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Estudo Do Desempenho Produtivo E Financeiro Do Judiciário Brasileiro No Período 2004-2010, Sob A Ótica Da Analise Econômica Do Direito

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Revista da AMDE – ANO: 2014 – VOL. 11

Estudo Do Desempenho Produtivo E Financeiro Do

Judiciário Brasileiro No Período 2004-2010, Sob A

Ótica Da Analise Econômica Do Direito

João Roberto Borin

Luis Cláudio Villani Ortiz

1. INTRODUÇÃO

Constantemente se tem atribuído inúmeras críticas quanto ao desempenho do judiciário no que se refere a sua eficiência produtiva e como esse fator possui relevância institucional no crescimento econômico do país.

O presente trabalho procurou analisar como se comportaram algumas variáveis operacionais e financeiras de três esferas do judiciário no Brasil no período 2004-2010, através dos dados do Conselho Nacional de Justiça buscando analisar componentes de eficiência produtiva e buscar fragmentos de indícios de má utilização desses órgãos por parte da população como forma de obter rent-seeking. Pode-se verificar o crescimento significativo por esse conjunto de esferas judiciais, bem como do acesso gratuito à justiça. Contudo, não se conseguiu capturar de forma incisiva que tal incremento tanto das AJGs, quanto em novos processos pode gerar custos sociais significativos em termos de produtividade..

Palavras-Chave: Análise Econômica do Direito. Eficiência. Equidade. Judiciário.

Resumo

The present work aimed to analyze some variables behaved as operational and financial levels of the three judiciary in Brazil in the period 2004-2010, using data from the National Council of Justice seeking to analyze components of productive efficiency and seek fragments of evidence of misuse of these organs by the population as a way to obtain rent-seeking.One can see significant growth for this set of judicial levels, as well as access to free justice. However, we could not capture the incisively that much of this increase AJGs, as new processes can cause significant social costs in terms of productivity

Keywords: Law & Economy, Efficiency, Equity, Judiciary.

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Precisamos bem lembrar que primeiramente o judiciário é um serviço público no qual o foco principal não é necessariamente com os atributos econômicos, mas sim com o objeto de levar justiça e equidade a sociedade. Contudo, tal instituição possui relevância impar na normatização das transações econômicas, que geram riqueza e bem-estar a nação.

Nesse como o judiciário é entendido como figura ativa na organização das relações econômicas, precisa-se atentar sobre como alguns comportamentos dos agentes econômicos podem prejudicar o desempenho desse órgão.

O presente trabalho pretende analisar sob a ótica da Analise Econômica do Direito e dos dados anuais publicados pelo Conselho Nacional de Justiça – CNJ, se o comportamento de algumas variáveis que podem dimensionar o desempenho dessa estrutura.

De maneira mais especifica o que busca conhecer os dados relativos ao a) Acesso ao Judiciário, b) a eficiência financeira das estruturas pesquisadas, c) o comportamento dos indicadores de eficiência produtiva na prestação desse serviço público e d) características da demanda da população quanto a esse serviço publico buscando verificar a existência de algum indício de comportamento oportunista que afete os custos de transação e o respectivo desempenho desse órgão.

Para o presente estudo o grupo de pesquisadores, optou por considerar apenas três estruturas do Judiciário, a Justiça Estadual, a Justiça do Trabalho e a esfera Federal. No que tange ao período de tempo analisado, utilizamos tal hiato de tempo, pois foi esse disponibilizado pelo CNJ.

2. FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA.

A escolha do viés da AED para tal estudo recai sobre as palavras de Caliendo (2005), como sendo o método que utiliza o instrumental econômico para o exame e a verificação da função exercida pelas instituições jurídicas.

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Nossa visão segue a linha de pensamento de Caliendo (2005), onde a AED, tem a pretensão de operar como disciplina do Direito, investigando soluções a duas questões importantes:

(a) uma questão positiva, qual o impacto das normas legais e do funcionamento das instituições jurídicas no comportamento dos agentes econômicos em termos das suas decisões e bem-estar;

(b) uma questão normativa, aborda as vantagens relativas de determinadas normas legais em termos de bem-estar social.

Nesse conflito de interesses entre eficiência e equidade, valida são as palavras de Salamana:

“A questão, portanto, não é tanto se eficiência pode ser igualada à justiça, mas sim como a construção da justiça pode se beneficiar da discussão de prós e contras, custos e benefícios. Noções de justiça que não levem em conta as prováveis conseqüências de suas articulações práticas são, em termos práticos, incompletas. Num certo sentido, o que a Escola de Direito e Economia de New Haven buscou é congregar a ética consequencialista da Economia com a deontologia da discussão do justo. O resultado é, em primeiro lugar,..., de forma que o Direito possa responder de modo mais eficaz às necessidades da sociedade. E, em segundo lugar, o enriquecimento da gramática do discurso jurídico tradicional, com uma nova terminologia que auxilia o formulador, o aplicador, e o formulador da lei na tarefa de usar o Direito como instrumento do bem-comum. (SALAMA, 2008, p. 35.)

Posner (2008) argumenta que os agentes econômicos são orientados por esse processo de análise de custo-oportunidade, onde essa verificação passa pela análise dos incentivos adequados que são criados quando dividimos nossos direitos mutuamente exclusivos ao uso de determinados recursos entre os membros da sociedade .

Não menos importante, a relevância das palavras de Gico Jr. (2009), quanto à contribuição da AED:

“Não é uma teoria sobre valores, nem sobre motivações, mas sobre comportamentos humanos”.

Quando tratamos da questão da eficiência, pretendemos ampliar o espectro da análise, não focalizando apenas a geração de riqueza, mas também abrangendo a

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questão do bem-estar social, que está ligado a riqueza, mas não apenas a esta. Segue as palavras de Ribeiro e Galeski, para fortalecer o pensamento:

Dentre duas possíveis decisões, aquela que causar o maior bem-estar é a que deve ser aplicada, devendo ser observado se as partes envolvidas estão em uma situação inicial relativamente homogênea. “A escola de Law & Economics, para todos os efeitos, tem por foco a busca do melhor bem-estar, da melhor alocação possível de bens, conduzindo ao bem-estar dentro dos limites morais.” (RIBEIRO; GALESKI, 2009, p. 89.)

Contudo uma atenção maior deve ser dada a esse item, pois essa distinção dos próprios agentes econômicos, pode ser revestida de uma miopia a qual pode distorcer o resultado dos fatos. Dessa forma vale as palavras de Pimenta, o qual bem lembra:

“O que pressupõe a análise econômica do Direito é que a conduta legal ou ilegal de uma pessoa é decidida a partir de seus interesses e dos incentivos que encontra para efetuá-la ou não. (...) Como já salientamos, a Economia estuda as escolhas, os custos, riscos e benefícios que os agentes econômicos (sujeitos de direito) encontram na busca pela maximização de seus próprios interesses”. (PIMENTA, 2006, Apud p. 29.)

Essa conduta individual, bem lembrado por Sztajn, pode encarecer as relações econômicas.

“A escolha dos meios de imposição do ônus deve ser determinada mediante critérios específicos de forma a não ampliar custos de transação que se transformem em custos sociais. (SZTAJN, 2005, p. 252)

Esses custos sociais citados são melhor explicitados por Ortiz de forma a entender que:

“Os Custos de Transação surgem em decorrência do de se quantificar as inúmeras dimensões valoradas incluídas nas transações, geralmente denotadas pelo custo das informações em decorrência dos custos de execução contratual. A informação não só é cara, como imperfeita e o cumprimento dos contratos que não são apenas onerosos, como imperfeitos. (ORTIZ, 2003, p. 21)

O mesmo autor evidencia que esses Custos de Transação podem ser considerados por diversos prismas:

“como características das transações que determinam os respectivos Custos de Transação são Freqüência (quanto maior a freqüência das transações, menor a incidência de oportunismo), Risco (maiores riscos

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tendem a reduzirem os Custos de Transação) e a Especificidade (singularidade do bem/serviço, que são diretamente proporcionais a geração de rendas extra-ordinárias, levando a atos oportunistas)”. ORTIZ (2003, p.25).

Quando focamos essas relações com olhares sobre o Judiciário, Timm (2011), bem lembra alguns fatores que levam as pessoas a buscar o judiciário para solucionar suas demandas e modelam o comportamento dos agentes:

-Baixo Custo de Acesso e Baixo Risco: Custo Benefício em entrar na justiça em virtude da Assistência Judiciária Gratuita;

- Perspectiva de Ganho: situação em que o litigante não possui convicção dos direitos, visão de loteria ou negócio (lucro x despesas);

- Uso Instrumental: elemento de negociação, pressão, protelação de pagamento;

- Litigante Dworkianiano: maneira de reconhecer direito e obrigação.

Nesse sentido buscando fundamentar a ação dos agentes, faz-se válida a argumentação de Garoupa (2005), o qual ele demonstra que os agentes econômicos comparam os benefícios e os custos das diferentes alternativas antes de tomar uma decisão, seja ela de natureza estritamente econômica, seja ela de natureza social ou cultural.

Essas decisões pressupõem avaliações de custo-benefício e fazem-se num determinado contexto de preferências as quais expressam os níveis de bem-estar dos agentes. O bem-estar individual é medido pela utilidade que o agente retira da sua decisão bem como das decisões que poderia ter tomado e não tomou (os designados custos de oportunidade), expressando o nível de bem-estar resultante.

Para Posner (2008) os agentes econômicos são orientados por esse processo de análise de custo-oportunidade, onde essa verificação passa pela análise dos incentivos adequados que são criados quando dividimos nossos direitos mutuamente exclusivos ao uso de determinados recursos entre os membros da sociedade.

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3. DADOS DO ACESSO AO JUDICIÁRIO E SEUS IMPACTOS SÓCIO-ECONÔMICOS

Dentro da proposta do trabalho de diagnosticar e analisar o padrão de demanda do serviço público, o item “Acesso ao Judiciário”, foi o primeiro item a ser estudado. Buscou-se conhecer a evolução da demanda da sociedade pelo judiciário como fonte de resolução de conflitos, através da aferição do número de novos processos.

Os dados abaixo indicam que a Justiça Estadual é responsável por cerca de três quartos de todos os novos processos gerados no judiciário, frente a uma geração de 15% na Justiça do Trabalho e 10% na Justiça Federal – dados aproximados.

Tabela 1. Número de Processos Novos das Justiças Estadual, Federal e do Trabalho no Brasil, período 2004-2010.

Fonte: Autor, a partir de dados CNJ.

TOTAL 2004 14.023.162 2.634.708 2.662.186 19.320.056 2005 14.787.560 3.487.476 2.351.306 20.626.342 2006 16.131.424 3.495.170 2.066.265 21.692.859 2007 17.213.703 3.611.784 2.343.790 23.169.277 2008 18.327.375 3.855.374 2.301.168 24.483.917 2009 17.818.357 3.419.124 2.320.399 23.557.880 2010 16.869.387 3.345.621 2.246.238 22.461.246

ANO NOVOS PROCESSOS ESTADUAL TRABALHO FEDERAL

A tabela 1 demonstra a expressiva superioridade da esfera do Trabalho, na geração de novos processos com um crescimento absoluto de 126,98%. Para efeitos de comparação, considerando os dados absolutos do período, obtém-se que a Justiça Estadual teve um crescimento de 120,30% dos novos processos e a Justiça Federal um crescimento de 84,38%. De maneira ampla a média de crescimento das novas demandas judiciais foi de 2,66% ao ano. Fazendo-se um filtro dos dados, em função da distorção dos dados da Justiça do Trabalho em 2004, verificou-se que a Justiça do Trabalho que apresentou o maior nível médio de crescimento na geração de novos processos com 4,87%, seguido da esfera Estadual com 3,27%. Já a esfera Federal, seguiu sentido contrário apresentou uma tendência média de declínio na ordem de 2,42%.

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Na sequência a outra variável estudada foi a gestão do serviço público sob a ótica financeira, buscando diagnosticar quais as esferas que melhor trabalhavam com a questão de gastos e receitas e quanto esses serviços representavam de ônus ao cidadão brasileiro. Com esse objetivo formatou-se a Tabela 2, apurando-se dados do Conselho Nacional de Justiça do período de 2004 a 2010 e averiguando acessoriamente a variação destes indicadores.

Tabela 2. Dados Financeiros da Justiça Estadual, do Trabalho e Federal, Despesas por Habitante e variação das Contas no período 2004-2010.

Fonte: Autor, a partir de dados CNJ. I: Valores em milhões de Reais. II: Valores em milhões de Reais.

ANO DespesasI ReceitaII Despesas/ Hab % Receitas x Despesas D % Despesas D % Receitas 2004 R$ 19.977,56 R$ 1.720,21 R$ 110,02 8,61% 2005 R$ 23.007,28 R$ 2.170,49 R$ 110,02 9,43% 15,17% 26,18% 2006 R$ 26.742,62 R$ 2.610,82 R$ 110,02 9,76% 16,24% 20,29% 2007 R$ 29.249,80 R$ 3.029,64 R$ 158,97 10,36% 9,38% 16,04% 2008 R$ 33.576,00 R$ 3.576,72 R$ 177,07 10,65% 14,79% 18,06% 2009 R$ 37.331,39 R$ 4.121,55 R$ 195,18 11,04% 11,18% 15,23% 2010 R$ 41.040,30 R$ 4.782,11 R$ 212,37 11,65% 9,94% 16,03% 10,48% 12,78% 18,64% Média

Embora o crescimento médio das despesas totais no período foi de 12,78%, inferior a evolução média das receitas - 18,64%, esta última representa em média apenas 10,48% do total das despesas das três esferas.

Analisando comparativamente a relação entre receitas x despesas, verifica-se que a Justiça Federal é a que possui o menor percentual, em torno de 1,0%, enquanto a Justiça do Trabalho possui receitas que representam apenas 2,75% das despesas e a Justiça Estadual com um percentual médio de 16,21%, como pode ser visualizado no gráfico abaixo.

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Gráfico 1. Relação percentual entre Receitas e Despesas do Judiciário entre três tipos de Justiça, no período 2004-2010.

Fonte: Autor – Dados CNJ.

13,46% 14,71% 15,80% 16,66% 17,31% 16,99% 18,54% 2,15% 2,33% 2,13% 2,48% 2,38% 5,16% 2,65% 1,18% 1,06% 0,99% 1,23% 1,07% 0,35% 1,10% 0,00% 2,00% 4,00% 6,00% 8,00% 10,00% 12,00% 14,00% 16,00% 18,00% 20,00% 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010 ESTADUAL TRABALHO FEDERAL

Caso o instrumento adequado para medir a eficiência da prestação do serviço fosse esse instrumento que compara a relação entre despesas e receitas, verificaríamos que a Justiça Estadual é a que melhor apresenta desempenho em todo período analisado.

Como forma de aprimorar essa analise, buscaram-se dados que nos possibilitasse uma análise do acesso a Justiça, através de sistema gratuito – Assistência Judiciária Gratuita/ AJG, os quais são demonstrados na Tabela 2, abaixo.

Tabela 3. Assistência Judiciária Gratuita por esfera de Justiça, período 2004-2010.

Fonte: Elaborado Autor, dados CNJ. OBS:

Assistência Judiciária Gratuita: As despesas com assistências judiciárias gratuitas efetivamente realizadas, abrangendo remuneração de tradutor/intérprete e peritos, no ano-base pelas unidades judiciárias.

Os valores da AJG da Justiça do Trabalho referente ao ano de 2004 referem-se apenas a recursos alocados em quatro estados do Brasil.

ESTADUAL TRABALHO FEDERAL TOTAL

2004 R$ 57.778.967,00 R$ 64.881,00 R$ 12.849.121,00 R$ 70.692.969,00 2005 R$ 45.869.735,00 R$ 626.522,00 R$ 17.572.478,00 R$ 64.068.735,00 2006 R$ 51.258.638,00 R$ 1.637.859,00 R$ 23.248.712,00 R$ 76.145.209,00 2007 R$ 89.057.828,00 R$ 3.502.903,00 R$ 43.218.553,00 R$ 135.779.284,00 2008 R$ 105.340.783,00 R$ 9.070.140,00 R$ 45.198.115,00 R$ 159.609.038,00 2009 R$ 32.299.429,00 R$ 19.028.184,00 R$ 61.378.931,00 R$ 112.706.544,00 2010 R$ 54.544.881,00 R$ 23.082.129,00 R$ 54.344.679,00 R$ 131.971.689,00 AJG ANO

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concessão de AJGs cresceu em media 15,51% ao ano, sendo que a esfera trabalhista foi a que mais forneceu esse instrumento . Como forma de demonstrar essa discrepância, se analisarmos somente os dados entre 2007 e 2010, verificamos que o percentual de crescimento de AJGs da Justiça do Trabalho cresceu em média 100,97%, frente a um crescimento médio no mesmo período de 22,89% e 28,70% da Justiça Estadual e da Justiça Federal, respectivamente. Neste viés o questionamento que começou a tomar conta da pesquisa era como esses dados de AJGs poderiam interferir na eficiência e no volume de trabalho das três esferas do judiciário.

Primeiramente buscaram-se dados relativos ao volume de trabalho das amostras estudadas, demonstradas pela Carga de Trabalho em cada um dos gêneros do judiciário. No quadro abaixo, pretendeu-se analisar a Carga de Trabalho do Judiciário, considerando que o CNJ em seus estudos define que a Carga de Trabalho é uma relação entre:

Casos Novos + Casos Pendentes + Recursos Interpostos + Recursos Pendentes = Número de Magistrados

Os dados do gráfico abaixo demonstram que a Justiça Federal é a esfera que mais sofre a incidência de Carga de Trabalho , com uma média 7.289 processos, frente a uma média de 5.690 processos da Estadual e de 2.275 processos da esfera do Trabalho, no período entre 2004 e 2010. Analisando a variação da carga de trabalho no referido período, verificam-se tendências distintas, enquanto a esfera Federal apresenta uma variação média negativa em 4,9% e para a esfera do Trabalho uma média positiva de 0,43% e na esfera Estadual uma tendência de crescimento de 5,17%.

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Gráfico 2. Carga de Trabalho da Justiça Estadual, do Trabalho e Federal no Brasil, período 2004-2010.

Fonte: Elaborado Autor, dados CNJ.

-1.000 2.000 3.000 4.000 5.000 6.000 7.000 8.000 9.000 10.000 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010

ESTADUAL TRABALHO FEDERAL

É oportuno frisar que embora os dados demonstrados pelo CNJ não sejam “conclusos” a Justiça Federal é a que mais tem utilizado o atributo dos processos eletrônicos, os quais tendem a dar maior celeridade processual, impactando diretamente na redução da carga de trabalho.

Tendo uma visão parcial da situação dos órgãos analisados, desejamos verificar se havia uma relação entre essa tendência da carga de trabalho e o andamento processual, focalizando sempre no objetivo de analisar a eficiência em termos produtivos. Os autores analisaram os dados relativos à Taxa de Congestionamento processual, que representa a relação entre a Taxa de Processos Baixados sobre o somatório de Casos Novos e Casos Pendentes .

A Taxa de Congestionamento por tipo de esfera judicial utilizada pelos autores foi resultado da aplicação de uma média ponderada da taxa de congestionamento de cada uma das câmaras de cada justiça (primeira e segunda instância e juizado especial).

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Gráfico 3. Taxa de Congestionamento da Justiça Estadual, do Trabalho e Federal no Brasil, período 2004-2010.

Fonte: Autor – Dados CNJ.

0,00% 10,00% 20,00% 30,00% 40,00% 50,00% 60,00% 70,00% 80,00% 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010

Estadual Trabalho Federal

Os dados demonstram que a Justiça Estadual é a esfera que apresentou a maior Taxa de Congestionamento, com uma média no período de 72,62%, seguido por uma Taxa Média de Congestionamento da Justiça Federal de 60,43%, enquanto que a Justiça do Trabalho apresentou uma média de 46,97%. Na analise de tendência baseado em dados históricos, vimos que a esfera estadual apresenta uma tendência declinante em termos de taxa de congestionamento, enquanto que as esferas Federal e Trabalho apresentam tendência crescente, sendo a primeira com uma média anual de +0,85% e a segunda com uma média de +0,49% ao ano.

Contudo, sabemos que existem outros fatores que podem interferir sobre essa dimensão de eficiência e que o objetivo final deste serviço público não é especificamente essa orientação, mas sim a de possibilitar maior equidade a sociedade através do acesso ao judiciário.

Ampliando a abrangência da pesquisa, pautando-se nos argumentos do professor Timm (2011), na determinação dos fatores que levam os agentes a demandarem o Judiciário, tentou-se apurar algum tipo de componente oportunista na busca pelo judiciário. Considerando que a AJG impõe ao demandante pouco risco, buscou-se verificar se como é a relação entre sociedade e o Poder Público. Analisaram-se dados dos processos em que os agentes econômicos ingressaram contra o Poder Público, ousando conjecturar

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que estes podem buscar quase-rendas de maneira usurpadora.

Gráfico 4. Percentual de Processos Demandados contra o Poder Público, nas esferas Estadual, do Trabalho e Federal, no período 2004-2010.

Fonte: Autor – Dados CNJ.

7,79% 21,65% 29,62% 32,50% 32,21% 24,01% 24,35% 4,58% 4,92% 10,62% 5,00% 4,49% 7,07% 6,64% 87,63% 73,43% 59,75% 62,50% 63,30% 68,91% 69,02% 0,00% 10,00% 20,00% 30,00% 40,00% 50,00% 60,00% 70,00% 80,00% 90,00% 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010

Estadual Trabalho Federal

Na interpretação dos dados acima, visualiza-se que a esfera Federal é a que mais apresenta processos contra o Poder Público sendo que em 2004 o total de processos era de 1.805.470 e no ano de 2010 o montante atingiu 3.774.250 processos, um crescimento absoluto de 109%. Nesse ínterim, auferiu-se que na esfera Estadual houve um crescimento absoluto de 150% entre 2005 e 2010, representando uma média de crescimento anual de 20,73%, enquanto que na esfera do Trabalho o crescimento absoluto foi de 200%, indicando uma evolução média anual de 39,10% e na esfera Federal um aumento de 109%, mostrando um crescimento médio de 19,23%.

Com os dados presentes pode-se ter uma visão de como existem as relações entre as variáveis e como elas têm capacidade de influenciar os resultados de desempenho do Judiciário. Mas com o objetivo de refinar ainda mais essa analise, estabeleceu-se a correlação entre os dados (como expressa os conceitos fundamentais de estatísticas, as correlações que expressam maior relevância, são aquelas superiores a 0,70.) e obteve os seguintes resultados:

Desta forma, o senso comum nos levava a pensar que o significativo incremento de novos processos poderia influenciar a aumentar a Carga de Trabalho e a Taxa de Congestionamento.

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Contudo, os estudos de correlação não são significativos para a análise Processos Novos x Carga de Trabalho para o caso da Justiça Estadual e do Trabalho, mas apresentando um coeficiente de 0,7966 para a Justiça Federal. Nesse quesito uma analise mais atenta, demonstra que essas relações ficam mais importantes em períodos menores (2008-2010), com um atributo diferenciador, no qual essa correlação torna-se negativa para as Justiças Estaduais e do Trabalho.

Tabela 4. Índices de Correlação entre dados do Judiciário.

Fonte: Autor.

PPúblico: Processos contra o Poder Público.

ESTADUAL TRABALHO FEDERAL

Novos Proc x AJG 0,88 --- ---

---Novos Proc x PPúblico 0,64 --- ---

---AJG x Receitas 0,72 --- --- ---AJG x Despesas 0,73 --- --- ---AJG x Gastos/Hab 0,81 --- --- ---AJG x Ppúblico 0,59 0,16 0,86 0,86 PPúblico x Tx. Congest. --- -0,80 0,49 0,57 PPúblico x Crg. Trabalho --- 0,87 0,47 -0,49 AJG x Tx. Congest --- -0,01 0,09 0,27 AJG x Crg. Trabalho --- -0,09 0,41 -0,68

Tx. Reform x Tx. Cong --- -0,42 0,18 ñ disponível Tx. Reform x Crg. Trabalho --- 0,79 0,41 ñ disponível Tx. Congest. X Crg. Trabalho --- -0,75 0,60 0,15

CORRELAÇÕES Geral Setor

A análise da correlação entre Processos Novos e Taxa de Congestionamento, também não apresentou resultados significativos para o período 2004-2010. Essa correlação fica mais forte no período 2008-2010, apresentando correlação negativa para as esferas do trabalho e federal e positiva para a estadual.

Na abordagem da AJG, verifica-se que esse benefício possui uma significativa relação com o número de novos processos (0,88), ou seja, em virtude dos reduzidos riscos e custos a demanda judicial fica facilitada. Nessa esfera, verifica-se que a concessão de AJGs, afeta o custo do judiciário por habitante, ou seja, quanto maior o número de concessões de assistência gratuita, maiores os custos do judiciário – correlação 0,81. Esses dados corroboram a argumentação de Timm (2011).

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Porém os dados não demonstram relação significativa com a Taxa de Congestionamento por esfera individual – AJG x Tx. Congestionamento e com a Carga de Trabalho.

Ainda no que tange a analise da AJG, verifica-se que na Justiça do Trabalho e na Federal, a concessão de AJGs e as demandas contra o Poder Público possuem uma correlação significativa.

Na analise da variável Processo contra o Poder Público, visualiza-se que ela possui relação significativa com a Carga de Trabalho na Justiça Estadual, mas considerando que essa possui baixa relação com novos processos nessa esfera, perdendo um pouco de expressão.

4. CONSIDERAÇÕES FINAIS

Na interpretação dos dados, vemos uma discrepância significativa onde se tem que o país tem uma média anual de crescimento de 2,66% em termos de novas demandas judiciais, enquanto que o subsídio fornecimento que o estado dá às pessoas via AJG, cresceu em média 15,51% ao ano, evidenciando que a população tem se utilizado cada vez mais desse serviço público, embora os gastos com AJG sejam inexpressíveis por representam em média 0,354% das despesas totais das três esferas do judiciário. Tese essa reafirmada com a significativa correlação entre as duas variáveis. Na busca de tentar a relação entre as variáveis analisadas, o trabalho demonstrou a existência de uma correlação positiva significativa entre a concessão de AJGs e o número de novos processos, que as AJGs impactam diretamente e de forma positiva nas despesas do judiciário e nos custos da sociedade.

Os dados também indicaram situações distintas entre os três órgãos analisados, quando a variável estudada foi a Carga de Trabalho dos funcionários públicos, onde as esferas estaduais e trabalhista apresentam tendência de crescimento do volume de trabalho, enquanto que na Federal a tendência é de declínio da Carga de Trabalho, explicação parcial anotada pelos autores dado o maior nível de utilização dos meios eletrônicos de comunicação em demandas judiciais .

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O pensamento inicial era de que excessos de trabalho tornam as demandas judiciais mais lentas, o trabalho então abordou a questão da Taxa de Congestionamento. Nesse item verificamos que a esfera Estadual é a que mais sofre com a lentidão, com uma taxa média de 72,62%, seguida pela Federal com 60,43% e 46,97% do Trabalho. O alento nesse quesito é que as tendências dessas variáveis são relativamente estáveis, apresentam média de oscilação sempre abaixo de um, positivas para a justiça do Trabalho e Federal e negativa para a Estadual. Outro fator interessante demonstrado pelos dados é que as correlações não são fortes suficientes para determinar uma relação plausível.

No item financeiro, vemos que a receita representa relativamente pouco em proporção aos gastos, representando em média 10,48%, onde as receitas da Justiça Federal representam apenas um por cento dos gastos – média aproximada, e na Justiça Estadual uma média de 16,21%. Sob a ótica da tendência dessas contas, vê-se que tanto as despesas quanto as receitas apresentaram uma taxa de crescimento média de 12,78% e 18,64% respectivamente, sendo a esfera Federal é a que apresentou maior grau médio de crescimento das despesas 14,13%. Lembrando que é a mesma que possui menor nível de contribuição em termos de receita. Os custos sociais desses gastos, por habitante, sofreram um aumento absoluto de aproximadamente 93%, representando em 2010, o valor de R$ 212,37 por habitante.

Como forma de tentar capturar evidências de práticas oportunistas na esfera judicial contra o Poder Público, vimos que a sociedade tem requerido do Estado cada vez mais seus direitos ou pseudos-direitos, onde o trabalho nos demonstrou que de modo geral os processos contra o Poder Público, no referido período cresceram cerca de 375%, sendo que a esfera Trabalhista é a que apresentou maior crescimento absoluto de 200%, contra 150% da Estadual e 109% da Federal, porém no estudo da correlação dessas variáveis, apesar do resultado ser positivo, mas não é significativo.

O trabalho embora tenha caráter inicial, conseguiu de certa forma fazer uma imagem do seu papel no referido período, conseguindo capturar parcialmente que o instrumento de AJG, trás benefício social ao proporcionar maior acesso ao judiciário,

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mas que como resultado eleva os custos operacionais e sociais desse serviço. Não se pode afirmar - com os referidos dados, a incidência de Tragédia dos Comuns nessa oferta de serviço público, mas que a redução dos riscos de uma demanda judicial, podem levar a uma utilização superior a real demanda da sociedade, principalmente no que se refere ao Poder Público.

5. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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TIMM, Luciano Benetti. Seminário Direito, Economia e desenvolvimento. Supremo Tribunal Federal. Brasília. 2011.

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Tabela  1. Número  de Processos Novos das Justiças  Estadual,  Federal  e do Trabalho  no  Brasil,  período  2004-2010
Tabela 2. Dados Financeiros da Justiça Estadual, do Trabalho e Federal, Despesas por  Habitante e variação das Contas no período 2004-2010
Gráfico 1.  Relação percentual entre Receitas e Despesas do Judiciário entre três tipos  de Justiça, no período 2004-2010
Gráfico  2.  Carga  de  Trabalho  da  Justiça  Estadual,  do  Trabalho  e  Federal  no  Brasil,  período 2004-2010
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