçao de
produziro
Direito e a ele submeter-se
ao
mesmo
tempo
em
que
sesubmete
àsordens normativas
setoriaisda
vida social.O
interesse verdadeiroda
burguesia mercantil,ao
suplantar anobreza
e o clerocomo
nova
classe socialdos meios de produção,
éo de adequar
aos seus interessesuma
finnada na
logicidadede
regras genéricas, abstratas e racionalizadas, disciplina,com
segurança e coerência,questões
do
comércio, da
propriedade privada, das heranças,dos
contratos eet¢...(woLKMER,
1994)
Marshall
em
suaobra
Cidadania, Classe Social e Status (1967) divideo
conceitode
cidadaniaem
três elementos:0
O
elemento
civil,formado
dos
direitos necessários à liberdadeindividual; liberdade esta,
de
ir e vir, liberdadede
imprensa,de
pensamento
ede
fé ede
direito à justiça (sendo este o direitode
se
defender
eafirmar
todos
os direitosem
termos de
igualdadecom
os outros indivíduos peloencaminhamento
processual. 0O
elemento
político, entendidocomo
o
direitode
participarno
exercíciodo
poder
político,como
um
membro
de
um
organismo
investidoda
autoridade políticaou
como
um
eleitordos
membros
de
um
organismo.Os
direitos políticos estão ligados àformação
do
Estado democrático
representativo eimplicam
uma
liberdade ativa,uma
participaçãodos
cidadãosna
determinação dos
objetivos politicosdo
Estado.*O
O
elemento
social refere-sedesde o
direitomínimo
de
bem-
estar
econômico
e asegurança
ao direitode
participar,por
completo,
na
herança
social,levando
a vidade
um
ser civilizadode
acordo
com
os padrões predominantes na
sociedade.Os
direitos sociais,maturado
pelasnovas
exigênciasda
sociedadeindustrial implicam,
de
per si,um
comportamento
ativopor
partedo
Estado ao
garantir aos cidadãosuma
situaçãode
certeza.É
nesse direitoque
nos deteremos
a partir destemomento,
mais
especificamente na
Saúde
como
um
Direito Social.O
fatode
ter escolhidoMarshall para
falarmos sobre a questãodo
direito eda
cidadania, sugere-se,segundo Vasconcelos
(1988),uma
avaliação críticado
raciocíniode
Marshall.Este
utiliza-se, implicitamente,de
uma
concepção próxima
à visão racionalistada
mudança
de
uma
sociedade pré-industrial,de
uma
ordem
comunitária para outras relações formais e nacionais.Tal
mudança
éexaminada
como
processo
evolucionistade
uma
sociedadeparticular, a Inglaterra,
onde
taldesenvolvimento
implicouna
extensãode cada
direito, até incluirtoda
apopulação,
resultandoassim na
suademocratização
e sua redefiniçãono
contexto
da
sociedademoderna.
A
sociedademodema
para Marshall
apontam
formas de
solidariedade diferentesda
sociedade pré-industrial, sustentada, agora,em
um
sensode permanência
àcomunidade
baseado
na
fidelidadedo
homem
livre,dotado de
direitos e protegidospor
uma
leicomum.
Seu
crescimento é estimulado,não
só pela lutapor
direitos,como
também
pelo prazerde
conquistá-los. Portanto, a cidadaniapara
Marshall éuma
forma de
igualdadede
status extraídado
peitencimento de
uma
“sociedade societal” amoderna noção
de
Estado.(VASCONCELOS,
1988)
Segundo
Vasconcelos
(1988: 24)“O
tema da comunidade é retomado na relação estabelecida entre os direitos sociais e estratificação social. Marshall iniciaa discussão neste ponto, mostrando o que para ele constitui
um
paradoxo, o de que o crescimento da cidadania,essencialmente igualitário, coincidiu
com
o desenvolvimento do capitalismo,um
sistema de desigualdade. Ele observaporém,
como
nos mostra Mishra, que a cidadania significa igualdadecomo membro
deuma
comunidade e não a igualdadeem
qualquer outro sentido. Assim o igual statuscomo
cidadão é completamente compatívelcom
a desigualdadeem
outros aspectos, resultantes das operações demercado e de outras estruturas do capitalismo. “A extensão dos
serviços sociais não é primariamente
uma
forma de igualizar rendas.Em
alguns casospodem
ser,em
outros não.A
questão é relativamente desimportante, ele pertence aum
departamento diferente da política social”. Sendo assim, houveum
reconhecimento por Marshall da existência de algumatensão entre a igualdade da cidadania e as desigualdades do capitalismo.
Ao
referir especificamentena Inglaterra do Pós- Guerra, ele assinalou que o emiquecimento do status dacidadania implicou dificultar a manutenção das desigualdades
econômicas”.
a
'Sendo
assim,houve
um
reconhecimento por Marshall da
existênciade
alguma
tensão entre a igualdadeda
cidadania e as desigualdadesdo
capitalismo.Ao
referir,especificamente,
na
Inglaterrado
Pós-Guerra,
ele assinalouque
o enriquecimentodo
statusda
cidadania implicousem
dificultar amanutenção
das desigualdadeseconômicas.
1?
Reconhecemos
que
há
um
grau
de
avanço
representado pelos direitos civis epolíticos,
porém
havia muitas necessidade sociais básicasque
ambos
não contemplavam. Então
se
desenvolveu nos
horizontesde
lutas, conflitos edemandas
e adimensão
imperativados
novos
direitosdo
homem,
não mais
como
expressão únicade
individualidades,mas
sim
como
reflexos
de
necessidades sociaisenvolveu
sujeitos coletivosconcretamente
integrados.A
criação dessesnovos
direitosde
cunho
social éproclamada, não mais
pararestringir radicahnente
o
poder do
Estado,mas
para exigiruma
certaação
positivado
Estado,sociedade burguesa.
Esses
direitos incutidos a partirde
carências vitais e sociais, obtidospor
confrontos e reivindicações
permanentes vão
exigir,quase
sempre, apresença de poderes
públicos
para implementar
ascondições
necessárias à sua realização.O
fundamento dos
direitos sociaiscontemporâneos
éencontrado
na
permanente
insatisfaçãode
um
corpo
socialcada vez maior
que
não consegue
saciar as necessidades materiais e culturais, geradas pela sociedade industrialde massa
e peloparadigma
centralizador
de
cultura política introjetada.(WOLKMER,
1994)
szgrmdo
WQLKMER
(1994z1s)z“Concretamente, o que se pode afinnar é que toda essa tradição de afirmação e conquista de direitos a partir das necessidades por liberdade individual, participação política e
maior igualdade econômica se processou na maioria das
democracias representativas das nações centrais industrializadas do ocidente capitalista. Sob os influxos de
um
legado progressivo, advindo dos princípios da modernidade
iluminista, dos ideais de racionalidade formal e de plena
cidadania democrática,, os países do Primeiro
Mundo em
grande parte já conseguiram o reconhecimento e a garantia
dos direitos civis e sociais básicos. Tais conquistas dos direitos
de primeira, segunda e terceira gerações permitem, que hoje, as democracias burguesas avançadas
caminhem
para amaterialização dos chamados direitos de quarta geração.
A
prioridade das nações pós-industrializadas não são mais direitos políticos e sociais mínimos,mas
a materializaçãonormativa de suas necessidades por segurança. Daí a razão de
suas lutas de reivindicações por direitos difusos, direitos de
minorias e direitos relativos a proteção ecológica, ao
desarmamento, etc”.
Ao
contráriodas condições
sociais, materiais e culturais reinantenos
paisesde
PrimeiroMundo,
nas sociedades latino-americanas,tomando,
como
exemplo, o
Brasil - asreivindicações são a nível
de
direitos civis, sociais e políticos.Assim,
as necessidades e as lutaspela
implementação
de
direitosocorrem
em
função
das necessidadesde
sobrevivência e subsistênciade
vida.Como
conseqüência, a mobilizaçãodos
movimentos
sociais implica tantona
luta paratomar
efetivos os direitosproclamados
econcebidos
formalmente,quanto
a exigênciapara impor novos
direitosque
aindanao
foram
reconhecidos por órgãos
oficiaisestatais e pela legislação positiva institucional.
Sendo
assim, paísescomo
o
Brasil,marcados
pela
dominação
políticade
espoliaçãoeconômica
e desigualdades sociais,toma-se
natural aconfiguração permanente
de
conflitos, contradições edemandas
por
direitos.Nesse
contexto,de
sociedades divididasem
estratos sociais,com
interesses antagônicos,contendo
instituições político-jurídicas precárias,emperradas
peloformalismo
burocrático, historicamentemovidas
pelorecuo
eavanço na
conquista pelos direitostoma-se
assim
naturalque
asmudanças
e aevolução
no
modo
de
viver, produzir, relacionar econsumir
dos
indivíduos,grupos
e classespodem
perfeitamente determinar anseios, desejos e interessesque
ultrapassamos
liniites e as possibilidadesdo
sistema,proporcionando
situaçõesde
privação, carência e exclusão.' n u n à n n
'
¿
`Dallan(1995) aponta
que
oreconhecnnento dos
chamados
direitos sociaisnas constituições burguesas,
onde
era 'incluída a saúde, exigiuum
processo
de longo
amadurecimento.
Comprovado
que
o
“direito àsaúde”
éum
processo
histórico,também como
outras
gamas
de
direitos,percebemos que
nas diversas constituições, principalmente ados
países
mais
desenvolvidos, possuíaem
um
de
seus artigos, a garantia pelo direito à saúde:A
Constituição Italianade 1976
considera asaúde
como
direitoconstitucional:
“Protege
aSaúde
como
direitofundamental
do
iridivíduo e interesseda
coletividade e garantir tratamento gratuito aos indigentes”.(Art.32)A
ConstituiçãoPortuguesa de
1976,mesmo
tendo passado por duas
revisões,mantém
aafirmação:
“Todos
tem
direitode
proteção
à saúde,de
a defender epromover”.
A
Espanha no
texto referenteao
povo
em
06
de
dezembro
de
1978,reconhece o
diretode proteção
àsaúde
atravésde medidas
preventivas e das prestaçõesde
serviços,dando
a atribuiçãoda
competência de
organizar e tutelar asaúde
públicaao poder
público, atravésde
medidas
preventivas das prestaçõesde
serviços necessários.É/¿,No
Brasil, aincorporação
constitucionalocorreu de forma
processual âlenta.Nenhum
texto constitucional havia se referido explicitamente sobre asaúde
como
integrantedo
interesse público, até a Constituiçãode
1988, afirma Dallari (1995).EQÉ
no
iníciodo
séculoXX,
no
auge
da
econornia capitalista exportadora cafeeira,que
asaúde emergiu
como uma
questão social.A
sociedade brasileirada época
passava por
momentos
de
crise,ocasionado
pela aceleraçãodo
crescimentourbano
edo
desenvolvimento
industrial.A
urbanizaçãoacentuada agrava
ascondições
de
saúde
da
população.
Neste
cenário, aspropostas
sobresaúde
públicanão
se caracterizam pela tentativade
expandir seus serviçospor todo o
país.Mesmo com
essa situação, a políticade saúde
erasomente
voltada, através dasações
do
Estado,apenas
junto às áreas produtivas.Não
existeuma
política nacional públicade
saúde,apenas ações
consideradas casuais, trabalhandosomente
asendemias
do momento.
-O
caráter social referido à áreada saúde
era decorrentedos problemas
endêmicos
eda
faltade saneamento. Neste
caso,afirma-se
que
a crisesócio-econômica
e sanitáriaocasionada
pela febre arnarela e outrasendemias
teve efeitos catastróficos sobre aeconomia
cafeeira, arriscando amão-de-obra dos
imigrantes, prejudicandotambém
aexportação
cafeeira, atravésdos
portos brasileiros,onde
os navios estrangeiroseram
proibidosde
atracar.(MELLO,
1994)
Este ano de
1930
émarcado
também
pelosurgimento de
políticas sociaisde
corte social, originando
na
áreada
saúde
uma
política nacionalformada por
dois setores: ode
saúde
pública eo
de
medicina
previdenciária,de
caráter restrito frente às necessidadesda
população,
devido
à limitadacapacidade
financeirado
Estado.A
efetivaçãodo
processo de
centralização federalda saúde ocorreu
também
em
1930,após
a criaçãodo
Ministérioda Educação
eSaúde; sendo
este,composto
por
doisdepartamentos
distintos:educação
e saúde.As
açõesde saúde
pública sedestacaram
atravésde campanhas
sanitáriascomo
elementos
centraisde
intervençãode
técnicosdo
governo,para
atuarem
junto aosgovernos
estaduais. Já, asações de Medicina
Preventivaeram de
caráter restrito frente às reais necessidadesda
população,uma
vez
que
o
sistema era incapazde
atender a assistência
médica
individual,devido
à limitada capacidade financeirado
Estado
epor
que
o
molde
sanitaristaimplantado
era dispendiosoem
virtudedos
rigorosos requisitos técnicos e assistênciamédica
individual e coletiva(MELLO,
1994).O
Ministérioda Saúde
é criadoem
1953, concretizandoo
suporte institucional burocrático exigido peloDepartamento Nacional de
Saúde
desde
sua últimarefonna
- 1941,assumindo
então o controleda formação de
técnicosem
saúde
pública,incorporando
serviçosde
combate
àsendemias
e irrstitucionalizando ascampanhas
sanitárias.No
Brasil, a trajetóriada
saúde
tem
grande
ênfasena medicina
privada ecom
isso asaúde
pública édeixada
de
lado, acarretandoassim o
dificil acessoda população
àCom
o
decorrerdo tempo percebemos que
o
sistemade saúde
brasileiroú
tendia a privilegiar a
medicina
curativa,provocando
danos
na
área preventiva e devido a essa tendênciaaumentaram
as moléstias relacionadas à faltade saneamento
básico.O
direcionamento
dado
àsaúde na
Previdência seresume
na formação de
váriosórgãose
estruturasem
beneficios da
população, os quaisnão
conseguem
atenderde
forma
adequada
asdemandas
dos
usuários (doIAPAS
até oSUS). Alguns
destesórgãos
responsáveis pela áreada
saúde, muitas vezes,preferem
gastarem
convênios
com
redes particulares priorizandofins
lucrativos,ao
invésde
investiremna
rede pública paraque
toda
apopulaçao
tenha acesso à saúde.Segrmdo
Mello
(1994: 10)“O
que acontecetambém
é que os serviços médicos estão distribuídos de forma desigualnuma mesma
região. Desta maneira, os grupos populacionais quemoram
longe doscentros urbanos possuem
menor
acesso a esses serviços e,com
freqüência, necessitam sacrificar urna parte de seu salário para
utilizá-los - gastos
com
transporte - istosem
pensar nas gravescomplicações provenientes da falta de acesso ao atendimento médico”.
Nos
anos
60, ocorreo processo
de
expansão da medicina
previdenciária e a criaçãode
uma
estruturade atendimento
hospitalarde
origem
privada e direcionadapara
organização
de empresas
médicas.Os
serviçosde
saúde transformam-se
em
organizaçãocapitalista
com
a integraçãodo
Estado,empresas
industriais eempresas
de
serviços médicos.As
décadas
de 70
e80
sãomarcadas
pelos estudos diagnósticos sobre aA
partirda metade
dos anos
70, é que,devido
agrande
pressão social,implementou-se
uma
proposta
de
atenção à saúde, decorrentedo
resultado das eleiçõesem
algumas
cidades,o
que
resultouperda o
govemo, provocando
assim,o
começo
de
organização dos
movimentos
populares.No
inícioda década
de
70, muitas pesquisas jádemonstravam
que o
modelo
de
desenvolvimento adotado
pelo país durante a ditadura militar acarretava aconcentração de
renda-
não
havia distribuiçãode
beneficios
sociais, acarretandoassim
prejuízona
áreada
saúde
eo
sistemaimplantado na
época,não
atendiaadequadamente
as necessidadesda
população.
Devido
ao regime
ditatorialda
época,com
repressões políticas e censurana
imprensa,