Alan Moore - Como Escrever Estórias Em Quadrinhos

(1)

1

COMO ESCREVER EST

\u00d3

RIAS EM QUADRINHOS

1

Por Alan Moore, publicado originalmente em The Comics Journal #119 (Janeiro de 1988), #120 (Mar

\u00e7

o de 1988) e #121 (Abril de 1988).

Parte 1

N. do T.: Para esta primeira parte,

\u00e9

interessante que voc tenha m oL B n , se poss

\u00ed

vel, a e edi

\u00e7

no Monstro do P

\u00e2

ntano, V lume 1o , publicada recentemente pela editora Brainstore ent o as antigas edin

\u00e7

tes de Novos Tit sn eSuperamigos, publicadas pela editora Abril, com as hist

\u00f3

rias do Monstro do P

\u00e2

ntano; V de Vingan

\u00e7

a, da editora Globo ou da Qualquer edi

\u00e7

no deA Piada Mortal e edi

\u00e7

tes deLove and Rockets.

A maior diﬁculdade de escrever sobre qualquer atividade criativa, seja escrever sobre ela

mesma at

\u00e9

escrever sobre como consertar autom

\u00f3

veis

\u00e9

que, na maioria das vezes, os artigos ou entrevistas que surgem parecem ser incapazes de se estenderem al

\u00e9

m de informa

\u00e7

t

\u00e9

cnicas

\u00f3

bvias e listas de instrumentos recomendados. N o quero recair nessa mesma rotina,n

dizendo qual m

\u00e1

quina de escrever eu uso, ou qual tipo de papel carbono acho ser o melhor, j

que esta informa

\u00e7

no n o farn

\u00e1

a menor diferen

\u00e7

a na qualidade do que voc escreve. Da mesmaL

maneira, n o acho que uma ann

\u00e1

lise precisa do meu processo de trabalho seja muito

\u00fa

imagino que ele varia drasticamente de hist

\u00f3

ria para hist

\u00f3

ria, e que todo escritor tende a desenvolver sua pr

\u00f3

pria abordagem em resposta a suas pr

\u00f3

prias circunst

\u00e2

Al

\u00e9

m disso, n o quero produzir nada que lembre, nem remotamente, algo comon

M

\

u00e

9

todo Alan Moore de Escrever HQ\u2019 \u201ds . Ensinar gera

\

u00e7

tes de novos artistas e escritores a copiar a gera

\u00e7

no que os precedeu foi uma id

\u00e9

ia est

\u00fa

pida de uma

\u00e9

poca onde a Marvel lan seu livro O M

\u00e9

todo Marvel de Desenhar HQ\u2019s e seria igualmente irrespons

\u00e1

instruir escritores novos ou experientes sobre como escrever t

\u00ed

tulos idiotas e extravagantes do tipo "O Alvorecer Transformou O C

\u00e9

u num Matadouro" ou algo assim. John Buscema foi um

grande artista, mas a ind

\u00fa

stria n o precisa de cinqn

\u00fc

enta pessoas desenhando como ele, e menos ainda de outros cinq

\u00fc

enta escrevendo como eu.

Com tudo isso em mente, gostaria de tentar expor algo que acrescente a este extenso

cap

\u00ed

tulo sobre como podemos realmente pensar sobre a arte de escrever quadrinhos, que

melhor do que uma lista de detalhes espec

\u00ed

ﬁcos. Gostaria de falar sobre abordagens e processos mentais que d o suporte a escrita como um todo, ao invn

\u00e9

s de falar sobre o modo como esses

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pensamos ser o ato de escrever inevitavelmente moldar

\u00e1

os trabalhos que produzimos.

Como nossos pressupostos b

\u00e1

sicos sobre a nossa proﬁss o v m se tornando cada vezn L

O motivo pelo qual escrever para os quadrinhos seja talvez at

\u00e9

mesmo mais interessante

(4)

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close-ups, long-shots, zooms panore

\

u00e2

micas;

\

u00e

9

uma

\

u00fa

til linguagem convencionada de instru

\u00e7

tes visuais precisas, mas ela tamb

\u00e9

m nos leva a deﬁnir os valores quadrinh

\u00ed

Quadrinhos tamb

\u00e9

m s o vistos em termos litern

\u00e1

rios, ambicionando tra

\u00e7

(6)

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esquecendo que Eisner estava aprendendo com a cultura que o cercava naquele tempo. Cinema

Melhor que agarrar-se nas similaridades superﬁciais entre quadrinhos e ﬁlmes ou

Se, por um lado, acreditava-se que a garantia de maior liberdade criativa ou a divis o don

Uma vez mais, a diﬁculdade saber por onde come ar A lista de considera es a serem

é

ç

.

ç

t

(8)

(9)

exemplo do meu pr prio trabalho (n o porque ele seja particularmente um bom exemplo, mas

ó

n

De onde as id ias realmente v m parece ser, primeira vista, a maior preocupa o da

é

L B

ç

n

é

tamb maquest oquemaist mpermanecidosemresposta.Seamea

é

n L

ç

assemmetorturarpara que eu desse uma resposta concisa, provavelmente diria que as id ias parecem germinar na

é

(10)

(11)

divertido. Minha tese que voc n o pode ensinar as pessoas a terem a mesma percep o e

é

L n

ç

n

é

reduzido a uma nicaenovacoisaadizerousobreaqualfalarVistodamaneiracerta,tudose

ú

. transforma em uma fonte de id ias. Abrindo o jornal na p gina de economia e lendo sobre a

é

á

De outra maneira, talvez alguns incidentes do nosso pr prio passado providenciar o o

ó

n

(12)

(13)

tirados da manga das formas pelas quais as id ias aproveit veis podem ser conduzidas.

é

á

Eu deveria talvez assinalar que, ao construir uma hist ria, nem sempre preciso

ó

é

Monstro do P ntano

â

... talvez ter parte de sua perna ou de seu corpo vis vel no cen rio de tal

í

á

modo que tanto o leitor quanto os outros personagens n o percebam que est o olhando para an n

Outra id ia que tive, ao mesmo tempo, envolveu o modo de trabalhar dos outdoors

é

Burma Shave, cuidadosamente espa ados e rimados, usados para percorrer ao longo das

ç

estradas da Am rica numa seq

é

ü

Lncia de letreiros rimados de tal maneira que a ltima linha da

ú

Matt Cable, eu o peguei e joguei numa cena de desastre de carro. O fato que tive de manter as

é

(14)

(15)

qual a mensagem se dirige. Obviamente, uma vez que estamos falando sobre audi ncia emL

Eu tive ao menos um editor do ramo dizendo que n o h sentido em tirar da aliena o aon

á

ç

n

H algo estranho em ser ofensivamente inofensivo, e, uma vez que n o estou sugerindo

á

n

quadrinhos", e menos pessoas ainda que demonstrem ser realmente convencionais quando

examinadas mais de perto. Um meio de comunica o t o pequeno como este tem realmente

ç

n n

um padr o signiﬁcativo que possa ser deﬁnido a partir de seu p blico?n

ú

(16)

(17)

ú

teisparabasearnossopensamento.Umdeles

é

a banal mas sempre criativa piada.

Piadas n o s o, em geral, dirigidas a um p blico espec ﬁco; elas apenas acontecem!n n

ú

í

(18)

(19)

possibilidade delas sentirem o mundo nesses termos. Tamb m sei que, se estivesse naquela

é

Aquilo n o uma nobre causa, incrivelmente f cil de ser encarada, mas o tipo den

é

á

é

(20)

(21)

é

quevoc entendaaestruturadotrabalhoqueestL

á

criando,sejaqualforaestruturaquepossa

vir Se voc escolheu desviar-se do assunto, ent o tudo bem, apenas enquanto voc estiver. L n L

atento ao que est fazendo e atento s conseq

á

B

ü

Lncias no efeito global da hist ria.

ó

Algumas estruturas s o bvias e evidentes por si s . Uma que eu uso muito,n

ó

Paper em SW MP THING n.º 36A . Aqui, temos uma hist ria inteira contada por cada

ó

personagem, dependendo do quanto da a o central aconteceu com eles, individualmente.

ç

n

Ainda assim, todas essas s o estruturas formais e n o h raz o pela qual escritores den n

á

n

(22)

(23)

que toma lugar entre esses dois pontos. Essas s o todas elas abordagens v lidas e, olhando paran

á

Neste ponto, talvez eu deva sublinhar que, muito embora esteja apresentando estas

(24)

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provavelmente voc se arrisca a perder o interesse do leitor se n o for trabalhadoL n

adequadamente.

Como eu vejo, uma hist ria bem sucedida de qualquer tipo deve ser quase como uma

ó

Uma coisa importante que o leitor n o acorde at que voc assim o queira, e a

é

n

é

L

transi o

ç

n entre as cenas

é

o ponto fraco do encanto que voc est tendo um trabalh o paraL

á

n

lan ar sobre ele. De uma forma ou de outra como escritor voc tem que vir com seu pr prio

ç

L

ó

(26)

(27)

perceber qualquer quebra no ﬂuxo at que o momento tenha passado e o leitor j esteja

é

á

Transi es

ç

t , embora importantes em si mesmas, podem tamb m ser consideradas como

é

parte de um t pico geral sobre

ó

espa amento

ç

ou compasso. O compasso, apesar de, quando

(28)

(29)

que foi dito acima n o s o regras r gidas ou de f cil assimila o: tenho certeza que poss veln n

í

á

ç

n

é

í

(30)

(31)

N. do T.: Para esta segunda parte, tenha m o, se poss vel, novamente as edi esB n

í

ç

t Monstro do P ntano, V lumes 1

â

o e 2, publicada recentemente pela editora Brainstore, as antigas edi es de

ç

t

Admitindo que agora voc tenha alguma id ia das reais possibilidades abertas para vocL

é

L

Por raz o de conveni ncia, os principais elementos nessa categoria podem ser divididosn L

O trabalho do(a) escritor(a), se ele ou ela estiver tentando descrever uma col nia em

ô

ó

bvioparafazerisso

é

explicarosrudimentosdeseumundoparaseusleitoresatrav sde

é

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(33)

(34)

(35)

quer que saibamos perfeitamente como ele pensou em tudo. Em vez disso, temos a sensa o de

ç

n

Os coment rios acima referem-se especiﬁcamente em criar ambientes, mas se voc

á

L

do P ntano

â

, comecei a ler sobre a Louisiana e o bayou tanto quanto pude e consegui colher,

(36)

(37)

hist ria, e t o importante o efeito ﬁnal quanto um entendimento dos verdadeiros fatores

ó

é

n

f sicos que moldam o mundo sobre o qual voc est escrevendo.

í

L

á

Certo, ent o temos nosso pr prio mundo. Que tipo de pessoas vivem nele e o quen

ó

pessoa boa esta pessoa m

é

ou

é á

. Para os quadrinhos da poca e o mundo comparativamente

é

simples ao qual eles eram destinados a entreter, isso era perfeitamente adequado. Mas, por

(38)

(39)

fez travar uma guerra contra o crime (N. do T.: Se voc se deu ao trabalho de contar, ver que aL

á

tradu o descreve um personagem de

ç

n MAIS de 15 palavras, mas como quis manter o texto o mais perto poss vel do original, acho que voc entendeu o que Moore quis dizer com

í

L um personagem de 15 palavras, certo?). Apesar desse modo representar o in cio de um

í

(40)

(41)

real. Considere a natureza do modo de ser das pessoas ao seu redor e considere tamb m sua

é

É

importanteolharparacomoaspessoasdeoutras

á

reas resolvem o problema da verossimilhan a. Um artista que quer aprender a desenhar realisticamente o corpo humano

ç

(42)

(43)

tipo de intensidade ardente em seus pensamentos e a es junto com uma massa corporal

ç

t

esmagadora, como resultado de sua compacta densidade.

(44)

(45)

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(47)

dimens es. Usando um exemplo que emprestei do excelentet Report on Probability A, deBrian Aldiss, vamos pensar sobre outras coisas al m de quadrinhos para termos uma perspectiva

é

diferente da id ia. Consideremos uma pintura espec ﬁca,

é

í

The Hireling Shepherd, do pintor pr -rafa lico

é

Willian Holman Hunt.

(48)

(49)

(50)

(51)

de Locas T mbiena eMechanics de Jaime Hernandes, temos a sensa o de toda uma massa

ç

n

(52)

(53)

(54)

(55)

(56)

(57)

(58)

(59)

(60)

(61)

(62)

(63)

(64)

seja um painel com estranhos detalhes ou uma legenda com longas descri es. Mesmo se sua

ç

t

habilidade como desenhista seja t o pequena quanto a minha, mais f cil desenvolver uman

é

á

sensibilidade visual habituando-se a fazer um esbo o grosseiro de cada p gina antes de

ç

á

escrev -la, mostrando os elementos visuais que ser o mostrados em cada quadrinho. Voc irL n L

á

pequenos elementos subliminares que aumentar o enormemente o divertimento perif rico don

é

leitor pela hist ria. Com um pouco de imagina o, poss vel inserir pequenos eventos que

ó

ç

n

é

í

ocorrem em primeiro e segundo plano em uma imagem, aparentemente sem nenhuma relev ncia com a hist ria subliminar, mas refor ando as id ias da pr pria narrativa. Ser

â

ó

ç

é

ó

á

uma cena ondeVi g i l a n t e Fever e est o dirigindo pela cidade enquanton Fever d uma li o de

á

ç

n

moral improvisada e de algum modo abrangente sobre os males da autoridade e seus efeitos sobre a sociedade. Como o carro move-se atrav s da cidade, pedi a

é

Jim Baikie para incluir algumas pequenas e discretas cenas em segundo plano mostrando autoridades em a o. Em

ç

n

í

ô

necessite de mudan as, e fa a os ltimos ajustes necess rios para atingir o grau exato de

ç

ú

á

lapida o. Suas hist rias em quadrinhos est o agora t o boas quanto lhe poss vel , e voc ir

ç

n

ó

n n

é

í

L

á

esperar por longos meses para ver o que os leitores acharam dela, o que geralmente um tempo

é

muito chato e irritante. Voc encontrar a si mesmo experimentando violentas mudan as deL

á

ç

(65)

(66)

com uma hist ria ap s faz -la da melhor maneira que pudesse, eu me encontraria conﬁnado a

ó

L

uma preocupa o obsessiva at v -la nas prateleiras das Comic Shops e perceber que mais

ç

n

é

L

ansiedade seria in til.

ú

situa es pertinentes e falhado em explicar as coisas t o claramente quanto eu gostaria. Isso

ç

t n

porque o campo da escrita, como qualquer trabalho no qual voc dedica-se completamente,L

é

t o amplo e complexo para aprofundar-se que mesmo um cansativo discurso como esse poden

apenas come ar a arranhar sua superf cie. H coisas que omiti com essa pequena explana o,

ç

í

á

ç

n

(67)

(68)

primeira parte desse texto de M o o re, com uma excelente tradu o de ..., muito mais

ç

n

interessante por apresentar preciosos comet rios que eu, por n o possuir a experi ncia

á

n L

e ast cia necess rias, n o adicionei em minha tradu o. Espero que as partes 2 e 3

ú

á

n

ç

n

(69)

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