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Educação física, prática desportiva e saúde: um estudo em alunos do 2º Ciclo do Ensino Básico do Concelho de Mangualde

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Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro

2º CICLO EM ENSINO DE EDUCAÇÃO FÍSICA

NOS ENSINOS BÁSICO E SECUNDÁRIO

EDUCAÇÃO FÍSICA, PRÁTICA

DESPORTIVA E SAÚDE

Um estudo em alunos do 2º Ciclo do Ensino Básico do concelho

de Mangualde.

Romão António da Silva Rodrigues

Orientador: Professor Doutor Abel Figueiredo

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UNIVERSIDADE DE TRÁS-OS-MONTES E ALTO DOURO

2º CICLO EM ENSINO DE EDUCAÇÃO FÍSICA

NOS ENSINOS BÁSICO E SECUNDÁRIO

EDUCAÇÃO FÍSICA, PRÁTICA

DESPORTIVA E SAÚDE

Um estudo em alunos do 2º ciclo do Ensino Básico do Concelho de

Mangualde

Romão António da Silva Rodrigues

Orientador: Professor Doutor Abel Figueiredo

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Dissertação apresentada à UTAD, no DEP – ECHS, como requisito para a obtenção do grau de Mestre em Ensino de Educação Física dos Ensino Básico e Secundário, cumprindo o estipulado na alínea b) do artigo 6º do regulamento dos Cursos de 2ºs Ciclos de Estudo em Ensino da UTAD, sob a orientação do Professor Doutor Abel Figueiredo.

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"Numa sociedade com base no conhecimento, por definição é necessário ser estudante a vida toda".

Tom Peters

É na certeza de que precisamos ser estudantes a vida toda, na sede da constante procura pelo conhecimento, na necessidade de entender a vida, tal como refere Aristóteles “o conhecimento é o ato de entender a vida” que me envolvi em mais um projeto formativo. Esta construção foi um trabalho coletivo que contou com o contributo inquestionável de muitos que merecem aqui o meu reconhecimento e agradecimento.

Ao Professor Doutor Abel Figueiredo pela sua orientação crítica, partilha de conhecimento e dedicação;

Ao Professor Doutor Francisco Mendes pela sua disponibilidade e contributo no enriquecimento deste trabalho;

Ao Professor Doutor Manuel João sempre disponível para colaborar e pelas palavras de incentivo;

Aos colegas e amigos de há muito, Jorge Fonseca, Sofia Riquito e Pedro Araújo pelo apoio e disponibilidade;

Aos colegas Jorge e Paula pela inestimável colaboração;

Aos alunos, pais e encarregados de educação pela forma dedicada como aceitaram participar neste projeto;

À Adelaide, responsável pela magia e alegria dos meus dias, pela companhia, apoio, e incessante disponibilidade;

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ÍNDICE DE TABELAS ... VI

ÍNDICE DE ABREVIATURAS ... VIII

RESUMO ... IX ABSTRACT ... XI I. INTRODUÇÃO ... 1 1.1. PREÂMBULO……… 1 1.2. DEFINIÇÃO DO PROBLEMA ……… 3 1.3. OBJETIVOS ……….. 4 1.3.1. Objetivo Geral ………. 4 1.3.2. Objetivos Específicos ………. 4

II. REVISÃO DA LITERATURA ... 5

2.1. EDUCAÇÃO FÍSICA E DESPORTO ESCOLAR – ENQUADRAMENTO INSTITUCIONAL ... 5

2.2. FATORES DETERMINANTES DA PRÁTICA DESPORTIVA ……… 7

2.2.1. Prática desportiva e atividade física ……… 7

2.2.2. Determinantes biológicos ………... 10

2.2.2.1. Idade ……… 10

2.2.2.2. Sexo ………. 12

2.2.3. Determinantes demográficos ………. 14

2.3. PRÁTICA DESPORTIVA E SAÚDE ……….. 15

2.3.1. Conceito de saúde ………... 15 2.3.2. Aptidão cardiorrespiratória ……… 17 2.3.3. Aptidão muscular ……… 19 2.3.4. Composição corporal ……….. 22 2.3.5. Tensão arterial ……… 25 2.4. CONCLUSÕES PRÉVIAS ……… 29

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iv 3.1. AMOSTRA ……… 32 3.2. VARIÁVEIS ……….. 32 3.2.1. Prática desportiva ……… 32 3.2.2. Variáveis biológicas ……… 33 3.2.3. Variáveis demográficas ………... 33 3.2.4. Variáveis de saúde ……….. 33 3.3. PROCEDIMENTOS ……….. 34

3.3.1. Contacto com as instituições e termo de consentimento ……… 34

3.3.2. Sequência e organização da avaliação ……… 34

3.3.2.1. Questionários ………... 34

3.3.2.2. Composição corporal ………... 36

3.3.2.3. Tensão arterial ……….. 37

3.3.2.4. Testes de avaliação da aptidão cardiorrespiratória e muscular ……… 37

3.3.3. Controlo da qualidade dos dados ……… 38

3.3.4. Tratamento Estatístico ……… 38

IV. APRESENTAÇÃO DOS RESULTADOS ... 39

4.1. VARIÁVEIS DEMOGRÁFICAS ……… 39

4.2. EFEITO DO SEXO ……… 40

4.2.1. Efeito do sexo sobre as variáveis de composição corporal ……… 40

4.2.2. Efeito do sexo sobre a tensão arterial ………. 41

4.2.3. Efeito do sexo sobre os testes da aptidão cardiorrespiratória e muscular ……….. 41

4.3. VARIAÇÃO ASSOCIADA À PRÁTICA DESPORTIVA ……….. 42

4.3.1. Prática desportiva, sexo e idade ……….. 42

4.3.2. Prática desportiva e variáveis demográficas ……….. 43

4.3.3. Prática desportiva e saúde ……….. 45

4.3.3.1. Prática desportiva e aptidão cardiorrespiratória e muscular ……… 45

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V. DISCUSSÃO DOS RESULTADOS ... 50

5.1. DIMORFISMO SEXUAL ………. 50

5.1.1. Efeito do sexo sobre as variáveis de composição corporal ……… 50

5.1.2. Efeito do sexo sobre a tensão arterial ………. 52

5.1.3. Efeito do sexo sobre os testes da aptidão cardiorrespiratória e muscular ………... 53

5.2. VARIAÇÃO ASSOCIADA À PRÁTICA DESPORTIVA ………... 55

5.2.1. Prática desportiva e sexo ………. 55

5.2.2. Prática desportiva e variáveis demográficas ………... 57

5.2.3. Prática desportiva e saúde ……….. 58

5.2.3.1. Prática desportiva e aptidão cardiorrespiratória e muscular ……… 58

5.2.3.2. Prática desportiva e composição corporal ……….. 60

5.2.3.3. Prática desportiva e tensão arterial ………. 61

VI. CONCLUSÕES ... 63

6.1. CONCLUSÕES DO ESTUDO ………. 63

6.2. LIMITAÇÕES DO ESTUDO ……… 66

6.3. SUGESTÕES PARA FUTURAS PESQUISAS ……… 66

VII. BIBLIOGRAFIA ... 67

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Tabela 1. Fatores determinantes dos hábitos de atividade física (adaptado de Sallis e Owen, 1999). ... 10 Tabela 2. Pesquisas sobre atividade física em crianças e adolescentes e fatores determinantes utilizados (adaptado de Seabra et al., 2008). ... 10 Tabela 3. Número de sujeitos de acordo com a idade e sexo. ... 32 Tabela 4. Definição dos grupos de acordo com o grau de escolaridade e correspondente estatuto socioeconómico (ESE). ... 35 Tabela 5. Nível de instrução dos progenitores. ... 39 Tabela 6. Distribuição da amostra de acordo com o estatuto socioeconómico ... 39 Tabela 7. Distribuição da amostra de acordo com a dimensão da família dada pelo número de irmãos. ... 40 Tabela 8. Estatística descritiva por sexo para as variáveis de composição corporal. ... 40 Tabela 9. Prova de significância (U de Mann-Whitney) para testar o efeito do sexo sobre as variáveis de composição corporal. ... 40 Tabela 10. Prova de qui-quadrado para testar o efeito do sexo sobre o IMC. ... 41 Tabela 11. Prova de qui-quadrado para testar o efeito do sexo sobre o perímetro da cintura. 41 Tabela 12. Prova de qui-quadrado para testar o efeito do sexo sobre tensão arterial. ... 41 Tabela 13. Estatística descritiva (média e desvio padrão) dos valores resultantes da aplicação dos testes de aptidão cardiorrespiratória e muscular por sexo. ... 42 Tabela 14. Prova de significância (U de Mann-Whitney) para testar o efeito do sexo sobre os testes de aptidão cardiorrespiratória e muscular por sexo. ... 42 Tabela 15. Prova de significância (ANOVA) para testar o efeito do sexo sobre as variáveis resultantes da aplicação do teste impulsão horizontal. ... 42 Tabela 16. Distribuição da amostra de acordo com a prática desportiva e o sexo. ... 42 Tabela 17. Distribuição da amostra de acordo com a prática desportiva, separadamente pelas categorias desporto escolar e desporto federado e o sexo e prova de qui-quadrado para testar o efeito do sexo... 43 Tabela 18. Frequências cruzadas, entre o sexo e as categorias dadas pela variável prática desportiva, separadamente para os escalões etários de 10, 11 e 12 anos e prova de qui-quadrado para testar o efeito do sexo separadamente para os escalões etários de 10, 11 e 12 anos. ... 43 Tabela 19. Frequências cruzadas, entre o sexo e as categorias dadas pelos grupos de variáveis de prática desportiva, separadamente para os escalões etários de 10, 11 e 12 anos. ... 43 Tabela 20. Comparação entre os grupos de prática desportiva relativamente ao estatuto socioeconómico, separadamente para o sexo masculino e feminino e prova de qui-quadrado para testar o efeito do sexo sobre o estatuto socioeconómico, separadamente para os grupos de prática desportiva. ... 44 Tabela 21. Comparação entre os diferentes grupos de prática desportiva relativamente ao estatuto socioeconómico, separadamente para o sexo masculino e feminino. ... 44 Tabela 22. Comparação entre os grupos de prática desportiva, relativamente à distância casa escola, separadamente para o sexo masculino e feminino, e prova de qui-quadrado para testar o efeito do sexo sobre a distância casa-escola, separadamente para os grupos de prática desportiva. ... 44 Tabela 23. Comparação entre os grupos de prática desportiva, relativamente à distância casa escola, separadamente para o sexo masculino e feminino. ... 45

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Tabela 25. Prova de significância (U de Mann-Whitney) para testar o efeito da prática

desportiva nos testes de aptidão cardiorrespiratória e muscular. ... 46 Tabela 26. Distribuição da amostra de acordo com os grupos de prática desportiva e os testes de aptidão cardiorrespiratória e muscular para o sexo masculino e feminino... 47 Tabela 27. Distribuição da amostra de acordo com a prática desportiva e as variáveis

biológicas para o sexo masculino e feminino. ... 47 Tabela 28. Prova de significância (U de Mann-Whitney) para testar o efeito da prática

desportiva sobre as variáveis de composição corporal. ... 48 Tabela 29. Testar o efeito da prática desportiva relativamente à classificação do IMC,

separadamente para os grupos masculinos e femininos. ... 48 Tabela 30. Testar o efeito da prática desportiva relativamente à classificação do perímetro da cintura, separadamente para os grupos masculinos e femininos. ... 48 Tabela 31. Testar o efeito da prática desportiva relativamente à classificação da tensão arterial, separadamente para os grupos masculinos e femininos. ... 49 Tabela 32. Testar o efeito da prática desportiva (desporto escolar e desporto federado)

relativamente à classificação da tensão arterial, separadamente para os grupos masculinos e femininos. ... 49

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viii AF – Atividade física

AFMV – Atividade física moderada a vigorosa DE – Desporto escolar

DF – Desporto federado EF – Educação física

ESE – Estatuto socioeconómico HTA – Hipertensão arterial IMC – Índice de massa corporal INE – Instituto Nacional de Estatística ME – Ministério da Educação

OMS – Organização Mundial de Saúde PC – Perímetro da cintura

PD – Prática desportiva SA – Senta-alcança

SPD – Sem prática desportiva TA – Tensão arterial

TAD – Tensão arterial diastólica TAS – Tensão arterial sistólica

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O presente estudo enquadra-se na problemática da Educação Física (EF), Desporto e Saúde Juvenil, e teve como objetivo analisar os índices de prática desportiva complementar à EF (Desporto Escolar e Desporto Federado) em relação com o perfil demográfico, biológico e de saúde, em alunos do 2º Ciclo do Ensino Básico. A amostra foi constituída por 250 crianças (134 rapazes e 116 raparigas), do concelho de Mangualde, com idades compreendidas entre os 10 e 12 anos. As variáveis demográficas e a variável prática desportiva foram obtidas através de dois questionários. A aptidão cardiorrespiratória foi avaliada pelo teste de vaivém e a aptidão muscular avaliada pelos testes senta e alcança, abdominais, impulsão horizontal e corrida plana de 40 m. A composição corporal foi estudada através da medição da estatura, massa corporal, IMC e perímetro da cintura. Foi realizada a medição da tensão arterial como variável ligada à saúde. Para testar o efeito do sexo e da prática desportiva sobre os testes de aptidão cardiorrespiratória e muscular recorremos ao teste U de Mann-Whitney e o teste do qui-quadrado para testar o efeito do sexo sobre as variáveis de composição corporal, tensão arterial e prática desportiva. O mesmo teste foi usado para testar o efeito da prática desportiva sobre as variáveis de composição corporal e tensão arterial.

Resultados: (i) há diferenças nos níveis de aptidão cardiorrespiratória e muscular dos rapazes e raparigas, com diferenças estatisticamente significativas no teste de vaivém, impulsão horizontal (p≤.01) e na prova de velocidade (p≤.05), a favor dos rapazes, apresentando as raparigas valores superiores no teste senta e alcança (p≤.01); (ii) as raparigas são as que mais beneficiam da prática do desporto escolar (DE) e os rapazes do desporto federado; (iii) os sujeitos com estatuto socioeconómico (ESE) mais elevado apresentam valores de prática desportiva superiores aos seus pares com ESE mais baixo (p≤.05); (iv) os alunos com prática desportiva revelaram melhor aptidão cardiorrespiratória do que aqueles que apenas beneficiam da EF (p≤.05); (v) os rapazes sem prática desportiva para além da EF, apresentaram valores significativamente superiores (p≤.05) de excesso de peso relativamente aos seus pares praticantes, (vi) no sexo feminino a prática desportiva encontra-se associada a índices mais elevados de hipertensão.

Conclusões: A prática desportiva associada à EF parece não ser suficiente para minimizar alguns indicadores negativos relacionados com a saúde. Por sua vez, o DE pode ser considerado um dos grandes contribuintes para os níveis de atividade física do sexo feminino,

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Assim, para a promoção de níveis de atividade física eficazes para a saúde, a criação de comunidades ativas deve ser uma prioridade. Primeiro, tendo presente que as crianças e adolescentes passam a maior parte do seu dia na escola, aumentando e valorizando o tempo atribuído à disciplina de EF e promovendo o DE, como meio de incrementar os índices de prática desportiva, nomeadamente entre o sexo feminino e as classes mais desfavorecidas, e simultaneamente criar uma rede desportiva concelhia em parceria com o DE, com uma oferta diversificada e tendencialmente gratuita.

Palavras-chave: Educação física, desporto escolar, atividade física, aptidão cardiorrespiratória, aptidão muscular, composição corporal e tensão arterial.

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The present study deals with some the issues of Physical Education (PE), Sports and Youth Health. Its purpose was to analyse the indices of extra sports practice in addition to Physical Education (Scholar and Federated Sports) as a function of the demographic, biological and health profile of students who attend elementary school. The sample for this study was comprised of 250 children (134 boys and 116 girls), from the region of Mangualde, aged between 10 and 12 years old. The demographic variables and the sports practice variable were obtained through two surveys. The cardio respiratory fitness was measured using the shuttle run test and the muscular fitness was evaluated through the following tests: sit and reach, abdominals, horizontal impulsion and 40 meter running speed. The body composition was established through stature, body mass, BMI and waist circumference. The blood pressure was considered as the variable related to health. To test the effects of sex and sports practice on the cardio respiratory and muscular fitness tests the Mann-Whitney U test was used. The chi-square test was used to characterise the effect of sex gender on the following variables: body structure, blood pressure and sportive practice. The same test was used to check the effect of sports practice over the body structure and the blood pressure.

Results of the study: (i) differences in the cardio respiratory and muscular fitness levels of both boys and girls were obtained, being statistically significant in the shuttle run test, the horizontal impulsion (p≤.01) and the speed test (p≤.05), favouring boys. Girls were superior in the sit and reach test (p≤.01); (ii) girls benefit more of the school sports practice, while boys take more advantage of federated sports; (iii) the individuals with the highest socio-economic status (SES) have higher rates of sports practice when compared to those with a lower SES (p≤.05); (iv) the students who practice extra sports exhibit a better cardio respiratory fitness than those who only attend PE classes; (v) boys not performing extra sports among the PE classes’ attendance, showed significant higher levels of overweight when compared with those who practice it; (vi) for females the lack of extra sports practice is associated with higher hypertension index levels.

Conclusions: Sports practice associated to PE does not seem to be enough to minimise some indicators related to poor health. Thus, the school sports can be considered the biggest contribution to the practice of physical activity for females, while for males the sports practiced out of the school context seem to contribute the most. Therefore, in order to promote efficient levels of physical activity leading health improvement, the creation of

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promoted, as a means of increasing the levels of sports practice, namely among females and the members of poor social classes. At the same time, a sports network at a local level should be created, establishing a partnership with the national school sports team, providing in that way a diverse and mainly cost-free offer.

Key words: Physical Education school sports, physical activity, cardio respiratory fitness, muscular fitness, body composition and blood pressure.

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I. INTRODUÇÃO

1.1. PREÂMBULO

As preocupações com a promoção da saúde cada vez mais se configuram como prioridades nos países desenvolvidos, no entanto, a crise económica, que marca a atualidade, pode pôr em causa esses propósitos.

Bento (1995) referia que a saúde deveria ser entendida como um bem individual e instável, isto é, que necessita de ser adquirido, mantido, reconstruído ao longo da vida, e acrescentaríamos que também deve ser encarada como um bem coletivo já que as implicações económicas e sociais, para um país, são consideráveis. A promoção e proteção da saúde são essenciais para o bem-estar do homem e para o desenvolvimento económico e social sustentável. Um reconhecimento pelos signatários da Declaração de Alma-Ata (1978), que assinalaram que a saúde para todos contribuiria tanto para uma melhor qualidade de vida como também para a paz e segurança globais (OMS, 2010).

Em 2002, a OMS identificou os 8 fatores de risco que mais contribuem para a mortalidade e morbilidade: consumo de tabaco, ingestão de álcool, inatividade física, o consumo insuficiente de frutas e vegetais, obesidade, diabetes, hipertensão arterial e hipercolesterolemia, todos eles ligados, de uma forma ou de outra, às mudanças no estilo de vida, nomeadamente às alterações da dieta e à diminuição da atividade física (aumento do sedentarismo).

Os mais variados estudos apontam para o aumento do sedentarismo. Parece evidente que os constantes avanços nas tecnologias de informação e comunicação têm provocado alterações nos padrões de comportamento, resultando daí uma diminuição da quantidade de atividade física. A Organização Mundial da Saúde (OMS, 2002) referiu que cerca de 60%-85% da população dos países desenvolvidos e dos países em vias de desenvolvimento tenham estilos de vida sedentários. Uma pesquisa desenvolvida pela OMS (2004), em adolescentes com idade inferior a 15 anos, salientou que dois terços desses adolescentes não cumpriam as linhas de recomendação da atividade física, isto é, uma hora ou mais de atividade, a uma intensidade no mínimo moderada, em cinco ou mais dias da semana. A grande generalidade dos estudos longitudinais aponta para um declínio nos níveis de participação em atividades físicas na

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população mais jovem, fundamentalmente na transição da infância para a adolescência (Riddoch e Boreham, 2000; Telama, Yang, 2000; Kim, et al., 2000, Mechelen et al., 2000; Gavarry et al., 2003).

A prática desportiva (PD) é considerada como uma componente importante da atividade física total (Cleland et al., 2005) já que ela contribui entre 23% a 60% da atividade física moderada a vigorosa das crianças e adolescentes (Wickel e Eisenmann, 2007). A participação desportiva na infância e adolescência, além dos efeitos benéficos na saúde (Kavey et al., 2003; MacKelvie et al., 2003; Trudeau e Shephard, 2005), está associada a mais baixos índices de comportamento antissocial (Morri et al., 2003; Harrison e Narayan, 2003), a níveis mais elevados de bem-estar emocional (Steptoe e Butler, 1996; Ekeland et al., 2004) e melhor rendimento académico (Rees e Sabia, 2010).

Apesar da reconhecida importância da prática desportiva, em Portugal, a percentagem de crianças e adolescentes a beneficiar destas atividades ainda é muito baixo. Costa et al. (2009), num estudo realizado em alunos do norte de Portugal, a frequentar o 3º ciclo e ensino secundário, apenas 54,5% praticavam atividades desportivas.

Os estudos apontam para a existência duma associação negativa entre a obesidade e a atividade física e prática desportiva (Bar-Or e Baranowski, 1994; Levin et al., 2003; Abbott e Davies; 2004; Rogatto, 2003; Strong et al.; 2005, e Zahner et al., 2006). Não será pois de estranhar que o número de indivíduos obesos e com excesso de peso no mundo seja já superior aos indivíduos desnutridos, criando sérios desafios para a saúde de cada um e para os sistemas de saúde (Sanders et al., 2011). Muitos dos estudos recentes indicam que a prevalência de obesidade na infância e adolescência tem vindo a aumentar a um ritmo alarmante, sendo estes grupos particularmente suscetíveis às consequências da obesidade e excesso de peso (Lobstein, 2006; Malina, 2009; Gupta et al., 2010; Kleiman, et al., 2012). Em Portugal, Maia e Lopes, (2002), Padez et al. (2004) e INE (2007), mostraram um crescimento explosivo de sobrepeso e de obesidade em crianças e adolescentes nas últimas décadas.

É notório que muitas crianças, hoje em dia, se veem privadas da exploração das suas capacidades motoras. De modo particular importa referir a verticalização das cidades (Pereira e Sobral, 2003), o advento da informática e outras tecnologias, bem como à crescente demanda urbana, vem cristalizando o sedentarismo que parece ter início nas mais tenras idades (Pereira e Sobral, 2003; Gavarry et al. (2003).

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Entre a população jovem a escola é um dos poucos envolvimentos onde as crianças e adolescentes podem conviver, brincar e praticar atividades desportivas. Neste contexto, entendemos que a escola deve situar-se no centro das preocupações com a educação para a saúde (Observatório Nacional da Atividade Física e Desporto, 2005; Ortega et al. 2011), por diversas razões mas, sobretudo, pelo facto de as crianças e jovens passaram grande parte do seu dia na escola.

Assim, a Educação Física (EF) e o Desporto Escolar (DE) devem assumir-se como principais promotores de estilos de vida saudáveis, fomentando, essencialmente, longos períodos de atividade física.

A análise do comportamento de algumas variáveis relacionadas com o crescimento, prática desportiva e aptidão física pode constituir-se como um importante indicador dos níveis de saúde e qualidade de vida de uma população. Estudos desta natureza podem fornecer valiosas informações para análise do estilo de vida adotado em diferentes sociedades, além de possibilitar previsões para o futuro, principalmente no que toca aos aspetos relacionados com a promoção da saúde. Permitem ainda fornecer indicadores relevantes para sensibilizar à promoção de diversas ações sociais que privilegiem a melhoria da qualidade de vida das populações estudadas.

1.2. DEFINIÇÃO DO PROBLEMA

É distinguido e reconhecido o papel importante que a escola tem na promoção de estilos de vida saudável. Partindo do pressuposto de que muitos dos comportamentos promovidos nas idades escolares têm o seu prolongamento para a idade adulta, parece-nos importante conhecer e compreender que comportamentos caracterizam os alunos de determinada região, para que sejam tomadas decisões sobre como desenvolver estratégias pedagógicas mais adequadas na implementação de medidas promotoras de saúde. Assim, consideramos pertinente desenvolver um estudo que determine quais os índices de prática desportiva e o perfil biológico, de aptidão física e saúde que caracterizam os alunos do 2º Ciclo, do concelho de Mangualde.

A presente dissertação é demarcada por três questões consideradas essenciais:

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B – Dos determinantes demográficos e biológicos estudados, quais são os que mais influenciam ou são influenciados pela pratica desportiva?

C – Como se relaciona a prática desportiva com os indicadores de saúde?

1.3. OBJETIVOS

1.3.1. Objetivo Geral

O presente estudo tem como objetivo geral analisar os índices de prática desportiva e o perfil demográfico, biológico e de saúde em alunos do 2º Ciclo do Ensino Básico, do concelho de Mangualde.

1.3.2. Objetivos Específicos

 Definir um perfil global (prática desportiva, biológico, demográfico e de saúde) dos alunos do 2º ciclo.

 Descrever o perfil biológico característico dos rapazes e das raparigas.

 Apresentar o perfil de prática desportiva característico dos rapazes e das raparigas.

 Conhecer os níveis de aptidão cardiorrespiratória e muscular do sexo masculino e feminino.

 Identificar a associação entre fatores de âmbito biológico-demográficos e os tipos de prática desportiva, em ambos os sexos

 Estudar as inter-relações existentes entre a prática desportiva, variáveis demográficas e indicadores de saúde.

 Verificar os índices de fatores de risco cardiovasculares (obesidade, obesidade central e níveis hipertensão arterial).

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II. REVISÃO DA LITERATURA

2.1. EDUCAÇÃO FÍSICA E DESPORTO ESCOLAR – ENQUADRAMENTO INSTITUCIONAL

A escola é provavelmente uma das instituições mais importantes da sociedade contemporânea, não só pelo seu papel de instruir, mas um local onde se personaliza, socializa e educa a criança e o jovem para a sociedade da qual é agente integrante. Compete à escola criar as oportunidades necessárias para a conquista da autonomia pessoal do aluno, o que pressupões a apreensão de valores e a construção de conhecimento e personalidade que possibilitem o desenvolvimento de atitudes orientadas para uma participação crítica e mais consciente nas diferentes manifestações da vida social (Silva, 2006).

Neste contexto, é consensual a importância do exercício físico e do desporto como veículo potenciador do processo de formação integral e harmonioso dos jovens. A escola, sendo o espaço onde os jovens mais horas gastam do seu quotidiano, deverá ser, de facto, o local privilegiado para realizar e fomentar a atividade física e desportiva, até porque a sua prática, quando desenvolvida de forma adequada, representa um importante instrumento de valorização das pessoas e da sua qualidade de vida.

Assim, se justifica a consagração internacional da prática da Educação Física e do Desporto como um direito fundamental, mas também como elemento essencial na educação e da cultura, no desenvolvimento das aptidões, da vontade e do autocontrolo das pessoas, visando a sua inserção social e o pleno desenvolvimento das suas capacidades (ME, 2003).

A valorização da Educação Física (EF) e Desporto Escolar (DE) tem sido reconhecida em vários documentos legislativos, nomeadamente na Lei de Bases do Sistema Educativo (1986), referindo que o sistema educativo deve organizar-se de forma a contribuir para “a realização do educando (…) proporcionando-lhe um equilibrado desenvolvimento físico”, “contribuir para a realização pessoal e comunitária dos indivíduos, não só pela formação para o sistema de ocupações socialmente úteis, mas ainda pela prática e aprendizagem da utilização criativa dos tempos livres” e “proporcionar o desenvolvimento físico e motor”. Na alteração à LBSE, com a Lei nº 49/2005, o artigo 51º, denominado ocupação de tempos livres e desporto escolar, refere que “ as actividades de complemento curricular visam, nomeadamente, o enriquecimento cultural e cívico, a educação física e desportiva, a educação artística e a

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inserção dos educandos na comunidade” e que “o desporto escolar visa especificamente a promoção da saúde e condição física, a aquisição de hábitos e condutas motoras e o entendimento do desporto como factor de cultura, estimulando sentimentos de solidariedade, cooperação, autonomia e criatividade…”. Adicionalmente a Lei de Bases da Atividade Física e do Desporto (Lei nº 5/2007) salienta que a educação física e o desporto escolar devem ser promovidos no âmbito curricular e de complemento curricular, em todos os níveis e graus de educação e ensino, como componentes essenciais da formação integral dos alunos, visando especificamente a promoção da saúde e condição física, a aquisição de hábitos e condutas motoras e o entendimento do desporto como fator de cultura. Reforçando, o Programa do Desporto Escolar para 2009-2013 enaltece o papel essencial do DE na promoção da saúde, na inclusão e integração social, na promoção do desporto e no combate ao insucesso escolar.

Mais recentemente, o despacho conjunto n.º 17/2013, de Janeiro, enquadra o alargamento do DE ao 1º Ciclo do Ensino Básico, realçando a necessidade de se valorizar o DE neste ciclo de ensino. O documento “Orientações Programáticas ‐ Projeto do Desporto Escolar no 1.º Ciclo”, para o ano letivo 2014-2015, vem regular as orientações programáticas do despacho supra citado, replicando os objetivos de documentos já mencionados: a redução do comportamento sedentário nas crianças; e o aumento da atividade física envolvendo várias formas de participação recreativa e desportiva e a otimização de outros comportamentos saudáveis relacionados. Mas na prática, pouco mais é do que um documento cheio de boas intenções, já que o regulamento de adesão limita a aprovação de um projeto (vinculado a um Agrupamento de Escolas) por Coordenação Local do Desporto Escolar.

A relação entre DE e EF deverá ser encarada numa perspetiva de articulação e complementaridade. O Programa do Desporto Escolar para 2009-2013, destaca que o DE deve ser articulado horizontalmente e verticalmente, ao longo de todos os anos de escolaridade, com as atividades curriculares da EF.

A EF deverá servir como motor de sensibilização para a importância da regularidade de prática desportiva e orientação dos alunos, encaminhando-os para instituições desportivas ou clube do desporto escolar. O DE diferencia-se pelo carácter voluntário da sua prática, dependendo da motivação dos alunos, potenciando o desenvolvimento e a educação desportiva, social, pessoal e relacional, potenciando algumas das aprendizagens da educação física.

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Bento (1994) refere que o DE representa o vetor preferencial para a adição de um conjunto de experiências e oportunidades que na EF seriam difíceis de acontecer.

Sendo a escola o centro de desenvolvimento da prática educativa desportiva e o DE uma atividade abrangente para todos os alunos, compete aos estabelecimentos de ensino fomentá-lo como um espaço alargado de interdisciplinaridade, um instrumento pedagógico e um fator de progresso e de futuro (Santos, 2009). É obrigação dos órgãos de gestão das escolas garantir a articulação horizontal e vertical da EF e do DE, devendo assegurar que as atividades de enriquecimento e de complemento curricular, como é o caso do DE, contribuam de forma articulada, para os projetos educativos das escolas e para um desenvolvimento global dos alunos. Sendo que todas as escolas devem garantir, obrigatoriamente, a oferta de atividades do DE aos seus alunos, proporcionando-lhes oportunidades de prática desportiva regular, para além da disciplina de EF (Programa do Desporto Escolar 2009-2013).

Apesar de muito apregoados os valores diferenciadores e relevantes da EF e do DE, pelos diferentes poderes políticos, sentimos que estamos a entrar numa período letárgico e esquecimento dos mesmos, senão vejamos a EF passou de 3 tempos semanais (2º e 3º Ciclos) de 50 min, para 3 tempos de 45 min, que poderão ficar reduzidos a 2 períodos de 50 min, se os Agrupamentos de Escolas assim o decidirem. No DE, os grupos/equipas, com quadro competitivo nacional, o crédito horário foi reduzido de 4 para 3 tempos letivos. E, por último, referimos o facto da disciplina de EF deixar de contar para a média final do ensino secundário, o que poderá provocar um desinvestimento dos alunos. Esta nossa observação e preocupações são partilhadas por Hardman e Marshall (2000, 2009) e Hardman (2011) ao referirem que oferta de programas de educação física, como parte do currículo escolar, está a diminuir numa escala mundial.

Num momento em que a saúde e o bem-estar das crianças e jovens estão a ser desafiados, recursos e soluções para tais preocupações estão a ser eliminados do currículo básico escolar.

2.2. FATORES DETERMINANTES DA PRÁTICA DESPORTIVA

2.2.1. Prática desportiva e atividade física

Os conceitos de Prática Desportiva (PD) e Atividade Física (AF) são muitas vezes utilizados como sinónimos, apesar de se reportarem a estruturas conceptuais e operativas distintas.

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8

A AF é consensualmente entendida como qualquer movimento corporal produzido pelos músculos esqueléticos que resulte num aumento de dispêndio de energia relativamente à taxa metabólica de repouso (Bouchard et al., 1994). A PD pode ser, genericamente, entendida como toda a atividade realizada no contexto desportivo de modo sistemático, intencional e orientado para um determinado objetivo (Bouchard et al, 1994). Bento (2004) refere que a PD é um baluarte na formação pedagógica, educativa e cultural.

Em Portugal, coexistem dois sistemas desportivos para as crianças e jovens - um na escola, DE, e outro em associações e coletividades da comunidade. O DE está presente na generalidade das escolas do ensino básico e secundário como uma atividade extracurricular de livre participação. O desporto praticado em associações desportivas e clubes tem uma forte tradição na programação pós-escolar (Bento, 2006; Seabra et al, 2007).

A PD é considerada como uma componente importante da atividade física total (Cleland et

al., 2005) já que ela contribui entre 23% a 60% da atividade física moderada a vigorosa das

crianças e adolescentes (Wickel e Eisenmann, 2007). Sigmund et al. (2008) concluíram que a participação frequente em desportes organizados está positivamente relacionada com a quantidade de AF semanal, destacando que, as crianças que participam em desportos organizados, apresentam níveis significativamente mais elevados de atividade física vigorosas quando comparadas com crianças sem prática desportiva. Já Leek et al. (2011) demonstraram que a participação desportiva não garantia às crianças e adolescentes (7 a 14 anos) os valores recomendados de AF, nos dias de prática. Nesse estudo, os sujeitos passavam apenas 46,1% do seu tempo a praticar AFMV e apenas 24% cumpriram as diretrizes atuais de 60 minutos de AFMV por dia. Tal resultado pode dever-se ao facto de uma elevada percentagem de crianças estarem inativas durante o tempo de prática (Katzmarzyk et al., 2001).

A participação desportiva na infância e adolescência, além dos efeitos benéficos na saúde (Kavey et al., 2003; MacKelvie et al., 2003; Trudeau e Shephard, 2005), está associada a mais baixos índices de comportamento antissocial (Morri et al., 2003; Harrison e Narayan, 2003), a níveis mais elevados de bem-estar emocional (Steptoe e Butler, 1996; Ekeland et al., 2004) e uma maior participação desportiva na idade adulta (Tammelin et al., 2003; Kraut et al., 2003; Telama et al., 2006).

Apesar da reconhecida importância da PD, a inatividade continua a marcar uma grande percentagem das crianças e adolescentes em idades escolares, dos países industrializados

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9

(Irving, et al., 2003; Norman et al., 2003; Trudeau e Shephard, 2005). Os resultados nem sempre convergem quanto à percentagem de praticantes desportivos. Na austrália, por exemplo, num período de 15 anos, as crianças do sexo masculino, praticantes de desportos extracurriculares, passaram de 91% para 71% e as do sexo feminino de 90% para 58% (Pyke, 1985; Australian Bureau of Statistics, 2000). Westerståhl et al. (2003), Samdal et al. (2007) e Lampert et al. (2007) referem que participação em desportos organizados foi mantida ou mesmo aumentada, nos últimos anos. Eiðsdóttir et al. (2008) referem que, apesar do considerável aumento da participação desportiva em adolescentes (14-15 anos) islandeses, entre 1992-2006, mais de metade dos adolescentes não participam de clubes desportivos organizados de forma consistente. Em Portugal, Costa et al. (2009), num estudo realizado em alunos do norte de Portugal, a frequentar o 3º ciclo e ensino secundário, apenas 54,5% praticavam atividades desportivas.

A diminuição dos níveis de atividade física em crianças e adolescentes é um importante problema de saúde pública (Armstrong e Welsman, 2006).

Da análise da literatura emerge a noção de não haver ainda uma descrição esclarecedora dos múltiplos fatores que determinam a forte variabilidade nos hábitos de atividade física das populações infanto-juvenis. É aceite que determinantes biológicos (idade, sexo), psicológicos (motivação) e socioculturais (família, estatuto socioeconómico) influenciam a heterogeneidade populacional nos hábitos de atividade física em crianças e adolescentes (Sallis et al., 2000; Bauman et al. (2002). O problema principal reside na hierarquia da sua importância. Buckworth e Dishman (2002) referem, genericamente, que os fatores que determinam a atividade física podem ser categorizados em atributos pessoais do passado e do presente, fatores do envolvimento do passado e do presente, e aspetos da própria atividade física.

Salis e Owen (1999), por sua vez, resumem o conjunto diversificado de fatores e determinantes que parecem influenciar a atividade física de adolescentes (tabela 1).

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10

Tabela 1. Fatores determinantes dos hábitos de atividade física (adaptado de Sallis e Owen, 1999).

Fatores Determinantes

Biológicos e demográficos Idade; sexo, genética, características antropométricas e composição corporal, etnia, habilitações académicas, estatuto socioeconómico.

Psicológicos, emocionais e cognitivos Gosto pela atividade desportiva, alcance dos benefícios, perceção de saúde e aptidão, motivação, distúrbios de humor.

Comportamentais Historial de atividades anteriores, qualidade dos hábitos dietéticos.

Socioculturais Influência do médico e professores, apoio dos pares e família. Ambientais Acesso a equipamentos, clima, custos associados à prática

desportiva.

Características da atividade física Intensidade, sensação subjetiva do esforço.

Seabra et al. (2008) fez um quadro síntese com alguns dos muitos estudos realizados sobre a atividade física (tabela 2) e os determinantes utilizados.

Tabela 2. Pesquisas sobre atividade física em crianças e adolescentes e fatores determinantes utilizados

(adaptado de Seabra et al., 2008).

Autor Ano N Amosta

idade (anos)

País Fatores determinantes Cleland et al. 2005 5.929 9-15 Austrália Demográficos, biológicos e

socioculturais

Duncan et al. 2005 372 12 EUA Demográficos, biológicos e socioculturais

Hallal et al. 2006 4.461 10-12 Brasil Demográficos, biológicos Seabra 2004 5.850 10-18 Portugal Demográficos, biológicos e

socioculturais

Smitz et al. 2002 3.789 11-15 EUA Demográficos, biológicos Pereira 1999 517 12-19 Portugal Demográficos, biológicos Lasheras et al. 2001 1.358 6-15 Espanha Demográficos, biológicos

Com base no referido por Salis e Owen (1999), e de acordo com as muitas pesquisas já realizadas, considerámos destacar os determinantes biológicos e demográficos.

2.2.2. Determinantes biológicos

2.2.2.1. Idade

A idade é considerada um importante determinante da prática desportiva em crianças e adolescentes. É aceite, apesar de algumas diferenças conforme o tipo e a intensidade da atividade física realizada, que a atividade física, compreendida no seu conceito global, tende a estar negativamente associada à idade. Parece ser evidente que as atividades desportivas e de intensidade vigorosa são as que preferencialmente diminuem com o avanço da idade (Kristjansdottir e Vilhjalmsson, 2001; Surís e Parera, 2005; Vilhjalmsson e Kristjansdottir, 2003), variando de estudo para estudo, a taxa de diminuição e a idade em que o declínio é

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11

mais acentuado (Caspernsen et al., 2000; Sallis et al. 2000; Telama e Yang, 2000). Há, no entanto, autores que encontraram um aumento das atividades de baixa intensidade (Woodfield

et al., 2002; Grunbaum et al, 2003).

A grande generalidade dos estudos longitudinais aponta para um declínio nos níveis de participação em atividades físicas na população mais jovem, fundamentalmente na transição entre a infância e a adolescência (Riddoch e Boreham, 2000; Telama e Yang, 2000; Kim, et

al., 2000, Mechelen et al., 2000; Gavarry et al., 2003). Caspersen et al. (2000) referem uma

relação inversa entre idade e prática de atividade física, quanto maior é a faixa etária, menor é a tendência de um indivíduo se envolver em atividades desportivas no seu tempo livre.

Castro (2000), em indivíduos entre os 8 e os 16 anos de idade, verificou que os níveis de atividade tendem a diminuir à medida que vai aumentando a idade, sendo o sexo masculino o que despende mais tempo em atividade. Telama e Yang (2000), numa amostra de 2309 finlandeses, de ambos os sexos, verificaram um decréscimo marcadamente acentuado nos níveis de atividade física a partir dos 12 anos de idade, sobretudo no que diz respeito à frequência semanal e participação desportiva. Este declínio foi mais marcante nos rapazes. Uma evolução semelhante encontraram Gavarry et al. (2003), o tempo de atividade física decresceu 69% nos sujeitos masculinos e 36% nos sujeitos femininos, durante os dias escolares, da infância à adolescência.

Em Portugal, os resultados parecem não evidenciar esta tendência de forma consistente (Matos et al., 2001; Vasconcelos e Maia, 2001; Ferreira et al., 2002; Maia e Lopes, 2003, Seabra, 2007). Enquanto Matos et al. (2001), num estudo que abrangeu 6903 jovens, do 6º, 8º e 10º anos de escolaridade, verificaram que os rapazes mais novos praticam mais frequentemente atividade física que os jovens mais velhos, Vasconcelos e Maia (2001), em indivíduos dos 10-19 anos (n=5949), não encontraram um declínio da atividade física até aos 18 anos, para ambos os sexos. Também Cardoso (2000) e Ferreira et al. (2002) chegaram à mesma conclusão.

Se analisarmos apenas a PD, os resultados continuam a não ser consensuais. O estudo de Sukys et al. (2014) revelou que a participação desportiva dos adolescentes (13-18 anos) diminuiu com a idade, o que corrobora o estudo de Michaud et al. (2006). Já Seabra et al. (2008) conclui que a idade não foi relacionada, em crianças/adolescentes (10-18 anos), com a

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12

participação desportiva, apesar de terem encontrado uma tendência para um aumento na PD, para ambos os sexos.

2.2.2.2. Sexo

A generalidade dos estudos realizados tem mostrado que o sexo masculino é fisicamente mais ativo que o sexo feminino (Surís et al, 2005; Riddoch et al., 2004; Samdal et al., 2007; Tammelin et al., 2007; Seabra et al., 2008).

As diferenças encontradas estão dependentes da intensidade e tipo de atividade física realizada. Os estudos apontam para que, nas atividades de natureza desportiva e de maior intensidade, haja mais envolvimento por parte dos rapazes (Magalhães, 2001; Duncan et al., 2002; Levin et al., 2003; Seabra et al., 2008), já raparigas parecem mostrar prevalências superiores de participação em atividades físicas de lazer e de baixa intensidade (Woodfield et

al., 2003; Seabra et al., 2008).

Maia e Lopes (2003), num estudo longitudinal (6-19 anos), os resultados mostram que os rapazes são mais ativos do que as raparigas em todas as idades. Em crianças e adolescentes (9 e 15 anos) da Dinamarca, Portugal, Estónia e Noruega, foi apurado que os rapazes tendem a ser mais ativos do que raparigas, e que há uma redução marcante na atividade durante a adolescência. A grande maioria das crianças mais novas consegue as recomendações atuais da atividade físicas, no entanto, poucas das mais velhas o conseguem, especialmente as raparigas (Riddoch et al., 2004). Concordantemente, o estudo de Mota e Esculcas (2002), com adolescentes (média idade 15.9 anos), os resultados mostraram que as raparigas (80.7%) são significativamente mais sedentárias do que rapazes, sendo que estes pertenciam, em maior percentagem, ao grupo dos mais ativos (92.1%). Conclusões semelhantes apresentaram Eiðsdóttir et al. (2008), em adolescentes (14-15 anos), com uma média de 53% dos rapazes e 36% das raparigas a atingiram a atividade física vigorosa recomendada.

Se nos reportarmos apenas à PD, continuamos assistir a um dimorfismo sexual, com os rapazes apresentarem percentagens superiores de praticantes comparativamente às raparigas (Vilhjalmsson e Kristjansdottir; 2003; Currie et al., 2004; Fernandes e Pereira, 2006; Eiðsdóttir et al., 2008). Os estudos realizados em Portugal referem esta tendência. Fernandes e Pereira (2006), em alunos com idades compreendidas entre os 10 e os 15 anos (n= 450), verificaram que 55,8% praticam desporto, sendo que os rapazes (71,2%) praticam

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13

significativamente mais desporto do que as raparigas (40,2%). Ferreira et al. (2002), em alunos da região de Viseu (n=720), concluíram que os valores médios de PD mostram uma vantagem para os rapazes (10-14 anos). Também Seabra et al. (2007), em crianças e adolescentes (10-16 anos), a prevalência de PD situou-se nos 55%, sendo mais elevado no sexo masculino (69%) que no sexo feminino (41%). Noutro estudo, Seabra et al. (2008), num grupo etário 10-18 anos, encontra valores de PD, muito aproximados ao estudo anterior (72% dos rapazes e 45% raparigas). Adelino et al. (2005) encontraram diferenças significativas na PD federada entre rapazes e raparigas, revelando diferenças significativas entre sexos, 75,6% do sexo masculino contra 24,4% do sexo feminino.

Num estudo onde a PD aparece representada nos grupos DE e prática desportiva em clubes, Silva et al. (2010), em jovens (12-18 anos), conclui que a participação desportiva também foi significativamente diferente entre os sexos (p <0,01). Nas raparigas, 72,1% foram classificados como não praticantes, 16,3% como praticantes DE, 7% como prática desportiva em clubes e 4,6% em ambas. Nos rapazes, 34,2% foram classificados como não praticantes, 10,1% como praticantes DE, 31,6 por cento prática desportiva em clubes, e 24,1% em ambos.

Maia et al., (2002) salientam que a expressão dimorfismo sexual é um conceito de forte abrangência biológica, psicológica e sociocultural. Bennett (1998) e Wold e Hendry (1998) referem que os padrões diferem entre homens e mulheres, facto que pode ser, pelo menos parcialmente, explicado pelas características sociodemográficas.

McKenzie et al. (1997) destacam que a maior participação em atividades desportivas dos rapazes poderá resultar do maior número de reforços positivos de incentivo à sua prática que recebem. Outras explicações avançadas para o menor envolvimento desportivo das raparigas, são as diferentes conceções do corpo, capacidades e atitudes necessárias à prática de atividades desportivas (Malina 1996). Para além de fatores de âmbito social, as diferenças entre sexos, podem ser igualmente devidas a fatores biológicos. Bar-Or e Rowland (2004) relatam que o aumento da gordura corporal, o alargamento pélvico, bem como o desconforto do período menstrual, poderão ser razões suficientes para o menor envolvimento em atividades físicas por parte das raparigas.

A presença deste dimorfismo sexual deve ser seriamente considerado pelos responsáveis de programas de intervenção de saúde pública, particularmente a fim de eliminar preconceitos

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14

sociais sobre o papel da mulher na prática de atividade física generalizada, culturalmente referenciada e prestigiante do ponto de vista pessoal (Seabra et al., 2008).

2.2.3. Determinantes demográficos

Onde vivemos, estudamos, trabalhamos e brincamos parece ter muito a ver com o quão ativos somos (Brownson et al., 2010; Ding et al., 2011). Malina (1996) defende que as oportunidades para a prática de atividades físicas e desportivas podem ser limitadas pela falta de organização de programas de desporto para os jovens, preocupações parentais relativas a questões de segurança, recursos económicos e a combinação destes e de outros fatores.

O estatuto socioeconómico é um dos determinantes que mais tem sido referenciado na literatura como modulador da prática de atividade física. Os resultados, no entanto, não são consensuais e não permitem identificar com clareza a associação entre o estatuto socioeconómico e a atividade física. Uma das razões apontadas para a divergência nos resultados encontrados poderá estar relacionada com o modo como o estatuto socioeconómico tem sido avaliado. Na literatura, observamos estudos que avaliaram o estatuto socioeconómico pelo rendimento familiar, pela formação académica dos elementos constituintes do agregado familiar e pela atividade ocupacional desenvolvida.

Geralmente, quanto mais elevado é o poder socioeconómico e a escolaridade de um indivíduo, maior será a sua propensão para praticar atividades físicas no seu tempo livre (Troiano et al., 2001; Pratt, Macera e Blanton, 1999).

A associação entre nível de escolaridade (vamos assumir uma relação entre nível de escolaridade e estatuto socioeconómico) e atividade física tem sido observada por alguns investigadores (Droomers et al., 2001; Ransdell e Wells, 1998). No estudo realizado por Martinez-González et al. (2001), os autores puderam constatar que os países do norte da Europa mostraram níveis mais altos de atividade física que os do sul, em pessoas com mais de 15 anos. A prevalência mais elevada (91.9%) foi encontrada na Finlândia, e a mais baixa (40.7%) em Portugal. Os modelos multivariados mostraram uma tendência significativamente mais elevada, de prática de atividade no tempo de lazer, em participantes com níveis educacionais mais altos, em ambos os géneros.

Em crianças os resultados não são tão condizentes como para os adultos. Encontramos estudos que revelam a existência de uma associação positiva entre o estatuto socioeconómico

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15

e a atividade física em crianças e jovens (Woodfield et al., 2002; Melin et al., 2003; Vilhjalmsson et al., 2003, Seabra, 2007, 2008; Cleland et al., 2009; Stalsberg e Pedersen, 2010), outros em que essa associação é negativa (Harrell et al.,2003) ou inexistente (Mota, Silva, 1999; Yang et al., 1996)

Apesar de nem sempre concordantes nos resultados, a generalidade das pesquisas parece evidenciar que, a participação em atividades físicas, apresenta alguma desigualdade social e económica, isto é, crianças e adolescentes com um elevado estatuto socioeconómico parecem estar mais envolvidos em atividades físicas e prática desportiva do que os de baixo estatuto socioeconómico. Num estudo longitudinal, realizado por Cleland et al. (2009) concluíram que o elevado ESE estava associado com um aumento da atividade física desde a infância até a idade adulta. As crianças das classes sociais mais elevadas tendem a ser mais ativos fisicamente do que os seus homólogos de classes sociais mais baixas (Stalsberg e Pedersen, 2010)

Quanto à participação em atividades desportivas regulares e sistemáticas (excluindo a educação física) há diferenças significativamente estatísticas, a favor do ESE privilegiado (Gaya e Guedes, 2002; Seabra et al. 2007, 2008). Seabra (2007) concluiu que, os jovens (10 e 16 anos) da classe social mais desfavorecida, parecem estar em desvantagem no que se refere à participação em algumas formas de AF e desportiva.

Estas diferenças associadas ao ESE justificam-se, segundo Sallis et al. (1999) e Erkelenz et al. (2014), pelo maior apoio logístico e financeiro subjacente à PD fora da escola, nomeadamente pela necessidade de transporte, pagamento de aulas ou treinos em associações ou clubes desportivos e aquisição de equipamento ou material desportivo, que as famílias de ESE mais elevado podem proporcionar.

2.3. PRÁTICA DESPORTIVA E SAÚDE

2.3.1. Conceito de saúde

Após a criação da Organização Mundial de Saúde (1945), a saúde passou a ser considerada um dos direitos fundamentais de todo o ser humano sem distinção de raça, religião, opiniões políticas e condições económicas e sociais.

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16

São diversas as definições de saúde, no entanto, a mais comumente citada é a formalizada pela Organização Mundial de Saúde (OMS), em 1948, "um estado de completo desenvolvimento físico, mental e bem-estar social, e não meramente a ausência de doença ou enfermidade”. A promoção e proteção da saúde são essenciais para o bem-estar do homem e para o desenvolvimento económico e social sustentável. Isto foi reconhecido há mais de 30 anos pelos signatários da Declaração de Alma-Ata, ao assinalarem que, a saúde para todos, contribuiria tanto para melhorar a qualidade de vida, como também para a paz e segurança globais (OMS, 2010).

A infância e a adolescência são períodos cruciais da vida, uma vez que ocorrem nestas idades grandes mudanças fisiológicas e psicológicas. Os comportamentos e estilos de vida saudável/não saudável apresentados durante esses anos podem influenciar o comportamento enquanto adultos e o próprio estado de saúde.

A aptidão física pode ser pensada como uma medida integrada da maioria, se não todas, das funções do corpo (esqueleto-muscular, cardiorrespiratória, hematocirculatória, neuropsicológica e endócrino-metabólica). Assim, quando a aptidão física é testada, o estado funcional de todos estes sistemas está a ser avaliado. Esta é a razão pela qual a aptidão física é hoje em dia considerada um dos marcadores mais importantes de saúde, tanto na idade adulta (Kodama et al., 2009) como em crianças e adolescentes (Ortega et al., 2008, Ruiz et al. 2006). As evidências recentes sugerem que, em adultos, baixo nível de aptidão física é um importante fator de risco das doenças cardiovasculares (Ortega et al., 2008; Kodama et al., 2009).

Morrow et al., (2000) descrevem a aptidão física como a obtenção e/ou manutenção de uma dada expressão de capacidades físicas que se relacionam com a saúde, que são necessárias para a realização de atividades diárias bem como para o confronto com desafios físicos esperados ou não.

A atividade física e aptidão física estão intimamente relacionadas. Strong et al., (2005) referem que atividade física regular de intensidade moderada a vigorosa está associada a benefícios com a saúde e aptidão física. Na generalidade, os estudos referem que as crianças mais ativas e os jovens praticantes de desporto, tendem a apresentar níveis superiores de aptidão física (Zahner et al., 2009; Drenowatz et al., 2013; Golle et al., 2014).

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17 2.3.2. Aptidão cardiorrespiratória

Investigadores como Brage et al. (2004), Anderssen et al. (2007) e Moreira at al. (2011) defendem que, baixos índices de atividade física e aptidão cardiorrespiratória, estão identificados como potenciais variáveis associadas com o risco de doenças em crianças.

Existe uma forte correlação entre atividade física e aptidão cardiorrespiratória na população adulta, em crianças e adolescentes nem sempre essa relação é tão significativa (Katzmarzyk et

al., 1998; Ekelund et al., 2001).

Estudos recentes procuraram perceber a relação entre as atividades sedentárias e os índices de aptidão cardiorrespiratória. Os resultados do estudo de Mota et al. (2010), em crianças de 7 anos do Fundão, sugerem uma associação inversa significativa entre o tempo gasto a ver TV e a aptidão cardiorrespiratória (corrida 9 min). Noutro estudo, as conclusões indiciam o mesmo, mais tempo de ecrã foi associado com menor aptidão cardiorrespiratória (avaliada pelo teste do vaivém 20 m), em jovens dos 11 aos 13 anos, independente do nível de atividade física (Mitchell et al., 2012).

A associação positiva entre níveis de atividade física e aptidão cardiorrespiratória foi encontrada em diversos estudos. Lefevre et al. (2000), com base no índice dos tempos livres, sustentam que o grupo dos sujeitos mais ativos tem melhores resultados na aptidão cardiorrespiratória. Também Kemper et al. (2001) observaram uma relação significativa em adolescentes e adultos holandeses. Baquet et al. (2006) concluem que, um nível de atividade física consistentemente alto, está associado a uma melhor ‘performance’ na resistência cardiorrespiratória dos rapazes e raparigas.

Em estudos recentes com crianças e adolescentes, Drenowatz et al. (2013), numa prova de corrida de 6 min, e Golle et al. (2014), no teste de corrida 9 min, observaram resultados superiores nos praticantes de desportos em clubes, quando comparados aos seus pares não participantes, sendo essa diferença significativa nas crianças. Utilizando o teste do vaivém, Ara et al. (2004), em rapazes (8-11 anos), já tinham encontrado a mesma tendência.

Quando fazemos uma comparação no desempenho entre sexos, os rapazes apresentam valores superiores às raparigas nos testes que avaliam a aptidão cardiorrespiratória (Gutin et al., 2005; Bergmann et al., 2005; Mota et al., 2006; Ortega et al., 2007, Ostojic et al., 2011; Castro-Piñeiro et al., 2011; Neto et al., 2011).

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18

Os adolescentes do sexo feminino (12-18 anos) apresentaram valores inferiores de VO2max (vaivém 20m) comparativamente com sexo masculino (Gutin et al., 2005; Mota et al., 2006; Ortega et al., 2007). Guerra et al. (2002), num intervalo etário entre os 8-15 anos, e Castro-Piñeiro et al. (2011), numa amostra entre os 6 e os 18 anos, chegaram a conclusões semelhantes, no teste do vaivém (20m), com os rapazes apresentarem melhores resultados do que as raparigas.

No teste de corrida de 9 minutos, os resultados continuam a ser superiores nos rapazes, como confirmam os estudos de Mak et al. (2010), em estudantes entre os 12 e 18 anos (n=3204), e Serassuelo Junior et al. (2005), no escalão 11- 12 anos. Estes resultados corroboram os anteriores de Dórea (1990) e Böhme (1994). Em Portugal, num estudo realizado na Madeira (7-18 anos), na corrida de 12 min, os rapazes continuam a apresentar melhores resultados do que as raparigas (Gouveia et al., 2007).

A melhoria da resistência aeróbia até o período pubertário (7-13 anos) está relacionada com a maturação sexual e o crescimento de órgãos e sistemas (Krahenbuhl et al., 1985). Por volta dos 13 anos, os rapazes demonstram um aumento da massa muscular, enquanto as raparigas apresentam um aumento do tecido adiposo (Krahenbuhl et al., 1985; Bar-Or e Rowland, 2004). Como o VO2max é dependente da massa muscular envolvida na atividade(Howley et

al., 1995), existe um aumento proporcional à idade nos rapazes e estabilização ou mesmo

declínio dos seus valores nas raparigas. Bar-Or (1983) observou que, aos oito anos de idade, essa diferença entre rapazes e raparigas é de aproximadamente 16%, aos 14 anos é de 25% e aos 16 anos, de 50%.

É hoje consensual que, níveis moderados a elevados de aptidão cardiorrespiratória, estão associados a um baixo risco na síndrome metabólica e na mortalidade, quer nos homens (Katzmarzyk et al., 2005; Lee et al., 2005), quer nas mulheres (Farrell et al., 2004). Neste sentido, a análise do desempenho motor individual de crianças e jovens atletas e não atletas, tanto na escola como em clubes e instituições desportivas, assume particular relevância, dada a forte relação entre a aptidão cardiorrespiratória e o estado de saúde e, partindo do pressuposto que, de acordo com Malina e Bouchard (2002), é durante a adolescência que os efeitos do treino são mais eficazes, principalmente no desempenho da força muscular e da resistência aeróbia. Malina (2006) refere que programas de treino de resistência aeróbia, em jovens, estão associados a ganhos significativos na aptidão cardiorrespiratória.

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19 2.3.3. Aptidão muscular

A força e resistência muscular e a flexibilidade são consideradas moduladores do sistema músculo-esquelético. As associações entre baixos valores de aptidão músculo-esquelética com o aumento de risco de mortalidade têm sido limitadas (Katmarzyk e Craig, 2002). Porém, para a ACSM (2007), a aptidão muscular está associada à melhoria e manutenção de massa isenta de gordura e taxa de metabolismo de repouso (prevenção dos ganhos de peso através do aumento da massa gorda), massa óssea (prevenção e/ou tratamento da osteoporose), tolerância à glicose (relacionada com a redução do risco e incidência da diabetes tipo II), integridade musculotendinosa (relacionada com o menor risco de lesões, incluindo lombalgias) e à capacidade de desempenhar atividades do quotidiano (promovendo a autoestima).

A força é um importante componente da aptidão relacionada com a saúde (Bar-Or e Rowland, 2004; Ortega et al., 2008). Uma vez que, a força máxima que pode ser gerada, depende de vários fatores (por exemplo, o tamanho e número de músculos envolvidos, a proporção de fibras musculares postas em ação, a coordenação dos grupos musculares, entre outros), são diversos os testes que poderão ser utlizados para medir a mesma. Os testes de saltos, nomeadamente, o salto na vertical e a impulsão horizontal, e o teste de abdominais, têm sido amplamente utilizados em jovens para avaliar a força explosiva e força de resistência (Ortega

et al., 2005; Ruiz et al., 2006; The Cooper Institute for Aerobics Research, 2002).

A literatura refere que, maiores índices de atividade, relacionam-se positivamente com a força. Lefevre et al. (2000) concluíram que, o grupo dos sujeitos mais ativos, tem melhores resultados nas componentes de aptidão associada à força abdominal. No mesmo sentido, Baquete et al. (2006), salientam que, um elevado nível de atividade física, está associado a melhores resultados nos testes de força explosiva e força funcional.

Recentemente, Golle et al. (2014), num estudo longitudinal, verificaram um efeito positivo da participação desportiva em clubes no desenvolvimento da aptidão física, sendo este significativo para a força muscular dos membros inferiores, na prova do triplo santo.

Durante a infância, há uma clara diferenciação entre sexos, contrariamente à adolescência, onde as performances dos rapazes revelam uma melhoria acentuada (Bouchard e Bar-Or, 2004). Bouchard et al. (1997) referem que os rapazes apresentam uma maior aptidão em tarefas que requerem força quando comparados com as raparigas.

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Aos 11-12 anos (n=235), os rapazes apresentaram valores de força de membros superiores e de tronco significativamente maiores do que os das raparigas (Serassuelo Junior et al., 2005). Nesse sentido, num estudo conduzido por Dórea (1990), verificou-se um aumento gradativo nos resultados do teste de abdominais dos 7 aos 12 anos de idade, em rapazes, ao passo que nas raparigas, além de o incremento ter sido de menor magnitude, os acréscimos passaram a ocorrer somente a partir dos 10 anos. De ressaltar que as diferenças estatisticamente significantes, em favor dos rapazes, foram identificadas somente após os 10 anos.

Os estudos que avaliaram a força dos membros inferiores, continuam apontar a mesma tendência, com os rapazes apresentarem resultados superiores às raparigas. Gouveia et al (2007), num estudo realizado em estudantes da Madeira (7-18 anos), os rapazes apresentaram melhores resultados no teste de salto horizontal do que as raparigas.

Durante o período pré-pubertal, o ritmo com que aumenta a força é similar nos rapazes e nas raparigas, depois desse período torna-se progressivamente superior nos rapazes (Bar-Or e Rowland, 2004).

Os exercícios de resistência muscular localizada, especialmente os realizados para os músculos do abdómen, são importantes para a manutenção e uma postura adequada, além de contribuírem, secundariamente, para a melhoria do perfil lipídico e diminuição da quantidade visceral de gordura (Fleck e Kraemer, 2006; Howley e Franks, 2008).

A flexibilidade aparece associada à saúde por estar relacionada, quando em níveis adequados, à prevenção de alterações posturais, de dores lombares e a um menor risco de lesões ósteo-mio-articulares (Toscano e Egypto, 2001; ACSM, 2003; Nahas, 2010). Pode ser definida como a “qualidade física responsável pela execução voluntária de amplitude angular máxima, por uma articulação ou conjunto de articulações, dentro dos limites morfológicos, sem o risco de provocar lesões” (Dantas, 2003).

Apesar da enorme diversidade de testes, a grande maioria das baterias de testes de aptidão física recomendam a utilização do teste senta-e-alcança (SA) para a avaliação da flexibilidade (Eurofit Fitness Testing Battery e Fitnessgram).

Os sujeitos mais ativos apresentam melhores resultados nos testes de flexibilidade quando comparados a sujeitos mais passivos (Lefevre et al., 2000). Baquete et al. (2006) concluíram

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Tabela  2.  Pesquisas  sobre  atividade  física  em  crianças  e  adolescentes  e  fatores  determinantes  utilizados  (adaptado de Seabra et al., 2008)
Tabela 3. Número de sujeitos de acordo com a idade e sexo.
Tabela 4. Definição dos grupos de acordo com o grau de escolaridade e correspondente estatuto socioeconómico  (ESE)
Tabela 6. Distribuição da amostra de acordo com o estatuto socioeconómico  Estatuto socioeconómico  Masculino
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Referências

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