0
PROFESSOR
DE
LÍNGUAS
ESTRANGEIRAS
E
os
REcURs0s
,INFORMA
TIZAD
os
=Dissertação de
Mestrado
apresentada
como
requisito parcial à
obtenção
do
graude Mestre
em
Educação
aoPrograma
de Pós-Graduação
em
Educação
da
Universidade Federal deSanta
Catarina. '
Orientadora: Profa. Dra.
Leda
Scheibe1 f ~!u:n|~_.. ..§§ 1 ;,\-'¢'_â`~-~ ,.' 1.4”O
uN|vERs|DADE
FEDERAL
DE
SANTA
cATAR|NA
CENTRO
DE
CIÊNCIAS
DA EDUCAÇÃO
PROGRAMA
DE PÓS-GRADUAÇÃO
CURSO DE
MESTRADO
EM
EDUCAÇÃO
“O
PROFESSOR
DE
LÍNGUAS ESTRANGEIRAS
E
OS
RECURSOS
INFORMA
T
IZADOS
”. QDissertação
submetida ao Colegiado
do
Curso de Mestrado
em
Educação do
Centro
de
Ciências
da
Educação
em
cumprimento
parcial
para
aobtenção do
títulode Mestre
em
Educação.
APROVADO
PELA
COMISSÃO
EXAMINADORA
em
.11/
G9
/ 98Dra.
Leda
Scheibe (Orientadora)
Qyflôuzí
Dra.
CristinaCasadei
PietraróiaMá/
~Dr.
Pedro
M.
Garcez
W
Q*
*fgfi
Dra.
Maria
Luiza
Belloni(Supleny/âQ×w\f"__
Anamelea
de
Campos
PintoLuiz dos Santos
z
[...]
só
possuímos
o
que
recebemos
etransformamos
[...]André Comte-Sponville. Pequeno Tratado de Grandes
Virtudes. São Paulo: Manins Fontes, 1996, p. 11.
Dessa
forma,
dedico
essetrabalho a dois
professores
que
flzeram
efazem
de suas vidasuma
verdadeira prática educativa:Este trabalho foi
realizado,
parcialmente,
graças
a
uma
bolsa
de
estudos
concedida
pelas
agências
financiadoras
de
pesquisa
Carlos
Drummond
de Andrade*AGORA
me
lembra
um,
antesme
lembrava
outro.Dia
viráem
que
nenhum
será lembrado.Entao
no
mesmo
esquecimento
se fundirao.Mais
uma
vez
acame
unida, e asbodas
cumprindo-se
em
simesmas,
como
ontem
e sempre.Pois
etemo
éo
amor
que
une
e separa, e eternoo fim
(já
começara,
antes de ser), esomos
eternos,frágeis, nebulosos, tartamudos, frustrados: etemos.
E
o esquecimento
ainda émemória,
e lagoasde
sono
selam
em
seunegmme
o que
amamos
efomos
um
dia,ou
nunca fomos,
econtudo
ardeem
nósà
maneira
da
chama
que
dorme
nos paus
de lenhajogados
no
galpão.Agradecimento
a
todos cujas
presenças
indeléveis
marcam
estaspáginas:
Aecto, Afonso, Alckmin,
Alunos
do
Colégiode
Aplicaçãoz ,Ana
Luíza,Ana
Scatena,Ane, Arlete, Armelle, Carlos, Carlos Seabra, Celina, Celso, César, Cristiana, Cristiani,
Cristina Pietraróia, Cristina Piva, Daniel,
Débora,
Denise, Diego, Diles, Diranezi,Dirce, Elizabeth, Eneida, Fátima, Hector, Jaqueline, Josalba, Josemai; Josué, Laís,
Lauro, Leonor, Levi, Lilane, Márcia,
Márcia
Goulart,Marco
Antônio,Markus,
Maria
Célia,
Maria
F
emanda, Maria
Luíza, Marilia, Marlise, Marise, Maurilia, Nara,Nelma,
Noêmia,
Norberto, Patrícia,Paulo
Mattosinho, Pedro, Pinho, Rafael, Rúbia, Salete,Sandra, Sílvia, Selvino, Vera, Vilson, Vitória, Vivian, Walter Costa, Walter Cybis, Zélia
e, especialmente,
Leda
e Clara.E
1
DRUMMOND
deANDRADE,
C. Poesia e Prosa. 6” edição. Rio de Janeiro: Nova Aguilar,1988. «
RESUMO
A
utilizaçao de recursos informatizados parece seruma
opçao
significativapara
o ensino/aprendizagem
de línguas estrangeiras. Todavia,poucas
pesquisasforam
realizadas a esse respeito,
no
âmbito
dos ensinosfundamental
emédio,
nas escolasde
ensino oficial
no
Brasil.Nesse
sentido,o
presente estudobusca
trazer à discussão algunselementos
que
envolvem
aformação
do
professor de língua estrangeira para a utilização dos recur-sos informatizados, por acreditar
que
estessejam
agentes importantesna implementaçao
de
mudanças
na dinâmica
pedagógica. Esta pesquisa, realizadanos
anosde 1996
e1997, buscou,
desde o
início, balizar-se pelaadoção da
salade
aulacomo
espaço privi-legiado
de
investigação, tirando-odo
pedestal deambiente
isoladoque
se volta unica-mente
ao ensino eexpondo-o
à verificação detalhada e criteriosaque
seimpõe
-a todopesquisador.
Assim,
a partirde
uma
situação concreta, as aulasde
Inglês deuma
profes- sorados
ensinosfundamental
emédio
da
rede pública,em
que
sedesenvolveu
um
pro-cesso de
fomiação na
ação, buscou-secompreender
como
pode
se dar aformação
coo-perativa
do
professorde
línguas estrangeiras,adotando
a perspectivada
reflexão-na-Utilizing computing resources
seems
to be an important option to the process of teachinglearning foreign languages.
However,
little research has been carried out regarding this subject,whether in elementary schools or high schools, within the Brazilian Educational System.
In this sense, the present study discusses
some
elements related to the use ofcomputing
resources in foreign language teacher education, since it is believed that these resources can
stimulate changes in pedagogical dynamics.
The
researchwas
carried outin 1996 and 1997,and
set outfrom
the beginning, to focuson
the classroom as its primary locus of investigation,in order to question its
image
as an isolated setting geared exclusively to teaching,and
toexpose it to careful and detailed investigation. Then,
from
a concrete situation_
the Englishclasses of an elementary
and
high school teacher-,
Where
a process of education-in-actionprocess
was
developed,we
sought to understandhow
one can
establish a process ofcooperative foreign language teacher,
by
adoptingDonald
Schön's
reflection-in-action-uma
nao
pela capacidadeque
tenhaem
cobrirtodos
osdados do
real,porque
nenhuma
o
faz,mesmo
quando
o
julga fazer.Sabemos
que o que mais
importa é encontrar'uma
iluminação
nova que
permita entendera
uma
nova
luz apaisagem
culturalque
nos rodeia.Eduardo Prado Coelho.
A
INTRODUÇAO
... ..O
professor principal agente da visão pró-ativa ... ._Necessidades e condições de contomo do ensino de língua estrangeira ... ..
Da
sala de aula à dissertação ... ..CAPÍTULO
l -OS RECURSOS INFORMATIZADOS
E
O
ENSINO/APRENDIZAGEM
DE LÍNGUAS
... _.1.1 Primeiras aproximações ... ..
1.2 Recursos informatizados: método ou instrumento ... ..
1.3 Os recursos informatizados
como
meios de comunicação ... _.1.4
O
uso dos recursos informatizados e o ensino de linguas estrangeiras ... _.1.5 Os recursos informatizados e as línguas estrangeiras na
escola brasileira ... .. ... ._
l.6 Introduzindo os recursos informatizados no ensino de LE,
níveis fundamental e médio ...
CAPÍTULO
2 -A
FORMAÇÃO DO
PROFESSOR
DE LÍNGUAS ESTRANGEIRAS
PARA
O
USO
DE RECURSOS INFORMATIZADOS
... ..2.l Questões preliminares ... ..
2.2
O
professor reflexivo e sua formação ... ..2.2.1 Epistemologia da Prática: o conceito de reflexão-na-ação ... ..
2.2.2 Formação ou treinamento?
A
formação do professorpara o uso dos recursos informatizados ... ..
2.3 Alfabetizaçao tecnológica e construção do conhecimento ... ..
A
2.3.l
A
pesquisa colaborativacomo
meio de formação para o professorde línguas estrangeiras ... ..
CAPÍTULO
3-APRESENTAÇÃO
DE
UM
CASO:
A
PESQUISA
NO
COLEGIO
DE
APLICAÇÃO
DA
UFSC
... .. ...3. I Para além das aparências e a realização da pesquisa ... ..
3.1.1 Cenários e condições para a realização da pesquisa ... ..
3.1.2
O
perfil da professora-sujeito da pesquisa ... ..3.2
A
pesquisa ... ..3.2. l Estudo exploratório ... .L ... ._
3.2.2
A
pesquisaem
sala de aula ... ..3.2.3
As
atividades extra-classe: as Oficinas de Inglês e Multimeios .... ..3.2.4
Os
primeiros resultados da pesquisa colaborativa ... ..CONSIDERAÇÕES HNALS
... ..BIBLIOGRAFIA
... ..INTRODUÇÃO
Tecnologia
e
ensino
Em
1988,Femando
Joséde Almeida3
afirmavaque
a utilizaçãoda
informáticanas escolas era
tema
bastante polêmico.Passados
dez anos, a situação é praticamentequase
amesma.
Ainda não
sesuperou
uma
dualidade extremada: usarou não
usar,aderir
ou não
aderir à informática nas escolas.Mas,
a questãonão
é discutir se a tecnologia será aceitaou
não,mas
como
ela será integrada àformação
dos estudantes e dos profes-sores.
O
computador
já se insinuaem
toda parte,em
nossa sociedade, e a escolanão
tem
porque
evitarque
seja, elatambém,
usuária dessa tecnologia.Tem-se, na
verdade,que
definir quais os objetivos
de
sua inserçaona
escola.Não
se pretende fazer aquiuma
defesada
inevitabilidadeda
tecnologia.Ela
éresultado
da açao do
serhumano
e,como
tal,nao
éantecipadamente
boa ou má. Seus
efeitos
dependem,
sempre,do
modo
como
o
ser histórico, investidode
uma
certa posi-çao que
lhe confere sua classe sócioeconômica,
usa a tecnologiacomo
instrumentode
dissemina Ç
ão de dados
e deinfonna
ões. Entende-se, dessa forma, ue eladeve
serestendida a todas as classes sociais e
que
a principalforma de
isso ser viabilizado,de
modo
verdadeiramente democrático, é atravésda
escola. -Ao
concluir a primeira partede
seu livro0
ensino de línguaspara
comunicação,
Widdowson
(1991: 107) afirmaque
“o ensinode
línguas éum
assunto bastantecomple-
xo
e os professores de línguasnem
sempre
têm
tido estímulo para pesquisar sobre anatureza dessa complexidade.
Conseqüentemente,
elestêm
sido vítimas constantesde
ortodoxias e de
modismos.” Seriam
os recursos informatizadosmais
um
dessesmodis-
mos,
aexemplo
do que
ocorreucom
outros instrumentos,como
a televisão? Esta, a3
ALMEIDA,
Fernando J. de - Educação e Informática. Os computadores na escola. São Paulo:certa altura
da década
de 70, foimotivo
de grandes investimentos por parte dealgumas
escolas particulares, servindo, todavia,
mais de
propaganda
para aempresa do que de
suporte
pedagógico
efetivo parao
ensino.Além
disso, o alcance dessa tecnologia esta-va restrito,
como
afinnado acima, apequeno
número
de estabelecimentos particulares,que
possuíam
disponibilidade financeira para fazer frente aos altos custos da instalaçãode
equipamentos
edo
treinamento* dos professores.Na
década
de 90,mesmo com
adisseminação
do programa TV-Escola
pelo go-verno federal, ainda
não
seconseguiu
superar totalmente essa aparência demodismo
eintroduzir a televisao de
modo
mais conseqüente
dentrodo
ensino público.Sao
teste-munhas
disso osproblemas
atualmente associados àformação
dos professores parafazer frente às exigências tecnológicas para
um
uso
consistente desse instrumento.Essas
mesmas
dificuldadestêm
sido observadasquanto ao
usodo computador
nas escolas brasileiras. Portanto, se se deseja
que
a informática sejamais
do
que
um
simples
modismo,
é precisotambém,
segundo
Sandholtz et alii (1997)5 ,que
sefaçam
estudos
mais aprofundados
sobre aformação dos
professores, pois estes são agentesimportantes
na implementação
demudanças na
dinâmica
pedagógica. “Ora, a base necessária para
que
essaaçao
ocorra passapor
uma
superaçaoda
dicotomia entre visão cética e visão otimista°, atingindo, então;
uma
posição mais atuanteecrítica quanto à utilizaçao dos recursos infonnatizados.
É
importante ressaltar que, sobo
rótulo de céticos, Valente (1993) lista aqueles
que
exibem
argumentos
quanto à carênciamaterial
do
nosso sistema educacional eque
sao totalmente contrários aum
ingressomera-
mente
tecnicistado computador na
escola,mencionando
apenas marginalmente aquelesque
assumem
uma
posição de indiferença7_
mais
preocupante,segundo
a perspectiva desteestudo
_
dianteda
informatização das escolas.A
indiferença éuma
das atitudes mais perni-4 Neste texto, vamos tratar mais adiante das diferenças entre treinamento, capacitação, reciclagem
e formação para o uso dos recursos informatizados.
No
entanto, aqui estamos usando esse termopor ser dessa forma que era entendida, à época, a apropriação dos recursos tecnológicos por
parte do professor. .
5 “As tecnologias são descritas
como
ferramentas essenciais do ofício do magistério no entanto, aspesquisas têm se concentrado quase que exclusivamente no impacto da tecnologia sobre os alunos,
com
pouca investigação das implicações para os professores.” (p. 20)6 VALENTE, J. A. “Por que o computador na Educação?” in VALENTE, J. A. (org.) Computadores e Conhecimento: repensando a educação. Campinas: Editora da Unicamp, 1993. (p.25-27)
7 Cf. BIANCI-IETTI, Lucídio. “Dilemas do professor frente ao avanço da informática na escola”,
ciosas, pois elimina qualquer possibilidade de ação e de diálogo,
na
medida
em
que
senega
ao enfrentamento
do
debate,deixando que
um
laissez-fairetome
contada
situação.Já sob
o
rótulo dos otimistas, encontram-se todos aquelesque de
certaforma
acabam
por abstrair problemas
bem
concretosda
cotidianidade de nossas escolas,achando que
um
voluntari
smo
puro e simplespode
resolver todas as situaçõesque
se apresentem desfavorá- veis a talempreendimento.
Acreditam na
potencialidadeda
tecnologiacomo
resposta às necessidadesdo
sistema educacional, sem, contudo, perceber a importância deuma
maior
compreensão
dos efeitos e das condições de contornodo
uso intensivo desses recursos.-
Cabe, portanto, a busca de
uma
síntese entre as visões apresentadas, considerando astecnologias
como
“criaçõeshumanas,
carregadas de ideologias” . Pode-se classificar essavisão sintética aqui proposta
como
“pró-ativa”. Ela se caracteriza sobretudo pela existênciade
uma
postura crítica dianteda
tecnologia, procurandocompreender
em
que
contexto his- tórico, sobque
condiçõeseconômicas
e políticas, ocorre sua absorção pelo sistema educa-cional,
sem
contudo deixar de incorporá-la às práticas de ensino/aprendizagem, proporcio-nando
com
issouma
maior
democratizaçãoda
sua utilização.~
O
professor: principal
agente
da
visao
pró-ativa
Os tecnófilos
com uma
mentalidade refomrista historicamente sempre criticaram osprofessores. Eles culparam os professores que não utilizavam a tecnologia por não
acompanharem a introdução do filme, do rádio, e da televisão nas salas de aula antes
e desde a Segunda Guerra Mundial.
O
mesmo
vale para os computadores.”Tradicionalmente
há
uma
certa tendência de culpabilizar os professores pela maneiracomo
as tecnologias são assimiladasou
recusadas.Mas
porque
isso acontece? Talvez,porque se
esqueçam
deque
os professorestêm
suas própriasconcepções
sobrecomo
ocor-re o aprendizado e quais são as melhores formas para organizar suas atividades
de
ensino.Dessa
forma,em
vez de se fazer qualquer acusação,há que
se revisitar suasforma-
ções, saber sob
que
condições elasocorrem
e,acima
de tudo, saber sobreque
basesda
filosofia da educação elas se assentam.
Nunca
é demais ressaltaro
quanto o professor acaba8 Ibid., id.
trazendo para sua prática
do que
ele recebeuem
sua fonnação. Outros fatores passíveis deanálise
dizem
respeito às condições concretas e objetivasem
que o
professor exerce suaprática, o
que
implicariauma
análisedo
ambiente social eeconômico
em
que ele está inseri-do. Todavia,
no
recorteque
aqui se propõe, busca-se primordialmenteuma
reflexão acercada fonnação do
professor.Mesmo
reconhecendo
a importância desses fatores, oque
sepretende é discutir as circunstâncias e as possibilidades dessa fonnação, para
que
ele saiba,então, adaptar justamente suas reflexões prévias a essas condições concretas e objetivas
acima
citadas.Assim,
paraque
se tenha professores preparados para integrar tais recursos a suaspráticas pedagógicas, é
fundamental
estabelecerquando
ecomo
intervirem
seu proces-so de formação,
com
vistas a essa absorção positiva e crítica.Como
se verámais
adian-te, essa
formaçao pode
se dar tanto inicialmentequanto de
forma
continuada.Mas,
em
ambos
os casos,não deve
haveruma
apologiacega
dos instrumentos tecnológicos,o
que
resultarianuma
formação que
tenderia a perenizar essa visão superficial dessesrecursos, encarados aí
sem
uma
verdadeira base teórica esem
atentar, portanto, para as verdadeiras questões envolvidas.No
que
se refere, assim, à formação, é essencialcompreendê-la
dentrode
uma
trajetória
que
leve oeducador
deuma
situação inicial de usuário dos recursos tecnológicospara a de professor
que
os integre a seu trabalho.Aquele que soube
passar pelas diferen-tes etapas
de
aprendizado, adquirindo habilidadesmínimas no
manuseio
desses instru-mentos,
pode
ter condiçõesde
associa-los corretamente aos objetivos de suas ativida-des docentes.
É
claroque
issonao
é suficiente.Essa
associaçao dos instrumentostecnológicos à prática educativa
pode
ser feita demodo
superficial.Como
dizMoran”
, “as tecnologias (...)não
mudam
necessariamente a relaçãopedagógica
(...) as tecnologiasnão
substituemo
professor,mas
modificam algumas de
suas funções”.Em
suma,
écom
uma
visãobem
fundamentada que
sepode
transformarum
mero
usuário de instrumentostecnológicos
em
profissionais de ensino que saibam usar efetivarnente as tecnologiasem
pro-veito
do
educando
e de seu processo de aprendizagem.10
Apud
SOFFNER,
Rosemary. As Novas Tecnologias de Comunicação e a Educação deNo
caso, propõe-seo desenvolvimento
dessa visãoque
sechamou
acima
pró-ativa.Ela significa a adoção de procedimentos pedagógicos
que acolham
e multipliquem os efeitose as ações dos recursos tecnológicos. Ressalte-se, contudo,
como
jámencionado no
iníciodeste texto,
que
a tecnologianão
é neutra,que
seus efeitos dependerão,em
larga medida,do
alcance a ela destinada pelo professor dentro de suas atividades docentes.
Deve-se
concor-dar, assim,
com
Haberrnas e afirmarque
“a ciência e a técnicapodem
se transformarem
ideologia, é preciso avançar
no
sentido deque
as criaçõeshumanas
estejam sob odomínio
dos
homens
e, principalmente,que sejam
colocadas a serviço de todos oshomens”“
.Necessidades
e
condições
de contorno
do
ensino
de
língua estrangeira”
Se
este estudo elegecomo
um
de seus póloso
papel dos recursos informatizadosna
educação, seu outro pólo situa-se
no
âmbitodo
ensino deLE,
especificamentena formação
do
professor dessa área. Ora,como
atestaAbrahão
(1996),há
uma
carênciaem
trabalhosque
se dirijam
prioritariamente ao estudoda formação
desse professor:“As
pesquisasna
área de Lingüística Aplicada desenvolvidas nas últimas décadas, junto aos
programas
de
pós- graduação existentes,
têm tomado
por foco de investigação principalmenteo
aluno, sen-do
escassas aquelasque
privilegiamo
professor e sua forrnaçãocomo
centro de suas obser-vações ”13
Por sua vez,
Matos”,
discutindo o usodo computador na educação
(enão
apenasno
que
se refere ao ensino de LE), enfatizatambém
que há poucos
estudos disponíveis sobre aformação
dos professores para o uso desse tipo de recurso.Uma
pesquisa de igual teor,realizada
no
catálogo eletrônicode
1997 da Associação
Nacionalde
Pós-Graduação
em
Educação, não
mostraquadro
muito
diferente: apenas quatro registros referem-se direta-mente
ã problemáticada formação do
professor, dentrodo âmbito da
incorporaçãoda
informática à educação, reunindo todas as áreas e
não
apenas aquela voltada ao ensino daslínguas estrangeiras. Entre os
poucos
trabalhosque abordaram
diretamente otema
destall
Apud
Bianchetti, op. cit., p. 9.12 Doravante, LE, valendo também para o plural da expressão (línguas estrangeiras). 13 Abrahão (1996), p. 2.
Em
sua bibliografia, a autora arrola alguns estudos a esse respeito.pesquisa, dois
foram
apresentadosnoXIX
Congresso
da
Federação Mundial
de Associa-ções Profissionais
de
Professoresde
Línguas, realizadono
Recifeem
março
de 1997,na
Universidade
Federalde
Pernambuco.
Trata-se dascomunicações
Les
Nouvel
lesTechnologies
au
Servicede
la Constructiond
'une ldentité Interculturelledans
laF
orrnationContinue
des Enseignants deLangues
Vivantes, deHélène
Leclercq,Amanda
Eloina Scherer e
Gladys
Morales,eAs
Tecnologiasda Comunicação
eda Informação
no
Ensino/Aprendizagem
na
Formação
de
Professores, deMaria
Natáliada Rocha.
Ressal-te-se, todavia,
que foram
as únicas a tratar diretamente dessetema
em
meio
à grandequan-
tidade de trabalhos então apresentados. Já
no
caderno de
resumos
do
7° Intercâmbiode
Pesquisas
em
LinguísticaAplicada
(abrilde
1997),uma
partedos
trabalhos se refere àformação
do
professor (os simpósios intitulado Projetos deGrupo
em
Formação
de
Pro-fessores
na
Ação
eAlguns
Desafios
à
Formação do
Professorde
Língua
Estrangeira),mas
nenhum
deles aborda a questãoda formação
desse professor parao
uso dos recursos informatizados. Ainda,na
RevistaRencontres15 , que consagrouum
número
especial à temáticado
ensinode
línguas enovas
tecnologias, dosdoze
artigos apresentados, alguns explicitamdireta
ou
indiretamente,mas
sem
um
desenvolvimentomais
aprofundado, a questãoda
for-mação
do
professor. 'Nesse
sentido, faz-se necessárioum
estudo específicoque
possa trazer à discussãoos elementos envolvidos
na fomiação
desse professor,preocupando-se
com
a viade
mão
dupla que, nesse caso, se estabelece entre a Lingüística Aplicada e as Ciências da Educação.
Todavia,
há
que
se teruma
idéiamais
abrangentedo que
significa afonnação
efetivado
professor,
no
exatomomento
em
que
ela ocorre (oque
engloba,como
dito acima, tanto os aspectos didáticos de sua atividade docentecomo
as especificidadesda
disciplinaem
que
elase insere e
que
compreendem,
entre outros,conhecimentos de
lingüística aplicada), paradiferencia-la
da reflexão que
aqui se busca, voltada principalmente para os aspectos educa-cionais
que
envolvem
aformação
do
professor e devendo, portanto, situar-se claramentedentro dos lirnites das ciências
da
educação,sem
priorizarum
estudo das questões afetasà áreada
Lingüística Aplicada.Mesmo
que
esta apareça,como
é natural, neste texto, issonão
15 Rencontres: revista do Departamento de Francês da Pontifícia Universidade Católica de São
significa
que
vá setomar o
foco principal deste estudo. Este está voltado,como
dito acima,para as questoes da educaçao;
no
recorte aqui escolhido, estas sao prioritárias.Assim, não
setem
como
discordar deAbrahão
(1996, p. 14),quando
salienta a ne-cessidade
de
“propostas para reverter oquadro da formaçao inadequada
de pré-serviço eserviço
do
professor de língua estrangeira”. Saliente-se que, neste trabalho,não
se pretende usar a nomenclatura “pré-serviço” e “serviço”,que
parece procederde
uma
tradução diretado
Inglês. Usar-se-ão, aqui, as expressões“formação
inicial” e“formação
continuada”,que
não configuram
uma
simples alteração de nomenclatura, mas,além
de já terem largo cursoentre os estudiosos
da
área,traduzem melhor o
processo geral deformação do
professor,na
medida
em
que não
estabelecemuma
diferença radical entre os dois estágios de sua “vidadocente": tanto a
formação
inicial quanto a fonnação continuada sãomomentos
deuma
mes-
ma
atividade docente que, aos poucos,pode
ganhar corpo e avançarem
direção a melhoresmétodos
e instrumentosde
trabalho.Abrahão
(1996, p. 14-15) apresenta sete açõesque
considera essenciais aos progra-mas
eficientes deformação
de professores.São
elas:“l. Integraçao das estratégias de treinamento e desenvolvimento para que se possa
gerar mudanças comportamentais (...); 2. Integração de atividades práticas de ensi-
no
com
a compreensão consciente de princípios que subj azem a essas práticas (...);3. Formação de professores reflexivos e críticos (...); 4. Formação de professores
investigadores de sua própria prática de sala de aula (...) 5 . Envolvimento de profes-
sores
em
projetos de pesquisa-ação de forma que possam investigar sua sala de aula de forma orientada (...); 6. Desenvolvimento da competência profissional dos pro- fessores, que envolve conhecimento do conteúdo a ser ensinado, embasamentoteórico e prático (...); 7. Desenvolvimento de três competências principais: lingüístico-
comunicativa, aplicada (teórica) e profissional.”
No
caso deste estudo, serádada
especial relevância à ação 3,na
medida
em
que
elaconstitui
o
direcionamento básico que deve orientar todoo
processo defonnação do
profes-sor,
fundando-o
numa
estratégia de constanterenovação
de suas práticas e de seus instru-mentos. Isso é especialmente importante
quando
se pretende integrar recursos tão comple-xos e tão ricos de possibilidades,
como
os recursos infonnatizados, à sala de aula de LE. ~Da
sala
de aula
à
dissertaçao
. Ora, tendo
em
vista essas considerações,o
melhor
espaço para discutir tais processosdas questões envolvidas, proporcionando condições de se alterar os
rumos
da reflexão teó- rica (que, por sua vez,vão
dando, aomesmo
tempo,0
lineamento necessário para acondu-
çãoda
própria pesquisa e a construção de seu respectivo objeto).Mas,
ao longodo tempo,
o
ambientede
sala de aulas deLE
foi tudomenos
local de pesquisa e de reflexão acerca dasestratégias de ensino, das atividades de
formação do
professor e, finalmente, da introduçãode
novos
recursos.Como
afirma Cavalcanti eMoita Lopes
(1990, p. 133),No
contexto educacional brasileiro, a sala de aula de línguas tem sido predominan-temente
um
local de ensino e muito raramenteum
local de pesquisa. Acreditamos que isso se deva a dois fatores (cf. Cavalcanti, 1989) deste contexto: a) a formaçãodo professor indiretamente voltada para ensino e b) a ausência de tradição de
pesquisa
em
nossas universidades no que se refere à área de ensino/aprendizagemde línguas (estrangeiras e matemas).
Assim,
esta pesquisa buscou, desde o início, balizar-se pelaadoção
desseambiente
privilegiado
que
é a sala de aula, tirando-odo
pedestal deambiente
isoladoque
se voltaunicamente ao ensino e
expondo-o
à verificação detalhada e criteriosaque
seimpõe
a todopesquisador.
O
que
se quis foinao tomar
os recursos informatizadoscomo
tecnologia isola-da de
seu uso específicona
educaçao,o
professorcomo
agentefechado
em
suas escolhasmetodológicas,
sem
o
avalde
uma
prática observadacom
constância e, finalmente, os alunoscomo
receptores passivos deopções
prévias e unidirecionadas.Ao
contrário, quis-se justa-mente
privilegiaro que
a salade
aulatem
de dinâmico,reconhecendo
as contradiçõesque
nela existem e
que
fazem
justamente a sua riquezacomo
espaçode
construçao socializadado
saber,dando
ênfase à figurado
professor, escolhida, aqui,como
perspectiva central dasreflexões acerca
da
introdução dos recursos informatizadosno
ensino/aprendizagem deLE.
Tendo
em
vista essa introdução nas práticas docentesde
LE
e a necessidadede
separtir de
uma
análise crítica e diretana
sala de aula, elaboraram-se três questões norteadorasque
serviram para a realização das investigações in loco (investigação realizadacom uma
professora de língua inglesa, de
uma
escola pública de Florianópolis, ecom
alunos de segun-do
grau,nos
anos de1996
e 1997):1.
De
que
maneira se estabelecem os primeiros contatosdo
professorcom
os recur-sos informatizados?
2.
Quais
os passos e os percalços vivenciadosna
elaboraçãode
material e de estraté-3.
Quais
reflexões são suscitadas após as sessões de utilização desses recursos e deque
maneira elas reveitem para a prática didática? 'Estas questões tentaram
mapear
as atividades envolvidas,desde
o início até aplena efetivação
do
processo, permitindo refletir acerca: a)da
introdução dosnovos
recursos informatizados; b)
da
forrnação inicial e continuadado
professor para habilitá- lo auma
inserção crítica econtinuamente renovada
desses recursos; c)do
desenvolvi-mento
de estratégias fundadasem
reflexões educacionais consistentescom
osnovos
instrumentos incorporados à sala
de
aula.Assim,
esta dissertação está divididaem
três capítulos,em
que
se pretende desen-volver
reflexões
a partirdo
caminho
acima
indicado, seguidos deuma
conclusãoem
que
se procurará apontar outras
formas de
trabalhar a questãoda formação do
professor deLE,
tomando
como
ponto de
partida a incorporação dos recursos informatizados àspráticas
de
ensino/aprendizagem.No
primeiro capítulo,começa-se
com
uma
primeira aproximação dos elementos asso- ciados ao caráter polissêrnicoda
palavracomputador, buscando
explicitar a terminologiaenvolvida (principalmente os termos informática, cibemética e computação).
Em
seguida,tenta~se discutir os recursos informatizados dentro de
uma
especificidade didática, tentando entendercomo
estes instrumentosdialogam
com
certas abordagens” de ensino deLE
enão
com
outras.A
seguir, passa-se parauma
discussão dos recursos informatizadoscomo
meio
de comunicação
e das possibilidadesque
se abrem, a partirda
constituição das redestelemáticas, para
uma
renovaçãonos
procedimentos tradicionais de ensino/aprendizagem.Ainda
nesse capítulo inicial, faz-seuma
breve descrição diacrônica das possibilidades de usodos recursos informatizados
no
ensino deLE,
a partir dos anos 60. Paralelarnente, traça-seum
panorama
da utilização desses recursos nas escolas de ensino fundamental emédio
bra-16 Cf. LEFFA, Vilson. “Metodologia do ensino de línguas”, in BOI-IN, Hilário
&
VANDRESEN,
Paulino. Tópicos de Lingüística Aplicada.
O
ensino de línguas estrangeiras. Série Didática. Florianópolis: Editora daUFSC,
1988, p. 211-212.O
autor, aí, apresentauma
distinção entreabordagem e método, no que toca ao ensino de língua estrangeira. Para ele, método “tem
uma
abrangência mais restrita e pode estar contido dentro de
uma
abordagem", enquanto que abordagem “é o termo mais abrangente e engloba os pressupostos teóricos acerca da lingua e dasi leiras,
fomecendo
subsídios importantes paracompreender
os motivos e as condições his- tóricasda
pesquisa realizada neste trabalho.O
segundo
capítulo dedica-se àformação do
professor para 0 uso dos recursosinformatizados,
sem
atentar,no
primeiromomento,
para a especificidadedo
ensinode
LE.
Em
um
segundo
momento,
faz-se, aí sim,uma
aproximação
dosmodelos de forma-
ção
do
professor deLE, segundo
Wallace (1990).Um
dosmodelos
deste teórico éo
“reflexivo”.
A
partir dele, dá-se início auma
análisemais aprofundada
dafonnação
do
professor,
lançando
mão
dos estudos deSchön
(1983, 1987),que propõe
uma
aborda-gem
chamada
“reflexão na
ação”.Em
outras palavras, tenta-se, atravésda
associaçãodessas
duas
abordagens,compreender
como
a assimilação dos recursos informatizadospode
ser feitaconcomitantemente
auma
dinâmica de
reavaliação constante dos proce-dimentos
docentes.Como
conclusão desse capítulo, propõe-seuma
visão desse profes-sor
que
aponte paraalém da
simples capacitação tecnológica.Quer-se
adotar aqui,em
parte, as posturas preconizadas por
Sampaio
(1996),quando
constrói,no
lugarde
capacitação,
o
conceitode
alfabetização tecnológica”.O
que
sebusca
énão
um
mero
treinamento (assimilação a-crítica e automatizada
de procedimentos
técnicos,baseando
as práticas docentes
em
um
manual
de
utilização),mas
uma
construçãodo conhecimen-
to
que
,saiba ser assimilação dos recursos e, aomesmo
tempo,
constante autopoiesisdo
professor
como
agente ativo edinâmico
do
processode
ensino/aprendizagem.No
capítulo 3, apresenta-se a pesquisa realizadaem
uma
escola pública de Florianópolis,partindo, inicialmente, de
uma
apresentação das orientações teórico-metodológicas.Quer-
se,
com
isso, estabelecerum
nexo
lógico e claro entre as reflexões dos capítulos precedentese a exposição dos elementos levantados
quando da
realizaçãoda
pesquisa,que
expõe, dire-tamente,
um
processo efetivo de integraçao dos recursos informatizados à prática docente deuma
professora de Inglêsdo
ensino fundamental e médio.17 Segundo Sampaio (1996, p. 137), “o conceito de alfabetização tecnológica do professor envolve
o domínio contínuo e crescente das tecnologias que estão na escola e na sociedade, medianteo
relacionamento crítico
com
elas. Este domínio se traduzem
uma
percepção do papel das tecnologias na organização domundo
atual -- no que se refere a aspectos locais e globais-
ena capacidade do professor
em
lidarcom
essas diversas tecnologias, interpretando sua linguageme criando novas formas de expressão, além de distinguir como, quando e por que são importantes
Finalmente,
na
conclusão, pretende-se daruma
abrangênciamaior
às reflexões já delineadas anterionnente, apontando proposições parauma
fonnação
inicial e continuadado
professor de línguas para
o
uso dos recursos infonnatizados (eque
podem
ser extrapoladas, evidentemente, para outras disciplinas).Os
RECURSOS
1N1‹¬oRMATizADos E
0
ENSINO/APRENDIZAGEM DE
LÍNGUAS
Uma
invasão purade
tecnologiaque não conespondesse
às necessidades histón`co~sociais das
comunidades
levan`aà alienação
da
sua identificação eda
sua essência.Femando
Joséde Almeida,
Educação
e informática: os1.1.
Primeiras
aproximaçoes
Refletir sobre a relação entre os recursos informatizados e
o
ensino/aprendizagemde línguas implica fazer
uma
escolha dentre a diversidade de aspectosque
envolvem
a temática (elementos lingüísticos, pedagógicos, sociais, econômicos, políticos, éticos etc.).Assim,
no
recorteque
aqui se pretende desenvolver, a intenção principal é discutircomo
se
pode
dar a apropriaçao desses recursos deforma
eficaz por partedo
professor.Nao
se trata,
como
já sedefendeu
acima, deuma
discussão sobre as vantagensou
desvanta-gens de seu
emprego
na
prática educativa.Acontece
que,na maior
parte dos casos, adiscussao se encerra nesse
ponto
enao
sechega
aum
realaprofundamento
de aspectosmais
importantes, sobretudo oda formação
dos professores. Isso ocorre, talvez,porque
assumir
uma
posição dualistaacaba sendo
amaneira mais
simples (ou simplista)de
seenfrentar o debate.
Reconhecer
que há
outros fatores aserem
considerados (eque
ultra-passam
esse limite) pressupõeum
certo distanciamento eum
cuidado
constante paranao
reduziro
exame
dessa relaçao auma
visaopuramente
tecnicista.Weininger
(1997, p. 104) asseveraque
HO
uso dessa tecnologia, por si só, não representanenhum
objetivo. Infelizmente,hoje
em
dia,em
algumas instituições de ensino, parece ser imprescindível poderdizer que toda didática está baseada no uso da informática.
O
ensino nada ganhacom
isso (na maioria dos casos, lucram apenas o lado empresarial da instituiçãoeo fomecedor do equipamento). _
Mas como
fazer paranão sucumbir
a essa fetichizaçãoda máquina,
com
essaimagem
de auto-suficiência todo-poderosaque
aí se insinua?É
preciso entender, antesde
mais
nada,o que
constitui especificamente o computador.Uma
primeira perspectivaa ser considerada corresponde
ao
caráter polissêmicocom
que o termo
éempregado
eque
resulta,em
certos casos,em
confusoes, sobretudoquando
se faz referência a eleem
um
ambiente
educacional.Quer-se
ressaltar,com
isso, os vários conceitos eimagens
que
ele carrega: porcomputador,
pode-se querer indicar amáquina,
em
si,ou
os pro-gramas que
estabelecem sua interaçãocom
o
usuário,ou o
meio
de comunicação toma-
do
possível pelo computador, ou, ainda, as açoesque
envolvem
amanipulaçao
eo
processamento
dedados
em
larga escala. Diante disso,Machado
(1995, p.233-234)
alerta para
o
fato deque
“Informática, Cibernética eComputação
são termosusados
Ainda que
guardem
entre si importantes e fecundas relações de interdependência, essestermos
têm
origem
edesenvolvimentos razoavelmente
independentes [...]”.O
autorconsidera, ainda,
que
Os termos que designam o computador
em
espanhol (ordenador) ouem
francês (ordinateur) são muito mais representativos da função que tais instrumentos de-sempenham do que o verbo “computar`. Trata-se de ordenar no sentido de decom-
por
uma
tarefa complexa e prepararum
algoritmo,um
caminho passo-a-passo,padronizado, para realizar determinada tarefa.
Há, portanto,
que
se clarificar as diferenças entre estestermos
e,o
que
é funda-mental, explicitar de
que
forma
eles se relacionam auma
visãodo
computador
como
recurso posto à disposiçao
de
práticas docentes específicas. Estes termosdevem
estar,portanto, subordinados a
uma
compreensão advinda
das ciênciasda
educação.De
fato,o
computador, nessa perspectiva,não
é qualquermáquina,
mas
uma
máquina
que opera
com
informações, tendouma
grande
capacidade dememorização,
transporte e transfor-mação
dessasinformações
(oque
vem
a resultarno
conceito informáticaacima menci-
onado)
em
um
tempo
muito
reduzido e,mais
importante, voltadas paraum
processode
ensino/aprendizagem
que
vaimuito além
do mero
tratamento automático de dados.Nesse
sentido, elepode
serconcebido
como
uma
extensãodo
trabalho intelectualdo
homem
(aliás, asmáquinas
sãosempre
uma
extensão de qualquer setorda
atividadehumana),
estando, portanto, sujeito a suas intervenções para a realização de ações espe-cíficas.
O
mesmo
pode
ser afirmado dos softwares,que
são produzidos paraserem
instalados nessas
máquinas,
estando sujeitos, assim, aosmesmos
condicionantesdos
computadores. Cabe, portanto, ao ser
humano
envolvidocom
as ações e os produtosdesses recursos fomecer-lhe a direção desejada.
É
nesse sentidoque
seemprega,
nestetexto, a palavra cibemética.
Segundo
Machado
(1995, p. 234), ela “origina-se da pala-vra grega kybernetes,
que
significa ‹‹timoneiro››.É
o
timoneiroque
controlao
cursoda
embarcação,
mas
elenão
éo
‹‹capitão››; ele cuidada
manutenção
da
rota,mas
não
decide sobre ela.”
Dessa
forma, a cibemética,segundo
oponto de
vista deste trabalho,deve
descrever amaneira
pela qualo
fluxo
de
informações sesubmete
às reflexõescríticas
do
usuário, contribuindo paraque
os processos automatizantesdo computador
sejam
dotadosde
um
sentidoextemo
a eles próprios. Quer-se,com
isso, quebraruma
que
seproduzem
eque
sedeixam
manipular
pelos usuáriospassam
a ser efetivamentecontroladas por estes, estabelecendo
metas
e açõesque superem o
simplesautomatismo
no
tratamento dos dados.Como
resultado,no
caso da dinâmica
de ensino/aprendiza-gem, teremos
os recursos informatizadoscolocados
a serviço das práticas docentes enao o
contrário.São
questões assimque
justificamo
esforçode
propor,em
outros termos, osconceitos
de
Informática, Cibernética eComputaçao,
tentando, enfim,compreender
aarticulação
permanente que
os interliga, a partir deuma
perspectiva específica que,neste caso, é
o
das ciênciasda
educação. Isso permite entenderde que maneira
“osignificado
de cada elemento da
tríade constrói-se a partir das relaçõesque
sãoestabelecidas
com
os outros dois.Sem
a incorporaçao de tais relaçoes,o
computador nao
passa de
uma
aparato tecnológico destinado a especialistas.”(Machado,
1995, p. 253)Retornando
à problematização inicial, a relação entre os recursos informatizadose
o ensino/aprendizagem de
línguas, Pietraróia (1997, p. 66) é categóricaquando
afinna:
“Justement, qu 'est-ce que l'informatique et les nouvelles technologies appliquées
à l 'enseignenment des langues? Pour l 'auteur de cet article c 'est tout simplement
la possibilite' de disposer
d
'un matériel riche, extrêmement rapide et permettantl'emmagasinage d 'un très grand nombre
d
'informationsUn
matériel. C'est tout.Et en tant que tel ne fonctionnant que si on lui apporte une bonne base théorique
et un changement de valeur pédagogique .”[sem grifos no original]
-*'®
Duas
questõesdevem
ser colocadas a partir das reflexõesda
autora: a primeiradelas diz respeito à
forma
pela qualo
computador tem
sido avaliado,em
boa
parte doscasos, pelos profissionais ligados à área de ensino
de
línguas.No
mais
das vezes, consi-deram-no
como
mais
um
material didáticoçquepode
ser disponibilizado aos alunosde
uma
língua estrangeira, assimcomo
as “revistas, os jornais, livros, TVI vídeo, grava-doNo
nosso
entendimento, classificá-lo dessaforma
significaria reduzirem
mui-
to seu potencial
como
instrumento, ao eliminaruma
de suas característicasmais
18 Justamente, o que é a informática e as novas tecnologias aplicadas ao ensino de línguas? Para a
autora desse artigo é simplesmente a possibilidade de dispor de
um
material rico, extremamenterápido e permitindo
um
armazenamento deum
grande número de informações.Um
material. Sóisso. E,
como
tal, só funciona se lhe dermosuma
boa base teórica euma
mudança de valorpedagógico.
19
Na
versão preliminar para discussão nacional dos Parâmetros Curriculares Nacionais - Terceiroe Quarto Ciclos do Ensino Fundamental - Língua Estrangeira-
MEC
- outubro/l997, elaboradorecentes” e, ao
mesmo
tempo, mais
interessantes para o ensino das línguas:o
da
co-municação
diretacom
falantes nativos dos diferentes países, deforma não mediada,
através
da
utilização da Intemet.Por
essa característica epor
outras tantas,Weininger
(1997, p. 107) equipara a Intemet
ao
sistemade
telefonia e aosmeios
decomunicação de
massa,
fazendo
uma
denúncia
contundente:A
rede acaba sendo consumidacomo
uma
TV
a cabo “turbinada',com
milhões decanais.
O
seu verdadeiro potencial ainda não chegou a ser percebido. Seriacomo
se alguém usasse o telefone apenas para -.ligar para serviços de anúncios,
como
o130, ou serviços de programação de cinemas ou teatros, apenas escutando a fitas,
A
o tempo todo, sem nunca falar
uma
palavra sequer na linha.A
segunda
questão, ainda referente às consideraçõesde
Pietraróia (1997), dizrespeito à observação crítica
da
autoraquando
destaca a importância deuma
base teó-rica e
de
uma
mudança
de valor pedagógico, ao associar a informática e asnovas
tecnologias
ao
ensino de línguas.A
dúvida
que
surge é:quem
irá atribuiruma
base
teórica aos materiais
em
suporte informatizado?Quem
conferirá essamudança
de valorpedagógico?
Ora, face ao reconhecimento, tácitoou
explícito, deque
essas açõesdizem
respeito prioritariamente ao professor,
cabe
outra pergunta:onde
ele vai buscar a fun-damentação
necessária para suasreflexões
e ações? Parece evidente, então,que apenas
uma
formação
sólida e consistente,que
leveem
consideração os variados aspectos en-volvidos (indo
da
lingüística aplicada à educação,passando
peloconhecimento
dos pro-cessos e instrumentos tecnológicos)
pode
responder a essas necessidades”.seguinte: “Recomenda-se que, havendo, na escola, possibilidade de acesso a revistas, jornais,
livros, tv, vídeo, gravador, computador etc., típicos do
mundo
fora da sala de aula, estesdevam
ser usados na elaboração de tarefas pedagógicas para deixar claro para o aluno: a) a vinculação
do que se faz
em
sala de aulacom
omundo
fora da sala de aula (as pessoas estão no seu dia-a-diaenvolvidas na construção social do significado); e b) as possibilidades que existem fora da sala
de aula de se continuar a aprender LE.”
20 “Sete anos separam o estabelecimento da World Wide Web
em
1990 e a explosão da Intemetcom
mais de 80 milhões de usuários
em
1997”, apud “Caderno Especial sobre Intemet”, Folha de São Paulo. 19/02/98, p. 7.21 Segundo Abrahão (1996, p. 16), “por
bom
embasamento teórico entendo a reunião deconhecimentos das áreas de Didática, Psicologia da Educação, Lingüística, Lingüística Aplicada e Metodologia do Ensino”.
1.2.
Recursos
informatizados:
método
ou
instrumento?
Em
A
Metodologia
do
Ensino
deLínguas
Estrangeiras (Rivers, 1975, p. 314), aautora afirma, a respeito
do
laboratório de línguas,que
elenão
éum
método:Não existe essa coisa de «método de laboratório de línguas››, como muitas pessoas erroneamente pressupõem.
O
gravador éuma
ferramenta,como
é o livro didáticoou o quadro-negro. Pode ser usado por
um
professor acostumado a qualquer méto-do, porém
com
maior ou menor eficácia.Com
certos métodos, qualquer tempogasto no laboratório deve ser considerado
como
perdido.Parece evidente
que
amesma
consideraçãopode
ser tecida quanto aos recursosinformatizados. N. Garrett compartilha essa
mesma
opinião,quando
afirma: “the use ofthe
computer
does not constitute amethod”.
É, antes de tudo, “amedium
inwhich
avariety of
methods,
approaches,and
pedagogical philosophiesmay
be
implemented”22.Todavia,
há
que
se levarem
consideração aspectos relevantes desses recursos eque
fazem
deles,mais
do que
uma
ferramentaou
materiais, instrumentos efetivos que, apli-cados às práticas docentes,
podem
levar auma
alteração substancial delas. Trata-sede
instrumentos bastante flexíveis, reunindo
meios
diferentes (sons, imagens, textos,hipextextos etc.),
favorecendo
uma
ampliação
das atividadesautônomasedo
aluno.No
caso, busca-se entender instrumento
da maneira
como
o
defineDe
la Taille (1990, p. 18),pensando
especificamentenos
recursos informatizados:De
fato, oçcomputador comparece às portas da escola de três formas diferentes.O
computador é, por alguns, introduzido no ensino a título de matéria, como, por
exemplo,
em
aulas de programação.O
computador é, por outros, assimilado aosrecursos tecnológicos
modemos
de ensino,como
o filme e a televisão.O
computa-dor é, por outros ainda, considerado
como
uma
versãomodema
de instrumentosanteriores criados por educadores, como, por exemplo, a máquina de ensinar. [...]
Isto posto, defenderemos aqui duas teses. Primeiramente, a de que o computador
possui características que
tomam
lícito seu empregocomo
instrumento de ensino, e isso desde o ensino de primeiro grau. Segundo, a de que sua originalidadeem
relação a outros instrumentos de ensino reside [...] na sua característica interativa e levanta, por conseguinte, a reflexão sobre a Análise de Resposta.Os
recursos informatizadosnao
sao, assim,um
método
propriamente dito,mas
também
não
devem
ser entendidoscomo
ferramentasou
materiais neutros, postos à disposiçãode
uma
abordagem
qualquer.Como
instrumentos, eles, deum
lado,tomam-
se auxiliares valiosos
no
aperfeiçoamento constante dasopções
metodológicas dos pro-22
“O
uso do computador não constituium
método”;“um
meio no qualuma
variedade de métodos,fessores, e, de outro lado,
exigem,
desdeo
início,que
estes estejam conscientesda
aplicabilidade desse instrumento às
abordagens
por eles adotadasem
suas salasde
au-las. E, para
que
isso se viabilize,nunca
édemais
ressaltar a necessidade de os professo-res estarem preparados para assimilar os
conhecimentos
necessários a sua utilizaçãoefetiva, o
que
exigeuma
formação
constante parao
uso desses instrumentos. Rivers(1975, p. 375)
não
afirmanada muito
diferente e, pela importância e profundidadede
seus comentários, vale a
pena
a citação,mesmo
sendo
elaum
pouco
longa:Há, porém, muitos outros requisitos para o professor de línguas no
mundo
moder-no. Muitos deles precisam aprimorar suas próprias habilidades lingüísticas, ou-
tros necessitam de oportunidades para manter
em
alto nível suas habilidadesaudiorais. Assim
como
mudam
as prioridades de objetivos, omesmo
acontececom
as técnicas. Novas descobertas tecnológicas trazem recursos para a salade aula e o professor deve aprender a usá-los
com
eficiência. Pode haver novasdescobertas no
campo
da lingüística ou da psicologia que sejam relevantes para seu trabalho. Ele deve estar sempre à frente dos desenvolvimentos e realizaçõesno país de origem da língua:
em
alguns casos, ele deve estudar as mudanças im-portantes que ocorrem na própria língua (um novo sistema ortográfico, expansão do léxico, complicação ou simplificação recentemente reconhecidas do sistema fonêmico, evolução de variantes estruturais). Dentro da sala de aula ele deve estar atento à avaliação de técnicas nas quais se acostumou a confiar e estar pronto a
mudá-las e adaptá-las de ano para ano a fim de aumentar a sua eficácia. Seria
imprudente para o professor confiar apenas
em
seus próprios recursos para aten-der a todos esses aspectos do seu trabalho. [sem grifos no original] .
No
entanto, aindahá
algunsque
tomam
os recursos infonnatizados (limitando-os,quase
sempre, àmáquina,
ou
seja, aocomputador)
como
método.
Em
outras palavras,é
como
se aopçao
por seuuso
constituísse,a
priori,uma
escolhametodológica
que
seimpusesse
a qualqueraçao
docente realizada dentro dessa salade
aula “tecnologizada”.Isso está por trás, por
exemplo,
do
comentário feito porValdemar
W.
Setzer,quando
discute
o
uso doscomputadores:
Se
uma
pessoa faz musculaçao oito horas por dia, ficará musculosa.E
um
progra-mador ou usuário usando
um
computador, pensando bitoladamente durante oitohoras diárias? Lógico que não desenvolverá os músculos da cabeça, mas esse pen-
samento bitolado imposto pelo computador certamente vai influenciar sua manei-
ra geral de pensar.
Além
disso, a frustração que ele sente ao não conseguirum
resultado esperado (lembremo-nos [sic] que tudo é exato)'leva-o a esquecer da
vida, só sossegando na exaustão, ou se conseguir descobrir o erro do seu programa ou o maldito comando ou parâmetro que estava faltando no uso de
um
soflware.”23
`
O
autor é docente do Departamento de Ciências da Computaçao do Instituto de MatemáticaeEstatística da USP. Esse artigo, publicado originalmente na revista
Exame
em
1996, está disponívelAo
considerarque
éo
computador
que
impõe
um
pensamento
ao usuário enão
ousuário
que
impõe
seupensamento ao computador
(e, de resto, a todos os recursosinformatizados aí envolvidos), Setzer parece
não
se dar contade
que,como
instrumen-tos, esses recursos
não
impõem
uma
lógica préviade
trabalho intelectualou
docente,mas
podem
favoreceruma
reavaliação desse trabalho e dessas práticas.O
computador
émostrado
como
limitador das açõeshumanas, impondo-se
como
uma
cadeia de restri-ções metodológicas,
quando, ao
contrário, ele pode,enquanto
instrumento, serum
amplificador e possível
meio
de
mudanças
dessas atividades todas,quando
assim o usu-ário desejar e se para isso estiver preparado.
Em
decorrência disso,quando
seentendem
os recursos infonnatizadoscomo
um
instrumento, faz se
opçao
poruma
perspectivaque
extrapolao
que
poderia serum
uso
repetitivo e
monótono. Quer-se
dizer,com
isso,que
sedeve
levarem
consideraçãoo
potencial interativo desses recursos.
Indo muito além
das ações automatizadas (eautomatizantes), eles
permitem
uma
exploraçãodinâmica
do
processode
ensino/apren-dizagem.
Por
conseguinte, é necessárioque
se estabeleçauma
propostade
utilizaçãoque desenvolva
afundo
essa potencialidade,mas
que, por outro lado, saiba prevercomo
se dará essa interatividade
com
os alunos, antecipandoum
mínimo
que
seja as respostasaos diferentes estímulos
fomecidos
pelo computador,prevendo
possíveisproblemas de
compreensão
edando
ao aluno possibilidadede
aprendercom
suas próprias dificulda-des.
Como
afirmaMarques
et alii (1986, p. 32),E com
um
computador podemos fazer isto: é preciso prever os erros possíveis ou,pelo menos, os mais prováveis, e fazer
com
que o computador respondaem
funçãodestes erros assim previstos.
Em
outras palavras, é preciso “aproveitar” o erro,pois
em
geralum
erro nunca é gratuito, casual.Em
suma,
essa interatividade dos recursos informatizados baseia-seem
algumas
de suas características
mais
evidentes. Elaspermitem que o
alunonão
apenas recebainformações
nos
diferentesmeios
(sons, imagens, textos etc.),mas
que
esse alunotam-
bém
atue (quer dizer,produza
informações) através decada
um
desses meios, estabele-cendo
um
diálogo multimediático. E,além
disso, ao possibilitaruma
certaautonomia
aoaluno, os recursos informatizados