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ALCA - Breve histórico do processo de negociações

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ALCA - Breve histórico do processo

de negociações

Sergio Henrique Leal de Souza Mestre em Direito pela UNAERP

Professor do Centro Universitário Anhanguera - Unidade Leme e-mail: sergiolea@ig.com.br

Cecília Rodrigues Frutuoso Hildebrand

Especialista em Direito Processual Civil - UNIFIAN

Professora do Centro Universitário Anhanguera - Unidade Leme e-mail: ceciliafrutuoso@yahoo.com.br

Resumo

A partir da década de 1990, o mundo passou a uma busca da globalização da economia. Para tanto houve um aceleração na integração entre os países através da formação de blocos econômicos regionais. Neste contexto os Estados Unidos da América propuseram, em 1994, a criação da Área de Livre Comércio das Américas (ALCA). Desta forma foram realizadas diversas Reuniões Ministeriais onde foram estabelecidos os objetivos e princípios norteadores das negociações, sendo o Princípio do Consenso e o Princípio Single Undertaking os mais importantes. Assim analisaremos a evolução das negociações entre os países e apontaremos eventuais vantagens e desvantagens para o Brasil, caso opte por ingressar ou não ingressar na ALCA.

Palavras-chave: ALCA, blocos regionais, globalização,

direito internacional.

Abstract

Starting from 1990 decade, the world passed to a search of the globalization of the economy. For so much there was an acceleration in the integration among the countries through the formation of regional economical blocks. In this context the United States of America proposed, in 1994, the creation of the Free Trade Area of the America (FTAA). This way several Ministerial Meetings were accomplished where they were established the objectives and principles that guides the negotiations, being the Principle of the Consensus and the Principle Single Undertaking the most important. This way we will analyze the evolution of negotiation among countries and point eventual advantages e disadvantages to Brazil, in case choose to join or not to join FTAA.

Key-words: FTAA, regional blocks, globalization,

international law.

Introdução

A grande tendência atual da globalização da economia reflete-se, principalmente, numa tentativa de liberalização de barreiras alfandegárias e fiscais ao comércio internacional.

Conforme Reinaldo Rivera, Flávia Ramos e Rachel Cruz (2003, 174) a globalização é um processo econômico, social, político e cultural, assim sintetizado:

“A globalização é, sem dúvida, caracterizada grandemente pelo aspecto econômico, porque seus efeitos, nesse campo, são facilmente visualizados: o aumento do comércio

internacional, o livre fluxo financeiro entre os países, a presença cada vez maior de investidores estrangeiros em território nacional, apenas para citar alguns desses efeitos. Mas é, também, um processo social se observarmos as ações conjuntas de vários países e de organismos internacionais para combater epidemias, a miséria em países pobres, a exploração do trabalho infantil, o analfabetismo entre outras. É, ainda, um processo político, porque os governantes muitas vezes devem decidir, mesmo em ações internas, levando na devida consideração o cenário global e suas implicações. E é, por fim, um processo cultural, porque o comportamento

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humano acaba sendo amalgamado pelos meios de comunicação, cujos avassaladores efeitos (por vezes subliminares) têm um poder jamais visto em nenhum outro processo em que o homem seja o autor e o ator. A globalização (ou mundialização) é, pois, um processo complexo que tem várias facetas, embora a econômica prepondere.”

Essa tendência concretiza-se através da formação de blocos comercias regionais, como o NAFTA (North

America Free Trade Area, em português Acordo de

Livre Comércio da América do Norte), o MERCOSUL (Mercado Comum do Sul), a UNIÃO EUROPÉIA e através dos esforços no âmbito da OMC (Organização Mundial do Comércio).

A ALCA (Área de Livre Comércio das Américas) pretende ser um desses blocos comerciais, com aproximadamente 800 milhões de habitantes e um PIB de 12 trilhões de dólares.

Englobaria a totalidade dos países da região, exceto Cuba, agregada em única zona de livre comércio, incluindo: Antigua E Barbuda, Argentina, Commonwealth das Badamas, Barbados, Belize, Bolívia, Brasil, Canadá, Chile, Colômbia, Costa Rica, Commonwealth de Dominica, Equador, El Salvador, Estados Unidos da América, Granada, Guatemala, República Cooperativa da Guiana, Haiti, Honduras, Jamaica, México, Nicarágua, Panamá, Paraguai, Peru, República Dominicana, Federação de San Kitts e Nevis, Santa Lúcia, São Vicente e Granadinas, Suriname, Trinidad y Tobago, Uruguai e Venezuela.

Antes de tratarmos especificamente da ALCA, importante demonstrarmos os 05 tipos de blocos econômicos existentes, pois a ALCA tem por objetivo ser o mais simples dos tipos de blocos econômicos, que é uma Área de Livre Comércio.

Formas de integração econômica

Dentre os 05 tipos de blocos econômicos temos: - Área de Livre Comércio (Ex.: NAFTA): um determinado nº de países prevê a eliminação das barreiras tarifárias e não-tarifárias existentes em sua relação comercial, mas mantendo políticas comerciais independentes em relação a países que não fazem parte do acordo. Pela regras da OMC, a Área de Livre Comércio tem o prazo de 10 anos para “eliminar substancialmente” as barreiras, sendo entendido como 85% dos produtos comercializados. Para os 15% restantes, podem ser negociados prazos mais dilatados.

Segundo Odete Maria de Oliveira (2000, 36): “É a forma mais antiga e simples de integração econômica, prevendo completa eliminação de obstáculos tarifários ou de qualquer outro tipo de obstáculo ao comércio de mercadorias entre os Estados participantes, os quais mantêm suas independências comerciais em relação a terceiros países. Tem como um dos principais problemas, essa área de livre comércio, evitar o intercâmbio comercial de bens importados de terceiros países dentro da zona de integração, isentos de tarifas ou qualquer outro encargo comercial, aplicados geralmente aos bens procedentes de terceiros países.”

- União Aduaneira (Ex.: Comunidade Econômica Européia): há um aprofundamento das características da Área de Livre Comércio, onde os países-membros passam a ter uma Tarifa Externa Comum (TEC), que deverá ser aplicada à entrada de produtos de terceiros países.

Nesse segundo tipo de integração econômica, os Estados-Membros, além de instituírem o livre comércio entre si, passam a aplicar as mesmas tarifas e as mesmas políticas comerciais aos produtos provenientes de fora da região.

Assim os Estados-Membros perdem o poder de condução de sua política comercial para com terceiros países, porém passam a evitar o chamado desvio de comércio.

Para Suzana Camargo Vieira (2004, 88), além das disposições concernentes às Áreas de Livre Comércio estende o compromisso aos negócios com terceiros Estados:

“A União Aduaneira alcança todas as disposições da etapa anterior e estende o compromisso aos negócios com terceiros Estados. Nesta etapa do processo de integração, os Estados pactuantes têm determinado grau de gregarismo, e fica constituída uma tarifa externa comum. O bloco econômico passa a comercializar representando todos os Estados-Membros, atraindo para si as realizações de acordos com novos parceiros negociais.”

- Mercado Comum (Ex. Mercosul, Pacto Andino): significa a efetiva circulação de bens, pessoas, capitais e serviços.

“Mercado Comum trata de uma zona de livre comércio e de uma união aduaneira que permitam a livre circulação de fatores e serviços nos Estados-Membros, isto é, a liberação de bens, capitais, serviços e pessoas, com a eliminação de toda forma de discriminação”, de

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acordo com o que preceitua ODETE. (OLIVEIRA, 2000, 38).

No Mercado Comum deve ocorrer a livre circulação de pessoas, ou seja, os trabalhadores de um Estado que faça parte do bloco poderá procurar oportunidades de trabalho nos outros Estados-Membros do bloco, se o trabalhador não encontra emprego na economia do seu país de origem, poderá o mesmo buscar colocação nas economias dos demais Estados.

Já a circulação de serviços, significa a liberalização do comércio de serviços o que implica na eliminação de leis, normas e regulamentações nacionais que discriminam, ou impeçam, o fornecedor estrangeiro de oferecer determinado serviço, e que protejam o fornecedor nacional de determinado serviço.

No Brasil, como exemplo de abertura do setor de serviços temos o que ocorreu no setor de telecomunicações, que foi aberto na década de 1990 para exploração por empresas de capital estrangeiro, o que resultou em grande evolução neste setor.

A livre prestação de serviços assegura que todas as pessoas possam, além de circular livremente, optar por se estabelecer ou prestar serviços em qualquer um dos Estados Membros.

Segundo Elizabeth Accioly (2003, 30) livre circulação de bens implica na abertura de fronteiras externas e no desmantelamento das barreiras alfandegárias, para que os produtos passem a circular livremente entre os Estados que fazem parte do processo integrativo.

A livre circulação de capitais é inerente ao mercado comum, pois se o indivíduo pode trabalhar, prestar serviços em qualquer dos Estados Membros, o capital necessário para o exercício dessas atividades também deve ter liberdade para circular.

Conforme Mota de Campos (2201, 534): “Em qualquer caso, o trabalhador migrante pretenderá transferir livremente para o seu país as economias que consiga realizar: o empresário que se estabelece carece de poder movimentar os capitais necessários para realizar o investimento produtivo que tem em vista - isto é, para comprar terrenos, construir ou adquirir edifícios, comprar equipamentos necessários - e para repatriar mais tarde, livremente, os seus lucros ou mesmo o produto da alienação do seu patrimônio; tal como o profissional independente quererá transferir a remuneração dos serviços que prestou. Não há dúvida: a realização dos objetivos comunitários exige a livre circulação dos fatores de produção - trabalhadores, assalariados, empresários, prestadores e

utilizadores de serviços e bem assim dos capitais necessários ao processo de desenvolvimento econômico.”

Além de avançar em direção à liberação dos fluxos comerciais, o Mercado Comum dirige-se à plena liberdade de circulação de bens, pessoas, serviços e capitais, imprimindo dinâmica e singular mobilidade ao processo, o que requer medidas de destacada condução política de harmonização às condições desiguais dos Estados-Membros.

De acordo com Suzana Camargo Vieira (2004, 88):

“O Mercado Comum caracteriza-se, além das atribuições anteriores, pela livre circulação de bens, pessoas, serviços e capitais entre os Estados-Membros do bloco econômico. A limitação da fronteira deixa de ter pertinência comercial, aderindo todos os Estados pactuantes ao processo de integração, reduzindo o papel das atribuições exclusivamente soberanas.”

- União Econômica e monetária (Ex.: União Européia): significa uma forte transferência de soberania, já que nessa fase é um requisito fundamental que a política monetária e também cambial, passem para a competência da comunidade, pois o controle da moeda, um dos elementos essenciais da soberania nacional, é transferida para a esfera dos poderes comunitários.

De acordo com Odete Maria de Oliveira (2000, 39):

“Trata-se de um mercado comum onde são introduzidas as harmonizações de determinadas políticas comuns, diferenciadas das políticas puramente comerciais das etapas anteriores: Política Agrícola, Ambiental, Regional, Industrial, Transporte, Comunicação, Competência, Coesão Econômica e Social etc., e, especialmente as políticas macroeconômicas. Para o bom funcionamento de uma união econômica, a harmonização das políticas monetária e fiscais são elementos essenciais.”

Para Suzana Camargo Vieira (2004, 88): “... é a etapa na qual a integração é realizada plenamente. A celebração de um tratado garante juridicamente, a integração, minimizando as atribuições monetárias, tais como emissão e controle da moeda, e políticas, elencadas sob a rubrica das decisões de alcance supranacionais, de cada um dos Estados pactuantes. Todavia, a centralização das decisões nos órgãos do bloco econômico estabelece o arrefecimento da

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independência nacional.”

- União Total ou União Econômica e Política: Esta fase implica o livre deslocamento de bens, serviços e fatores de produção, além de completa igualdade de condições para os agentes econômicos, pois o acordo prevê idênticas políticas fiscais, sociais e monetárias, administradas por autoridades supranacionais. As decisões dessas autoridades devem ser acatadas por todos os Estados-Membros.

Além da coordenação e unificação das economias nacionais dos Estados-Membros, há um Parlamento Comum, uma Política Exterior de Defesa e Segurança e de Interior de Justiça também comuns.

Conforme esclarece Odete Maria de Oliveira (2000, p. 39-40):

“Dentro do processo de integração econômica, a União Européia caracteriza a comunidade econômica regional mais evoluída e complexa ao lato de toas as outras organizações. Presentemente, encontra-se galgando a etapa de união econômica e monetária para, finalmente, atingir a fase de união total, o que configurará o último patamar dos modelos da integração econômica. A Comunidade Européia foi vencendo gradativamente o modelo tradicional apresentado pelo processo da integração: zona de livre comércio, união aduaneira e mercado comum. A partir do Tratado do Ato Único Europeu (1986) e posteriormente, pelo Tratado de Maastricht (1992), a integração da comunidade definiu seu objetivo em direção da união total, por etapas: mercado único, união econômica e monetária e união política, consolidando a primeira dessas fases, de mercado único, em1993, através da harmonização das políticas econômicas, com precisão de atingir o estágio de união econômica e monetária em 1999 e, posteriormente, concretizar a etapa final de união política, a União dos Estados Unidos da Europa, possivelmente mediante a forma de federação ou de federação e de acordos intergovernamentais, sua atual caracterização.”

Analisados os tipos de blocos econômicos, passaremos a tratar da ALCA propriamente dita.

Evolução das negociações

O embrião da formação de Área de Livre Comércio nas Américas foi lançado em 1990, pelo então presidente norte-americano George Bush, denominado

de Iniciativa para as Américas.

Este projeto foi retomado em 1994, por Bill Clinton, ex-presidente dos Estados Unidos, na conhecida Cúpula das Américas, quando os Chefes de Estado e de Governo de 34 países das Américas do Sul, Central, do Norte e Caribe acordaram a necessidade de iniciar um processo de negociação para integração econômica e lançaram oficialmente o processo de negociação da ALCA, que seria criado até o ano de 2005.

Em 1995, realizou-se a primeira reunião, ocorrida em Denver, Estados Unidos, com o objetivo de preparar o início das negociações sendo estabelecido 07 grupos de trabalho para balizar o processo evolutivo das discussões: Acesso a Mercados; Procedimentos Aduaneiros e Regras de Origem; Investimentos; Normas e Barreiras Técnicas ao Comércio; Medidas Sanitárias; Subsídios, Antidumping e Direitos Compensatórios; e, Economias Menores.

Roberto Luiz Silva (2004, p. 470), estabelece as premissas fixadas em Denver:

“Foram definidas as premissas que orientariam as negociações e a eventual criação da alca, além de prever os princípios reguladores de suas negociações, quais sejam: que as normas da Alca deveriam ser consistentes com as normas da Organização Mundial do Comércio (OMC); que a Alca deveria satisfazer os requisitos de regionalismo aberto e não servir ao protecionismo contra países estanhos à organização; e, que a Alca deveria abranger não somente o comércio internacional, como também o acesso a mercados, subsídios, políticas

antidumping, medidas compensatórias, padrões

sanitários e fitossanitários, padrões técnicos e resolução de disputas entre partes no comércio regional, como também os serviços, investimentos e compras governamentais, as normas de proteção à propriedade intelectual, o direito da livre concorrência na organização e nos Estados que a compõem, bem como a legislação trabalhista e ambiental. Por fim, previu-se que, para aderir à organização os países teriam que concordar com a totalidade dos acordos, não havendo direito a veto a nenhum deles.”

Em março de 1996, em Cartagena, Colômbia, foram criados 04 novos grupos de trabalho: Compras Governamentais; Serviços; Propriedade Intelectual; e Direito de Concorrência.

A cidade de Belo Horizonte, Brasil, sediou a Reunião Ministerial de 1997, onde foi aprovado um dos

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mais importantes princípios da Alca, o SINGLE

UNDERTAKING, que diz que nada está negociado até

que tudo esteja negociado. Isto quer dizer que não adianta obtermos o consenso em compras governamentais e deixarmos a agricultura de lado, por exemplo. Enquanto não conseguirmos chegar a um consenso em tudo, nada é definitivamente aprovado.

Roberto Teixeira da Costa (2001, p. 105-106), elenca ainda os seguintes pontos que foram estabelecidos em Belo Horizonte:

- O consenso como princípio fundamental do processo decisório da Alca; o sentido de que os acordos e decisões da Alca constituirão um empreendimento único (Single Undertaking);

- A coexistência da Alca com acordos bilaterais e sub-regionais de integração e de livre comércio mais amplos ou profundos;

- A compatibilidade com os acordos da OMC; - A possibilidade de os países negociarem individualmente ou em bloco, como integrantes de um grupo de integração sub-regional;

- A necessidade de estabelecer uma secretaria administrativa de caráter temporário para prestar apoio às negociações; e

- O ano de 2005 para a conclusão das negociações; e a transformação da reunião de vice-minitros de Comércio em Comitê Preparatório das negociações.

A 4ª Reunião Ministerial da Alca ocorreu em São José da Costa Rica, marcou o final da fase preparatória e o início efetivo das negociações, com a criação do Comitê de Negociações Comerciais, que passou a ser uma espécie de comandante do processo de integração. Foi ainda decidido que o objetivo geral das negociações seria: “... estabelecer uma área de livre

comércio no continente, na qual serão progressivamente eliminadas as barreiras ao comércio de bens e serviços e aos investimentos, concluindo-se as negociações no mais tardar até 2005 e alcançando progressos até o final deste século”

(Declaração Ministerial de San Jose).

As negociações foram estruturadas da seguinte forma:

- Reunião de Ministros: responsável pela supervisão e direção superiores das negociações, a convocar-se pelo menos a cada 18 meses;

- Comitê de Negociações Comerciais: integrado pelos vices-ministros responsáveis por Comércio, encarregado da orientação permanente das negociações, a reunir-se pelo menos semestralmente;

- Nove Grupos de Negociação: acesso a

mercados; investimentos; serviços; compras governamentais; solução de controvérsias; agricultura; direitos de propriedade intelectual; subsídios, antidumping e medidas compensatórias; e políticas de concorrência; e

- Três instâncias não negociadoras: Grupo Consultivo sobre Economias Menores, Comitê de Representantes Governamentais sobre a Participação da Sociedade Civil e Comitê Conjunto de Peritos do Governo e do Setor Privado sobre Comércio Eletrônico. Também foi definido o sistema de presidência do processo da Alca, que seria rotativa e caberia ao mesmo país que sediaria a Reunião Ministerial subseqüente e presidir o Comitê de Negociações Comerciais, de acordo com o cronograma a seguir: Canadá de maio de 1998 a outubro de 1999, Argentina de novembro de 1999 a abril de 2001, Equador de maio de 2001 a outubro de 2002, e co-presidência entre o Brasil e Estados Unidos de novembro de 2002 a dezembro de 2004, ou até a conclusão das negociações.

Na Reunião de Toronto, Canadá, em Novembro de 1999 foi estabelecido que os Grupos de Negociação deveriam apresentar uma Minuta dos respectivos capítulos, sendo estes: agricultura; compras do setor público; investimentos; acesso a mercados; subsídios, antidumping e medidas compensatórias; solução de controvérsias; serviços; direitos de propriedade intelectual e defesa da concorrência.

Em 2001, foi realizada a 6ª Reunião Ministerial em Buenos Aires, onde foi criado o Comitê Técnico para Assuntos Institucionais, que tinha a missão de decidir sobre a estrutura geral do Acordo.

Também em Buenos Aires houve a confirmação das datas para a conclusão das negociações, que é janeiro de 2005, e a entrada em vigor, até dezembro de 2005.

Em abril de 2001, realizou-se a 3ª Cúpula das Américas na cidade Quebec, Canadá, onde foi estabelecido pelos Chefes de Estado e Chefes de Governo prazos para a conclusão e implementação do Acordo da Alca, constando da Declaração de Quebec:

“Instruímos nossos ministros a assegurar que as negociações do Acordo Alca sejam concluídas, o mais tardar, em janeiro de 2005, para buscar sua entrada em vigor o quanto antes, até, no máximo, dezembro de 2005.”

Importante ressaltar o discurso do Presidente Fernando Henrique Cardoso, onde estabeleceu as condições básicas para que o Brasil entrasse na Alca:

“A Alca será bem-vinda se sua criação for um passo para dar acesso aos mercados mais dinâmicos; se

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efetivamente for o caminho para regras compartilhadas sobre antidumping; se reduzir as barreiras não-tarifárias; se evitar a distorção protecionista das boas regras sanitárias; se, ao proteger a propriedade intelectual, promover, ao mesmo tempo, a capacidade tecnológica de nossos povos”.

Na 7ª Reunião Ministerial, realizada em Quito, Equador, foi apresentado a Segunda Minuta do Acordo

Alca

Na reunião do Panamá, maio de 2002 foi acordado a negociação propriamente dita. Foram estabelecidos os seguintes prazos:

- Foi estabelecido o prazo pra notificação da tarifa-base, entre 15/08/2002 e 15/10/2002, sendo que ao Mercosul foi dada uma flexibilidade de poder alterar essa notificação até 15/04/2003.

- A 2ª fase da negociação de acesso a mercados é a apresentação da lista de ofertas, entre 15/12/2002 e 15/02/2003;

- A 3ª fase é de apresentação de pedidos de melhoria das ofertas entre 16/02/2003 e 25/06/2003;

- A 4ª fase e o início do processo de apresentação de ofertas revisadas em 15/07/2003.

Esse é o período principal das negociações, é nesse processo que efetivamente veremos as intenções reais dos países.

Foi realizada a 8ª Reunião Ministerial em Miami, em 20 de novembro de 2003, onde, conforme Roberto Luiz Silva (2004, 473):

“... os ministros reiteraram seu compromisso de implementar a Área de Livre Comércio das Américas até janeiro de 2005, mesmo que os países assumam diferentes níveis de compromisso, a partir de um acordo básico para todos e um aprofundamento nos temas que quiserem e com as nações que desejarem (Alca light), segundo os preceitos da Terceira Minuta”.

Surgiu assim, em Miami, a Alca light, o que significou o fim da aplicação do Princípio Single Undertaking, deixando os países livres para ingressarem nos acordos que fossem de seu interesse.

Em 2005, aconteceu a 4ª Cúpula das Américas, onde a Venezuela, capitaneada por seu Presidente Hugo Chávez, o Brasil e a Argentina, somaram esforços para tentar emperrar o processo negociador, ou seja, buscaram por fim às negociações para formação da Alca.

Objetivos e Princípios

Casella (2004, 523), de forma sucinta nos apresenta os objetivos e princípios norteadores

negociados ao longo de todas as reuniões: Os objetivos são:

a) a liberalização do comércio a fim de gerar crescimento econômico e prosperidade, contribuindo para a expansão do comércio mundial;

b) gerar níveis crescentes de comércio de [mercadorias][bens] e serviços, e de investimento, mediante a liberalização dos mercados, por meio de regras [justas claras, estáveis e previsíveis; ] [justas, transparentes, previsíveis, coerentes e que não tenham efeito contraproducente ao livre comércio; ]

c) melhorar a concorrência e as condições de acesso ao mercado de bens e serviços entre as partes, incluindo a área de compras do setor público;

d) eliminar obstáculos, restrições e/ou distorções desnecessárias ao livre comércio entre as partes, [inclusive práticas de comércio desleal, medidas pára-tarifárias, restrições injustificadas, subsídios e apoio interno ao comércio de bens e serviços]; e) eliminar as barreiras ao movimento de capitais e pessoas de negócios entre as partes;

f) propiciar o desenvolvimento de um infra-estrutura hemisférica que facilite a circulação de bens, serviços e investimentos;

g) estabelecer mecanismos que garantam um maior acesso à tecnologia, mediante a cooperação econômica e a assistênca técnica.

Os princípios que regem a Alca são:

a) as regras acordadas deverão ser claras, transparentes e estáveis, para evitar a possibilidade de que qualquer parte possa aplicar medidas unilaterais, arbitrárias e/ou discricionárias, em detrimento de uma ou várias das demais partes; b) a transparência nas ações das partes e dos órgãos estabelecidos neste Acordo;

c) a congruência dos direitos e obrigações que emanem do presente Acordo com as regras e disciplinas da Organização Mundial do Comércio (OMC);

d) a coexistência deste Acordo com acordos bilaterais e sub-regionais, na medida em que os direitos e obrigações decorrentes desses acordos tenham maior alcance que os deste Acordo; e) o tratamento especial e diferenciado, considerando as amplas diferenças nos níveis de desenvolvimento e tamanho das economias das partes, para promover a plena participação

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das partes;

f) a adoção de decisões por consenso; g) a igualdade soberana das partes;

h) a boa-fé no cumprimento dos compromissos assumidos pelas partes no marco do Acordo.

Vantagens e desvantagens

Muito se discute no Brasil se a Alca será ou não vantajosa, mas alguns pontos são essenciais para um debate racional, conforme demonstra Marcos Sawaya Jank (2002, A2):

1º - Resistência Precoce: as principais críticas e objeções encontram-se nos EUA e no Brasil. Não devemos simplesmente negar a possibilidade de firmarmos um acordo com a maior potência econômica mundial, sem que conheçamos as propostas de todos os países envolvidos. O Brasil deve negociar, ouvir as propostas, e, a partir de então verificar se se trata de um acordo bom um ruim para o país como um todo. Portanto, o plebiscito, promovido pela CNBB e MST, entre os dias 1º e 07 de Setembro de 2002, é extemporâneo, pois só fomos conhecer as propostas a partir do dia 15 de Janeiro de 2003.

2º - Custa da não-participação: Alguns entendem que o Brasil deve deixar de imediato as negociações para a criação da ALCA. Ocorre que tal atitude soa um tanto disparatada, sem que se faça uma análise objetiva e técnica do custo da não-participação no bloco. Cerca de 70% das exportações brasileiras manufaturadas são destinadas às Américas como um todo, em grande parte como resultado de acordos de preferência negociados pelo país desde os anos 1960. A não-participação do Brasil poderá trazer desvios de comércio e investimentos. Assim, o Brasil é obrigado a negociar, mas não deverá aceitar qualquer acordo proposto, principalmente pelos Estados Unidos.

3º - Alternativas à não-participação: A única possibilidade no momento é o acordo que está sendo negociado entre a União Européia e o Mercosul, que poderá trazer os mesmos resultados negativos da ALCA, caso seja mal negociado pelo Brasil.

O Brasil, em todas as frentes atuais de negociação comercial (OMC, ALCA e União Européia), defende a liberalização comércio agrícola. Este é um ponto fundamental para o Brasil, pois trata-se do setor onde temos maior competitividade e potencialidade a ser explorada.

O Brasil também defende a abandono de Mecanismos Unilaterais de Proteção, ou seja, medidas que visam o protecionismo, principalmente os praticados

pelos EUA. Dentre estas medidas encontra-se as normas antidumping, de salvaguardas e cotas, muitas vezes estabelecidas pelos norte-americanos simplesmente para proteger determinado segmento da indústria.

Caso o Brasil não consiga avanços consideráveis nestas duas áreas, a ALCA tende a ser um acordo ruim para todo o setor produtivo brasileiro.

Os principais argumentos contrários à adesão do Brasil são expostos de modo claro José Augusto Guilhon Albuquerque (2001, 14) que apresenta os seguintes fatos: a) O Brasil é um global trader, ou seja, temos um perfil de comércio bem equilibrado internacionalmente e possui interesses em todas as regiões do mundo. Um acordo regional como o da Alca não teria grande relevância comparativamente ao comércio exterior do país. b) A superioridade do Mercosul: o Mercosul, como viria depois a definir de maneira magistral o chanceler Celso Lafer, é um destino, enquanto a Alca é apenas uma opção. O Mercosul não é apenas comercial, mas também política, cultural, etc. Além disso, o Mercosul não embute desigualdades de dimensões da mesma ordem que a Alca incluiria. Essa superioridade do Mercosul exige conceder-lhe toda a prioridade e, além disso, abster-se de qualquer engajamento que possa vir a torna-lo menos do que prioritário;

c) Do desinteresse/unilateralismo americano: as prioridades dos EUA estariam na Europa e na Ásia Pacífico, portanto a negociação da Alca seria uma mera ação diversionista visando, no mínimo limitar a integração no Cone Sul, e, no máximo, inviabiliza-la, de modo a manter o restante do continente sob sua dependência;

d) A União Européia: um acordo com a União Européia seria mais vantajoso para o Brasil por razões de natureza diversas, desde o paralelismo entre os dois modelos de integração até o interesse análogo em limitar a hegemonia americana, passando pelo caráter menos unilateral das políticas comercias européias, enfim pela maior facilidade de acesso aos seus mercados; e e) Sucateamento Nacional: partindo do pressuposto da maior competitividade global da economia americana e do déficit crescente na balança comercial bilateral, conclui-se que a indústria e o setor de serviços no Brasil seriam sucateados na hipótese de um aumento da competição com os EUA, por duas razões diferentes e complementares. O acesso mais fácil ao mercado interno impulsionaria uma fuga de

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plantas industriais de empresas americanas, uma vez que suas matrizes poderiam exportar para o Brasil a custo menor e, por outro lado, o aumento da competição levaria à falência as indústrias de capital não americano aqui implantadas.

Conclusão

As ofertas iniciais feitas pelos EUA são totalmente prejudiciais aos países do MERCOSUL, pelo fato de terem dividido as Américas em 03 partes, e cabendo ao MERCOSUL a proposta mais superficial em termos de abertura.

Mas o que devemos ter em mente, nós brasileiros, é a real necessidade de negociarmos, estarmos presentes nestas negociações para demarcarmos os nossos interesses, e não devemos simplesmente deixar as mesas de negociações.

Haverão setores que serão ameaçados e outros beneficiados. Neste processo de negociação deve prevalecer o interesse maior do País como um todo, e não o interesse individual de setores que ganharão ou que perderão com a formação do bloco econômico.

Muito se fala que os EUA é o país de menores tarifas para importação de produtos, porém quando se trata de produtos oriundos do Brasil a realidade é outra. Em estudo elaborado pela Embaixada brasileira em Washington, conduzido pelo Embaixador Rubens Barbosa, ficou constatado que a tarifa média americana é de 4%, e a nossa de 13%. Porém, quando analisados somente os 15 principais produtos que o Brasil mais exposta para os EUA, a tarifa média americana é de 36%, e nos 15 produtos que o Brasil mais importa dos EUA a tarifa média é de 14%.

O açúcar de cana é taxado em 236%, quando excede a sua cota, o fumo em 350%, os chinelos chegam a ter tarifas de 55% a 78,6%, suco de laranja 44,7%.

Entendo que o Brasil deva negociar e preparar-se para a ALCA, iniciando a lição de casa para reduzir o chamado “Custo Brasil” (juros altos, carga tributária elevada, custos logísticos) pois tanto a ALCA, como os outros acordos em andamento (OMC e União Européia), tratam-se de empreendimentos difíceis e de grandes riscos para toda a sociedade brasileira.

Dentre os setores ameaçados, usualmente citam-se os citam-seguintes: alta tecnologia, como, informática, telecomunicações, química fina, fibras óticas, aeronáutica de grande porte. Em estudo divulgado pela ALADI (Associação Latino-Americana de Integração), esta informa que os setores mais ameaçados são: Máquinas e equipamentos; Tratores; Veículos de Passeio,

Autopeças; Papel e Celulose; Plásticos; Químicos e Eletroeletrônicos. Todos setores de produtos de maior valor agregado.

Entre os setores beneficiados estariam: Têxtil; Carne; Aço; Calçados; Vestuário; Couro; Alimentos Processados (Suco de Laranja); Café; Frutas; Açúcar e Álcool. Estes setores serão beneficiados com a extinção de medidas protecionistas impostas pelos Estados Unidos, tais como: salvaguardas, cotas, medidas antidumping, medidas sanitárias e fitossanitárias.

Na negociação boa há um equilíbrio entre os participantes, e negociação boa não é aquela em que um ganha e o outro perde. Durante as negociações para a ALCA deve-se buscar a atenuação, e não o agravamento, das disparidades na região.

Para concluir, segue transcrição do Embaixador Luiz Felipe Lampreia (2004,101):

“Creio que devemos perseguir a fundo a defesa de nossos interesses para então depois, mais adiante, quando estiver a arquitetura da ALCA melhor desenhada, verificarmos se há ou não interesse do Brasil em participar dela. Mas acredito que qualquer idéia de que nós possamos nos separar da negociação, sair desse processo nesse momento, seria uma idéia muito perigosa e muito negativa para nós, que criaria condições talvez mais difíceis de que antes estarmos dentro dela conforme os resultados.”

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Recebido em 04 de maio de 2007 e aprovado em 20 de junho de 2007.

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