• Nenhum resultado encontrado

ENSINO DE GEOGRAFIA CONTEXTUALIZADO NO ÂMBITO DAS ESCOLAS DO CAMPO DO SEMIÁRIDO PARAIBANO

N/A
N/A
Protected

Academic year: 2021

Share "ENSINO DE GEOGRAFIA CONTEXTUALIZADO NO ÂMBITO DAS ESCOLAS DO CAMPO DO SEMIÁRIDO PARAIBANO"

Copied!
16
0
0

Texto

(1)

ENSINO DE GEOGRAFIA CONTEXTUALIZADO NO ÂMBITO DAS ESCOLAS DO CAMPO DO SEMIÁRIDO PARAIBANO

Fabiano Custódio de Oliveira1 UFCG fabianocustodio@ufcg.edu.br

Maria Aldilânia de Moura2 UFCG ufcg.lana@gmail.com

Ana Jussara Aires de Oliveira3 UFCG anajusoliver@gmail.com

Maria José Barros da Silva4 mariajosebarros@gmail.com

Resumo

Esta pesquisa apresenta os caminhos na construção de um ensino de Geografia contextualizado nas escolas do campo do Semiárido Paraibano, através da implantação de um subprojeto de extensão do NEDCEVCS5 do curso de Licenciatura em Educação do Campo da UFCG, na área das Ciências Humanas e Sociais, inserido no projeto institucional do PIBID da UFCG, o qual tem por objetivo incentivar o ensino de Geografia contextualizado e incentivar a formação de professores para atuarem na educação básica nas escolas do campo do Semiárido Paraibano. O subprojeto se caracteriza como uma pesquisa Quali - Quantitativa, em que estão sendo utilizados pressupostos teóricos da Observação Participante e da Pesquisa-Ação, o mesmo está sendo executado no município de Sumé, localizado na microrregião do Cariri Ocidental paraibano. especificamente a Escola Agrotécnica de Ensino Fundamental Dep. Evaldo Gonçalves de Queiroz. Mesmo tendo sua sede na área considerada “urbana” pelo

1 Professor Mestre em Geografia do Curso de Licenciatura Plena em Educação do Campo do Centro de

Desenvolvimento Sustentável do Semiárido da Universidade Federal de Campina Grande (CDSA/UFCG) e coordenador do Subprojeto “Construindo um Ensino de Geografia Contextualizado nas Escolas do Campo do Semiárido Paraibano”– fabianocustodio@ufcg.edu.br e fabiano.geografia@gmail.com

2

Aluna do Curso de Licenciatura Plena em Educação do campo e bolsista do PIBID.

3 Aluna do Curso de Licenciatura Plena em Educação do campo e bolsista do PIBID. 4

Aluna do Curso de Licenciatura Plena em Educação do campo e bolsista do PIBID.

5 Núcleo de Estudo - Didática de Conteúdo Específico Voltado para a Convivência do Semiárido –

(2)

IBGE, atende a populações que majoritariamente estão vinculadas ao trabalho e à vida no campo, sendo pois sua identidade definida por este vínculo. A pesquisa foi iniciada através de um levantamento bibliográfico em livros e artigos pesquisados na bibliotecas da UFCG/CDSA e nas publicações da RESAB em seguida foram realizadas entrevistas e aplicações de questionários aos docentes e discentes da escola, com o objetivo de diagnosticar os principais problemas e potencialidades da mesma e identificar as metodologias, as técnicas de ensino empregadas pelos professores na sua prática pedagógica em relação ao ensino de Geografia, bem como as percepções e concepções sobre o ensino de Geografia nas escolas do campo, na concepção dos professores e alunos. Alguns dados já adquiridos na pesquisa indicam que o ensino de Geografia precisa ser diferenciada e interdisciplinar nas escolas do campo do Semiárido, tendo como objetivo central a formação de cidadãos conscientes, ativos e dotados de opinião, deixando o educando conhecer o mundo e se colocar diante dele, desde o espaço em que vive, até o planeta como um todo. Em outras palavras, o aluno deve ser convidado a construir, gradativamente, cada conceito, tornando-se um ser participativo do processo ensino-aprendizagem.

Palavras – chave: Ensino de Geografia; Ensino contextualizado; Educação do campo.

Introdução

Visando à implantação de um Subprojeto, na área das Ciências Humanas e Sociais, para o projeto Institucional do PIBID6 da UFCG7, em especial ao CDSA no Curso de Licenciatura Plena em Educação no Campo _ o qual possui como diretriz incentivar a formação de professores para a educação básica, contribuindo para a elevação da qualidade da escola pública surgiu a oportunidade da elaboração deste trabalho.

O mesmo reporta ao ensino de Geografia contextualizado nas escolas do campo do Semiárido Paraibano, considerando o ensino de Geografia como um instrumento de construção da cidadania plena e condição para o desenvolvimento sustentável do Semiárido Brasileiro. Desta forma, a educação é uma contribuição fundamental na realização da pessoa humana, na sua realização como sujeito diferente dos outros seres vivos, na conquista de outros direitos necessários à sua realização, sendo instrumento fundamental para o desenvolvimento econômico, social, cultural e político de um país. Libâneo (2004) afirma que a educação é um processo amplo que não se inscreve apenas no espaço da escola: ela se dá na família, no trabalho e em todas as relações humanas. Esse universo não cabe “por inteiro” na escola; e como não poderia realizá-la sem a

6 Programa Institucional de Bolsa de Iniciação à Docência.

7

(3)

contribuição de outros espaços educativos, precisa se tornar disponível e dialogar com outras formas de educar, com outros ambientes educativos.

Nessa visão, a educação é vista como um processo amplo, concebida na legislação da educação no Brasil, especialmente na Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional, Lei n°9.394/96. Porém, a socialização do conhecimento sistematizado, historicamente acumulado pela humanidade, se dá na escola – educação escolar. Diante dessa realidade, é necessário desenvolver um ensino que busque despertar nos alunos uma postura crítica diante da realidade. Dessa forma, Castrogiovanni (2005) ressalta que cabe ao ensino de Geografia inseri-los em um mundo onde possam visualizar de forma consciente as relações dinâmicas que ocorrem na vida cotidiana, contribuindo para que os mesmos entendam o espaço produzido pela sociedade, compreendendo suas desigualdades e suas contradições, as relações de produção que nela se desenvolvem e a apropriação que essa sociedade faz da natureza.

A reflexão acerca da educação do campo ganha maior importância somente a partir da década de 1990. Esse contexto é marcado pela necessidade de valorizar o modo de vida, o território e a cultura do homem do campo nos currículos escolares, com o objetivo de auxiliá-lo no desenvolvimento de suas capacidades físicas e espirituais, preparando-o para a participação ativa e transformadora nas várias instâncias da vida social. Assim, nossa discussão assenta-se na preocupação com o aumento dos problemas enfrentados no ensino de Geografia, os quais são mais intensos no campo, pela prática de um ensino que não valoriza o lugar e os valores socioculturais da população que vive no meio rural.

Com a elaboração da Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDB), em 1996, e das Diretrizes Operacionais para a Educação Básica nas Escolas do Campo, aprovadas em 2001, propõe-se a adequação da escola à vida do campo. Desse modo, qualquer proposta didática - pedagógica, seja no campo ou na cidade, deve ser organizada de acordo com a LDB e as Diretrizes Operacionais, mas com respaldo na realidade local. Nota-se, com isso, uma possibilidade de a educação no campo estar no âmbito do direito à igualdade e do respeito à diferença.

No entanto, o número de propostas pedagógicas para o ensino de Geografia, que toma o campo como referência, no próprio âmbito das teorias educacionais críticas, é muito reduzido. Geralmente, o parâmetro é das escolas urbanas, além disso, a) a

(4)

qualificação dos professores que trabalham no campo; b) os baixos salários desses profissionais; c) a falta de incentivo à qualificação continuada; d) as condições de trabalho; e) o currículo escolar, o plano de aula e de ensino alheios à realidade do campo; f) o plano de carreira; g) a ausência de investimentos públicos, entre outros, têm prejudicado o ensino no campo. Sendo assim, torna-se necessária a implantação de políticas públicas que contribuam para o desenvolvimento de uma escola no/do campo que viabilize uma educação de qualidade, respeitando os saberes, a cultura e o modo de viver dessa população.

Desta forma, propõe-se um ensino de Geografia que esteja voltado para a população do campo, ressaltando a necessidade de considerar o campo como um lugar específico e com sujeitos que lhe são próprios, os quais possuem história, cultura, identidade e lutas que devem se respeitados e legitimados. É nessa perspectiva que este subprojeto pretende incentivar o ensino de Geografia na educação básica, contribuindo para a elevação da qualidade da escola do campo no território do Semiárido Paraibano, bem como buscando ressaltar as transformações teóricas e metodológicas no ensino de Geografia e a necessidade de uma prática pedagógica diferenciada no processo ensino-aprendizagem, destacando o papel do professor e a aplicabilidade desta disciplina, no contexto das escolas do campo do Semiárido. Entendemos que, para formar cidadãos e cidadãs nessa perspectiva, o ensino de Geografia necessita ser contextualizado, referenciando pelas particularidades e, especialmente, pelas potencialidades que esse lugar comporta, no caso, o espaço do campo do Semiárido Paraibano. Será, a partir dessa perspectiva, que os estudantes bolsistas observarão os professores e alunos participantes desse subprojeto, buscando identificar as influências do campo em suas práticas pedagógicas desenvolvidas em sala de aula no processo de construção dos saberes geográficos.

Traçando os Objetivos

A busca dos objetivos que norteiam a nossa pesquisa foi iniciada através de um levantamento bibliográfico em livros e artigos pesquisados nas bibliotecas da UFCG/CDSA8 e publicações da RESAB9. Esta pesquisa foi realizada pelos estudantes e professores que

8

Centro de Desenvolvimento Sustentável do Semiárido – UFCG. 9

(5)

participam do núcleo de estudos DCEVCS10/CDSA, como também foi realizada a coleta de alguns dados junto a sites na internet, a fim de obter informações relevantes sobre o tema pesquisado.

Em seguida, foram iniciadas as leituras e discussões de alguns textos no núcleo de estudos DCEVCS/CDSA, que possibilitaram o entendimento da aplicabilidade de conteúdos contextualizados no ensino de Geografia nas escolas do campo no Semiárido. Em seguida traçamos os seguintes objetivos para o desenvolvimento deste subprojeto, dos quais podemos destacar:

 Incentivar o ensino de Geografia contextualizado para a educação básica, contribuindo para a elevação da qualidade da escola do campo do Semiárido Paraibano.

 Compreender o desenvolvimento do ensino de Geografia nas escolas do campo do Semiárido Paraibano;

 Realizar um perfil da prática pedagógica dos professores de Geografia nas escolas pesquisadas;

 Inserir os licenciados no cotidiano da escola da rede pública de educação, promovendo a integração entre educação superior e educação básica;

 Promover a formação inicial e continuada aos professores de Geografia que atuam nas escolas do campo.

 Proporcionar aos futuros professores participação em experiências metodológicas, tecnológicas e práticas docentes de caráter inovador e interdisciplinar e que busquem a superação de problemas identificados no processo de ensino-aprendizagem,

 Analisar e discutir a concepção de educação do campo no contexto educacional brasileiro e sua relação no processo de ensino-aprendizagem, destacando o ensino de Geografia nesse processo;

 Identificar, nas práticas pedagógicas dos professores pesquisados, propostas consolidadas em sua escola, ancoradas na realidade e nas práticas das pessoas do campo do Semiárido Paraibano, com metodologia, conteúdos, currículo e estrutura apropriados à região, levando em conta suas potencialidades socioculturais, econômicas e ambientais;

10

Núcleo de Estudos de Didática de Conteúdos Específicos Voltados para a Convivência do Semiárido.

(6)

 Identificar e oferecer elementos que devem ser considerados na construção de uma proposta de ensino de Geografia contextualizado para as escolas do campo do Semiárido Paraibano.

Educação contextualizada nas escolas do campo

A educação hoje é considerada como responsável pela produção e reprodução de valores sociais, é uma atividade necessária para o funcionamento da sociedade, pois promove conhecimentos e experiências culturais às pessoas. Ela abrange os processos formativos que se desenvolvem na vida familiar, na convivência humana, no trabalho, nas instituições de ensino, nos movimentos sociais e nas manifestações culturais e é através dela que se democratizam os conhecimentos científicos e se forma a capacidade de pensar criticamente os problemas e desafios postos pela realidade. Libâneo (2004), ao abordar a importância da prática educativa na sociedade, afirma que a educação:

[...] é um fenômeno social e universal, sendo uma atividade humana necessária à existência e funcionamento de todas as sociedades. [...] Não há sociedade sem prática educativa, nem prática educativa sem sociedade. A prática educativa não é apenas uma exigência da vida em sociedade, mas também o processo de promover aos indivíduos os conhecimentos e experiências culturais que os tornam aptos a atuar no meio social e a transformá-lo em função de necessidade econômica, social e políticas da coletividade. (LIBÂNEO, 2004, p. 16-17).

Sendo assim, a grande finalidade da ação educativa é ajudar no desenvolvimento do ser humano, inserindo-o de forma crítica na dinâmica da sociedade da qual faz parte. Diante desse pensar, Freire (2009), em sua análise sobre o problema da comunicação entre o técnico e o trabalhador do campo, no processo de desenvolvimento da nova sociedade industrial, afirma que é indispensável a inserção crítica do homem, destacando sua realidade como uma totalidade, possibilitando sua ação autêntica sobre ela, pois é através da problematização do homem, com suas relações com o mundo e com os homens, que há a possibilidade de eles aprofundarem sua tomada de consciência da realidade na qual estão inseridos.

(7)

O aluno do campo quando chega à escola já traz de casa toda uma bagagem de conhecimento valorativo criado a partir das relações anteriormente estabelecidas, mas no atual processo educativo a escola é, em contrapartida, a negação do campo, pois realça as diferenças culturais deste aluno e, por isso, ela o expurga, uma vez que não o reconhece enquanto sujeito nesta relação. Para Freire (2009) o aprendizado se dá pela associação e construção do conhecimento. Não se pode fazer do aluno do campo um copo vazio, mas sim enxergá-lo como ser social que no convívio e relações da vida em sociedade se constitui como homem histórico. Sob esta análise, no processo de aprendizagem, só aprende, verdadeiramente, aquele que se apropria do aprendido, transformando-o em apreendido, e que pode, por isso mesmo, reinventálo, sendo capaz de aplicar o que aprendeu em situações existenciais e concretas. Porém, aquele que é apenas “enchido” por outros conteúdos, que contradizem a forma própria de estar em seu mundo, ou seja, que não considera a sua própria realidade, não aprende.

De acordo com Almeida (2007) outro grave problema, relacionado à crise do ensino, refere-se aos currículos das escolas do campo, os quais têm sido compostos por uma grande carga cultural totalmente urbana referenciando o Centro-Sul do país, o que, de certa forma, inibe o comportamento social dos alunos, uma vez que a escola não resgata a identidade do aluno, ao contrário, trata-o como sendo um aluno urbano localizado na zona rural. Compartilhando desta realidade, Piletti (2006) afirma que os conteúdos trabalhados pela escola são, muitas vezes, fragmentados, com ideias soltas sem relações entre si e muito menos com a vida concreta de seus educandos e educadores, são muitos estudos e atividades sem sentido. Dessa forma, muito do que eles aprendem na escola não tem um valor utilitário para o seu cotidiano, está fora do seu contexto de vida prática, fato que prejudica o desenvolvimento da aprendizagem, além de diminuir o interesse do aluno em frequentar a escola.

Um olhar natural e social do semiárido brasileiro

A região Semiárida brasileira oficial foi criada pela lei Federal n° 7.827, de 27 de setembro de 1989, em substituição ao polígono das secas. O critério adotado para a sua delimitação foi a precipitação pluviométrica média anual inferior a 800 mm, ficando a cargo da SUDENE a tarefa de definir os limites desta região. Para essa nova delimitação, de acordo com Santana (2007), a SUDENE, em conjunto com GTI, tomou como base três critérios técnicos: a) precipitação pluviométrica média anual inferior a

(8)

800 mm; b ) índice de aridez de até 0,5, calculado pelo balanço hídrico, que relaciona a precipitação e a evapotranspiração potencial, no período entre 1961 e 1990; e c) risco de seca maior que 60%, tornando-se por base o período entre 1970 e 1990. Desta forma, o Semiárido brasileiro abrange a maior parte dos noves estados da região Nordeste, a região setentrional do Estado de Minas Gerais e o Norte de Espírito Santo, ficando com 1.133 municípios ocupando uma área total de 969.589,4 km e apresentando, aproximadamente, 11 milhões de estudantes.

A região Semiárida é formada por uma área contígua, caracterizada pelo balanço hídrico negativo, resultante de precipitações inferiores a 800 mm/ano. Além dessas características, apresenta forte insolação, temperaturas relativamente altas e regime de chuvas marcado pela escassez, irregularidade e concentração das precipitações num período de três meses.

A ocupação do Semiárido decorreu da doação de grandes extensões de terras através do sistema de sesmarias, no início do processo de colonização, e apoiado especialmente na pecuária, o que consolida o domínio dos latifúndios como a base do poder dos senhores de terras, que deu origem ao coronelismo.

De acordo com Freitas et al (2009) o Semiárido constitui-se um espaço geográfico complexo, pois nele se identificam áreas urbanas, rurais, agricultura de sequeiro e irrigada, agricultura moderna e de subsistência, áreas industrializadas, zonas de comércio, etc. É, ainda, caracterizado pela biodiversidade, onde se podem encontrar os brejos, as planícies fluviais, as áreas chuvosas e áreas com poucas chuvas.

Segundo Martins (2006) a população do Semiárido está submetida de algum modo aos efeitos decorrentes da particularidade ecossistêmica do Semiárido e à forma como as políticas a trataram historicamente, convertendo-a, na melhor das hipóteses, em uma potência de exploração política. Essa particularidade ecossistêmica inclui o problema da água e das secas, o que foi convertido em seu principal dilema climático, ao invés de ter sido tematizado, estudado e discutido visando a extrair as potências que favorecessem as soluções sustentáveis de desenvolvimento. Pelo contrário, serviu de pilar para a indústria da seca e para ações políticas baseadas no assistencialismo, no clientelismo político, que sempre beneficiou as oligarquias locais e permitiu a manutenção dos currais eleitorais. Além disso, o seu tratamento técnico foi feito

(9)

exclusivamente pela lógica do combate à seca com ações emergenciais e paliativas que ampliavam as situações de dependência política.

Ensino de Geografia e Educação do Campo no Semiárido

A Geografia é a ciência que tem como objeto de estudo o espaço geográfico, compreendido através da relação sociedade-natureza, pois é com o trabalho que resulta a produção socioespacial. Estudar o espaço, portanto, deve ser uma forma de entender a produção/reprodução e articulação numa perspectiva dinâmica, sabendo-se que a interferência que se faz hoje reflete no futuro. Sabe-se que o ensino de Geografia, assim como toda a educação do Brasil, sempre foi fiel aos interesses das elites, permitindo que a escola desenvolvesse um ensino distanciando da realidade dos educandos, baseado na fragmentação/separação.

A educação do campo, especificamente no Semiárido, portanto, tem a escola como o espaço privilegiado para o desenvolvimento de uma proposta pedagógica que leve em conta a formação do educando, enquanto sujeito construtor da realidade em que vive. Nesse sentido, o ensino de Geografia deve mostrar aos povos do campo, habitantes dessa região, que eles são seres concretos e, consequentemente, construtores da realidade socioespacial em que estão inseridos e intercalados aos fatores naturais (clima, hidrografia, vegetação, fauna e solos) socioculturais (população, cultura, festividades, músicas, religião, saúde, educação, desejos, etc) e econômicos (produção, tecnologia, comércio, atividade agrícola, processo de industrialização, consumidor).

Ensinar e estudar Geografia é pensar na construção/ampliação e produção do conhecimento e esse processo visa à realização do educando, assim como do educador, enquanto cidadãos plenos, consciente dos seus direitos e deveres, capazes de se apropriar do conhecimento produzindo para a construção de uma identidade regional. Cabe ao educador implantar um que tenha como meta estabelecer a explicação espacial, como resultado da produção espacial do campo (REGO, CASTROGIOVANNI e KAERCHER, 2007).

Assim, para a prática de ensino em Geografia é essencial que o planejamento da aula contemple as dificuldades gerais e específicas dos alunos, priorizando o conteúdo que tenha valor utilitário para a vida, tanto nas experiências práticas como nas intelectuais. Em sua análise sobre a prática do ensino de Geografia, em que abordam o

(10)

ensino e sua prática em sala de aula, Pontuschka e Oliveira (2006) afirmam que o planejamento deve contemplar a realidade do lugar, os valores que expressam as representações do universo, tanto dos alunos como dos professores. Diante desse desafio, torna-se fundamental que o professor conheça seus alunos, suas condições socioculturais e econômicas e possa, a partir desse contexto, construir, junto com os alunos, um conhecimento e uma educação que promovam a superação de suas condições socioculturais, oferecendo uma formação de atitudes como meio de inseri-los no universo cultural e do conhecimento humano.

É necessário desenvolver um ensino que busque despertar nos alunos uma postura crítica diante da realidade. Dessa forma, Castrogiovanni (2005) ressalta que cabe ao ensino de Geografia inseri-los em um mundo onde possam visualizar de forma consciente as relações dinâmicas que ocorrem na vida cotidiana, contribuindo para que os mesmos entendam o espaço produzido pela sociedade, compreendendo suas desigualdades e suas contradições, as relações de produção que nela se desenvolvem e a apropriação que essa sociedade faz da natureza.

Diante desse pensamento, Caldart (2002, p. 23) expõe que é necessário que se estabeleça uma educação que seja no e do campo, “[...] No: o povo tem direito a ser educado no lugar onde vive; Do: o povo tem direito a uma educação pensada desde o seu lugar, e com a sua participação, vinculada à sua cultura e às necessidades humanas e sociais.” Deve-se pensar em uma educação que considere o campo não só como espaço de produção, mas também como território de relações sociais, de cultura, de relação com a natureza, ou seja, como território de vida. Arroyo, Caldart e Molina (2009), através do livro “Por Uma Educação do Campo”, valorizam a importância de considerar o contexto campo, pois

ao analisar o campo como território permite compreendê-lo como espaço de vida onde se materializam todas as dimensões da existência humana. A cultura, a produção, o trabalho, a organização política são relações sociais constituintes das dimensões territoriais. Todas essas dimensões se realizam no território a partir de uma relação interativa e completiva. Nesse sentido os territórios são espaços geográficos e políticos onde os atores sociais realizam seus projetos de vida [...] (ARROYO, CALDART, MOLINA, 2009, p. 137).

(11)

Diante dessa realidade, propõe-se um ensino de Geografia contextualizado que esteja voltado para a população do campo do Semiárido Paraibano, ressaltando a necessidade de considerar o campo como um lugar específico e com sujeitos que lhe são próprios, os quais possuem história, cultura, identidade e lutas que devem ser respeitadas e legitimadas. A educação precisa ser democrática e respeitar a diversidade da população que vive no/do campo, ela deve sempre ser contextualizada com as condições de vida da população para que assim ela possa se adaptar às formas de vivências, aos problemas e às dificuldades da população que vive no e do campo do Semiárido Paraibano.

A primeira intencionalidade na contextualização do ensino de Geografia nas escolas do campo do Semiárido Brasileiro é construir, desde a escola, uma visão positiva desse lugar, descortinando as suas potencialidades tanto no que se refere às possibilidades naturais e culturais ou históricas como ponto de vista do conhecimento dos saberes que as pessoas produzem no enfrentamento do dia a dia, como construindo diferentes formas de viver nessa região. De acordo com Pontuschka, Paganelli e Cacete (2009), é imprescindível a aquisição de novas habilidades, valores e atitudes, já que a sociedade encontra-se em constante transformação. Assim, a Geografia – uma ciência dinâmica, em constante movimento – tem um papel social muito grande, devendo envolver não apenas aspectos físicos, mas principalmente, humanos, com o bom relacionamento entre as pessoas de uma comunidade, consciência da interferência do homem na natureza, os desafios do avanço tecnológico. Ou seja, segundo Oliveira (2010), o ensino da ciência geográfica precisa buscar a observação, análise e compreensão da sociedade e do espaço em que está inserido o aluno.

As referências bibliográficas pesquisadas mostram que o ensino de Geografia nas escolas do campo do Semiárido Paraibano precisa ser diferenciado e interdisciplinar, tendo como objetivo central a formação de cidadãos conscientes, ativos e dotados de opinião, deixando o educando conhecer o mundo e se colocar diante dele, desde o espaço em que vive, até o planeta como um todo. Em outras palavras, o educando deve ser convidado a construir, gradativamente, cada conceito, tornado-se um ser participativo do processo e não mero reprodutor de informações.

(12)

Pressupostos Metodológicos

O subprojeto “ Construindo um ensino de Geografia contextualizado nas escolas do campo do Semiárido Paraibano” se caracteriza como uma pesquisa Quali-Quantitativa, em que estão sendo utilizados pressupostos teóricos da Observação Participante e da Pesquisa-Ação (MARCONI e LAKATOS, 2009). A pesquisa Participante vem sendo valorizada por educadores que veem a necessidade de propostas alternativas da sociedade para solucionar os problemas na área educacional.

De acordo com Gil (2008), a Pesquisa-Ação mostra-se útil para a pesquisa em educação, uma vez que tem frequentemente como objetivo a solução de um problema prático ou o desenvolvimento de um projeto educativo, Além disso, a pesquisa - ação, por requerer o envolvimento de participantes representativos das organizações sociais ou da comunidade, favorece o trabalho posterior de implantação das ações.

O subprojeto está sendo executado no município de Sumé, localizado na microrregião do Cariri Ocidental paraibano. abrange a Escola Agrotécnica de Ensino Fundamental Dep. Evaldo Gonçalves de Queiroz. Mesmo tendo sua sede na área considerada “urbana” pelo IBGE, atende a populações que majoritariamente estão vinculadas ao trabalho e à vida no campo, sendo pois sua identidade definida por este vínculo. Nesta escola procuraremos coletar, questionar, interpretar e relatar dados, a fim de diagnosticar a prática pedagógica dos professores de Geografia e a realidade do entorno escolar, orientando e fornecendo suporte teórico-metodológico aos docentes e contribuindo não só para a melhoria das condições do processo de ensino-aprendizagem no âmbito escolar, mas também, através do exercício da pesquisa e da cidadania.

Realizações de ações no processo de construção do conhecimento geográfico

O presente subprojeto PIBID da Universidade Federal de Campina Grande é concebido em uma perspectiva interdisciplinar e, com o título Construindo um Ensino de Geografia Contextualizado nas Escolas do Campo do Semiárido Paraibano, prevê ações integradas entre o acompanhamento pedagógico e as atividades interdisciplinares, sendo desenvolvidos nos contextos acadêmico (Universidade) e escolar (escola da rede publica). Desta forma, estão sendo desenvolvidas as seguintes ações:

(13)

A - Diagnóstico e análise da prática educativa dos professores de Geografia

Utilizando a observação participante, foram realizadas entrevistas e aplicações de questionários aos docentes e discentes da escola, com o objetivo de diagnosticar os principais problemas e potencialidades da mesma; identificar as metodologias e técnicas de ensino empregadas pelos professores na sua prática pedagógica em relação ao ensino de Geografia, bem como as percepções e concepções prévias e finais sobre o ensino de Geografia nas escolas do campo, na concepção dos professores e alunos. As mesmas serão adquiridas através de aplicação de questionários estruturados aos professores e alunos em dois momentos: na fase inicial e final da implantação do subprojeto, com objetivo de verificar as mudanças das práticas pedagógicas dos professores em sala de aula no processo de construção de um ensino contextualizado de Geografia, como também, compreender a evolução do conhecimento geográfico do aluno que está inserido nesta nova proposta de ensino.

B - Análise do livro didático de Geografia

Baseando-se nos critérios estabelecidos pelo Programa Nacional do Livro Didático – PNLD, foi analisada de forma crítica a corrente geográfica do livro didático utilizado na escola, destacando os conceitos, os conteúdos e as atividades propostas e sua relação com o campo e o Semiárido Brasileiro.

C - Palestras educativas

Com a participação dos professores e alunos do Curso de Licenciatura Plena em Educação do Campo da UFCG – CDSA, estão sendo ministradas, ao longo da implantação do subprojeto, palestras para os alunos do 7º ao 9ª ano, com as seguintes temáticas: A paisagem geográfica do campo e sua relação com o Semiárido, a importância da água para o homem do campo do Semiárido, a relação cidade e campo no Semiárido e educação geoambiental no campo.

D - Formação continuada dos professores Roda de leitura

Ao longo da implantação do subprojeto estão sendo realizadas rodas de leituras com os professores de Geografia da Escola Agrotécnica de Ensino Fundamental Dep. Evaldo Gonçalves de Queiroz, juntamente com os alunos bolsistas selecionados. Nestes

(14)

momentos de leituras, estão sendo realizados estudos dirigidos sobre as seguintes temáticas: O desenvolvimento do ensino de Geografia, conceitos geográficos, ensino de Geografia contextualizado nas escolas do campo do Semiárido, o currículo de Geografia das escolas do campo e técnicas e métodos de ensino utilizados no ensino de Geografia.

E - Formação continuada dos professores Oficinas pedagógicas

Para interagir com as leituras realizadas nas rodas de leituras no processo de formação continuada dos professores, estão sendo realizadas as seguintes oficinas no decorrer do desenvolvimento do subprojeto: oficina 1 – A relação Escola/Aluno/Professor, oficina 2 – Pesquisa de Campo no âmbito geográfico, oficina 3 – Desenho e ensino de Geografia nas escolas do campo, oficina 4 – A música como proposta metodológica no ensino de Geografia, Oficina 5 – A notícia e sua relação com o ensino de Geografia, Oficina 6 – Entrevistas e a busca do conhecimento geográfico nas escolas do campo.

Resultados Pretendidos

A compressão do espaço geográfico tendo como referência o ensino de Geografia é fundamental para a explicação das especificidades do Semiárido. A sociedade estruturada a partir de sujeitos, que buscam no processo educacional, a emancipação humana, tem no ensino de Geografia a condição básica para essa construção, quando os alunos trazem as experiências que serão articuladas na sala de aula num processo educativo de base dialógica.

O ensino de Geografia, buscando a valorização do campo do Semiárido, terá no educador o sujeito que irá viabilizar a construção socioespacial sob a forma de intervenção direta na sociedade, através de um diálogo permanente com o conhecimento produzido na comunidade. A educação do campo é definida a partir dos sujeitos a quem se destina estudar as particularidades do campo relacionando com as diferentes escalas geográficas. A Geografia deve, portanto, implantar uma educação do campo estruturada a partir das especificidades do Semiárido, vinculada aos sujeitos que dela fazem parte,

(15)

isto é, numa relação socioespacial que amplie a visão geográfica do espaço nos seguintes níveis: local, regional, nacional e internacional.

A partir das ações que estão sendo desenvolvidas no caminhar do subprojeto, pretendemos criar uma proposta de ensino de Geografia contextualizado para as escolas do campo no Semiárido Paraibano. Para a criação desta proposta, julgamos necessário, alcançarmos alguns objetivos mais específicos que seriam: identificar nas práticas pedagógicas desenvolvidas pelos professores pesquisados propostas consolidadas na escola, ancoradas na realidade e nas práticas dos povos do campo do Semiárido Paraibano, com metodologias, conteúdos, currículo e estrutura apropriados à região, levando em conta suas potencialidades socioculturais, econômicas e ambientais. Acreditamos que tais objetivos a serem alcançados irão nos auxiliar na possível elaboração de uma proposta pedagógica visando ao ensino contextualizado de Geografia nas escolas do campo do Semiárido Paraibano.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

ARROYO, M.G; CALDART, R.S; MOLINA, M. C. (Org). Por uma educação do campo. 4° ed. Petrópolis, RJ: Vozes, 2009.

ALMEIDA, Geraldo Peçanda de. Transposição didática: por onde começar? São Paulo: Cortez, 2007.

CALDART, R. S. Ser educador do povo do campo. In: KOLLING, E. J.; CERIOLI, P. R.; CALDART, R. S. (Org.). Educação do campo: identidade e políticas públicas. 2. ed. Brasília: UnB, 2002. V. 4. 136 p. (Educação do Campo).

CARLOS, Ana F. A. A geografia na sala de aula. 8°ed. São Paulo: Contexto, 2006.

CASTROGIOVANNI, Antônio (Org). Ensino de geografia: práticas e textualizações no cotidiano. 2° ed. Porto Alegre: Mediação, 2005.

FREIRE, Paulo. Pedagogia da autonomia: saberes necessários à prática educativa. São Paulo: Paz e Terra, 2009.

FREITAS, Nacelica Barbosa et al. Relação campo – cidade: o ensino de geografia e as especificidades do semiárido.In:__. Caderno multidisciplinar – Educação e contexto do Semiárido: múltiplos espaços para o exercício da contextualização. V1 – Juazeiro/BA: selo editorial RESAB, 2009. P 105 – 118.

GIL, Antonio Carlos. Métodos e técnicas de pesquisa social. 6° ed. São Paulo: Atlas, 2008.

(16)

LAKATOS, Eva Maria e MARCONI, Marina de Andrade. Metodologia científica. 5° ed. São Paulo: Atlas, 2009.

LIBÂNEO, J. C. Didática. 3° ed. São Paulo: Cortez, 2004.

MARTINS, Josemar da Silva. Anotações em torno do conceito de educação para a convivência com o Semiárido. In: RESAB. Educação para a convivência como Semiárido Brasileiro – Reflexões teóricas – práticas da RESAB. Juazeiro – BA: Secretaria Executiva da RESAB, 2006. P. 115-146.

OLIVEIRA, Ariovaldo Umbelino de. Para onde vai o ensino de geografia? 9° ed. São Paulo: Contexto, 2010.

PONTUSCHA, N. N; OLIVEIRA, A. U. (org). Geografia em Perspectiva: ensino e pesquisa. 3° ed. São Paulo: Contexto, 2006.

PONTUSCHKA, N. N; PAGANELLI, T. I; CACETE, N. H. Para ensinar e aprender Geografia. 3° ed. São Paulo: Cortez, 2009.

REGO, Nelson; CASTROGIOVANNI, Antonio Carlos e KAERCHER, Nestor André (Orgs). Geografia: práticas pedagógicas para o ensino médio. Porto Alegre: Artmed, 2007.

SANTANA, Marcos Oliveira (Org). Atlas das áreas susceptíveis do Brasil. MMA, Secretaria de Recursos Hídricos – Universidade Federal da Paraíba – Brasília: MMA, 2007.

VESENTINI. José Wiliam (org). Geografia e ensino: textos críticos. 11° ed. São Paulo: Papirus, 2009.

Referências

Documentos relacionados

Nesta perspectiva, observamos que, após o ingresso dos novos professores inspetores escolares na rede da Secretaria de Estado de Educação, houve um movimento de

De acordo com as entrevistas realizadas com os diversos sujeitos envolvidos no projeto, podemos ter uma noção clara de qual foco está sendo dado ao processo de

É importante esclarecer que, com a divulgação dos resultados do desempenho educacional do estado do Rio de Janeiro em 2010, referente ao ano de 2009, no IDEB, no qual

Então os pais divulgam nosso trabalho, e a escola também ela divulga todos os resultados, então nós temos alguns projetos que desenvolvemos durante o ano letivo, que

Fávero (2012) acredita que quando os professores conhecem satisfatoriamente os conceitos fundamentais da reforma, terão mais condições de contribuir para a implantação

de professores, contudo, os resultados encontrados dão conta de que este aspecto constitui-se em preocupação para gestores de escola e da sede da SEduc/AM, em

A análise dos instrumentos apresentaram fragilidades no desempenho da gestão, descritas no estudo do caso e nas entrevistas que revelam equívocos institucionais,

O esforço se desdobra em ações de alcance das projeções estabelecidas pelo MEC para o índice de desenvolvimento da Educação Básica (IDEB) Dentre os 10