.-
%
Universidade
Federal
de
Santa
Catarina
~Centro
de
Ciências
da
Educação
Programa
de
Pós-.Graduação
em
Educação
Linha
de
Investigação:
Educação
e
Com
uniçação
O
CIBERESPAÇO
E
O
AGIR
DOCENTE:
da
constituição
do
habitus à
construção
da
dobra
Ana
Oliveira
Castro
dos
Santos
~C
Florianópolis
2001
. um Ê*
5 .-.SÊ -a, , ,›,;
z.-.»-55:-'fëlzz
uN|vERs|DADE
FEDERAL DE
SANTA
cATAR|NA
CENTRO
DE
CIÊNCIAS
DA EDUCAÇÃO
PROGRAMA
DE
Pós-GRADUAÇÃO
CURSO DE
MESTRADO
EM
EDUCAÇÃO
“O
CIBERESPAÇO
E
O
AGIR
DOCEN]`E:
DA
CONSTITUIÇÃO
DO
HABITUS
A
CONST
R
U
ÇAO DA DOBRA
”.Dissertação
submetida ao
Colegiadodo
Curso de
Mestradoem
Educação do
Centrode
Ciências daEducação
em
cumprimento
parcial para a
obtenção
do
títulode
Mestreem
Educação.
1; 41 fêz . ,¡` H. Jr'APROVADA
PELA
COMISSÃO
EXAMINADORA
em
22/02/2001 p _H_Dr`.`NorbertO Jacob Etges - Orieratador/UFSC A- f
_
.W
w
.
Dra. Joana Sueli
De
Lazari-
Examinadora/UFSC
A¿'“`> Gi/"'~
¡
Dr. João
Bosco
daMota
Alves~
Examinador/UFSC
'
Dra. Silvia Zanatta
Da
Rós
- Suplente/UFSC
.já/`
*Q~.
Lucídio BianchettiCoordenador
PPGE/CED/UFSC
(ÀM9.
` (2zz,;l2.›~de»
' àAna
Oliveira Castro dos Santos›
vo
DED|cATÓR|A
À
minha
mãe, Lucy.As
duas mil milhasque
nos separam, nãoseparam
nossos corações. Pelo contrário,fizeram o nosso
amor
ficar cada vez mais forte. VAGRADECIMENTOS
“Quando se trabalha, a solidão é, inevitavelmente,
absoluta. Não se pode fazer escola,
nem
fazer parte deuma
escola. Só há trabalho clandestino. Só que éuma
solidão extremamente povoada. Não povoada de sonhos,
fantasias ou projetos,
mas
de encontros.Um
encontro étalvez a
mesma
coisa queum
devir ou núpcias.E
do fundo dessa solidão que se pode fazer qualquer encontro.Encontram-se pessoas (e às vezes
sem
as conhecernem
jamais tê-las visto),
mas também
movimentos, idéias,acontecimentos, entidades. (...) Nós somos desertos,
mais povoados de tribos, de faunas e floras”.
~
Gilles Deleuze
É
sobre
esses
encontrosque quero
falar agora. Encontrosque
me
fizeram
perceber
que ninguém chega
sozinhoa
lugar algum. Por isso, utilizo-me
desse espaço
para externarminha imensa
gratidãoa algumas
pessoas
fundamentais
para a concretizaçãodesse
trabalho.Os
elosfundamentais da
minha
vidasão
vocês!Meu
paiJosé
Teixeira
de
Castro,minha
mãe
Lucy
Castroe minhas
irmãs Suelie
MarliCastro, Márcia Souza, fiel escudeira.
A
família ésempre
um
porto,um
bálsamo
que
podemos
procurarsem
medo.
No
último ano, convivercom
minha
irmãMarli, depois
de
seteanos
longe foi maravilhoso!Melhor
ainda, ouvirmeu
sobrinho Michael, dizer: “Tia Ana, yo te
amol”
Um
presente magnífico, sensacional!Ao
Francisco Santos,companheiro
que
dividiucomigo os
momentos
difíceis e alegresdessa
travessia.Quando
“eu acreditava terchegado ao
porto”,você
me
lançava “de voltaao
mar”.A
famíliaThomé:
Lauro, Zeinae
Julinho.Obrigada
pela amizade,pelo cuidado, carinho e afeto
com
os quais brindaram amim
e ao
Francisco durante todoesse
tempo
em
Florianópolis.Tudo
oque
puder
ser dito torna-sesem
significadoao
ladode
tantagenerosidade
proporcionada porvocês
em
relação a nós.
O
ambiente
de
trocas intelectuaisque
compartilhamos
juntos foisem
dúvida muito fecundo.Certamente
que
nossa
estada nesta cidade, teriasido
bem
mais
dificil esem
tantas alegriassem
acompanhia
de
vocês.Constitui-se
em
motivode
orgulho eum
privilégio especial, tercomo
orientador o Prof. Dr. NorbertoJacob
Etges.São
inúmeras
suas
qualidades: intelectual sério e responsável, disciplinado, professor impecável
e
orientador
que sempre
agiucom
profundo respeitoao
meu
tempo
intelectual,às
minhas
angústias, incentivando aautonomia
e a liberdadedo
pensar,do
fazer
e
do
escrever. Convivercom
sua
famíliatambém
foiuma
experiênciaextremamente
enriquecedora.À
CAPES/PICDT,
pelaconcessão
da
Bolsade
Estudos.Ao
professor Dr. Cláudio Millioltie
aos
funcionáriosda
Pró-Reitoria
de
Pesquisa
ePós-Graduação da
Universidadedo
Amazonas,
ÍrisBrito
de
Araújo,Paulo
César
Nunes
Melloe Jasson
Farias Soledade, pelapresteza e seriedade
com
que sempre
me
atenderam.Mesmo
ligadosao
fiodo
telefone, fax
ou ao cabo
de
um
modem,
conseguimos manter
uma
comunicação
cordial e esclarecedoradas
dúvidasque
foram
surgindoquanto à
relação
do
pós-graduando
com
esta pró-reitoria.Ao
Diretorda Faculdade de Educação,
Prof Dr.Raimundo
Martins,pela intervenção decisiva
que
resultouna
liberação institucional para cursara
pós-graduação.
Aos
colegasde
departamento
que
também
contribuírampara
que
isso acontecesse,meus
agradecimentos
sinceros.São
eles: Antônia Silvade
Lima, CecíliaRodrigues
de
Souza,Delnandina
Macedo
Monteiro, EdineideMesquita Galdino, Elenir
Lima
Nicácio, Jaqueline Coelho, Joelise Mascarellode
Andrade,
LeniTavares
Oliveira, LucíolaPessoa
Cavalcante, Ma. Marlide
Oliveira Coelho, Rita
Fonseca
Veloso,Rossana
Cunha
de
Azevedo, Túlia D'ArcProf
Guilherme
P.Lima
Filho, poisao
abdicarde
sua
prerrogativade
saída para cursar Mestrado,me
concedeu
a oportunidadede
irem
seu
lugar.Quanto
trabalhodevo
terdado
aminha
eficiente procuradorae
amiga, Profa
Ma
Marly O. Coêlho! Conciliaros
afazeres cotidianoscom
as
minhas questões
burocráticasnão
deve
ter sido fácil.Contar
com
você
me
deu
a certeza
de
que
as coisasna
UA
eram sempre encaminhadas
em
tempo
hábile
que
havia constantemente,um
espaço
para mim,no
seu coração
generoso.A
amiga
Ivani Ko//íng,que
apesar
da
distância,sempre
se
preocupou
comigo
eme
ajudou aentender
e a aceitar algunsprocessos
naturais
da
vida.O
pouco tempo que
trabalhamos
juntas,me
mostrou
que é
possível aliar
competência e
seriedade peloque
se faz,com
amor, carinhoe
respeito por
quem
se faz.Ao
Prof. Luiz Car/osCerquinho
de
Brito, pelos “toques”fundamentais
para aelaboração do
projeto inicial,que
me
possibilitaram.h
concorrer para
o mestrado no
ano
de
1998
e obter aprovação.Ao
trio Araci, Elizângelae
Elizabeth Catapan:vocês foram as
responsáveis por
eu
termorado
tãobem,
com
segurança, confortoe
com
a
tranqüilidade necessária para
o cumprimento das
primeiras etapasdessa
trajetória.
Serão
inesquecíveisos
momentos
que
passamos
juntos-
turma
de
98!Especialmente
aempolgação
com
a realizaçãodos
créditos, os debates,os
encontros festivos: Du/cinéía Cruz,Nádia
Souza,Laura
Constanza,Marcos
Meurer,Marcos
Neves, Ne/ci Barros, Nico/ina Amínta, Gi/neiMagnus,
Joanez
Aires, Zeina
Thomé.
A
professoraNoêmia Guimarães
Soares, pela correçãode
convivência, extrapolaram a leitura e a
compreensão
de
textos geraisde
fontesdiversas
em
língua francesa.O
ambiente
amistosoe extremamente
enriquecedor
de
nossas
aulas, juntoaoconvívio
cordialcom
os colegasde
turma, se
transformaram
em
encontrosde
trocas culturais, cultivo, respeito eaprendizagem
sobre arte, poesia, música, natureza, ética, alteridade...Nossa
convivência
me
mostrou
que
é possívelse
pôrcomo
predicado (ser professor,por
exemplo)
e retornar à plena interioridadede
ser sujeito, enriquecido pelamediação
das
estruturas objetivas e subjetivas.À
Banca de
Qualificação: Prof. Dr. Norberto Etges, Prof. Dr.Franscisco Fialho, Profa Dra.
Joana
S.De
Lázari, pela análise cuidadosa, pelasindicações e pelo incentivo
no decurso desse
trabalho.À
Banca de
Defesa
Final: Prof. Dr. Norberto Etges, Prof. Dr.João
Bosco da
M. A/ves, Profa Dra.Joana
S.De
Lázari, Profa Dra. Sílvia ZanattaDa
Ros, responsáveis pelo rito final
na conclusão
de
mais
esta etapaacadêmica.
Aos
funcionáriosda
secretariado
Mestrado, Maurília Francisco,Luiz
Fernando da
Silva eSônia Rodrigues
Quintino, pela paciência e eficiência“Seres humanos, pessoas daqui e de toda parte, vocês que são arrastados no grande
movimento da desterntorialização, vocês que são enxertados no hípercorpo da humanidade e
cuja pulsação ecoa as gigantescas pulsações deste hípercorpo, vocês que pensam reunidose
dispersos entre o hipercórtex das nações, vocês que vivem capturados, esquartejados, nesse
imenso acontecimento do
mundo
que não cessa de voltar a sie de recriar-se, vocês que sãojogados vivos no virtual, vocês que são pegos nesse enorme salto que nossa espécie efetua
em
direção à nascente do fluxo do ser, sim no núcleo
mesmo
desse estranho turbilhão, vocês estäoem
sua casa. Bem-vindos à nova morada do gênero humano. Bem-vindos aos caminhos dovirtuall”.
RESUMO
... ..ABSTRACT
.... ..|NTRoDuÇÃo
CAPÍTULO
i -cAPhULou-
cAPhULour
coNcLusÃo"
BIBLIOGRAFIA
ANEXOS
... ..su|v|ÁR|o
... ._x
xi ... ._13
A
CONSTITUIÇAO
E
O
DESENVOLVIMENTO
DO
CIBERESPAÇO
15
1.1.
Considerações
preliminares ... _.16
1.2.
O
ciberespaçocomo
suporteda comunicação
universalizada18
1.3.
O
fenômeno
técnico esuas
implicações para odesenvolvimento
30
do
ciberespaço VNOVAS DEMANDAS
PARA
A
FORMAÇÃO DO
HOMEM
E
PARA
O
38
AGIR DOCENTE:
entre o virtual e o atual _2.1. Virtualizações:
o
conceitode
virtual ... ._39
2.2. Trabalho, conhecimento, constituição/formação
do
homem
e
do 54
professor
CARTOGRAFANDO
O
HAB/TUS
DO PROFESSOR
... ..69
3.1.
O
conceitode
habitus eseu
movimento
constitutivo ... _.70
3.2.
Concepçoes
epistemológicasdo
fazerpedagógico
eo
habitus78
de
professor3.3.
Do
habitus à dobra:do
mundo
das separações ao
mundo
das
88
implicações
3.4.
Por
uma
pedagogia
da
implicação ... ._95
105
107
117
RESUMO
Esta dissertação visa refletir sobre
os elementos
necessáriosao
agir
docente
que
se configurana sociedade
informática.Toma
como
eixode
análise as implicações culturais e sociais
do
fenômeno
técnico, enfatizaas
mudanças
nas
relaçõesdos
homens
consigomesmos,
com
o
trabalho ecom
o
conhecimento.
Não
se pretende discutir a tecnologiacomo
algoem
si,transcendente e exterior
aos
individuos,mas como
um
processo
de
devircoletivo,
que
revelaum
certomodo
de
serdos
homens
e
de
como
produzem
sua
existência. Averigua-se a relaçãoque
se estabelece entreo aparecimento
das novas
tecnologias intelectuais e as modificaçõesdos processos
de
produzir saber,
de aprender
e ensinarno
ciberespaço,bem
como
asdemandas
para a
formação do
homem
e
para o agir docente. Discute-se, ainda,as
bases
epistemológicas
que permeiam
as
práticaspedagógicas
atuais e o habitusde
professor
em
cada
uma
delas, tencionando apontaros fundamentos
de
uma
ação pedagógica
que
se construade
acordocom
os princípiosda
implicação.Palavras-chaves:
ciberespaço, conhecimento, ensino,aprendizagem,
habitus,ABSTRACT
This dissertation
aims
to investigate the basic elements of the pedagogical action in our current cybersociety.The
basis for this analysis is thecultural
and
social implications of the technicalphenomenon.
The
analysisemphasises
thechanges
thathave
taken place in theway human
beings relateto
one
another, towork and
to knowledge. Thiswork
does
not' intend to discusstechnology as
an
independent entity, transcendentand
external to individuals, but as aprocess
of collective 'devir',which expresses
theways
human
beings
areand
how
theyproduce
theirown
existence. This dissertation alsoinvestigates the relationship
between
theappearance
ofnew
intellectualtechnologies
and
thechanges
in theprocesses
ofknowledge
production,learning
and
teaching in cyberspace,as
wellas
thenew
demands
forhuman
formation
and
teacher's action. Lastly, thiswork
also discusses theepistemological
bases
for present pedagogical practicesand
the teacher's'habitus' in relation to these practices, with the
aim
of pointing out the basicpremises
for a pedagogical action builtupon
the principles of implication. `Key-words:
cyberspace, knowledge, teaching, learning, habitus, pedagogical action, implication.O
CIBERESPAÇO
E
O
AGIR
DOCENTE:
da
constituição
do
|NTRoouçÃo
As
inovações tecnológicascom
suas conseqüências
ao
devirhumano,
ocorrem
com
uma
rapidez infinitamentemais
velozque
as discussões
epistemológicas travadas
na
academia.
Tem-se
um
momento
históricoem
que
a área
das
ciênciashumanas
que sempre
privilegiaram o raciocínio epistêmico,terão
que
reverseus
dogmas
mais
internalizados sequiserem
acompanhar
o
curso
da
história.Esse
descompasso pode
ser percebidona
grande
maioriados
cursos
de
formação
de
professoresque
aindaformam
esses
profissionaisincutindo-lhes o adjetivo
de
agentes
da
revolução, priorizando oraaspectos
técnico/funcionais, ora
aspectos
políticos/sociais.Constroem-se
professoressob
a rigidezde
um
habitus prescritivoe
normativoque
não se
coaduna
ànova
lógica
da
sociedade
da
informação edo
conhecimento
que
na
atualidade,apresenta-se
num
contextomarcado
pela virtualização sejada
informação,dos
processos
de
trabalhoou do
conhecimento.Nesse
contextosão
requeridosindivíduos
dotados
de
estruturas cognitivas desenvolvidas eempiricamente
universais.
Assim,
essa
dissertaçãopropõe-se
a investigar,nos
doisprimeiros capítulos,
os
requerimentos e os atuais desafios teórico-metodológicos do
agir docente,num
contextomarcado
pela materialidadedo
ciberespaço. Parte-se
do
pressupostode
que
a virtualizaçãodos
modos
pelos quaiso
homem
produz
sua
existência eproduz
o conhecimento,bem
como
avirtualização
da comunicação
ede
acesso
ao saber mediados
pela informática,apresentam novas
demandas
para aformação
do
homem
em
gerale
parao
agir
docente
em
particular.Ao
mesmo
tempo
em
que
novos
requerimentossão
postos pelo ciberespaço
e
suas
ferramentas,são engendradas
alternativasde
superação
da
construçãodo
habitusde
professor, porum
agirdocente
que
se pautena pedagogia da
implicação:esse
é odebate
estabelecidono
último capítulo.Buscando
explicitar os conceitos propostos nesteestudo
-
ciberespaço, conhecimento, ensino,
aprendizagem, formação
do
homem,
agirdocente, implicação,
essa pesquisa de
caráter teórico-bibliográficose
deu
a
partir
da
realizaçãode
um
diálogocom
autoresque
tratamdos
conceitosapontados, a saber: Lévy, Bourdieu e Etges.
Na
medida
do
possível,esse
diálogo
estende-se
aos seus
interlocutorescomo
é ocaso
de
Bergson,Deleuze, Guattari, Serres,
Marx
e Hegel, perquirindo-se acompreensão dos
conceitos propostos.
Entende-se
que
esses
autoresfornecem
um
embasamento
teórico-metodológico, possibilitadorda
construção conceitualda
qual
tem
como
objetivoessa
pesquisa.O
enfoque
metodológico configura-sea
partir'
da
perspectivado
método, entendidosegundo
Etges,como
um
“conjurítooperatório
de
categoriasem
movimento
lógicoe
conexão
interna à coisa".Pode
ser entendido
como
um
procedimento
de
investigaçãoordenado
e
autocorrigível,
como
o conjuntode
categoriasem
operação necessariamente
vinculadas entre si. Contudo, este conjunto
de
categoriasnão
operade
forma
abstrata, dogmática, intuitiva,
mas
sim,no
movimento do
processo
pelo qualas
categorias,
os
conceitos, asdeterminações
surgem
das
interações,das
noções
entre si
e
com
o ambiente, para formar totalidadescada vez mais
inclusivas,concretas, plenas
de
conteúdo.Nesta
perspectiva, o conceitopode
ser entendidocomo
sendo
resultado
de
um
processo de
devir, síntesede
estruturas superioresde
relações
com
omundo,
autofundanteindependente
de
estímulos externosou
logicamente anterioressendo
ainda autorecursivo.Abordar
otema
propostode forma
conceitual consiste,na tentativade
cumprir a exigência objetivade
todagenuína produção
intelectual: nissocAPíTuLo
| ~A
CONSTITUIÇÃO
E
O
DESENVOLVIMENTO
DO
CIBERESPAÇO
“O ciberespaço constitui
um
campo vasto, aberto,ainda parcialmente indeterminado, que não deve ser
reduzido a
um
só de seus componentes.Tem
vocaçãopara interconectar-se e combinar-se
com
todos osdispositivos de criação, gravação, comunicação, simulação.
Ciberespaço:
nômade
urbanístico, gênio informático,pontes e calçadas líquidas do Espaço do saber. Traz
consigo maneiras de perceber, sentir, lembrar-se,
trabalhar e estar junto.
É
uma
arquitetura do interior,um
sistema inacabado dos equipamentos coletivos da
inteligência,
uma
estonteante cidade de tetos de signos."1.1.
Considerações
preliminaresAs
céleresmudanças
que
ocorrem
em
nossos
tempos
na
cultura,nos costumes,
na economia
ena sociedade encontram-se perpassadas
porintensas alterações tecno-científicas,
que
ampliam
a inteligência, asformas
de
comunicar e
conhecer, possibilitando a reinvençãoda
vida e a recriaçãodo
trabalho.
Da
cultura ã constituiçãodo
sujeito,mutações
antropológicasconfiguram-se
em
campos
abertos,sem
fronteiras,de
construçãoe
reconstrução coletivas,
acompanhando
o progressoda
ciência eda
tecnologia.As
formas
como
oshomens
se relacionam consigomesmos,
com
seus
semelhantes e
com
a
naturezatambém
se modificam.A
tecnologia,as
telecomunicações
e a informáticasão
importantes propulsoresdestas
transformações.
O
que
parecia pertencerapenas
aos domínios da
ficção cientificatal e qual William
Gibson
(1985)com
seu Neuromancien, o
ciberespaçodesigna
hojeo
universodas
redes digitaiscomo
lugarde
encontrose
de
aventuras, terreno
de
conflitos,nova
fronteiraeconômica
e cultural, poisnovas
tecnologias
se banalizam
em
todos os setoresda
vidahumana,
sejana
indústria,
no
comércio,no
lazerou na
cultura.Por
outro lado,a
revoluçãoinformática faz surgir
a
internet, e-mail, editoresde
textos, jogos digitais,os
cibernegócios, o cibermercado, o cibersexo.
Empresas
se informatizam,organizações
virtuais seformam, os computadores são
uma
tônicaem
nosso
cotidiano.
Novas
categoriasde
profissionaissurgem
no
universoweb,
cujaprincipal característica
é o domínio das
tecnologiasda
atualidade:web
designers, ciber-engenheiros, publicitários, jornalistas e
programadores
da
Internet, surfer, especialista
de
conectividade, chief internet officer, chiefknowledge
officer1-
estassão
algumas
das
atuais carreiras digitais. 1Nas grandes empresas americanas os ClOs são conhecidos
como
executivos de e-business.Nas brasileiras,
como
diretores de Internet e têm como missão traçar a estratégia deWeb
paradiversas categorias de negócios. Precisam entender
como
funciona cadauma
das tecnologiasdo mundo on-line e o que fazer para transformá-las
em
diferencial estratégico de negócios.Os
CKOs, diretores de conhecimento, ganharam evidência quando as empresas descobriram queas redes intranets, associadas a sofisticados sistemas de coleta de dados, poderiam gerar
uma
A
simulação digital inaugurauma
nova
ciência,em
que
o
mapeamento
do
universo realiza-seem
tempo
realno
ciberespaço.Novos e
audaciosos
instrumentospermitem
a criaçãode
um
“mundo
virtual”,onde
se
produzem
substitutosde
silicone,simulam-se
testesde novas
drogas,modelos
do nascimento
de
sistemas planetários e galáxias, eacompanham-se,
pelo computador, o crescimentode
vidas digitais(microorganismos
laboratoriais)(Casti, 1998).
A
criaçãoda
vida pelo própriohomem
é hojecada vez mais
real.Da
clonagem
da
ovelha Dollyem
1996,passando
pelo projetodo
mamute
da
Sibériaz
ao
mapeamento
do
código genéticoda
espéciehumana com
o
projetoGenoma,
a biotecnologiavem
possibilitando o surgimentode
ferramentascapazes
de
colocarnas
mãos
da
espéciehumana
o destinode sua
própriaevolução.
O
homem
parece
brincarde
Deus
e a ciênciaparece
não
encontrarlimites.
Tendo
em
vistaos aspectos
apontados, o séculoXX
marcado
pelarevolução digital
cede
lugara
um
novo
séculoque
poderá
serextremamente
assinalado pela biologia
humana, que
pouco
apouco ganha
aresde
ciênciaexata. .
"
A
aceleraçãodos
fluxos informacionais posta peloprocesso
de
digitalização
da
informação,promove
uma
verdadeiraexplosão
de
informaçõesque
nos
assola acada
instante.A
metáforado
dilúvioou de
uma
grande
enchente,
vem
sendo
constantemente
utilizada parademonstrar
que
a
humanidade
sedepara
com
um
mundo
no
qualse
dispõede
uma
abundância
de
informações, aum
custocada
vez
menor.Ao
mergulhar-senesse
“informar”faz-se necessário hierarquizar, selecionar, filtrar
e
atribuir sentido aesse
número
grandiosode
informações.Como
poderemos
nos
orientarnesse
mundo
de
mudanças
perpétuas,
em
que
o fimdas
certezasse
tornacada
vez mais
real,marcando
a
era
do
imprevisível edo
indeterminável?Quais
as ferramentas necessáriasanárquico e lento. Administram o capital intelectual da companhia -
uma
espécie de designerse implementadores da infra-estrutura necessária à administração do conhecimento, escolhendo
programas para armazenar e cruzar informações e meios de tornar os resultados acessíveisa
todos os tomadores de decisão de determinada empresa.
2
para
navegarmos
“nesse informar'da
informação edo
conhecimento? Qual o
“mapa”
requerido paranos
orientarmosnesse
mundo
global?Se
ele existe,onde
está? Foi traçado por terceirosou
de agora
em
diantecada
um
criaráo
seu?
Os
avanços
técnico-científicosengendram
novas formas
de
produção,
ação
e desenvolvimentodos
indivíduos,num
contextomarcado
pelamaterialidade
do
ciberespaço, infra-estruturade comunicação
universalizadapela qual é possível construir
uma
nova
realidade.Embora
tenha sidoinicialmente
concebida
porGibson
como
uma
“alucinação consensual",o
ciberespaço existe,
anima
projetos e torna-secada
vez
mais,um
espaço
onde
pessoas se
relacionam, e seorganizam
em
torno dele.Neste
capitulo discutir-se-á oavanço do fenômeno
técnicoe
suas
implicações
para
acomunicação
universalizada, representada pelo ciberespaço.É
no
contextodo
ciberespaçoque pensaremos
os processos
de
formação
do
homem
edo
agir docente.1.2.
O
ciberespaço
como
suporte
da
comunicação
universalizadaLévy
(1999) considera o ciberespaçoou espaço
virtualda
informação
como
onovo espaço
da
comunicação
materializado pela interconexãodos
computadores
do
planeta, incluindo aí, o conjuntodos
sistemas
de
comunicação
eletrônicos, pois transmitem informações provenientesde
fontes digitaisou
destinadas à digitalização.É
um
espaço
virtuaI3 pois
se
encontra desterritorializado,ou
seja, écapaz
de
gerardiversas manifestações concretas
em
diferentesmomentos
e locaisdeterminados,
sem,
contudo, estar elemesmo
preso aum
lugarou
tempo
em
particular.
Esse
novo meio
tende a tornar-se a maior infra-estr_uturada
3
produção,
da
gestão,da
transação econômica,além de
constituir-se,em
breve,no
principalequipamento
coletivo internacionalda memória
e
do
pensamento4.
Destaca-se
a desterritorializaçãocomo
uma
de
suas
principaiscaracterísticas. Este conceito é assinalado por
Deieuze e
Guattarina
obra
intitulada
O
anti-Édipo (capitalismo e esquizofrenia).Segundo
esses
autores,
há
trêsgrandes processos de
desterritorialização pelos quaistransforma-se
a
vidados
selvagens,dos
bárbarose dos
civilizados ao longoda
história,
o
que
os
teria levado a habitarem trêsespaços
diferentes: a terra,o
território
e
os estados
(suaevolução
se daria atravésdo
devir-concretoe
do
devir-imanente).
O
deslocamento
de
um
espaço
parao
outro teria sedado de
forma
violenta, tantono aspecto
físico,quanto no
mental.Na
obraO
que
é
fiIosofia?,os
referidos autores afirmamque
tantoos
animaisquanto os
homídeos formam
territórios,abandonam
ou
saem
deles e refazemesses
territórios sobre “algo
de alguma
outra natureza. (...)com
mais
forte razão,o
homidio:
desde
seu
registrode
nascimento
ele desterritoritorializasua
pataanterior, ele a arranca
da
terra para fazer delauma
mão,
ea
reterritorializasobre galhos
e
utensílios. (...) procuraum
território para si, suportaou
carregadesterritorializações, sereterritorializa
quase
sobre qualquer coisa, lembrança,fetiche
ou
sonho
“(p.90).Lévy
(1998b)retoma esse
conceitoao
relacionar a históriada
humanidade
à
históriada aprendizagem
coletiva,que
ocorreu e ocorreem
determinados espaços
que
se desterritorializame
reterritorializam, poisfazemos
partede
uma
espécie animal especialque
desenvolveu a
comunicação,
acapacidade
de
pensar
eaprender
de
forma
individuale
coletiva.
A
exemplo
de Deieuze
e Guattari,Lévy
denomina
o primeiroespaço
de
Terra,onde
os
homens
habitam de forma
nômade.
A
identidadenesse
espaço
está ligadaaos
totens e as linhagens.O
saber
tem
como
instrumentoos relatos possíveis através
dos
mitos,dos
rituaise
da
palavrado
ancião.“O
4 Para outros autores
como
Esther Dyson, George Gilder, Jay Keywort e Alvin Toffler, “ociberespaço é a terra do saber (the land of knowledge), a nova fronteira cuja exploração poderá
ser, hoje, a tarefa mais importante da humanidade (the exploration of that land can be
sujeito
do
saber
é o clã, todos osmembros
do
clã,o
clãque
aprende
etransmite
de
uma
geração
a outra,mantendo,
assim, aduração
do
conhecimento.
O
saber éimanente
ao
sere
ao
sujeito coletivo" (p.177).Quando
o
homem
torna-se sedentário epassa
a construir instituições sociaiscomo
o
Estado, instaura-seo espaço
do
Território.A
posse de
uma
partedesse
Território define a identidadedesse
homem
que
também
ocupa
um
lugarnas
hierarquias,nas
instituições,nas
castas.Com
a invençãoda
escrita,o
Livro
-
textossagrados ou
clássicos,passa
a carregaro
saber transcendente,territorial.
Os
hermeneutas são os
responsáveis pela reinterpretaçãodo
saber
do
livroem
cada
geração.Já no
terceiro espaço,espaço das Mercadorias, a
identidade
dos
indivíduos define-sena
relaçãoque
os
mesmos
estabelecem
com
aprodução
e as trocasno
sistema capitalista desterritorializante.A
profissão,
um
emprego,
o trabalhosão
vetoresde
socializaçãodo
indivíduo.A
prensa
de
Gutenberg
torna possivel a difusãodas
luzesdo conhecimento
›
através
da
Enciclopédia reçdos hipertextos.Sublinhe-se
que
há
aindauma
quarta desterritorializaçãoa
qualdá origem
ao
Espaço
antropológico
do
saber. Contudo, para elenão há
substituição
de
um
espaço
pelo outro: eles coexisteme
se retroalimentam.Neste nascente
mundo
virtual - o ciberespaço -meio fecundo
epoderoso
favorável
ao
desenvolvimento dos
indivíduose à formação de
uma
comunidade
baseada na
inteligência, haveriaa
oportunidadede
conexão
das
inteligênciasconcretizando as inteligências coletivas.
No
Espaço do
saber, o eixoé o
outrocom quem
se
pode
interagir, aprender, trocar, construir
um
pensamento
coletivo,modalidades
de
ser inéditas
e
construirum
novo
planode
existência para os sereshumanos.
Destaca-se a
comunicação
como
construtorade
mundos,
como
possibilitadorada
formação
de
um
novo
laço social.Essa forma de
agir,de
se
relacionarcom
os outros
e
de
conhecer, seria oque
elechama
de engenharia do
laço social,onde
se
exploraao máximo,
todas as riquezashumanas
existentesnas
qualificações,
que
nem
sempre
são usadas
pelos outrosou
valorizadasno
meio
em
que
vivem.Salienta-se
os processos de
alteridadeque
seesboçam
nestecontexto, já
que
ohomem
constitui-secomo
tal frenteao
outro, indoem
direçãoao
outro, saindode
simesmo. Nesse
movimento,
reconhece-ocomo
inteiramente outro, procura
aprender
com
elenuma
atmosferade
trocade
saberes
eaprendizagens
coletivas, despindo-sede
preconceitos,convivendo e
respeitando
as
diferenças, se abrindo para descobrir outros universosde
conhecimentos
diferentes.A
belezadesse
espaço que
se
abre,corresponde às
inúmeras
potencialidadesde
interaçãoque
ele carrega,bem como
instrumentos
que
permitem
a construção e reconstrução transversale
coletivado
conhecimento.A
escolhade
um
caminho
transversalpode nos
levarao
desconhecido,
ao
ignorado,ao
nunca
visto.Tanto melhor
assim! Daí,tornam-
se
cada vez mais
reaisos processos de aprendizagem
que
nos levem
parao
outro lado
do
rio,que
nos
façam
sairde
nosso'mundo,
construir outros. l ¬ .- -‹>"' â'
mundos.
_. __.,...._, ;z¬,›=;.¬‹-;¢_¿-_g¬,~›-cv: `
De
acordo
com
Lévy, osaber
que
habitaesse
espaço
é
caracterizado
na
seguinte afirmação:Não
se trata apenas, é claro, do conhecimento cientifico-
recente, raro e limitado -,mas
daqueleque
qualifica a espécie:homo
sapiens.Cada
vezque
um
serhumano
organiza ou reorganiza suarelação consigo
mesmo,
com
seus semelhantes,com
as coisas,com
os signos,com
o cosmo, ele seenvolve
em
uma
atividade de conhecimento,de
aprendizado.
O
saber, no sentidoem
que
oentendemos
aqui, éum
savoir-vivre (saber -viver)ou
um
vivre-savoir (viver-saber),um
saber co-extensivo à vida.
Tem
a vercom
um
espaço
cosmopolita e
sem
fronteiras de relações ede
qualidades;
um
espaço da metamorfose dasrelações e do surgimento das maneiras de ser;
um
espaço
em
que
seunem
os processosde
subjetivação individuais e coletivos -
em
permanenteSão
esses
saberes,seus
agentes,suas
interações esuas
ações
que
engendram,
habitam e constituem oEspaço do
saber. Estasconexões
provocam novos
acontecimentos,o nascimento
de
novos
campos
de
virtualidades
que
ao
atualizarem-sepermitem cada vez
mais, a concretizaçãodo
projetoda
inteligência coletiva.Por
inteligência coletivaentenda-se
“aquela distribuída por todaparte,
incessantemente
valorizada,coordenada
em
tempo
real,que
resultade
uma
mobilização efetivadas
competências” (Lévy, 1998: 28). Refere-se, pois,à
idéia
de
que não
há
resen/atóriode conhecimento
transcendente poiscada
serocupa
uma
posição singular e evolutiva. Portanto, toda riquezahumana
é
considerada, desenvolvida e
empregada
em
alguma
coisa.V
A
constituição
e
o desenvolvimentodessa
inteligência coletivaé
possível através
da mediação
dos novos
sistemasde
comunicação
de base
digital,
que
podem
ofereceraos
membros
de
uma
comunidade
osmeios
de
coordenar suas
interaçõesnum
universo virtualmóvel de
significações,de
conhecimentos e
comunicação
transversalizadae de
conhecedores
desterritorializados.
As
trocasmdemcorfhëcqinaefintose o
estabelecimentode
comunidades
auto-organizadascapazes
de coordenação
de
ações,de
aprendizado
cooperativo ede estabelecerem
relações transversais, extinguea
transcendência
do
poder
edo
saber, transformando-osem
imanentes aos
individuos, instaurando a
democracia
direta.Percebe-se o
germinarde
uma
prática social
do
saber
como
continuum
vivo,em
constante metamorfose,no
qual o ser
é
construído pelo conhecer.Se
osaber é imanente ao
intelectualcoletivo,
sua
encarnação
num
só corpo seja eledo
xamã, do
padreou
do
professor, já
não pode
mais
acontecer.Ressalta-se
que
abase
digitaldesse
novo
meio de
comunicação
e interação
para
associedades
humanas
não
excluiformas ou
tecnologiasexistentes anteriormente,
como
é
o caso, porexemplo,
da
oralidadee
da
escrita.
Ao
contrário, significa a continuidadede
uma
históriadas
tecnologiasintelectuais e
das formas
culturaisque
a elas estão ligadas.Cada
uma
dessas
saberes
distintos,moldando
ainda, as referênciasde espaço
etempo
das
sociedades
humanas.
Lévy
(1997a)aponta
trêsgrandes
tiposde
tecnologiasda
inteligência: a oralidade, a escrita e a informática.A
oralidade primária relaciona-se aum
modo
de comunicação
que
corresponde às sociedades
sem
escrita.Os
indivíduos e seus relatosencarnavam
amemória
social, poisnão
existiam instrumentosda
memória
coletiva.
A
transmissãodo
saber
era feita atravésda
repetiçãodos
ritose
dos
mitos, por isso a figura
que
expressa essa
relaçãoé
o círculo.Memória
humana
elinguagem
produzem
oespaço
e o tempo. AMas
associedades da
escrita edo
livronão abandonaram de
uma
vez
a oralidade, pois era preciso interpretaros
textos, tarefa realizadaatravés
do
uso
da
palavra pelos hermeneutas. Ler e interpretarum
texto escritosignifica atribuir-lhe sentido, pois emissor e receptor
não
participamde
um
mesmo
contexto.A
linearidadedo
texto ede seus
signos encontra-seexposta
no
limite espacialda
página,que pode
ser transpostano
movimento
da
interpretação
e
da
construçãode
significados.Enquanto nas sociedades
em
que
predomina a
oralidade, amemória
estáencarnavda-nasmpessoas
,jánas
sociedades
da
escrita, amemória
encontra-se semi-objetivadano
texto escrito.Nas
sociedades
em
que
se faz presente o suporte digitalda
informação
inaugurado
pelo dispositivo técnico informático, amemória
socialjá
não
se objetivamais
em
pessoas ou na
escrita estática.Com
a informática,a
memória
encontra-seseparada
do
corpo, estáem
permanente
transformaçãoe
objetiva-se
em
dispositivos técnicos.Com
osprogramas
de
simulação,os
conhecimentos
podem
serseparados das pessoas
e coletividades,podendo
ser depois recompostos, modularizados, difundidose
modificados.O
saber
informático procura a velocidade e a pertinência
da
execução e das
modificações operacionais,
onde
tudo aconteceem
tempo
real.O
suportedigital
da
informaçãonão
exclui as outrasformas de
tecnologias, pois lere
escrever ainda
tem
importância fundamental, devidoao
fatode
ser impossivelparticipar
do
ciberespaçosem
esses
dois domínios. (Cf. Lévy, 1997b: 75-134).com
a digitalizaçãoda
informação o livro impresso, por exemplo, deixariade
existir.Conceber
essas
tecnologias intelectuaiscomo
não
excludentesumas
das
outras, relaciona-seao
“princípioda
multiplicidade conectada”,através
do
qual entender-se-áque
uma
tecnologia intelectual irásempre
contermuitas outras, tudo
funcionando
como
uma
“redede
interfaces”. Note-sea
seguinte assertiva:
...em
uma
máquina
para processamento de textos,há a escrita, o alfabeto, a impressão, a informática, a tele catódica... não satisfeitos
em
combinar váriastecnologias
que
se transformam e se redefinemmutuamente, os dispositivos técnicos
de
comunicação criam redes.
Cada
novaconexão
contribui para modificar os usos e significações
sociais de
uma
dada
técnica. Para continuarcom
nosso exemplo, as impressoras laser, os bancos
de
dados, as telecomunicações, etc. transformam as
possibilidades e os efeitos concretos
do
processamento de textos.
O
que
equivale a dizerque não
podemos
considerarnenhuma
tecnologiaintelectual
como
uma
substância imutável cujosignificado e
o
papel na ecologia cognitivapermaneceriam
sempre
idênticos.Uma
tecnologiaintelectual deve ser analisada
como
uma
redede
interfaces aberta sobre a possibilidade de novas
conexões e
não
como
uma
essência. (LEVY,1997a: 146)
A
coexistênciada
oralidade,da
escrita eda
informáticagera
algumas tensões extremamente
fecundas, poisao
mesmo
tempo
em
que
diferentes
formas
de
sere de conhecer dos
indivíduos ainda subsistem,novas
configurações subjetivas
são fomentadas e
constituídas a partirde novos
fluxos.
Coloca-se
então, algunsquestionamentos
que
vão
em
direçãoaos
aspectos referentes
às novas formas de conhecer
epensar
potencializadas poragenciamentos
técnicosdo
mundo
da
informáticae
que
professores edemais
profissionais
da
educação
aindanão
inventariaram.Torna-se
patenteque
antigos
regimes de
signos e universosde
significação estão,na
levezados
bits,
sendo
desestabilizadosesboçando
novos
deviresextremamente
voláteis,fluidos,
capazes
de
carregar e fomentarinúmeras
metamorfoses.Desse modo,
matriz informática,
colocando novos agenciamentos que exigem
um
posicionamento
de
várias áreasdo conhecimento
inclusivedas
ciências sociaise
humanas
como
apedagogia
e a psicologia.A
apostado
ciberespaço consisteem
oferecer pela primeira vez,oportunidade para
expressão da
inteligênciado
individuo diantedos
media
clássicos,
que não
têm
como
fornecerum
processo
de
comunicação
interativas“todos-todos", pois trabalham
num
sistemade
redes
de
irradiação centralizada,como
éo caso
do
rádio eda
televisão.O
ciberespaço
não
está definitivamentepronto, está
se
compondo,
com
dobras
e dobras.'
O
surgimento eo desenvolvimento desse novo
espaço
potencializador
de
novas formas de
comunicação
pós-midiáticas, tornava-sedificil
de
serconcebido
aindano
tempo
em
que
os computadores
constituíam-se
em
enormes
máquinas,
caras,pesadas
ede
uso
exclusivodos
militares,utilizados
como
grandes
calculadorasmecânicas,
elétrico-mecânicase
eletrônicas,
para
cálculode
tabelasde
balística.Com
o
refinamentoda
técnicacaminhou-se
atravésdas
válvulas,dos
transistores,dos
chips à nanotecnologias:das
máquinas
de
calcularàs
~ ,.
'-
máquinas capazes
de processamento
geralda
informação. Estemovimento
culminou
com
a diminuiçãodo tamanho
e
do
preçodos computadores,
provocando
um
crescimento exponencialdos
usuáriosda
comunicação
universalizada.
Culminou
ainda,com
um
refinamentodas funções
do
computador
pois ele torna-seum
instrumentode
criação via textos,imagens,
músicas;
de
organização viabancos
de
dados, planilhas eletrônicas;da
simulação
via planilhas, ferramentasde
apoioà
decisão,programas para
pesquisa;
de
diversão via jogosnas
mãos
de
uma
proporção crescenteda
população
dos
países desenvolvidos (Cf. Lévy, 1999: 32).Data dos anos
70, o surgimentodo
microcomputador
alternativoconstruído por
meio de
atividadesde
bricolagem eletrônica,que
“arrancou” a5
Estas estruturas comunicativas adotam o padrão de rede ponto a ponto - grosso modo, várias
conexões entre pares individuais de máquinas, ou conexões de duas ou mais redes
como
apotência
de
cálculo centralizadano
Estado,no
exército enas
grandes
empresas
restituindo-aaos
indivíduos.No
finaldos
anos
80
e
inícioda
década
de
90,acontece
também
um
movimento
de
restituição/retorno destavez
não
mais
ao
poder
do
cálculo,mas
da
informaçãoe
do
conhecimento
àsmãos
de
cada
um.
Ao
instaurarem-senovas
formasde comunicação
universalizadas,possíveis a partir
do
conjuntode
tecnologias digitais, oacesso
auma
infinidadede
informações
ede conhecimentos
pode
se dar atravésdo
ciberespaço, íconede
uma
era pós-mídia,complexo organismo
interativo e auto-organizanteonde
o
saber
universalnão
possui centro, eixo, regrasou
controlese
é
constantemente
alimentado pelo coletivo.Percebe-se
onascimento
de
redes
de
todosos
tipos:de pesquisas
ou
científicas,formadas
por universitáriose
cientistas; públicas; corporativas
ou
comerciais,formadas
porempresas;
aquelas
que
possibilitam tornar realidade a teIemedicina7; organizações virtuaise a “rede
das
redes”-
a Internet, dentre outras. "Serres considera
as
redesde
comunicação
uma
singularidadedo
nosso
século, pois realizamos
espaços
virtuais outrora reservadosaos
sonhos
e
às
representações:mundo
em
construção onde, deslocalizados,nos
orientamos
e
deslocamos,
espaço
menos
desligadodo que
se pensa no
antigo território,dado que
aqueles que,não
há
muito tempo,permaneciam
arraigadosà terra viviam, tanto
como
nós,no domínio
do
virtual,embora
sem
as
tecnologias
adaptadas
(Cf. 1994: 16).Neste
contexto, a Internet (ligação entreredes)
pode
ser identificadacomo
o símbolodo
ciberespaço,espaço
em
viasde
transformar-seno
Espaço
antropológicodo
saber.Nascida
das
necessidades
do
exército norte-americano visando facilitar acomunicação no
6 Há
alguns grupos ou fóruns de discussão como os newgroups, que têm algumas regras para
utilização do sen/iço, estilo e costumes; as pessoas que os violam podem até ser expulsas.
7
O
Laboratório Fleury éum
dos primeiros no Brasil a utilizar os serviços de acesso via cablemodem.
Via rede, médicos cadastrados de várias localidades do País compartilhaminformações sobre casos e pacientes, pesquisam resultados de exames que são transmitidos
on-line
com
maior resolução de imagem e som.Com
o uso da videoconferência, a telemedicinase torna realidade. (Cf. http://wordtelecom.idq.com.br).
A
medicina éuma
das áreas doconhecimento cujo crescimento tem sido grandemente influenciado pelo avanço da tecnologia.
A
partir do uso de computadores na década de 70 até o uso de robôs que fazem cirurgiascaso
de
um
ataque
nuclear, a Internet inicialmentechamada
Arpanet (criadaem
1969),não
é controlada pornenhum
computador
ou
rede individual, sendo,portanto,
uma
rede descentralizada,ou
o conjunto mundialde redes e
gatewaysa
que
utilizamo
conjuntode
protocolosTCP/lP9
para secomunicar
uns
com
os
outros.Na
atualidade a Internet ofereceuma
variedadede
serviçosaos
usuários
como FTP
(atravésdo
qual é possível copiar arquivos entremáquinas
ligadas à Internet), correio eletrônico (possibilidade
de
redigir, enviar e recebermensagens
de
correio eletrônico,que
já existiadesde
ostempos da
Arpanet,mais
que
hojese
tornacada
vez
mais popular),WWW
(Word
Wide
Web
-
responsável por atrair para a rede, milhares
de
usuáriossem
pretensão
acadêmica,
com
seus
sitesque congregam
texto, imagens, som, vídeoe
brevemente
cheiro-
pode
serusada
para transmissãode
dados), dentreoutros.
À
medida que
mais
emais
pessoas
conectam-se
à Internet,outras possibilidades
de comunicação
se abrem, formam-se
comunidades
virtuais
nômades
sobreum
rico territóriosemântico
alimentadoe
retroalimentado pela
humanidade.
A
comunicação
é
feitacada vez mais
entreculturas diferentes, entre a ciência e a
sociedade
em
geral atravésde
coordenação
de
ações.Pessoas de
interessescomuns conversam
coletivamente
no
ciberespaço sobre osmais
diversos assuntos ecom
os mais
variados fins,
sejam
eleseconômicos,
voltadosao
trabalho, as religiões,a
autoresem
comum,
formando
outros tiposde
tribosou
clãsque
muitasvezes
não
são
físicas,mais
que
compartilhamde
um mesmo
universode
signos.8
Dispositivo usado para conectar diferentes redes - redes que utilizam diferentes protocolos
de comunicação - de
modo
que seja possível transferir informações entre elas. Ao contrário deuma
ponte, que transfere informações entre redes similares, o gateway transfere informaçõesdepois de convertê-las para
um
formato compativelcom
os protocolos usados pela segundarede para transporte e recepção. (Microsoft PRESS, 1998: 379).
9
TCP/IP - Anacrõnimo de Transmission Control Protocol/Internet Protocol
um
protocolodesenvolvido pelo Departamento de Defesa dos Estados Unidos para a comunicação entre
computadores.
O
TCP/IP foi projetado para o sistema UNIX e tornou-se o padrão de fato paraEsses
signos eseus
significados sósão
construídos pelaação das
milharesde
pessoas
que
interagemnesse
espaço.Cada
um
seriauma
espéciede
letrano
hipertexto
da
humanidade. Pode-se não
só trocar informações,mais aprender
cooperativamente
com
os
outrosnas
comunidades
virtuaisde
forma
auto-organizadora.
Pode-se
estarmais
próximode alguém
com quem
se
trocamensagens
do
outro ladodo mundo,
do que
de
alguém
topologicamente perto,como
por exemplo,de
um
vizinhodo
mesmo
andar
de
seu
apartamento.A
identificação e a construção
de
interesses e universosde
significaçãocomuns
possibilitados pela rede,
independem
de
distância geográficaou de
laçosde
consangüinidade,
rompendo
com
os limitesdo
espaço
e tempo.Por
outro lado,pode-se
pertencersimultaneamente
a váriascomunidades
geográficasou
culturais.
A
comunicação
como
criadorade
mundos humanos
crianovos
contextos feitos pelos
homens
e para oshomens:
éuma
forma de
ação,a
Internet é
um
exemplo
disso.A
comunicação
é, portanto,fundamento
de
todasas
relações sociais, por isso consistenuma
categoria básicade
análise pela qualé
possivel secompreender
as estruturas sociais. .Entretanto, o
uso
da
Internetnão
se
restringeapenas
como
meio
de
comunicação.
A
redevem
sendo
utilizadacada
vez mais
como
um
grande
balcão
de
negócios,onde acontecem
operações
business to businessque
ligam as
empresas
a seus
parceirosou
as aplicações business toconsumer
que
ligam asempresas
aos
consumidores.Compra-se,
vende-se,marca-se
encontros, encontra-se pessoas, apaixona-se, cria-se laços
de
amizade,de
cooperação e
também
de
ódio: tudoconectado
pelo simplescabo
de
um
modem.
O
avanço
das telecomunicações põe a
disposiçãouma
nova forma
de
conexão
tornando a
Internet portátil: aconexão
com
mobilidade possibilitada atravésdo
telefone celular.Ressalta-se
que
o fatode
se destacar os aspectos mais positivosdo movimento
informacional digitalbem
como
osnovos
planosde
existênciainéditas