¹ Aluno do curso de Engenharia Civil. Universidade Estadual da Paraíba, Campus VIII
MODELOS DA CONSTRUÇÃO ENXUTA: OTIMIZAÇÃO NA PRODUÇÃO COM A IMPLANTAÇÃO DOS SISTEMAS DE KANBAN E ANDON
Adonias da Costa Fernandes Neto¹ Thiarly Feitosa Afonso de Lavôr¹
RESUMO
Esse trabalho apresenta os elementos que constituem os sistemas Kanban e Andon, principais ferramentas do Just-in-time, metodologia desenvolvida pelo Sistema Toyota de Produção, que tem como objetivo a constante procura por técnicas de gerenciamento que tornem as empresas mais produtivas, porém com menos custos. Sua aplicação na construção civil inovou o conceito de construção enxuta, por se tratar de dispositivos que são relevantes na busca pela redução dos desperdícios de materiais nas obras e agilidade para solucionar problemas na execução e/ou produção dos serviços, visando sempre na produtividade com qualidade e no tempo correto. De fato a utilização desses métodos tornam transparentes as deficiências no processo de gestão da produção. Com o uso dessas ferramentas de gerenciamento visual as falhas que anteriormente não eram visualizadas pela administração passam a ser identificadas e desta forma combatidas. Além disso, sua implantação favorece o estabelecimento da comunicação, discussão e participação dos operários de modo a comprometê-los às melhorias da obra.
Palavras-chave: Kanban. Andon. Produção. Construção enxuta.
ABSTRACT
This paper presents the elements of the Kanban and Andon systems, major Just- in-time tools, methodology developed by the Toyota Production System, which aims to the constant demand for management techniques that make the most productive companies, but with less costs. Its application in construction innovated the concept of lean construction, because it is devices that are relevant to the efforts to reduce the waste materials in the works and agility to solve problems in the implementation and/or production of services, aiming to productivity with quality at the right time. In fact the use of these methods make transparent the deficiencies in production management process. With the use of these visual management tools faults that were not previously viewed by the administration are now identified and addressed this way. In addition, its implementation favors the establishment of communication, discussion and participation of workers in order to commit them to the work improvements.
1. INTRODUÇÃO
O desenvolvimento econômico do Brasil vem, nos últimos anos, contribuindo no fortalecimento da economia devido à grande disponibilidade de créditos, o que favoreceu aos investimentos no setor construtivo. Para a indústria, o governo interfere com a alocação dos recursos tais como os investimentos de créditos e as permissões para a construção, isto é, a liberação do capital e as negociações das atividades propostas. Em consequência, esses investimentos passaram a originar de empresários e autônomos de vários outros setores da economia que não estejam necessariamente ligados ao meio imobiliário.
Com essa crescente briga pelo setor imobiliário, nada mais importante que uma inovação incremental para que seja minorado os custos de produção para uma atividade financeira tão espessa como a construção civil. Com isso, é necessário que seja imposta, em meios às tipologias construtivas, uma logística de produção para que a otimização seja um fator chefe da produção embasado em uma boa comunicação entre os produtores.
Um dos setores mais sensíveis para o alcance de uma alta produção em uma obra de grande e pequeno porte é o estoque, cujo mesmo, serve aos que produzem, sendo referência de ponto de partida para a atividade laboral. Porém, esse setor, a grande parte das construções, são organizados em uma logística simples, a labial. O que pode gerar esquecimentos e desorganizações no reabastecimento dos materiais, causando tempos inoperantes e, consequentemente, custos indesejáveis.
Uma tipologia construtiva voltada à lógica de comunicação é um fator primordial numa etapa de produção. Assim o Kanban, em japonês “cartão”, é uma inovação incremental que gera uma otimização dos custos e uma consequente aceleração na atividade laboral de uma construção civil, principalmente de grande porte.
Assim como o sistema Andon, “lâmpada” em japonês, uma importante ferramenta de gestão visual quando as anormalidades ocorrem. Cores luminosas ou números correspondem às estações de trabalho ou máquinas, e servem para detectar um problema nestas estações.
O executivo TaiichiOhno observou em um supermercado que a reposição do estoque era feita quando os próprios clientes avisavam, o que gerava uma menor rotatividade de mercadoria. O sistema está relacionado ao sistema de “puxar” a produção. Onde se pode controlar o fluxo da geração a fim de se obter a mercadoria. Com isso o executivo resolveu implantar esse sistema em sua empresa, que era a Toyota, adaptando-a para a linha de produção. Ao se implantar este método, foi possível reparar melhorias na produção da Toyota.
2. METODOLOGIA
O Sistema Toyota de Produção (STP) mudou os paradigmas da administração da produção, trazendo à tona idéias simples e inovadoras baseadas em um objetivo comum: aumentar a eficiência da produção pela eliminação consistente e completa de desperdícios (OHNO, 1997).
Os dois pilares do Sistema Toyota de Produção são o just-in-time e a automação com toque humano, ou autonomação. Assim, duas importantes ferramentas nesse novo modo de produção são o Andon e o Kanban
2.1 Sistema kanban
A gestão visual que o Kanban oferece transforma radicalmente a gestão do dia-a-dia da programação de produção. A agilidade, flexibilidade e baixo custo são fatores que vêm incentivando cada vez mais empresas a utilizar o Kanban como ferramenta de gestão diária de materiais, trabalhando em conjunto com os sistemas computacionais. Just in time (JIT) é um conceito no qual se deve ter um material correto, no tempo e lugar corretos e na quantidade exata necessária, e o que possibilita que tudo isso aconteça é o sistema Kanban.
Quando aplicado a um meio de produção a palavra Kanban ganha o significado de sistema visual da produção. No sistema convencional a produção é realizada com base em ordens emitidas diretamente do setor de controle e planejamento, fazendo com que a produção apenas siga o que foi determinado pelos setores administrativos da empresa. Já no sistema de produção visual, a produção consegue chegar a um nível atualizado de estoque e ela mesma toma a decisão de quando deve ser feito o reabastecimento do mesmo.
Esse sistema permite que ocorra a coordenação do sistema de produção com informações direta sobre a demanda, sendo o cliente quem “puxa” a produção, ocasionando a redução de estoque e melhoria na produção para o cliente, pois é fato de que se torna muito mais autônomo um sistema produtivo quando se da através de uma gestão visual de estoque, sendo um sistema auditável, o que permite que a linha produção e de percepção de estoque seja sempre em tempo real.
2.2 Sistema andon
Tradicionalmente utilizado na indústria manufatureira, mas atualmente muito difundido na construção civil, o Andon é um dispositivo de controle visual da produção sob a forma de um quadro, que possibilita acompanhar o andamento dos processos de trabalho, informando sobre possíveis problemas e pedidos de intervenção.
A peça central é uma placa que incorpora luzes de sinalização para indicar qual a estação de trabalho tem o problema. O alerta pode ser ativado manualmente por um trabalhador que usa um botão, ou pode ser ativada automaticamente pelo próprio equipamento de produção. O sistema pode incluir um meio de parar a produção para que o problema possa ser corrigido. Alguns sistemas de alerta modernas incorporam alarmes áudio, texto ou outros monitores.
O Sistema Andon é um dos principais elementos do método pioneiro Toyota como parte do Sistema de Produção da Toyota e, portanto, agora parte da magra abordagem. Ela dá ao trabalhador a capacidade de parar a produção quando um defeito é encontrado, e, portanto acionar a assistência. As razões mais comuns para a ativação manual do Andon são a escassez de material, defeito criado ou encontrado, mau funcionamento da ferramenta, ou a existência de um problema de segurança. O trabalho ou produção será suspenso até que seja encontrada uma solução. Os alertas podem ser registrados em um banco de dados para que possam ser estudados como parte de um programa de melhoria contínua.
O sistema normalmente indica onde o alerta foi gerado, e pode também fornecer uma descrição do problema. Sistemas de Andon modernos podem incluir textos, gráficos, ou elementos de áudio. Alertas de áudio pode ser feito com tons codificados, música com melodias diferentes que correspondem aos vários alertas ou mensagens verbais pré-gravados.
3. O KANBAN NA CONSTRUÇÃO CIVIL
Na industria da construção civil, os Kanbans podem ser classificados em: Kanbans de produção e os de transporte. Os de produção estão relacionados à produção mais freqüento nos canteiros, ou seja, aos traços da argamassa; e os de transporte, aos materiais que não são produzidos na obra, como tijolos, vergas e cerâmica.
3.1 Kanbans de argamassa
Seus cartões são feitos de papel duplex com grane variedade de cores e plastificados para aumentar sua durabilidade, neles constam as informações: quantidade do traço, nome do tipo de argamassa (que está relacionado à cor do papel), etiqueta com o pavimento de destino e etiqueta com o horário de entrega. Ou seja tudo sobre a produção de argamassas e suas variáveis serão descriminados nos kanbans e isso facilita a produção pelo fato da impossibilidade de estoque desse tipo de material.
Figura 1 – Kanbans de argamassa (Fonte: Fibra Engenharia)
3.2 Kanbans de transporte
São feitos de papel sulfite, eles também são plastificados, diferentemente do tipo anterior não possuem diferenciação de cores, sendo todos na cor branca. Neles está contida a quantidade de material e unidade, assim como uma etiqueta com o pavimento de destino e desenho do material correspondente.
Figura 2 – Kanbans de transporte (Fonte: wikipedia)
Os encarregados da obra, bem como os operários, são divididos para que o trabalho seja realizado por equipes, as quais no início de cada etapa construtiva recebem seus respectivos Kanbans. A quantidade de Kanbans distribuída para cada equipe é estimado na quantidade de material necessário para a execução do trabalho naquele setor, sendo de responsabilidade dos próprios trabalhadores o seu controle, sempre com o objetivo de que não haja desperdício nem falta de insumos durante todo o serviço.
Para o requerimento de materiais, os Kanbans devem ser colocados no porta-kanban, onde a empresa estabelece os prazos em que se deve ser feita a aquisição do material em falta. Usualmente, no caso da argamassa, é definido que os pedidos de reabastecimento para o turno da manhã devem ser realizados na tarde do dia anterior e os pedidos para o período da tarde, solicitados no intervalo do almoço.
Figura 3 – Painel Heijunka / Porta-Kanban (Fonte: Isoflex)
3.3 Resultados qualitativos do Kanban na empresa
A implantação do sistema Kanban na construção, segundo Ohno (1997), resulta em:
Redução dos desperdícios, chegando a eliminar as sobras de argamassa. Aumento da capacidade de resposta aos clientes.
Maior participação e engajamento das pessoas, devido à descentralização do processo de decisões.
Autonomia da obra em termos de distribuição de material e argamassa.
Redução dos chamados em voz alta para a entrega dos suprimentos nos pavimentos.
Eliminação da movimentação de pessoal pelas escadas para solicitar material. Ajuste dos estoques à flutuação regular da demanda.
4. O ANDON NA CONSTRUÇÃO CIVIL
Nas obras da construção civil, o Andon funciona, assim como o kanban, através do controle, por parte dos operários, de interruptores compostos de três seções que acendem lâmpadas correspondentes, em um quadro instalado na área administrativa da obra.
Figura 4 – Quadro localizado na administração da obra (Fonte: Fibra Engenharia)
Para cada seção do interruptor é designado uma cor diferente que representará fases distintas no andamento do trabalho que uma equipe está sob responsabilidade de executar. A cor verde significa que a produção está sendo realizada normalmente. A cor amarela indica a existência de algum problema que possibilite a interrupção dos serviços e a vermelha representa a suspensão produtiva total da equipe por falta de condições de realizar o trabalho.
Figura 5 – Detalhe do dispositivo (Fonte: PIT)
Esses dispositivos (interruptores) estão situados em cada pavimento da construção, facilitando a comunicação entre a administração e as equipes de trabalho, possibilitando uma rápida identificação da ocorrência de falhas, proporcionando agilidade na busca por soluções.
Quando o trabalho é iniciado pela equipe é necessário que a seção do interruptor seja a correspondente à situação do serviço e toda vez que houver alguma mudança de cor, uma campainha (localizada próxima ao Andon) é acionada, como o objetivo de chamar a atenção da administração do ocorrido e assim tomar as devidas providências.
No caso do acionamento da luz amarela o engenheiro ou responsável pela obra tem até 30 minutos para solucionar o problema, caso contrário, a luz amarela é substituída pela vermelha.
Além dos dispositivos intalados em cada pavimento, é comum a utilização dos Andons de sinalização no controle visual da disponibilidade dos principais materiais da construção. Esse tipo de Andon segue o mesmo princípio de alternância de cores para identificar problemas no estoque desses materiais. A cor verde identifica os materiais que apresentam quantidade superior à mínima necessária. A amarela indica quantidade igual ou inferior à quantidade mínima. A cor vermelha informa a falta do material.
Figura 6 – Andons de sinalização (Fonte: PIT)
4.1 Resultados qualitativos do Andon na empresa
A implantação do sistema Andon na construção, segundo Ohno (1997), resulta em:
Melhoria na comunicação da obra. Prevenção de paradas na produção.
Promoção da autonomação (automação com toque humano). Identifica as falhas e alerta rapidamente sua ocorrência.
Garante a estabilidade de produção (trabalho num ritmo constante e cadenciado). Ganho de produtividade.
5. CONCLUSÃO
Foi observado ao longo desse trabalho que os sistemas de produção Kanban e Andon, apesar de metodologicamente serem distintos possuem objetivos com propósitos semelhantes, ao aplicar métodos que visam melhorar o trabalho, evitando e diminuindo desperdícios no sistema de produção e consequentemente melhorando-o, dando ênfase na qualidade no produto final.
Essas técnicas de produção são de grande importância no mercado atual, que se caracteriza pela grande exigência de processos produtivos eficientes e na qualidade dos produtos acabados e oferecidos, fazendo com que a empresa que possui essa metodologia se solidifique nesse mercado e possa se manter competitiva.
Contudo, a implantação dos sistemas não extinguirá os problemas nas obras ou em qualquer outro tipo de produção, eles têm como propósito apenas o controle dos serviços, é mostrar que existe ou não o problema, e não resolve-lo. E que para o sistema funcionar de forma eficiente é necessário estabelecer metas, monitorar indicadores de processos e, por fim, assegurar a disciplina, através de treinamentos constantes, dos envolvidos na operação
6. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
FILHO, L. P. Administração da Produção - Kanban. Universidade do Estado do Amazonas, Manaus, 2008.
GHINATO, P. Elementos fundamentais do Sistema Toyota de Produção. In: Produção e Competitividade: Aplicações e Inovações. Editora Universitária da UFPE, Recife, 2000.
ASSIS, Vinicius Valverde. Controle de Estoque com a Utilização do Sistema Kanban. 2010. 87 f. Dissertação (Mestrado Profissional) – Pontifícia Universidade Católica, Rio de Janeiro, 2010.
PROJETO CAPACITAÇÃO PARA INOVAÇÃO: Andon e Kanban na Construção Civil. Programa Inovação Tecnológica na Construção (PIT), Salvador, 2012.
Wikipedia – The Free Encyclopedia, Andon (manufacturing). Disponível em:
http://en.wikipedia.org/wiki/Andon_%28manufacturing%29 Acesso em 30 de
