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Risco e contingência: a evolução dos sistemas da teoria de Niklas Luhmann.

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RISCO E CONTINGÊNCIA: A EVOLUÇÃO DOS SISTEMAS DA TEORIA DE NIKLAS

LUHMANN

RISK AND CONTINGENCY: THE EVOLUTION OF THE SYSTEMS OF NIKLAS

LUHMANN

Emanuele Pezati Franco de Moraes Gustavo Assed Ferreira** Resumo: Niklas Luhmann inova na sua

intitulada teoria dos sistemas quando descreve a sociedade contemporânea analisando todo o conjunto econômico-político-social. Nesta teoria o Sociólogo visualizou a evolução social mediante mutações de seus próprios elementos sistêmicos, caracterizou os sistemas como hermeticamente fechados, porém, cognitivamente abertos e esse mecanismo de comunicação compôs o denominado sistema autopoiético autônomo. O Autor destaca que a comunicação (abertura cognitiva dos sistemas) é de extrema importância, pois é da comunicação que surgem as irritações internas. As irritações internas podem ser consideradas as raízes da evolução dos diversos sistemas, pois são traduzidas em alterações dos próprios elementos do sistema irritado. Assim, as irritações conceberam a sociedade contemporânea caracterizada pelas mudanças nos elementos internos do sistema, quais sejam: contingência, expectativa, complexidade e risco. Perante recorte metodológico do trabalho, analisou-se a descrição da evolução dos sistemas pela ótica

Recebido em 21/08/2018. Aprovado em 17/12/2018.

Mestranda Direito no programa de Desenvolvimento no Estado Democrático de Direito na Faculdade de Direito de Ribeirão Preto da Universidade de São Paulo (Ribeirão Preto, SP, Brasil). Bacharel em Direito pelo Centro Universitário de Rio Preto (São José do Rio Preto, SP, Brasil).

** Professor Associado na Graduação e Pós-Graduação da Faculdade de Direito de Ribeirão Preto da Universidade de São Paulo (Ribeirão Preto, SP, Brasil). Livre docente em Direito Internacional dos Investimento pela Faculdade de Direito de Ribeirão Preto da Universidade de São Paulo (Ribeirão Preto, SP, Brasil). Doutor em Direito pela Universidade Federal de Santa Catarina (Florianópolis, SC, Brasil). Mestre em Direito pela Universidade de Ribeirão Preto (Ribeirão Preto, SP, Brasil). Bacharel em Direito pela Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho (Franca, SP, Brasil).

das mutações dos elementos contingência e risco. Logo, a pergunta que deve ser respondida com o trabalho é: Niklas Luhmann ofereceu na teoria da evolução dos sistemas de um referencial teórico capaz de auxiliar a sociedade e descrever como os sistemas progridem, sob a ótica dos conceitos de contingência e risco perante o desenvolvimento social? O plano de pesquisa foi pautado na revisão literária, utilizando-se dos métodos dedutivo e indutivo de Marconi e Lakatos. Partiu-se da análise de textos doutrinários e artigos para atestar a hipótese de evolução dos sistemas pelas irritações ocasionadas nos elementos contingência e risco advindo da comunicação entre sistemas e subsistemas. Desta feita, pretende o trabalho ilustrar como a teoria da evolução dos sistemas autônomos autopoiéticos pode colaborar com a descrição da evolução sócio-político-econômico no conceito de desenvolvimento social.

Palavras-chave: Evolução da teoria dos

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ISSN 1980-8860

RVMD, Brasília, V. 12, nº 2, p. 198-217, jul. -dez. 2018 E-mail: rvmd@bol.com.br

Abstract: Niklas Luhmann innovates in his

called theory of systems when he describes contemporary society analyzing the whole systems economic-political-social. In this theory the Sociologist visualized the social evolution through mutations of its own systemic elements, characterized the systems as hermetically closed, but, cognitively open and this mechanism of communication composed the called autonomous autopoietic system. The author points out that the communication (cognitive openness of systems) is of utmost importance, since it is communication that arise internal irritation. Internal irritations can be considered the roots of the evolution of the various systems, as they are translated into changes in the elements of the irritated system itself. So irritations designed contemporary society characterized by changes in the internal elements of the system, called: contingency, expectations, complexity and risk. In a methodological cut of the work, the description of the evolution of the systems was analyzed by the perspective of

the contingency and risk elements mutations. Therefore, the question that must be answered with the work is: Niklas Luhmann offered in the theory of systems evolution a theoretical framework capable of helping society and describing how systems progress from the standpoint of concepts of contingency and risk to social development? The research plan was based on the literary revision, using the deductive and inductive methods of Marconi and Lakatos. It started from the analysis of doctrinal texts and articles attest to the hypothesis of evolution of systems caused by irritation to the contingency risk arising from the elements and communication between systems and subsystems. This paper intends to illustrate how the theory of evolution of autopoietic autonomous systems can contribute to the description of socio-political-economic evolution in the concept of social development.

Keywords: Evolution of systems theory; social

contingency; social risk.

SUMÁRIO: Introdução 1. Conceitos edificantes da teoria dos sistemas de Luhmann 2. Risco e Contingência na Evolução dos Sistemas Autopoiéticos. Conclusão. Referências.

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INTRODUÇÃO

Niklas Luhmann edificou a teoria dos sistemas realizando uma releitura de como pode ser a aplicação do esquema de Darwin variação/seleção/estabilização aos sistemas autopoiéticos. Esse esquema darwiniano é aplicado, certeiramente, na análise das irritações causadas nos sistemas advindos da comunicação entre eles.

O Autor demonstra que, aos dias de hoje, se revela inadequada a ciência cartesiana que analisava a evolução social pelos eventos naturais e sociais de forma fragmentada e desconexa como era colocada pelos sociólogos clássicos.

Isto quer dizer que, de acordo com a teoria dos sistemas autopoiéticos desenvolvida por Niklas Luhmann a evolução da sociedade ocorre em consequência ao processo de comunicação, causa das irritações nas expectativas sistêmicas. Este processo leva ao aumento do risco interno no sistema, que é obrigado a rever suas expectativas, ou seja, aumenta a contingência na tentativa de diminuir as complexidades causadas pelas interlocuções de seus próprios elementos.

Toda essa operação será mais bem pormenorizada no decorrer da primeira parte do trabalho, sendo testada na segunda parte quando comparada a descrição clássica de desenvolvimento social.

Deste modo, a primeira parte do artigo traz as premissas básicas da teoria dos sistemas de Luhmann. O intuito não foi esgotar o tema, posto que, demasiadamente profundo não seria possível abarcar a complexidade dos conceitos neste trabalho.

Nesse prisma, tão somente, apresentou-se a priori os referenciais conceituais para alcançar o entendimento da operação descrita ocorrida no processo de evolução social sistêmica no desenvolvimento da sociedade atual.

Para isto, destacam-se os conceitos de autopoiese, autoorganização ou autorreferência, comunicação sistêmica, sistema e meio/entorno, fechamento operativo do sistema, complexidade social, contingência social, redução da complexidade, expectativas sistêmicas, seletividade e risco.

Destes pilares edificantes da teoria dos sistemas é importe ter em mente, conforme introdução acima, que a comunicação entre os sistemas autopoiéticos ou entre os

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subsistemas é peça chave e fundamental para a evolução da sociedade, ou seja, os sistemas apesar de serem hermeticamente fechados são cognitivamente abertos. Isto significa que a comunicação entre eles gera as irritações que produzem as alterações ocasionadas nos elementos sistêmicos que, por sua vez, ocasiona a evolução do sistema irritado, haja vista que o interno deverá realizar uma nova seleção que será o resultado da autopoiesis.

A segunda parte do trabalho pretende elucidar como Luhmann utiliza os conceitos de contingência e risco para descrever como operacionalizaria a fagocitose nas irritações advinda da contingência e no processo de seleção e adaptação a estes estímulos.

Esta operação será colocada sobre o conceito e a descrição do desenvolvimento da sociedade industrial do século passado para a sociedade atual.

Na descrição do Autor, a complexidade e a contingência do sistema social atual especializaram os riscos sistêmicos, ou seja, as ações humanas artificiais resultaram em inimagináveis incertezas produzidas ao estado natural.

Luhmann aponta que contingente é todo o entorno capaz de irritar o interno, essa operação de seleção das expectativas visa diminuir a complexidade do sistema, que por sua vez, atualmente, torna-se tarefa cada vez mais complexa.

A redução das expectativas teria o condão de controlar ou reduzir os riscos, entretanto, em um paradoxo social tal operação acaba por aumentar a complexidade sistêmica. Para o autor, diante do crescimento da complexidade, consequentemente, haveria a evolução da operação, ou seja, a sociedade se desenvolveria.

Nesse sentido, o presente trabalho busca descrever e esclarecer como a teoria dos sistemas contribuiu para retratar de forma inovadora a evolução social, analisando os elementos do sistema e descrevendo como eles se transformam.

Para isto, utilizou-se o método cientifico dedutivo e indutivo, partindo da análise de doutrinas e artigos já produzidos testou-se a hipótese desenvolvida por Luhmann, aplicando o conceito de evolução social no conceito de desenvolvimento da sociedade contemporânea1.

1. CONCEITOS EDIFICANTES DA TEORIA DOS SISTEMAS DE LUHMANN.

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Diferente da ciência social anterior (em que os sociólogos reduziam e ponderavam os eventos naturais e sociais em partes desconexas e repartidas do todo utilizando de moldes cartesianos) surge a teoria sistêmica, que analisa o conjunto de sistemas da sociedade como um todo contemplando a observação, tanto da evolução social, como das estruturas da sociedade e suas implicações econômicas, políticas, sociais e jurídicas2.

Para a teoria dos sistemas a forma atual mais adequada de descrever a evolução do sistema autopoiéticos, incluindo o sistema jurídico, seria utilizar-se do conceito melhor elaborado da teoria da evolução de Darwin.

Luhmann defende que este conceito foi posto de maneira bastante vaga pelos sociólogos anteriores, ou seja, a aplicação do esquema variação/seleção/estabilização de Darwin ao sistema jurídico (sistema do direito) não foi suficientemente especificada pelas doutrinas anteriores3.

Baseando-se na observação criteriosa do meio social em que viveu, Luhmann propôs conceitos novos ou reformulados considerando incapazes e incompletas às teorias sociais existentes em seu tempo.

Neste sentido, a teoria desenvolvida afirma que a sociedade seria constituída por diversos sistemas evolutivos, formados pela relação entre sistemas que se comunicam e se autorreproduzem. Esta premissa teórica diz que a evolução dos sistemas e, consequentemente, da sociedade acontece por seus próprios elementos, autopoiéticos, conduzindo o Sociólogo a concluir e formular uma nova ideia de teoria social.

Relacionando a teoria da evolução de Darwin, o Autor descreve a teoria dos sistemas comparando os parâmetros entre o variação/seleção e sistema/ambiente como forma de

2 Luhmann na obra “sociologia do direito I” ensina que os sociólogos do direito encontram dificuldades em esclarecer suas bases teóricas quanto o desenvolvimento da própria sociedade: “Isso faz com que os diversos pesquisadores visualizem diferentes aspectos parciais do desenvolvimento da sociedade e do direito, ressaltando-os, através do isolamento acentuado, como distintivos caracterizantes. Somente podemos obter uma noção dos pressupostos do raciocínio, do estilo e das limitações da sociologia clássica do direito através de um resumo comparativo de suas bem diferenciadas variações” LUHMANN, N. Sociologia do Direito I. Tradução de Gustavo Bayer. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 1983, p. 23.

3LUHMANN, N. O direito da sociedade. Traduzido por Alexandre Agnolon. São Paulo: Martins Fontes, 2016, p. 192.

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seleção. Desta forma, o meio definiria previamente qual sistema seria exposto a seleção e a teoria alcançaria a diretriz de chegar ao resultado de que a seleção natural é comparada aquela externa ao sistema.

O sistema está condicionado a realizar uma seleção, a qual resulta de seu fechamento operativo do sistema e limita sua própria complexidade em relação ao seu mundo/entorno.

A referenciada ausência de relações diretas com os demais sistemas sociais oferece a condição para que o sistema autônomo possa se diferenciar do entorno, operando o chamado fechamento sistêmico delimitando o espaço da contingência.

Apesar do sistema se fechar hermeticamente ele ainda possui a capacidade de dialogar com os outros sistemas cognitivamente e, é desta comunicação que surgem as irritações4. No aspecto externo do sistema, o elemento principal e de suma importância é a comunicação “pois a análise social se ocupa unicamente da comunicação. Comunicação e não outra coisa é a operação com a qual a sociedade como sistema social se produz e reproduz autopoieticamente5”.

Teubner, seguindo os ensinamentos de Luhmann, diz que “a variação apenas pode ter lugar num subsistema autopoiético se for determinada pela própria estrutura deste”. A seleção é direcionada pelos critérios da adaptabilidade da inovação às estruturas existentes e pela compatibilidade com a autopoiese do sistema. A estabilidade “é assegurada por mecanismos gerados no seu próprio seio”. Tal função de estabilidade é “levada a cabo através da autorreferência do sistema6”.

Importante levantar que, dentro da estrutura de complexidade do interior do sistema a evolução só se realiza se, tanto a diferença quanto a adaptação entre sistema e ambiente se mantiverem, caso contrário, desaparece o objeto da evolução.

4LUHMANN, N. Sociologia do direito I. Tradução de Gustavo Bayer. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 1983, p. 45-46.

5 LUHMANN, N. Sociologia del risco. Guadalajara. Universidad Iberoamerica. Universidad de Guadalajara, 1992, p. 40.

6 TEUBNER, G. O direito como sistema autopoiético. Traduzido por José Engrácia Antunes. Lisboa: Fundação Calouste Gulbenkian, 1989, p. 116-119.

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Desta forma, a realização da autopoiese pelo sistema serve como fio condutor para a evolução, sendo condição sine qua non de toda evolução do sistema, através de mutações internas das estruturas, troca de informações7.

As funções do sistema renovado ou sistema evoluído têm suas especificações definidas nas condições escolhidas por ele (via seleção natural), utilizando-se destas especificações para filtrar as irritações recebidas do entorno (contingência), selecionando o que será absorvido ou não pelo sistema (autopoiese).

Neves enfatiza que são das irritações externas ocasionadas pela comunicação que acontece a evolução, e se efetiva em transformação na unidade de reprodução. As irritações do sistema geradas pelo entorno ganham vulto quanto à evolução sistêmica é assimilada internamente como inovações8.

A evolução sistêmica via modificação interna, não é uma necessidade, mas sim, uma possibilidade, sendo a comunicação com o entorno premissa da qual provoca as modificações dentro da própria estrutura, pois detém a capacidade de perturbar o sistema.

A evolução da sociedade ou o desenvolvimento da sociedade, como sistema social leva diretamente à evolução dos seus subsistemas funcionais, incluindo o sistema do direito, também chamado de sistema jurídico.

Em suma, a contingência intersistêmica irrita o interior de cada um dos sistemas, o que leva os sistemas autopoiéticos fechados a fagocitar tal perturbação. Este processo interno acaba por gerar um aumento da complexidade e da contingência do sistema. Logo, a crescente complexidade e contingência é o pressuposto da evolução da sociedade.

Todos os sistemas autopoiéticos, em conjunto, conduzem a evolução da sociedade utilizando-se de sistemas autorreferentes. Dirigem o sistema, de forma independente e autossuficiente relativamente ao meio, em que pese haver relações comunicativas com os outros sistemas.

7 LUHMANN, N. O direito da sociedade. Traduzido por Alexandre Agnolon. São Paulo: Martins Fontes, 2016, p. 195.

8 NEVES, M. Entre Têmis e Leviatã: uma relação difícil. O estado democrático de direito a partir e além de Luhmann e Habermas. 2. ed. São Paulo: Martins Fontes, 2008, p. 3.

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Em relação ao direito (um dos sistemas, o jurídico) foi colocado em Luhmann como um elemento próprio dos demais, constituído em duas premissas: autoorganização e autopoiese. A primeira significa a “construção de estruturas própria dentro do sistema”, enquanto a que a segunda “determina o estado posterior do sistema, a partir da limitação anterior à qual a operação chegou”9.

Para compreender melhor tais premissas é necessário destacar o que é autopoiese, que significa envergadura do sistema, partindo de suas próprias estruturas fagocitadas produz os elementos que compõe o próprio sistema. Também deve ser elucidada a chamada autoorganização ou autorreferência do sistema, que é a capacidade sistêmica de se organizar utilizando resultados reflexivos, ou seja, via diálogo da comunicação.

Partindo do conceito de comunicação entre os sistemas, a teoria do Autor permite que o sistema jurídico possa criar vínculos intergeracionais. Por exemplo, a comunicação permite que a Lei determine que tenham obrigações as gerações presentes e as gerações futuras, conferindo efetividade ao dever previsto no art. 225, caput, da Constituição Federal. Na mesma linha (do subsistema jurídico ambiental) destaca-se, por ordem cronológica, o Princípio 1, da Declaração de Estocolmo de 1972, e o Princípio 3, da Declaração Rio-92, que se concretizam, internacionalmente, no princípio de equidade intergeracional.

Alguns autores afirmam que a teoria sistêmica autopoiética oferece um novo conceito de descrição da sociedade, da qual a premissa principal é a comunicação intersistêmica, caracterizada por sistemas complexos, contingentes, de risco e multidisciplinares10.

Assim, a comunicação sistêmica é capaz de reproduzir numerosas possibilidades de seleção natural existentes no interior do sistema, surgindo, assim, a complexidade social (variabilidade de escolhas) dos sistemas sociais.

A contingência social serve, principalmente, para reduzir essa complexidade. A redução da complexidade dos sistemas cria uma racionalidade própria (especificação sistêmica) tornando viável sua operação perante a contingência que os envolvem.

9 LUHMANN, N. Introdução à teoria dos sistemas. 2. Ed. traduzido por Ana Cristina Arantes Nasser. Petrópolis: Vozes, 2010, p. 112-113.

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No intuito de melhor entender essa operação, descreve-se o que Luhmann coloca como conceitos de contingência e complexidade:

“com complexidade queremos dizer que sempre existem mais possibilidades do que se pode realizar. Por contingência entendemos o fato de que as possibilidades apontadas para as demais experiências poderiam ser diferentes das esperadas: ou seja, que essa indicação pode ser enganosa por referir-se a algo inexistente, inatingível, ou a algo que depois de tomadas as medidas necessárias para a experiência concreta (por exemplo, indo-se ao ponto determinado), não mais lá estão. Em termos práticos, complexidade significa seleção forçada, e contingência significa perigo de desapontamento das necessidades de assumir-se riscos11”.

Nesse passo, os sistemas são resultados da fagocitose da comunicação, reduzindo as possibilidades, ou seja, de complexidade que se diferenciam do meio ambiente. O sistema ao se especializar seleciona as hipóteses das quais irá operar, essa seleção leva em conta a diferenciação entre o externo do sistema e as hipóteses internas do sistema, concluindo a autopoiese12.

A contingência social opera na medida em que as possibilidades (resultados da complexidade) são apresentadas pela experimentação alheia, com isso, a absorção de perspectivas alheias como se próprias fossem aumenta a seletividade imediata da percepção. Reconhecer e absorver as perspectivas de outrem como próprias conduz a aceitação de que o outro possui igualmente a liberdade de alterar suas perspectivas, posto que, a complexidade e contingência do sistema dão azo para outrem de errar ou enganar-se. As estruturas estabilizadoras das perspectivas são as expectativas, construídas de forma complexa e variável13. O custo dessa operação de estabilização das perspectivas pelas expectativas de outrem como própria encontra reprodução na potência do risco.

Por contingência se entende as expectativas inesperadas, mas não impossíveis, que perturbam o sistema. Quando se fala de risco, refere-se à estabilização interna das expectativas objetivas no controle, eliminação ou redução, das possíveis incertezas das 11 LUHMANN, N. Sociologia do Direito I. Tradução de Gustavo Bayer. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 1983, p. 45-46.

12 LUHMANN, N. Introdução à teoria dos sistemas. 2. Ed. traduzido por Ana Cristina Arantes Nasser. Petrópolis: Vozes, 2010, p. 114.

13 LUHMANN, N. Sociologia do Direito I. Tradução de Gustavo Bayer. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 1983, p. 47.

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decisões humanas. O risco é inerente ao funcionamento social de uma sociedade, que é de risco.

Nesse sentido, as especializações (seleção natural) dos sistemas acabam por ocasionar a chamada contingência social (possibilidade de nova operação social com alteração da escolha inicial), que na contemporaneidade é ligada ao conceito de risco. Estas considerações iniciais serão destrinchadas no tópico seguinte.

2. RISCO E CONTINGÊNCIA NA EVOLUÇÃO DOS SISTEMAS AUTOPOIETICOS

Luhmann não pretende apresentar nenhuma previsão do futuro em sua teoria da evolução, o intuito da teoria é a descrição da evolução do sistema mediante um procedimento que se utiliza dos denominados mecanismos evolutivos ou funções evolutivas.

Por contingente, Luhmann afirma que o é tudo que não é esperado, é tudo que as expectativas, até então existentes, não puderam prever. O que não significa dizer que são impossíveis, apenas não é esperado. A contingência pode ser conceituada em algo que não é necessário, nem impossível, mas é a abertura fundamental da experiência humana no âmbito social14.

Segundo Andréas Schedler15 “contingência é um conceito radical que envolve indeterminância (mundos possíveis), incerteza (futuros abertos), e condicionalidade (justificações condicionais)”.

Garcia Amado conceitua a complexidade na evolução do sistema social como um conjunto de possibilidade. Chama de complexidade o campo ilimitado de eventos possíveis, eventos que embasam a seleção da preferência do sistema, a complexidade especializa o interior à medida que o entorno vai introduzindo formas diferentes ao interno. A autopoiese reduz a complexidade do sistema e permite a aceitação de um dos mundos como real, dando

14 LUHMANN, N. Sociologia del risco. Guadalajara. Universidad Iberoamerica. Universidad de Guadalajara, 1992, p. 175.

15 SCHEDLER, A. Mapeando a Contingência. Traduzido por Luiz Henrique Queriquelli. In: Socitec E-prints. Florianópolis. Vol.1, n.2, jul/dez, 2005, p. 50.

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o start existência a sociedade, e é precisamente desta ideia permanente de mitigação da complexidade que Luhmann situa o engenho da evolução dos sistemas sociais16.

Nesta conjuntura, a evolução sistêmica ocorre do enfrentamento interior das contingências ocasionada pela irritação entre os sistemas, no entanto, como reiterado, a contingência conduz ao risco17.

Próprio ao desenvolvimento do sistema social o risco não pode ser suprimido, sendo este inerente da própria complexidade social e necessário para a estabilização das expectativas na mitigação da complexidade.

Clam afirma que a contingência social é a capacidade flutuante que uma sociedade possui de integrar em determinando momento aquilo que ela até então havia excluído. Isto, porque a contingência não faz parte do sistema, provém do “mundo” exterior, do entorno do sistema. Por isso o conceito de contingência também depende da percepção do mundo, que depende de distinções entre o que está dentro do sistema e aquilo que está no seu ambiente18.

Quanto às expectativas, os sistemas sociais se estabilizam derivadas destas. Podendo assumir a forma do deve ser, quantitativas ou qualitativas, delimitando a ação. A orientação a partir da regra dispensa a orientação pura das expectativas, a regra assume o risco do erro na expectativa, ou pelo menos o reduz.

A estabilidade das expectativas do sistema social depende das ações dos indivíduos uns para com os outros, a especificação das expectativas motiva a diminuição da complexidade do sistema, que por sua vez, na modernidade, torna-se uma tarefa ainda mais complexa e contingente.

16 AMADO, J. A. G. A sociedade e o direito na obra de Niklas Luhmann. In: ARNAUD, A. J; LOPES JR., D. (orgs).

Niklas Luhmann: do sistema social à sociologia jurídica. Rio de Janeiro: Lúmen Júris, 2004, p.301-302.

17 Esse conceito está descrito desde 1983 “Frente a contingência simples erigem-se estruturas estabilizadoras de expectativas, mais ou menos inumes a desapontamentos – colocando as expectativas de que à noite segue-se o dia, que amanhã a casa ainda estará em pé, que a colheita está garantida, que as crianças crescerão... Frente à dupla contingência necessita-se outras estruturas de expectativas, de construção muito mais complicada e condicionada: as expectativas. As vistas da liberdade de comportamento dos outros homens são maiores os riscos e também a complexidade do âmbito das expectativas” LUHMANN, N. Sociologia do Direito I. Tradução de Gustavo Bayer. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 1983, p. 47.

18 CLAM, J. Questões fundamentais de uma teoria da sociedade. contingência, paradoxo, só-efetuação. São Leopoldo: Editora Unisinos, 2006, p. 20.

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Não se pode viver em sociedade sem nenhuma expectativa sobre as atitudes dos indivíduos, ou seja, há necessidade de reduzir as possibilidades de escolhas, de decisões, para reduzir a complexidade do sistema evitando ou reduzindo os riscos.

As escolhas e decisões não se baseiam unicamente nas alternativas possíveis, mas na perspectiva de que as expectativas possam vir acompanhadas de decepções, surgindo na sociedade moderna além da contingência o risco.

Ocorre que na tentativa de reduzir a complexidade, em um paradoxo social, a complexidade é aumentada e é isto que torna possível a evolução social.

Nesta linha epistemológica, segundo o aforismo de Rocha, dentre as infinitas possibilidades alguns elementos basilares possibilitam a distinção e escolha das operações sociais. Isto acaba por implicar no aumento da complexidade que impõe aos subsistemas uma maior exigência, é o caso dos sistemas do direito, político, econômico, etc. que se diferenciam instituindo outros subsistemas e assim continuamente19.

Por esta razão, na contemporaneidade o sistema social utilizou do risco para pautar a contingência da sociedade moderna, isto gerou o desenvolvimento de uma teoria que introduziu o risco como condição ao seu funcionamento.

Em estudo da teoria do risco realizado por Rocha, Clam e Schawartz o risco foi definido como importante inovação da racionalização de possíveis decisões adotadas perante as sociedades complexas, redesenhando a filosofia indutiva, a hermenêutica e a prática jurídica, numa teoria da sociedade mais realista, pragmático-sistêmica20.

A doutrina de De Giorgi ensina que a sociedade se utiliza:

“uma forma da constituição de formas para a representação do futuro e para produzir vínculos com o futuro. A forma dessa representação e a modalidade da produção destes vínculos com o futuro chama-se risco21”.

19 ROCHA, L. S. Direito, complexidade e risco. In: Revista Sequência: estudos jurídicos e políticos. Florianópolis: Fundação Boiteux, n.28, ano 15, jun, 1994, p. 11.

20 ROCHA, L. S; CLAM, J; SCHWARTZ, G. Introdução à teoria dos sistemas autopoiéticos do direito. Porto Alegre: Livraria do Advogado, 2005, p. 49.

21 DE GIORGI, R. O risco na sociedade contemporânea. Revista Sequência. Revista do Curso de Pós-graduação em Direito da Universidade Federal de Santa Catarina, n.28, jun.1994, p. 50.

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A história conta que após a Revolução Industrial ocorreram reorientações da sociedade. Isto se refletiu nos sistemas do direito e da economia que evoluíram passando a interagir de forma a causar irritações recíprocas.

A operação de redução de contingência e especialidade das expectativas visando a redução dos riscos ocasionam ciclos de desenvolvimento dinâmicos e desiguais no tempo, alternando períodos de prosperidade, de estagnação e de depressão.

No sistema econômico os ciclos foram descritos por Schumpeter como uma trajetória, na qual os ciclos de crescimento alternam-se apresentando: (i) a fase de ascensão, na qual a economia cresce acima da linha de tendência de longo prazo; (ii) a fase de recessão, que ocorre após o pico, em que se dá o consequente declínio do nível de atividade; (iii) a fase de depressão, com a queda abaixo da linha de tendência até o ponto mínimo; e (iv) a fase de recuperação, quando reinicia a ascensão após a queda, indo até a linha de tendência, com potencial para iniciar uma nova fase ascendente22.

A sociedade desmontada em classes (cartesianas) transformou-se em uma sociedade funcionalmente diferenciada, onde a incerteza torna-se a única certeza, onde as previsões científicas se encerram e inicia a sociedade de risco, altamente complexa e contingente, e por tais características em evolução constante, esta é a sociedade atual.

De Giorgi afirma que nos sistemas próprios da sociedade moderna o risco é condição necessária, estrutura condicional da autopoiese conduz ao fechamento operativo do sistema, tornando-se possível o controle do entorno23.

Surge então na complexidade da figura do medo, que passa ter a função de racionalizar a análise do risco na sociedade contemporânea.

O conceito de risco foi pressuposto para essa distinção, ainda que, permaneça indiferenciado e funcione como recurso para a angústia provocada pela obsolescência das velhas distinções.

22 SCHUMPETER, J. A. Teoria do desenvolvimento econômico: uma investigação sobre lucros, capital, crédito, juro e ciclo econômico. São Paulo: Abril Cultural, 1982.

23 DE GIORGI, R. Direito, democracia e risco: vínculos com o futuro. Porto Alegre: Sérgio Antonio Fabris Editor, 1998, p.190.

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Munhoz ensina que a crescente complexidade das sociedades eleva o índice dos limites impostos à sociedade. As regras formais são compostas por normas jurídicas que criam e garantem a base legal para a sua aplicação, apoiando o bom desenvolvimento de outras condicionantes também formais, as contratuais. Traduzindo para a teoria dos sistemas, na operação de Luhmann, o aumento da complexidade eleva o nível das expectativas sistêmicas, no caso, aumentam as regras/limites24.

Luhmann explica que “quanto mais alguém se inclina a confiar nos progressos normais, mais tem que chamar a atenção este lado negro da vida, esta carga de decepções que acompanha as expectativas25”.

O risco, objeto de interesse e preocupação da opinião pública tornou-se elemento das novas tecnologias que foram compreendidas pela sociedade moderna como prováveis causadoras de danos incontroláveis.

De Giorgi assinala que o risco foi colocado, tomando por base a segurança como diretriz. A expectativa do uso de tecnologias consideradas como seguras, ou conhecida pela extensão de possíveis danos, é a diretriz da razão para intervir em situações de controle das consequências das decisões frente às expectativas de segurança “depois, constatou-se que a alternativa para o risco não era a segurança, mas um risco de outro gênero, e tematizou-se a normalidade do risco26”.

A reprodução do futuro, até então, conduzia aos rumos corretos dos atos. Determinavam na ampla complexidade da sociedade contemporânea as possibilidades e as diretrizes aos danos que por ventura derivassem dos atos ocasionados pela autodescrição.

O aumento da dependência de redução da complexidade futura é figura saliente na modernidade social. Afirma Luhmann que tem crescido o atrelamento da redução da complexidade no decidir sobre o futuro, tanto que as ideias eram formas efetivas que delimitavam o que poderia suceder, como natureza da decisão, o que não mais se verifica como elemento de redução da complexidade.

24 MUNHOZ, C. P. B. Direto, livre concorrência e desenvolvimento. São Paulo: Lex Editora, 2006.

25 LUHMANN, N. Sociologia del risco. Guadalajara. Universidad Iberoamerica. Universidad de Guadalajara, 1992, p. 39.

26 DE GIORGI, R. O risco na sociedade contemporânea. Revista Sequência. Revista do Curso de Pós-graduação em Direito da Universidade Federal de Santa Catarina, n.28, jun.1994, p. 51.

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O terreno da natureza e da ideia foi substituído pelo poder da razão e consciência da técnica. Isto indica que a alteração da utilização deste elemento, facilmente, viabilizaria decisões mais destrutivas do que construtiva. Desse prisma o medo do destrutivo aumenta a complexidade e rapidamente, e consequentemente, o risco que se atribui às decisões27.

Entretanto, o risco pode ser enxergado como oportunidade ou forma de consolidação do futuro, utilizado o risco como estratégia de construção poder-se-ia vincular o razoável com o incerto posterior, ou seja, desnecessária a visão sintática da expressão risco como sendo algo negativo ou catastrófico.

Isto condiciona a premissa de que é possível substituir um risco, tão somente, pela ideia de outro risco futuro, conhecido e viável. Haja vista que o contrário, que a certeza do futuro é lúdica, sendo a única certeza futura a absorção do perigo dos atos.

O conceito de risco abranda e elucida que não se deve absorvê-lo e entendê-lo em contradição ao conceito sintático de segurança, mas sim, o risco em oposição ao perigo. A evolução da especialização da contingência é um ganho evolutivo do risco que “se exclui toda segurança, exclui, também, todo destino28”.

A diferenciação de risco e perigo, definindo os liames do risco, também foi reproduzida nos ensinamentos de Luhmann, conjecturando que a diferenciação existe entre as incertezas e se relacionam com os danos futuros.

A decisão/especialização é a matriz do possível dano, por essa linha é encontrado o risco, mais precisamente, a decisão de risco. O razoável dano é atentado externamente, internalizado do ambiente, ou entorno, quanto então resplandece no sentido de perigo.

O futuro somente pode ser percebido em suas características como probabilidade, isto é, como mais ou menos provável ou improvável. O grande paradoxo é que, apesar do futuro ser incerto, a sua construção depende da decisão que se tome no presente.

Não há um ponto de vista objetivo para uma avaliação correta do risco, sendo avaliado posteriormente de maneira distinta dependendo de se apresentaram danos ou não.

27 LUHMANN, N. Sociologia del risco. Guadalajara. Universidad Iberoamerica. Universidad de Guadalajara, 1992, p. 42.

28 DE GIORGI, R. O risco na sociedade contemporânea. Revista Sequência. Revista do Curso de Pós-graduação em Direito da Universidade Federal de Santa Catarina, n.28, jun.1994, p. 14.

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Aplicando essa operação ao clássico “Institutions, Institutional Change and Economic

Performance” North aponta como condicionante do crescimento econômico e da evolução

histórica de uma sociedade a formação e evolução de suas instituições29.

As instituições são as regras do jogo em qualquer sociedade, poderíamos comparar como sendo os próprios sistemas, constituídos de limitações criadas pela autopoiese dão forma à comunicação entre elas. De acordo com North, as instituições não apenas afetam o desempenho da economia, mas também os diferentes desempenhos econômicos ao longo do tempo são influenciados pela forma como as instituições evoluem. As instituições reduzem a incerteza (operação de restrição das expectativas para redução do risco da contingência sistêmica) pelo fato de que proporcionam uma estrutura à vida diária, definindo e limitando o conjunto de escolhas dos indivíduos30.

Já não se entende porque em um recente passado se decidiu com tanta precaução ou tão arriscadamente. E, desde a atualidade, vide seguramente a um presente distinto, de onde a situação de risco atual seguramente será julgada de maneira distinta, porém de onde restará inseguro em como. O tempo mesmo produz esta diferença entre avaliação e nada se pode fazer contra o cálculo que sempre está presente. Dito de outra maneira, parte do arriscado do risco é que a avaliação varia com o tempo31.

CONCLUSÃO

Conforme visto, a teoria dos sistemas de Luhmann conferiu uma nova roupagem para a análise descritiva da evolução social. O Autor contempla a descrição da evolução com bases nas estruturas sociais e suas implicações nos sistemas econômicos, políticos, jurídicos, religiosos, entre outros.

29 NORTH, D. C. Institutions, institutional change and economic performance. Cambridge: Cambridge University Press. 1990.

30 NORTH, D. C. Institutions, institutional change and economic performance. Cambridge: Cambridge University Press. 1990.

31 LUHMANN, N. Sociologia del risco. Guadalajara. Universidad Iberoamerica. Universidad de Guadalajara, 1992, p. 86.

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Descreveu a sociedade sendo composta por sistemas que se comunicam e se autorreproduzem, essa premissa possibilita ao Autor descrever como a sociedade evolui por seus próprios elementos, conduzindo-o a constituição de uma nova roupagem sistêmica.

Todos os sistemas são autopoiéticos, como visto, operam segundo sua autonomia em organizar-se, e selecionam as operações via a autopoiese. Por autopoiese se entende como a capacidade sistêmica em elaborar suas estruturas internas.

A característica primordial para evolução dos sistemas é a comunicação, apesar de serem hermeticamente fechados, os sistemas possuem a capacidade de comunicar-se entre si.

A comunicação sistêmica produz irritações no interior destes, que, por sua vez, reproduzem em aumento da complexidade. Por complexidade se entende a variabilidade de escolhas que possuem os sistemas, essas variações são internalizadas visando a redução da complexidade. Esta redução reproduz no interior do sistema uma racionalidade própria, viabilizando a operação que irá destrinchá-la.

A contingência social se utiliza das expectativas externas como próprias, dando azo ao erro, engano, etc. As estruturas estabilizadoras das perspectivas são chamadas de expectativas. O custo dessa operação é o denominado risco.

Nesse contexto, a especialização do sistema gera a contingência, ligada ao conceito de risco, juntos coadunam na evolução do sistema descrito e pautado nos conceitos da teoria da evolução de Darwin. O sistema é condicionado a realizar a seleção que resultará no fechamento operativo deste, limitando a complexidade em relação ao entorno.

Em suma, a crescente complexidade e a contingência são pressupostos para evolução sistêmica. Ocorrida do enfrentamento de suas contingências geradas pelas irritações advindas da comunicação com o entorno, a contingência conduz ao risco.

As expectativas são o suporte da estabilização do sistema e, consequente, diminuição da complexidade, que por sua vez, na contemporaneidade é tarefa difícil e relevante. As decisões das especificações se baseiam nas perspectivas das expectativas e estas podem estar malucadas pelo risco.

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Reduzir a complexidade do sistema é tarefa que reflete na redução dos riscos da operação sistêmica. Luhmann aponta que a sociedade atual é dependente da redução da complexidade no decidir futuro. O terreno das decisões naturais, que se utilizam das ideias, foi substituído pela razão e práticas técnicas consistentes.

Essa praxe direciona o entendimento de que o risco só poderá ser substituído por outro, levantando a ideia do risco em contradição ao perigo e não a segurança. A diferenciação de risco e de perigo define os liames do risco. A decisão/especialização é a matriz do conjecturado dano, nessa ordem que se afere o risco.

Apesar de o futuro ser incerto, sua construção depende do presente, assim os sistemas evoluem destacando os riscos que serão absorvidos e internalizados, ou seja, o sistema seleciona as novas operações que utilizará para a sua evolução.

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