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Relatórios de Estágio realizado na Farmácia Monte da Virgem e na University Hospital Galway

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Academic year: 2021

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Faculdade de Farmácia da Universidade do Porto

Mestrado Integrado em Ciências Farmacêuticas

Relatório de Estágio Profissionalizante

Farmácia Monte da Virgem

Maio de 2018 a Julho de 2018

Cláudia Sofia Borges Fidalgo Meneses

Orientadora: Dra. Cátia Seabra

Tutora FFUP: Professora Doutora Susana Casal

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Declaração de Integridade

Declaro que o presente relatório é de minha autoria e não foi utilizado previamente noutro curso ou unidade curricular, desta ou de outra instituição. As referências a outros autores (afirmações, ideias, pensamentos) respeitam escrupulosamente as regras da atribuição, e encontram-se devidamente indicadas no texto e nas referências bibliográficas, de acordo com as normas de referenciação. Tenho consciência de que a prática de plágio e auto-plágio constitui um ilícito académico.

Faculdade de Farmácia da Universidade do Porto, 6 de Setembro de 2018

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Agradecimentos

Agora que chega o momento de dar por terminada esta etapa importante da minha formação, há várias pessoas que não poderia deixar de mencionar, pela forma como contribuíram para o meu desenvolvimento ao longo destes últimos anos.

À Faculdade de Farmácia da Universidade do Porto, seus docentes e demais funcionários, agradeço por me proporcionarem condições para adquirir os conhecimentos necessários para concluir este Mestrado Integrado em Ciências Farmacêuticas.

À Comissão de Estágios, deixo o meu agradecimento por todos os esforços despendidos para tornarem possível, a mim e a tantos colegas, a realização do estágio curricular em farmácia comunitária, momento tão integral na formação farmacêutica. À Professora Doutora Susana Casal, minha tutora para este estágio, deixo um obrigada particular pelo seu cuidado e disponibilidade durante os meses em que me acompanhou.

À Dra. Cátia Seabra, agradeço a compreensão e preocupação que senti ao longo do estágio, em particular no apoio aos projetos que propus e no encorajamento nos momentos mais difíceis. Aos restantes elementos da equipa da Farmácia Monte da Virgem, agradeço a boa vontade, paciência e simpatia com que me acolheram e o seu contributo para o meu crescimento, pessoal e profissional. Guardo os muitos ensinamentos que me transmitiram, mas também o espírito de equipa e entreajuda com que me brindaram durantes os três meses, pontuados por muitos momentos de alegria, que passei na Farmácia Monte da Virgem.

À AEFFUP, em especial aos membros da DAEFFUP 2014/2015 e 2015/2016, agradeço os muitos momentos partilhados, noite fora e dia dentro, naquela que foi, por um período de tempo muito especial, a segunda casa de todos nós.

Aos amigos que me têm acompanhado ao longo desta caminhada, agradeço os risos e brincadeiras, mas também o ombro e voz amigos nos momentos de necessidade. Sem vocês, tudo isto teria tido, sem dúvida, muito menos sentido.

À minha família, agradeço o apoio, a paciência para as variações de humor e o perdão nas ocasionais ausências ou meias-presenças.

À minha Mãe e ao meu Pai, meu porto de abrigo desde sempre, agradeço, uma vez mais e sempre, o amparo e o carinho incondicionais e constantes, sem os quais nunca teria celebrado esta e muitas outras vitórias. Por isso, mesmo não tendo eles escrito uma única palavra deste relatório ou feito um único exame nestes seis anos, sinto que eles finalizam, ao meu lado, mais esta etapa.

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Revolução

Sophia de Mello Breyner Andresen

“Como casa limpa Como chão varrido

Como porta aberta

Como puro início

Como tempo novo

Sem mancha nem vício

Como a voz do mar

Interior de um povo

Como página em branco

Onde o poema emerge

Como arquitectura

Do homem que ergue

Sua habitação”

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Resumo

O plano curricular do Mestrado Integrado em Ciências Farmacêuticas prevê que o segundo semestre do 5º ano curricular seja inteiramente dedicado à unidade curricular Estágio.

O presente relatório descreve as atividades que pude desenvolver durante os três meses de estágio profissionalizante em farmácia comunitária que tive a oportunidade de completar na Farmácia Monte da Virgem, sob a orientação da Dra. Cátia Seabra. Entre essas incluem-se as principais áreas de atuação que cabem ao farmacêutico comunitário enquanto agente de saúde pública e especialista do medicamento, mas também como primeiro recurso para o esclarecimento e auxílio da população em matérias de saúde.

Na primeira parte deste documento faz-se uma breve ilustração dos procedimentos seguidos por uma farmácia comunitária, neste caso, da Farmácia Monte da Virgem, no que ao funcionamento e gestão da farmácia, dispensa de produtos farmacêuticos e outros serviços prestados à população diz respeito. Estão também relatados alguns dos aspetos relevantes da minha atividade no contexto dos tópicos mencionados.

Ao longo da segunda parte, são descritos os projetos que desenvolvi ao longo deste estágio profissionalizante, subordinados aos temas “Pediculose Capilar” e “Câmaras Expansoras e Nebulizadores”. O primeiro tema teve como objetivo realizar uma ação fora de portas, num infantário da zona, com uma sessão de formação destinada a sensibilizar e informar as crianças, na faixa dos 5 anos, para os comportamentos adequados a adotar na prevenção e tratamento da pediculose capilar. O segundo tema consistiu numa iniciativa interna, uma sessão de formação para a equipa da Farmácia Monte da Virgem sobre os vários tipos de câmaras expansoras e nebulizadores existentes no mercado, suas características gerais e tópicos de educação ao utente, como correto modo de utilização e limpeza.

É importante notar que ambos os projetos surgiram a partir da identificação de uma necessidade pré-existente que pude percecionar na fase inicial do meu estágio curricular, junto da equipa da farmácia e, direta ou indiretamente, ambos têm como finalidade última proporcionar uma melhor transmissão de conhecimento em saúde ao público.

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Índice

1. Introdução... 1

2. Farmácia Monte da Virgem ... 2

2.1. Localização Geográfica e Horário de Funcionamento da Farmácia ... 2

2.2. Perfis Gerais dos Utentes ... 2

2.3. Recursos Humanos ... 2

2.4. Recursos Tecnológicos ... 3

2.5. Organização do Espaço Físico ... 4

3. Gestão da Farmácia ... 5

3.1. Gestão de Stocks ... 5

3.2. Encomendas ... 6

3.2.1. Receção e Verificação de Encomendas ... 6

3.3. Armazenamento ... 8

3.4. Controlo de Prazos de Validade e Devoluções... 9

4. Dispensa de Produtos na Farmácia ... 10

4.1. Medicamentos Sujeitos a Receita Médica ... 10

4.1.1. A Receita Médica ... 10

4.1.2. Dispensa de Medicamentos Psicotrópicos e Estupefacientes ... 12

4.1.3. Regimes de Comparticipação dos Medicamentos ... 13

4.1.4. Conferência e Faturação de Receituário ... 13

4.2. Medicamentos Não Sujeitos a Receita Médica... 14

4.3. Dispensa de Outros Produtos ... 15

4.3.1. Medicamentos de Uso Veterinário ... 15

4.3.2. Medicamentos Homeopáticos ... 16

4.3.3. Suplementos Alimentares ... 16

4.3.4. Produtos Cosméticos e de Higiene Corporal ... 17

4.3.5. Dispositivos Médicos ... 17

4.3.6. Artigos de Puericultura ... 18

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5.1. Medição de Parâmetros Físicos e Bioquímicos ... 18

5.1.1. Medição da Pressão Arterial ... 18

5.1.2. Medição da Glicemia Capilar ... 18

5.1.3. Medição do Colesterol Total e de Triglicerídeos ... 19

5.2. Administração de Injetáveis ... 19

5.3. Nutrição ... 19

5.4. VALORMED ... 20

6. Tema I – Pediculose capilar ... 20

6.1. Enquadramento do tema e do projeto ... 20

6.2. Fundamento teórico ... 20 6.2.1. Introdução... 20 6.2.2. Epidemiologia ... 21 6.2.3. Biologia ... 21 6.2.4. Formas de transmissão ... 23 6.2.5. Diagnóstico ... 23 6.2.6. Prevenção ... 23 6.2.7. Tratamento ... 24 6.3. Execução do projeto ... 25 6.4. Balanço e conclusões ... 26

7. Tema II – Nebulizadores e câmaras expansoras ... 27

7.1. Enquadramento do tema e do projeto ... 27

7.2. Fundamento teórico ... 27

7.2.1. Introdução ... 27

7.2.2. Asma e doença pulmonar crónica obstrutiva ... 28

7.2.3. Nebulizadores e câmaras expansoras ... 29

7.2.4. O papel das câmaras expansoras e nebulizadores ... 31

7.2.5. Educação aos utentes ... 31

7.3. Execução do projeto ... 35

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8. Balanço final do estágio ... 36 9. Referências ... 38 10. Anexos ... 42 10.1. Anexo I ... 42 10.2. Anexo II ... 51 10.3. Anexo III ... 53

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Lista de abreviaturas

AFP – Associação de Farmácias de Portugal BSNP – Base de Dados Nacional de Prescrições CCF – Centro de Conferência de Faturas

CNP – Código Nacional de Prescrição DCI – Denominação Comum Internacional DPI – Dry-powder Inhaler

DPOC – Doença Pulmonar Crónica Obstrutiva DT – Diretora Técnica

FEFO – First Expired First Out FIFO – First In First Out

FMV – Farmácia Monte da Virgem IVA – Imposto de Valor Acrescentado MG – Medicamento Genérico

MNSRM – Medicamentos Não Sujeitos a Receita Médica

MNSRM-EF – Medicamentos Não Sujeitos a Receita Médica de dispensa exclusiva em Farmácia

MSRM – Medicamentos Sujeitos a Receita Médica PCHC – Produtos Cosméticos e de Higiene Corporal PIC – Preço Indicado na Cartonagem

pMDI – Pressurized Metered-dose Inhaler PNV – Plano Nacional de Vacinação PVF – Preço de Venda à Farmácia PVL – Produtos de Venda Livre PVP – Preço de Venda a Público

RCM – Resumo das Características dos Medicamentos SNS – Serviço Nacional de Saúde

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Listagem de figuras

Figura 1 – Esquema do ciclo de vida do Pediculus humanus capitis.

Figura 2 – Fotografias das sessões subordinadas ao tema “Pediculose capilar” ministradas na Fundação Couto.

Figura 3 – Kit de oferta entregues às crianças participantes nas sessões.

Figura 4 – Instruções esquematizadas de utilização de um nebulizador compressor.

Figura 5 – Instruções esquematizadas de utilização de uma câmara expansora.

Listagem de tabelas

Tabela 1 – Esquema ilustrativo das atividades que desenvolvi no decurso do estágio profissionalizante na FMV.

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1. Introdução

O presente relatório surge como fruto do período de 3 meses de estágio profissionalizante, que realizei na Farmácia Monte da Virgem (FMV), no contexto da unidade curricular Estágio do 5º ano do Mestrado Integrado em Ciências Farmacêuticas. Esta fase permitiu-me aplicar a contextos reais as aprendizagens adquiridas nas unidades curriculares precedentes, bem como ganhar conhecimentos de carácter mais específico da área da farmácia comunitária.

Dada a confiança que o farmacêutico inspira à população em geral nos dias de hoje e a marcada acessibilidade por parte de uma grande maioria dos Portugueses à farmácia, este profissional figura frequentemente como uma primeira linha de transmissão de conhecimento em saúde à comunidade na qual está inserido.

Assim, consciente da grande responsabilidade da qual o farmacêutico está investido no seu contato com a população, que o procura para a dispensa de medicamentos e aconselhamento em variadas áreas, tentei rentabilizar ao máximo a minha aprendizagem nos curtos 3 meses de estágio curricular que tive a oportunidade de realizar na FMV, entre os dias 1 de maio e 31 de Julho de 2018. Durante este período, por mútuo acordo, cumpri um horário das 9h30 às 18h30, com uma hora de intervalo, durante as primeiras duas semanas, que passou posteriormente para 9h30 às 17h30, sem pausa a meio do dia.

De forma a ilustrar mais claramente as funções que desempenhei ao longo desses meses, as mesmas encontram-se descritas abaixo (Tabela 1).

Tabela 1 – Esquema ilustrativo das atividades que desenvolvi no decurso do estágio profissionalizante na FMV.

Atividades Maio Junho Julho

Receção de encomendas e armazenamento dos produtos

Conferência de receituário (acompanhada) Atendimento ao balcão com acompanhamento

Atendimento ao balcão Formações

Projeto “Pediculose Capilar” Projeto “Câmaras Expansoras e

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2. Farmácia Monte da Virgem

A FMV integra um grupo de farmácias pertencentes ao grupo SOFARMA. Este grupo conta com 7 farmácias na zona Norte do País - a FMV, a Farmácia Birra, a Farmácia Braga, a Farmácia Santos, a Farmácia Gomes, a Farmácia Santo Ovídio e a Farmácia Veloso Ribeiro.

2.1. Localização Geográfica e Horário de Funcionamento da Farmácia

A FMV situa-se na Rua Conceição Fernandes, número 1170, num meio habitacional com algum comércio e numa via de acesso à principal artéria do centro de Vila Nova de Gaia – a Avenida da República.

Adicionalmente, trata-se da Farmácia mais próxima do antigo Hospital Santos Silva, agora Unidade I do Centro Hospitalar de Vila Nova de Gaia e Espinho, o qual conta com serviços de Urgência noturnos. Este fato torna a sua localização e o seu horário de funcionamento ininterrupto – 24 horas, todos os dias do ano – estratégicos. A possibilidade de a FMV funcionar todos os dias da semana durante 24 horas está consagrada no Decreto-Lei 7/2011, de 10 de Janeiro.1

2.2. Perfis Gerais dos Utentes

A FMV conta com uma grande variedade de utentes. Dada a localização conveniente e as opções comerciais da Farmácia e do grupo SOFARMA, uma parte significativa são utentes ocasionais, vindos das Urgências ou consultas externas, não sendo esta a sua Farmácia habitual ou da zona de residência.

Por contraponto, existe um número considerável de outros utentes já fidelizados, seja pela proximidade habitacional, seja pelo acompanhamento que têm recebido ao longo dos anos pelos funcionários mais antigos, já parte integrante da equipa antes da mudança de instalações ocorrida em 2017. Entre estes utentes habituais, contam-se pessoas pertencentes a vários grupos socioeconómicos com uma variedade de patologias e necessidades de saúde, sendo de destacar os doentes crónicos e polimedicados.

2.3. Recursos Humanos

Segundo disposto no Decreto-Lei nº 307/2007 de 31 de agosto, as farmácias comunitárias devem dispor “de, pelo menos, um diretor técnico e de outro farmacêutico”

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que “podem ser coadjuvados por técnicos de farmácia ou por outro pessoal devidamente habilitado; considera-se outro pessoal devidamente habilitado para o efeito, outros profissionais habilitados com formação técnico-profissional certificada no âmbito das funções de coadjuvação na área farmacêutica, nos termos a fixar pelo INFARMED”.2

Cumprindo o previsto pela legislação, a equipa da FMV é composta por pessoal farmacêutico e não-farmacêutico. A Dra. Cátia Seabra, Diretora técnica (DT) e a Dra. Ana Filipa Gonçalves, Farmacêutica Substituta, compõem o primeiro. Entre o pessoal não farmacêutico, contam-se vários técnicos de farmácia – Paula Oliveira, Teresa Almeida, Isabel Bernardo, Rute Lameirinhas, Vanessa Costa e Pedro Dias – e uma funcionária auxiliar de limpeza – Dª Susana.

A cada elemento da equipa são atribuídas uma ou mais funções a desempenhar, com rotatividade mensal. Entre as tarefas mencionadas incluem-se a receção de encomendas diárias dos distribuidores, a receção de encomendas feitas aos laboratórios diretamente pela equipa de gestão do grupo SOFARMA, a verificação do receituário, a reposição de stocks, o controlo de validades e stocks e o pedido de medicação esgotada aos fornecedores através dos canais apropriados. Pelo natural espírito de grupo e entreajuda, esta distribuição garante a organização das tarefas, mas não é rígida, podendo funcionários não alocados a uma função num dado mês proporcionarem auxílio aos responsáveis pela mesma, caso seja necessário.

2.4. Recursos Tecnológicos

O sistema informático utilizado na FMV é o SPharm (SP) da SoftReis®. Este software está instalado em todos os computadores. Para mais fácil identificação e rastreabilidade dos processos e ações, cada funcionário da FMV tem o seu próprio número de utilizador e senha de acesso ao sistema, incluindo uma conta a utilizar pelos estagiários. Este

software é essencial no dia-a-dia da FMV, sendo utilizado para a vertente de gestão da

farmácia, já que engloba a funções de gestão de stocks, realização e receção de encomendas, pedido de devoluções e controlo de prazos de validade. É também usado no momento da dispensa de medicamentos durante o ato farmacêutico.

Durante o atendimento, o SP constitui uma fonte de informação sobre o produto, nomeadamente através do acesso ao Resumo das Características do Medicamento (RCM), a classe terapêutica em que esse se enquadra, extrato e gráfico de movimentos, reservas pagas existentes e lista de utentes que o adquiriram.3

A possibilidade de, durante o ato de atendimento e dispensa, efetuar reservas pagas de um produto sem existência na FMV nesse momento, mas já pedido ao fornecedor

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respetivo e de aceder ao registo de cliente e respetivo historial de dispensa figura como um auxílio importante durante o seu uso ao balcão.

A existência de um robot, que gere o armazenamento de determinada medicação numa área designada e a entrega da mesma junto aos postos de atendimento, e de uma máquina automática de troca de dinheiro poupa tempo e liberta a atenção dos funcionários de tarefas triviais, o que melhora a atenção dispensada aos utentes.

2.5. Organização do Espaço Físico

O espaço que a FMV ocupa está organizado consoante as Boas Práticas Farmacêuticas para a Farmácia Comunitária e demais legislação em vigor que determinam quais os requisitos a que o espaço de uma farmácia deve obedecer.4

Na zona exterior, pode encontrar-se sinalização adequada, correspondente a uma cruz verde luminosa e a identificação “Farmácia”, e uma entrada de fácil acesso em rampa.

No interior da FMV, distinguem-se dois espaços separados - a área pública de atendimento aos utentes (front office) e a zona reservada (back office).

Na área pública, existem 6 postos de atendimento individuais, cada um com numeração visível, para fácil identificação pelos utentes ao usar o sistema eletrónico de senhas. Cada posto conta também com pequenas prateleiras para destaque de produtos de dermocosmética em aproximação de final de prazo de validade. Atrás dos balcões, estão organizados em lineares alguns medicamentos não sujeitos a receita médica (MNSRM) e produtos de puericultura e dietéticos, que vão mudando consoante a estação do ano e a vantagem económica para farmácia – por exemplo, multivitamínico, produtos para a obstipação e produtos homeopáticos. Um aparelho eletrónico existente junto à porta da farmácia permite a medição do peso, altura, cálculo do índice de massa corporal e pressão arterial, mediante um custo que varia com a função. Por forma a facilitar o acesso por parte dos utentes aos produtos de venda livre, encontram-se prateleiras expositoras com uma variedade deste tipo de bens na ampla zona livremente acessível do front-office, nomeadamente itens de dermocosmética, puericultura e saúde oral, organizados por marcas e gamas. O espaço conta ainda com uma zona de descanso para os utentes onde existe um sofá. Do lado direito dos pontos de atendimento, encontra-se o contentor VALORMED e uma casa de banho para uso dos utentes.

A zona reservada divide-se em dois pisos. No rés-do-chão, existe um pequeno posto com computador, multifunções e armário para arrumação de consumíveis numa antecâmara localizada atrás dos balcões de atendimento, onde também se encontra o frigorífico onde os produtos de frio estão organizados por ordem alfabética e forma

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farmacêutica. Existe também um gabinete de atendimento privado, onde os funcionários devidamente habilitados para esse efeito procedem à administração de injetáveis e onde se realizam serviços farmacêuticos, como a análise de parâmetros bioquímicos e decorrem os serviços de Nutrição e, pontualmente, aconselhamento dermocosmético por pessoal credenciado das marcas. O primeiro andar dispõe de uma divisão principal onde se localizam dois postos de receção/realização de encomendas com impressoras de vários tipos, um leitor de código de barras e mesas de apoio onde são colocados os produtos que já foram rececionados e aguardam armazenamento, uma zona de armazenamento, com prateleiras onde os produtos são arrumados por ordem alfabética e finalidade, uma zona de introdução de produtos no robot e uma zona de conferência de receituário. Há ainda uma zona onde se encontra toda a documentação da FMV, nomeadamente, diversas fontes bibliográficas, brochuras técnicas, manual de procedimentos internos, circulares da Associação Portuguesa de Farmácias (AFP), do INFARMED e do grupo SOFARMA. Os funcionários podem usufruir de uma divisão com cacifos pessoais e de instalações sanitárias dedicadas.

3. Gestão da Farmácia 3.1. Gestão de Stocks

Uma gestão adequada dos produtos em stock na farmácia é essencial para que as necessidades dos utentes possam ser satisfeitas, garantindo simultaneamente a sustentabilidade financeira da farmácia.

É uma mais-valia ter um conhecimento profundo acerca dos utentes que costumam frequentar a farmácia, dos produtos que mais procuram e das flutuações naturais associadas ao período do mês e do ano para estabelecer stocks mínimos e máximos de cada produto e família de produtos. Um exemplo muito particular no contexto da FMV é o colírio Ronic®, prescrito aos utentes que vêm das cirurgias às cataratas que habitualmente decorrem ao Sábado na unidade hospitalar próxima, cujo valor de stock mínimo teve de ser aumentado na ficha de artigo, para refletir a procura e acautelar a rutura de stock.

A variação de stock pode não ser apenas o resultado das dispensas efetuadas e das encomendas rececionadas. Existem, por vezes, casos pontuais e de natureza variada que podem causar uma diferença entre o stock indicado pelo sistema de gestão de informação e o stock físico real, como, por exemplo, roubos, danos acidentais dos produtos, erros da receção de encomendas e na conclusão da dispensa. Na FMV, quando é detetada uma dessas imprecisões de stock, a mesma deve ser inscrita numa

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lista própria para o efeito para ser, mais tarde, revista e as respetivas correções efetuadas pela DT.

3.2. Encomendas

Para que os stocks se mantenham num nível apropriado, a realização de encomendas reveste-se de uma importância extrema na farmácia.

Na FMV, existem dois tipos de encomendas – as que são efetuadas diretamente aos distribuidores grossistas e as que são feitas diretamente ao laboratório.

Nas primeiras, os distribuidores servem de intermédio, já que adquirem uma panóplia de produtos diretamente aos fabricantes ou fornecedores primários e depois atua.m como uma one-stop shop para um leque muito alargado de farmácias que abastecem. Geralmente, as farmácias podem realizar encomendas por telefone, por

gadget (aplicativo específico de cada armazenista instalado nos computadores e de fácil

uso), através do site e pelo SP, o software de gestão da farmácia.

Geralmente, na FMV, são efetuadas duas encomendas diárias aos armazenistas por grosso através do SP. O software tem uma funcionalidade que lhe permite gerar encomendas com sugestão, que incluem todos os produtos que tenham stock abaixo do máximo fixado. Por isso, para uma boa gestão do processo é essencial ter em conta o volume de vendas de cada produto para garantir que não se verifica excesso ou falta de

stock.

Em adição, na sequência de um pedido específico de um produto em rutura de

stock, é comum serem efetuadas encomendas por telefone ou gadget. No decurso do

meu estágio, tive a oportunidade de realizar inúmeras encomendas por estas duas vias a pedido de utentes. É de destacar a relevância da data e hora de entrega estimadas pelos distribuidores nestas encomendas instantâneas, já que me permitiram indicar aos utentes a partir de que altura se poderiam deslocar à FMV para levantar os seus produtos reservados.

No que respeita às encomendas diretas de produtos aos laboratórios, estas são geralmente realizadas a nível da equipa de gestão do grupo SOFARMA. Trata-se de produtos nos quais as indústrias oferecem vantagens comerciais pela compra de grandes quantidades, bem como itens de alta rotatividade e sazonalidade. Os exemplos mais significativos são linhas de dermocosmética ou cosmética, produtos de higiene oral, dispositivos médicos, suplementos alimentares, MNSRM e medicamentos genéricos.

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As encomendas chegam à FMV e são depositadas na zona de receção de encomendas por funcionários dos distribuidores ou empresas de transporte. Cada uma das chamadas banheiras, onde a grande maioria dos produtos são transportados, exibe um código de encomenda e o nome da farmácia a que se destina. Geralmente, elas vêm acompanhadas das respetivas faturas das encomendas.

A primeira coisa a ser feita é dar entrada imediatamente das encomendas contendo produtos de frio, que são transportados em contentores próprios, devidamente acondicionados e facilmente identificáveis, tanto pela cor diferente como pela inscrição “Produtos de frio”. De seguida, os produtos devem ser rapidamente armazenados no frigorífico destinado para o efeito. Também se deve ter especial cuidado com e processar devidamente qualquer documento de requisição de produtos psicotrópicos ou estupefacientes incluído nas encomendas.

Para dar entrada da encomenda, o operador deve dirigir-se ao separador Receção no menu Encomendas. Caso se trate de uma encomenda diária, será necessário importar a mesma no início do processo, após selecionar o fornecedor correto no sistema. Por outro lado, após este primeiro passo, nas encomendas pedidas telefonicamente ou via gadget, deve-se apenas registar os produtos manualmente.

No decurso da receção dos produtos constantes das encomendas, após introdução do Código Nacional de Prescrição (CNP) por via manual ou através do leitor de código de barras, há alguns parâmetros que devem ser cuidadosamente conferidos e, se apropriado, alterados – o Preço de Venda à Farmácia (PVF), quaisquer descontos comerciais existentes, a quantidade de cada produto, o prazo de validade e o Preço de Venda a Público (PVP). O PVP tem que coincidir com o Preço Inscrito na Cartonagem (PIC), no caso dos MSRM. Quanto aos MNSRM, Produtos de Venda Livre (PVL), Produtos de Cosmética e Higiene Corporal (PCHC) e outros, o PVP é fixado pela farmácia, mediante o PVF, a margem de lucro e o IVA. Este tipo de produtos deve ser devidamente etiquetado quando exibido numa área ao qual os utentes tenham acesso, sem ocultar o prazo de validade, o lote ou outra informação relevante.

Durante este processo, pode ser detetada alguma inconformidade, como a entrega de um produto danificado, de um MSRM com PIC diferente do que consta na fatura ou a não-entrega de um produto faturado na encomenda. Nesses casos, o distribuidor grossista deve ser contactado para esclarecer e retificar a situação, através do envio de novo produto substituto ou emissão de nota de crédito.

Para finalizar, é conferido o valor final da fatura e inserida a data e o número da mesma, procedendo-se, de seguida à impressão da confirmação da receção no verso da fatura e ao arquivo deste documento no local destinado para o efeito.

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Esta foi a primeira função que me foi atribuída ao iniciar o estágio na FMV e posso dizer que foi muito útil para me familiarizar com os produtos existentes na farmácia.

As encomendas diretas aos laboratórios apresentam algumas características distintivas. Uma vez que são feitas a nível central do grupo, é necessário enviar a fatura para os funcionários responsáveis, para conferência contra a ordem de encomenda. Caso a encomenda chegue à FMV acompanhada apenas de uma guia de remessa ou outro documento que não seja a fatura, a mesma deve ser pedida aos escritórios do grupo SOFARMA. Após conferência, a FMV recebe autorização para rececionar estas encomendas. Todos os passos deste processo devem ser inscritos numa plataforma

online à qual todos os funcionários do grupo têm acesso, para melhor comunicação.

3.3. Armazenamento

O armazenamento dos produtos é a etapa que se segue à receção das encomendas. Na FMV, existem várias zonas de armazenamento. Uma grande parte dos produtos em stock são guardados no robot, para otimizar o tempo de atendimento. Itens mais frágeis, como medicamentos sob a forma de ampolas, ou de dimensão ou forma que inviabilizem a sua manipulação pelo manípulo do robot, como frascos cilíndricos ou embalagens de pílulas anticoncecionais de 1 mês com espessura muito fina são os exemplos mais relevantes. A escolha da embalagem a entregar pelo robot segue a lógica de First Expired, First Out (FEFO), ao passo que o armazenamento manual se faz pela máxima do First In, First Out (FIFO). Na unidade de armazenamento do primeiro andar, os produtos estão organizados por ordem alfabética, dentro da mesma família terapêutica, da forma farmacêutica ou da marca. Também as unidades excedentes dos produtos de alta rotatividade e sazonais que se encontram em módulos de gavetas e expostos nos lineares na zona por detrás dos balcões de atendimento são armazenadas na zona de armazenamento do primeiro do primeiro andar segundo os mesmos critérios. O mesmo acontece com os produtos de frio. Os Medicamentos Genéricos (MG) são ordenados por ordem alfabética da Denominação Comum Internacional (DCI).

Conforme exige a legislação em vigor, os psicotrópicos e estupefacientes encontram-se guardados numa gaveta própria para este tipo de medicação altamente controlada.

Para garantir que as condições de temperatura e humidade relativa de todas as zonas de armazenamento se encontram controladas, a FMV conta com vários termohigrómetros, cujos registos feitos de hora a hora são guardados informaticamente e cuidadosamente analisados pela DT para garantir a sua conformidade com os requisitos.

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A legislação em vigor exige temperaturas inferiores a 25ºC e valores de humidade relativa inferiores a 60% e o frigorífico deve apresentar temperaturas compreendidas entre os 2-8ºC.2

Juntamente com a receção de encomendas, esta foi uma das primeiras funções que me foi confiada na FMV. Considero que foi uma boa maneira de conhecer a organização da farmácia, bem como os produtos existentes e com mais rotatividade. O uso do robot representou uma mais-valia, do ponto de vista da facilidade no atendimento, mas apontaria a necessidade de mais formação da equipa em relação aos aspetos técnicos do mesmo e a menor familiaridade com o design e aspeto visual das embalagens dos produtos como pontos menos positivos desta ferramenta.

3.4. Controlo de Prazos de Validade e Devoluções

O controlo dos prazos de validade é uma tarefa que se reveste de uma grande importância, já que é essencial para garantir a qualidade e segurança dos produtos dispensados na farmácia. Por essa razão, se encontra consagrada na legislação em vigor.

Na FMV, este controlo é realizado de forma contínua. No momento da receção das encomendas, unidades com um prazo de validade desadequado são identificadas e referenciadas ao fornecedor para troca. Mensalmente, é feito um controlo ao nível do

stock existente. Para isso, é impressa uma lista dos produtos que têm uma validade

curta, ou seja, cuja validade expira num prazo de 4 meses em relação ao mês corrente e suas quantidades. Esta é gerada automaticamente pelo SP e permite detetar discrepâncias entre o stock físico e o registado informaticamente. Os produtos detetados cuja data de validade se encontra próxima são devolvidos ao fornecedor, após emissão de uma nota de devolução através do SP. Deve ser realçado que alguns produtos específicos, como Medicamentos de Uso Veterinário e produtos pertencentes ao protocolo de Diabetes necessitam de ser devolvidos com uma maior antecedência, face aos outros, sendo, geralmente, 5 e 6 meses, de forma respetiva.

Para emitir uma nota de devolução, deve ser indicado o número da fatura de receção do produto, a validade do mesmo e o motivo da devolução na área própria no SP. O distribuidor recolhe, então, o produto, o original e duplicado da nota de devolução, estes últimos devidamente assinados e carimbados. Consoante o armazenista, este pode necessitar de adicionar uma etiqueta identificadora ao triplicado, que é depois devidamente arquivado na FMV. Após o pedido de devolução, caso este seja aceite pelo fornecedor, é geralmente emitida uma nota de crédito ou enviados produtos de substituição. Se for recusado, o produto é incluído na lista de quebras.

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Durante o meu período de estágio, pude não só proceder à emissão de notas de devolução de produtos danificados ou que foram rejeitados pelos utentes para os quais foram expressamente encomendados, como prestar informação aos utentes que apresentaram dúvidas sobre as ordens de recolha emitidas pelo INFARMED para os MG contendo Valsartan, processo amplamente divulgado pela comunicação social Portuguesa.

4. Dispensa de Produtos na Farmácia

No decurso do meu estágio profissionalizante na FMV foi-me possível acompanhar o ato de dispensa e o atendimento ao balcão por parte de outros elementos da equipa e, posteriormente, iniciar eu própria o contato com os utentes. Dada a localização da farmácia, uma grande parte dos medicamentos dispensados na FMV são MSRM.

Dada a posição do farmacêutico como elemento do último elo na cadeia das instituições de prestação de cuidados de saúde e figura de confiança dos Portugueses, durante os meus atendimentos pude tomar consciência da importância de esclarecer as dúvidas dos utentes, em particular os mais idosos e polimedicados, em relação à sua medicação. A dispensa de medicamentos ao público é um ato farmacêutico de vital importância e a última, mas não menos importante, etapa do circuito do medicamento.

O INFARMED categoriza os medicamentos em duas categorias, uma das quais conta com uma subcategoria – os Medicamentos Sujeitos a Receita Médica, que abrangem o grupo dos Medicamentos de Dispensa Exclusiva em Farmácia (MSRM-EF) e os Medicamentos Não Sujeitos a Receita Médica.5

4.1. Medicamentos Sujeitos a Receita Médica

Os MSRM, tal como o nome indica, são medicamentos que apenas podem ser dispensados quando o utente se faz acompanhar de uma receita médica válida, devido aos riscos potenciais que estes poderão acarretar para o próprio, quando usados para uma indicação inadequada, de acordo com uma posologia errada ou sem vigilância médica. Incluem-se neste grupo ainda os medicamentos para administração por via parentérica.2

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Segundo a legislação em vigor, está instituída a obrigatoriedade da prescrição médica por meios eletrónicos para todas as entidades do Sistema Nacional de Saúde (SNS).6

Estão, no entanto, acauteladas circunstâncias excecionais nas quais a prescrição por outros meios é justificada e aceitável. Em caso de falência informática, inadaptação do prescritor, prescrição no domicílio ou se tratar de um prescritor com menos de 40 receitas por mês, a prescrição pode ser realizada pela via manual. Nesses casos, o médico prescritor deve obedecer a algumas regras, cujo cumprimento deve ser verificado pelo farmacêutico antes de aceitar a mesma. Para que uma receita manual seja válida, é necessário que a mesma esteja inscrita num documento pré-impresso por meio manual, onde figuram, nos campos devidos, os dados do médico prescritor, vinheta do mesmo e, se aplicável, do local de prescrição e data e assinatura do prescritor. Não podem existir quaisquer rasuras ou caligrafias diferentes, salvo se forem devidamente rubricadas pelo prescritor. Estas receitas têm validade de 30 dias. De cada receita manual, apenas podem constar 4 medicamentos distintos, não podendo o limite de duas embalagens por medicamentos ser ultrapassado, ou o número total de 4 embalagens. Medicamentos psicotrópicos e estupefacientes devem ser prescritos através de uma receita especial, onde não podem ser incluídos medicamentos que não pertençam a esta classe.5

Relativamente à prescrição médica por meios eletrónicos, existem dois tipos de receitas eletrónicas distintas – as materializadas e as desmaterializadas.

As primeiras são de uso excecional, em caso de operação offline e têm validade de 6 meses, podem ter até 3 vias e, tal como as receitas manuais, deverão ser dispensadas de uma única vez e numa só farmácia.7

No caso das receitas desmaterializadas, o processo realiza-se online e é validado por um software que codifica a receita (número da receita, código de dispensa e código de direito de opção) e a regista na Base de Dados Nacional de Prescrições (BDNP).5,6

Dado estar disponível por via eletrónica, a prescrição pode ser acedida em vários momentos, até dispensa completa. Esta receita inclui a Denominação Comum Internacional (DCI) da substância ativa, a forma farmacêutica, a dosagem, a apresentação e a posologia.6 É permitida a inclusão de uma denominação comercial

quando o medicamento de marca prescrito não tem genérico comparticipado, quando se trata de um “medicamento com margem ou índice terapêutico estreito”, como Ciclosporina, Tacrolimus ou Levotiroxina (excepção A), quando o utente sofreu uma “reação adversa prévia”, devidamente reportada ao INFARMED, plausivelmente causada pela administração de um medicamento que não o prescrito contendo a mesma substância ativa (exceção B) e quando se pretende assegurar a “continuidade de tratamento superior a 28 dias” (exceção C).8 Medicamentos manipulados, câmaras

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expansoras, produtos dietéticos com caráter terapêutico e produtos destinados ao autocontrolo da Diabetes Mellitus têm de ser prescritos isoladamente, ou seja, numa receita médica que não contenha outros produtos.5

No decorrer do meu estágio pude contactar com todos os tipos de receitas. Pela minha experiência, todas revelaram possuir pontos negativos. As receitas manuais e as eletrónicas materializadas, aquelas que senti mais dificuldades a validar e dispensar, algumas vezes eram apresentadas sem informação crucial (assinatura do prescritor ou vinheta), o que causava transtornos desnecessários para o utente, que tinha que consultar novamente o prescritor para que lhe fosse cedida uma receita válida que pudesse ser dispensada. No que toca às desmaterializadas, aquelas com que me deparei mais frequentemente, apesar de constituírem um método que em muito facilita o trabalho do farmacêutico e reduz o potencial de erro humano, por conferência do CNP do produto dispensado face ao constante na receita, criam dificuldades acrescidas a alguns utentes.

A apresentação de receitas fora de prazo e a confusão criada pela menção do valor máximo a pagar por medicamento, bem como a dificuldade de muitos utentes mais idosos em lidar com e gerir as receitas enviadas para o seu dispositivo móvel foram algumas dos constrangimentos que notei em relação a este tipo de prescrição. Por outro lado, a possibilidade de fasear a dispensa da medicação constitui, para uma parte importante da população, uma grande vantagem, uma vez que lhes permite cumprir o seu plano farmacoterapêutico, enquanto diluem o impacto financeiro da medicação no seu orçamento mensal.

4.1.2. Dispensa de Medicamentos Psicotrópicos e Estupefacientes

Os produtos farmacêuticos contendo uma substância que pertença à classificação de estupefaciente ou psicotrópico estão sujeitos a um apertado controlo legal, uma vez que possuem uma margem terapêutica estreita e podem causar dependência e tolerância física e/ou psíquica.9

Aquando da sua entrega na farmácia pelo distribuidor grossista, estes devem obrigatoriamente fazer-se acompanhar de um documento próprio, que deve ser assinado e carimbado pelo DT ou farmacêutico responsável e enviado ao INFARMED. No momento da sua dispensa, é obrigatório a apresentação de informação relativa ao médico prescritor, ao doente a quem a medicação foi prescrita e ao adquirente, que tem obrigatoriamente de apresentar um documento identificativo oficial válido, como cartão de cidadão. O documento impresso automaticamente, que funciona como comprovativo de dispensa, tem de ser arquivado na farmácia durante 3 anos, segundo a ordem de aviamento.5,9

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Foi-me possível proceder numerosas vezes à dispensa deste tipo de medicamentos durante o estágio na FMV.

4.1.3. Regimes de Comparticipação dos Medicamentos

Por forma a facilitar o acesso de todos os cidadãos a cuidados de saúde de qualidade, o Estado prevê comparticipações que reduzem o preço a pagar pelo consumidor final out-of-pocket. A legislação atualmente em vigor define um regime geral que inclui quatro escalões, cada um com uma dada percentagem fixa do PVP que é custeada pelo Estado: Escalão A (90% do PVP comparticipado); Escalão B (69% do PVP comparticipado); Escalão C (37% do PVP comparticipado) e Escalão D (15% do PVP comparticipado).10 Em adição, existe um regime especial que enquadra um subgrupo

específicos de utentes do SNS que, por determinação do Estado, têm direito a um acréscimo na comparticipação. Este poderá incluir pensionistas, doentes crónicos especiais e doentes profissionais. A comparticipação é acrescida em 5% para o escalão A e em 15% para o escalão B, C e D. Para que este possa ser aplicado, deverá estar indicado na receita médica, de forma clara, e se aplicável, deverá constar o diploma associado.5,11

Como complemento à comparticipação do SNS, poderão existir outros sistemas privados aplicáveis, como o SAMS® (Serviço de Assistência Médico-Social do Sindicato dos Bancários), a Multicare® e a EDP-Savida®. Utentes que usufruam destes complementos deverão fazer-se acompanhar dos documentos identificativos necessários aquando da dispensa de MSRM. Deve ser dada especial atenção à seleção do correto código da entidade no software e à legibilidade do número de beneficiário do organismo comparticipante constante da cópia do documento que é anexa à receita.

Durante o meu estágio tive a oportunidade de contactar por várias vezes com todos estes regimes de comparticipação e também com variados subsistemas de saúde.

4.1.4. Conferência e Faturação de Receituário

O primeiro passo da conferência do receituário começa, na realidade, quando o utente entrega uma prescrição médica na farmácia, momento no qual se deve verificar se estas cumprem todos os requisitos que as tornam válidas.

No final da verificação de cada lote de receitas, que deve obrigatoriamente ser completada por duas pessoas na FMV, estando os lotes devidamente organizados em grupos de trinta por ordem crescente, é impresso o respetivo verbete.

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No final de cada mês, é feito o fecho dos lotes de receitas, dia em que é emitido o resumo de lotes e a fatura, que devem devidamente assinados e carimbados. Após este passo ao envio das receitas às entidades comparticipantes adequadas. No caso das receitas com comparticipação apenas do SNS, a entidade mais significativa, a entrega da documentação ao Centro de Conferência de Faturas (CCF) deve ser feita até ao dia 10 do mês seguinte ao que se referem as receitas.12 Este organismo verifica se todos os

trâmites legais e intenções do prescritor foram cumpridos no ato da dispensa. Na eventualidade de serem detetadas não-conformidades, as receitas respetivas são devolvidas à farmácia e o correspondente valor de comparticipação não é reembolsado, razão pela qual a conferência de receituário constitui uma atividade da maior importância para evitar prejuízos monetários. Nos casos em que se verifica uma comparticipação complementar por uma entidade privada, as receitas ou documentos comprovativos de dispensa de receita sem papel com comparticipação complementar associados devem ser enviadas à AFP, que comunica diretamente com os vários organismos, viabilizando o posterior reembolso das percentagens de comparticipação respetivas.

Ao longo do meu estágio na FMV, pude acompanhar o processo de conferência e faturação de receituário referente aos meses de Maio, Junho e Julho.

4.2. Medicamentos Não Sujeitos a Receita Médica

A categoria de MNSRM engloba qualquer medicamento que não requer a apresentação de uma receita médica válida para a sua dispensa, incluindo os que pertencem ao grupo dos MNSRM-EF8. Esta última classe de medicamentos pode ser

dispensada apenas nas farmácias pelo farmacêutico mediante um protocolo de dispensa respetivo.

Perante o pedido de um utente de um MNSRM é de grande importância perceber se o medicamente pedido é efetivamente o mais adequado ao cenário ao qual se destina e também se se trata de uma situação que requererá avaliação médica. Assim, por forma a esclarecer os detalhes da situação, devem ser colocadas algumas questões ao utente sobre os sinais e sintomas apresentados, a toma de outra medicação concomitante pertencente tanto à categoria de MSRM como de MNSRM, bem como co morbilidades. No ato da dispensa, a transmissão de informação sobre a posologia, contraindicações e efeitos secundários dos MNSRM não deve também ser descurada, uma vez que o grande público menospreza os cuidados a ter com este tipo de medicação, dada o relativo fácil acesso à mesma.

Durante a minha experiência na FMV, pude contatar inúmeras vezes com este tipo de pedidos. Considero que é crucial estabelecer comunicação com o utente de forma

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cuidadosa, procurando ganhar a sua confiança para evitar que este adote posturas de defesa quanto à sua opção de automedicação e que rejeite o aconselhamento dos profissionais de saúde. As problemáticas de saúde com que mais frequentemente me deparei foram queimadura solar, obstipação, diarreia, picada de insetos, constipação e secura ocular.

4.3. Dispensa de Outros Produtos

Dada a sua dimensão, horário e orientação comercial, a FMV oferece aos seus utentes uma grande variedade de produtos, nomeadamente, medicamentos de uso veterinário, medicamentos homeopáticos, suplementos alimentares, produtos cosméticos e de higiene corporal, dispositivos médicos e produtos de puericultura.

4.3.1. Medicamentos de Uso Veterinário

Durante o meu estágio na FMV, foi-me solicitado inúmeras vezes aconselhamento no âmbito dos produtos de uso veterinário. Os medicamentos de uso veterinário definem-se como “substâncias ou associações das mesmas com propriedades preventivas ou curativas de sintomas, ou que possa ser utilizada ou administrada no animal com vista a estabelecer um diagnóstico médico-veterinário ou exercendo uma ação farmacológica, imunológica ou metabólica, a restaurar, corrigir ou modificar funções fisiológicas”.13

Ao longo do tempo, fui adquirindo conhecimento acerca desta área mais específica, na qual sentia bastante dificuldade a início, junto dos membros da equipa da FMV e por meio de uma formação da KRKA dirigida aos elementos das várias farmácias do grupo SOFARMA. Esta formação decorreu no dia 5 de Junho de 2018 em horário pós-laboral nas instalações próprias para conferências de um hotel na zona do Porto. Também é digna de nota a formação organizada antes do início do estágio pela Comissão de Estágios da FFUP.

Os produtos mais frequentemente pedidos correspondiam a soluções de desparasitação externa para animais domésticos (cão e gato), de variado porte e idade, bem como medicamentos de desparasitação interna. Também me foi, por algumas vezes, solicitado aconselhamento em relação à segurança do uso de alguns medicamentos de uso humano em animais, temática em que senti imenso constrangimento em dar respostas aos utentes. A FMV mantém também em stock anti-inflamatórios, anticoncecionais e medicamentos para tratamento da insuficiência cardíaca congestiva e otites destinado a uso veterinário.

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4.3.2. Medicamentos Homeopáticos

Na FMV, existe uma muito forte orientação para os medicamentos e produtos homeopáticos, sendo estes frequentemente indicados pelos mais variados membros da equipa, sobretudo os grânulos ou medicamentos unitários. Os produtos da Boiron® constituem a maioria da oferta nesta área na FMV.

Tive oportunidade de indicar Camilia® (Boiron) em casos de bebés com dores gengivais derivadas do normal desenvolvimento dentário próprio da idade e Homeovox® (Boiron) a uma utente grávida que se deslocou à FMV procurando uma solução para um quadro de cansaço das cordas vocais. Em ambas as situações, as escolhas que tomei foram fortemente influenciadas pela ausência de efeitos secundários e interações dos produtos homeopáticos, bem como o seu perfil de segurança nos grupos populacionais mais sensíveis. Procedi também pontualmente à dispensa de Arnigel® (Boiron) e, muito esporadicamente, de medicamentos unitários, quando solicitado pelos utentes, no contexto de uma situação que considerei como adequada.

Além de recorrer aos elementos da equipa da FMV sempre que precisava de ajuda nesta área, tive também oportunidade de ter uma formação, ministrada na FMV durante o horário laboral, por uma delegada da Boiron sobre os produtos sazonais da marca.

4.3.3. Suplementos Alimentares

Na FMV podem-se encontrar uma panóplia de suplementos alimentares indicados para as mais variadas situações. Os suplementos alimentares são “géneros alimentícios que se destinam a complementar e/ou suplementar o regime alimentar normal e que constituem fontes concentradas de determinados nutrientes ou outras substâncias com efeito nutricional ou fisiológico”.14

Tipicamente, as dispensas de um suplemento alimentar são fruto de uma indicação médica, de um pedido de aconselhamento pelo farmacêutico por parte do utente face a um conjunto de queixas ou de pedido expresso do utente que já usa habitualmente um determinado suplemento.

As queixas que os utentes mais frequentemente apresentavam e para as quais procuravam um suplemento eram fadiga mental e física, falta de concentração e rendimento intelectual, pós-menopausa e complemento vitamínico. Mediante a colocação de algumas questões para me inteirar da situação de saúde do utente, tive oportunidade de aconselhar suplementos de magnésio para fadiga física e mental, produtos com

Ginkgo Biloba e Panax Ginseng para estudantes com necessidades intelectuais

acrescidas e multivitamínicos para utentes de várias faixas etárias que procuravam complementar o seu aporte de vitaminas.

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Destacando um caso incomum, tive oportunidade de aconselhar uma utente que procurava um suplemento de ácido fólico a conselho médico e de a esclarecer quanto à dose diária recomendada.

Foi-me ainda possível assistir a uma formação realizada na FMV durante o período laboral pela Perrigo, relativa, entre outros produtos, à linha de suplementos alimentares MentalAction®.

4.3.4. Produtos Cosméticos e de Higiene Corporal

Os PCHC são uma área em que a FMV aposta muito do ponto de vista comercial. Por essa razão, a variedade de marcas disponíveis e de gamas existentes é considerável e é fácil alguém com menos experiência nesta área sentir alguma dificuldade em selecionar o produto correto face a uma solicitação de um utente.

Os PCHC definem-se como “qualquer substância ou mistura destinada a ser posta em contacto com as diversas partes superficiais do corpo humano, com a finalidade de os limpar, perfumar, modificar o seu aspeto, proteger, manter em bom estado ou de corrigir os odores corporais”.15

A FMV possui uma grande oferta de produtos para higiene e cuidado diário do corpo, zonas íntimas, mãos e cabelo, bem como gamas com posicionamento mais específico para situações de acne retencional e inflamatória, xerose, manchas e anti-envelhecimento. Também são de destacar os produtos destinados à higiene oral, nomeadamente, pastas dentífricas, colutórios, escovas e cuidado de próteses dentárias

Relativamente a situações específicas de aconselhamento, destacaria como de mais interesse a indicação de Pruriced® (Uriage) para diminuir o prurido associado a casos de varicela e de um spray refrescador do hálito e uma pasta dentífrica branqueadora com sabor, a uma utente com periodontite diagnosticada e devidamente tratada com cuidados orais apropriados que se apresentou na FMV com queixas de mau hálito e coloração amarelada na dentição.

Graças ao apoio da equipa da FMV, bem como a esforços de autoaprendizagem através de plataformas de formação online, pude desenvolver o meu conhecimento nesta área. A possibilidade de participar em várias formações (Pierre Fabre®, Bioderma®, Vichy®) permitiu-me alargar o meu leque de conhecimentos sobre esta temática.

4.3.5. Dispositivos Médicos

É categorizado como dispositivo médico “material ou artigo cujo principal efeito pretendido no corpo humano não seja alcançado por meios farmacológicos, imunológicos

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ou metabólicos utilizado em seres humanos para fins de diagnóstico, prevenção, controlo, tratamento ou atenuação de uma doença, estudo, substituição ou alteração da anatomia ou de um processo fisiológico”.16

Tive oportunidade de dispensar na FMV alguns exemplos destes produtos, nomeadamente, tampões de ouvidos testes de gravidez, preservativos e variado material de penso.

4.3.6. Artigos de Puericultura

Os artigos de puericultura têm como alvo principalmente pais de bebés ou grávidas, utentes que se dirigem à farmácia à procura de produtos específicos. Na FMV, os artigos desta categoria encontram-se expostos numa zona junto do balcão, em lineares organizados por marcas. Podem-se encontrar produtos que vão desde chupetas adequadas às mais variadas idades e de variadas características, biberões, tetinas, bombas extratoras de leite (tanto manuais como automáticas), proteções de mamilos e coletores de leite a acessórios vários, fraldas, papas e leites de substituição.

Não tendo tido nenhuma experiência prévia com este tipo de produtos, como é natural, inicialmente houve necessidade de um período de aprendizagem acerca da oferta existente na FMV.

5. Outros serviços Prestados na Farmácia

5.1. Medição de Parâmetros Físicos e Bioquímicos 5.1.1. Medição da Pressão Arterial

A FMV dispõe de dois aparelhos para medição da pressão arterial, um osciloscópio de braço digital e um tensímetro eletrónico automático. Ambos estão ao dispor do utente mediante o pagamento de um reduzido valor monetário.

Desde o início do estágio na FMV, tive oportunidade de, em várias ocasiões, acompanhar os utentes, a pedido destes, nestas medições, instruindo-os em relação à necessidade de repouso antes de efetuar a leitura, à postura e comportamento adequado a adotar durante a mesma e à interpretação dos valores resultantes. Sempre que necessário, recomendei aos utentes as medidas não-farmacológicas apropriadas, tais como a redução da ingestão de sal e promoção do uso das ervas aromáticas em sua substituição e a prática de exercício físico. Nos casos que assim o justificaram, aconselhei os utentes a fazerem uma vigilância regular da pressão arterial.

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A FMV disponibiliza aos seus utentes um serviço de medição de glicemia, tendo em vista a deteção precoce de casos de hiperglicemia. Esta medição é feita por punção capilar, com o auxílio de uma lanceta descartável e um aparelho de leitura simples próprio para o efeito.

O papel do farmacêutico é muito relevante, nomeadamente, na determinação das condições do utente (em jejum, pós-prandial, etc) e do seu historial de saúde, bem como na devida recomendação de medidas não-farmacológicas nos casos em que se justifique. A prática de atividade física regular e o consumo preferencial de hidratos de carbono complexos de lenta digestão são duas destas medidas de mudança de estilo de vida que se revestem de grande utilidade prática para o utente. Após ter em conta todos os fatores específicos do indivíduo e suas circunstâncias, em caso de valores ligeiramente aumentados, é aconselhada uma monitorização mais regular da glicemia.

Ao longo do estágio na FMV, tive a oportunidade de, muito pontualmente, acompanhar outros membros da equipa durante as medições.

5.1.3. Medição do Colesterol Total e de Triglicerídeos

Na FMV efetuam-se medições de colesterol total e triglicerídeos, também por punção capilar e leitura dos valores através de um aparelho dedicado.

Durante o meu estágio curricular, tive a possibilidade de observar um membro da equipa, a quem foi solicitada uma medição.

5.2. Administração de Injetáveis

Na FMV, vários dos profissionais de saúde que integram a equipa estão devidamente habilitados a administrar medicamentos injetáveis e vacinas, desde que não constem do Plano Nacional de Vacinação (PNV). Trata-se de um serviço considerado muito útil e prático pelos utentes, que pode, nalguns casos, evitar deslocações a outras instituições prestadoras de cuidados de saúde. É, no entanto, de vital importância ter em atenção, fatores como a necessidade de o utente se fazer acompanhar da prescrição médica respetiva, o horário diário dos membros da equipa certificados para o efeito e o contexto e qual a medicação a administrar, já que nem todas estão indicadas para serem aplicadas na farmácia.

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A FMV disponibiliza, com uma periodicidade mensal e mediante marcação prévia, rastreios de Nutrição ministrados por uma nutricionista com quem a FMV tem estabelecida uma relação de colaboração no gabinete de atendimento privado.

Pelo que me apercebi durante o estágio, estes rastreios são bastante procurados e há um fluxo regular de utentes que iniciam seguimento, sendo o feedback positivo.

5.4. VALORMED

A FMV adere ao projeto VALORMED, tendo um contentor destinado à recolha de medicação inutilizada, que é entregue na farmácia pelos utentes, para que possa ser devidamente processada e tratada pelos serviços adequados.

6. Tema I – Pediculose capilar

6.1. Enquadramento do tema e do projeto

A ideia de abordar este tema surgiu como consequência da grande prevalência de surtos de pediculose entre as crianças em idade pré-escolar. Assim, e no sentido de as educar, esclarecer e fazer chegar, através delas, esse mesmo conhecimento aos respetivos encarregados de educação ou cuidadores, realizei duas sessões de formação na Fundação Couto, um estabelecimento de atividades de tempos livres (ATL) local com colaboração já estabelecida com a FMV. Durante as mesmas, as quais tiveram como público-alvo as crianças de 5 anos do ATL, tive a oportunidade de perceber um pouco qual o nível de compreensão prévio sobre o tema dos grupos a quem ministrei as sessões. Pude também abordar, de forma simples, alguns tópicos inerentes à temática da pediculose, como a prevenção, tratamento e características do Pediculus humanus

capitis ligadas às suas formas de transmissão.

6.2. Fundamento teórico 6.2.1. Introdução

A pediculose capilar pode ser definida como a infestação parasitária do couro cabeludo e cabelo humanos pelo Pediculus humanus capitis, um parasita da ordem

Psocodea.17 Esta infestação é mais frequente entre crianças em idade escolar e

pré-escolar, afetando escolas e infantários um pouco por todo o mundo.17,18 Apesar do

prurido intenso, da irritação local e, em casos raros, de infeções bacterianas secundárias, geralmente não se trata de uma condição causadora de um impacto relevante na saúde

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nos indivíduos infetados17. Na realidade, o seu efeito negativo nas vertentes psicológica e

social é a consequência com mais expressão.19

6.2.2. Epidemiologia

A pediculose capilar é atualmente uma parasitose endémica, tida como um problema de saúde pública em todas as zonas do globo, incluindo tanto países desenvolvidos como países em desenvolvimento.18 Esta não é, no entanto, uma situação

recente – o Pediculus humanus capitis e a pediculose capilar estão intimamente ligados com a história do ser humano.20 O grupo populacional mais afetado corresponde ao das

crianças em idade escolar e pré-escolar, de ambos os sexos, razão pela qual episódios de infestação entre colegas de turma e escola são muito comuns.21,22,,23 Verifica-se uma

maior frequência de casos nas crianças do sexo feminino.18 Tal situação possivelmente

deve-se a maior tendência cultural para um contacto físico mais próximo entre elas, por comparação com o que acontece entre as crianças do sexo masculino e pelo uso mais comum de cabelos compridos, proporcionando uma maior área de contato.

Sendo de fácil contágio, os outros elementos da população em contato com os portadores desta parasitose podem também ser afetados, qualquer que seja o grupo demográfico e socioeconómico a que pertençam.21 É muito importante realçar o fato de

esta não ser uma infestação que atinja exclusivamente pessoas que possuam menos recursos financeiros ou tenham maus hábitos de higiene e, por contrapartida, reforçar a enorme importância e impacto positivo de um correto conhecimento dos pais ou cuidadores sobre formas de prevenção e tratamento.18,21 Adicionalmente, um dos fatores

preditivos mais associados à probabilidade de infestação de uma criança é a existência de um irmão ou irmã com episódio de pediculose capilar. Outras variáveis individuais e do ambiente e círculo familiar não mostraram ter grande relevância na probabilidade de instalação de infestação.22

6.2.3. Biologia

O Pediculus humanus capitis é um ectoparasita humano obrigatório, sendo, portanto, incapaz de sobreviver noutros animais ou de forma livre na natureza.17 Para

suprir as suas necessidades energéticas, o vulgarmente apelidado de piolho socorre-se exclusivamente de sangue do hospedeiro, realizando várias refeições hematofágicas diárias, privilegiando zonas do cabelo mais próximas da raiz e onde o calor é mais abundante, nomeadamente, nas regiões anterior da nuca e retro-auriculares.17,24 Por isso,

(33)

são essas as zonas em que é depositado o maior número de ovos que se vêm a revelar viáveis mais tarde.17

O ciclo de vida do piolho da cabeça tem a duração de cerca de 30 dias e compreende os estados de lêndea (ovo), ninfa e piolho adulto(Figura 1).17 Cada fêmea

adulta fértil pode originar cerca de 250 a 300 ovos durante a sua vida, que deposita junto ao couro cabeludo.24 Os ovos têm uma forma oval, com sensivelmente 0,3 mm por 0,8

mm e possuem cor amarela ou branca.8 Entre 6 a 9 dias mais tarde, dá-se a eclosão das

lêndeas.17,24 O estado seguinte corresponde à ninfa, que tem um aspeto mais amarelado

e menos transparente e também não possui mobilidade, encontrando-se, portanto, agarrada ao fio de cabelo.24 De aparência semelhante à forma adulta, o tamanho maior

desta última fase é a característica que melhor as distingue.17 Aproximadamente 7 dias

depois de ocorrer a eclosão e após terem sofrido 3 mudas, as ninfas atingem a fase adulta, que, à semelhança do piolho adulto, é uma das formas responsáveis pela propagação da infestação.24 O piolho adulto, o terceiro e último estado do ciclo de vida, é

a fase madura do parasita.17 Morfologicamente, possui cerca de 2 a 3 mm de

comprimento e 6 patas com respetivas garras e caracteriza-se por uma cor branca ou acastanhada, que muda para avermelhada após as refeições hematofágicas.24

Figura 1 – Esquema do ciclo de vida do Pediculus humanus capitis (retirado de Centers for Disease Control and Prevention: Parasites – Lice).

(34)

6.2.4. Formas de transmissão

A locomoção do piolho capilar faz-se por movimentação lateral, andando ou correndo pelos cabelos, com a ajuda de garras. Ao contrário da crença que persiste entre uma grande parte da população, ele não salta ou voa. Por essa razão, a transmissão por contato direto com uma pessoa infestada, o tipo mais comum, requer um contato próximo entre as cabeças e cabelos dos indivíduos.24 Estas situações ocorrem frequentemente

em escolas e infantários e outras situações em que grupos de crianças se encontram num contexto de proximidade física.23 O fato dos adultos estarem tendencialmente menos

expostos a este tipo de circunstâncias regularmente diminui a prevalência da infestação entre esse grupo demográfico. A outra via de transmissão, a indireta, é menos comum.17

A sobrevivência em objetos como escovas, fitas de cabelo e lençóis que podem alojar e permitir a transmissão do Pediculus humanus capitis – os fómites – é relativamente curta, de aproximadamente 2 dias, no caso do piolho adulto e uma semana, no caso da lêndea.17

6.2.5. Diagnóstico

A pediculose capilar apenas pode ser diagnosticada após ser encontrado pelo menos um piolho ou ninfa adulta vivos ao inspecionar a zona do cabelo mais próxima do couro cabeludo.17 A presença de lêndeas a menos de 7 mm do couro cabeludo poderá

indiciar um quadro de infestação. Se estiverem a distâncias maiores, serão provavelmente não viáveis. Pode ser útil utilizar um pente próprio para este fim, com os dentes finos, o que permite agarrar o piolho e retirá-lo do fio de cabelo, facilitando a sua detecção.17,24 A colocação de uma toalha ou tecido branco pelos ombros da pessoa que

está a ser inspecionada também facilita a tarefa de visualizar piolhos que possam ser retirados do cabelo. Indivíduos que tenham tido contato próximo com a pessoa diagnosticada devem ser também inspecionados para averiguar se houve transmissão da infestação.24

6.2.6. Prevenção

Há alguns cuidados que devem ser mantidos para evitar uma primeira infestação ou a recorrência após um primeiro episódio. É muito importante realçar que a inspeção do couro cabeludo deve ser feita de forma regular e não apenas quando existem queixas de prurido no couro cabeludo, já que esse sintoma nem sempre está presente nas fases iniciais da infestação ou em episódios ligeiros.17 O prurido é provocado pelas substâncias

Referências

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