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RECURSO EXTRAORDINÁRIO COM AGRAVO 732.071 RIO GRANDEDO

SUL

RELATORA : MIN. CÁRMEN LÚCIA

RECTE.(S) :RIO GRANDE ENERGIA S/A

ADV.(A/S) :LUIS RENATO FERREIRA DA SILVA E OUTRO(A/S)

RECDO.(A/S) :PULIDORO VERCIMOS DE JESUS E OUTRO(A/S)

ADV.(A/S) :EMANUEL CARDOZO E OUTRO(A/S)

DECISÃO

AGRAVO EM RECURSO

EXTRAORDINÁRIO. ADMINISTRATIVO. RESPONSABILIDADE CIVIL OBJETIVA. CONCESSIONÁRIA DE SERVIÇO PÚBLICO. ENERGIA ELÉTRICA. NEXO DE CAUSALIDADE. NECESSIDADE DE REEXAME DO CONJUNTO FÁTICO-PROBATÓRIO. SÚMULA N. 279 DO SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL. AGRAVO AO QUAL SE NEGA SEGUIMENTO.

Relatório

1. Agravo nos autos principais contra decisão que inadmitiu recurso extraordinário interposto com base no art. 102, inc. III, alínea a, da Constituição da República.

O recurso extraordinário foi interposto contra o seguinte julgado Do Tribunal de Justiça do Rio Grande do Sul:

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ARE 732071 / RS

“Ementa: APELAÇÃO CÍVEL. RESPONSABILIDADE

CIVIL. AÇÃO DE INDENIZAÇÃO POR DANOS MATERIAIS E MORAIS. SUSPENSÃO NO FORNECIMENTO DE ENERGIA ELÉTRICA, SEM CAUSA APARENTE. DEMORA NO RESTABELECIMENTO. FESTA DE CASAMENTO. DANO MORAL. QUANTUM INDENIZATÓRIO. 1.A responsabilidade no caso em tela é objetiva, não dependendo de prova de culpa, nos termos do art. 37, § 6º, da Constituição Federal e do art. 14 do Código de Defesa Consumidor, exigindo apenas a existência do prejuízo, a autoria e o nexo causal para a configuração do dever de indenizar. 2.A parte autora logrou comprovar os fatos articulados na exordial, ônus que lhe cabia e do qual se desincumbiu, a teor do que estabelece o art. 333, I, do CPC, no sentido de que houve falha na prestação do serviço, consubstanciada na desídia em restaurar e efetuar a manutenção da rede externa que, mesmo em dia de tempo bom, restou danificada. 3.A parte demandada deve indenizar os danos morais causados, na forma do art. 186 do novo Código Civil, cuja incidência decorre da prática de conduta ilícita, cuja lesão imaterial ocasionada consiste no sofrimento e abalo psicológico daí decorrente impingido à parte postulante, que ficou sem um serviço essencial justamente durante a festividade de casamento de seu filho e nora, momento este importante na vida afetiva de qualquer pessoa envolvida diretamente com esta cerimônia e que resultou em desproporcional frustração. 4. O valor estipulado na decisão a título de danos morais deve levar em consideração as questões fáticas precitadas, a extensão do prejuízo, bem como a quantificação da conduta ilícita. Quantum mantido. Negado provimento ao recurso”

Os embargos de declaração opostos foram rejeitados.

2. A Agravante afirma que o Tribunal de origem teria contrariado o art. 37, § 6º, da Constituição da República.

Assevera que “independentemente da responsabilidade objetiva que possa recair sobre a recorrente por conta da concessão de serviços públicos (art. 37, §

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ARE 732071 / RS

causal entre a conduta da concessionária e os danos sofridos pela parte recorrida. Mesmo que incida responsabilidade objetiva, a parte requerente deve fazer prova cabal dos prejuízos existentes, o que não ocorre no caso concreto e, portanto, a responsabilidade objetiva deve ser afastada”.

3. O recurso extraordinário foi inadmitido sob o fundamento de incidência da Súmula n. 279 do Supremo Tribunal Federal.

Examinados os elementos havidos no processo, DECIDO.

4. O art. 544 do Código de Processo Civil, com as alterações da Lei n. 12.322/2010, estabeleceu que o agravo contra decisão que inadmite recurso extraordinário processa-se nos autos do processo, ou seja, sem a necessidade de formação de instrumento, sendo este o caso.

Analisam-se, portanto, os argumentos postos no agravo, de cuja decisão se terá, na sequência, se for o caso, exame do recurso extraordinário.

5. Razão jurídica não assiste à Agravante.

6. O Desembargador Relator Jorge Luiz Lopes do Canto afirmou:

“Denota-se da análise da prova coligida no feito que houve a

interrupção do fornecimento de energia elétrica na noite do dia 20 de dezembro de 2008, data em que se realizavam as festividades do casamento do filho e nora dos autores, fato que ocasionou inúmeros transtornos e aborrecimentos.

Nesse sentido cabe destacar a bem lançada argumentação constante na sentença da culta Magistrada singular, Dra. Cátia Paula Saft, cujas razões se adota como de decidir e se transcreve em parte estas, a fim de evitar desnecessária tautologia, a seguir:

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ARE 732071 / RS

“Inicialmente, impende salientar que a própria demandada reconhece a interrupção no fornecimento da energia no horário em que se realizava a festa de casamento do filho requerentes.

À fl. 76 de sua peça contestacional informa que a interrupção teve início às 21h27min do dia 20-12-08, perdurando até à 01h08min do dia seguinte (21-12-08), perfazendo 03h41min.

Aduz a demandada que o período de interrupção está dentro do permitido e tolerado pela legislação pertinente. Contudo, mesmo que se admitisse que o período não foi considerável, foi o suficiente para ANIQUILIAR com a festa de casamento do filho dos requerentes.

Assim, independentemente de estar ou não dentro do prazo permitido pelas Resoluções da ANEEL, tratando-se de responsabilidade objetiva – onde não há perquirição de culpa – devidamente comprovado o dano e o nexo causal, não há como se afastar o dever indenizatório da Ré.

Sustenta esta, ainda, que houve culpa da vítima (autores), pois estes deveriam ter alugado um salão equipado com gerador próprio, de modo a evitar o ocorrido.

No entanto, se todos devêssemos nos prevenir para casos de interrupção no fornecimento de energia, melhor seria cada um possuir seu próprio gerador e não utilizar o serviço fornecido pela ré! Absurda, portanto, a pretensão. Aliás, nesse sentido muito bem referiu a nora dos autores, Gabriela Avozani (noiva na oportunidade): “A não ser que a gente tenha que andar com um gerador de baixo dos braços”. (fl. 106 dos autos nº 088/1.09.0000108-0)

Ademais, não havendo qualquer argüição de inadimplemento na unidade consumidora em que se realizava o evento, o fornecimento da energia de modo seguro, contínuo e eficaz é obrigação da ré, nos termos do disposto no art. 22 do CDC . Tudo sob pena de responsabilização civil, nos exatos termos do que acrescenta o parágrafo único do art. 22.

Acrescente-se, outrossim, que a interrupção não foi previamente comunicada aos autores, de modo que pudessem se

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ARE 732071 / RS

prevenir, como refere a demandada.

Exclui-se, ainda, qualquer alegação de caso fortuito, pois as testemunhas afirmaram que no dia em tela não houve temporais ou intempéries que pudessem ter colaborado para a interrupção verificada. A testemunha Gustavo Andreazza, arrolada pela RGE, informou expressamente que o tempo estava bom e que o problema foi decorrente “do rompimento de condutor de rede de auto tensão” (sic), rede esta que é de responsabilidade da concessionária.

Conclui-se, portanto, que não houve qualquer responsabilidade dos autores para o evento, tendo adotado a medida que lhes competia, qual seja, comunicar prontamente a ré do ocorrido.

Destarte, concluindo o quanto exposto acima, presente o dano e o nexo causal, impõe-se o dever de indenizar, decorrente da responsabilidade objetiva a que está submetida a Ré”.

Portanto, em que pese o defeito na prestação de serviços tenha perdurado por pouco menos de quatro horas, dentro do período permitido pela Agência Nacional de Energia Elétrica nas Resoluções 24, 495 e 456, seus efeitos foram catastróficos no caso em tela.

Registre-se que tais normas apenas buscam regular o setor em vista de uma prestação de serviços célere e eficiente, justamente para proteger o consumidor e impor limites à demora no restabelecimento dos serviços, não se tratando de uma excludente de responsabilidade, como pretende fazer crer a demandada.

Aliás, evidentemente que não se aplica ao feito em exame a excludente prevista no art. 14, §3º, I, do CDC, porquanto devidamente comprovada a existência de defeito na prestação de serviços, já evidenciada pela simples interrupção do fornecimento.

Ademais, insta ressaltar que a responsabilidade no caso em tela é objetiva, não dependendo de prova de culpa, nos termos do artigo 37, § 6º, da Constituição Federal e do artigo 14, caput, do Código de Defesa Consumidor, exigindo apenas a existência do prejuízo, a autoria e o nexo causal para a configuração do dever de indenizar.

Ressalte-se que as pessoas jurídicas de Direito Público, a

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ARE 732071 / RS

empresa pública e os concessionários, permissionários e aqueles autorizados de serviços públicos também estão sujeitos ao mesmo regime da Administração Pública quanto à responsabilidade civil. Portanto, a demandada Rio Grande Energia, empresa concessionária de serviços públicos de energia elétrica, responde pelo risco da atividade que presta à coletividade”.

7. O Tribunal a quo concluiu que “comprovada a falha na prestação do serviço, deve ser responsabilizada a empresa ré pelos danos morais e materiais causados aos postulantes”.

Embora este Supremo Tribunal Federal enquadre tanto a ação quanto a omissão do agente público que resulte em dano na responsabilidade objetiva do Estado (art. 37, § 6º, da Constituição da República), é exigida a comprovação do nexo de causalidade entre a ação, ou omissão, e o dano causado à vítima, dependendo dos fatos do caso concreto para concluir pela configuração, ou não, da responsabilidade objetiva. Nesse sentido:

“CONSTITUCIONAL. RESPONSABILIDADE DO

ESTADO. ART. 37, § 6º, DA CONSTITUIÇÃO. PESSOAS JURÍDICAS DE DIREITO PRIVADO PRESTADORAS DE

SERVIÇO PÚBLICO. CONCESSIONÁRIO OU

PERMISSIONÁRIO DO SERVIÇO DE TRANSPORTE COLETIVO. RESPONSABILIDADE OBJETIVA EM RELAÇÃO A TERCEIROS NÃO-USUÁRIOS DO SERVIÇO. RECURSO DESPROVIDO. I - A responsabilidade civil das pessoas jurídicas de direito privado prestadoras de serviço público é objetiva relativamente a terceiros usuários e não-usuários do serviço, segundo decorre do art. 37, § 6º, da Constituição Federal. II - A inequívoca presença do nexo de causalidade entre o ato administrativo e o dano causado ao terceiro não-usuário do serviço público, é condição suficiente para estabelecer a responsabilidade objetiva da pessoa jurídica de direito privado. III - Recurso extraordinário desprovido” (RE 591.874, Rel. Min. Ricardo

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ARE 732071 / RS

Lewandowski, Plenário, DJe 18.12.2009).

“RESPONSABILIDADE CIVIL OBJETIVA DO PODER

PÚBLICO ELEMENTOS ESTRUTURAIS PRESSUPOSTOS LEGITIMADORES DA INCIDÊNCIA DO ART. 37, § 6º, DA CONSTITUIÇÃO DA REPÚBLICA TEORIA DO RISCO ADMINISTRATIVO MORTE DE INOCENTE CAUSADA POR DISPARO EFETUADO COM ARMA DE FOGO PERTENCENTE À POLÍCIA MILITAR DO ESTADO DO MATO GROSSO DO SUL E MANEJADA POR INTEGRANTE DESSA CORPORAÇÃO danos MORAIS E materiais RESSARCIBILIDADE DOUTRINA JURISPRUDÊNCIA RECURSO DE AGRAVO IMPROVIDO. - Os elementos que compõem a estrutura e delineiam o perfil da responsabilidade civil objetiva do Poder Público compreendem (a) a alteridade do dano, (b) a causalidade material entre o eventus damni e o comportamento positivo (ação) ou negativo (omissão) do agente público, (c) a oficialidade da atividade causal e lesiva imputável a agente do Poder Público que tenha, nessa específica condição, incidido em conduta comissiva ou omissiva, independentemente da licitude, ou não, do comportamento funcional e (d) a ausência de causa excludente da responsabilidade estatal. Precedentes. A ação ou a omissão do Poder Público, quando lesiva aos direitos de qualquer pessoa, induz à responsabilidade civil objetiva do Estado, desde que presentes os pressupostos primários que lhe determinam a obrigação de indenizar os prejuízos que os seus agentes, nessa condição, hajam causado a terceiros. Doutrina. Precedentes. - Configuração de todos os pressupostos primários determinadores do reconhecimento da responsabilidade civil objetiva do Poder Público, o que faz emergir o dever de indenização pelo dano moral e/ou patrimonial sofrido” (RE

603.626-AgR-segundo, Rel. Min. Celso de Mello, Segunda Turma, DJe 12.6.2012).

Assim, concluir de forma diversa do que decidido demandaria o reexame do conjunto fático-probatório, procedimento que não pode ser

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ARE 732071 / RS

validamente adotado em recurso extraordinário. Incide na espécie a Súmula n. 279 do Supremo Tribunal Federal. Nesse sentido:

“Agravo regimental em recurso extraordinário. 2.

Responsabilidade objetiva do Estado. Art. 37, § 6º, da CF. Acidente de trânsito. Comprovação do fato e do nexo causal. Indenização por dano material 3. Incidência das Súmulas 279 e 283 do STF. 4. Agravo regimental a que se nega provimento” (RE 587.311-AgR, Rel. Min.

Gilmar Mendes, Segunda Turma, DJe 30.11.2010).

“AGRAVO REGIMENTAL NO RECURSO

EXTRAORDINÁRIO COM AGRAVO. DIREITO DO CONSUMIDOR. RESPONSABILIDADE CIVIL. 1. Inadmissibilidade de produção de provas: inexistência de repercussão geral. Matéria infraconstitucional. 2. Controvérsia sobre a existência de causa excludente de nexo causal: impossibilidade de análise de provas. Incidência da Súmula n. 279 do Supremo Tribunal Federal. 3. Agravo regimental ao qual se nega provimento” ( ARE 678.522-AgR,

de minha relatoria, Segunda Turma, DJe 24.5.2012).

Nada há, pois, a prover quanto às alegações da Agravante.

9. Pelo exposto, nego seguimento ao agravo (art. 544, § 4º, inc. II, alínea a , do Código de Processo Civil e art. 21, § 1º, do Regimento Interno do Supremo Tribunal Federal).

Publique-se.

Brasília, 18 de fevereiro de 2013.

Ministra CÁRMEN LÚCIA Relatora

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