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Teoria Geral Do Direito Civil (I + II)

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Academic year: 2021

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TEORIA GERAL DO DIREITO CIVIL TEORIA GERAL DO DIREITO CIVIL

1ºSEMESTRE 1ºSEMESTRE

Bibliografia Bibliografia

Do 1º Semestre: Capelo de Sousa Do 1º Semestre: Capelo de Sousa Do 2º Semestre: C.A. Mota Pinto Do 2º Semestre: C.A. Mota Pinto

O conceito de direito civil:

O conceito de direito civil: o direito divide-se em dois grandeso direito divide-se em dois grandes grupos, direito público e direito privado, sendo que o direito civil se grupos, direito público e direito privado, sendo que o direito civil se integra no direito privado.

integra no direito privado.

A distinção entre direito público e direito privado: A distinção entre direito público e direito privado:

Critérios de distinção: Critérios de distinção: o

o II  –  –  Um primeiro critério assenta naUm primeiro critério assenta na natureza do interessenatureza do interesse

protegido pelas normas, a chamada

protegido pelas normas, a chamada teoria dos interessesteoria dos interesses (interessentheorie)

(interessentheorie). A norma seria de direito público quando o. A norma seria de direito público quando o fim da mesma fosse a tutela de um interesse público, ou seja, fim da mesma fosse a tutela de um interesse público, ou seja, um interesse da colectividade. A norma seria de direito privado um interesse da colectividade. A norma seria de direito privado quando visasse tutelar um mero interesse p

quando visasse tutelar um mero interesse particular.articular.

 Críticas:Críticas: a maior parte das normas jurídicas tanto dea maior parte das normas jurídicas tanto de

direito privado como de direito público visam proteger direito privado como de direito público visam proteger simultaneamente interesses públicos e interesses dos simultaneamente interesses públicos e interesses dos particulares. Assim, por exemplo, as normas que regulam particulares. Assim, por exemplo, as normas que regulam o funcionamento e actuação do Estado, embora tutelando o funcionamento e actuação do Estado, embora tutelando interesses gerais da comunidade, visam o bem dos interesses gerais da comunidade, visam o bem dos homens concretos dessa comunidade. Por outro lado as homens concretos dessa comunidade. Por outro lado as normas de direito privado não se dirigem apenas à normas de direito privado não se dirigem apenas à realização do interesse dos particulares, visando quase realização do interesse dos particulares, visando quase sempre interesses públicos (exemplo, art.875º cc.) que sempre interesses públicos (exemplo, art.875º cc.) que sujeita as vendas de imóveis a escritura pública, para sujeita as vendas de imóveis a escritura pública, para além de defender as partes contra a sua precipitação além de defender as partes contra a sua precipitação realiza o interesse público de segurança do comércio. Só realiza o interesse público de segurança do comércio. Só seria aceitável se exprimisse uma

seria aceitável se exprimisse uma cota tendencialcota tendencial: : oo direito público

direito público tutelaria predominantementetutelaria predominantemente interessesinteresses da colectividade e o direito privado tutelaria da colectividade e o direito privado tutelaria predominantemente interesses dos particulares (Marcelo predominantemente interesses dos particulares (Marcelo Caetano): natureza do interesse prioritariamente tutelado; Caetano): natureza do interesse prioritariamente tutelado;

Ainda assim não seria aceitável porque em muitos casosAinda assim não seria aceitável porque em muitos casos

não se sabe qual o interesse predominante (ex.registo não se sabe qual o interesse predominante (ex.registo predial).

predial).

Há normas pacificamente classificadas como de direitoHá normas pacificamente classificadas como de direito

privado e que visam predominantemente interesses públicos privado e que visam predominantemente interesses públicos (normas imperativas).

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(3)

o o IIII

 – 

 – Um outro critério é o daUm outro critério é o da posição relativa dos sujeitos daposição relativa dos sujeitos da

relação jurídica (subjektions theorie)

relação jurídica (subjektions theorie), o direito público, o direito público regularia relações entre sujeitos que estão numa posição de regularia relações entre sujeitos que estão numa posição de supra-ordenação ou supremacia e outros de infra-ordenação ou supra-ordenação ou supremacia e outros de infra-ordenação ou de subordinação. O direito privado disciplinaria relações entre de subordinação. O direito privado disciplinaria relações entre sujeitos numa posição relativa de igualdade ou

sujeitos numa posição relativa de igualdade ou coordenação.coordenação.

 Críticas:Críticas: no direito público pode-nos surgir posições deno direito público pode-nos surgir posições de

igualdade ou coordenação (exemplo: relações entre dois igualdade ou coordenação (exemplo: relações entre dois municípios membros de uma associação de m

municípios membros de uma associação de municípios);unicípios);

 No direito privado encontramos algumas relaçõesNo direito privado encontramos algumas relações

 jurídicas hierarquizadas

 jurídicas hierarquizadas (relação no (relação no poder poder paternal entre paternal entre paipai e filho (art. 1878º cc.) ou contrato de trabalho entre entidade e filho (art. 1878º cc.) ou contrato de trabalho entre entidade patronal e trabalhador (art. 1152º);

patronal e trabalhador (art. 1152º);

o

o III-III-Um outro critério é o daUm outro critério é o da teoria dos sujeitosteoria dos sujeitos (subjektheorie)

(subjektheorie) que assenta naque assenta na identidade dos sujeitosidentidade dos sujeitos.. Seriam normas de direito público aquelas em que interviesse Seriam normas de direito público aquelas em que interviesse como sujeito activo ou passivo o Estado ou qualquer ente como sujeito activo ou passivo o Estado ou qualquer ente público. Seria de direito privado as que apenas interviessem público. Seria de direito privado as que apenas interviessem particulares.

particulares.

 Críticas:Críticas: os entes públicos podem intervir comoos entes públicos podem intervir como

particulares em muitos negócios jurídicos (ex. o Estado particulares em muitos negócios jurídicos (ex. o Estado compra a um particular uma casa para lá instalar um compra a um particular uma casa para lá instalar um serviço);

serviço);

 Os particulares podem relacionar-se entre si no âmbito doOs particulares podem relacionar-se entre si no âmbito do

direito público (ex. concurso de acesso

direito público (ex. concurso de acesso à função pública);à função pública);

o o IVIV

 – 

 – O critério maisO critério mais aceiteaceite é o daé o da qualidade dos sujeitosqualidade dos sujeitos, que, que

é a versão moderna da teoria dos sujeitos. São normas de é a versão moderna da teoria dos sujeitos. São normas de direito privado, as que regulam relações jurídicas entre direito privado, as que regulam relações jurídicas entre particulares, ou entre particulares e o Estado ou outros entes particulares, ou entre particulares e o Estado ou outros entes públicos, ou entre entes públicos sempre que estes ajam públicos, ou entre entes públicos sempre que estes ajam despidos de poder de autoridade pública. São normas de despidos de poder de autoridade pública. São normas de direito público as que regulam relações jurídicas do Estado e direito público as que regulam relações jurídicas do Estado e outros entes públicos entre si, ou com os particulares quando outros entes públicos entre si, ou com os particulares quando os primeiros ajam munidos de poderes de autoridade pública, os primeiros ajam munidos de poderes de autoridade pública, de soberania ou de império

de soberania ou de império ius imperiius imperi..

 Críticas:Críticas: não dá base de sustentação para a integraçãonão dá base de sustentação para a integração

no direito público das normas que regulam a organização no direito público das normas que regulam a organização e funcionamento das pessoas colectivas públicas e que e funcionamento das pessoas colectivas públicas e que são consideradas pacificamente normas de direito são consideradas pacificamente normas de direito público;

público;

Deixa em aberto o que se entende por poder de autoridadeDeixa em aberto o que se entende por poder de autoridade

pública. Existindo hoje várias funções do Estado, pública. Existindo hoje várias funções do Estado, nomeadamente no campo da assistência social que não nomeadamente no campo da assistência social que não

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envolvem meios de autoridade, mas que também não envolvem meios de autoridade, mas que também não mostram o Estado na veste de um particular (ex. rendimento mostram o Estado na veste de um particular (ex. rendimento mínimo garantido).

mínimo garantido).

O nosso ordenamento jurídico não estabeleceu um critério geral para O nosso ordenamento jurídico não estabeleceu um critério geral para determinar quais as normas de direito público e quais as de direito privado. determinar quais as normas de direito público e quais as de direito privado. Trata-se mais de um produto histórico, em que o ordenamento ao longo dos Trata-se mais de um produto histórico, em que o ordenamento ao longo dos tempos foi fixando critérios diversos para determinadas relações jurídicas que foi tempos foi fixando critérios diversos para determinadas relações jurídicas que foi integrando num ou noutro ramo. Noutros casos optou por interpolações mistas de integrando num ou noutro ramo. Noutros casos optou por interpolações mistas de direito público e de direito privado.

direito público e de direito privado.

No entanto há certas normas que nos permitem avançar na definição do No entanto há certas normas que nos permitem avançar na definição do critério: art. 501º cc: submete o Estado e demais entes públicos em matéria de critério: art. 501º cc: submete o Estado e demais entes públicos em matéria de responsabilidade civil decorrente do exercício de actividade de gestão privada ao responsabilidade civil decorrente do exercício de actividade de gestão privada ao regime do direito privado diferentemente do que acontece com actividade de regime do direito privado diferentemente do que acontece com actividade de gestão pública (critério da qualidade dos sujeitos). Artigo 1304º cc, que sujeita o gestão pública (critério da qualidade dos sujeitos). Artigo 1304º cc, que sujeita o domínio das coisas pertencentes ao Estado ou a outras pessoas colectivas domínio das coisas pertencentes ao Estado ou a outras pessoas colectivas públicas ás regras do código civil, só pertencendo ao domínio público do Estado públicas ás regras do código civil, só pertencendo ao domínio público do Estado os bens definidos e regidos por lei excepcional (art.84ºCRP) (critério da os bens definidos e regidos por lei excepcional (art.84ºCRP) (critério da qualidade dos sujeitos).

qualidade dos sujeitos).

Em suma a nossa lei assume o

Em suma a nossa lei assume o critério da qualidade dos sujeitos da relaçãocritério da qualidade dos sujeitos da relação  jurídica

 jurídica, embora hajam regimes mistos., embora hajam regimes mistos.

Alcance prático da distinção: Alcance prático da distinção:

1.

1. Satisfaz um interesse de ordem científica na sistematização eSatisfaz um interesse de ordem científica na sistematização e agrupamento das normas jurídicas;

agrupamento das normas jurídicas;

2.

2. Serve para determinar as vias judiciais competentes para a solução dosServe para determinar as vias judiciais competentes para a solução dos diferentes conflitos. Em casos de conflito de direito privado são diferentes conflitos. Em casos de conflito de direito privado são competentes os tribunais judiciais e dentro destes os tribunais comuns competentes os tribunais judiciais e dentro destes os tribunais comuns em matéria civil, salvo quando houver matéria civil especializada (ex. em matéria civil, salvo quando houver matéria civil especializada (ex. tribunal de trabalho, tribunais de família e menores, tribunais tribunal de trabalho, tribunais de família e menores, tribunais marítimos). Em casos de conflito de direito público são competentes os marítimos). Em casos de conflito de direito público são competentes os tribunais administrativos e fiscais (arts. 211º e 212º CRP);

tribunais administrativos e fiscais (arts. 211º e 212º CRP);

3.

3. Responsabilidade civil, ou seja, a obrigação de indemnizar decorrenteResponsabilidade civil, ou seja, a obrigação de indemnizar decorrente de uma actividade de órgãos ou agentes estaduais está sujeita a um de uma actividade de órgãos ou agentes estaduais está sujeita a um regime diverso consoante os danos sejam causados no exercício de regime diverso consoante os danos sejam causados no exercício de uma actividade de gestão pública ou privada. Ora, a actividade de uma actividade de gestão pública ou privada. Ora, a actividade de gestão pública é a disciplinada pelo direito público e a de gestão gestão pública é a disciplinada pelo direito público e a de gestão privada pelo direito privado, daí a necessidade prática da distinção. privada pelo direito privado, daí a necessidade prática da distinção. Temos, assim efeitos legais próprios para o direito público distintos do Temos, assim efeitos legais próprios para o direito público distintos do direito privado.

direito privado.

Características do direito público e do direito privado: Características do direito público e do direito privado:

1.

1. Direito privado:Direito privado: vigora o princípio da liberdade em que é lícito tudovigora o princípio da liberdade em que é lícito tudo quanto não é proibido pela lei;

quanto não é proibido pela lei; Direito público:Direito público: vigora o principio davigora o principio da competência ou da legalidade, onde só é lícito o que é permitido pela competência ou da legalidade, onde só é lícito o que é permitido pela lei;

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2. Direito privado:predominância de normas supletivas (regras jurídicas que podem ser afastadas pela vontade das partes em sentido contrário);

Direito público: predominância de normas imperativas (não podem ser afastadas pela vontade das partes);

3. Direito privado: é de certo modo um direito geral face ao direito público porque regula a generalidade das relações jurídicas; Direito público: regula um sector mais determinado de relações jurídicas, as que estão previstas na lei e se especializaram do tronco comum do direito que aparece ligado ao direito privado.

4. Ás relações entre o Estado e os particulares é, em princípio, aplicável o direito privado, só se aplicando o direito público quando a relação é dominada pela ideia de ius imperi.

5. Os bens do Estado pertencem, em regra, ao domínio privado (art.1304º cc);

6. Os contratos do Estado com os particulares são, em regra, regulados pelo direito privado, só se aplicando o direito público quando a lei o determine;

7. Muitas vezes o direito privado é de aplicação subsidiária face ao direito público.

 O direito civil como direito privado geral comum:

O direito civil é o núcleo fundamental do direito privado. Mas ser o núcleo fundamental não é ser todo o direito privado. Com o evoluir da sociedade foram surgindo direitos especiais (subconjuntos unitários e sistematizados de normas  jurídicas aplicáveis a determinados e delimitados sectores da vida humana, prevendo um regime jurídico diverso do regime regra que é o direito civil, mas tendo-o como direito subsidiário.

Assim, no direito privado, o direito civil é o direito  –  mãe (“Mutterrech”).

Encontramos, assim, regras gerais no direito civil que se aplicam a esses ramos especiais do direito privado (ex. menoridade art.122º).

Os direitos privados especiais:

1. O direito comercial: desde cedo surgiram tribunais comerciais para os mercadores, cuja jurisprudência muito contribuiu para a autonomização do direito comercial. A lei da boa razão (1769) e os estatutos da Universidade de Coimbra (1772) distinguiam já o direito comercial do direito civil, dizendo que em matéria comercial, nos casos omissos, se deveria aplicar as leis das nações civilizadas. Mas a incerteza que daí advinha levou à publicação em 1883 do primeiro código comercial: o código de Ferreira Borges que era de pendor

subjectivista, este regulava um direito dos comerciantes. Em 1888 vamos ter um novo código, o código de Veiga Beirão, que ainda se encontra em vigor, de pendor objectivista: regula os actos de comércio, sejam eles praticados ou não por comerciantes, embora admitindo actos praticados apenas por comerciantes. Mas a autonomia

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do direito comercial justifica-se pelas necessidades próprias do comércio moderno, senão vejamos:

a. Necessidade de facilidade, simplicidade e rapidez na conclusão das transacções, daí o direito comercial ser menos exigente no que respeita à forma negocial;

b. O comerciante precisa também do reforço das suas garantias, como credor, exemplo o aval comercial em que se responsabiliza a pessoa que o dá ao mesmo tempo e ao mesmo nível do devedor podendo o credor executar o património de um ou outro, ao contrario da fiança civil em que há o beneficio da excussão, o fiador é o ultimo a responder pela dívida.

c. Os actos jurídicos comerciais são, regra geral, de natureza onerosa, ou seja, onde há uma contrapartida económica, ao contrário do direito civil onde coabitam os actos onerosos e gratuitos.

d. Há uma necessidade de maior regulamentação unitária de carácter internacional no direito comercial com a globalização da economia (ex. leis uniformes para letras, livranças e cheques).

2. O direito do trabalho: com o avanço civilizacional os trabalhadores

começaram a deixar de ser vistos como “criados”, mas pessoas com

direitos e deveres, daí ter nascido grande regulamentação que levou à autonomização deste ramo do direito privado. O nosso código civil declara no artigo 1153º que o contrato de trabalho está sujeito a legislação especial  –  DL nº 49.48 de 24 novembro de 1969 que

estabelece o regime jurídico do contrato individual de trabalho, bastante alterado depois do 25 de Abril que veio estabelecer modificações na duração do trabalho, no direito de greve, igualdade entre homens e mulheres, trabalho de menores,etc. O direito do trabalho compreende sobretudo as seguintes características:

a. Tratamento e tutela do trabalhador, como parte económica mais débil, daí prevalecerem as normas que estabeleçam tratamento mais favorável para o trabalhador.

b. Há uma grande intervenção do Estado na relação laboral, sobretudo nas relações colectivas de trabalho, em que é conciliador, intervindo nos conflitos entre as entidades patronais e os trabalhadores com armas como a requisição civil. Intervêm ainda ao nível da previdência social, higiene e segurança, etc.

c. Este ramo tem ainda especialidades de jurisdição, sobretudo nos principais centros urbanos, em que os conflitos laborais são resolvidos pelos tribunais de trabalho. Especialidade ainda de processo com mecanismos processuais próprios com o código de processo do trabalho.

3. Direito internacional privado: o DIP não regula directamente as questões que dividem as partes. Apenas nos indica qual a legislação

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estadual aplicável para regular um caso concreto em que os elementos da relação jurídica estão em contacto. Simultaneamente com várias ordens jurídicas estaduais. Consta sobretudo dos ars. 14º a 65º cc  é um direito instrumental de “normas sobre normas”, daí a sua unidade

e autonomia face ao direito civil. No entanto, o DIP não é um verdadeiro direito internacional, mas um direito de natureza e fonte interna, cada Estado tem o seu próprio DIP. É claramente direito privado porque diz respeito às relações jurídicas privadas ao contrário do direito internacional público que regula fundamentalmente relações entre Estados.

4. Outros ramos especiais do direito privado: constituirão também direitos privados especiais o direito de autor e direitos conexos bem como o direito de propriedade industrial como é patente pelo artigo 1303º, sendo o direito civil direito subsidiário destes ramos. Controversa será essa qualificação para o direito agrário, normas relativas à estrutura e actividade da agricultura. Nesta matéria concorrem normas de direito privado e também normas de direito público com o Estado a visar finalidades de justiça social e também com normas provenientes da União Europeia. Essas normas estão a tender para a autonomização, mas não há ainda um corpo legislativo unitário, com estrutura e espírito próprios.

As fontes de direito civil:

Fontes imediatas (operam sem intermediários): (1) leis, (2) normas corporativas;

Fontes mediatas (legitimidade depende de outras fontes): (3) usos, (4)

equidade, princípios fundamentais de direito.

1. As leis: de acordo com o artigo 1º/2 cc, as leis são tomadas numa

concepção lata “todas as disposições genéricas provindas dos órgãos

estaduais competentes (acepção latíssima: lei significa direito, acepção intermédia: lei contrapõe-se a regulamento, abarcando apenas as leis, decretos-leis e decretos legislativos regionais, acepção restrita: designa os actos legislativos da AR). Temos assim, (a) Leis constitucionais, (b) leis ordinárias (da AR), (c) decretos lei do governo, (d) decretos legislativos regionais e os vários regulamentos.

a. Leis constitucionais: a Constituição é o quadro básico das relações  jurídicas da sociedade, emanação do contrato social de Rousseau. Daí que haja diversas normas constitucionais com aplicação no âmbito de direito civil. Sobretudo por força do artigo 18º CRP são de aplicabilidade directa os arts. 24º a 47º da CRP que incorporam maioritariamente direitos fundamentais civis  aplicabilidade

imediata da Constituição. Noutros casos há normas programáticas na Constituição que necessitam de desenvolvimento legislativo, por

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exemplo o artigo 64º da CRP, que depende das capacidades do Estado para promover esse direito. Se o Estado não desenvolver politicas nesse sentido poderá haver lugar à inconstitucionalidade por omissão  aplicabilidade mediata da Constituição.

b. Leis ordinárias: as leis ordinárias são as leis da AR. Esta tem uma competência geral, que está presente no artigo 161º da CRP e uma competência reservada. Há dois tipos de reserva, uma reserva absoluta em que cabe exclusivamente à AR não podendo delegar no Governo essas tarefas (art.164º CRP) e uma competência relativa, em que ela pode delegar ao governo essas competências (art.165º CRP).

c. Decretos – lei do governo: têm o mesmo valor das leis ordinárias.

Temos uma competência exclusiva (art.198º/2 CRP), uma competência própria (198º1/a) CRP) e uma competência autorizada (198º/1/b) CRP): foi o que se passou aquando da reforma do código civil em 1978 que o adaptou à CRP de 1976.

d. Decretos legislativos regionais: atente-se ao artigo 227º da CRP e às limitações aí presentes: a) matéria de interesse especifico, b) não estejam reservados à competência própria dos órgão de soberania, c) estão subordinadas às leis gerais (art.112º/4 da CRP bem como o próprio 227º).

e. Regulamentos: no direito civil há ainda zonas periféricas de carácter regulamentar. Veja-se o exemplo das portarias que estabelecem os coeficientes de actualização dos arrendamentos urbanos para habitação. Tornando-se muito mais fácil essa actualização assim do que se a mesma fosse feita por decreto – lei. 2. As normas corporativas: uma parte da doutrina (Doutor Mota Pinto)

entende que com a abolição do regime corporativo com o 25 de Abril, estas normas deixaram de ser fonte de direito e o facto destas terem permanecido no artigo 1ºcc deve-se ao facto da reforma deste código em 1977 ter tido um carácter meramente parcial, adaptando o código à CRP de 1976 e não ter sido feita uma revisão geral do mesmo. Daí defender a revogação tácita ou uma interpretação ab-rogante face a estas normas. Mas parece que estas continuam a existir, pois apesar da extinção do regime corporativo, a representatividade profissional mantém-se, ainda que noutros moldes, donde sobressai o princípio da liberdade de associação que gera fontes de direito em matéria de estatutos e regulamentos internos. Exemplo disso é o código deontológico da ordem dos médicos. Mas salvaguardando a unidade do sistema o artigo 1º/3 afirma que essas normas não podem contrariar disposições legais de carácter imperativo. Por exemplo, esse código deontológico não poderá conter normas que violem direitos liberdades e garantias.

3. Usos: o artigo 3º considera os usos como fonte de direito mas confere-lhes importantes limitações:

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a. Só são juridicamente atendíveis quando a lei o determine, como tal são fonte mediata de direito já que para se aplicarem necessitam da remissão de uma norma jurídica (ex.art.218º);

b. Não podem ser contrários aos princípios da boa fé, aqui tomada numa acepção objectiva, ou seja, um comportamento honesto, honroso e leal;

c. Não estarem em oposição com as normas corporativas.  Não

confundir os usos com o costume (prática social reiterada com a convicção da sua obrigatoriedade jurídica). Actualmente o costume não é fonte de direito civil. Começou por ser fonte imediata de direito, mas foi decrescendo de valor devido à sua incerteza e à rapidez das mutações sociais. A lei da Boa razão colocou-lhe enormes restrições: conforme à boa razão, não ser contrário à lei (100 anos de existência) sendo que o código de 1867 o excluiu das fontes de direito (o chamado código de Seabra).

4. Equidade: o artigo 4º, outra fonte mediata do direito civil já que:

a. Só tem lugar quando haja disposição legal que o permita (exemplo art. 494º).

b. Quando haja acordo das partes e a relação jurídica não seja indisponível.

c. Quando as partes tenham previamente convencionado nos termos da cláusula compromissória (esta diz respeito à fixação da resolução de litígios através de tribunais arbitrais, sendo que aqui não são competentes os tribunais comuns, exemplo caso entre a EDP e a TELECOM que pode implicar grande conhecimento tecnológico  elas estabelecem que o processo é resolvido por

tribunal arbitral).

 É a chamada justiça do caso concreto ou solução ex aequo et bono . As fontes internacionais: a CRP no artigo 8º abre a nossa ordem jurídica a fontes de direito internacional, sobretudo no seu nº3 em que assumem especial relevo os regulamentos dos órgãos da EU que vigoram directamente na nossa ordem jurídica interna ao contrário das directivas que necessitam de acto de transposição para o direito nacional.

 A jurisprudência: a jurisprudência  o conjunto de decisões em que se

exprime a orientação seguida pelos tribunais na decisão dos casos concretos, não é fonte de direito na nossa ordem jurídica. Essas decisões não vinculam os mesmos ou outros tribunais no futuro (julgamento do mesmo tipo, algo que

acontece nos países da “common law”), devido ao princípio da independência

doas magistrados judiciais que julgam apenas segundo a Constituição e a lei (exemplo, se um juiz de 1ª instancia tem uma interpretação diferente de certa norma da do Supremo deve seguir a sua própria interpretação). A única excepção que existia até 1995 era a dos assentos do STJ, presentes no art.2º e hoje

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revogados. Quando existiam dois acórdãos do Supremo e excepcionalmente da relação, relativamente à mesma questão fundamental de direito, assentes sob soluções opostas e sejam produzidas no domínio da mesma legislação se recorria para o plenário do Supremo que tiraria um assento que solucionaria o caso concreto, valendo como preceito geral para o futuro. Esta revogação baseou-se sobretudo no princípio da separação dos poderes, presente no art.111º da CRP, em que a função legislativa é atribuída à AR e ao Governo e a função  jurisdicional é atribuída aos tribunais. Daí ser inaceitável a criação, por parte destes de normas jurídicas com força obrigatória geral, mesmo que com carácter interpretativo. No entanto o art.8º nº3 mostra claramente o desejo de uma certa uniformização na aplicação do direito para garantir a segurança e a previsibilidade do direito. Para isso, foi criado, no plano processual o acórdão em  julgamento ampliado de recurso de revista, em que o plenário das secções cíveis emite um acórdão de forma a assegurar a uniformidade da jurisprudência, acórdão que é publicado no DR. Só que esse acórdão não tem força obrigatória geral nem mesmo para os tribunais superiores. Tem um mero valor indicativo. No entanto é necessário que haja razões fortes para esse tribunal contrariar tal acórdão, até porque se o caso tiver valor para subir até ao Supremo o normal é o acórdão ser reafirmado. Quanto aos assentos proferidos antes da data da sua revogação (13/12/1995) deixaram de ter força obrigatória geral e têm o valor dos acórdãos de recurso ampliado de revista, ou seja, têm um mero valor indicativo, para os casos concretos o recurso intentado até essa data vale para a resolução do conflito concreto. Em termos gerais vale como mera jurisprudência uniformizada. – problema de aplicação de leis no tempo.

Mas de acordo com o artigo 8º nº3 não são apenas objecto de ponderação por parte do juiz os acórdãos do Supremo em julgamento ampliado de revista, mas também outros acórdãos do Supremo, das relações e até sentenças de 1ª instância.

Cada vez menos o direito recorre a uma jurisprudência de conceitos, positivista e dedutiva, mas a uma jurisprudência atenta aos interesses das partes,

capaz de valorações jurídicas. Cada vez o juiz é menos a “boca da lei”, cabendo

-lhe uma ponderação na aplicação concreta de muitos comandos legais, é o caso das clausulas gerais e de conceitos indeterminados. Existe aqui uma forte dose de valoração apresentando a intervenção judicial um verdadeiro carácter constitutivo (exemplo art.334º). Isto é ainda mais visível no preenchimento das lacunas da lei com os artigos 10º nº1 e 2, sobretudo com o 10º nº3 em que o juiz elabora uma norma adhoc dentro do espírito do sistema  aqui há uma clara indução do

direito. Daí que se fale no desenvolvimento normativo do direito pelo juiz ou mesmo do chamado Richterrrech (direito jurisprudencial).

Oliveira Ascensão diz que os acórdãos com força obrigatória geral do TC são fonte de direito. Não parece que o sejam:

 O TC não cria nenhuma norma, limita-se a formular um juízo de valor; O facto dos acórdãos serem publicados no DRI série A e terem força

obrigatória geral não é significativo pois, por exemplo, a nomeação de um Ministro no DR-I-A tem também força obrigatória geral e não é uma norma  jurídica.

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Os princípios gerais de direito civil: são princípios de ordenação material ou substancial das normas jurídicas civis que estruturam, dão coerência e unidade ao conjunto do direito civil. São a sua ossatura, modelam o conteúdo do direito civil. Tais princípios são desenvolvidos pelas normas civis e alimentando o espírito do sistema civil a eles se recorrendo na integração de lacunas praeter legem conforme o artigo 10º/3.

Estes princípios podem ter carácter fundamental ou Constitucional se resultam de normas ou princípios Constitucionais. Mas há também princípios gerais emergentes da lei ordinária civil.

Vamos proceder à sua enumeração:

1. Principio da dignidade da pessoa humana;

2. Principio do reconhecimento da personalidade jurídica humana;

3. Principio da plenitude da capacidade jurídica humana;

4. Principio da igualdade;

5. Principio da tutela geral da personalidade;

6. Principio da personificação jurídica e da capacidade jurídica funcional das pessoas colectivas privadas;

7. Principio da autonomia da vontade privada;

8. Principio da não violação da esfera jurídica alheia;

9. Principio da boa-fé;

10.Principio do equilíbrio das prestações;

11.Principio da proibição de auto-defesa dos direitos próprios;

12.Principio da liberdade declarativa;

13.Principio da nulidade de actos e negócios jurídicos violadores de regras imperativas;

14.Principio da proibição do abuso de direito. Ao seu aprofundamento:

1. Principio da dignidade da pessoa humana: resulta do artigo nº1 da CRP, resultando da natureza do homem deste configurar livre e reciprocamente a sua existência e a sua inserção social, de se autopropor objectivos e limites para a sua actuação. Numa fórmula de

Kant, o homem é “fim em si mesmo”, não podendo ser empregado

simplesmente como meio. Por isso ele é pessoa, tem um incondicionável valor em si mesmo. Face a esta dignidade Larenz diz que todo o ser humano tem, face a qualquer outro, um direito a ser respeitado por ele como pessoa, sendo obrigado a respeitar a outra de modo análogo  princípio do respeito mútuo é fundamental e é a base

da convivência numa comunidade jurídica e de toda a relação jurídica e está na origem do próprio direito geral de personalidade (art.70º) Este princípio implica:

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b. Vigência de certos institutos de favorecimento da parte contraente mais fraca, como é o caso do decreto – lei acerca das

cláusulas contratuais gerais.  O direito é ainda concebido

tendo como destinatários essa comunidade de pessoas livres e iguais.

2. Principio do reconhecimento da personalidade jurídica humana:

do princípio da dignidade da pessoa humana decorre que todo e qualquer ser humano tem personalidade jurídica  aptidão para ser

centro autónomo de relações jurídicas (art.66º nº1);

3. Principio da plenitude da capacidade jurídica humana: a dignidade da pessoa humana postula ainda uma plenitude da capacidade jurídica de qualquer homem: aptidão para ser titular de um circulo maior ou menor de relações jurídicas (art. 67º); Só não o será face a disposição legal em contrário como decorre do artigo 67º. Exemplo de excepção é um menor com menos de 16 anos, não pode casar. A excepção à regra geral de que todos os homens têm capacidade jurídica é a

incapacidade.

4. Principio da igualdade: este princípio decorre do art.13º CRP que implica que se tratem igualmente situações de interesses iguais e que se tratem diferentemente situações de interesses diversos, atendendo à sua particularidade. Fala-se cada vez mais de igualdade jurídico-material e não de igualdade jurídico-formal, independente do conteúdo (por exemplo promoções de uma real igualização através de diferenciações legais compensatórias). Mas qual o critério a adoptar para sabermos quando estamos perante uma situação de igualdade ou desigualdade? Deve-se atender, segundo Castanheira Neves à intenção material especifica do direito, vendo, se é baseada em fundamentos materiais suficientes e assenta em considerações razoáveis, assim, uma razão arbitrária que não é materialmente fundada e não assenta em objectivos razoáveis violará este principio de igualdade. Como exemplo de uma norma razoavelmente discriminatória: temos o artigo 1911 nº2, que não viola o principio da igualdade do homem e da mulher, pois este regime apenas visa favorecer o filho já que biologicamente e sociologicamente tem uma maior ligação à mãe e à família desta do que ao pai, já seria uma norma que violaria o principio da igualdade a que permitisse um quota hereditária maior para os filhos nascidos dentro do casamento dos que os fora do mesmo, violando assim directamente o art.36º/4 CRP. O artigo 13º da CRP diz-nos que apesar das diz-nossas diferenças especificas, existe no cerne da natureza humana uma base comum a todos, uma qualidade que pertence a todos os homens sem distinção. Qualidade que está na base da personalidade físico-moral presente no art.70º, um conjunto de

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direitos absolutos que se impõe ao respeito de todos os outros. Esta igualdade que se quer material impõe obrigações legais de diferenciação para compensar a desigualdade de oportunidades que se verificam na prática.

5. Principio da tutela geral da personalidade: quando o artigo 70º nos fala de personalidade física ou moral, não se trata de personalidade  jurídica, ou seja, aptidão para se ser centro autónomo de relações  jurídicas (regulada no art.66º) mas sim de personalidade humana tomada como objecto jurídico, na medida em que todo o homem tem um direito sobre si mesmo, sobre a sua própria personalidade humana nos seus elementos físicos e espirituais. Esta cláusula geral da tutela da personalidade protege os bens da personalidade ligados:

a. Relação do homem consigo mesmo: a vida, o seu corpo, espírito (sentimentos inteligência), bem como a capacidade criadora do homem e as respectivas criações;

b. Relação do homem com o seu ambiente físico e social: a identidade, liberdade, segurança, honra, etc.

 Junto desta estrutura normativa existem diversos direitos especiais

de personalidade que tutelam aspectos particulares da personalidade aos quais se aplica subsidiariamente o regime do DGP. Esses direitos especiais encontram-se nos arts. 72º a 80º. A violação destes mesmos direitos pode implicar:

Responsabilidade civil (art. 70º nº2);

 – 

6. Principio da personificação jurídica e da capacidade jurídica funcional das pessoas colectivas privadas: ao lado da personalidade  jurídica reconhecida a todas as pessoas singulares o nosso direito civil no artigo 158º atribui, mediante certos pressupostos personalidade  jurídica às pessoas colectivas, ou seja, a qualidade de também elas serem centros autónomos de relações jurídicas. Pessoas colectivas: são colectividades de pessoas ou complexos patrimoniais / organizados em vista a um fim comum / a que o ordenamento jurídico atribui a qualidade de sujeitos de direitos. Segundo o artigo 157º as pessoas colectivas privadas são:

Certas providências judiciais adequadas às circunstâncias do caso para evitar a consumação da ameaça ou atentar os efeitos da ofensa já cometida – art.70º nº2.

Os direitos de personalidade são irrenunciáveis: podendo todavia ser objecto de limitações voluntárias que não sejam contrárias aos princípios da ordem pública art. 81º nº1 (pelo consentimento ser contra a ordem pública devido aos prejuízos irremediáveis que resultariam para a pessoa são ilícitos a mutilação ou a eutanásia).

(14)

a. Associações: colectividade de pessoas que não têm por fim o lucro económico dos seus associados, mas outros fins comuns (recreativos, culturais,etc);

b. Fundações: massa de bens afecta pelo seu instituidor a finalidades de interesse social, sendo que os seus órgãos devem actuar de acordo com a vontade declarada pelo fundador;

c. Sociedades: organização de duas ou mais pessoas / que contribuem com bens ou serviços para o exercício de uma actividade económica / dirigida à obtenção de lucros e à sua distribuição pelos sócios.

Mas qual a natureza desta personalidade colectiva? Autores como Savigny defendem a teoria da ficção segundo a qual a lei estaria a proceder como se as pessoas colectivas fossem pessoas singulares. Autores como Otto Van Gierke defendem a teoria organicista, em que as pessoas colectivas seriam uma realidade idêntica à das pessoas singulares, resultam da natureza das coisas, num claro antropomorfismo.

Não podemos aceitar nenhuma das duas teorias expostas. Por um

lado, e , apesar de ser uma criação do direito, ela não é nenhuma ficção legal porque tem a sua natureza e fundamentação na realidade social e na estruturação de interesses humanos, como nos

diz Manuel de Andrade “ é a tradução jurídica de um fenómeno empírico”. Por outro lado a teoria organicista é também de rejeitar 

porque não precisamos de um organismo antropomórfico para  justificar a personalidade jurídica, já que ela é uma criação do

direito  Ela é assim uma criação do direito e não uma ficção legal

ou organismo natural. Ao contrário da capacidade jurídica das pessoas singulares, a capacidade jurídica das pessoas colectivas não é de carácter geral. Ela é sim de natureza funcional ou especifica em razão dos fins de cada uma delas, como nos refere o artigo 160º nº1. No nº2 do artigo 160º é ainda excepcionado da capacidade  jurídica:

a) Direitos e obrigações vedados por lei (ex. capacidade testamentaria)

b) Direitos e obrigações que seja inseparável da personalidade singular (os direitos derivados da vida como o casamento ou a filiação)

Assim, a capacidade jurídica das pessoas colectivas é menor e inferior à das pessoas singulares como resulta da comparação dos artigos 67º e 160º.

7. Principio da autonomia da vontade privada: este principio resulta do poder de auto-determinação de cada homem e cresce limitado pelos quadros normativos da ordem jurídica que assentam na vontade popular. Assim, este principio não se confunde com livre arbítrio, com cada um fazer aquilo que bem entende. Tudo porque vivemos em

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sociedade e as relações jurídicas não visam apenas o bem individual mas também o bem comum. O nosso direito civil protege o poder de auto-determinação do homem em duas vertentes:

a. Tutela da liberdade negativa: proíbe que qualquer pessoa possa ser constrangida por outrém a praticar ou não praticar qualquer facto – nemo postest presise coagi ad factum.

b. Tutela da liberdade positiva: permite a cada um praticar ou não praticar qualquer facto que não seja proibido ou prejudique superiores interesses jurídicos de outrem, pela boa fé, pelos bons costumes, pela ordem pública e o próprio fim do exercício da liberdade (334º);

Principio da autonomia privada: traduz-se no estabelecimento, conformação e extinção autónomos da relações jurídicas privadas por parte de cada homem, segundo a sua vontade e dentro dos limites estabelecidos pela ordem jurídica. Vejamos as varias expressões da autonomia privada:

a) Nos direitos reais: principio da livre aquisição e transmissão entre vivos e por morte das coisas dominiais privadas – art.62º CRP. Principio que contém restrições de

direito público  expropriações por utilidade pública

(62ºnº2 CRP) e de direito privado, o abuso de direito, por exemplo (334º). O principio da livre realização de actos reais, ou seja, actos que se traduzem num certo resultado material (ex. criação de obras literárias). No entanto é uma área com grande incidência de normas imperativas ex. 1306º que se traduz na regra do numerous clausus ou da tipicidade das figuras reais e dos seus elementos característicos, não podendo constituir direitos reais os que não estejam previstos na lei. Artigo 1306º em que se fixa os modos de aquisição do direito de propriedade.

b) No direito da família: liberdade de celebração de casamento, de constituir família e de requerer divórcio – art.

36º CRP- fixação do regime de bens do casamento  – art.

1698º.No entanto, também aqui há o principio da tipicidade das figuras familiares e dos seus efeitos  – arts. 1576 e ss.

Vigoram também diversos regimes imperativos como é o exemplo da matéria de dividas dos conjugues – arts. 1690º

ss.

c) No direito das sucessões: liberdade de transmissão sucessória  –  artigo 62º nº1 CRP, de celebração de

testamento e de fixação do seu conteúdo, etc. Mas estão também tipificados os diferentes objectos de sucessão – art.

2030º, as formas de testamento, as fontes de vocação sucessória, etc, domínio onde imperam as normas imperativas.

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d) No direito das obrigações: É neste domínio que mais se afirma o princípio da autonomia privada como grande meio de actuação da autonomia privada temos o negócio jurídico: acto pelos quais os particulares ditam a regulamentação das suas relações,constituindo-as, modificando-as, extinguindo-as e determinando o seu conteúdo. Há que distinguir entre:

Negócios jurídicos unilaterais: tem apenas uma declaração de vontade (exemplo o testamento);

 Negócios jurídicos bilaterais ou contratos: com duas ou mais

declarações de vontade convergentes, tendentes à produção de um resultado  jurídico unitário (ex. compra e venda).

Nos negócios jurídicos unilaterais é de olhar com reserva a produção de efeitos na esfera jurídica (conjunto de relações jurídicas de que uma pessoa é titular) alheia (por vontade unilateral de outra pessoa). Daí que nos negócios  jurídicos unilaterais vigore o principio da tipicidade ou do numerous clausus,

sendo que só são juridicamente admitidos os que estiverem especificamente previstos na lei – art. 457º. Sendo que a forma, os pressupostos e os seus efeitos

estão também imperativamente fixados na lei.

Nos negócios jurídicos bilaterais ou contratos, nestes negócios vigora o principio da liberdade contratual  artigo 405º. Do artigo 405º emerge:

a) Liberdade de celebração de contratos: faculdade de livremente realizar contratos ou recusar a sua celebração. Esta liberdade subdivide-se em dois predicados:

i. Ninguém pode ser obrigado a contratar contra a sua vontade  –  nemo potest precise coagi ad factum ou a

ninguém podem ser aplicadas sanções pela recusa de contratar.

ii. A ninguém pode ser imposta a abstenção de contratar: excepcionalmente o nosso ordenamento apresenta algumas restrições à liberdade de celebração de contratos: 1- dever jurídico de contratar no que

respeita ao seguro de responsabilidade civil automóvel;

2- proibição de celebração de contratos com

determinadas pessoas (ex. art. 877º); 3- sujeição do

contrato a autorização de outrém (ex. emissão de acções destinadas a subscrição pública).

b) Liberdade de modelação do conteúdo contratual:

faculdade conferida aos contraentes de fixarem livremente o conteúdo dos contratos. Isto implica:  1-a possibilidade

das partes realizarem os contratos previstos no código civil (exemplo a compra e venda) ou em outras leis (exemplo locação financeira) chamados contratos típicos nominados em que as partes aceitam todo o conteúdo e indicam apenas os pressupostos factuais para a sua produção;  2- realizar

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cláusulas que lhes aprouver, (eventualmente conjugando dois ou mais contratos – contratos mistos – art. 405º nº2;  3 – a possibilidade das partes celebrarem contratos diferentes

dos previstos no código, chamados contratos atípicos inominados.

Mas, esta liberdade contratual conhece algumas restrições legais, desde logo

as aludidas no artigo 405º “dentro dos limites da lei”. Mas há também poderosas

restrições fácticas a este princípio sobretudo nos chamados contratos de adesão

(contratos entre produtores ou distribuidores de bens ou serviços em larga escala e consumidores aderentes que são múltiplos e indeterminados, propondo os primeiros todas as cláusulas do contrato, limitando-se os segundos a aderir ou não a tal contrato). Teoricamente não há restrições à liberdade contratual, o consumidor é livre de rejeitar o contrato, só que na prática não é bem assim, pois muitas das vezes o fornecedor está numa posição de monopólio (ex. electricidade) e rejeitar o contrato é não satisfazer uma necessidade fundamental. Daí que o consumidor impedido pela necessidade é forçado a aceitar o contrato e todas as cláusulas constantes no mesmo, muitas delas, injustas. Para combater isto podemos recorrer às regras da boa fé – artigo 762º; a nulidade do negócio

contrário à ordem pública – artigo 280º nº2, temos mais recentemente o regime

das cláusulas contratuais gerais – Decreto Lei 446/85, alterado pelo Decreto Lei

220/95 por si alterado pelo Decreto Lei 249/99 de 7 de Julho.

8. Principio da não violação da esfera jurídica alheia: cada pessoa tem uma esfera jurídica própria que é composta pelo conjunto de relações  jurídicas de que uma pessoa é titular, pelos seus direitos e interesses  juridicamente protegidos. Em tal esfera podemos considerar dois

hemisférios:

a. Pessoal: caracterizado pela sua não avaliabilidade em dinheiro e onde se inserem os direitos pessoais ou não patrimoniais (exemplo, os direitos de personalidade);

b. Patrimonial: definido pela sua avaliabilidade em dinheiro e onde se enquadram os direitos patrimoniais (exemplo, os direitos de crédito).

Na vida social, os comportamentos das pessoas, sejam eles acções ou omissões violam muitas vezes deveres de abstenção ou de acção. Quando isto acontece a pessoa constitui-se, em princípio, na obrigação de reparar ou compensar os danos causados. Essa obrigação de reparar ou compensar os danos causados é a chamada responsabilidade civil : necessidade imposta pela lei, a quem causa prejuízos a outrém, de colocar o ofendido na situação em que estava sem essa lesão. Há duas espécies de responsabilidade civil:

a. Negocial: resulta da violação de um direito de crédito ou obrigação em sentido técnico, emergente de um negócio ou directamente da lei (exemplo, compra e venda). Vem regulada fundamentalmente nos artigos 798º ss e implica a falta culposa do devedor ao cumprimento da obrigação,

(18)

sendo a culpa apreciada nos termos aplicáveis à responsabilidade civil extranegocial como decorre do 799º/2. Ela desdobra-se em três modalidades:

i. Impossibilidade de cumprimento: o incumprimento decorre de uma causa imputável ao devedor, a prestação já não ser possível de se efectuar no todo ou em parte – 801º e 802º;

ii. Mora: o devedor, por causa que lhe seja imputável, não efectua a prestação no tempo devido, no entanto a prestação é ainda possível – 

artigo 804º;

iii. Cumprimento defeituoso: por causa imputável ao devedor, este realiza a prestação mas com vícios ou deficiências que ocasionam prejuízos específicos ao credor – artigo 799º.

b. Extra-negocial, extra-contratual ou aquiliana: resulta da violação de uma obrigação, passiva ou activa, universal, ou seja, do não cumprir de um dever geral de abstenção ou acção contraposto a um direito absoluto. Vem regulado essencialmente nos artigos 483º a 510º. Ela conhece três tipos:

i. Responsabilidade civil por actos ilícitos ou culposos: regulada no artigo 483º nº1 e pressupõe:

1. A existência de uma acção ou omissão, voluntária e ilícita que viole um direito subjectivo absoluto ou qualquer disposição legal destinada a proteger interesses alheios. Voluntário – quer dizer que é dominável ou controlável

pela vontade do lesante, não quer dizer que seja um facto querido por este, ilícito porque é contrário aos comandos que lhe são impostos pela ordem  jurídica;

2. Nexo de imputação de tal acção ou omissão ao agente, que envolve uma censura ético-jurídica e que se desdobra em dois elementos:

o 

realizar o facto ilícito violador do direito de outrém (exemplo, A utiliza o nome profissional e B para se fazer passar por ele);

 Dolo necessário: quando o agente realizou tal facto

ilícito prevendo-o como uma consequência reflexa, mas necessária de uma conduta (exemplo: A quer transportar produtos de um prédio para o outro, sabendo que os empregados têm que passar por prédio alheio e destruir

A imputabilidade (ver 488º);

que assume as seguintes modalidades:

Dolo: que pode ser:

Dolo directo: o agente quis directa e especificamente

(19)

Dano emergente +

Lucro cessante

nele certas culturas, apesar disso, dá ordens nesse sentido;

 Dolo eventual: quando o agente praticou tal facto ilícito

prevendo-o como um efeito apenas possível ou eventual, mas teria persistido na sua conduta se previsse o facto ilícito como efeito necessário da sua conduta (exemplo, o condutor ao aproximar-se de um cruzamento, vendo pessoas e veículos não abranda a sua velocidade excessiva, não se preocupando com o atropelar alguém ou embater com outro veiculo o que acaba por acontecer

em qualquer dos casos o lesante conhece as

circunstâncias de facto que integra a violação do direito e tem consciência da ilicitude do facto.

o Negligência ou mera culpa: é muito importante a

diferenciação entre mera culpa e dolo, pois o artigo 494º admite a possibilidade de diminuição equitativa da indemnização. Aqui o agente procede sem os elementos volitivos do dolo, mas com a omissão de deveres de cuidado, perícia e diligência exigíveis para evitar a violação do direito ou interesses alheios. Esta pode ser:

 Consciente: quando o agente previu como possível o

resultado ilícito mas por precipitação ou desleixo cré na sua não verificação;

 Inconsciente: o agente por imprudência, desleixo,

imperícia, distracção ou inaptidão não teve consciência de que o acto poderia decorrer o resultado ilícito, embora este objectivamente fosse previsível se o agente usasse de diligência.

A culpa em sentido amplo (abrangendo dolo e negligência) deve

 – 

3. A existência de danos:estes podem ser:

o Patrimoniais: traduzem-se numa diminuição ou não aumento

do património

 Directos:prejuízo imediato sofrido pelo lesado no

seu património (exemplo, destruir uma coisa);

 Indirectos: vantagens que deixaram de entrar no

património do lesado em virtude do acto ilícito (exemplo, perda de salários, resultante de uma hospitalização por agressão física).

o Danos não patrimoniais ou morais: consagrados no artigo

496º. São bens estranhos ao património do lesado. Verificam-se ser apreciada em abstracto pelo modelo de um bom pai de família (o velho bónus pater famílias romano), ou seja, um homem médio, com a sua inteligência e perspicácia colocado nas circunstancias e contexto em que o lesante agiu artigo 487º nº2.

(20)

quando há sofrimentos físicos ou morais, perda de consideração social, etc.

A reconstituição a que obriga a responsabilidade civil pelos artigos 483º e 562º deve, em principio, ser uma reconstituição natural, como nos diz o artigo

566º nº1 ( “sempre que a reconstituição natural não seja possível”): é a

reconstituição da situação em que o lesado estaria sem a infracção. O mesmo artigo 566º nº1 diz-nos que quando tal não seja possível pelas razões indicadas, terá lugar uma indemnização em dinheiro ou restituição por equivalente, que é uma hipótese maioritária, visto raramente o lesado ficar completamente indemnizado com a reconstituição natural. No caso dos danos não patrimoniais não podemos falar de uma indemnização porque não são avaliáveis em dinheiro,

temos assim uma compensação, que não é um “preço de dor” mas uma

compensação mediante satisfações derivadas da utilização do dinheiro. O artigo 496º nº1 fala de danos que pela sua gravidade mereçam tutela do direito, assim não serão indemnizáveis os pequenos incómodos, desgostos ou contrariedades embora emergentes de actos ilícitos imputáveis a outrem (exemplo, um empurrão no autocarro).

4. A verificação de um NEXO DE CAUSALIDADE ADEQUADO: entre os danos produzidos e o acto em causa, daí que segundo o artigo 483º nº1 só são indemnizáveis os danos resultantes da violação, o mesmo é dizer que o autor só está obrigado a reparar aqueles danos que não se teriam verificado sem essa violação.

Existem teorias acerca disto, consultar.

Concluindo: esta responsabilidade civil por actos ilícitos é substancialmente culposa ou subjectiva, é como nos diz Mota Pinto, fazer apelo à liberdade moral do homem e apresentar os danos como consequências evitáveis , estimulando – se desta forma zelos e cuidados em impedir esses danos.

Responsabilidade civil pelo risco ou objectiva: só tem lugar nos casos tipificados na lei como decorre do artigo 483º nº2. Pressupõe:

a) Violação de um direito absoluto;

b) Nexo de imputação objectivo entre esse facto e responsável; c) A existência de prejuízos;

d) Nexo causalidade entre facto e dano.

Só que aqui estamos perante factos não culposos, apenas materialmente imputáveis à pessoa, com base no facto desta ter posto em acção, para seu benefício, certas forças que são fontes de riscos e potenciais danos para os outros. Necessidades sociais de segurança impõem que quem crie uma fonte de riscos em seu proveito suporte os efeitos prejudiciais do seu emprego, segundo o princípio ubi commoda, ibi incomod a (onde estão as coisas cómodas estão as

(21)

prescindir da culpa não pressupõe normalmente um acto ilícito, podendo dimanar de um facto natural, de um acto de terceiros ou de um acto do próprio lesado.

Responsabilidade civil por acto licito: emergente de fontes que constituem uma intervenção licita na esfera jurídica de outrém, com sacrifício de uma seu direito ou interesse, factos imputáveis ao lesante que deles tira proveito. Contar as quatro características das demais responsabilidades civis extra-contratuais, só que aqui o acto praticado é licito.

Responde a um princípio de compensação de vantagens em que aquele que tem de suportar, no interesse de outrem, uma perturbação ao seu direito possa obter uma indemnização.

Só acontece nas circunstâncias e hipóteses especificadas na lei, como decorre do artigo 483º nº2. Não existindo uma unificação legal que preveja um regime  jurídico semelhante ao da responsabilidade pelo risco. Expoente máximo desta

responsabilidade é o artigo 1367º.

9. Principio da boa fé: a convivência sócio  –  jurídica tem de ser

alicerçada na confiança recíproca e no recto comportamento e intenção de uns relativamente aos outros. Temos a:

a. Boa fé em sentido subjectivo: ignorância não culposa de vícios ou irregularidades do respectivo acto, que leva a lei a dispensar um tratamento de favor a quem actua com este estado de espírito, ou seja, a quem tem a convicção de proceder rectamente seu prejudicar direitos alheios. É assim, algo de psicológico, uma convicção de se estar a actuar em conformidade com o direito. Neste caso ela não é um princípio geral de direito, é sim um pressuposto para a aplicação ou não de uma norma. Exemplo máximo: 1647º e 1648º que dizem respeito aos efeitos do casamento declarado nulo ou anulado quando celebrado por ambos ou apenas por um dos cônjuges de boa-fé.

b. Boa fé objectiva: aqui trata-se de uma conduta ou comportamento honesto, correcto, leal e fiel das partes. Aqui não está em causa a realidade psicológica da pessoa, mas o cumprimento dessas mesmas regras. Aqui é um princípio geral de direito, envolve uma cláusula geral e como tal a mediação do  juiz na sua aplicação aos casos concretos. Tem um carácter obviamente objectivo pois relaciona-se com regras de conduta. Exemplos: 227º nº1 e 762 nº2.

10. Principio do equilíbrio das prestações: esta questão coloca-se sobretudo nos contratos onerosos, onde cada uma das partes deve obter pela sua própria prestação uma contraprestação adequada de valor equilibrado, como decorre do artigo 237º. Em casos especiais, como por exemplo os negócios usurários  –  artigo 282º, a lei exige uma

(22)

ordenamento contenta-se com a equivalência subjectiva, ou seja, que ambas as partes considerem as prestações equilibradas, limitando-se aqui o direito a assegurar que não houve dolo, erro ou mesmo coacção. Este principio leva à consideração de uma distribuição justa dos encargos e dos riscos do contrato, Exemplo disso é o artigo 796º. Mas tal principio ultrapassa o âmbito dos contratos, estendendo-se até ao direito da família (deveres de respeito e fidelidade recíprocas  – 

1672º) ou às sucessões (cada herdeiro só responde pelos encargos na proporcionalidade da quota que lhe tenha cabido – artigo 2098º nº1. 11. Principio da proibição de auto-defesa dos direitos próprios: este

princípio decorre da estatuição a contrario dos artigos 336º e 339º, proibindo-se assim a auto-defesa. É aos tribunais que compete o assegurar de direitos e interesses protegidos pela lei e o dirimir dos conflitos, como é estabelecido no artigo 202º CRP, o que não põe em causa as funções das forças de segurança pública como garante imediato dos direitos dos cidadãos cuja violação constitua crime  – 

artigo 272º da CRP.

12. Principio da liberdade declarativa: resulta do artigo 219º e alerta-nos para o facto de os negócios jurídicos poderem, em princípio, se realizar de um modo consensual, por palavras ou gestos sem sujeição a forma escrita. Com isto visa-se:

a. Facilitar e abreviar uma conclusão válida dos negócios  jurídicos;

b. Impedir a invalidade, por falta de forma legal devido a ignorância ou mesmo dificuldades económicas, de negócios queridos pelas partes onde não há grande relevância de interesse público a existência de forma;

c. Tutelar a confiança existente entre as partes.

13. Principio da nulidade de actos e negócios jurídicos violadores de regras imperativas: o artigo 294º estabelece o principio pelo qual os negócios jurídicos e também os actos jurídicos, por força do artigo 295º, celebrados contra disposição legal de carácter imperativo são nulos. O artigo 294º abrange:

a. Negócios contra a lei: ofendem frontalmente uma proibição ou uma actuação legalmente determinada;

b. Negócios em fraude à lei: contornam proibições ou actuação, atingindo o mesmo resultado por outros meios diferentes dos previstos pela lei.

Normas imperativas: são aquelas que impõem um certo comportamento – preceptivas, ou proíbem determinada conduta – 

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proibitivas e cuja violação implica, em princípio, a nulidade dos actos ou negócios que colidam com a mesma.

Quando a norma imperativa não é acompanhada de nenhuma sanção, terá de se analisar a ratio dessa mesma norma, saber (quais os interesses tutelados pela norma, se o legislador visa atacar as acções ou omissões em si ou situações que decorrem das mesmas, ex – um contrato de trabalho que não respeita o horário legal é nulo

porque a proibição que resulta da lei visa o próprio conteúdo do contrato, mas um contrato de compra e venda feito fora do horário de funcionamento do estabelecimento já é válido pois a proibição legal visa sobretudo não o contrato em si mas uma concorrência leal no comércio, algo que resulta do contrato, bastando para que se cumpra esse objectivo que o lojista pague uma coima, não sendo necessária a nulidade do contrato).

14. Principio da proibição do abuso de direito: decorre do 334º. Sendo que aqui o excesso tenha de ser evitado porque se trata de uma limitação ao direito, uma limitação à autonomia da vontade.

A Codificação do direito civil: Generalidades:

o As colectâneas legais: inicialmente o direito civil estava inteiramente ligado

ao costume, sendo ele a fonte inicial de todo o direito. Tratava-se de um comportamento adoptado pela comunidade com a convicção da sua obrigatoriedade. Sobretudo a partir da criação das primeiras cidades multiplicam-se as leis e com elas a necessidade de se saber quais as que se mantinham em vigora e as que seriam revogadas, nascem, assim as primeiras compilações de certas fontes diversas abarcando diversas matérias e que conferiam maior certeza, ordem, clareza, estabilidade e conhecimento das mesmas a todos, exemplo Lei das XII tábuas que continha grande parte do ius civile romano da época arcaica; o posterior Corpus Iuris Civilis mandado elaborar por Justiniano; caso também das nossas ordenações, as Afonsinas, Manuelinas e Filipinas.

o Os códigos modernos: a codificação num sentido moderno só aparece a

partir dos finais do século XVIII. Assim, um código, será um diploma legislativo, que obedece a critérios sistemático – científicos, que regula todo

um importante sector ou ramo do direito, duradouramente. No direito civil assume especial importância o código civil Francês de 1804, também chamado de Napoleão que com várias alterações ainda hoje continua em vigor. Era composto por:

Um titulo preliminar sobre a publicação, efeitos e aplicação das leis; Livro I – das pessoas;

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