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Poços de Caldas 2020

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PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE MINAS GERAIS Departamento de Relações Internacionais

UNODC 2015 - CONGRESSO DAS NAÇÕES UNIDAS SOBRE PREVENÇÃO AO CRIME E JUSTIÇA CRIMINAL

Ana Laura Machado Pereira Diretora

Afonso Machado Diretor Assistente Ana Carolina Zappa Diretora Assistente Luis Eduardo Vischi Diretor Assistente

Poços de Caldas 2020

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SUMÁRIO

1.APRESENTAÇÃO DO TEMA​………....

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2.APRESENTAÇÃO DO COMITÊ​………...9

3.QUESTÕES RELEVANTES PARA AS DISCUSSÕES​……….. 11 4.LISTA DE ATORES INTERNACIONAIS​………... 12 4.1 Atores Estatais………..…..………..12

5.POSICIONAMENTO DOS PRINCIPAIS ATORES​………...12

5.1 Estados Unidos da América……….………...12

5.2 China………...………..13

5.3 Brasil………...………..14

5.4 Noruega………...………..15

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1.APRESENTAÇÃO DO TEMA

A liberdade é um dos direitos mais preciosos de todos os seres humanos. Em algumas circunstâncias, as autoridades judiciais reconhecem a necessidade de privar certas pessoas desse direito, por um tempo determinado, como consequência das ações pelas quais foram acusadas. Quando isso acontece, essas pessoas são entregues pela autoridade judicial à responsabilidade da administração penitenciária. Dessa forma, desde seus primórdios, a essência punitiva da prisão é a privação da liberdade, sendo da responsabilidade das autoridades penitenciárias a garantia de que isso seja estabelecido de tal forma que não seja mais restritiva do que o necessário (INSTITUTE FOR CRIMINAL POLICY RESEARCH, 2018).

Entretanto, ao analisar o sistema prisional internacional, observa-se que o seu gerenciamento, na maioria das vezes, não é operado dentro das estruturas éticas e nem com os propósitos originais, sendo marcado pela falta de transparência e pelo desrespeito aos direitos fundamentais humanos. Sem um contexto ético forte, a condição em que um grupo de pessoas recebem significativo poder sobre outro pode facilmente se tornar um cenário de abuso de poder (INSTITUTE FOR CRIMINAL POLICY RESEARCH, 2018).Assim, os graves problemas carcerários globais têm levado o poder público e a sociedade a refletir sobre a atual circunstância política de execução penal, que, na prática, incentiva o encarceramento em massa, sob condições desumanas (INSTITUTO DE PESQUISA ECONÔMICA APLICADA, 2015).

Em grande parte do mundo, as últimas décadas marcaram um intenso crescimento no uso da prisão como resposta ao crime e à desordem social. Segundo dados divulgados pela ​World Prison Population List​, globalmente, a cada 100 mil pessoas 148 são presas, sendo em termos absolutos, um total de 10,2 milhões de detentos no período de 2011 a 2013. Esse número inclui tanto aqueles que foram condenados à prisão após a finalização do julgamento, quanto os que estão detidos antes do julgamento ou sentença (WORLD PRISON POPULATION LIST, 2018).

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As causas desse aumento são complexas e variadas, mas muitas das consequências são comuns globalmente. A maioria dos países se encontra em uma luta constante contra a superlotação, as más condições nas prisões e a falta de garantia de prestação de serviços básicos para as pessoas encarceradas. Quando administradas de forma inadequada, as instituições prisionais tornam-se um lugar marcado pela negligência, abuso, corrupção e contaminação criminal (NAÇÕES UNIDAS BRASIL, 2015).

É crucial destacar que, um dos maiores problemas enfrentados por sistemas prisionais ao redor do mundo é a superlotação dos presídios, que já alcançou proporções epidêmicas em muitos países. Essa problemática é uma consequência de diversos fatores, como o mal gerenciamento das instituições penitenciárias, os altos índices de prisões preventivas, os fortes níveis de reincidência, o encarceramento seletivo, entre outros. A lógica equivocada, que alimenta um imaginário popular, de que prender com intensidade implica na redução da violência, também é crucial no incentivo do encarceramento em massa. Entretanto, ao analisar dados concretos da realidade criminal brasileira, por exemplo, nota-se que essa política de segurança pública, de alto índices de encarceramento, não impediu que 7 pessoas fossem assassinadas por hora em 2015 no país (ANISTIA INTERNACIONAL, 2018).

Além de provocar condições desumanas e precárias, privando os detentos de garantias básicas de bem estar, o problema da superlotação também limita as administrações prisionais de arcar com suas responsabilidades mínimas dentro dos presídios. Assim, nota-se a grave redução da capacidade das instituições penitenciárias em lidar com a pequena minoria de detentos que, de fato, representam sérios riscos à segurança pública. Na realidade essa situação aumenta os riscos de insegurança entre os próprios prisioneiros e para as pessoas fora dos muros das prisões (INSTITUTE FOR CRIMINAL POLICY RESEARCH, 2017).

Cabe aqui analisar como a prisão preventiva contribui consideravelmente para a superlotação das prisões, sendo um desafio na maioria das prisões do globo. Vale acentuar que, esse tipo de encarceramento é uma medida cautelar do ordenamento jurídico de alguns países, que priva totalmente a liberdade de um indivíduo do seu direito fundamental de ir e vir, antes mesmo da prolação de uma sentença condenatória. Assim, é possível destacar diversos problemas acerca da banalização no uso da prisão preventiva, muito

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presente nos sistemas prisionais brasileiro e de outros países da América Latina (SILVEIRA, 2015).

As variadas problemáticas existentes nas instituições penitenciárias são, em larga medida, reflexos da utilização indiscriminada e inadequada do encarceramento preventivo. Ao analisar o exemplo da realidade carcerária brasileira e os dados apresentados pelo Novo Diagnóstico de Pessoas Presas no Brasil em 2014, fica evidente que quase metade (41%) do total de presos estão segregados cautelarmente, mostrando a gravidade e a contínua banalização da prisão preventiva no país. O uso indevido dessa medida também é analisado no sistema carcerário da Nigér, que apresenta 76% dos seus detentos em segregação cautelar, contribuindo assim para o aumento de diversas problemáticas nas unidades carcerárias (SILVEIRA, 2015).

Outro problema, que intensifica diretamente a superlotação dos presídios, é o alto índice de reincidência de presos, sendo essa uma questão na maioria dos países com alta população encarcerada. Assim, fica evidente a necessidade de investir em medidas eficientes de reintegração social na administração penitenciária. O fornecimento de competências profissionais aos presidiários é uma forma eficaz de ajudá-los a deixar a criminalidade ao saírem da prisão, consequentemente reduzindo a reincidência. Dessa maneira, fica claro que, diversos problemas de mau gerenciamento das instituições prisionais levam à superlotação. Esse cenário afeta diretamente as condições precária das prisões, limitando a possibilidade de que os presos tenham acesso aos serviços básicos, como cuidados da saúde e reabilitação (NAÇÕES UNIDAS BRASIL, 2015).

Vale ressaltar que, devido à lógica seletiva dos sistemas penais mundiais, os abusos e condições desumanas das sedes penitenciárias são mais sentidas pelas pessoas pertencentes a grupos mais vulneráveis, como a comunidade LGBT+, as mulheres, populações negras, de origem indígena e pessoas de baixa renda. A luta constante pelos direitos fundamentais desses grupos se dá em todos os aspectos da sociedade, incluindo dentro de prisões. É um fato que essas pessoas sofrem diariamente, estando livres ou não, situações de discriminação e inferiorização, sendo que dentro das prisões são humilhadas e ainda mais mal-tratadas do que os demais detentos (ANISTIA INTERNACIONAL, 2017). Sob essa perspectiva, é crucial apontar para os índices de populações afrodescendentes encarceradas, mostrando a forte desigualdade social e racial culminada pela segregação e periferização dessas pessoas. Segundo informações divulgadas em ​2010

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pela Prison Policy Initiative​, sobre as tensões raciais no sistema prisional estadunidense, ressalta-se que os negros são 40% dos presos, enquanto representam apenas 13% da população norte-americana. No sistema prisional brasileiro a realidade é semelhante, segundo o Sistema de Informações Estatísticas do Sistema Penitenciário Brasileiro (INFOPEN),entre os presos, 61,7% são negros, sendo que 53,63% da população brasileira têm essa característica. Além disso, em 2014, 75% dos encarcerados possuíam grau de escolaridade somente até o ensino fundamental completo, mostrando que a grande maioria dos presos brasileiros eram negros e pobres (POLITIZE, 2017).

Dessa maneira, ao analisar esses dois sistemas carcerários, observa-se a problemática do encarceramento seletivo na criminologia brasileira e estadunidense. Isso fica evidente, a partir da compreensão acerca da instrumentalização do sistema judicial na gestão e no controle repressivo de grupos indesejáveis. O forte encarceramento racista nesses países é uma forma de controle social com o intuito de reprimir as populações não-brancas, objetivando a marginalização e segregação cada vez maior desses povos. Assim, fica evidente, o quanto a justiça criminal, muitas vezes, seleciona, de maneira racista, a parcela da população que deve ser encarcerada, sendo os povos negros, indígenas, com baixa escolaridade e baixa renda os alvos principais. Os encarceramentos brasileiro e estadunidense são sistemas extremamentes punitivos, seletivos e racistas (CARVALHO, 2015).

Outro fator que aponta as condições desumanas encontradas nos sistemas prisionais, ao redor do mundo, é o uso de tortura como ferramenta punitiva. Em geral, são cometidos por agentes penitenciários, que realizam sistematicamente revistas nos presos e nos espaços das prisões. Tais revistas são realizadas de forma cruel, de modo altamente irresponsável, com a utilização de sprays de pimenta, armas de choque elétrico e munição de borracha (ANISTIA INTERNACIONAL, 2017). No sistema prisional chinês isso pode ser observado pelos tratamentos extremamente brutais com os presos, que até 2013 eram enviados a campos de trabalhos forçados, onde eram obrigados a trabalhar por mais de 15 horas por dia sem folgas (POLITIZE, 2017).

Neste contexto, vale ressaltar que o uso de tortura e maus tratos de detentos pelos agentes penitenciários, estão diretamente relacionados à falta de treinamento adequado destes. Os responsáveis pelos presos devem passar por uma série de treinamentos que mostram a importância de um gerenciamento de prisões e prisioneiros pautado em

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princípios éticos, que prezam pela dignidade humana. Deve ser destacado que, a administração dos presídios é principalmente um ato de administração de seres humanos, tanto funcionários quanto prisioneiros. Isso significa que existem questões que vão além da eficácia e eficiência. Dessa forma, ao tomar decisões acerca de tratamento de seres humanos, há considerações éticas fundamentais que devem ser ponderados (INSTITUTE FOR CRIMINAL POLICY RESEARCH, 2017).

Assim, há diversos documentos internacionais que guiam e trazem uma série de orientações de como esses treinamentos devem ser realizados. Ao analisar a última edição do A Human Rights Approach to Prison Management, publicado em 2015, pelo Institute for Criminal Policy Research, fica evidente a relevância da universalidade dos princípios éticos, para que a aplicação deste possa ser realizada mundialmente nas instituições penitenciárias. Dessa maneira, as normas éticas não devem ser fundamentadas, ou ter qualquer relação, com alguma cultura ou religião específica. O gerenciamento prisional deve se basear exclusivamente nos princípios de Direitos Humanos, estabelecidos internacionalmente, sendo assim, possível sua universalidade (INSTITUTE FOR CRIMINAL POLICY RESEARCH, 2017).

Sob essa perspectiva, é crucial salientar a relevância dos documentos internacionais publicados nas últimas décadas, que abordam a importância da gestão penitenciária adequada. Aqui será destacado o ​Human Rights and Prisons: A Manual on Human Rights Training for Prison Officials​, que foi publicado em 2005 pelo Escritório do Alto Comissariado das Nações Unidas para os Direitos Humanos. Esse manual fornece instruções e dicas para a realização de cursos de treinamento para funcionários penitenciários. Também é de extrema importância o documento ​As Regras Mínimas Padrão para o Tratamento de Prisioneiros ​, adotadas originalmente pelo Primeiro Congresso das Nações Unidas sobre Prevenção ao Crime e Tratamento de Ofensores em 1955. Esse documento constitui os padrões mínimos universalmente reconhecidos para o gerenciamento de instituições prisionais e o tratamento de prisioneiros (INSTITUTE FOR CRIMINAL POLICY RESEARCH, 2017).

É relevante evidenciar que, a justiça criminal está fortemente interligada com o desenvolvimento sustentável dos Estados. Um conceito relevante que precisa ser analisado é o de Estado de Direito, que tem sua origem na Idade Média, mas que ressurgiu nas últimas décadas nos debates sobre democracia. Assim, observa-se que para os defensores

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de direitos humanos, o Estado de Direito é visto como um instrumento indispensável para evitar o uso arbitrário da força e a discriminação. Por outro lado, do ponto de vista econômico liberal, essa ideia também passou a ser considerada como um pré-requisito essencial para o estabelecimento de economias de mercado eficientes. Com esse ponto de vista, o Estado de Direito passou a receber forte apoio das agências financeiras internacionais e instituições de auxílio ao desenvolvimento jurídico (VIERA, 2017).

Dessa maneira, instituições fortes e eficazes de prevenção do crime e de justiça criminal são fundamentais para a construção da paz e a consolidação do desenvolvimento. Assim, nota-se que não é possível haver desenvolvimento sustentável sem direitos humanos e o Estado de Direito. O secretário-geral da ONU destacou, em seu relatório sobre o avanço da agenda de desenvolvimento das Nações Unidas, que

a paz e a estabilidade, os direitos humanos e a governança eficaz baseada no Estado de Direito e em instituições transparentes são os resultados e facilitadores do desenvolvimento. Não pode haver paz sem desenvolvimento e não há desenvolvimento sem paz. Uma paz duradoura e o desenvolvimento sustentável não podem ser plenamente realizados sem respeito aos direitos humanos e ao Estado de Direito (NAÇÕES UNIDAS BRASIL, 2015).

Em suma, fica evidente que a problemática acerca dos sistemas prisionais é uma questão de segurança internacional, demandando uma maior e mais eficaz cooperação interestatal, com o objetivo de melhorar as condições carcerárias e a eficiência da justiça criminal em todo o mundo. As consequências do encarceramento não são problemas vividos individualmente pelas pessoas que foram presas, visto que, afetam a sociedade mundial como um todo (ANISTIA INTERNACIONAL, 2017). Assim, as ferramentas multilaterais das Nações Unidas auxiliam na harmonização das normas da cooperação internacional para esse assunto, de modo a estabelecer regras, instituições e responsabilidades compartilhadas de combate aos crimes penitenciários (NAÇÕES UNIDAS BRASIL, 2015).

2.APRESENTAÇÃO DO COMITÊ

O 13º Congresso das Nações Unidas sobre Prevenção ao Crime e Justiça Criminal, foi realizado entre os dias 12 e 19 de abril de 2015, na cidade de Doha, Catar. O congresso foi preparado e realizado pelo Escritório das Nações Unidas sobre Drogas e Crimes

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(UNODC), que foi criado em 1997 com o objetivo central de auxiliar os Estados Membros na luta contra drogas ilícitas, crime e terrorismo (NAÇÕES UNIDAS BRASIL, 2015).

Sendo um fórum global que reúne o maior e mais diversificado grupo de atores sociais na área de prevenção ao crime e de justiça criminal, o congresso reuniu representantes de 140 Estados, além de contar com uma ampla presença de Organizações não-governamentais e uma significativa participação da sociedade civil (NAÇÕES UNIDAS BRASIL, 2015).

Os congressos da ONU de prevenção ao crime vem sendo realizados a cada cinco anos desde 1955 ao redor do mundo, abrangendo uma ampla agenda de temas. Estes congressos têm causado um forte impacto no âmbito da justiça criminal, influenciando as políticas públicas de segurança nacionais e internacionais. Assim, oferece aos Estados-membros um fórum para troca de conhecimentos, experiências e informações para o desenvolvimento de estratégias no campo da criminologia e de sistemas prisionais (NAÇÕES UNIDAS BRASIL, 2015).

O congresso de 2015 tinha como objetivo central a integração da prevenção ao crime e da justiça criminal à agenda mais ampla das Nações Unidas para enfrentar os problemas econômicos e sociais e promover o Estado de Direito nos âmbitos nacional e internacional. Assim, melhorar a governança, fortalecer as instituições e reduzir a vulnerabilidade à corrupção são tarefas fundamentais para alcançar o desenvolvimento. O Congresso do Crime considerou o papel fundamental do Estado de Direito como um catalisador do desenvolvimento, bem como um resultado disso, e como parte integrante de um crescimento sustentável e equitativo. Também foi discutida a importância de incluir o Estado de Direito, em especial na prevenção da criminalidade e no fortalecimento do sistema de justiça criminal, nos objetivos de desenvolvimento sustentável (NAÇÕES UNIDAS BRASIL, 2015).

Além do viés desenvolvimentista, que relaciona a justiça criminal ao desenvolvimento econômico, social e sustentável dos Estados, o congresso também teve o foco central nas questões de Direitos Humanos que abordam o sistema carcerário internacional. Foi ressaltada a importância de garantir que os sistemas de justiça criminal sejam eficazes, justos, humanos e responsáveis. Também foi destacado a necessidade de defender os princípios da dignidade humana e o cumprimento universal de todos os direitos humanos e liberdades fundamentais. Houve forte preocupação com a criação de

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programas e medidas mais amplos para o desenvolvimento social e econômico e para a erradicação das condições desumanas, respeitando a diversidade cultural, a paz social e a inclusão social (UNITED NATIONS, 2015).

Dentro dessa perspectiva, o congresso também trouxe para debate a questão do encarceramento seletivo, problemática presente em quase todos os sistemas prisionais ao redor do mundo. Observa-se a importância de analisar os perfis dominantes dos detentos, mostrando como a população negra, as de origem indígena, os estrangeiros, pessoas de comunidades LGBT, e com baixa renda, são os principais alvos. Assim, a percepção de que a justiça criminal pode, em diversos casos, assumir uma postura seletiva e racista, obteve papel central nas discussões (CARVALHO, 2015).

Para além disso, o congresso se comprometeu em incorporar a perspectiva de gênero nos sistemas de justiça criminal, desenvolvendo e implementando estratégias e planos para promover a proteção total de mulheres e meninas contra todos os atos de violência, incluindo o feminicídio. Preocupou-se também em garantir, através de políticas jurídicas, que a igualdade e os direitos de indivíduos, que pertencem a grupos de minorias, como as mulheres, comunidade LGBT+, pessoas afrodescendentes e de origem indígena, fossem garantidas (UNITED NATIONS, 2015).

Outro fator ressaltado, que leva em consideração os direitos fundamentais dos presos, é a implementação de políticas sociais para a melhoria das condições dos reclusos. Essas políticas se concentram em educação, trabalho, assistência médica, reabilitação, reintegração social e prevenção de reincidência. Foi alvo de debate também, a importância de realizar, com frequência e eficiência, treinamentos de gestão prisional aos agentes penitenciários, pautados em princípios éticos de direitos humanos (UNITED NATIONS, 2015).

Foi levado em consideração a promoção e incentivo ao uso de alternativas à prisão, quando apropriado, buscando revisar e reformar a justiça restaurativa, em apoio à reintegração bem-sucedida. Sob esse aspecto, é preciso intensificar os esforços para enfrentar o desafio da superlotação nas prisões ao redor do mundo, por meio de reformas apropriadas da justiça criminal. Isso inclui, quando possível, uma revisão das políticas penais e medidas práticas e eficazes para reduzir a prisão preventiva (UNITED NATIONS, 2015).

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Dessa maneira, foi destacado por diversos representantes, que os princípios para uma boa gestão penitenciária, baseada nos Direitos Humanos, deverá ser fundamentada por instrumentos internacionais como os ​Princípios Básicos para o Tratamento de Prisioneiros​, que tem como princípio número um a ideia de que: “Todos os presos devem ser tratados com o respeito devido à sua dignidade e valor inerentes como seres humanos”. Deverão ser pautados também n’ ​As Regras Mínimas Padrão para o Tratamento de Prisioneiros​, que tem como regra número um:

Nenhum prisioneiro será sujeito a, e todos os prisioneiros deverão ser protegidos de tortura e outros tratamentos ou penas cruéis, desumanos ou degradantes, para os quais nenhuma justificativa possa ser invocada como justificativa. A segurança dos presos, funcionários, prestadores de serviços e visitantes deve ser garantida em todos os momentos ​(INSTITUTE FOR CRIMINAL POLICY RESEARCH, 2018, p.14).

Portanto, o comitê aqui apresentado se pautará em princípios democráticos, disponibilizando tempos de falas e direitos de votos igualitários a todas as delegações presentes. Buscará que se firme um acordo que terá uma proposta de resolução de caráter recomendatório aos Estados-membros. Vale ressaltar que, o comitê não deseja que a resolução final se baseie firmemente na resolução original do Congresso. Devido a isso, mesmo com a manutenção de algumas temáticas da agenda, o objetivo é que os delegados simulem, de maneira autêntica o ambiente formal de negociações, seguindo fielmente as posições dos atores estatais ou não, que estão representando. Assim, de forma espontânea poderão trazer ao debate questões que foram, ou não, abordadas no 13º Congresso do Crime.

3.QUESTÕES RELEVANTES PARA AS DISCUSSÕES

Ao final das sessões, é desejável que os delegados tenham debatido as seguintes questões:

1. Quais seriam as principais medidas tomadas pelos Estados, para que os graves problemas dos sistemas carcerários como, a superlotação, as altas prisões preventivas e o encarceramento em massa fossem solucionados?

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2. Como os Estados deveriam lidar com os problemas causados pela falta de gerenciamento adequado das instituições prisionais e a falta de treinamentos eficientes dos agentes penitenciários?

3. Quais deveriam ser as medidas, tomadas pelos Estados, acerca da problemática do encarceramento seletivo, que prende de forma parcial pessoas de grupos considerados indesejáveis?

4. Como deverá ser estabelecido uma justiça criminal adequada, baseada na paz duradoura, nos direitos humanos e na governança eficaz fundamentada no Estado de Direito, com o objetivo de alcançar o desenvolvimento sustentável?

4.LISTA DE ATORES INTERNACIONAIS 4.1 Atores Estatais

1, Afeganistão; 2. África do Sul 3. Alemanha; 4. Angola; 5. Argentina; 6. Austrália; 7. Áustria; 8. Brazil; 10. Canadá; 11. Chile; 12. China; 13. Colombia; 14. Cuba; 15. República Democrática da Coreia; 16. Dinamarca; 17. Egito; 18. Estados Unidos 19; França; 21. Holanda; 22. Índia; 23.Indonésia; 24. Irã; 25. Iraque; 26. Itália; 27. Japão; 28. Libéria; 29. México; 30. Niger; 31. Nigéria; 32. Noruega; 33. Panamá; 34. Peru; 35. Reino Unido; 36. Rússia; 38. Tailândia. 38. Turquia.

5.POSICIONAMENTO DOS PRINCIPAIS ATORES 5.1 Estados Unidos da América

Terceiro país mais populoso do mundo, os Estados Unidos da América possuem a maior população encarcerada do mundo. Segundo o Bureau de Estatística Judiciária do Departamento de Justiça dos EUA (2017), o número de presos chega a cerca de 2.217.947, com o índice de reincidência no crime chegando a 77%. O endurecimento geral da legislação, com penas mais extensas para diversos crimes, levou o país a esse patamar.

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Atualmente, uma em cada quatro pessoas privadas de liberdade no mundo encontra-se nos Estados Unidos (POLITIZE, 2017).

A partir dos anos 1980, esse país passou a adotar medidas políticas severas no combate às drogas, que ficou conhecido como “guerra às drogas”, levando a ondas de encarceramento em massa. Observa-se, por dados divulgados pelo Bureau de Estatística Judiciária (2017), que há cerca de 206 mil pessoas cumprindo penas por crimes relacionados a drogas em presídios estaduais e outros 82 mil em prisões federais. É importante destacar também que, os Estados Unidos possuem uma grande população afrodescendente e latino-americana encarcerada. Isso mostra como esse sistema prisional assume uma característica significativa de encarceramento seletivo (POLITIZE, 2017).

Dessa forma, fica evidente que a presença e o comprometimento com o Congresso do Crime das Nações Unidas, é mais do que crucial para a sua legitimidade e eficiência. Em relação ao que será debatido, a delegação representativa dos Estados Unidos deverá ter um posicionamento firme e de liderança. Deverá ser buscado acordos que visam o endurecimento de política públicas no combate às drogas. A delegação estadunidense também deverá se posicionar favorável à utilização da privatização dos presídios como ferramenta para diminuir o peso dos Estados no sistema penitenciário e como solução à superlotação.

5.2 China

A população carcerária chinesa é a segunda maior do mundo, com aproximadamente 1.650.800 detentos, não incluindo as prisões preventivas, que chegam a cerca de 650 mil. O sistema prisional chinês é considerado um dos mais brutais do mundo, enfrentando diversas dificuldades e infringindo muitos princípios de direitos humanos (GOUVÊA, 2013).

Até 2013, utilizava-se campos de trabalhos forçados como forma punitiva, que permitia o aprisionamento de pessoas por anos, sem necessidade de acusação, obrigando-as a trabalhar em média 15 horas por dia. Esse sistema, viola as leis internacionais de direitos humanos e a própria constituição chinesa, pois além de privar os indivíduos de liberdade sem processo judicial, também os submetem à ambientes

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insalubres, alimentação precária, proibição de visitas, punições brutais e tortura (GOUVÊA, 2013).

Além disso, outros problemas continuam a existir, com o a falta de transparência, desrespeito a direitos fundamentais dos presos, e a falta de garantia do direito à um processo legal para a condenação. O uso ilegal de tortura ainda é uma prática generalizada no sistema judicial chinês, sua utilização possui dois objetivos principais: de extrair confissões e obter provas para processar criminosos. Em centros de detenção e em instalações não oficiais, a tortura é realizada com frequência, ficando a cargo dos agentes penitenciários ou da polícia. Vale ressaltar que, apesar de várias tentativas de reforma desde 2010, a definição de tortura sob a jurisdição chinesa continua a ser inadequada e em violação do direito internacional (ANISTIA INTERNACIONAL, 2015).

5.3 Brasil

Com a terceira maior população encarcerada do mundo, alcançando o patamar de 727 mil presos, a situação do sistema prisional brasileiro é alarmante. Nota-se um significativo aumento de 707% da população encarcerada brasileira, comparado ao início da década de 90. Vale ressaltar que a imensa maioria dos presos do país (89%) estão em unidades superlotadas (ANISTIA INTERNACIONAL, 2017). Além da superlotação, os presídios em geral são marcados pelo encarceramento em massa da população negra e pobre, e pela falta de gerenciamento estatal dos sistemas penitenciários, que passam a ser comandado por facções. Dessa forma a presença brasileira no Congresso do Crime das Nações Unidas será de extrema importância para as políticas de segurança nacional e internacional (INSTITUTO DE PESQUISA ECONÔMICA APLICADA, 2015).

O representante do Brasil, que falará em nome do Grupo dos 77, deverá ressaltar a importância do Congresso em reunir representantes de governos, organizações internacionais e outras partes interessadas para fornecer conselhos valiosos aos Estados Membros sobre políticas de prevenção ao crime e justiça criminal. O representante deverá ressaltar que o Estado de Direito e o desenvolvimento sustentável são mutuamente interligados, buscando acordos com outros Estados em como estabelecer uma paz duradoura.

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Assim, uma das maiores preocupações brasileiras é com a questão dos crimes organizados por facções, buscando estabelecer acordos que visam atender essa demanda. Outra forte apreensão brasileira é com as questões de direitos humanos e da superlotação. Por conta disso, a delegação deverá abordar no debate questões sobre o melhoramento das condições de vida dos detentos. Assim como a questão do alto índice de reincidência, que chega a 70%, deverá ser levantada e debatida, buscando medidas que visam melhorias nos programas de ressocialização dos presos.

5.4 Noruega

Em contrapartida com os países acima, a Noruega possui um sistema prisional que está obtendo sucesso constante, conseguindo manter o nível de encarceramento baixo e garantindo um tratamento mais humanos aos poucos condenados. O sistema carcerário do país se fundamenta no princípio de “justiça restaurativa”, que visa reparar os danos causados ​​pelo crime ao invés de punir os detentos, concentrando-se na reabilitação destes. É devido a essas medidas, que a Noruega consegue manter menos de 4 mil pessoas presas, por curtos períodos de tempo, chegando a um índice de reincidência baixo, cerca de apenas 20% (BUSINESS INSIDER, 2014).

Devido ao seu raro sucesso com o sistema prisional, a Noruega se faz de extrema relevância em contrabalancear o debate do 13° Congresso do Crime. Esse país terá o papel de contra argumentar os posicionamentos dos países com altos índices de fracasso no sistema carcerário. Deverá também se posicionar como um exemplo a ser seguido pelas demais nações, buscando compartilhar informações e políticas de segurança pública. Além disso, o representante da Noruega também deverá estar aberto a receber críticas e buscar melhorar ainda mais seus dados de sucesso.

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REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

CARVALHO, Salo de. ​O Encarceramento Seletivo da Juventude Negra Brasileira​: a decisiva contribuição do poder judiciário. N. 67. Belo Horizonte, 2015.

CHINA: TORTURA, e confissões forçadas incontroláveis. ​Anistia Internacional. 2015.

Disponível em

https://anistia.org.br/noticias/china-tortura-e-confissoes-forcadas-incontrolaveis-em-meio-s istematicas-violacoes-dos-direitos-de-advogados/ Acesso em: 09 mar. 2020.

GOUVÊA, Carina Barbosa. China e os campos de reeducação pelo trabalho. Revista Jus Navigandi. Teresina, 2013. Acesso em 09 mar 2020.

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REPORT of the Thirteenth United Nations Congress on Crime Prevention and Criminal Justice. ​United Nations​. 2015. Disponível em: ​https://www.un.org/ Acesso em: 6 nov.2019.

SILVEIRA, Felipe Lazzari da. ​A Banalização da Prisão Preventiva para a Garantia da Ordem Pública​. N. 67, Belo Horizonte, 2015.

SISTEMA PRISIONAL: uma tragédia anunciada. ​International Amnesty​, 2017. Disponível em: https://www.amnesty.org. Acesso em: 06 nov. 2019.

SISTEMA PENITENCIÁRIO em outros países. ​Politize​. 2017. Disponível em: https://www.politize.com.br Acesso em: 06 nov. 2019.

SOBRE O levantamento nacional. ​Sistema de Informações Estatísticas do Sistema

Penitenciário Brasileiro​. 2014. Disponível em: ​http://depen.gov.br Acesso em: 06 nov. 2019.

VIEIRA, Oscar Vilhena. Estado de Direito. Enciclopédia Jurídica da PUCSP. 2017. Disponível em: https://enciclopediajuridica.pucsp.br/verbete/78/edicao-1/estado-de-direito Acesso em: 06 nov. 2019.

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